Olá, colegas. Qual é o melhor
investimento que você pode fazer? Qual é o investimento que vai gerar o maior
ROI (Return On Investment – Retorno Sobre o Investimento) possível? Bitcoin?
Empresas que pagam dividendos crescentes? Títulos do Governo Brasileiro? E se
houver uma espécie de investimento que gera retornos astronômicos, sem risco de
você ficar numa posição pior, e ainda por cima fazer você melhorar como ser
humano?
Difícil a questão? Creio que não. O melhor
investimento é aquele que você faz em si próprio. Há uns meses, assisti a uma palestra que dois autores deram no Google. Não consigo achar mais o vídeo, mas o tema foi
sobre como o investimento em si mesmo é aquele que pode alcançar o maior ROI
possível, e eles falavam do estrito ponto financeiro.
Sim, o assunto não é novo nem mesmo entre os
blogs de finanças. Apenas resolvi escrever a respeito, pois recebi nos últimos
dias dois e-mails muito interessantes. Um era de um médico com a minha idade já
consolidado, professor de universidade federal, renda altíssima, patrimônio
alto, grande escolaridade e formação. O
outro era de um jovem de 25 anos no quinto ano de medicina, com muita vontade,
e com um patrimônio acumulado quase inexistente. Este jovem então fez perguntas sobre
investimento, se deveria ir para fundos multimercados, ficar na renda fixa,
etc. Perguntas todas elas legítimas e boas, mas que podem fazer as pessoas se
distraírem do maior investimento de todos.
É claro que o médico mais consolidado investiu
muitas horas e anos de estudos nele mesmo. Talvez num determinado momento da
vida dele ele possa ter pensando em desistir, diminuir o esforço, investir o
seu tempo e atenção em alguma outra coisa. Porém, ele persistiu. Ele investiu
nele mesmo. Qual será o ROI do investimento que ele fez nele mesmo?
Altíssimo.
Para a esmagadora maioria das
pessoas os maiores retornos virão de investimentos diretos nelas mesmas, não da
análise de ativos financeiros. Isso não
quer dizer que não possamos conhecer de finanças, pelo contrário, até porque
para virar um investidor mediano-razoável não são necessários conhecimentos
sofisticados. Porém, não se enganem queridos leitores, não é analisando o
último balanço da AMBEV, ou refletindo se a alocação em renda fixa deve ser de
30% ao invés de 25%, que irá trazer retornos substanciais do ponto de vista
financeiro.
Os frutos de investimentos em nós
mesmos, contudo, vão muito além de dividendos financeiros. Muito além. Aliás, para mim hoje em dia tenho muito mais
preocupações com outros desdobramentos de meus “investimentos em mim mesmo” do
que com os aspectos financeiros.
Mas o que é investir em nós mesmos? Comecemos
pelo mais óbvio: educação. Evidentemente, o investimento seja em dinheiro, seja
em horas, na nossa própria educação tem um potencial gigantesco de oferecer
retornos altíssimos. Educação aqui não é apenas em sentido formal, até porque
títulos formais para mim querem dizer pouca coisa, mas também não se pode cair
em discursos tolos de que a escola, ou o ensino universitário, não serve para muita
coisa nos dias atuais.
O tema é amplo e daqui o texto poderia
seguir em várias vertentes, mas irei tratar sobre especialização x
generalidades. Um colega nosso da blogosfera foi estudar no Canadá há alguns
anos e me pediu alguns conselhos sobre livros de investimento. O conselho que
dei foi: experimente idéias novas, áreas novas, nunca se sabe as conexões que
podem se formar quando você se aventura em “mares nunca antes navegados”. Pode haver certa parcialidade minha nisso,
pois é assim que enxergo a vida, vejo-a muito mais colorida quando podemos ter
diversas perspectivas sobre o mesmo tema.
Porém, em que pese essa pretensa parcialidade, o fato é que pessoas bem
sucedidas em suas áreas parecem adotar um modelo mental parecido. Charlie
Munger é um sujeito que me vem a cabeça. Sócio do W.Buffett ele é conhecido
pela sua ideia de “modelos mentais”, que nada mais são do que diversas formas
de ver a vida sob perspectivas e áreas do conhecimento diversas.
Steve Jobs disse em certa palestra que sua obsessão com a estética dos
produtos da Apple veio muito por causa de um curso de caligrafia que ele fez
logo depois de abandonar a faculdade. Pensem um pouco sobre isso, prezados leitores.
Talvez o sucesso de uma das maiores empresas de todos os tempos é fruto de um
curso de caligrafia que um jovem resolveu fazer. Uma conexão como essa é
impossível de prever antecipadamente, mas elas ocorrem, em maior ou menor grau,
quando estamos dispostos a investir em nós mesmos e alargar nossa visão de
mundo ou nossas habilidades.
“Mas
Soul, não é uma perda de tempo fazer um curso de caligrafia, esse exemplo do
Jobs é um em 100 milhões”, claro que é a exceção da exceção argumentativo
leitor. Apenas nesse tópico poderia
escrever outro texto, mas deixarei para outra oportunidade.
