domingo, 25 de dezembro de 2016

DESEJOS PARA QUE O SEU PRÓXIMO ANO SEJA (AINDA) MELHOR

Olá, colegas. Desejo um bom natal para todos e já me adianto desejando uma boa entrada de ano. Primeiramente, posso dizer que essas duas datas por si não possuem um significado muito grande para mim. Há textos que tentam abordar esse assunto falando sobre a ¨hipocrisia¨, ¨desnecessidade¨ ou qualquer outro adjetivo de conotação negativa de celebrarmos essas datas.

  Bom, o fato é que estas datas representam momentos especiais para pessoas e famílias. Isso faz com que, nem que seja por breves instantes, indivíduos se relacionem de uma forma mais harmônica uns com os outros. O ano novo, por exemplo, nada mais é do que a passagem de mais um dia, mas para muitos representa a esperança de um recomeço, a esperança de uma nova vida, de um novo rumo. 

  Sim, um observador mais cínico poderia notar que provavelmente nada de novo acontecerá na vida das pessoas, e que a virada do ano é apenas uma vã tentativa de sonhar com algo melhor sem se esforçar para que isso necessariamente ocorra.  É bem possível e provável, mas mesmo assim é inegável que as pessoas nesta data específica ficam mais suscetíveis a se relacionar umas com as outras, e isto é muito positivo em minha opinião.

 Portanto, em que pese uma possível reflexão mais negativa que poderíamos fazer em relação a estas datas, eu ainda creio que são datas festivas e importantes. Por isso, desejo um bom ano novo para os leitores deste blog. Se eu pudesse desejar algo para vocês, prezados leitores, esses seriam os meus desejos:


 DESLIGUE A SUA TELEVISÃO E DIMINUA A SUA EXPOSIÇÃO A NOTÍCIAS


 Sério, uma das coisas que me impressionou nesta minha volta, é como a televisão ¨sequestrou¨ corações e mentes de muitas pessoas. Não há quase nada que preste. Notícias sempre as mesmas desvinculadas de contextos, jornalistas despreparados, programas de auditórios um pior do que o outro, e uma perda de tempo e energia incrível por parte das pessoas.

 Quantas horas as pessoas não perdem com esse dispositivo? Quantas outras atividades mais produtivas e com muito maior significado dezenas de milhões de pessoas no Brasil deixam de fazer para perder tempo com esse passatempo que quase sempre deixa as pessoas mais infelizes e ansiosas? É um jogo de soma negativa. Tente construir a sua rotina com o aparelho de televisão desligado na maior parte do tempo, melhor para a sua saúde mental e física.


 INVISTA EM RELACIONAMENTOS HUMANOS. FAÇA NOVOS AMIGOS. VISITE OS ANTIGOS

 O que é um amigo? Qual é a diferença para um colega ou desconhecido? Sabe qual é minha resposta para essa pergunta? É mais ou menos assim: E ISSO IMPORTA ALGUMA COISA? Entre pessoas que viajam há uma eterna discussão entre a diferença de um Turista em relação a um Viajante. Turista a grosso modo seria alguém que não se envolve com comunidades locais, fica apenas em hotéis e come em lugares mais caros. É alguém que não captura toda a essência de um local. O Viajante, por seu turno, é alguém que consegue capturar as idiossincrasias de um povo diferente, é aquele que come como locais, evitando a todo custo se apartar de uma experiência mais real para se deleitar em luxos e confortos.

  BOBAGEM. Eu posso estar acampando no meio de um lugar remoto na Mongólia e ainda sim serei um turista. Alguém pode estar se hospedando num hotel cinco estrelas e mesmo assim capturar como ninguém a vida de um povo diferente. Era uma discussão que quando começava, eu já saia de perto. Por qual motivo sempre queremos dividir e catalogar cada vez mais outros humanos, experiências?

 A mesma coisa com amigos e colegas. Prezados leitores, olhem as suas vidas e perceberam que os momentos mais felizes são aqueles compartilhados com outros seres humanos. É evidente que ao longo de nossa vida serão poucas pessoas que compartilharemos segredos, ou que poderemos confiar com um alto grau de certeza, o que comumente se chama de amigo íntimo. Não é esse o ponto. O ponto é que a todo instante estamos nos relacionando com outras pessoas. Ao ir na padaria, ao trabalhar, viajando, escrevendo um Blog, e nós, e apenas nós, podemos decidir qual tipo de relacionamento queremos construir com as mais variadas pessoas.

 Não precisa ser um amigo de longa data, no qual eu posso confiar uma grande soma de dinheiro, e que realmente se importa comigo, para que eu tenha algum momento prazeroso com alguma outra pessoa. Reflitam sobre isso. Nosso bem-estar é muito maior quando os nossos relacionamentos são melhores. E nosso bem-estar é maior quando temos relacionamentos.

Portanto,  visite velhos amigos, faça novos amigos ou colegas, ou qualquer outro termo que você queira utilizar, entretanto interaja mais, se conecte mais com outros seres humanos, sua vida será muito melhor.


 LEIA MAIS LIVROS


 Leia querido leitor. Desafie a si próprio, leia sobre áreas das quais você não entende nada. Há tantos livros bons, tantas informações boas na internet, hoje em dia podemos até mesmo assistir aulas ministradas em Harvard no conforto da nossa casa (o que é uma revolução sem precedentes na educação) que realmente não há qualquer desculpa para que não leiamos materiais de qualidade.

  Por mais que possamos ler blogs bons, nada substitui o bom e velho livro. Os livros são algo mágico. Neles podemos conhecer mais sobre a antiga Pérsia, ou sobre buracos negros. Podemos aumentar nosso conhecimento em finanças ou em biologia. Podemos saber como foi a vida de Einstein ou de Hitler. 

  Portanto, reserve uma parte do seu tempo, de preferência diariamente, para a leitura de um livro. 


EXERCITE-SE


  Quando nos sentimos bem com o nosso corpo, nos sentimos mais leves, mais dispostos a encarar os diversos desafios em nossa vida. Infelizmente, a vida em cidades grandes tem levado um número enorme de pessoas a uma existência sedentária. Não cometa esse erro.

 Não faça exercícios apenas na academia, faça toda hora. Suba a escada, ao invés de pegar um elevador. Ande mais. Vá para academia, se assim deseja. Procure uma atividade esportiva que lhe dê prazer. Um corpo exercitado é condição importantíssima para uma mente afiada. Não deixe que a rotina do dia a dia, por mais difícil que possa ser, faça com que o seu corpo deteriore para além do normal do envelhecimento natural.



  É isso colegas. Não quero deixar esse último texto do ano muito extenso. Não perca tempo com coisas que não vão te trazer bem-estar e muito provavelmente apenas trarão mal-estar como a televisão. Interaja mais com os conhecidos e desconhecidos, você verá que pode ser muito recompensador. Leia bastante. Leia de pé, sentado, no metrô, ou na internet, mas leia. De preferência tente ler no próximo ano sobre áreas das quais não domina ou não saiba absolutamente nada. Pode ser apenas um livro, já será um ótimo passo. Por fim, exercite-se.

  Sem o foco distraído, relacionando-se mais com as pessoas, lendo mais e com um corpo em equilíbrio, tenho certeza que todos os objetivos traçados serão muito mais fáceis de ser atingidos. É isto que desejo a todos vocês no próximo ano.

  Um grande abraço!


  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

SUA VIDA VALE MENOS DO QUE A DE UM AUSTRALIANO. SOBRE REFUGIADOS.

Olá, colegas. Eu iria escrever um texto sobre o preço da liquidez, e como um planejamento errôneo meu em relação à liquidez nos últimos dois anos me custou dezenas  de milhares de reais.  Entretanto, influenciado por mais um comentário de um leitor que escreveu de forma anônima, resolvi tratar de um tema não-financeiro.

  Eu tenho uma má notícia para a esmagadora maioria dos leitores e dos blogueiros de finanças, aliás é uma péssima notícia. Eu quando estava na belíssima Sydney fiquei na casa de uma família australiana. Conheci o sujeito, especialista em medicina chinesa, quando estava surfando em FIJI. Alguns meses depois, apareci na casa dele, e passei uma semana maravilhosa com ele, a esposa, e os dois filhos pequenos.

