domingo, 14 de outubro de 2018

O GRANDE CONSELHO: ACEITO EFUSIVAMENTE EM FINANÇAS PESSOAIS, IGNORADO OU DETESTADO NAS DEMAIS RELAÇÕES


                “Eu comecei no mercado financeiro sem muito conhecimento e muito confiante, aprendi a duras penas que não poderia confiar tão cegamente nos meus instintos quanto se trata de mercados. Não há dinheiro fácil!”. “Eu fazia Day trades, ganhei muito no começo, mas acabei quebrando a cara e vi que não era tão simples, hoje escolho boas empresas que possuem índices fundamentalistas excelentes”. “O pior inimigo do investidor é ele mesmo”.

                As frases acima (inventadas) poderiam  ter sido retiradas da história de algum blogueiro de finanças, ou talvez de algum livro sobre investimentos. Em certo momento, mesmo um investidor amador como eu, se dá conta que realmente o maior adversário para bons investimentos é a própria pessoa.  Livros clássicos sobre o tema dedicam várias páginas sobre a necessidade de o investidor conhecer melhor a si mesmo, suas fraquezas, os seus receios, suas tolerâncias a riscos, e apenas depois de um profundo processo de auto-análise, começar a esboçar algumas estratégias de investimento para a perseguição de certos objetivos financeiros.

                Isso é ponto pacífico na técnica sobre finanças pessoais. Não há discussão a respeito do ponto. Não há nenhum livro, ou autor sério, dizendo que é desimportante saber suas próprias limitações, pois não teria nenhuma influência nos resultados financeiros.

                Mas, se isso é verdade para finanças pessoais, seria para outras áreas da vida? É importante se conhecer para melhor navegar pelas vicissitudes de nossa existência? A resposta parece óbvia, não? Como saberei que hobby fazer, se eu não me perguntar o que gosto de fazer? Como saber que trabalho se dedicar, se não se pergunta  o que se quer com o trabalho? Como ter uma existência mais plena, se não se sabe o que são as coisas e situações que levam a um maior bem-estar?

                Isso não é novo. Aliás, é muito antigo, e está quase que na gênese da filosofia ocidental, e muito provavelmente oriental. Afinal, já há milhares de anos estava escrito no Tempo de Apolo na antiga cidade de Delfos a célebre frase: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. O processo de iluminação de Buda foi um processo profundo de autoconhecimento.  Logo, o autoconhecimento, a crítica pessoal, é  há bastante tempo celebrado como uma das ferramentas mais importantes ao alcance de uma pessoa para a sua evolução, seja no ocidente, seja no oriente.

                Porém, voltemos para algo mais mundano como investimentos. Por qual motivo é tão importante conhecer a si mesmo? Há diversas razões. Imagine tolerância a risco. O que torna uma pessoa mais ou menos tolerante ao risco? Há explicações genéticas . Há explicações epigenéticas. Há explicações ambientais. Há explicações fisiológicas, como pessoas com maior nível de testosterona, por exemplo, tendem a ser mais tolerantes ao risco. Ou seja, é extremamente complexo para um terceiro explicar o motivo de alguém ser mais ou menos tolerante ao risco.

                E por qual motivo é importante saber a tolerância ao risco? Se uma pessoa com pouquíssima tolerância ao risco resolve investir uma parte substancial do seu capital numa operação mais agressiva, ou num ativo mais volátil, a probabilidade dela se assustar com resultados negativos é muito maior, e com base emotiva, e não racional, tomar decisões péssimas na pior hora possível.

                Logo, se essa pessoa realmente tivesse refletido sobre si mesma, sobre seus reais limites de tolerância ao risco de perda, ela provavelmente não faria um investimento arriscado, ao menos não numa quantia razoável em relação ao seu patrimônio. A pessoa, por um processo de autorreflexão, reconhece uma limitação sua, aceita esse fato e segue com a vida.  Nem todos servem para serem empreendedores em áreas completamente novasE não há nenhum problema com isso. Por outro lado, ao refletir profundamente sobre nós mesmos, não descobrimos apenas falhas, mas também qualidades e pontos fortes, e isso é fundamental para saber melhor aproveitar esses nossos pontos positivos.

                O processo de reflexão e autoconhecimento é para identificar pontos fortes e fracos, para que aqueles não nos façam tomar decisões erradas e para que estes possam fortalecer os processos decisórios.

                Agora, depois de uma página e meia de escrita, eu pergunto a vocês leitores: “Num debate é mais fácil ter um bom desempenho quando desconhecemos ou quando conhecemos o nosso antagonista?”. A resposta parece óbvia, pois ela é intuitivamente óbvia mesmo. Quando eu jogava xadrez semi-profissionalmente, antes da preparação de uma partida importante, procurava conhecer o estilo, as aberturas, pontos fracos e fortes do  adversário, especialmente se era uma partida por um campeonato mundial (eu participei de alguns).

                Quanto mais é possível conhecer de um adversário, seus pontos fracos e fortes, melhor é a possibilidade de se extrair uma estratégia mais eficiente para enfrentá-lo, seja numa partida de xadrez, numa entrevista a um cargo, ou num debate presidencial.

                Falando em política, mas isso se aplica a qualquer área, um erro comum cometido é não reconhecer que o adversário tem qualidades. Isso é um erro primário, mas é repetido muitas e muitas vezes.  O viés de confirmação e câmaras de eco (assunto tratado alguns artigos atrás nesse blog) são aspectos que prejudicam o reconhecimento das virtudes de opositores. Mídias sociais apenas amplificam esse problema. Porém, mesmo que seja cada vez mais difícil, esse fato não impede que possamos quebrar esse ciclo, e reconhecer as virtudes de idéias contrárias e de antagonistas.

                Há diversas razões pelas quais deveríamos fazer isso mais constantemente. Há uma de ordem meramente utilitária. Ao conhecer os erros e virtudes de meus adversários, ou de suas idéias, eu posso estar muito mais habilitado a traçar estratégias efetivas para conseguir algum objetivo.  Para além desse argumento, eu, Soulsurfer, acredito que ao reconhecermos que nossos debatedores e contendores são tão humanos como  a gente, ao analisarmos que eles possuem pontos fortes e fracos assim como nós, fica muito mais fácil criar laços de empatia. Empatia é a maneira mais eficaz e fácil de criar relações mais construtivas e vidas mais significativas. É a maneira mais fácil também de diminuir conflitos agressivos e comportamentos de ódio.


                Seja qual for o argumento a se utilizar, a análise e a compreensão das posições e atitudes de outros é fundamental para que possamos traçar estratégias mais efetivas no dia a dia numa gama variada de atividades e situações. Logo, se para você as frases do primeiro parágrafo fazem total sentido, se “conhece-te a ti mesmo” parece um dos conselhos mais sensatos já proferidos, a extensão lógica disso é o esforço para entender e compreender as fraquezas e forças de oponentes ideológicos, profissionais, amorosos, esportivos, etc.

                Difícil? Para mim, e creio que essa é uma das minhas qualidades, não é nem um pouco. Porém, talvez isso se deve há vários anos de reflexão e tentativa e erro. Para muitas pessoas esse tipo de conduta pode ser um desafio e tanto.  Em última instância cabe a cada um decidir como quer se portar na vida, mas saiba que a ignorância seja de si mesmo ou dos outros sempre cobra um preço, e em muitos casos ele não é nada barato.

                Um abraço a todos!