Bom dia a todos. Esse não será um artigo, e a série sobre o Coronavírus continuará a ser publicada. Pensei que escreveria três partes, mas talvez chegue a sete partes. Porém, a minha mensagem de hoje não está relacionada a esse tópico, ao menos não diretamente.
Eu, há uns 18 meses, descobri o maravilhoso mundo dos podcasts. Em inglês, há podcasts simplesmente incríveis, fonte enorme de conhecimento e diversão. Eu, há certo tempo, gostaria de produzir um em português, mas a ideia sempre ficou adormecida. Eu só gostaria de ser o host de um podcast se realmente fosse adicionar algo de qualidade, e pudesse entrevistar pessoas diversas com opiniões diferentes.
Entretanto, confesso que sou um zero à esquerda em matéria de tecnologia, e esse é um dos motivos desse site ser extremamente amador por diversos anos. Por mais que estejamos em "quarentena", ajudar na criação de uma bebê e tocar os diversos outros interesses meus, faz com que eu saiba se for atrás de como criar um podcast é uma tarefa quase que natimorta.
Portanto, como com certeza há alguns leitores que conhecem bastante de tecnologia, se alguém com esse tipo de conhecimento gosta das minhas escritas e gostaria de ouvir a minha bela voz fazendo entrevistas sérias, com perguntas fugindo do senso comum, eu peço ajuda.
Não adianta me dizer que é simples, basta fazer X ou Y, eu preciso de alguém me guiando em todos os passos com paciência, de como gravar, como editar, como sincronizar, como e qual microfone utilizar, quais programas utilizar, etc, etc. Portanto, a prioridade seria alguma pessoa que já conheça sobre podcast e possa já saber o que fazer em cada etapa, ou pelo menos descobrir isso em pouco tempo.
Se tiver alguém disponível, mande e-mail para pensamentosfinanceiros@gmail.com, que eu passo o meu contato whatsapp para iniciarmos o desenvolvimento mais rápido possível. Se eu conseguir fazer esse podcast, e se as pessoas aceitarem serem entrevistadas por um ilustre desconhecido como eu, minha prioridade inicial será achar infectologistas e virologistas e perguntar um monte de questão que a grande mídia não pergunta, e e que creio ser de fundamental relevância para a população.
Em época onda a nossa paciência com textos mais longos, e a nossa
atenção fragmentada nos impede de lembrar o que lemos há cinco minutos, pela
terceira vez aviso que não sou médico, não sou especialista, sou apenas um
leigo curioso.
As duas primeiras partes e provavelmente esta e a próxima são apenas,
na medida do que é possível, apresentação de fatos e do contexto geral. Posso
estar deixando fatos importantes de fora? Com certeza. Posso estar mostrando
esses fatos de forma enviesada mesmo de maneira inconsciente? Sim, apesar de
estar sinceramente tentando evitar que isso ocorra. Provavelmente, na parte V e
VI eu darei a minha opinião sobre o que penso a respeito de um monte de assuntos (investimentos em FII, ações, imóveis, compra de comida, caos social,
pós-pandemia, etc, etc), não é o que estou fazendo nesses primeiros artigos.
A minha ideia de escrever essa série foi dotar as pessoas de uma perspectiva mais ampla dos diversos
acontecimentos, para que as mesmas por conta própria formem as suas opiniões ou
aprofundem os seus estudos se assim desejarem com as fontes indicadas.
CRIANÇAS E O COVID19
Na parte II, foi refletido que
sim a atual pandemia tem uma maior letalidade em idosos, mas que jovens não
estão imunes a apresentar sintomas graves. Foi trazida a reflexão sobre a
diferença entre morbidade e mortalidade. Mas em crianças e bebês?
Eu sou pai de primeira viagem,
minha linda filha acabou de fazer um ano e quatro meses. Cada vez mais sapeca,
cada vez mais esperta. Ela corre algum risco? Imagino que há muitos leitores
pais, e creio ser essa uma ponderação importante.
Quando se trata de crianças, e
da minha filha em particular, obviamente a letalidade deveria me preocupar, mas
esse vírus parece ser pouquíssimo letal em bebês e crianças, na verdade creio
que apenas uma criança morreu até agora no mundo inteiro. Portanto, crianças podem vir a morrer desse novo
vírus, mas a probabilidade é extremamente baixa.
Porém, eu como pai, preocupo-me
bastante com a possibilidade de uma morbidade futura. Minha filha mama no peito
até hoje, e talvez vá até uns dois anos e meio/três anos. Essa dentre tantas
outras coisas, é um presente que a minha mulher está deixando para ela, pois
com certeza o sistema imune da Serena tende a ser muito mais forte do que uma
criança que desde o início se alimentou por fórmulas de que naturais não
possuem nada. Aqui não faço um juízo de valor que pais por necessidade, ou talvez comodidade, seguiram esse caminho. Entretanto, não há muitas dúvidas na literatura sobre a importância do aleitamento materno para um sem número de variáveis relacionadas à saúde do bebê.
Esse é o problema com bebês e
crianças. Coisas que os pais, familiares, a comunidade, uma sociedade, um país,
fazem ou deixam de fazer com eles, vão se manifestar talvez no médio, longo ou
longuíssimo prazo. Trate o seu filho com violência, e ele vai sobreviver, ele
talvez vá se formar numa faculdade e ter uma profissão, mas quais serão as angústias mentais que
não vão se desenvolver nele na fase adulta por causa disso? Alimente com
fórmula um bebê e qual o impacto que isso pode ter no sistema imune dele 30 anos
depois?
Portanto, eu e minha
companheira temos um cuidado imenso nessa primeira infância. Minha filha nunca tomou
antibióticos, ainda bem, o que com certeza fará com que microbiota (a colônia de bactérias e vírus que habita nosso corpo, especialmente o nosso trato intestinal, de importância singular para a saúde do nosso corpo) dela seja fortalecida
quando for jovem e adulta. Nem mesmo remédio ela já tomou, nunca. Ela teve
febre duas vezes por reação a vacinas, e como a febre é um processo natural do
corpo, apenas acompanhamos de perto para que o próprio sistema imune dela pudesse aprender a lidar com problemas.
Portanto, para mim é muito caro
a saúde futura da minha filha, e eu preciso evitar que ela sofra intervenções
no presente que possam comprometer, nem que na forma de uma probabilidade
maior de alguma morbidade, a saúde dela no futuro. Esse é um dos meus maiores presentes para ela.