  A casa se encontrava num ótimo bairro e tinha um tamanho excelente. Perguntei quanto valia, e ele achava que deveria ser algo em torno de AU$ 1.8M. Só a casa dele vale mais do que qualquer patrimônio divulgado na blogosfera, talvez é maior do que todos os patrimônios juntos.  Filhos bonitos e bem educados. Um ótimo salário. É inegável que na escala humana de desenvolvimento, esta família deve estar no topo, talvez entre o 1% da população. 

  Assim, sinto informar, mas a vida dessa família tem mais importância que a vida das suas famílias leitores. Eu sinto muito mesmo em dar essa noticia.  Se alguma coisa de ruim acontecesse com eles, seria algo muito pior do que se algo de ruim acontecesse com a sua família. Eles falam inglês, são bem nutridos, moram numa casa fantástica e habitam num país de primeiro mundo. Por qual motivo a vida de sua família, prezado leitor, que mora num país periférico, cheio de assassinatos, corrupção, que "sua" a camisa para economizar algumas centenas de dólares por mês, valeria a mesma coisa que a vida dessa família? Não, não vale, desculpe mas essa é a verdade.

  Ficou irritado com esses parágrafos? Quer me xingar? Sentiu alguma coisa de ruim dentro de você ao ler isso? Parabéns, você é humano. Não concorda com o que escrevi? Acha injusto, abjeto? Pois saiba que é assim que o mundo funciona. Dependendo de quem você seja, onde tenha nascido, sua vida vale muito ou não vale muita coisa.

  Alguém acha que é possível ter paz num ambiente assim? Eu não acredito.  Enquanto realmente não entenderemos que qualquer vida humana é sagrada (e não falo aqui num sentido religioso), eu não creio ser possível controlar a manifestação da barbárie humana.

  Esse para mim é o ponto de partida para qualquer discussão minimamente séria sobre a crise de refugiados. Sim, a pergunta do colega anônimo a qual eu me referi era sobre refugiados sírios, e islamismo na Europa. A(s) pergunta(s) direcionada(s) a mim era sobre o que eu achava de todo esse estado de coisa, e se europeus e árabes lutam há séculos, não é perigosa essa “islamização" da Europa? 

  Comecemos pelo começo. Creio que terei que repetir isso muitas e muitas vezes. Árabe não é sinônimo de muçulmano. Quem diz isso já mostra que não entende quase nada do assunto. Existem centenas de milhares de árabes que não são muçulmanos, assim como a maioria dos muçulmanos não é árabe. Árabe não denota uma religião. A maior quantidade de muçulmanos está na Indonésia com seus 250 milhões de habitantes, onde uns 90% são muçulmanos sunitas e na Índia, onde uns 15-20% da População provavelmente é muçulmana. Um país é do Sudeste Asiático o outro é do Subcontinente Indiano. Não preciso nem dizer que as diferenças entre as manifestações da religião islâmica são muito diferentes nessas regiões geográficas do mundo, assim como o catolicismo das Filipinas é diferente do catolicismo Brasileiro

 Parece evidente que povos com culturas e desenvolvimentos históricos diferentes terão uma perspetiva diversa, mesmo que se trate da mesma religião. O Irã , que eu acabei de visitar , é persa (aliás não é somente persa , que representa 60% da população, mas há Turcos-Azaris, e algumas outras etnias, sim a coisa é muito mais complexa do que retratado na mídia), se você quer ofender um iraniano chame-o de árabe. 

  Portanto, ao falarmos sobre o tema, o discorrido no parágrafo antecedente é o básico do básico. Passemos para o segundo ponto. Há uma guerra horrível, sangrenta, suja e complexa ocorrendo na Síria (e no Iraque também). Sinceramente, você se importa? Hospitais destruídos, violência para além de qualquer sentido lógico, centenas de milhares de mortos, violência contra mulheres e crianças numa escala quase que incompreensível, a destruição de um país milenar com uma cultura riquíssima, e, e…, você se importa? 

  Se você não se importa com isso, por qual motivo você se importaria com um atentado terrorista que tirou a vida de algumas pessoas num país rico como a Alemanha? Se este é o caso, a única explicação possível, é que você dá mais importância a certos tipos de humanos do que outros. A vida num determinado local vale mais, talvez muito mais, do que a vida em outro lugar. 

  Isso é uma justificativa de um ato de assassinato contra civis? Evidentemente que não. Para mim a vida humana é sagrada. Nosso corpo é uma máquina fruto de um processo incrível de evolução de bilhões e bilhões de anos. É algo maravilhoso. A destruição de uma vida sem qualquer propósito é uma perda irreparável. Se você acredita em Deus, deveria achar que é um atentado contra à divindade. Por isso, sempre achei desde jovem, e agora nem se fala, uma contradição absoluta pessoas advogando a violência em nome de uma entidade que segundo definição é uma fonte absoluta e infinita de amor.

  Não é uma justificativa, não é nem mesmo um juízo de valor, mas sim a constatação de um fato. Se alguém se importa com um atentado nos EUA, e fica emocionado com a morte de algum europeu (um sentimento nobre e bonito), mas dá de ombros quando passa alguma notícia sobre Mosul, ou Aleppo ou Darfur, ou qualquer outro canto onde a maldade humana se manifesta com extrema intensidade, a única conclusão lógica é que se admite gradação de importância de vidas, e neste caso não há nenhum argumento lógico para contrapor o fato de que a adorável família australiana vale mais do que a vida de sua família.

  Prossigamos. A guerra da Síria é um fato. Por que ela está acontecendo? Por que está durando tanto? São perguntas difíceis que não tenho a pretensão de responder. Em meados de 2014, escrevi um texto sobre a ligação entre o primeiro golpe de Estado patrocinado pela CIA no Irã em 1953 e o surgimento de um grupo como o ISIS. Você pode conferir o artigo: A Infâmia, A Mentira, O Massacre e a Criação de um Monstro

  As nossas ações individuais ressonam no futuro. Todos os leitores devem compartilhar isso. Não é o mantra repetido pelos blogs de finanças? Economize, invista, e deixe os juros compostos fazerem a sua mágica no longo prazo. Assim, um ato no presente (economizar e investir) terá consequências bem a frente no futuro (a pretendida Independência Financeira anos e anos depois). As pessoas, ao menos algumas, conseguem aceitar este fato lógico da realidade.

  Entretanto, para outros aspectos da realidade, a lógica parece não fazer mais sentido para uma parcela significativa das pessoas. Os EUA deporem um primeiro ministro democraticamente eleito no Irã em 1953, governo este que poderia ser um farol para todo o mundo islâmico da região, foi um ato que provocou inúmeras consequências, a mais visível foi a revolução islâmica de 1979, que não foi nem mesmo uma revolução de cunho islâmico no início, mas este detalhe deixo para uma outra oportunidade. 

  A revolução islâmica, por seu turno, levou a um maior alinhamento dos EUA com o Iraque, que invadiu o Irã em 1980 usando armas fornecidas em grande parte pelos americanos. O Irã foi invadido, e a revolução islâmica que estava cambaleando no começo, usou a invasão do país como forma de aglutinar as pessoas e fortalecer o poder. A guerra Irã-Iraque é tão importante para os Iranianos em sua identificação nacional, que eu, depois de visitar o país, comecei a fazer um paralelo com a Grande Guerra Patriótica dos Russos. Para os russos a guerra é de 1941-1945, e eles não tratam como se fosse a segunda guerra mundial, não há nenhum monumento russo que não mostre o inicio em 1941, quando da invasão de Hitler.

  Com o surgimento de um regime hostil aos interesses dos EUA no Irã, eles apoiaram um ditador sanguinário chamado Saddam Hussein. Saddam usou armas químicas na guerra Irã-Iraque contra  Curdos-Iraquianos, ou seja, contra cidadãos do seu próprio país. Era um sujeito que usava extrema violência contra seu povo, com torturas em massa e severa repressão a qualquer dissenso político. Houve as guerras do golfo, Bush invadiu o Iraque (e colocam a culpa no Obama pela situação, só pode ser má-fé ou ignorância, ou uma mistura dos dois) baseado numa mentira (a existência de armas de destruição em massa). O Iraque colapsou. E nos escombros do país, surgiu o ISIS.

