quinta-feira, 29 de setembro de 2016

RENDA FIXA - OS DOIS COMPONENTES DE RETORNO. ANÁLISE PRÁTICA DO TESOURO DIRETO

 Olá, colegas. Hoje escrevo sobre uma tema de fácil compreensão, mas quase nunca explicitado de forma clara quando se fala sobre renda fixa. Pretendo ser bem sucinto neste texto.

  
I - OS DOIS COMPONENTES DE RETORNO DA RENDA FIXA

  Quando se investe em instrumentos de renda fixa, na bem da verdade em qualquer investimento financeiro, geralmente a principal preocupação do investidor é, ou ao menos deveria ser, o retorno real. E o que seria o retorno real? É aquele retorno que realmente proporciona aumento no poder aquisitivo de compra. 

  Sendo assim:

 Retorno Financeiro Renda fixa = Inflação + prêmio

 O prêmio nada mais é do que a parcela de retorno real. Se o prêmio é igual a zero, então:

 Retorno Financeiro = Inflação

 Neste caso, o poder de compra do investidor não aumenta, pois o seu patrimônio será meramente corrigido pela inflação. A situação é ainda pior, pois pelo meu conhecimento não há nenhum lugar do mundo que cobra imposto de renda apenas pelo aumento real do poder de compra. Sendo assim, há incidência de tributos apenas pela distribuição nominal de retornos, independente se com ganho real ou não.

 Portanto, é sempre bom ter em mente, quando se analisa instrumentos de renda fixa (mas não só evidentemente), os dois componentes de retorno.

II - COMO APLICAR ISSO NA PRÁTICO: O CASO DOS TÍTULOS DO TESOURO DIRETO


  No caso dos títulos públicos federais negociados na plataforma do Tesouro Direto, fica fácil ver as duas componentes num título como a NTN-B, que pela nomenclatura atual chama-se Tesouro IPCA . Já em outro título como a NTN-F (Tesouro Pre-fixado com juros semestrais), as duas parcelas não são facilmente distinguíveis.

Tabela de rentabilidade de títulos públicos federais (retirado da plataforma jurus)

   Vou analisar a NTN-B com vencimento em 2026, e a NTN-F com vencimento em 2027. Por qual motivo? Como são títulos com maturação bem semelhante, posso ignorar eventual prêmio por maturidades mais longas, isto é títulos com maturidade mais longa devem pagar mais, pois são mais arriscados.

  A NTN-B supracitada possui o retorno esperado de IPCA + 5,85%. Sem mistérios aqui. O prêmio é de 5,85%aa para quem resolver comprar esse título. E a NTN-F? Como analisar o seu retorno? Tendo a NTN-B como parâmetro fica fácil. O certo é descontar, não apenas subtrair, mas para fins de simplicidade irei apenas subtrair a inflação. 

 Ao se subtrair 11,64% ( o retorno total da NTN-F) do prêmio de 5,85%, chega-se a 5,79%aa. Se considerássemos os dois títulos idênticos em risco, mas eles não são, a precificação de uma NTN-F com vencimento em 2027 a 11,64%aa, pressupõe-se uma inflação de 5,79%aa.


  Porém, a nossa meta de inflação é 4,5%aa, logo esses 5,79%aa simplesmente querem dizer que ou o mercado não acredita que a nossa inflação convirja para os 4,5%aa no médio-longo prazo, ou esses 1.29%aa a mais servem para se remunerar o risco de possuir um título totalmente pré-fixado de longa duração. Talvez a resposta correta envolve as duas explicações.


  E o que isso quer dizer? Simples. Se o investidor acha que até 2027 o Brasil vai entrar nos eixos, e que a inflação será menor do que 5,79%aa, quem comprar NTN-F ganhará um retorno real superior a quem comprar a NTN-B com vencimento em 2026. Por qual motivo? Se a inflação média entre 2016 a 2026 for de 3%aa, por exemplo, quer dizer que o prêmio para quem investiu na NTN-F será de mais de 8,5%aa, substancialmente maior do que os 5,85%aa pagos pela NTN-B.

  Agora imagine quem comprou esses títulos pré-fixados quando eles estavam em 17%aa no começo de 2016, caso  o Brasil se acerta e a inflação cai para 3%aa? Esse investidor irá obter um prêmio de 14%aa . Dá para entender por qual motivo títulos pré-fixados podem ter retornos muito maiores do que títulos como a NTN-B? No começo do ano  uma NTN-B35 chegou no máximo a 7,8%aa de prêmio, não ficou nem próxima de 10%aa, e muito provavelmente não se verá mais no Brasil um título com indexador de inflação pagando um prêmio tão elevado. 

  Agora, se a inflação no período de 2016 a 2026 for maior do que 5,79%aa, isso quer dizer que não terá valido a pena comprar um título como a NTN-F em comparação com a NTN-B em comento.

III - CONCLUSÃO

  Há momentos em que a diferença entre a inflação implícita num título pré-fixado e a previsão dos analistas fica muito distorcida. Isso aconteceu no começo do ano, onde as expectativas do boletim FOCUS, por exemplo,  eram de inflação declinante, mas chegou-se a pagar juros de 17%aa em pré-fixados, revelando-se um pessimismo talvez exagerado. 

  Sempre tenha em mente, prezado leitor, os dois componentes de retorno dos instrumentos de renda fixa. Com essa base teórica mais solidificada, o investidor poderá fazer investimentos muito mais conscientes, inclusive comprando com análise de analistas profissionais, para ver se as opiniões fazem sentido ou não.


Grande abraço a todos! 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

UMA HOMENAGEM AO SITE MISES BRASIL - SOBRE A NECESSIDADE DE QUESTIONARMOS NOSSAS IDEIAS


Olá, colegas. Sempre disse neste espaço, e continuarei repetindo, a importância de desafiarmos nossas percepções de vida. Essa forma de ver o mundo pode ser fácil de se apreender, porém talvez difícil de se colocar em prática. O viés de confirmação é a mãe, ou o pai, de todos os erros cognitivos. Não sabe o que é viés de confirmação? Recomendo a leitura deste texto produzido por mim há quase dois anos: Viés de Confirmação: A nossa preguiça intelectual

  Apesar de ser lógico que a evolução intelectual só pode se dar com o embate de ideias, compreender e aplicar este princípio na vida diária é algo que leva tempo, e de certa exige uma grande dose de humildade. Quantas vezes não se pode observar ataques histriônicos de pessoas que simplesmente foram contrariadas, pois um ataque a uma ideia é confundido com um ataque a própria honra. Além de humilde para reconhecer que outras pessoas podem apresentar diferentes visões de mundo, algumas talvez superiores e melhores do que às nossas, é preciso um grande escorço cognitivo para vencer a nossa preguiça mental. 

    Nosso cérebro está progamado para procurar soluções que gastem menos energia, o que faz todo o sentido do ponto de vista evolucionário. Quer algo mais consumidor de energia do que ser confrontado com uma forma de ver o mundo completamente diferente da sua? É desgastante.