O que se sabe do SARS-COV-2 em
relação a crianças? Pouco. E esse é um dos problemas da crise atual, a
incerteza, e esse tópico será mais bem abordado num ponto específico. Há uns 10 dias saiu um paper preliminar na
China tratando exclusivamente sobre o efeito da doença em crianças (1).
Essa tabela , tirada do anexo do estudo, mostra que a depender da faixa
etária, nesse grupo específico de crianças chinesas, em torno de 10% das
crianças afetadas apresentaram sintomas graves e, ou, severos. Interessante, e preocupante para mim, que
quanto menor a criança, maior a probabilidade de problemas mais graves.
Retirada do próprio estudo:
“The proportion of severe and
critical cases was 10.6 %, 7.3%, 4.2%, 4.1% and 3.0% for the age group of
<1, 1-5, 6-10, 11-15 and ≥16 years”
Quando vi essa tabela pela primeira vez há 10 dias (sim, vi esse estudo
antes mesmo de sair na mídia dos EUA, não vou nem falar na do Brasil), o que
chamou minha atenção foi a classificação sintomas moderados. O que são sintomas
moderados? Em tudo que é lugar você houve sintomas leves ou severos, então o
que seriam sintomas moderados? Por sorte, eles classificaram no estudo o que
seriam sintomas moderados? Do estudo:
“Moderate: with pneumonia, frequent fever and cough, mostly dry cough,
followed by productive cough , some may have wheezing, but no obvious hypoxemia
such as shortness ofbreath, and lungs can hear sputum or dry snoring and / or
wet snoring. Some cases may have noclinical signs and symptoms, but chest CT
shows lung lesions, which are subclinical.”
Para não traduzir tudo, basicamente um sintoma moderado está
relacionado com dificuldades de respiração (o que mostra um grau de ataque
maior aos alvéolos pulmonares) e por meio de uma Tomografia computadorizada
(CT) os pulmões mostraram lesões de forma subclínica.
Eu não sou médico, e não faço a mínima ideia de como interpretar uma
lesão pulmonar numa Tomografia. Aliás, se tem alguma coisa que não quero que
minha filha faça, sem necessidade, é uma TC com uma dose cavalar de
radiação.Mas, podendo estar falando
bobagem, a parte que diz que foram detectadas lesões pulmonares em sintomas
moderados, isso é algo que com certeza não gostaria que minha filha tivesse. Vai
haver pronta recuperação dessas lesões? Eu creio que sim, mas será que em todos
os casos? A parte mais assustadora, porém, é que entre casos moderados a
severos o número das crianças foi de 50%. Sim, uma em cada duas crianças, nesse
estudo que analisou 2000 crianças chinesas, sofreu sintomas moderados a
severos. E isso sim é um pouco preocupante para nós pais de bebês e crianças.
Portanto, eu, Soulsurfer, gostaria que minha filha fosse poupada dessa
loteria, e espero que ela não seja infectada por esse vírus.
TRATAMENTOS
Sobre tratamentos, há três soluções e um remendo.
a)Vacinas
A melhor solução para essa crise seria o anúncio de uma
vacina nas próximas semanas. Mesmo que uma vacina fosse anunciada na próxima
semana, mesmo assim esse vírus ainda possivelmente iria causar muito
sofrimento, pois entre o descobrimento de uma vacina, a sua produção em massa e
distribuição global, algumas semanas ou meses passariam.
Mas,
a não ser por algo inesperado, os especialistas dizem que uma vacina pronta
para uso o prazo mínimo seria de 18 meses, e sendo absurdamente otimista o
prazo de 12 meses.
Isso se a humanidade conseguir
fazer uma vacina eficaz e segura contra o SARS-COV-2, e não há nenhuma
garantia que isso será alcançado. Como o mundo todo está trabalhando nisso,
como nós humanos alcançamos coisas enormes e difíceis quando nos unimos em
torno da resolução de um problema, há uma boa chance de que uma vacina seja
feita.
Porém, fazer uma vacina, e
inocular uma população inteira com uma vacina demanda uma cautela enorme. Não
se pode “brincar com a mãe natureza” de forma precipitada sem estudos
bem-feitos e com uma duração razoável. Por qual motivo? Se esse vírus matasse
80% dos infectados, com um R-Naught de 10, aí meu amigo, faz uma vacina o mais
rápido possível, em semanas, e dane-se a segurança. Agora, esse vírus não irá
ocasionar nada, ou sintomas leves, em 80-85% da população. Se assim o é, como
expor uma população inteira, ou parte significativa dela, a uma vacina que não
se sabe eventuais efeitos adversos? Seria uma aposta extremamente perigosa em
relação à toda humanidade, de criarmos um problema ainda maior do que o
COVID19.
Sendo assim, a solução de curto-médio
prazo para essa crise não vai se dar por meio de uma vacina, muito
provavelmente.
b)Remédios Antivirais
Se vacinas não é algo factível para os próximos doze meses,
o que pode ser tentado são drogas que podem ter efeito profilático contra o
vírus, ou que atenuem eventuais problemas mais severos pela infecção. Uma nova droga é algo não tão difícil de
produzir como uma vacina, mas também possui os seus riscos, os seus custos de
desenvolvimento, os seus testes preliminares em animais, etc. Portanto, faz muito
mais sentido se voltar para drogas que já existem, e foi isso, e é isso que
centenas, talvez milhares, de cientistas estão fazendo usando provavelmente
algoritmos de inteligência artificial. Há muitos remédios que podem ser
promissores, mas para mostrar que eles são eficientes e seguros é preciso fazer
experimentos, não há outro jeito.
A Organização Mundial da Saúde está patrocinando trials
para quatro drogas diversas (2). A Hidroxicloroquina é apenas uma delas, e
talvez a que menos tenha potencial. Sim, surpreso com essa informação? Para
quem não acompanhou as notícias na última semana essa droga utilizada para tratamento de malária, e também
para algumas doenças autoimunes, ganhou fama internacional depois do Trump, em
minha opinião (e sim aqui é uma opinião minha) de forma política, anunciou com
pompa que esse medicamento poderia trazer retornos muito bons no combate ao
vírus. Nosso presidente como uma marionete (e aqui é outra opinião também) de
forma atrapalhada vem falando desse medicamento também.
