segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

QUAL É A FINALIDADE SE SE VIAJAR?

Olá, colegas. Uma vez um colega blogueiro perguntou por qual motivo eu viajava. Qual era a finalidade de se viajar tanto tempo? Uma indagação natural. Porém, como responder de forma apropriada? Quem me conhece pessoalmente com mais intimidade, sabe que em determinados tipos de perguntas eu retruco se querem a resposta simples e “social" ou uma resposta mais elaborada e rica em detalhes.  As perguntas sobre as minhas motivações ao viajar são dessa categoria de questionamento. Neste texto, tentarei trazer uma abordagem  “não-convencional" ao tema.

 Eu já citei diversas vezes a entrevista do Patch Adams dada ao programa roda viva da TV Cultura em 2007. Já vi diversas vezes, e para mim é uma das entrevistas mais brilhantes que já tive o privilégio de assistir. A forma como esse senhor encara a vida e tantos problemas humanos é algo que me estimula até hoje a melhorar como ser humano. Há muitos e muitos insights, há uma sabedoria incrível nas palavras daquele homem. Algumas pessoas já me agradeceram por indicar essa entrevista, mas creio que boa parte das pessoas não está nem mesmo preparada para realmente entender sobre o que ele fala.

 Numa das partes iniciais da entrevista, ele diz textualmente que não vê qualquer diferença “em ser cordial com um homem de negócios no elevador ou levar alguma forma de conforto para uma criança morrendo de câncer terminal num hospital”. O conceito de vida que essa simples frase traz é simplesmente fantástico. E dificilmente você vê esta ideia em algum lugar.

 E o que ele quer dizer exatamente com isso? A ideia é que podemos ser gentis com qualquer ser humano numa gama gigante de situações. Se ajudar uma criança com câncer terminal é algo evidente de uma boa ação (e todos reconheciam como tal, e até se emocionariam com um exemplo concreto), Patch Adams diz “Sim, claro que é maravilhoso ajudar a criança, mas também é maravilhoso ser amigável e gentil com um empresário engravatado subindo um elevador”. Para ele, e estas são palavras dele, “são experiências idênticas”. 

 Quão profundo não é isto? Quão libertador e poderoso não é esta lição para termos uma vida melhor? Citei este grande homem, para chamar atenção que seja viajando, ou fazendo o seu trabalho rotineiro, ambas as coisas podem ser experiências extraordinárias, tudo vai depender de como você enxerga a si mesmo, os outros e a realidade. É por meio de lentes de rancor, indiferença ou por meio de lentes de amor, gratidão e compaixão? 

 Esta é a primeira lição para quem quer se aventurar pelo mundo (e meu amigo como esse mundo é grande): você pode estar em Londres, na Avenida Paulista, no Deserto de Gobi na Mongólia ou em alguma praia da Tailândia, sua experiência será um reflexo do seu estado mental. Logo, é um erro achar que viajar irá fazer com que os seus problemas desapareçam. A sua mente, a forma como você encara a vida, sempre estará junto de você, você não consegue se afastar disso.

  Conheci viajantes, mesmo os que estavam viajando por anos, com problemas mal resolvidos e que de certa forma se iludiam que resolveriam as suas dificuldades internas ficando um tempo longe fora de casa. Um Italiano de uns 50 anos que conheci numa cidade monastério numa região tibetana na província chinesa de Gansu foi um exemplo claro. O lugar é simplesmente sensacional. Eu e minha companheira o conhecemos na janta e conversamos por umas duas horas.

  Ele estava reclamando de como as coisas tinham mudado na China, que era tudo muito diferente de 15 anos atrás. Tinha agora muitos turistas Chineses (e tem mesmo, o turismo interno na China deve responder por uns 99.5% do turismo no país, nós estrangeiros somos literalmente uma gota no oceano) e ele não parava de reclamar que nada mais era autêntico.