  Pense em aprender outro idioma. É muito difícil no começo. Nossa, como é difícil a pronúncia da língua mongol ou da língua chinesa, por exemplo. É praticamente impossível num primeiro contato com esses idiomas compreender algo. A tarefa é tão difícil, nosso cérebro é tão confrontado, que em certo ponto se torna tão desgastante que nosso cérebro simplesmente se desliga para novas informações. Conhecer o novo, desbravar o desconhecido, suga as nossas energias mentais.

  Como é bom estar na zona de conforto de falar apenas português. Quando falamos português, nosso cérebro trabalha no automático. Mesmo se você fala um inglês muito bom, mas não fluente como um local, tente manter uma conversão em inglês quando você estiver muito cansado.  Você provavelmente terá muita dificuldade, algo que não acontece se você puder falar em sua língua materna.

  É difícil desafiar nossa inteligência. Entretanto, é essencial. “Tudo bem, Soul, você sempre fala isso, mas e daí, cadê um exemplo específico?”, alguém pode estar pensando.  Eu entendo essa espécie de questionamento. Se quase todo mundo não age assim, se é tão difícil, para que tanto falatório? 

  Li num artigo de um articulista chamado Lourival Sant'anna no Estado de São Paulo sobre o título “O Império da Mentira” , algo que me chamou bastante atenção e está diretamente relacionado com o tema:

"Como argumenta a revista The Economist no editorial de capa da semana passada, intitulado “A arte da mentira”, as pessoas estão acreditando menos nas informações produzidas pelo jornalismo independente do que naquelas compartilhadas por seus amigos nas redes sociais. E, nesse ambiente, a “informação” que chega às pessoas é aquela que confirma e reforça as posições que elas já têm. 

Quando alguma incômoda “verdade” escapar ao controle do algoritmo, que distribui os compartilhamentos segundo os gostos de cada um, com um clique o usuário exclui o intruso, para se manter, assim, protegido em sua bolha cognitiva. "

 Sim, a maioria das pessoas, mesmo aquelas com educação formal de boa qualidade, está vivendo numa bolha cognitiva. Compartilha-se as mesmas ideias, com os mesmos tipo de pessoa, e quando alguma coisa foge do “script” pode-se deletar, bloquear, desistir de um blog, apagar um blog que anteriormente era recomendado, adjetivar, etc. Quase nunca os verbos refletir, pensar, raciocinar entram em cena.  

  Eu, Soulsurfer, também não estou preso nessa bolha cognitiva? Em certa medida, claro que estou. Sou humano e os mesmos traços de evolução biológica que existem em mim, existem em você querido leitor. Nós seres humanos somos rigorosamente iguais neste aspecto. Entretanto, há formas de mitigarmos isso em nossas vidas. Um dos caminhos é fazer coisas completamente diversas das que se está acostumado. 

  Minha querida Mãe, por exemplo, teve uma época que ela, já na faixa de 50 anos e ocupando um cargo de responsabilidade, fez curso de mestre cervejeiro(a), de palhaço de circo e constantemente viajava para destinos  não tão usuais na época como China e Rússia (isso no final da década de 80 e começo da década de 90). Tenho certeza que essas experiências foram fundamentais para ajudá-la a expandir o conhecimento do mundo e de si própria.

  O autor do livro “The Art of Thinking Clearly” diz algo muito interessante no final da obra. Este livro já foi recomendado nesse espaço, pois aborda os diversos erros e vieses cognitivos de forma muito clara e simples. O autor em questão afirma no final do livro o que teve um grande impacto em sua vida intelectual recente. É preciso salientar que ele estava envolvido com o mundo do business, inclusive era essa a sua formação principal. Será que foi uma entrevista com o W.Buffett? Um grande insight do mundo empresarial? Não. Foi ter se interessado e começado a ler sobre Biologia. Foi a exposição a uma forma completamente diferente de ver o mundo, neste caso a biologia, que fez o autor expandir de forma exponencial o seu conhecimento de mundo.

  É por isso que esse blog tenta abordar diferentes questões, é uma das formas mais efetivas de aumentarmos nosso conhecimento sobre a realidade. Por isso, leitores, exponham-se a ideias de campos do conhecimento humano completamente dissociados do seu dia a dia. Não é um conselho que você vai ler ou ouvir em muitos espaços. Geralmente, se fala o oposto: foco, não deixe a sua atenção dispersar, etc, etc. Evidentemente que o foco é importante em certos estágios da vida, porém apenas ele não é suficiente para um visão ampla da realidade. Pense numa fotografia, às vezes o foco em algo é importante, às vezes o foco é contraproducente.

  A outra forma, objeto maior deste artigo, é se expor a ideias contrárias  às suas e o exemplo que trago ao leitor é o INSTITUTO MISES BRASIL. Para quem não conhece, o IMB possui um site dedicado a difundir  as ideias da escola austríaca de economia e outras ideias de cunho liberal-libertário. 

  É um dos sites de internet, ao menos sobre os assuntos ali abordados como economia, que mais gosto de ler. É por que eu concordo com TUDO o que está escrito ? Não, longe disso. É porque ali foi um espaço genuíno de colocar diversas ideias minhas à prova. Naquele espaço precisei sair da minha preguiça intelectual, causada pelo viés de confirmação, para lidar com temas como Estado, regulação, propriedade privada, estímulos estatais à economia, lucros como única ferramenta racional num sistema econômico e tantos outros sobre uma perspectiva completamente diversa e muitas vezes contrária ao que pensava.

  Foi lá, por exemplo,  o único lugar que vi questionar a ideia sacrossanta de que um câmbio desvalorizado é bom  para às indústrias nacionais.  Em todos os lugares isso é repetido ad nauseiam.  Até mesmo o meu pai, alguém que sempre está vendo o mundo numa ótica diversa da maioria das pessoas, repete o mesmo discurso. Entretanto, há muitas falhas nesse raciocínio. 

  Se o valor da nossa moeda despenca, como os empresários nacionais poderão melhorar o maquinário, que geralmente é importado, melhorando assim a produtividade? Se o mundo é cada vez mais globalizado, e as cadeias de produção e fornecimento são cada vez mais internacionais, não parece que o ganho de alguns empresários com o barateamento de seus produtos em moeda forte será perdido com o aumento de custos de outros setores que precisam importar matéria-prima? E acima de tudo, a população não perde como um todo, não há um empobrecimento geral?

  Sobre regulação. Será que uma regulação excessiva não serve apenas para deixar certos mercados cativos para grandes empresários? Discutimos muito a qualidade dos serviços no Brasil, os lucros exorbitantes de alguns setores, mas quase nunca discutimos se a regulação é apropriada ou não. Eu não vou ao extremo, como a maioria das pessoas que escreve lá, achar que toda regulação é maléfica para a sociedade. Não penso assim. Porém, fica evidente que a regulação estatal sobre a economia deveria ser a exceção e muito bem justificada. 

  Quando escrevi sobre a decisão da CVM de suspender o blog o pequeno investidor, fiquei surpreendido ao ver pessoas que se diziam a favor do livre mercado, concordar com uma regulação que obriga as pessoas a terem uma certificação para falar de títulos mobiliários. Sério? Uma regulação para ser médico, eu entendo. Para analisar um FII? Como isso pode ser compatível com a ideia de um mercado livre?