O problema com drogas utilizadas para uma finalidade serem
utilizadas para outra é que elas podem ser inócuas ou perigosas. Além do mais,
drogas interagem com outras drogas e pode ocasionar efeitos extremamente
adversos. Como dito na Parte II, a esmagadora maioria das pessoas que falecem
de COVID19 possuem comorbidades, e, por causa desse fato, é muito possível que
estejam tomando várias drogas para essas condições. Não é algo simples, não é
algo fácil, e quase sempre é preciso fazer um experimento.
Um experimento para drogas geralmente envolve um grupo
chamado intervenção que toma o novo medicamento e um grupo controle que toma
uma pílula de açúcar chamada também de placebo. Um bom experimento é duplo
cego, querendo isso dizer que o grupo intervenção não sabe se está tomando
placebo ou a droga, o grupo controle também não sabe e os cientistas não sabem
quem está tomando o quê, sendo, portanto, duplamente cego. E, é preciso que haja certo tempo, para que se
possa avaliar com certa confiança eventuais efeitos adversos ou não no grupo
controle.
Especificamente sobre a Hidroxicloroquina sugiro o seguinte
vídeo sobre a explicação do mecanismo de porque ela poderia vir a funcionar:
Recomendo também essa excelente entrevista com uma
farmacêutica sobre os mecanismos de ação e potenciais interações perigosas com
outros medicamentos (3).
Ainda sobre esse medicamento, ressalto aqui partes da
referência (2) de alguns cientistas a respeito dessa droga:
"Encouraging cell study results with chloroquines against two other viral
diseases, dengue and chikungunya, didn’t pan out in people in randomized
clinical trials. And nonhuman primates infected with chikungunya did worse when
given chloroquine. “Researchers have tried this drug on virus after virus, and
it never works out in humans. The dose needed is just too high,” says Susanne
Herold, an expert on pulmonary infections at the University of Giessen.
Hydroxychloroquine, in particular, might do more harm than good. The
drug has a variety of side effects and can in rare cases harm the heart.
Because people with heart conditions are at higher risk of severe COVID-19,
that is a concern, says David Smith, an infectious disease physician at the
University of California, San Diego. “This is a warning signal, but we still
need to do the trial,” he says. What’s more, a rush to use the drug for
COVID-19 might make it harder for the people who need it to treat their rheumatoid
arthritis or malaria".
Basicamente, o que se diz é que estudos promissores desse
composto em células de laboratório não renderam nenhum resultado quando foram
feitos experimentos em humanos, sendo que primatas, no caso específico do vírus do chikungunya, ficaram ainda piores após a
administração dessa droga. Além do mais, a droga pode ter efeitos adversos
perigosos, especialmente cardíacos.Há
diversos relatos de médicos no Twitter alertando sobre os perigos dessa droga
para quem tem problemas prévios cardíacos.
Mas, essa droga pode vir a se mostrar promissora, e quem
sabe os experimentos não mostre que ela pode ser, se usada em determinados
casos em determinados pacientes, um tratamento efetivo? Vários estudos estão
sendo feitos, e só nos resta aguardar. Apenas dediquei tempo a essa droga em
específico pela popularidade que ela ganhou, especialmente por causa das declarações
de Trump e em nível nacional pelo nosso presidente Bolsonaro.
Portanto, vamos torcer e esperar os resultados dos diversos
estudos em andamento de terapias antivirais.
c)Transfusão de Sangue de Pessoas Imunes
Este tratamento poucas pessoas falam, e quem ouviu as
entrevistas que indiquei na Parte I, sabe do que se trata. Basicamente, é pegar
o sangue de uma pessoa que foi infectada e está curada. Presumivelmente, o
sangue dessa pessoa hipotética terá anticorpos contra o SARS-COV-2, pois é
assim que o nosso sistema imune adquirido funciona. A ideia é então é retirar
sangue dessa pessoa e injetar numa pessoa saudável não infectada para que a
mesma possa adquirir alguma imunidade temporária.
Não é uma cura, está
longe de ser um tratamento, mas pode ser algo muito eficaz especialmente para
trabalhadores de saúde que estão sendo vítimas desse vírus em níveis alarmantes.
Logo, imunizam-se por algumas semanas esses trabalhadores para que eles possam
exercer o seu trabalho sem correr o risco de contágio, ou ao menos diminuir
esse risco. Espero que algo como isso esteja sendo pensado e trabalhado pelas
autoridades brasileiras.
Um dos grandes riscos, além da falta de leitos de UTI, da
coisa degringolar é a força de trabalho médica adoecer. Imagina que um hospital
tem 10 médicos e 20 enfermeiras. Se, apenas como exemplo, estes 30
profissionais conseguem manejar 500 pacientes em estado grave, o que não aconteceria
se 15% da força de trabalho ficasse doente, diminuindo o número para 25
profissionais? Muitas coisas ruim acontecem. Primeiramente, a capacidade de
atendimento cai de 500 pessoas para talvez, sei lá, 350 pessoas. Como o influxo
de doentes não irá diminuir, os profissionais de saúde ficarão ainda mais
sobrecarregados e poderão fazer mais erros, e por causa disso ser ainda mais
suscetíveis a contaminação própria. E, por fim, imagine a moral de toda a
equipe ao ver amigos de trabalho sendo infectados e sendo internados numa UTI?
Esse é um problema seríssimo, e um dos motivos do caos que
se instalou no norte da Itália e na Espanha. Um número impressionante de 46
médicos italianos, quatro apenas hoje (27-03-2020) já morreram de COVID19. Esse
é um número assustador.
d)Imunidade de Rebanho (Herd Imunity)
Se não tive vacina, se drogas não forem eficientes, só
restará então que a população seja imunizada pela exposição da mesma ao vírus,
mas esse tópico se liga diretamente a quarentenas, lockdown, etc, e será
tratado na próxima parte.
É
isso, prezados leitores, creio que com mais uma parte encerrarei o
quebra-cabeça do problema, e começarei a dar a minha opinião e o que estou
fazendo na minha vida. NÃO ESQUEÇAM DE COMPARTILHAREM SE TIVEREM GOSTADO DO TEXTO E DA SÉRIE.
Olá, prezados leitores. Segue aqui a continuação. Para
contexto, sugiro a leitura da primeira parte.