  Enquanto ele fazia a missiva dele, um Tibetano vestido com roupas típicas entrou no recinto, ele era muito alto e forte, e abriu um sorriso enorme e disse para a nossa mesa “Thashidele”, uma saudação tibetana que quer dizer algo como “Oi, tudo bem?”.  Foi algo muito bacana, pela espontaneidade. O Italiano não percebeu. Ele estava tão absorto em reclamar que não havia mais contato autêntico com os locais, que perdeu um contato autêntico com um local. Ele também não notou uma criança tibetana que ficou pegando no meu pé, e tentando brincar comigo. Dois momentos muito bacanas, e que passaram em branco para o italiano atormentado. Apenas pensei comigo mesmo “Por qual motivo ele está viajando? Ele claramente não está satisfeito”. 

  Tudo, absolutamente tudo depende do seu estado mental e de como você encara a vida. Não faz a menor diferença onde no mundo você está.  Portanto, seja em algum lugar lindíssimo e remoto na Ásia Central, seja indo ao mercado comprar requeijão, cabe única e exclusivamente a você decidir o que você quer, qual o tipo de experiência que deseja produzir. “São experiências idênticas”, por mais distintas que elas possam aparentar. Compreenda isso, prezado leitor, e sua vida ficará muito mais leve, divertida e prazeirosa.

  O escapismo não é e nunca foi uma razão para eu viajar. E o que seria então? Precisa haver alguma finalidade? Ou melhor dizendo, precisa existir algo claro e objetivo? Algumas pessoas ficam um pouco desapontadas quando digo que eu não tinha nenhuma finalidade em especial ao viajar 20 meses pelo mundo.  Eu não procurava me tornar uma pessoa melhor, mas acabei me tornando, ao menos eu penso que sim. Eu não procurava conhecer mais, mas acabei conhecendo. Eu não tinha absolutamente nada em específico na mente.

  Nós humanos, pelo menos os seres humanos com os quais eu mais convivo, possuem uma obsessão por finalidade. Por qual motivo eu vou fazer essa faculdade? Do que me serve saber química orgânica? Para que eu preciso conhecer um pouco de filosofia, vai me trazer dinheiro? Por que eu vou sair com aquele grupo de colegas do trabalho, vai me trazer alguma possibilidade de subir na carreira no futuro, poderei fazer um bom networking?  Por qual motivo você está sentado num banco vendo as pessoas passarem, qual a finalidade, o que você ganha com isso?

  Quem me conhece um pouco pelos meus escritos, já pode imaginar que acho essas perguntas, algumas delas ao menos, completamente sem sentido. Às vezes fazemos apenas pelo ato de fazer. Simples assim. Não precisamos colocar uma finalidade, e muito menos uma finalidade relacionada a dinheiro ou a trabalho em tudo na vida. Em algumas ocasiões estamos apenas fazendo, sem qualquer outro objetivo em mente.

 Era assim que me sentia em boa parte da viagem. Eu estava apenas viajando. Nada mais, nada menos. Nada grandioso como transformar o mundo, ou me iluminar, ou seja lá qual finalidade sublime se possa associar com uma viagem como a minha.

  Entretanto, quando nos libertamos, ao menos em algum grau, dessa “obsessão" por alguma finalidade, coisas maravilhosas ocorrem. No meu caso específico, os presentes que recebi nesta viagem foram extraordinários, e tenho certeza que a minha postura ajudou muito para que eu os percebesse e os aceitasse. É o tibetano dando “olá" para mim, numa forma figurada. 

  Quantos momentos maravilhosos eu pude viver junto com a minha companheira, por causa do meu estado mental e por simplesmente aceitar o momento da minha vida, sem qualquer grande objetivo associado. O leitor mais atento poderá pensar “mas você poderia viver momentos extraordinários ficando em sua cidade”. É claro que poderia, posso, e pretendo vivê-los. Aliás, acho que já venho vivenciado momentos bem agradáveis, entretanto às vezes é um pouco mais difícil, pois a loucura do dia a dia faz com que as pessoas criem certas “armaduras" para enfrentarem os seus cotidianos.  

 É difícil, mas possível. Como as pessoas não estão mais acostumadas, por exemplo, a ser tocadas. Um rapaz que ajudou a resolver um problema de ar-condicionado que estava tendo num dos imóveis foi tão solícito, um profissional tão honesto, que no final ele me disse o valor do serviço e eu apenas respondi “é este valor mais um abraço né?”, ele ficou sem jeito e eu dei um abraço nele, ele ficou super-feliz e ficamos conversando animadamente por uns 30 minutos depois disso. 