 Por outro lado, há muitos outros temas que mantenho a mesma opinião que detinha antes. Entretanto, houve ganhos,  já  que fui obrigado a questionar as minhas próprias ideias, e como elas se mostraram sólidas, ao menos no meu entendimento, elas ficaram muito mais fortalecidas.

  Aliás, este é um insight poderoso. Se alguém bloqueia outra pessoa, cobre os ouvidos, ou simplesmente não presta atenção quando algo contrario aos seus interesses e ideias é dito, há uma espécie de covardia intelectual neste ato. É o medo da fragilidade das próprias ideias? É o receio, ou a vergonha, de estar errado? Não sei. O que posso afirmar é que se suas ideias são colocadas à prova por pessoas com bons argumentos, e depois de uma reflexão sincera, elas se mantém de pé, isso só pode ser considerado positivo. E se elas não se mantiverem em pé? Ora, isso é ainda mais positivo, pois significa que você estava errado, e pode avançar mais a caminho da verdade e de um melhor conhecimento do mundo

  Precisamos desafiar nossa preguiça intelectual biológica consubstanciada no viés de afirmação. Por isso, só posso agradecer o Instituto Mises Brasil por fornecer a ginástica intelectual tão importante para o meu cérebro. Lá aprendi sobre novas ideias, repensei ideias arraigadas, e mantive ideias antigas. Bom seria, se pudéssemos achar mais sites como o IMB pela internet que desafiassem nossas convicções. Espero que o Pensamentos Financeiros faça um pouco disso com os leitores deste espaço.


  Grande abraço a todos!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

7 (SETE) DICAS DE FINANÇAS PESSOAIS PARA VOCÊ INVESTIDOR AMADOR

 Olá, colegas! Falarei nesse artigo sobre “princípios" de finanças pessoais. Coloco entre aspas, pois são reflexões minhas e não necessariamente princípios no sentido literal do termo. Algumas são frutos da minha experiência ( reconhecendo que a mesma não é extensa) de minhas leituras  e das minhas próprias reflexões. 


I - O LONGO PRAZO É LONGO

  Se há algo que sempre é recorrente, e presumo que sempre o será, é a inconstância dos humores dos investidores em relação ao tempo de investimento. Muitas pessoas leem livros, as ideias fazem sentido, mas quando chega na prática o longo prazo acaba sempre se tornando um curto prazo.

  O que é longo prazo? Evidentemente, o conceito pode variar de pessoa para pessoa, porém sabemos que dificilmente se aceitaria a noção de que cinco anos seriam um prazo esticado de tempo. Se assim o é,  muito menos um ano pode ser considerado um grande prazo. Será 20 anos? 30 anos? Não se pode cravar com precisão, pois a própria expressão "longo prazo" é imprecisa, mas quando se fala em longo prazo sabemos que é um período bem razoável de tempo.

  Pense na educação. A educação formal é um típico processo de longo prazo. Pode parecer incrível, mas uma parte expressiva dos leitores desse blog deve ter mais de 15 anos de educação, em alguns casos muito mais. Sendo assim, boa parte das pessoas está acostumada com um processo que leva tempo para que os frutos possam ser colhidos. Por qual motivo então é tão difícil ter o mesmo estado mental quando se trata de investimentos? Creio que a resposta repousa principalmente em um uma palavra: volatilidade.  Voltarei a falar disso logo mais neste artigo.


I.A) - NO LONGO PRAZO, INVESTIMENTOS PRODUTIVOS TENDEM A TER RETORNOS REAIS POSITIVOS

  A lógica é simples: se uma determinado agrupamento humano se torna mais rico, em termos de acumulação de capital, ao longo do tempo é natural que os investimentos produtivos tendem a apresentar retornos positivos. Isso se aplica principalmente ao mercado acionário.  Logo, em prazos mais alongados de tempo, é natural que investimentos no mercado acionário tendem a apresentar retornos reais, já descontada a inflação, positivos. Isso é certo? Não. É garantido? Claro que não, a única coisa que temos garantida nessa vida é que um dia daremos o nosso último suspiro nesse lindo planeta. É apenas uma dedução lógica que encontra respaldo nos dados de diversos países.

I.B) O LONGO PRAZO NÃO  TRANSFORMA DECISÕES RUINS  NO PRESENTE EM ACERTADAS NO FUTURO

  Muitos blogueiros, e comentadores, corretamente asseveram que o longo prazo não pode servir como muleta para o nosso cérebro se sentir bem. Aliás, esqueça que você deve se sentir bem em relação a decisões financeiras não-ótimas. Finanças é um lugar onde a vaidade e o orgulho possuem um papel extremamente deletério. Sendo assim, o “sub-princípio” desse tópico não colide com o “sub-princípio” 1.A. Escolhas ruins tendem a não gerarem frutos positivos, mesmo em prazos mais alargados de tempo. Não tenha medo de simplesmente dizer para si mesmo “Errei”. Eu erro, você erra, ele erra, nós erramos, e daí? Tenha a humildade de reconhecer que errou, e aproveite a oportunidade de ouro que é aprender com os erros cometidos.


II - FUJAM DO CANTO DA SEREIA CHAMADO VOLATILIDADE

  Quem já mexeu com Home Broker, ou melhor ainda trabalhou diretamente no mercado financeiro, sabe que a mudança constante de precificação de ativos pode ser tão irresistível como o canto das sereias no Clássico Grego Odisseia de Homero. O grande protagonista do épico se amarrou no mastro do navio para não se afogar atraído pelo canto irresistível das sereias. Como sereias, o pisca-pisca dos ativos financeiros atrai dezenas de milhares de pessoas todos os dias, muitas delas para a sua ruína financeira. 

  Eu sei que é atraente, eu mesmo às vezes, apesar que isso é cada vez mais raro, me pego “hipnotizado" pela mudança de preços em tempo real.  Colegas,  a grande verdade é que em períodos curtos de tempo os ativos com grande liquidez se movem em direções que não é possível prever. Será que há “gênios” financeiros que conseguem? Talvez, mas provavelmente eu e você não fazemos parte desse time.

  Portanto, os ativos caem, sobem, ficam de lado, e isso pouco deveria importar para um investidor amador que está única e exclusivamente preocupado em acumular patrimônio. Além do mais, há ciclos. O mercado imobiliário tende a se comportar em ciclos de longa duração, chegando  até a perfazer mais de uma década para se fechar um ciclo completo. Logo, é natural que haja momentos de euforia e pessimismo ao longo da duração de um ciclo imobiliário, por exemplo. Se o investidor amador se deixar abater, ou se empolgar em demasia, apenas por causa da volatilidade na precificação de investimentos, é provável que este investidor tomará decisões equivocadas.

   “Quer dizer que preço não importa, Soul?” Não, colegas! Não! Isso é uma bobagem sem tamanho que apenas se popularizou em finanças pessoais no Brasil, pois um dos ícones de aconselhamento para investidores não-profissionais resolveu tornar disso um lema. É claro que preço importa, e se isso é verdade a oscilação desse mesmo preço também deveria importar. 