MAIS UM DISCLAIMER
Pessoal,
eu já coloquei na primeira parte a minha admissão de sofrer o efeito Dunning-Kruger, aliás como
qualquer ser humano. Mas, vou novamente reforçar. Ninguém sabe ao certo
para onde os mercados vão, o que vai acontecer com o mundo, como é a biologia
desse novo vírus, se é melhor fazer quarentena ou não, de quem é a
responsabilidade, etc, etc.
É um
cenário de extrema incerteza, e você, prezado leitor, se já não o faz, deveria
cultivar mais a nobre arte racional, no qual a ciência moderna e a
filosofia antiga se baseiam, de
duvidar das próprias certezas.Quem oferece certezas num momento como esse, além de sofrer de uma
ilusão tremenda sobre a própria falibilidade humana, apenas mostra que não tem
a capacidade de cultivar o aparato mental correto para tentar fazer boas
perguntas.
Tudo começa com boas perguntas,
seja na ciência, seja na compreensão da realidade, e para realizar boas
perguntas é necessário assumir que a realidade possui mistérios e
complexidades.
SOU JOVEM, POSSO
SOFRER SE FOR INFECTATO PELO SARS-COVID2? O CONCEITO DE MORBIDADE
DIFERENCIANDO-SE DE MORTALIDADE
Sim,
pode.A probabilidade é alta? Tudo leva
a crer que a probabilidade é idêntica de pessoas mais velhas, ser jovem, até
onde eu li, não confere imunidade.Se
for jovem e infectado, a probabilidade maior é não possuir sintomas ou sintomas
leves (febre, tosse seca)? Sim, essa é a maior probabilidade. E qual é a chance
de ter sintomas mais graves, a depender de uma internação hospitalar? Ninguém sabe ao certo.
Os
dados que vem tanto da Itália como da China mostram que a mortalidade está
concentrada quase que exclusivamente em pessoas de mais idade. Na verdade, há
poucos dias saiu um paper (1) mostrando que apenas 0.8% das pessoas que morreram na
Itália não possuíam nenhuma comorbidade. Por seu turno, cerca de 50% dos que faleceram
tinha 3 ou mais comorbidades.
Sim, se a pessoa tem mais doenças associadas, o risco de morte aumenta drasticamente. Ser saudável e a opção, e voltarei a esse ponto em artigo futuro
Aqui estão as morbidades, está em Italiano, mas é fácil entender. As principais são diabetes, hipertensão e doenças cardíacas
Sim, em relação a pessoas acima de 70 anos, a doença é muito grave. Homens morrem muito mais. Se o seu pai, avô, tem 75-80 anos, possui problemas prévios, sim ele tem um risco não desprezível de ir a óbito
Portanto, e aqui é apenas uma especulação minha, pois não vi nenhum especialista escrevendo ou dissertando a respeito com mais propriedade, a morbidade se intensifica de acordo com a idade, pois
com o decorrer do tempo a probabilidade de se ter alguma doença degenerativa é
maior. Logo, qual teria mais probabilidade de vir a óbito, uma pessoa com 70
anos sem nenhuma comorbidades, ou alguém de 55 anos com diabetes e pressão alta?
Eu diria que a pessoa de 55 anos está em maior risco de ter complicações mais
sérias que podem levar a óbito. Isso é apenas um achismo meu, repito, porém.
Talvez
ninguém vá lembrar, mas há anos eu falo que a humanidade deveria usar outras
métricas para avaliar a métrica de sucesso de um povo. PIB per capta e dinheiro é apenas uma parte de uma equação complexa. Diversas vezes escrevi nesse espaço o fato de
mais da metade de adultos acima de 50 anos nos EUA terem duas ou mais condição
degenerativa, e que isso era um problema algumas ordens de grandeza maior do
que terrorismo, muro com o México, e seja lá mais o que for. Uma população, no
caso dos EUA, onde quase 50% das pessoas são diabéticas ou pré-diabéticas e 88%
não são metabolicamente saudáveis, é uma população doente. Por esses dados, o SARS-COV-2 pode fazer
estrago por lá.
Não acredita? Uma reportagem recente vinda do reino unido,
indica que quase 70% dos internados em estado grave pelo COVID19 naquele país
são obesos, e que aproximadamente 40% possuem menos de 60 anos (2). Ou seja, pessoas abaixo de 60 anos estão longe de ser idosos, e a obesidade apenas é um marcador de outras doenças degenerativas, já que uma obesidade mórbida é bastante associada a diabetes ou hipertensão, por exemplo.
Portanto,
se você é jovem e metabolicamente saudável (e muitos leitores jovens desse
espaço com certeza não o são), suas chances de ter sintomas muito severos
parecem diminutas. Entretanto, não se pode saber ao certo. Há alguns dias saiu
um paper nos EUA sobre a taxa de internação hospitalar e divisão por faixas etárias. Há
várias críticas que se pode fazer a esse estudo, mas também tudo muda muito rapidamente, e
quanto mais dados melhor. Nesse estudo, a taxa de hospitalização de pessoas
jovens foi razoavelmente alta. Não foi algo de 2-3%, mas de 10% para cima. O
estudo não mostrou comorbidades associadas, então não dá para saber quanto comorbidades como diabetes, câncer, pressão alta, doenças autoimunes, resistência
à insulina, obesidade, etc, influenciam ou não na severidade da doença para necessitar internação em pacientes mais jovens.
Para quem não entende bem Inglês, os números mostram os casos de hospitalização, de internamento numa UTI e a mortalidade por faixa etária de pessoas com COVID19 entre 12 de fevereiro e 16 de março nos EUA. É possível observar que a taxa de internação hospitalar na faixa de 20-44 anos não foi nada baixa de 14.1%. Os casos de UTI não foram nada baixos de 2%. E a mortalidade sim foi baixa de 0.1%. A maior faixa etária acima de 85 anos, requereu o dobro de hospitalizações (31.3%), mas os óbitos foram muito maiores em 10.4% ou seja 100 vezes mais do que a faixa etária 20-44 anos. Isso indica que um jovem pode precisar ser hospitalizado, que não é algo improvável, mas a chance de morrer é bem pequena, se houver tratamento adequado, enquanto um idoso possui uma chance enorme de vir a óbito se precisar ser internado
Há uma crítica óbvia a esse estudo. Primeiramente, não se sabe o número real de infectados que pode ser muito maior do que os diagnosticados. Logo, o denominador da equação aumenta, fazendo com que os números da tabela acima sejam muito menores. Em que pese a crítica evidente a tabela acima, há
relatos vários de jovens precisando de UTI para se manter vivos. Portanto, os
dados não são ainda claros e precisos, e nem vão ser nas próximas semanas e
meses, mas há informações apontando que jovens podem sim vir a precisar de
hospitalização numa quantidade não desprezível.