 Aliás, como as pessoas deveriam se abraçar mais. Hoje fui cantar numa banda que ensaio de vez em quando, e revi a filha de um amigo depois de mais de dois anos. Uma menina linda de 9 anos. Pedi um abraço de despedida (ela é uma menina muito amorosa), ela me deu um abraço bem forte. Depois de uns cinco segundos, quando já estava soltando do abraço, ela continuou abraçada, e abracei por mais uns segundos. Como crianças podem ser maravilhosas, um exemplo para nós adultos. Só disse para o meu amigo como ele era abençoado com uma filha como aquela, ele apenas assentiu e disse “eu sei!”.


  Por qual motivo eu viajei? E por qual motivo eu faria outra viagem longa? A única resposta que poderia dar seria “Para Viver”. Para observar o mundo, não como alguém que está para julgar o que quer que seja, mas apenas para observar quão variados nós somos. É claro que julguei, julgo,e continuarei julgando algumas situações, nós humanos somos máquinas de julgamento ambulante. Porém, se conseguimos nos despir um pouco de pré-conceitos, e apenas observar o mundo de coração aberto, uau, que experiência fantástica pode ser.


Na cidade monastério de Xiahe na província de Gansu. Tivemos o privilégio de ver esse treinamento de "argumentação". Centenas de aprendizes de monge ficam em pares e começam a discutir, trocando argumentos. O que está de pé aparentemente tem a função de "furar" o argumento do outro, e quando se consegue isso, ele faz um movimento de dar um tapa na própria mão em direção ao outro sentado. É uma experiência interessantíssima. Esta foi a cidade onde o Italiano do texto estava encontrando "dificuldades" de ver beleza.


Um grande abraço a todos!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

GESTÃO ATIVA X GESTÃO PASSIVA: QUEM ESTÁ CERTO?

Olá, colegas. Se há um assunto financeiro que causa emoções na blogosfera de finanças é o debate entre gestão passiva x gestão ativa de patrimônio. Sério, já vi discussões ferozes a respeito do tema em alguns espaços, descambando até mesmo para simples choques de egos. Sim, o assunto traz à tona não apenas finanças, mas também egos.

 “Por qual motivo egos, Soul?”, chegarei lá. Para prosseguir é bom que se defina o que entendo como gestão passiva e por gestão ativa. Antes de mais nada, ninguém faz gestão puramente passiva com todo o seu patrimônio. Repito: NINGUÉM. Nunca li isto escrito em língua portuguesa, mas a definição de gestão passiva  que acho mais acertada é aquela que a expressa como a forma de se obter o retorno oferecido pelo mercado. E o que seria isso?

  O retorno de mercado é o que um determinado mercado oferece de retorno num determinado período. O Portfólio de Mercado, termo utilizado por vários doutrinadores estrangeiros, é aquele que tenta espelhar o mercado como um todo. Se a capitalização do mercado acionário mundial como um todo corresponde a 50% dos EUA e 20% da Europa, por exemplo, um portfólio de mercado é aquele que tentará dar  peso de 50% para o mercado americano e 20% ao mercado acionário Europeu na sua composição.

 Se por seu turno, o mercado acionário mundial corresponde a 25% do total da capitalização dos ativos financeiros do mundo, o Portfólio de Mercado tentará ter 25% do seu peso investido em ações. Isso seria a gestão passiva por excelência, um investidor teórico com um Portfólio de Mercado obteria retornos idênticos ou muito parecidos com o que o mercado como um todo oferece.

  Porém, dá para perceber que montar um Portfólio de Mercado é quase que impossível para o investidor amador. Além do mais, preferências, receios, e características pessoais, fazem com que os investidores tenham alocações diferentes das do peso do mercado. Logo, se os Fundos Imobiliários Brasileiros correspondem a 2% da capitalização de instrumentos financeiros negociados na bolsa brasileira, quem possui uma alocação de 30% em FII no total do seu patrimônio não está fazendo gestão passiva na acepção correta do termo.

  Portanto, gestão passiva não se confunde necessariamente com não movimentar o seu patrimônio, conhecido tecnicamente como turnover, mas sim com se contentar com retornos oferecidos pelo mercado como um todo. Ninguém faz 100% de gestão passiva, mas é possível diminuir o grau de “atividade” de um determinado portfólio.