  Esse resumo a jato não serviu para tornar o texto enfadonho, mas apenas para tentar demonstrar os efeitos que certas ações podem ter no longo prazo, neste caso um golpe de estado patrocinado pela CIA há mais de 60 anos.

  Hoje, o conflito da Síria tem muitas partes, é algo quase que insolúvel. O mundo assistiu calado ao primeiro ano do conflito, onde talvez uma solução fosse mais fácil, e agora com um país destruído do ponto de vista físico e ético, fica difícil imaginar uma solução. 
  
 Aqui me encaminho para a metade final do texto e chego aos refugiados. A palavra imigrante é utilizada de maneira completamente equivocada nos dias de hoje, e ela é tratada como se fosse um sinônimo para refugiado, principalmente se as pessoas estão na Europa. Essa deturpação do uso da palavra claramente é intencional, se não para a maioria que nem percebe isso, mas ao menos para uma parte que tem claras preferências políticas.

 Refugiado é algo muito diferente de um imigrante comum. Se eu resolver mudar para a Nova Zelândia, eu serei um imigrante. Se alguém quiser ir trabalhar ilegalmente nos EUA, também será um imigrante.

  Um refugiado, por seu turno, é alguém que precisa deixar o seu país (e estou aqui apenas falando de refugiados, não de deslocados internos) por causa de guerras, extrema fome, perseguição religiosa ou política, ou qualquer situação que coloque a vida da pessoa e da sua família em grave risco.  A Europa sempre “exportou” refugiados, pois na Europa já existiram muitas guerras étnicas e religiosas, e milhões de europeus tiveram que se refugiar em outros lugares do mundo ao longo dos séculos. 

  Negar ajuda a um refugiado, ou a uma pessoa que corre risco de vida por causa de perseguições arbitrárias, é um ato em si desumano. É algo que vai contra todos os valores nos quais sociedades mais desenvolvidas se baseiam, não é algo compatível com pessoas que se auto-intitulam “pessoas de bem”.

 “Mas, o influxo de pessoas não é muito grande ? A Europa irá sucumbir!”. Os países europeus tem todo o direito de fechar suas fronteiras. A Hungria ergueu inúmeras barreiras, e há relatos que o tratamento de refugiados é o pior possível, o que não deixa de ser curioso para um país que  que sofreu com o nazismo e depois com o stalinismo (culminando na forte repressão soviética de 1954). Ninguém é obrigado a ter compaixão pelos outros. Ninguém é obrigado a gostar dos outros. Logo, é claro que os Europeus podem simplesmente “lavar as mãos”.

  Agora, ao fazer isso, fica difícil sustentar as próprias bases das democracias européias. Negar ajuda a pessoas desesperadas, deixar que corpos de crianças apareçam boiando à beira de praias européias, não me parece ser compatível com os ideias europeus. 

  Não vou nem falar de refugiados crianças, pois a negação de ajuda a crianças é simplesmente um ato cruel, mas de adultos. Sim, é um enorme problema. De logística, de infiltração de terroristas, de pressão nos serviços sociais. Agora, imaginem a pressão que não está sendo na Turquia, Líbano e Jordânia com milhões de refugiados Sírios. A Turquia está sendo arrastada para o redemoinho. Há anos falo que se a Turquia (um país lindo, ainda secular e extremamente importante) de alguma maneira se tornar instável de forma muito aguda, a segurança da Europa estará completamente comprometida. Alguém fala sobre isso na imprensa ou nos textos apaixonados, mas quase todos sem muito substrato? 

  Sinceramente, depois de tanto viajar, eu nunca conheci um povo que denegrisse o seu país (o único, e felizmente são poucas pessoas, foi o brasileiro). A pessoa pode estar desapontada com as oportunidades de emprego, pode estar fugindo de um conflito, mas a esmagadora maioria das pessoas se sente conectada com a terra onde nasceu. Quase todos refugiados muito provavelmente apenas querem estar nos seus países, não querem necessariamente viver em outro local. Assim, a mitigação do problema passa pela tentativa de solucionar o complexo conflito na Síria. Como isso pode ser feito, eu não tenho a menor ideia.


  Quando estava no aeroporto de Istambul esperando a minha conexão para o Brasil, conversei alguns minutos com uma inglesa que vivia na Turquia e trabalhava para a Oxfam na área de refugiados. Como gosto bastante da Oxfam, aproveitei a oportunidade para elogiar o trabalho da organização, e perguntar com mais profundidade a situação dos milhões de refugiados na Turquia e como isso estaria pressionando a própria estabilidade da Turquia, e também questionei o papel da Europa em relação aos refugiados. Ela apenas , em relação a esta última pergunta, fez uma cara de desanimada e disse que sentia vergonha do que a Europa estava fazendo. 

 Não é um problema fácil, não há soluções simples, há um risco acentuado de ocorrer ainda mais ataques terroristas (porém creio que isso pode ocorrer com ou sem refugiados). Eu não tenho respostas para tudo isso. O que posso apenas dizer é que espero que a Europa, e o mundo desenvolvido como um todo, possa se manter fiel às tradições humanistas do pós segunda guerra mundial e não sucumba ao  puro xenofobismo, pois os lugares que esse tipo de conduta pode levar são sombrios, e a Europa sabe muito bem disso.


O texto está ficando grande e percebi que toquei apenas de forma indireta no tema “islamização” que foi o tópico da pergunta do colega anônimo. Deixarei para uma outra oportunidade para discorrer sobre esse tema.

Se isso é uma resposta normal a essa crise, é porque há algo profundamente errado conosco. Esses não são os valores que acredito serem compatíveis com uma sociedade que preza a dignidade humana.


  Um grande abraço a todos!



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

ENCONTREI O QUE PROCURAVA? O QUE MUDOU EM MIM?

Olá, colegas. Espero que esteja tudo bem com os leitores deste espaço neste final de ano. Primeiros dias no Brasil, e estou feliz de visitar a cidade onde nasci. Joguei um pouco de xadrez numa pracinha em frente à praia (passei muitos anos na minha adolescência naquele lugar), fiquei triste ao saber que algumas pessoas  de mais idade que frequentavam o mesmo lugar tinham morrido. Faz parte da vida. Andei pela praia de Santos, é um bom lugar para se viver. Não é o que eu gostaria para mim, pois prefiro lugares não tão cheios, mas é inegável que se tem certa qualidade de vida em Santos. 

 Será que Santos mudou? Será que meus familiares mudaram? Será que eu mudei? Isso me leva a indagação de um colega que escreveu de forma anônima no meu último artigo:


Não lembro se existe em alguns dos seus textos os motivos pelos quais vc resolveu fazer uma viagem tão longa, mas sei que vc relatou insatisfação e falta de significado no trabalho. Após tanto tempo viajando, vc preencheu o que esperava com essa viagem? Como está o Soul hoje versus o Soul que iniciou a viagem? Eu sinto uma certa insatisfação e ansiedade por conhecer tão pouco o mundo (embora já tenha feito algumas viagens internacionais), pretendo algum dia fazer uma ou algumas viagens de volta ao mundo.
Forte abs!

  
  É uma pergunta profunda. Aliás, agradeço muito o leitor por esse questionamento. São essas indagações que realmente vão ao âmago de muitas coisas. São esses questionamentos que infelizmente muitas pessoas não se perguntam ao longo de suas vidas. São perguntas que parecem um pouco abstratas demais para serem feitas ou encaradas com seriedade, mas elas são fundamentais para um maior desenvolvimento pessoal.

 Viagens são carregadas, ao menos para muitas pessoas, de algumas finalidades. Conhecer um outro lugar, um outro povo, teria o condão de expandir o nosso conhecimento sobre o mundo, e em última instância sobre nós mesmos. Apesar disto, muitos, a esmagadora maioria infelizmente, viajam para ter confortos. Um hotel luxuoso. Um tour exclusivo. Além de ser uma experiência cara, ela em muitos aspectos é vazia. E por qual motivo? Pois não conhecemos novas culturas e povos ficando em hotéis caros, apartados da vida cotidiana de uma população.  Assim, uma viagem pode servir sim para questionarmos muitos aspectos da nossas vidas, como também pode ser apenas um passatempo de luxo sem grande significado.