E
se essa hospitalização não estiver disponível? E se um eventual leito de UTI
não estiver disponível? Como dito na Parte I, e vem daí o conceito de achatar a
curva, a mortalidade na faixa etária mais jovem pode aumentar e muito.
Portanto, quando o ministro da Saúde Brasileira fala que a Itália está sofrendo
porque tem muitos idosos, e como o Brasil possui uma população jovem o sofrimento
não vai ser o mesmo, é verdade, desde que o sistema de saúde tenha condições
mínimas de atender os jovens que vão ser hospitalizados, e partindo do
pressuposto de que as condições de saúde de ambos os países são parecidas.
Esse gráfico parece-me um pouco irreal, pois parte do pressuposto que no pico da infecção, mais de 10 milhões de pessoas precisariam de hospitalização. Talvez seja o cenário apocalíptico de tudo dando errado. Evidentemente, a linha de camas de UTI não comportaria nem um vigésimo desse worst case scenario. E, ah, isso é um gráfico para os EUA, talvez a capacidade de camas de UTI no Brasil seja ainda mais comprometida. Tudo leva a crer, porém, que esse não é um gráfico realista do que pode vir a ocorrer.
O Brasil tem
10.4% da população de 20 a 79 anos diagnosticada com diabetes, a Itália tem
apenas 5% (3). Quem já foi a Itália sabe que as pessoas são muito mais esbeltas e saudáveis do
que o brasileiro médio. Se o Brasil possui 10.4% diabéticos, com certeza temos
algo em torno de uns 40-45% de pré-diabéticos, e se fomos analisar a saúde metabólica de forma
correta, pela insulina e melhor ainda por uma exame de Kraft, talvez tenhamos na verdade uns 70-75% de toda população
acima de 20 anos com resistência grave à insulina. Logo, talvez nossa população
seja bem mais jovem que a Italiana, mas por incrível que pareça bem mais
doente.
Sendo assim, se
você é jovem, e não é extremamente saudável, eu não ficaria tão tranquilo
assim. Na minha percepção, nada maior do que 0.5% de precisar ser hospitalizado
por um vírus desconhecido é algo pequeno para mim, o que dirá uma chance de
10%. 10 em uma chance de precisar ser hospitalizado por dificuldade para respirar?
Uau, isso para mim está longe de ser baixo risco, se esses números forem verdadeiros, repito, e há muitos que acreditam que não o são, sendo o risco de necessidade de hospitalização bem menor.
E daí se você
precisar ser hospitalizado? Se tudo der certo, se o sistema de saúde não tiver
colapsado, se durante a sua internação você não tiver pegado uma infecção
hospitalar, está tudo bem? Ninguém sabe ao certo. Ninguém sabe as consequências de longo prazo,
até porque esse surto tem alguns meses. “Como assim, quais consequências de
longo prazo Soul?”. Sim, consequências
de longo prazo, ninguém é entubado numa UTI , ou colocado num ventilador para
respirar artificialmente, e passa incólume dessa experiência.
Um dos médicos
que mais respeito, Dr. Peter Attia, disse no último podcast sobre o COVID19 que
ele tinha lido um paper sobre as consequências de longo prazo das pessoas que
se recuperaram do SARS-COV (o primeiro surto SARS de 2002-2003). Ele disse
que essas pessoas ao longo dos 10 anos seguintes, foram muito mais propensas a
sofrer ataques cardíacos, a ter problemas pulmonares, a incapacitação laboral,
etc, etc. Desde que ouvi o podcast eu
tentei localizar o paper, mas não consegui. Cheguei até mesmo a mandar uma
mensagem para o Dr. Petter Attia pedindo o paper, mas ele não me respondeu.
Se a
SARS-COV-2 também ataca os pulmões causando problemas respiratórios graves
como a SARS, então talvez as pessoas que se recuperarem de sintomas graves do
COVID19 podem estar aumentando e muito a sua morbidade, ou seja, a
probabilidade de sofrer de outras doenças degenerativas. Se isso for verdade, e com índices de
hospitalização maiores do que uma gripe, vai ser uma notícia terrível. A maior causa de
mortes no mundo são doenças cardíacas sendo responsáveis por quase 25% dos óbitos (com variação de país para país). Aumentar a sua chance de morrer de
uma doença cardíaca, ou seja, aumentar a sua chance de morrer de algo que já é
comum, por causa do COVID19, caso sintomas graves resultem em morbidade, não é
uma notícia nada animadora.
Portanto,
mortalidade e morbidade são coisas diferentes. A mortalidade do SARS-COV-2
pode ser não tão alta, especialmente em pessoas abaixo de 50 anos e relativamente saudáveis (digo relativamente, pois na verdade a maior parte da nossa população está adoecida e longe do seu potencial ótimo de saúde) se o sistema de saúde puder atender as pessoas que
precisarem de atendimento. Entretanto, a morbidade pode não ser tão baixa assim no médio-longo prazo, o que
torna essa doença mais complicada. Deveríamos estar fazendo muito mais
perguntas não apenas sobre a mortalidade, mas sim sobre a morbidade dessa
doença, até para podermos entender os riscos de curto, médio e longo prazo desse vírus.
MAS É TÃO RUIM ASSIM? A CHINA
COM QUASE 1.4 BILHÕES DE PESSOAS SÓ TEVE 80 MIL CASOS. A VIDA NÃO ESTÁ
NORMALIZADA LÁ? AS ONDAS SUCESSIVAS DE CONTAMINAÇÃO
Por qual motivo a crise de Ebola não se espalhou pelo mundo
inteiro? A resposta é simples. O vírus do ebola é altamente transmissível
apenas quando a pessoa infectada está bastante sintomática, e se não me engano,
é necessário contato com secreções corporais. Portanto, quando estoura um surto
de Ebola, é muito mais fácil identificar os infectados e fazer um rastro das
pessoas que entraram em contato com o infecato. O
SARS-COV-2, por seu turno, ao que tudo indica é altamente transmissível quando
a pessoa infectada está assintomática, e isso faz toda a diferença.