  Porém, temos que ter a humildade de reconhecer que sabemos quase nada sobre para onde vai o mercado em períodos mais curtos de tempo. Devemos reconhecer também que tudo leva a crer que o mercado como um todo, não ativos em específico, tende a respeitar a regra de retorno à média (ou seja operar em ciclos). Portanto, não devemos ficar mudando a nossa estratégia de investimento baseado simplesmente na volatilidade de preço dos ativos. Pior ainda, em hipótese nenhuma a volatilidade do mercado financeiro deve ser motivo para um investidor perder o sono, ficar amargurado, e deixar que isso atrapalhe a vida profissional e pessoal. Essa é a receita para o desastre.

    Logo, é importante ter uma estratégia, seja para comprar ou vender determinado ativo a partir de certo preço. Não há nada de errado nisso. Porém, não deixem que a volatilidade normal dos mercados financeiros se transforme num canto de uma sereia irresistível, a ponto de você esquecer de tudo mais e ficar obcecado com isso.

Gráfico retirado do famoso livro "Stocks for the Long Run" do Jeremy Siegel. Os dados refletem os retornos do mercado americano. Ele mostra os melhores e piores retornos para o mercado acionário, de BONDs e T-Bill (títulos soberanos americanos de curta duração) para durações distintas de tempo (1,2,5,10,20 e 30 anos). Quanto menor o tempo de análise, os resultados positivos e negativos são muito mais amplos. Logo, em períodos mais curtos de tempo a oscilação pode ser enorme do que em períodos maiores de tempo. Sim, os dados são do mercado americano, mas o raciocínio pode-se aplicar perfeitamente ao mercado nacional.


III - O MUNDO É UM LUGAR GRANDE - DA NECESSIDADE DE DIVERSIFICAÇÃO INTERNACIONAL

   Quem acompanha este blog sabe que gosto de viajar. Conhecer o mundo, sentir outros lugares, culturas, aromas e sabores para mim é uma experiência gratificante que me engrandece enquanto ser humano. Quanto mais viajo, mais percebo como o mundo é um lugar grande e diversificado. No mundo das finanças, apesar da grande concentração em países mais ricos per capta, a mesma ideia pode ser aplicada.

  O mundo das finanças é enorme se compararmos apenas com o nosso mercado interno. Diferentes empresas, diferentes instrumentos financeiros, diferentes moedas, é um “admirável" novo mundo. Portanto, abrir-se a possibilidade de investir no exterior é se permitir “conhecer" novas formas de investimento.

  Além do mais, o peso do Brasil (medido por meio do valor de mercado das empresas listadas em bolsa de valores) é muito pequeno em relação à capitalização de mercado do mundo como um todo. Ao diversificar o investimento no exterior é mais fácil capturar o desenvolvimento econômico humano em suas várias regiões e não ficar apenas dependente do crescimento no Brasil. Adicione-se a isso a possibilidade de proteger uma parte do seu patrimônio contra a inflação da nossa moeda ou eventuais desmandos políticos dos ocupantes de plantão de Brasília.

  Por isso, colegas, coloquem em suas estratégias de investimento, mesmo que os retornos sejam potencialmente menores do que o mercado brasileiro, a alocação de uma parte do portfólio no exterior. Não recomendo aqui a alocação apenas em moedas estrangeiras, mas sim a aplicação em ativos que gerem riqueza como ações, imóveis, mercado de dívida, etc.

Se o mundo fosse representado pela capitalização de mercado das empresas listadas em bolsa, esse seria o formato. Consegue ver o Brasil? Pois é, ainda somos pouco relevantes no "grande esquema das coisas". É surpreendente ver como a África simplesmente, a exceção da África do Sul, não existe do ponto de vista dos mercados financeiros. 


IV - ASSUMA RISCOS

  Qui audet adipiscitur. A frase em latim pode ser traduzida para algo como “Quem ousa, vence”.  Poderia escrever vários artigos sobre risco e como tentar minimizá-lo, mas não se pode negar que grandes conquistas quase sempre vem acompanhadas com a assunção de riscos. Evidentemente, há riscos que não valem a pena correr. Atravessar uma rua movimentada sem olhar para os lados não é algo muito inteligente, ainda mais que a recompensa (chegar ao outro lado) não necessita que se assuma esse risco. Ter relações sexuais casuais sem estar protegido não é um risco também que faz muito sentido, pois se coloca em risco à própria saúde ou o surgimento de uma gravidez indesejada, por um retorno (prazer) que claramente não vale o risco tomado. Colocar todo o seu dinheiro numa small cap listada na bolsa, ou seja numa empresa que você não tem controle sobre o que a administração faz ou deixa de fazer e ainda por cima possui um risco de quebra muito maior do que uma empresa já consolidada, não parece ser um risco que faz muito sentido.

  Entretanto, às vezes é essencial que desafiemos a nossa zona de conforto, e para isso é necessário correr riscos, assumir conscientemente que uma certa ação, ou omissão, poderá acarretar resultados adversos. Eu não poderia recomendar grandes riscos. Este não é o meu temperamento. Também acredito que para cada narrativa de um grande vencedor que assumiu um grande risco há dezenas de perdedores que sofreram perdas consideráveis. Entretanto, nós enquanto sociedade temos a tendência de apenas observar quem prosperou, e deixar de lado os inúmeros que naufragaram durante o caminho, a chamada evidência silenciosa, termo utilizado pelo escritor Nicholas Taleb.

  Acredito que devemos assumir riscos que não nos coloquem potencialmente em situações calamitosas. Se estivéssemos em guerra e uma potência estrangeira invadisse o território nacional, talvez nessa situação específica pudesse fazer sentido arriscar nossas vidas em alguma determinada atividade (como os pilotos ingleses o fizeram para defender a Grã-Bretanha contra os ataques áreas da aviação nazista). Se nossos filhos estiverem ameaçados, talvez valha a pena colocar nossa vida em risco para defendê-los. Porém, tirando situações extremas como estas, geralmente não vale a pena colocar a vida em risco ou se colocar numa situação financeira potencialmente muito desvantajosa.

  Qui audet adipiscitur, ouse em sua vida, a vida é muito curta para termos medo de ousar. Tente ousar sem se colocar numa situação de extrema vulnerabilidade.


V - RENDA FIXA É INSTRUMENTO DE ACUMULAÇÃO DE RIQUEZA SIM SENHOR!

  A renda fixa nada mais é do que um instrumento que vai produzir um fluxo de caixa, isso se não houver calote do emissor da dívida, que é previamente conhecido, por isso o nome renda fixa. Ora, se este fluxo de caixa tiver uma perspectiva de retorno real, já descontada a inflação, positivo é evidente que o mercado de renda fixa é uma forma de acumulação e crescimento da riqueza.

  Num país com as maiores taxas de juros reais do mundo como o Brasil, não ter dinheiro na renda fixa é algo que não faz sentido do ponto de vista financeiro. Eu mesmo tenho uma grande parcela do meu patrimônio em instrumentos de dívida. O Brasil é tão incomum nesse quesito que mesmo o mercado acionário tendo um ótimo retorno nos últimos 20 anos, mesmo assim instrumentos de renda fixa deram mais retornos, comparativamente muito mais, do que o mercado acionário. O que não deixa de ser uma aberração se comparado com outros países.