  Eu esperava preencher algo com essa viagem? Aliás, eu esperava obter algo que mudasse a minha vida numa jornada tão longa de quase dois anos? A resposta é NÃO. Não viajei para preencher algo que estava faltando ou em busca de algo de grande significado. Apenas fui. Fui motivado por uma curiosidade, por querer sentir como é ter uma vida onde a rotina é não possuir rotina. 

  Vocês imaginam o que é durante quase dois anos ter que decidir o que comer, onde dormir, para onde ir, qual tipo de transporte tomar, etc, etc, quase que diariamente? As pessoas simplesmente não tomam essas decisões em seu dia a dia, pois  uma vida rotineira pressupõe que esse tipo de questão não faça parte do cotidiano. Porém, essa não foi a minha realidade, e a vida é muito diferente quando temos que fazer estas indagações de forma frequente.

 Isso teve o efeito de reforçar ainda mais a ideia de que temos que aceitar mais as coisas. Às vezes a comida não era boa, às vezes nem comida tinha, às vezes o lugar para dormir era bom, às vezes não. Quando aceitamos mais o que a realidade nos oferece, nos tornamos mais fortes, e se há alguma coisa diferente em mim em relação há dois anos, é que me sinto mais forte.

  Dormi diversas vezes no chão, em barracas, em quartos com várias pessoas, em trens, dormi até mesmo seis meses dentro de um carro pequeno,  e sinceramente dormi bem em quase todos os dias. Não comi com fartura como se come no Brasil, mas nem por isso fiquei mais fraco. Durante vários meses viajei por regiões do mundo onde não era possível se comunicar, mas nem por isso deixei de fazer as coisas. 

 Hoje, escrevendo no conforto de uma cama, depois de ter comido um rodízio de comida japonesa e ter conversado com amigos numa língua que me expresso com extrema fluidez, sinto que o conforto, a fartura e a facilidade são coisas boas, mas elas não são imprescindíveis para uma boa vida, aliás elas podem em muitos casos ser um impeditivo para uma vida mais significativa.

  Volto também com o sentimento de que há muita bondade, generosidade e beleza neste mundo. As relações humanas são o que tornam tudo especial, tudo. Todas histórias que possuo desta viagem, e são dezenas e dezenas, são especiais pelo aspecto humano. Os encontros humanos que tive o privilégio de ter foram de uma intensidade ímpar. Alguns duraram semanas, outros foram de algumas horas, mas todos de alguma maneira foram especiais.

  Fico triste quando vejo pessoas que não percebem a beleza das relações humanas. Se suas relações na maioria dos casos é baseada em obrigações sociais, onde não há uma genuína interação humana, só posso sentir tristeza e desejar que em certo momento da sua vida você possa perceber o quão a vida pode ser melhor quando interagimos de uma maneira mais profunda e densa com outros indivíduos da nossa espécie.

  O mundo que se descortinou se mostrou ainda maior e mais complexo do que eu já sabia que ele era. De lutadores Mongóis, a paraquedistas profissionais da Nova Zelândia, Aborígenes Australianos, Desarmadores de minas terrestres no Camboja, Motoristas Tajiks, Empresários Iranianos, etc, etc, o mundo é um mosaico de etnias, nacionalidades, habilidades, paisagens, problemas e tantos outros aspectos que possamos imaginar.   Um mundo tão diverso, apenas fez aumentar o meu sentimento de assombro. 

  
  Sempre há alguém melhor do que você, mais bonito, mais ágil, mais rico, mais inteligente, neste vasto mundo muito dificilmente você é o melhor em algo, e se por acaso você for, pode ter certeza que será mediano em milhares de outras habilidades  e características humanas. A vaidade, se formos refletir mais profundamente, é um tremendo auto-engano. 

  Assim, caro colega que fez a pergunta, não encontrei algo que estava procurando. Entretanto, encontrei satisfação, beleza e generosidade neste mundo. Dormi em lugares muito simples, tomei banhos em rio, usei banheiros de buraco por meses, comi comidas não tão boas, negociei centenas de vezes com pessoas que não entendiam o que eu falava, e sinto que tudo isso me fez muito mais forte, pois nada disso foi um sacrifício para mim, muito pelo contrário.

  O Soul de hoje comparado com o Soul de ontem está um pouco mais velho e com menos cabelo. Está feliz por ter realizado algo que não foi extraordinário como quando um cientista descobre algo novo, ou quando alguém ajuda a vida de centenas de pessoas com algum projeto social ou quando um empreendedor constrói um negócio que melhora a vida de muitos. Não, não foi algo extraordinário. Aliás, sinto que a esmagadora maioria das pessoas não possui nem mesmo interesse em ouvir o que tenho para contar, e não tenho qualquer problema com isso, aliás estou até mesmo evitando ficar falando muito, apenas respondo quando sou perguntado. 

  Porém,  apesar do que escrevi no último parágrafo, para mim (e talvez só para mim e a minha companheira) foi algo extraordinário, algo que talvez só o tempo dará  total dimensão do que foi a minha vida nestes dois anos. Sinto-me realizado, sinto que vivi momentos de uma beleza indescritível, e que essas memórias irão acompanhar-me para o resto da minha vida neste planeta azul.

   Um grande abraço a todos!
  


  

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ENFIM BRASIL. PLANOS FUTUROS. MARAVILHOSO IRÃ.

 Olá, colegas. Estou na terrinha. Sim, minha viagem acabou. É uma sensação estranha. Ouvir português na sua função “brasileiro" em todos os lugares é muito diferente. Aliás, o próprio povo brasileiro é muito diferente de qualquer povo. Seja na linguagem corporal, no jeito de se expressar. Terei que me acostumar novamente.

 O meu último lugar a visitar foi o Irã. Foi um país extraordinário com experiências incríveis. Foi realmente fantástico. A hospitalidade foi algo que nunca vi na minha vida. Para terminar a viagem, no último dia fui submetido a sensação térmica de -30 graus, e meus amigos, é algo muito diferente, em poucos minutos o meu corpo estava todo dolorido. Montanhas nevadas, desertos com dunas imensas, lagos de sal, cidades cheias de cultura e história, cidades históricas como Persepolis (que lugar, e tive o prazer de ficar sozinho nesta cidade por quase 40 minutos), ilhas no golfo pérsico com  formações geológicas sublimes, mesquitas extraordinárias, desertos com “castelos" naturais formados pelo vento, cadeias de montanhas com castelos históricos de uma seita de assassinos de quase 1000 anos  perto do Mar Cáspio, a diversidade do Irã é algo que me surpreendeu de maneira muito forte.

  Minha escolha de terminar essa viagem no Irã foi muito acertada. Pretendo escrever muito sobre a minha viagem, então aqueles que gostam desse tópico podem ficar tranquilos. Peço escusas aos leitores e amigos, pois não acessei o blog no último mês, pois infelizmente alguns sites são bloqueados no Irã e não consegui acesso via VPN pelo meu computador. Verei o que foi comentado, e irei responder.

Mesquitas extraordinárias...

Amigos iranianos, o povo mais hospitaleiro que já conheci. A garota da direita dirigiu 4 horas , no dia seguinte a esta foto, apenas para nos levar aos fantásticos Kaluts no deserto.

Os fantásticos castelos no Deserto (Kaluts).

Montanhas incríveis no norte perto do Mar Cáspio

Meditando no topo de uma montanha em cima das ruínas do principal castelo de uma seita religiosa que ficou conhecida como "Assassinos" há 1000 anos .

Formações Geológicas incríveis em Qehsm Island no Golfo Pérsico


  Todos os estrangeiros me perguntavam, “poucos dias para voltar, como você se sente? triste?”. Minha resposta era que não. A vida possui fases e temos que aceitar este fato. Numa fase somos crianças, numa outra jovens, depois adultos, e querer que alguma fase desta não passe apenas traz infelicidade e apreensão desnecessárias. Esta viagem foi uma fase muito bacana, vi coisas extraordinárias, fui a lugares que pouquíssimos seres humanos (principalmente estrangeiros) vão, interagi diversas vezes de maneira intensa com pessoas diferentes, ou seja foi uma experiência incrível. Porém, teve o seu tempo de duração, e é preciso aceitar esse fato da vida.