Aliás, o primeiro surto de SARS-COV em 2002-2003 pode ser mais
facilmente controlado, pois a pessoa infectada transmitia a doença dias depois
de ser infectada e já apresentando sintomas claros da doença. O SARS-COV-2, ao
contrário (e há algum debate em relação a isso), parece que pelo contrário, ele
é mais altamente transmissível quando a pessoa está assintomática, e não tanto
transmissível quando a pessoa está sintomática, e isso, para nós humanos é um
verdadeiro pesadelo, pois torna praticamente impossível saber quem está ou não
com a doença, a não ser fazendo milhões de testes na população. O período de incubação do SARS-COV-2 varia
de alguns dias até 14 dias, sendo que há casos registrados de até 22 dias, se
não me engano. Imaginem, prezados leitores, uma pessoa por 22 dias
assintomática e podendo transmitir o vírus?
Quer um cenário de pesadelo para o mundo? Um vírus com período de incubação de 40-60 dias e transmissível nesse período, com um R-Naught de 12-15 (absurdamente transmissível, o sarampo possui um R-O alto assim. Só não morremos aos milhões de sarampo, pois a maior parte da população está imunizada e entra o conceito de Herd Imunity que será abordado na parte III), e uma letalidade de 15-20%. Nesse cenário, que não é nada improvável, aí sim o mundo caminharia para um colapso financeiro completo.
A China, e experts pelo mundo dizem que os dados parecem confiáveis,
aparentemente controlou o enorme surto na cidade de Wuhan. Como? Impondo uma
quarentena por praticamente 60 dias. Como funcionou essa quarenta, como eles se
alimentavam, como o governo fiscalizava a quarentena, são detalhes que não
conheço, e adoraria ler uma matéria bem escrita por algum bom jornalista. Foram 80 mil casos diagnosticados (o número
pode e deve ter sido bem maior) e cerca de três mil mortes. Triste, avassalador, mas por que fechar o
mundo por causa disso?
O problema, e isso a China vai mostrar ou não ao mundo, é que o vírus
não vai deixar de existir. E nada impede que haja ondas sucessivas de
contaminação quando as barreiras de quarenta forem totalmente baixadas, e
quando as pessoas puderem circular livremente novamente. Aliás, esse é um medo
constante na China. Cito uma reportagem recente (4):
"Both Shanghai and Beijing reported a case of a locally-transmitted infection from an imported patient Tuesday.
State media warned of a second wave of infections, with the nationalistic Global Times warning on its front page that "inadequate quarantine measures" meant a second wave of infections was "highly likely, even inevitable". ("Ambas Shanghai e Beijing reportaram um caso de transmissão local de infecção de um paciente importado na terça-feira. A mídia estatal alertou que uma segunda onda de infecções, com o nationalista Global Times alertando na sua primeira página que "medidas inadequadas de quarentena" significam uma segunda onda de infecções é "altamente provável, talvez inevitável".
Portanto, apesar de impor medidas duras, de sacrificar sua economia, de
perder milhares de vida, nada garante que não possam estourar novos surtos na
China, e a doença tomar proporções ainda maiores. Como faz? Impede voos
internacionais? Mas num mundo tão conectado, isso é possível? E com tantos
focos mundo a fora, por quanto tempo a China consegue evitar outro surto?
Ninguém sabe, e o mundo irá descobrir em poucos meses.
OS VÁRIOS FOCOS PELO MUNDO E AS ONDAS SUCESSIVAS DE CONTAMINAÇÃO
Já pararam para pensar na diferença do termo pandemia para uma epidemia? Eu nunca tinha refletido a respeito, mas apesar de algo óbvio e simples, foi um insight poderoso para mim. Uma epidemia é algo localizado, uma pandemia é algo espalhado por vários cantos do mundo. E por qual motivo isso é relevante?
Se um surto de uma doença alcança proporções epidêmicas, muitos casos, mas é restrita a uma área, é muito mais fácil contê-la, inclusive com medidas de quarentena drásticas. Isola-se a população afetada, espera-se que o surto diminua ou cesse, e vida que segue. Entretanto, quando há focos em várias regiões, se uma região controlar o seu foco com medidas de quarentena, por exemplo, nada impede que ela não importe casos de outras regiões, ocasionando mais uma onda de contaminação (tópico anterior).
Esse é o problema de uma pandemia. Talvez o que acontecer em Bangladesh ou na Nigéria (dois países pobres e extremamente populosos), possa afetar os EUA ou o Brasil, mesmo que esses países controlem seus focos de COVID19, ainda mais num mundo com fronteiras porosas e com uma economia tão interligada e conectada.
Sendo assim, quer queiramos ou não, parece que estamos nessa juntos. A China ou Coréia do Sul,a não ser que o vírus não seja tão perigoso ou que sua população seja imune, não poderá ficar tranquila se a Índia tiver um foco enorme da doença, por exemplo. Sendo assim, o esforço deve ser conjunto para conter os focos em vários países, e isso obviamente é difícil.
Logo, do ponto de vista apenas de um país, talvez seja muito mais importante o número de focos dentro de um próprio país do que o número de infectados e mortos em geral desse mesmo país. Pelo que li, por exemplo, ao contrário da Itália que possui um grande foco no norte , a Espanha possui focos espalhados pelo país. Se isso for verdade, será mais difícil controlar o surto epidêmico na Espanha, quando as medidas de quarentena forem levantadas, do que na Itália, e a Espanha tende a ter mais mortes do que a Itália nas próximas semanas. O raciocínio pode ser equivocado e algumas semanas mostrarão se isso é correto ou não.
Por fim, recomendo o bom e curto vídeo do Peter Attia sobre esse tema do dia 23/03/2020
Se você não entender, ele basicamente compara regiões com foco, e não necessariamente países inteiros, a carros indo em direção a um precipício. Há carros acelerando (como o Estado de NY), há carros que já caíram (região da Lombardia do norte da Itália), há carros que estão ainda com uma velocidade bem baixa e longe do precipício (Sicília, no sul da Itália, por exemplo), e essa é a dinâmica complexa que as pessoas inteligentes e preparadas como ele e outros precisam tentar modelar.
O texto já ficou grande, vai precisar de uma terceira parte apenas sobre a doença em si. Eu só
quero falar de Brasil, mercado financeiro, de governo, de mim mesmo e família, depois que ao menos os
pedaços básicos do quebra-cabeça estejam minimamente entendidos e expostos.