Muitas pessoas podem dizer que podem escolher boas empresas e que o Bovespa não é um índice que se deve levar muito a sério. Pode ser verdade. Porém, é indubitável que o maior índice acionário brasileiro representa uma parcela considerável do nosso mercado. O CDI (taxa de empréstimo utilizado entre bancos para operações de prazo curto) venceu com folga o BOVESPA num período de 21 anos. Isso é uma aberração.


Por que seria uma aberração? Por causa do gráfico acima, prezados leitores. Observe que um investidor hipotético que conseguisse replicar o CDI desde 1994 teria retornos nominais positivos em todos os anos, ou seja sem qualquer risco ou volatilidade negativa, ao contrário do investidor no mercado acionário. Os dois gráficos foram retirados do blog minhas economias que pode ser acessado   aqui


VI - CONHEÇA O MÍNIMO DE ESTATÍSTICA

  Eu, Soulsurfer, posso me tornar o mago do câmbio e montar um fundo de investimento com possibilidade grande de captação de dinheiro. Quer saber como eu posso fazer tal proeza? Fácil, basta me arrumar uma lista com o nome de 10 mil pessoas com 1M para investir.  No primeiro mês, eu mandaria uma mensagem dizendo que o câmbio iria se depreciar para metade da lista, para outra metade eu diria que ele se manteria neutro ou se apreciaria. Eu acertaria a previsão para metade da lista. A metade que eu tivesse errado, eu simplesmente ignoraria. No outro mês (agora a lista teria apenas 5000 nomes) eu repetiria a estratégia. Para metade da lista (2500) eu acertaria por dois meses em sequência. Continuaria repetindo isso por 10 meses seguidos. Ao final de 10 meses, para 10 pessoas eu teria acertado a direção  do câmbio  durante 10 meses sem errar nenhuma vez. Para essas 10 pessoas eu seria o mago do câmbio. Se eu adicionasse ainda explicações  bonitas como FFR do FED, desaquecimento da China, aquecimento da China (não importa, qualquer fato pode explicar o que quer que seja atualmente), o efeito seria garantido e tenho certeza que montaria um fundo de investimento em câmbio com facilidade.

  Colegas, a quantidade de gente que escorrega em conceitos básicos de estatística e vê coisas onde não há nada para se ver é enorme. No caso fictício narrado, isso é apenas o resultado esperado para uma amostra grande. Se eu tivesse uma lista com apenas 10 nomes no primeiro mês, e conseguisse acertar durante 10 meses para alguém, aí sim poderia se dizer que eu poderia ter algum talento de análise. Esse é o caso para a maioria dos gurus e grandes gestores. Quando se tem milhares de gente aplicando, gerindo dinheiro dos outros, etc, é mais do que esperado que alguns, por pura sorte, consigam retornos espetaculares. Saiba separar o joio do trigo, tente entender um pouco de estatística e suas diversas noções contra-intuitivas. Não estou falando de saber grandes tratamentos estatísticos, não, apenas noções fundamentais. Garanto que sua percepção de mundo  em geral, e em finanças em particular, irá mudar um bocado.


VII - É APENAS DINHEIRO, A VIDA É MUITO MAIOR DO QUE ISSO

  Dinheiro é importante por diversos motivos. Com ele podemos proporcionar uma boa vida para aqueles que amamos, apesar de muito dinheiro e conforto às vezes ser pior do que pouco dinheiro. Podemos viver com mais dignidade, e depois de um certo patamar podemos até nos dar o luxo de tomarmos caminhos mais independentes, como refleti no artigo O Dinheiro do "Fo..-se"!

  Contudo, a vida é muito maior do que isso. Não se esqueçam disso: há certos aspectos na vida que nenhum dinheiro pode proporcionar.

  Dinheiro não pode comprar uma faixa preta de Jiu Jitsu. Dinheiro não vai te trazer uma grande amizade. Dinheiro não fará que seu filho ame você. Apenas dedicação te trará uma faixa preta, lealdade um grande amigo e carinho o amor do seu filho. Não entre, querido leitor, na paranóia do mundo moderno de medir a tudo e a todos apenas pela régua do dinheiro. Isso é um erro que apenas traz infelicidade e sofrimento e faz com que nos tornemos cegos para tanta beleza nessa vida.

  Respeite o dinheiro, aproveite o mesmo, se possível utilize-o para finalidades nobres. Não seja um vassalo dele.




  Gostaram do artigo? Espero que sim. Gostaria de ouvir o feedback nos comentários, um grande abraço a todos!

domingo, 11 de setembro de 2016

SOBRE ISLAMISMO, TERRORISMO, DESINFORMAÇÃO E ÓDIO

 Olá, colegas! Como é bom ter uma casa. Explico. Depois de tantos meses, principalmente os últimos, estou tendo o privilégio de estar hospedado num confortável apartamento na cidade de Moscou. Vi até mesmo um episódio do House of Cards. Isso porque a Sra.Soulsurfer possui uma amiga que mora nesta bela cidade. Ela é casada com um fisioterapeuta que trabalha com jogadores profissionais de futebol aqui na Rússia e ambos acabaram de ter uma filhinha. Além deles serem pessoas sensacionais, ter a oportunidade de conviver alguns dias com um bebê é muito interessante. A generosidade das pessoas é algo que sempre enche o meu coração de alegria, e é inacreditável a quantidade de pessoas generosas que estamos encontrando pelo caminho. Hoje mesmo, o Rafael ainda nos levou para ver um clássico russo Spartak x Locomotiv. Foi muito legal mesmo, pois fazia anos que não ia assistir um jogo de futebol.  Estádio cheio e confortável, duas torcidas, sem nenhuma confusão. Uma ótima experiência.

  Porém,  não irei escrever  sobre amigos, generosidade ou futebol.  O tema de hoje foi baseado numa dupla motivação. Eu às vezes escrevo com mais constância, às vezes fico semanas sem escrever. Gostaria enormemente de poder escrever mais, algo que espero fazer ano que vem. Por causa da inconstância dos meus acessos à internet, eu comento pouco em outros blogs, apesar de sempre que posso dou uma espiada no que alguns blogueiros estão compartilhando. Uma das razões também de não escrever em outros blogs, é que eu gosto de debater e refletir sobre temas. Ao fazer isso, creio que estou ajudando na qualidade do debate e me ajudando às vezes a refletir sobre outras perspectivas sobre alguma questão em específico. Entretanto, percebi que pouquíssimas pessoas apreciam essa minha característica. Isso é muito interessante, pois para mim é uma das minhas qualidades. Se tem algo que é muito claro para mim é que verdadeiros amigos são aqueles que apontam as inconsistências em sua vida, não aqueles que dizem amém para tudo. A isso eu estendo ao mundo das ideias. 