 Agora, é tempo de pensar em fazer outras coisas. Um projeto é escrever livros, como já comentado neste blog. Tenho outros de variadas áreas, envolvendo dinheiro, a forma como me comporto com outros seres humanos, a forma como trato o meu corpo, entre outras coisas.

  Do ponto de vista financeiro, a minha volta já começou com emoção. Quando estava no começo da viagem do Irã, percebi que haveria um grande leilão um dia depois da minha volta. Olhei o edital, e fiquei impressionado com a quantidade de bons imóveis em potencial. Preparei-me para dar lances em 10 imóveis.  Isso envolveu uma grande preparação. A cada noite, enquanto minha companheira dormia, eu realizava inúmeras pesquisas na internet, dava ligações para o Brasil, e tentava na maneira do possível cobrir de maneira correta todo o meu check-list de segurança. Pela quantidade de imóveis que iria tentar arrematar, o trabalho foi extenso. 

  Entretanto, felizmente estava preparado e bem calmo. A adrenalina que ocorria em mim nas primeiras compras, hoje em dia quase desapareceu. Isso me dá uma vantagem muito grande, pois não me sinto emocionalmente afetado mesmo que seja algo muito dinâmico e envolva quantias razoáveis de dinheiro em apenas um clique. Fiquei apenas apreensivo, pois a conexão de internet falhou faltando quatro minutos para eu tomar uma decisão, e eu consegui restabelecer falando oito segundos. Sim, pareceu coisa de filme. Na maioria dos lotes, os lances passaram do montante que achava que valeria o risco x retorno, e desisti sem quaisquer problemas. Outros, porém,  consegui comprar. Agora, terei outro foco, fazer todo o processo de regularização jurídica desses imóveis.

  Assim, resolvi me imobilizar ainda mais, apesar da minha liquidez ainda ser muito grande , o que me dá certa folga. Estabeleci um prazo de dois anos e meio para tentar transformar meus imóveis em liquidez. Muito provavelmente também voltarei para o meu cargo por esse período. Depois desse prazo, verei o que farei, mas já tenho uma idéia: dupla independência financeira.

  O que seria isso? A minha ideia sobre diversificação internacional deu uma certa guinada. Pesa em relação a isso os escritos do excepcional blog Investidor Internacional. Um blog de altíssima qualidade, com artigos extremamente bons sobre uma tema que provavelmente nem investidores profissionais sabem tão bem.  Ele foi o único blog  brasileiro que dei “control c” “control v” para reler os artigos e comentários de certos textos. Como já li e ainda possuo diversos livros estrangeiros sobre o tema, a montagem de uma carteira internacional não será algo difícil creio, ainda mais com novos colegas desbravando esse território e contando notícias do além-mar, como o meu colega Frugal Simples.

 Como diz o colega Viver de Renda que não é necessário continuar jogando se o jogo está ganho, não há qualquer razão de continuar jogando apenas o jogo brasileiro se a partida já está ganha por goleada.

 Sendo assim, irei destinar uma parte mais fundamental do meu patrimônio para formar uma carteira diversificada entre várias classes de ativos localizados em várias partes do mundo. Irei fazer isso principalmente por meio de índices ou ETFs. A gama de oportunidades é gigantesca. Dias atrás estava lendo sobre ETFs do mercado africano. É impressionante como por meio de um ETF que pode se comprar com um clique é possível ter exposição a uma gama de países africanos e do oriente médio, por exemplo, o que dá a oportunidade de capturar o crescimento dessas regiões, que na minha opinião será muito maior do que o mundo desenvolvido nas próximas décadas. 

  Pretendo ter um valor que me proporcione obter visto de investidor qualificado em qualquer país, se acaso assim eu deseje,  e alguma sobra para viver alguns anos enquanto o investimento do visto possa maturar. Por outro lado,  a maior parte do patrimônio deixarei no Brasil mesmo. Farei o feijão com arroz, deixando uma parte para negócios imobiliários. Um negócio bem feito paga minhas despesas por alguns anos.

  Assim, pretendo ser independente aqui, bem como uma espécie de outra independência no exterior. O prazo para isso é algo em torno de dois anos e meio, prazo suficiente para eu tocar os projetos por aqui.

  No mais, pretendo modernizar o blog, fazer vídeos para o youtube, me identificar. Gostaria também de começar a falar mais com os colegas, fazer palestras com o intuito de encontrar mais pessoas e fazer mais amigos, já que essa viagem apenas consolidou ainda mais em mim a ideia que a satisfação está em relações pessoais boas com os outros seres humanos. Há pessoas que procuram isso apenas em suas relações familiares. É indiscutível que a nossa família é de extrema importância, quase que o centro sobre o qual a nossa existência orbita. Isso é indubitável. 

  Porém,  eu creio que isso é muito pouco, pois não nos relacionamos apenas com os familiares, mas com uma miríade de outras pessoas, e quem foca apenas nas relações familiares, em minha opinião, deixa de ter uma qualidade de vida maior, limitando a experiência humana de maneira desnecessária. 


Depois de muita dor no corpo por ficar 2 minutos exposto a uma sensação de -30, num refúgio para esquiadores (minhas roupas eram para no máximo uns -6). Dois senhores iranianos instrutores de esqui, uma conversa agradável, onde nos ofereceram chá e comida (aliás a quantidade de chá, comida, lugar para dormir  que os iranianos nos ofereceram nas quatro semanas que ficamos lá, foi algo inacreditável)

Sim, isso é Irã, muito mais bonito que as cadeias de montanhas que visitei na Suíça.

Ex-Embaixada americana em Tehran (a que foi invadida). Um lembrete do papel terrível que os EUA exerceram no Irã nas últimas décadas.

Dunas impressionantes

Sunsets incríveis
Mas o que tornou tudo especial foi o povo. Tive que insistir muito para que essas duas gentis garotas não pagassem o  nosso Hot Chocolate (o mais gostoso da minha vida).



  É isso amigos, um grande abraço a todos! 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

DONALD TRUMP - O VIGOR DA DEMOCRACIA AMERICANA, O GOLPE NAS GERAÇÕES FUTURAS E UNCHARTED REEFS PELA FRENTE

Trump, o novo presidente da maior potência econômica e militar do planeta. Quem iria imaginar isso há 15 meses? Porém, o inusitado ocorreu. Quais seriam os motivos para uma vitória tão improvável ter ocorrido? Primeiramente, porque temos que reconhecer que a Democracia americana, para um país daquele tamanho e com níveis grandes de complexidade, é dinâmica e forte. Se não fosse assim, um negro com nome de Obama (que se parece muito com Osama) jamais seria eleito. Sempre disse para pessoas que criticavam os EUA na minha presença, de que a eleição do Obama era uma prova de como os EUA podem ser surpreendentes. Alguém imagina um negro sendo eleito num futuro próximo no Brasil, mesmo nossa população tendo uma quantidade de negros e mestiços muito maior do que a norte-americana? Eu não.

Eu não sabia que o Trump tem 70 anos. Ele será, segundo artigo que li, o presidente mais velho da história dos EUA. Seria ele o mais despreparado também?


  Assim, os EUA são vibrantes neste aspecto. Trump é um empresário de grande destaque e um homem sem qualquer experiência política, militar ou diplomática. É um completo outsider. Isso não deixa de ser algo incrível. Não temos ninguém, pelo menos até agora, que poderia ser idêntico ao Trump neste aspecto no Brasil. O Bolsonaro além de não ter qualquer relação com Trump nas origens, nem mesmo na capacidade argumentativa,  nada mais é do que um político profissional de longa data. Portanto, os EUA mais uma vez surpreendem a todos com a eleição de alguém tão diferente do status quo político.

 Em segundo lugar, parece que é uma mensagem dos americanos, ao menos metade da população que foi às urnas (o voto não é obrigatório lá, ao contrário do Brasil), de forte repulsa ao sistema político atual. Não se enganem amigos, a crise de representação política é profunda e abrangente, não é apenas no Brasil. O nosso país é apenas pior em sua representação, talvez fruto de uma sociedade não tão esclarecida e desenvolvida, mas tirando alguns países extremamente ricos e estáveis (como Austrália, Nova Zelândia, Noruega, etc), o mundo passa por um momento de profundo questionamento da representação política.