  Gestão Ativa, por seu turno, é a não aceitação dos retornos oferecidos pelo mercado. É a tentativa de obter retornos em excesso a um determinado mercado. 

  Este talvez seja um dos temas mais vivos e intensos em debate no mundo das finanças nas últimas décadas. Pode o mercado ser batido? Há técnicas que garantem retornos acima do mercado? 

  Não há concordância absoluta neste campo, mas, ao contrário do que erroneamente é afirmado em alguns escritos, há sim algumas ideias convergentes no mundo da prática e da academia no tocante ao tema. Esse assunto interessante foi abordado de forma muito bacana pelo gestor do fundo Hedge AQR chamado Cliff Asness

Estou ficando parecido com o Careca Cliff


 A primeira vez que ouvi falar dele foi lendo um livro chamado “Mentes Brilhantes, Rombos Bilionários”. Ele era um dos personagens da trama, mas para mim ele parecia mais uma personagem ficcional. Qual não foi a minha surpresa quando comecei a ler alguns artigos dele. Pensei comigo mesmo “poxa, esse cara é de carne e osso, ele realmente existe, não é apenas um Quant brilhante ficcional de um livro sobre o mundo financeiro”.

Um Livro Interessante


  Ele escreveu um artigo chamado “The Great Divide over Market Efficiency” , onde presta homenagem aos três ganhadores do prêmio “Nobel" (entre aspas, pois não há Nobel de economia propriamente dito) do ano de 2013:  Eugene F. Fama, Lars Peter Hansen e Robert J. Shiller.

  Hansen, eu confesso que não conhecia. O trabalho de Eugene Fama, parte dele ao menos,  já foi inclusive abordado neste blog num artigo escrito a respeito dele no início de 2014, que teve poucas visualizações, mas acho um dos bons artigos financeiros deste espaço: Ações: Os Três Fatores de Risco de Fama e French.  

 Ele é um dos proponentes da Teoria dos Mercados Eficientes. Schiller, por seu turno, é conhecido pela expressão “Exuberância Irracional”, nome de um ótimo livro escrito por ele o qual eu recomendo, onde ele tenta fazer uma anatomia de por quais motivos bolhas de ativos ocorrem. Obviamente, as ideias de Fama e Schiller são antagônicas, ao menos se analisadas de forma apressada e superficial.

Este é um excelente livro não só sobre investimentos, mas sobre como nós humanos agimos em determinadas circunstâncias


 O simples fato de dividirem o prêmio para duas pessoas que pensam de forma tão diferente sobre precificação de ativos financeiros só faz ecoar como um sino o alerta sempre dado por este Blog de que só evoluímos quando discutimos e quando somos desafiados por ideias diferentes das nossas. Sobre este aspecto, a atitude dos organizadores da premiação é de tirar o chapéu.

O Sr. Mercados Eficientes Eugene Fama

E o cabeludo Schiller


  A grande verdade é que as ideias dos dois personagens foram, são e talvez continuem sendo muito importante para a análise de finanças. A Teoria dos Mercados Eficientes basicamente diz que toda informação é convertida rapidamente em preço. Quanto mais maduro um mercado, mais atores há processando cada pedaço novo de informação. O preço de mercado de um ativo nada mais é do que um reflexo de diversos agentes processando as informações e chegando num preço de equilíbrio. Sobre esta perspectiva, tentar encontrar algum valor intrínseco num determinado ativo, ou seja alguma “barganha”, é pura perda de tempo.

  Evidentemente, essa análise tomada a ferro e fogo não é correta. Se assim fosse, como explicar a formação de bolhas fenomenais como a dos ativos japoneses na década de 80. Teria algum sentido o terreno onde está o palácio do imperador em Tóquio valer quase que a totalidade de todos os imóveis da Califórnia como ocorreu na década de 80? Parece que não. Neste ponto, entra Schiller dizendo que os investidores agem irracionalmente, fazendo com que os preços dos ativos possam flutuar muito para mais e para menos em relação a um valor que um investidor racional poderia apontar como correto em relação a um ativo.