O ponto não é o que
o Steve Jobs fez ou deixou de fazer, mas sim que quando desafiamos a nossa
perspectiva de ver o mundo, coisas incríveis podem ocorrer. Para nós a
caligrafia é algo completamente distante da nossa vida (apesar do senso estético dela estar permeando a nossa vida com o design dos produtos eletrônicos que consumimos). Porém, para a cultura chinesa, por exemplo, a caligrafia é algo muito mais presente. Era muito normal em praças chinesas (aliás, a
vitalidade de uma praça chinesa perto do entardecer daria para escrever pelo
menos dois artigos) eu observar senhores praticando a caligrafia construindo os
ideogramas chineses.
Porém, como dito alguns parágrafos acima, o investimento em nós mesmos
gera frutos tão ou mais importantes do que os retornos financeiros. No famoso Oráculo de Delfos na Antiga Grécia, dizem que havia uma frase “Homem, conhece-te a ti mesmo”. Essa deveria ser uma das perguntas mais
fundamentais na vida de uma pessoa. Não é sobre carros, onde investimos nosso
dinheiro, ou sobre quem nos relacionamos.
Sinceramente, conheço pouquíssimas pessoas que realmente conhecem a si
mesmo de maneira profunda. Conhecer quem realmente somos exige esforço e dedicação, em outras
palavras exige um “investimento”. Nunca
fiz o caminho de Santiago de Compostela, mas creio saber o motivo de tantas
pessoas terem experiências “espirituais” profundas ao término da caminhada.
Imagine um sujeito de 40-45 anos tendo que
caminhar durante semanas, na maior parte do tempo de forma solitária. Com qual
pessoa ele terá que dialogar? Ora, com ele mesmo. Imagine uma pessoa durante
semanas dialogando com ela mesma. Será que perguntas difíceis não serão feitas?
Será que ela vai ficar feliz quando for descobrindo o que ela se tornou? Isso nada mais é do que meditação e autoconhecimento
sobre si próprio. Eu imagino o impacto que isso pode ter na vida de um homem,
ou mulher, de meia idade que simplesmente navegou pela vida, sem perguntar
muito para a pessoa mais importante, ou seja ela mesma, se ela realmente queria
ter tomado certos caminhos.
Portanto, o investimento em nós mesmos faz com
que tenhamos uma melhor ideia de quem somos. Se eu sei quem sou, eu posso saber
com mais facilidade o que quero. Um carro mais caro e um trabalho não prazeroso
(mas com boa remuneração), por exemplo, são compatíveis com os meus sinceros
objetivos de vida? Talvez sejam e não há nada de errado nisso, desde que a
pessoa saiba conscientemente as trocas que por ventura está fazendo.
O único “porém” do contínuo desenvolvimento em
nós mesmos, é que não há volta. O conhecimento não pode ser “desfeito”. Antes
um “cidadão de bem”, depois de uma profunda reflexão, a descoberta de que não é
um cidadão tão do bem assim (para ficarmos apenas num exemplo). Algumas pessoas
podem achar isso extremamente desconfortável, e o é mesmo, e por isso
simplesmente se travam. É o que mais vejo em certas situações, e esse blog
possui muitos comentários assim.
Após me informar durante alguns anos como nós
humanos nos relacionamos com os mais variados tipos de animais (seja para
comida, entretenimento, pesquisas científicas e militares, etc), eu não posso “apagar”
esse conhecimento de mim. E obviamente
como pertenço a espécie dominante e me beneficio da exploração, em muitos casos
extremamente cruel, a minha visão ética sobre mim mesmo ficou mais turva. Não é
à toa que esse é um verdadeiro assunto politicamente incorreto , e combatido com
extrema virulência quando raramente é trazido à tona. Não, prezados leitores, politicamente incorreto não é falar sobre conspirações globalistas, ou sobre homossexuais, ou defender um político de 30 anos de carreira política dizendo que ele é um outsider da política.
Há uma história anedótica sobre um aluno
perguntando a um professor de filosofia se ele não se sentia envergonhado de
muitas vezes estar agoniado, enquanto uma simples camponesa, ignorante de
muitos fatos da vida, sempre estava sorrindo e alegre. O professor teria
respondido que preferia a infelicidade do conhecimento à felicidade da ignorância.
Não há dúvidas de que o conhecimento pode
trazer sofrimento, e não é à toa que os mais variados mitos religiosos tratam dessa
temática. Entretanto, também é verdade que um autoconhecimento profundo sobre
nós mesmos pode nos fazer nos religar com a realidade e com outros seres
humanos de forma muito mais profunda e genuína. E isso não deixa de ser uma experiência religiosa, já que a raiz da
palavra religião vem de religar.
Encerrando esse artigo, digo ao meu jovem colega
quase médico formado: invista em você mesmo. O ROI do seu investimento será
gigantesco, como o outro colega médico de alta renda e patrimônio consolidado
pode atestar. Não perca tanta energia
com detalhes sobre uma alocação fina do seu patrimônio ainda incipiente. Com um grande bônus: um maior investimento
em si fará com que você tome decisões muito mais conscientes na vida e muito
mais atreladas com os seus anseios enquanto indivíduo.
Um grande abraço a todos!