  Mas, para evitar contrariar outros blogueiros, eu estava me limitando a apenas escrever no meu espaço. Um dos blogueiros que acompanho é o Rover. Como hoje  tirei  para descansar e não fazer nada toda manhã, resolvi escrever um comentário trazendo várias reflexões ao blog citado, reflexões estas que iam desde se a cosmogonia (ou seja o início do universo) admite aleatoriedade, se o universo é simétrico (ou seja “matematicamente” perfeito), origem da moralidade no ser humano (se religiosa ou biológica, tema muito interessante e profundo) até a incompreensão sobre o Islamismo, a história do mesmo e a insensatez de da ideia de se ter um "embate total" com quase 20% da população do planeta

  Agora de noite, acessei de novo o mencionado blog, pois estava curioso sobre a resposta do blogueiro, já que é uma pessoa que respeito, pois jamais escreveria um comentário daquele em algum espaço que não possuísse um mínimo de qualidade. Para minha surpresa, o blogueiro tinha excluído o meu comentário sobre a alegação de que eu estava defendendo o Islamismo, ideologia, segundo palavras dele, político-social que tem a real chance de destruir a civilização ocidental.

  Fiquei surpreso. Como já estava há muito tempo querendo escrever sobre essa religião (uma das motivações), esse acontecimento veio bem a calhar. As outras duas motivações (tinha escrito no segundo parágrafo que eram duas, mas na verdade são três) é a manutenção da “linha editorial” desse blog, e que nada mais é do que um traço da minha personalidade, de permitir qualquer tipo de comentário, principal e especialmente quando são ponderados e contrários ao posicionamentos meus. Se este blog possui alguma mensagem (eu não tenho qualquer pretensão de ajudar pessoas a melhorarem de vida por meras palavras escritas num espaço como esse) essa é a principal delas: a única forma de evolução genuína é essa. A última motivação é a constatação como a desinformação e desconhecimento podem cegar as pessoas para paixões, preconceitos e ressentimentos. Está em todos os lugares.

  Eu já tive a oportunidade de ir a muitos países e regiões onde a religião muçulmana se faz presente. O que posso dizer do que vi? Em uma palavra: diversidade. As pessoas desconhecem os fatos mais básicos sobre essa religião, a começar pela diversidade geográfica da mesma. Há muçulmanos na Rússia. Visitei uma cidade chamada Kazan, onde a maior minoria étnica (A Rússia possui mais de 80 etnias diferentes) chamada Tatar é muçulmana. A cidade é belíssima, capital da República do Tartastão. Vi até mesmo a abertura de um festival de cinema Muçulmano com direito a tapete vermelho e atores desfilando. O que os Tatars possuem em comum com o Wahabistas da Árabia Saudita (uma forma estrita e obtusa de interpretação dos preceitos islamitas) é algo, para quem conhece o mínimo, que desafia a imaginação. A maior etnia na China (tirando os 90% de chineses Han) são os Uyghurs que habitam a província chinesa de Xinjiang  no extremo oeste daquele país. Os Uyghurs são extremamente acolhedores com estrangeiros, além de possuir uma culinária saborosíssima. O que os Uyghurs possuem em comum com os muçulmanos que aplicam a Sharia estrita em Banda Aceh, norte da ilha de Sumatra (paraíso do surfe) na Indonésia, é algo também que requer muita imaginação. 

  Esses exemplos de locais que já fui, e há muitos e muitos outros, servem apenas para demonstrar quão caricata, errônea e sem sentido é achar que a religião muçulmana se manifesta na figura de um árabe vestindo uma túnica e falando Allah Akbar ("Alá é grande") para tudo. Aliás, a desinformação é tão grande que as pessoas, boa parte delas, acham que Allah é um Deus diferente do Deus Cristão. Colegas, Allah é apenas a palavra árabe para Deus, Allah não é uma divindade diferente.

  Aliás, poucas sabem que as origens do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são as mesmas. Para muçulmanos Jejus é um profeta e importante para a própria religião islâmica. Ele apenas não é o último profeta, que no caso seria Maomé, ele obviamente foi um ser humano (sabiam que a discussão sobre a divindade de Jesus foi algo que causou muitas mortes, pois nos primeiros séculos da era cristã não havia consenso se Jejus era apenas um homem ou não e houve batalhas, não apenas no mundo das ideias, sobre esse tema) e Maria não era virgem. Os Judeus, por exemplo, são conhecidos como “O Povo do Livro”, sendo o livro a Bíblia.

  É necessário ressaltar que quando o mundo ocidental da cristandade se afundava em perseguições religiosas, obscurantismo no conhecimento, uma parte significativa de regiões muçulmanas promoviam cultura e tolerância religiosa. Astronomia, Poesia, Matemática, a lista de difusores de conhecimento no mundo Muçulmano na época da Alta Idade Média é grande. Muitos dos nomes das estrelas que conhecemos no céu visível tem nome de origem Árabe como Betelgeuse (uma das estrelas com brilho, pelo menos para observadores humanos no planeta terra, mais intenso). Diversos nomes que estamos acostumados como Camila e Altair possuem origem árabe. Muitos muçulmanos estudavam os grandes clássicos gregos, como Ptolomeu e Aristoteles, muito antes do renascimento cultural e intelectual na Europa que iria ocorrer muitos séculos mais na frente.


  Assim sendo, o Islamismo é diverso seja na manifestação de formas, seja geograficamente, e já produziu muito conhecimento, numa época no mínimo opaca para o Ocidente. Faz tempo? Faz. Hoje a escuridão habita muitos lugares de maioria muçulmana? Sim, porém isso não apaga a história, e nos faz refletir se os problemas vivenciados por regiões assoladas por condutas monstruosas feitas em nome da religião islâmica estão relacionadas única e exclusivamente com essa religião em si. Tudo leva a crer que não. 

  Baseado nisso, é que fiz o aparte do comentário supramencionado, principalmente para essa parte do texto citado: "Já algumas religiões como o islamismo, transformam seus seguidores em filhos da puta sádicos e sanguinários. E esse tipo de religião acho que deve ser extirpado da face da Terra. Nesse caso ai não tem meio termo, tem que acabar mesmo

  Além disso ser errado e ter o condão de inspirar ódio nas pessoas, o objetivo central do texto destacado é simplesmente impossível. Quando se escreve para blogs, ou mesmo para jornais e revistas de circulação nacional, não há necessidade de basear o que se escreve na realidade. Pode-se construir mundos que não existem e propostas que não são factíveis no mundo real. Apesar de eu possuir essa permissão, afinal não exerço nenhum cargo de relevância geo-estratégica internacional, eu tenho muito cuidado com tudo que escrevo por aqui. Procuro não falsear a realidade e nem sugeri algo que seja destoante com a mesma.

  Como se extirpa uma religião que define diversas culturas, etnias, gastronomia, hábitos, e é praticada por mais de um bilhão de seres humanos é algo que nem o aloprado do Trump conseguiria dar uma resposta que tivesse o mínimo de coerência. É como dizer que o governo brasileiro poderia cortar 80-90% dos gastos, e como já vi espaços da internet falando isso, como num passe de mágica. Não é dito como se pode deixar de pagar todas as aposentadorias e pensões do INSS, todos os salários das forças armadas, todos os professores da rede pública, todos os repasses do SUS (sim um corte na ordem de 90% dos gastos dos governos brasileiros talvez sobraria apenas dinheiro para pagar o Poder Judiciário e o corpo diplomático, até os policiais teriam que ser mandados embora). Pergunte, da próxima vez que ouvir tal argumento, como se poderia fazer isso na prática no Brasil, e não se surpreenda se a pessoa desconversar ou simplesmente ignorar.