  Mas, por que essas pessoas estão insatisfeitas? Elas não estão insatisfeitas porque estamos piorando o ambiente que deixaremos para nossos filhos, ou porque hoje o número de deslocados e refugiados é maior do que no ápice da segunda guerra mundial. Não. Elas estão insatisfeitas porque a sua qualidade de vida, em que pese termos muito avanço na tecnologia, não vem necessariamente melhorando. Elas querem mais empregos com maior remuneração, vizinhanças mais seguras, aposentadorias melhores, sendo todos estes desejos compreensíveis e naturais.

  Um ponto que chama, e chamou, a minha atenção sobre Trump, é que via muitos colegas entusiasmados com a possibilidade de sua vitória, pois ele representaria alguma forma de resgate de valores individuais e de liberdade econômica. Isso é algo que não se encontra nas falas do agora novo presidente americano. Ao contrário, acaso ele realmente venha implementar o que disse, é possível que tenhamos uma nova onda de protecionismo nacional, não a expansão do comércio entre as nações. 

  É interessante ressaltar também, ao contrário do que muitos que se interessam por finanças (bato nessa tecla, pois a audiência maior desse blog é voltada para essas pessoas), não há qualquer indício de que ele venha a diminuir o papel do Estado, muito pelo contrário. Neste ótimo artigo feito pelo Instituo Mises Brasil, fica claro que o que Trump quer, acaso ele realmente implemente o que prometeu, é mais Estado. A diferença em relação a candidata democrata é que ele aumentaria o papel do Estado via endividamento, ou seja empurraria a conta para gerações futuras, que foi exatamente o que o Governo Dilma I e II fizeram com o Brasil.

  Nos debates, eu ficava me perguntando como ele vai baixar impostos e aumentar substancialmente gastos governamentais militares e em infra-estrutura sem subir a já altíssima dívida pública americana? A resposta do IMB é que ele simplesmente não vai fazer nem metade do que prometeu, porque simplesmente é inviável economicamente.

 Ele fará os EUA fortes de novo no ponto de vista da geopolítica? O Obama é visto por muitos como um presidente fraco nesse front, e eu gostaria de saber os motivos. “Ah, ele não interveio mais decisivamente na Síria, não impediu a anexação da Crimeia pela Rússia, ou não se impôs a expansão da China” alguém pode ser refletindo.

 A Crimeia tem uma maioria russa, não havia muito o que ser feito. A China é a nova superpotência do mundo, não há nada e nenhum país que irá impedir isso. Depois de passar 4 meses naquele país, eu apenas me sinto humilde em relação ao meu conhecimento sobre uma das civilizações mais antigas do mundo, e sempre acho engraçado ver a análise de pessoas sobre o país sem conhecer quase nada sobre a incrível história ou nunca nem ter colocado os pés lá. A Síria é um atoleiro, não há saída fácil, talvez no começo, agora não mais.

 O fato é que os EUA tem que reconhecer que eles tiveram um breve momento como a única superpotência do mundo logo depois da queda da União Soviética. Não é isso que se desenha para as próximas décadas. Os EUA vão querer ter influência no mar da China? E como eles podem fazer isso sem gastar quantidades enormes de dinheiro, prejudicando a sua própria economia? Assim como parece estranho a China querer influenciar alguma coisa perto dos EUA, cada vez, em minha opinião, ficará claro que não será possível os EUA influenciar áreas tão próximas a China.

 Sobre este aspecto, não vejo muito como os EUA podem vir a ganhar maior influência no mundo do ponto de vista geopolítico. Os EUA são o ator mais importante da arena internacional, não há qualquer sombra de dúvidas, mas há limites para a sua atuação e eles irão ficar cada vez maiores, e não há nada de errado nisso. Portanto, aumentar ainda mais a máquina de guerra americana, como o Trump pretende, um erro que apenas aumentará a dívida americana, assim como Bush fez com a guerra do Iraque que estimam ter custado, além de centenas de milhares de vidas humanas, algo na faixa dos trilhões de dólares.

  Porém, isso é apenas a minha opinião, e posso estar redondamente enganado, e sinceramente não vejo grande influência para o Brasil. Agora, há um tema que vejo com profunda tristeza: crise ambiental


 Eu, ao contrário de grandes jornalistas, não viajei o mundo para observar o estrago que nós humanos com a nossa forma de vida estamos causando aos ecossistemas do planeta. Porém, como já estive em diversos lugares, pude observar algumas coisas que estão ocorrendo. As regiões que mais crescem no mundo são as localizadas na Ásia. Quando estive pela primeira vez há quase 10 anos havia poluição, mas sinceramente não era algo muito diferente de uma cidade grande brasileira. Quanta coisa mudou em menos de 10 anos. Quando estava na Indonésia, Malásia, e em algumas partes do Camboja e Laos há alguns meses, fiquei bastante impressionado. Em diversos dias, mesmo com sol e sem nuvens, não se conseguia ver o horizonte com clareza, mesmo montanhas. Demorou um certo tempo para perceber que era poluição advinda de grandes queimadas da ilha de Sumatra para plantação de Palm Oil. 

 Poucas pessoas sabem, mas grandes ecossistemas vem sendo destruídos apenas para a plantação dessa espécie que é utilizada em quase tudo hoje em dia pela indústria. Na ilha de Bornéu, quando peguei um avião para ir a um parque nacional mais remoto, vi plantações e plantações a perder de vista de Palm Oil, num deserto verde deprimente. 

 Bornéu, talvez junto com a nossa floresta Amazônica, talvez seja um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Essa preciosidade vem sendo destruída, colocando em risco a existência de populações selvagens de Orangotangos (um dos cinco grandes primata ao lado do Homem), além de muitas outras espécies. Tive a oportunidade de ver Orangotangos semi-selvagens e foi muito bacana. Será algo muito triste para toda a humanidade se de alguma maneira causarmos a extinção de um grande primata.

Deserto verde: Plantações de Palm Oil

  A poluição na China também é algo estarrecedor. Mesmo num dia claro, e sem muita poluição, não conseguimos ver o sol em Beijing. Foi uma sensação muito estranha. Fiz amigos na China que me disseram que há dias em que a poluição é tão extrema em grandes cidades chinesas que muitas pessoas chegam  a sentir efeitos físicos negativos severos como dores de cabeça, olhos irritados por causa da poluição do ar. Estamos tornando o nosso mundo um lugar pior para se viver às custas das novas gerações, o que para mim é um grande crime.

 Donald Trump disse que o aquecimento global, apesar de evidência científica em contrário, é uma farsa. Ameaçou tirar os EUA do acordo de Paris assinado em dezembro de 2015. Espero sinceramente que isso não aconteça, pois poderíamos repetir o que foi o acordo de Kyoto de 1997, e perdemos mais tempo, quando a janela de oportunidade para agir está cada vez se tornando mais estreita. Além do mais, estaria colocando os EUA na contramão do que a maioria dos países estão dispostos a fazer. Para mim a questão ambiental é uma das mais importantes para a espécie humana nesse começo de século.

  Se a sua vida será influenciada diretamente enquanto investidor? Difícil dizer. O melhor a fazer  é  se concentrar em sua vida e procurar fazer o melhor ao seu alcance. Isso é verdadeiro. Porém, não vivemos numa ilha, e é inegável que atos políticos afetam as nossas vidas, mesmo atos vindo de potências estrangeiras. Como brasileiro dificilmente minha vida será afetada diretamente, mas é estranho pensar que tantos lugares que estive podem sofrer grandes consequências. 