Ah, nunca pedi isso, mas se gostou do texto e o achou com informações relevantes, passe para conhecidos.
Olá, prezados leitores. Eu iria fazer
um artigo mais pessoal, mas ao sentar na cadeira resolvi mudar a forma.Eu percebo que tenho poucos leitores, mas
desses poucos uma grande parcela leva com seriedade aquilo que eu digo, pois
acho que passo transparência e seriedade na forma que abordo os diversos
assuntos.
Como disse algumas vezes, cada
vez mais me interesso sobre o assunto saúde humana, e não seria diferente em
relação ao SARS-COV-2, ou chamado de coronavírus.Já li e escutei muito material de extrema
qualidade, e espero aqui ser um portal para despertar o conhecimento de quem
tem interesse em ir atrás de informações de qualidade. Eu não iria ser muito
crítico, mas tendo em vista a gravidade da situação e a irresponsabilidade do
governo central na figura do seu chefe, não vai ter jeito, vou ter que falar a
respeito.
CURVA DUNNING-KRUGER
Eu não sou
médico. Mesmo um médico, se a pessoa não é infectologista, epidemiologista ou
virologista, é capaz de mesmo assim não ter a capacidade técnica para falar com
fundamento sobre o tema. Portanto, é preciso se valer das pessoas que tem expertise nisso, e
ir aos poucos tentar fazer com que as peças do quebra-cabeça se encaixem.
O efeito Dunning-Kruger
diz respeito à percepção de conhecimento, falso, que pessoas com pouquíssima
habilidade têm a respeito de si mesmas sobre o próprio conhecimento.É como ler um artigo de google sobre
virologia e achar que pode saber sobre o tema de forma profunda. Quanto mais conhecimento alguém vai tendo
sobre uma área do conhecimento, mais a percepção dela sobre o próprio
conhecimento vai diminuindo.
Portanto, eu
Soulsurfer também sofro desse efeito, e você precisa saber disso e simplesmente
ir às fontes que eu vou disponibilizar em cada tópico (se não for um tópico
meramente opinativo).
O QUE É CORONAVÍRUS
Coronavírus é
uma família de vírus que possui espécies de “espinhos” na superfície dos mesmos que são parecidos com
coroas, daí o termo “corona”. De uma
forma um pouco mais técnica, para quem tiver interesse, esse “espinho” na
verdade é uma proteína que degrada uma enzima específica, facilitando que o
vírus assim possa se encaixar numa receptor chamado ACE2, tendo assim acesso ao
interior da célula chamado citoplasma (isso no caso específico do SARS-COV-2,
não saberia dizer dos outros).
Como biologia
básica, ao contrário de uma bactéria que tem o “maquinário” próprio para se auto
multiplicar, um vírus depende necessariamente do maquinário de uma célula para
poder se multiplicar. O vírus sequestra esse “maquinário”, logo um vírus
parasita a célula infectada para que a mesma possa replicar o RNA viral usando
as organelas da própria célula infectada.
Pelo que li,
os coronavírus são conhecidos há décadas. Na verdade, li um artigo que
coronavírus infectam a humanidade há pelo menos 100 anos, e que talvez 20-30%
dos casos de gripe no mundo, na verdade sejam causados por vírus corona. Sendo
assim, essa família de vírus nunca foi tão grave para seres humanos, mas isso
mudou em 2002 com o surgimento de uma espécie dessa família, por meio de alguma mutação, chamada SARS-COV.
SARS é um acrônimo para SEVERE ACCUTE RESPIRATORY SNYDROME e COV coronavírus.
Portanto, em 2002 surgiu um vírus da família corona que atacava os pulmões
ocasionando uma crise severa respiratória.
Esse novo
vírus que aparentemente surgiu na China no final de 2019, é chamado de
SARS-COV2, por ser um vírus que também ocasiona, em algumas pessoas, uma
crise respiratória aguda, e o 2 é como se fosse uma continuação do primeiro
vírus de 2002.
QUÃO LETAL ESSE VÍRUS É?
Os maiores
especialistas não sabem. No começo, se dizia, baseado em dados chineses, que a
mortalidade poderia ser de 3-4%. Ou seja, se alguém contrair esse vírus, teria
uma chance de 3 a 4% de vir a óbito em questão de semanas. Isso é um número
absurdamente alto, absurdamente alto. Para se ter uma ideia de proporção,
pessoas que possuem um risco de ter um evento cardíaco (não é morte, é um
evento como a necessidade de ir a um hospital por causa de uma dor no peito)
acima de 10% nos próximos 10 anos são consideradas pessoas de altíssimo risco
cardíaco.
Portanto,
ter a chance de 3 a 4% de morrer nas próximas semanas deveria ser algo assustador
para qualquer um. Felizmente, apesar de haver muitas dúvidas a respeito, os
especialistas acreditam que muito provavelmente o índice de letalidade máximo
talvez seja de 0.5%, podendo ser menor do que isso. Dados da Coréia do Sul
parecem confirmar esse cenário.
Se
quiser ouvir um grande especialista falando sobre isso, sugiro esse podcast: https://samharris.org/podcasts/191-early-thoughts-pandemic/.
Uma entrevista do grande Sam Harris com um médico especialista, não lembro a
especialidade, do famoso John Hopkins.
Há
alguns que dizem que talvez a mortalidade possa ser de 1%, e outros que estão
dizendo que na verdade a mortalidade é semelhante a de um vírus da gripe que é
algo de 0.1%. Há muito debate sobre o tema, o vírus é muito novo, e não se pode
saber ao certo. Mas, para que a mortalidade seja em níveis baixos, é preciso
que o sistema de saúde não colapse.
ACHATAMENTO DA CURVA – O ASSUNTO
NÃO MUITO ENTENDIDO
Talvez
todos, ou uma boa parte da população, já se deparou com o conceito de
achatamento da curva, ou com o clássico gráfico feito que já correu a internet
em diversos formatos.
Quem disse que a capacidade do nosso sistema de saúde está na altura daquela linha pontilhada? Será que não está na metade da altura ou um terço da altura, indicando que o sistema entrará em colapso achatando ou não a curva. Essa linha pontilhada é a capacidade de países ricos, até porque o gráfico foi criado lá, e foi importada acriticamente aqui pelo país. Não vi nenhum jornalista fazendo essa pergunta básica para as autoridades brasileiras. Outra, vai ser difícil achatar a curva com dezenas de milhões de pessoas em favelas apinhadas sem água corrente e sabão. Logo, será que essas "quarenta" à moda brasileira, cada Estado da federação fazendo do seu jeito, apenas não estão destruindo ainda mais a economia?