  As bolhas existem, exemplos de crash e euforias abundam pelo mundo, parece evidente que os mercados não são eficientes, ao menos não a todo tempo. Essa última expressão é que faz toda diferença do mundo. 

 Não, os mercados não são eficientes e racionais a todo tempo, porém eles também não se comportam de forma irracional a todo tempo. Pelo contrário, talvez os períodos de irracionalidade são a exceção, não a regra. Se não se pode aceitar a teoria dos mercados eficientes em sua plenitude, sob pena de se negar a realidade, também não se pode aceitar que os mercados a todo o tempo estão a precificar ativos financeiros baseados em impulsos irracionais dos seres humanos, e não em técnicas racionais de avaliação de ativos.

 O que eu acho pessoalmente? Eu aprendi muito lendo artigos acadêmicos de sujeitos como o Eugene Fama. Uma vez um blogueiro me perguntou se não era uma perda de tempo ler um livro como o “Expected Returns”, se isso serviria para alguma coisa. Hoje, eu percebo como valeu, e como consigo navegar nos mais diversos temas de finanças porque me esforcei a tentar entender os trabalhos acadêmicos que apontavam numa direção de “maior racionalidade” do mercado.  

Um verdadeiro compêndio. Livro grande e longo de letras miúdas. De longe o melhor livro sobre finanças que já vi na minha vida. É uma verdadeira aula capítulo após capítulo. Não consegui ler todo o livro, devo ter lido uns 75%, e sempre penso em recomeçar a ler novamente. Quando vejo artigos citando o livro do Siegel "Ações para o Longo Prazo" como um marco nos livros de investimentos, apenas constato como há ainda pouco acesso à  informação de qualidade técnica mais densa em língua portuguesa.


 Não se enganem, quanto mais maduro e líquido um mercado, mais difícil é obter qualquer retorno em excesso a este mesmo mercado. W.Buffett que o diga, pois nos últimos 7-8 anos o valor patrimonial das ações da Berkshire vem constantemente perdendo para o S&P500. Talvez aqui pese o fato da empresa ter ficado grande demais, ficando muito difícil ter retornos em excesso.

 Há muita gente competente e inteligente tentando ganhar dinheiro em excesso do mercado. Isso acaba gerando muita competição, e onde há muita competição, invariavelmente os lucros são menores. É assim que vejo os mercados financeiros hoje em dia, muita competição de pessoas muito boas, tornando lucros em excesso cada vez mais difíceis.

  Por seu turno, não posso negar que em determinados momentos o mercado fica eufórico e depressivo, talvez passando do limite para mais ou para menos por uma boa margem. Isso é muito mais normal em mercados mais voláteis e não tão líquidos como o Brasileiro. Como disse em outro artigo, eu creio ser muito mais fácil ver quando algo está “barato" do que quando algo está começando a ficar “caro demais”. Porém, isso é apenas um achismo meu.

 Assim sendo, eu creio que os mercados são instrumentos muito bons para precificar ativos financeiros. Eu creio que investidores amadores devem cada vez mais partir para gestões mais passivas de portfólio e se contentar com retornos de mercado. Tentar bater o mercado é uma atividade difícil, que consome tempo e energia. 

 Entretanto, o nosso mercado nacional é muito mais volátil do que mercados mais consolidados. O nosso sistema político, que aparentava estar dando passos para solidez, se mostra ainda frágil, ocasionando toda uma miríade de incertezas. Portanto, é inegável que podem aparecer oportunidades ao longo dos anos.

  O Brasil, com os seus juros reais altos, é o país ideal para ser conservador na maior parte do tempo e muito agressivo em algumas oportunidades. Com instrumentos de liquidez imediata, sem risco de oscilação negativa, e pagando juros reais razoáveis de 4 a 6% aa, o nosso país faz com que não seja custoso guardar uma certa quantidade de dinheiro para comprar determinados ativos em determinadas épocas.

 Nos EUA, se alguém quer ficar líquido sem risco de oscilação negativa, tem que se contentar com retornos de 0.5-0.75% aa. Ora, se a pessoa resolver ficar líquida muito cedo ou por um período mais longo, o custo de oportunidade é gigantesco. Isso não acontece com investidores no Brasil. Quando essa ficha caiu para mim , a minha estratégia ficou muito mais clara.