 Em poucos dias estarei no Irã, e uma das primeiras medidas a ser anunciada pelo Trump, pelo menos é o que ele disse nos debates,  é de alguma forma procurar anular o acordo nuclear. Há dois dias conheci um Iraniano que estuda economia em Londres. Ele disse que é isso exatamente o que o Supremo Líder Iraniano quer. O Irã possui um sistema político que mistura religião com política. Há eleições diretas, mas os nomes dos candidatos precisam ser aprovados por um conselho de 12 "sábios" que são diretamente influenciados pelo supremo líder o Alitolá Khamenei. O acordo foi meio que “empurrado" goela abaixo de partes mais conservadoras do país, pois há um grande movimento por mudanças, principalmente pela classe média bem informada de Tehran. O que os conservadores mais queriam, segundo esse Iraniano, era uma vitória do Trump e o fracasso da negociação desse plano, pois assim poderão  voltar com a velha retórica de demonizar os EUA, o que fazem com certa razão pois os EUA só fizeram bobagem no Irã nas últimas décadas,  e seguir com o programa nuclear.

  Ou o que vai acontecer na Coréia do Sul. Quando estive lá, tive a oportunidade de ir na DMZ (demilitarized zone), uma área de extrema tensão entre a Coréia do Sul e Coréia do Norte. De alguma forma, os EUA irão mudar a sua política no país? Existem dezenas de milhares de militares americanos lá, eu mesmo tive a oportunidade de conversar com um mercenário que já tinha lutado em Fallujah (uma das batalhas mais sangrentas da guerra do Iraque). 

 Difícil saber, pois o Trump ficou conhecido por mentir descaradamente sobre fatos nessa eleição e mudar de ideia constantemente sobre alguns temas. Uma vez conheci um americano que comprou um barco e navegava o mundo. Ele me disse que no pacífico sul, havia uma região com inúmeros uncharted reefs, ou seja bancadas de corais que não estavam catalogadas nos mapas de navegação, o que tornava a navegação difícil e perigosa.

  Creio que com Trump entramos num “oceano com uncharted reefs”, o que vai acontecer é difícil saber. Talvez ele não cumpra nem 10% do que prometeu, talvez ele vá mais além ainda, muito difícil saber. Independente do que acho ou penso a respeito dele, o resultado deve ser respeitado, pois esse é o cerne da Democracia.  Nós, e isso é uma lição para os brasileiros, devemos aceitar eventuais resultados desfavoráveis na política. Isso é do jogo.

 “Ah, a Democracia não é o melhor regime, quem disse que a maioria vai tomar a melhor decisão”, essa é uma ideia defendida por alguns. É verdade, não há qualquer garantia de que a maioria tome necessariamente a melhor decisão. Porém, depois de passar por alguns países onde a dissensão política é duramente reprimida, só me fez ainda mais ver o valor de um regime onde possamos expressar opiniões e eventualmente nos colocar contra o governo do momento.

  Apenas espero que não entremos numa era da "pós-verdade", como vi um artigo na folha de São Paulo de um colunista que gosto. Nesta nova era, a verdade não é algo mais tão necessário para a política. Ao invés da cansativa checagem de fatos, raciocínio sobre o que se diz faz sentido, nos contentaríamos com histórias que nos fazem felizes ou façam mais sentido para nossas visões de mundo, independente se é verdade ou não o que se diz. Espero sinceramente que não, pois para mim seria uma degradação total da vida política tão importante para convivermos em sociedade. 

  
obs: O colega blogueiro Rover em seu último artigo disse que conseguiu vender a sua empresa e que em breve estará mudando para o exterior, provavelmente para os EUA já que o Trump venceu. Lembro de um e-mail há mais de um ano ele ter me dito que esse era o seu objetivo, conseguir vender a empresa a qual construiu. Escrevi uma mensagem no blog dele, mas fica aqui a minha mensagem de satisfação de saber que ele atingiu o seu objetivo tão arduamente perseguido. Que sirva de lição e incentivo a todos os demais blogueiros e leitores que possuem objetivos que possam ser aparentemente difíceis de conquistar, mas que com determinação podem ser alcançados. Por que não?


É isso colegas, grande abraço a todos!

domingo, 6 de novembro de 2016

A PERGUNTA BRILHANTE QUE NOS TRANSFORMA EM SERES HUMANOS MELHORES

Olá, colegas. Estou no Uzbequistão, mas precisamente na belíssima cidade de Samarkand. As construções aqui talvez sejam as mais bonitas que já vi na vida. Se fossem na Europa, muito provavelmente seriam tão ou mais famosas do que uma Torre Eiffel, por exemplo. É uma cidade muito antiga, com quase 3000 mil anos de história. Capital do império de Tamerlane, um sujeito extremamente complexo, e aposto que absolutamente desconhecido no Brasil,  conhecido como o último grande conquistador nômade do mundo. Fiquei estarrecido ao saber que alguns historiadores, apesar de ser muito difícil precisar esse tipo de coisa, estimam que algo em torno de 17 milhões de pessoas morreram devido às diversas expedições militares de Timur que do atual território Uzbequistão chegaram até Moscou para o norte, Líbano para o oeste e Delhi para o leste. Esse numero de pessoas representava à época mais de 5% da população humana estimada. Enfim, é um sujeito pouco conhecido para nós, assim como Chinggis Khaan, mas que teve uma influência enorme no mundo. São dois personagens que gostaria de me dedicar mais em algum outro artigo.

 Os exemplos históricos citados vêm bem a calhar ao presente artigo. Tamerlane é considerado um monstro para muitos. A forma com que ele tratava muita das cidades conquistadas faria o Estado Islâmico parecer um grupo terrorista dos mais acanhados. Há relatos de que numa única  vez ele teria mandado executar 70 mil pessoas. Para outras pessoas ele é um dos melhores estrategistas militares de todos os tempos. Quem está certo? Será que é possível que essas duas visões sejam corretas? O fato de ele tratar populações conquistadas com extrema violência é antagônico ao fato dele ser considerado um dos grandes generais da história da humanidade?

Tamerlane, ou Tamerlão na forma  aportuguesada. Grande estrategista militar ou sádico assassino?


  Isso me leva à pergunta brilhante que foi feita no segundo debate presidencial para a eleição presidencial americana. Sério mesmo, foi talvez a melhor pergunta que eu já ouvi nesse tipo de debate. O segundo debate foi feito no formato onde cidadãos faziam perguntas diretas aos candidatos. O debate foi muito mais acirrado e combativo do que o primeiro. Era a última pergunta, quando um senhor se levantou e fez o questionamento. Qual foi a questão? Foi sobre os juros? Imigrantes? Se os candidatos iriam ajudar a região onde ele morava? Se a vida dele iria melhorar? Não. A pergunta foi mais ou menos a seguinte : “ Os senhores candidatos observam alguma grande qualidade no seu oponente. Se sim, qual seria esta?”.

 A plateia ao ouvir a pergunta apenas sorriu. Com eleições cada vez mais acirradas, onde o outro oponente é demonizado quase sempre e nenhuma qualidade é ressaltada, a pergunta vai ao ponto da miopia de muitas pessoas, talvez a maioria delas, e por causa disso ela é sim brilhante.

  No meu último artigo sobre o Bolsonaro, como seria de  se esperar, trouxe muitos comentários com ressalvas ao meu escrito. O meu colega blogueiro Frugal, por exemplo, levantou argumentos sobre a probidade do deputado, dando a entender que eu teria focado apenas em aspectos negativos, não reconhecendo eventuais qualidades do congressista.

  O problema com as análises políticas de hoje, pelo menos de boa parte das pessoas, é de que se trata de uma questão de vida ou morte. O fato de achar que Bolsonaro seria inapto para ser presidente de um país complexo como o nosso, não representa a toda evidência que eu o ache destituído de qualidades. Mesmo que eu diga ser desprezível uma declaração que de certa forma “desumaniza" refugiados não representa que o supracitado deputado não possa ter boas opiniões sobre outros assuntos. Não há qualquer contradição entre Tamerlane ser um brutal conquistador e um brilhante general.

  Como não conheço a fundo a vida do Sr.Bolsonaro, não posso falar muito. Porém, parece que ele é um sujeito com boa relação familiar com seus filhos. Isso não é pouca coisa num mundo cada vez mais desestruturado no que concerne à relação pais e filhos, ao menos no ocidente. Além do mais, ele aparentemente nunca esteve envolvido em casos de corrupção, o que não deixa de ser algo digno de nota para alguém que está há décadas na política brasileira (infelizmente, pois esta deveria ser a norma dos congressistas).