  A mesma coisa se aplica a noção de “guerra total” ao Islã. O maior exército que o mundo já viu foi num país que estava destruído economicamente, sob um pretexto mentiroso diga-se de passagem (ir à guerra baseado numa mentira é um ato terrorista? fica a reflexão), e depois de vários anos viu que tinha se metido num atoleiro militar e econômico. Além disso, simplesmente trouxe caos à região, com o surgimento de grupos armados muito mais sádicos e radicalizados. O Estado Islâmico é cria direta da invasão americana no Iraque. Se isso ocorreu na invasão de um único país pequeno (o Irã, por exemplo é três vezes maior do que o Iraque, fato este que faz que uma invasão por terra ao Irã pelos EUA seja praticamente impossível, segundo palavras de analistas militares), como faz para entrar em guerra com países que vão do norte da África até a Indonésia? Entra em guerra com a Rússia e a China também, países com grandes concentrações de muçulmanos? Aproveita para jogar umas bombas na Índia e os seus 170 milhões de muçulmanos?

  Sim, a ideia é simplesmente ridícula. Seria o fim do mundo como conhecemos, e o supremo caos reinaria no planeta terra. É por isso que homens com poder não podem falar algo sem sentido como a ideia de extirpação de uma religião ou a redução de 90% dos gastos públicos do Governo. Não é sério. 

  E qual é o problema em não ser sério nesse caso? O problema, colegas, é a instilação de ódio e a propagação de desconhecimento. Isso é apenas combustível para que pessoas façam ainda mais atos de maldade em nome do Islamismo. O governo americano depois de muito tempo percebeu que matar um combatente do Talibã resultava não em ganhos militares, mas na formação de 100 novos soldados inimigos. Isso ocorria porque na região montanhosa do Afeganistão, a principal  etnia do país chama-se Pasthun , e o tribalismo é muito comum para esse povo, principalmente em áreas perto do Paquistão. Quem já visitou culturas onde a ideia de tribo é forte, sabe que a lealdade à família e à tribo é de uma força que é incompreensível para um brasileiro médio. Sendo assim, se alguém de uma tribo era morto, isso tinha o efeito automático de transformar quase todos os homens da mesma tribo, mesmo que sem conexão com o Talibã, em potenciais soldados. Quando os EUA se deram conta disso, eles perceberam que a solução militar nunca daria certo ali, eles começaram simplesmente a pagar mesadas para chefes tribais para que deixassem de apoiar o Talibã.

  A solução militar só piora, e muito, a situação. Não há solução militar para o terrorismo islâmico. O problema de se espalhar desconhecimento e ódio, é que povos do ocidente podem ser iludidos por um trapaceiro com pretensões políticas qualquer (Um Trump da vida) que pode levar muita gente a acreditar nisso, mesmo com um exemplo histórico recente do fracasso da Guerra do Iraque (que aliás matou centenas de milhares de civis, algumas ordens de grandeza a mais do que todos os ataques terroristas muçulmanos somados). Além do mais, qualquer mensagem que espalhe o ódio, deve ser combatida, não com mais ódio evidentemente, mas com racionalidade e inteligência. 

  Por isso, colegas, não se enganem com o simplismo de questões que são complexas. Não se contaminem com ódio, algo que além de não resolver nada, apenas dá mais munição para pessoas radicalizadas. O Ocidente não vai ser destruído, muito menos por grupos islâmicos terroristas. Isso é uma bobagem sem tamanho. O ocidente tem a perder se deixar de lado valores como tolerância, liberdade e racionalidade. Essa sim é a ameaça real ao nosso estilo de vida, ameaça que políticos canhestros com seus discursos raivosos e mentirosos consubstanciam de maneira muito forte.

  Por fim, isso não é apoiar o que quer que seja. Eu creio que religiões institucionalizadas, o islamismo em especial, prestam um grande desserviço à humanidade quando servem para isolar os seres humanos uns dos outros. A única coisa que eu apóio é a dignidade humana e a busca pelo conhecimento. Entretanto, isso não pode ser escusa para se propagar desinformação e mensagens que podem ser usadas como ódio a outros seres humanos. 


  Um grande abraço a todos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA - O DINHEIRO DO "FO..-SE"!


 Olá, colegas. Afinal para que serve o dinheiro? Há dois anos escrevi um texto sobre as As Três Finalidades do Dinheiro. Em minha opinião, é um dos melhores artigos deste blog, bem como um dos que abrem mais possibilidades de reflexões densas e profundas, se realmente quisermos para para refletir mais a respeito do tema. Entretanto, resolvi abordar o assunto sobre uma perspectiva mais familiar, e por via de consequência com mais interesse, aos interessados por finanças pessoais: a ótica do dinheiro sobre a independência financeira.

  Por que alguém gostaria de ser independente financeiramente? Aliás, o que é ser independente financeiramente? A primeira vez que li a definição de independência financeira na forma da frase que consta no título desse artigo foi alguns anos atrás ao ler o livro “A Lógica do Cisne Negro” do autor Nassim Nicholas Taleb. Muitos que citam o Taleb e seus “cisnes negros” aplicados a finanças, talvez não saibam que o autor citado muitas vezes demonstra um profundo desdém, em alguns casos puro e simples desprezo,  por aqueles que buscam mais e mais dinheiro como um fim em si mesmo, ou pior, para ostentar luxo e opulência. Para Taleb, em linha com o meu artigo anteriormente citado, a busca por dinheiro só faz sentido se os objetivos maiores forem o conhecimento e a melhora enquanto ser humano. Todavia, nós estamos inseridos num mundo onde o dinheiro, ou uma forma equivalente de mercadoria que nos proporcione acesso a bens necessários a uma vida digna, é importante, ou até mesmo vital até certas quantidades relacionadas com a sobrevivência do indivíduo. Logo, Taleb diz que o objetivo financeiro inicial de sua vida foi conseguir o que ele chama de “Fu..you!” money. 

  E o que é esse dinheiro do “Fo…-se!”?  Primeiramente, por qual motivo eu uso reticências, assim como o Taleb, para a expressão? Bom, eu acho que realmente devemos ter cuidado com o que escrevemos. Se tem algo que acho de extremo mau gosto e revelador de fraqueza de um autor, principalmente em tempos de proliferação de textos em mídias sociais, é o uso frequente de palavrões quando não há a menor necessidade para tanto  Expressões como “Porra! Acorda para a vida seu FDP!”, por exemplo,  são desnecessárias e banais no meu entendimento, mas infelizmente são cada vez mais utilizadas num empobrecimento  da nossa língua e da capacidade interpretativa dos leitores. Isso quer dizer que desaprovo o uso de palavrões? Não, claro que não. De vez em quando é bom falar um “Foda-se!” (pronto, usei), nem que seja mentalmente. Agora, isso não se confunde com o uso excessivo e desnecessário de palavrões e expressões chulas, a não ser num contexto literário onde isso faça sentido ou num local de descontração com pessoas conhecidas.