Sobre
o tema em geral, e esse conceito do achatamento da curva em específico, eu
sugiro o vídeo desse biólogo brasileiro, é um bom vídeo:
O
conceito é mais ou menos o seguinte. Se um vírus não pode ser contido, pois ele
já se espalhou, ou possui vários focos simultâneos, então, para não causar o
colapso do sistema de saúde, é melhor que os casos sejam distribuídos durante um período
maior de tempo, e não num tempo concentrado. Se as previsões apontam que 50% de
uma população será infectada, e se 20% dessa população poderá necessitar de
atendimento médico hospitalar, melhor que essa infecção ocorra num período de
18 meses, e não de 3 meses, por exemplo.
Imagine
o Brasil com 200 milhões de habitantes. Se 100 milhões forem infectados, 20
milhões em teoria precisariam de atendimento hospitalar. O SUS não consegue nem
atender a demanda de normalidade, imagine 20 milhões de pessoas em 90 dias?
"Mas
seria tão rápido assim, Soul?" Isso é outro tópico com muito debate e não há
nada claro. Isso depende de várias modelagens, e especialmente do grau de
transmissibilidade da doença. O conceito de transmissibilidade chama-se
R-naught ou R-O. Um R-O de 1 significa que uma pessoa infectada pode infectar
em média uma pessoa. Um R-O de 10 significa que uma pessoa em média pode infectar
outras 10. Uma R-O abaixo de um significa que uma pessoa infecta em média menos
de uma pessoa, uma doença assim não tem chance de causar epidemias. Sugiro o
vídeo abaixo entre o minuto 1:40 e 2:30, especialmente a parte sobre a
diferença em contágio que um R-O de 2.5 e 4 possuem.
Qual
é o R-O do SARS-COV-2? Não se sabe. Não se sabe se a temperatura influencia de
forma drástica ou não, há estudos novos que estão correlacionando que o aumento
de temperatura diminui o R-O. Não se sabe nem ao certo quais são todas as formas de contágio. Há muita dúvida ainda. Mas, pelo que li, os
especialistas colocam o SARS-COV-2 com um R-O de 2 a 4, devendo ser algo na faixa
dos 2.5-3.
Uma
doença com R-O de 3, e que seja facilmente transmissível, faz com que haja um
crescimento exponencial nos infectados em questão de semanas, então, sim é
possível que o vírus se espalhe por 50% da população em 3 meses.
Se
20 milhões de pessoas precisarem de hospital em 3 meses, não há qualquer chance
do SUS, de hospitais particulares, de qualquer sistema de saúde do mundo,
suportar a demanda. O que ocorre então? A letalidade da doença aumenta.
Se
eu, Soulsurfer, tenho 40 anos, saudável, sem nenhuma comorbidades, necessito ser hospitalizado por causa do
COVID19, se eu fosse hospitalizado nas primeiras 24 horas de sintomas mais
sérios como falta aguda de ar, eu talvez tivesse uma chance de 99.8% de sobrevivência.
Porém, se não houver como eu ser hospitalizado, porque o sistema colapsou,
talvez a minha chance de sobrevivência caia para 70%, ou seja, a chance de eu morrer aumenta drasticamente. Em relação a grupos de riscos como idosos com comorbidades (quase todos os idosos em nosso país), a impossibilidade de se hospitalizar e ter acesso a uma UTI, acaso necessário, fará com que a letalidade nesse grupo exploda.
Logo,
se o sistema colapsa, o índice de letalidade (tópico anterior) aumenta
drasticamente não pela letalidade em si da doença, mas por falta de tratamento
apropriado, e é isso que está ocorrendo no norte da Itália e na Espanha
atualmente.
A
ideia então é espalhar os casos por um período maior de tempo. Porém, e esse
foi uma reflexão minha já há 10 dias, quem disse que mesmo achatando a curva o
SUS não colapsará no Brasil? Infelizmente, eu ainda não vi ninguém sério
falando sobre o tema, pois além do Brasil possuir menos leitos, menos
ventiladores, as UTIS do SUS, por uma notícia que que eu li, estavam quase que
95-97% ocupadas.
E
o que é ainda mais preocupante. Talvez alguém que tenha um infarto, e poderia
sobreviver, ou seja, algo em nada relacionado ao COVID19, talvez não tenha
atendimento e venha a morrer. Então a letalidade do colapso do sistema aumenta
as mortes não só por esse novo vírus, mas por todas as outras doenças.
Certo, vamos nos trancar em casa, para achatar a curva. Se todo mundo ficar dentro de casa e nunca mais sair, o R-0 do vírus cai para zero em poucas semanas ou meses. Mas, quando se fala em achatamento da curva, ela não muda o número de infectados, apenas o período de infecção. Esse é um dos maiores mal entendidos sobre esse conceito. Nenhum jornalista faz perguntas a esse respeito, e eu acho incrível. Além do mais, ninguém fala sobre ondas sucessivas de surtos, que é o que pode vir a acontecer na China assim que eles retornem à normalidade, isso depois de 60-75 dias de quarentena. Esse é o tema que mais me atrai sobre o COVID19 na atualidade, na verdade tem outros, e quase nunca esse tema é tratado, mesmo por especialistas.
Mas, o meu pai ao telefone hoje, e ele não está só nisso, imagina que essa é uma situação de 14 dias. Não se engane prezado leitor, essa é uma situação de meses a anos, pois o vírus não irá desaparecer num período inferior a 18 meses. Para um artigo simples a respeito, sugiro esse artigo da BBC Brasil: Porque essa pandemia pode durar meses ou anos
O
artigo ficou longo, e farei uma continuação sobre diversos outros tópicos:
comprar ou não ações, governo brasileiro, caos social, é uma doença ou não que afeta apenas pessoas de idade, saúde metabólica, etc. Porém, apenas se as
pessoas se interessarem pelo tópico e o que tenho a dizer.
Há muito material de qualidade, não vou citar aqui papers científicos pois ninguém se interessaria, mas esses 4 podcasts já daria uma visão ampla sobre o tema. Leia a Parte II