 Sim, o Bolsonaro tem qualidades. O caro Frugal também disse que o deputado era conhecido por não aceitar doações e basear suas campanhas na força da rua. Isso também pode ser verdade. Sabe quem mais fez isso de maneira absolutamente surpreendente? Bernie Sanders o candidato democrata à nomeação do partido.  Imagine a quantidade de interesses numa eleição para presidente da maior potência militar e econômica do mundo. Faz parecer uma eleição para deputado federal num país de renda média como o Brasil ser coisa de criança. Uma das plataformas mais forte do supracitado candidato foi a influência indevida, principalmente de Wall Street, sobre a democracia americana. Um dos maiores feitos, segundo Sanders, era que o grosso de sua campanha era bancada por doações de pessoas físicas de pequena monta, algo que Hilary e Trump não podem dizer sobre os deus doadores. 

  Por que cito esse exemplo? Como boa parte das pessoas que frequenta esse espaço gosta de finanças, alguns que se interessam pela eleição americana chamavam Sanders de socialista e que tinham verdadeiro embrulho no estômago ao ouvir ele falar. Talvez até mesmo o nosso caro blogueiro pense assim. Agora, raciocinemos. Se o fato de um deputado brasileiro concorrer sem grandes doações é algo positivo, imagine concorrer para presidente dos EUA sem o apoio de grandes e poderosos Lobbies?

  Assim, pode-se discordar de tudo que o Sanders eventualmente tenha dito, mas, repetindo se formos analisar a ausência de grandes doações como algo positivo, o político americano deveria ser extremamente elogiado por este aspecto. No fundo, colegas, nada mais é do que a questão sobre Tamerlane. Na verdade é a mesma questão.

  Podemos raciocinar assim sobre quase tudo na vida. Onde conseguimos ver esse tipo de análise na internet? Honestamente? Em quase nenhum lugar, e essa é uma das qualidades que procuro sempre ter quando escrevo um texto sobre um assunto mais “polêmico”: a tentativa de ver as nuances nos diversos aspectos da vida. 

  Quando fui ofendido diversas vezes sem qualquer motivo na net por um outro blogueiro, escrevi um texto em resposta. Uma mensagem muito boa de um outro blogueiro chamado “O Idiota”, trazendo à tona uma história de Buda, me fez refletir bastante sobre o assunto. Creio que saí fortalecido enquanto pessoa do processo, pois fui obrigado a (re)pensar sobre minhas atitudes. Por que cito esse caso? No calor dos acontecimentos, alguém me perguntou se eu “odiaria" o blogueiro aloprado ou se eu desejaria algum mal a ele. Pensei comigo mesmo na hora “nossa, como posso odiar e desejar mal a alguém que nem conheço?”. 

  O fato do blogueiro citado ter me ofendido, não o torna um mau marido ou pai de família necessariamente. Com certeza não é um bom exemplo, mas ele pode ser uma pessoa dedicada ou atenta aos seus familiares. Pode ser também um profissional muito competente no que se propõe a fazer. De novo, é a mesma questão sobre Tamerlane, não há qualquer diferença. Não é porque alguém me ofende e eventualmente não goste de mim, que esse alguém não possa ter boas qualidades.

  Infelizmente, não é assim que boa parte das pessoas agem. Há um erro de julgamento estudado pela ciência que se chama Efeito Halo que é baseado nessa forma de ver a vida. Não irei tratar sobre o Efeito Halo neste artigo, mas garanto que o assunto é interessante.

  Boa parte dos seres humanos continuará agindo assim, não há nada que se possa fazer a respeito. Entretanto, você, prezado leitor, pode agir de forma diferente. Se assim o fizer, verá o quão libertador essa forma de encarar a vida pode ser. 

  Pense em pessoas que eventualmente você não goste por qualquer motivo. Pode ser um chefe, um artista, um político, um blogueiro.

 Pensou? Os motivos pelos quais você não se simpatiza devem ser claros para o seu cérebro, aliás talvez seja apenas a parte mais preguiçosa do seu cérebro em ação. Agora, subverta a lógica com a qual boa parte das pessoas raciocina, e pergunte-se: “Essas pessoas possuem alguma(s) grande(s) qualidade(s)? Se sim, qual(is) seria(m)?” Voilà! Chegamos na pergunta brilhante feita no segundo debate presidencial americano.

  “Mas o que isso pode ajudar na minha vida, Soul? O que isso muda?”. Muda tudo, absolutamente tudo. Quando percebemos que as pessoas possuem defeitos, mas também qualidades, nos aproximamos delas enquanto humanos. Elas se tornam mais próximas de nós aos nossos olhos. Quando criamos essa relação de proximidade, fica muito mais difícil odiar ou desejar mal a alguém. A vida fica extremamente mais leve, e ouso dizer que muito mais feliz.

 Além do mais, ao subvertemos o que somos “ensinados" dia após dia, ficamos livres intelectualmente. Não há qualquer mais amarra que possa nos prender. Apenas assim, penso eu, somos capazes de realmente discutir diversas questões humanas com mais profundidade e sem pré-conceitos tolos. 

 É por isso, e alguns outros motivos, que acho uma verdadeira tolice a categorização de pessoas em de esquerda, direita, “socialista de direita”, libertário, não-libertário, ou qualquer rótulo que possamos colocar em seres humanos. E, meus amigos, como somos pródigos em criar rótulos para dividir nossa espécie. O único que acho que faz sentido aplicado a mim é que eu sou um ser humano. Se alguém pergunta a mim o que eu sou, a melhor resposta que consigo dar é que sou um ser humano.

  Deve ser por isso que esse espaço, apesar de não ter tantos acessos, incomoda alguma pessoas. “Ser humano? Como assim? Você não se define como de direita, ou esquerda, Heterossexual, católico ou ateu ou qualquer outra coisa? Ah, você só pode ser um sofista, que aliás rima com o seu nickname!”. Sim, até mesmo de Sofista descobri que sou chamado.

  Eu não acho que haja ninguém escrevendo na internet, pelo menos em 99.99% dos casos, que possa ser chamado de Sofista.  Sofistas eram filósofos, dos bons diga-se de passagem, que por meio de argumentação sofisticada exporiam ideias que não seriam necessariamente verdadeiras. E como sabemos que não eram verdadeiras? Pelo simples fato de que eles, os sofistas, tinham que travar duelos argumentativos simplesmente com talvez o maior filósofo que já existiu: Sócrates. 

  Quisera eu poder discutir com alguém como Sócrates por diversas horas em quase pé de igualdade, até que finalmente fosse convencido que estava errado. Aliás, em tempos de discursos políticos tão rasos,  estaríamos muito melhor se tivéssemos mais sofistas com argumentos sofisticados, e não apenas falastrões que não resistem a dois parágrafos de argumentação ou a cinco minutos de um debate sério. Não, infelizmente eu não creio que tenha a habilidade e o conhecimento de um Sofista.

Quisera eu ter a capacidade intelectual para poder discutir com esse Senhor por horas a fio antes de ser subjugado pelas ideias superiores.


  Não, não é um sofisma. Eu sinceramente acho que podemos aprender com as mais inesperadas pessoas. Acho que a demonização, e a santificação, de seres humanos, principalmente políticos, extremamente perniciosa para à nossa inteligência, e em última análise para a vida sadia em comunidade. 

  Sim, Trump e Hilary tiveram que falar sobre alguma qualidade do outro. A resposta dos dois, até porque a pergunta foi para lá de inesperada, pareceu-me sincera. Foi um sopro de esperança num ambiente tão carregado. Espero sinceramente, querido leitor, que você possa tentar colocar em prática o estado mental que a pergunta brilhante desperta em cada um de nós.

Belíssimo Registan na cidade Uzbek de Samarkand. É muito bonito mesmo. A Madrassa (lugar de estudo de assuntos religiosos do Islamismo) à esquerda foi construída pelo neto de Tamerlane no século 15. O nome dele era Ulugh Beg. Ele foi um grande entusiasta das ciências, principalmente a Astronomia. Chegou a ser considerado um dos grandes cientistas da época. Sou sempre fascinado por homens muito poderosos que devotaram a sua vida para o conhecimento humano, e não necessariamente para conquistas terrenas.


  Grande abraço em todos!