  Em segundo lugar, é preciso entender que a expressão não quer dizer, ao menos na minha perspectiva, uma forma de desrespeitar as pessoas. Não, não é isso colegas. Não é, por exemplo, uma forma de querer ofender outros porque eventualmente não se concorda com um determinado argumento, algo muito comum hoje em dia no Brasil. Não, o respeito pelas pessoas, mesmo e eu diria principalmente por eventuais adversários, é o único caminho para uma vida boa, e via de consequência para uma sociedade com relações saudáveis.

  “Soul, se não é para ser um palavrão, se não é para desrespeitar as pessoas, qual a utilidade da expressão então?” alguém pode estar pensando.  Numa resposta simples e direta é  para representar liberdade e independência. Há uns anos, eu estava numa reunião com diversos outros Procuradores, alguns com nível de chefia estadual e regional. O nível da reunião se tornou tão sem sentido , até mesmo cretino, num determinado momento, que eu apenas pensei comigo mesmo “que diabos eu estou fazendo aqui?” A partir daquele momento minha mente simplesmente desligou e  mentalmente comecei a fazer cálculos de quantos anos eu poderia ficar sem trabalhar. Eu estava no início dos meus estudos sobre finanças pessoais, nem de longe tinha a segurança sobre conceitos financeiros e sobre  a minha própria estrutura de gastos para uma boa vida como tenho mais claramente hoje em dia. Ainda por cima estava  finalizando a minha primeira operação imobiliária de leilões, sendo que não tinha a prática e confiança que tenho atualmente nessa modalidade de negociação.

  Se foram vinte , trinta minutos, uma hora ruminando gastos, retornos, medo de largar algo que quase todos querem (um trabalho como o meu), receio de falhar,  sinceramente eu não sei. O que lembro vividamente é que uma colega de trabalho que estava sentada do meu lado apenas falou “Calma Soul! Não faça nada que irá se arrepender!”. Eu falei literalmente em voz baixa para mim mesmo, mas aparentemente perceptível para ela que estava do meu lado, algo como “Fo…-se, eu não preciso disso”. Este foi um momento revelador e libertador. A partir dali muitas coisas aconteceram na minha vida. Muito por um esforço meu de desafiar a minha Zona de (Des)Conforto.   Minha vida, apesar de sempre ter muitas reflexões críticas sobre o meu papel no mundo, estava no piloto automático até então: bom apartamento, bom cargo, patrimônio alto - ao menos para padrões nacionais-, independência de chefes, boa saúde, ótima companheira, e assim eu seguia a jornada.

"Você precisa ter o seu dinheiro do foda-se" (numa tradução literal)

  Porém, aquele momento específico foi demais para mim. Evidentemente, eu já pensava em liberdade financeira, mesmo que talvez não de uma forma tão apurada como hoje, mas aquele curto período de tempo foi um fator decisivo para mim. Eu então percebi que tinha sim o dinheiro do “Fo..-se”, mesmo que não representasse uma Independência Financeira no sentido estrito do termo,  estava no controle da minha vida, e não precisaria ser complacente com a mediocridade alheia que por ventura pudesse atrapalhar a minha vida. 

  A partir dali muita coisa mudou em relação ao meu trabalho (o que rendeu a não simpatia de muitos colegas de profissão) e à minha vida.  Passados alguns anos desde então, hoje me sinto, principalmente depois de tanto tempo viajando pelo mundo e vivendo com relativamente pouco dinheiro, muito forte mesmo. Interessante notar que estou lendo outro livro do Taleb que se chama “Antifrágil”, mais sobre este bom livro em outros artigos a ser escritos, e tenho que admitir que me sinto robusto para a vida e pretendo melhorar nesse aspecto muito mais ainda. 

Um interessante livro sobre como estamos criando um mundo frágil em diversos aspectos e como deveríamos procurar nos tornamos "Antifrágeis".


  Sendo assim, o dinheiro do “Fo..-se” é aquela quantia que te deixa livre para realmente tomar os rumos da sua vida. Vejo alguns colegas blogueiros falando sobre relações pessoais em grandes empresas, com chefes, etc, e alguns aspectos disso, para ser sincero, só de ler já me embrulha o estômago.  Eu jamais aceitaria isso na minha condição atual, mesmo que fosse para ganhar uma considerável soma de dinheiro. “Fo..-se, eu não preciso disso”. É por isso que além de uma quantia X de dinheiro, que pode variar de pessoa a pessoa, há um atitude mental. Quantas pessoas não são escravas do dinheiro, e se sujeitam a humilhações, nem que sejam do ponto de vista intelectual, para ter mais e mais dinheiro? Sério, qual é o ponto disso? 

  Eu atualmente estou licenciado do meu cargo. O colega do Blog Viver de Renda uma vez me perguntou se o custo de oportunidade de continuar no meu trabalho não era muito grande. Talvez seja, talvez não seja. O que importa é que eu sou o Senhor do meu destino, eu decido o que é ou não importante  e principalmente eu não preciso aceitar nada que me diminua intelectualmente ou moralmente, pois sempre poderei dizer “Fo..-se, eu não preciso disso”. Isso torna você de certa maneira ingovernável, não no sentido de que não precisa obedecer às leis e  a certas condutas morais, todos nós temos com mil ou um bilhão de reais de patrimônio, sendo o zelador ou o presidente da República, mas sim que não há mais a necessidade de obedecer a certos fingimentos ou a se calar frente a certos desacertos ou abusos. Isso é libertador, é um sopro de ar fresco na vida.

  A jornada para chegar neste ponto é mais fácil ou difícil a depender de muitas coisas. Apenas de não nascer num campo de refugiados na República “Democrática" do  Congo já me torna um sortudo, assim como a todos que estão lendo esse artigo. Porém, ainda tive a sorte de nascer numa família estruturada, com conceitos financeiros muito bem estabelecidos, e que apenas me deu amor e oportunidades. Ou seja, se comparado com o resto da humanidade eu larguei muitos passos a frente, por mais que os defensores intransigentes da "meritocracia"  às vezes não queiram enxergar esse fato. Entretanto, acredite-me prezado leitor, se você está lendo esse artigo, é porque já está muitos passos a frente de boa parte dos indivíduos da espécie humana.  Sendo assim, pode ser difícil, mas é completamente factível que você também chegue no dinheiro do “Fo..-se”.

  Aliás, lembrem-se  de que também se trata de uma atitude mental. Ninguém aqui é um agricultor do interior do Camboja que perdeu uma perna ao pisar numa mina terrestre que foi  enterrada quando da guerra civil do país nas décadas de 70 e 80. O pobre humano, e infelizmente há tantos companheiros humanos de jornada na terra nessa condição, que se encontra nessa situação não tem muitas escolhas, e isso é uma pena e deixa o meu coração triste. Porém, para a esmagadora maioria dos leitores desse blog há sim escolhas, independente da quantidade de dinheiro que se tenha. Não aceite humilhações, um trabalho que não te acrescente em nada, ou jornadas de trabalho absurdamente tediosas, odiosas e longas, simplesmente porque não se é independente financeiramente, porque se tem medo. Não aceite isso. Você pode muito mais. Não torne a jornada pela independência financeira, ou pelo dinheiro do “Fo..-se” , num martírio. Não precisa ser necessariamente assim.

  É isso colegas, um grande abraço a todos!