 Por isso colegas, a minha conclusão deste texto é que tanto a ideia de mercado eficientes, bem como o argumento contrário de investidores irracionais guiando o preço dos ativos, são argumentos válidos e interessantes, mas incompletos se analisados separadamente, ou se defendidos como única verdade. Eu creio que este é um dos tópicos onde realmente a posição mais acertada está em algum ponto no meio destas duas vertentes.  

 Entretanto, é fato mais do que comprovado que os retornos dos mercados são difíceis de serem superados até mesmo por investidores profissionais, o que dirá de investidores amadores. Sendo assim, creio que cada investidor deve fazer uma profunda auto-crítica para saber se realmente vale a pena investir tempo e energia na busca de retornos em excesso. No Brasil, ao menos, temos instrumentos de renda fixa que são líquidos, não possuem potencial de rentabilidade nominal negativa e ainda pagam altos juros reais. Se realmente quer tentar ganhar dinheiro em excesso ao mercado, utilize-se destes instrumentos financeiros como reserva de liquidez.

  "E onde entra o ego nisso tudo Soul? você disse que iria chegar neste ponto no primeiro parágrafo". Claro, querido leitor. Coloque na sua cabeça que finanças pessoais é apenas um meio. É um meio para que você alcance outros objetivos. Não faça das finanças uma questão de ego. "Ah, acertei a compra de um ativo, sou muito bom" ou "ah, essa ideia que tenho parece não fazer muito sentido, mas eu não posso estar errado". O Ego inflado ou ferido na vida não costuma ser boa coisa. Nas finanças pessoais, é receita para o desastre.

  Quantos egos feridos ou inflados eu não acompanhei em algumas discussões sobre finanças. Lembro de um episódio acontecido nesta  última "crise" nos FII no começo de 2016. Num grupo de discussão, havia algumas pessoas falando que estavam enchendo o balde, e comprando um monte de FII, na "oportunidade da década". Porém, alguns meses antes eu via as mesmas pessoas dizendo que estavam 100% investidas em FII e estavam satisfeitas.  Se elas há poucos meses estavam 100% investidas em FII, de onde estava saindo o dinheiro para comprar mais FII a não ser dos aportes regulares, que a depender do tamanho do patrimônio não significa muita coisa? Fiz essa pergunta, e alguns egos ficaram feridos. 

 Na verdade, a gestão ativa, o sabor de dizer que acertou e ganhou dinheiro com alguma coisa ao contrário de muitas outras pessoas que perderam dinheiro ou alguma oportunidade, é algo de extrema importância para muitos investidores.

  Não seja uma dessas pessoas, prezado leitor. As finanças pessoais para investidores amadores não é uma corrida contra outras pessoas. Se você quer economizar para dar uma volta ao mundo de um ano, o que isso tem a ver com uma pessoa que está economizando para pagar a universidade no exterior para um filho? Nada. 

 São pessoas diversas, com caminhos diversos e objetivos diversos. Quase sempre o único adversário na caminhada financeira é a própria pessoa, não os outros. Se assim o é, não há qualquer motivo de ordem racional para termos egos inflados ou feridos por causa de gestão de patrimônio, apenas motivos de ordem irracional (xi, cai na discussão gestão ativa x gestão passiva novamente!)

  Um grande abraço a todos!


sábado, 21 de janeiro de 2017

MAGNÍFICO. SOBERBO. HUMAN.


 O que dizer sobre o que penso sobre a nossa espécie e o nosso mundo? Como transmitir o que senti nos quase dois anos que passei viajando? É possível dizer o que pensei e penso sobre o que vi e experimentei? 

  Dormir com nômades na Mongólia, passar uma semana na moderna Hong Kong com amigos que nos fizeram sentir como ser grato é algo incrível, dirigir motos por estradas mais remotas no Laos e Camboja, Surfar nas incríveis Mentawaii na Indonésia, percorrer a imensidão do território russo de trem, passar mais de um mês em regiões tibetanas fora do Tibet presenciando duelos argumentativos de centenas de aprendizes de monges, andar de 4x4 nos montanhosos Tajiquistão e Quirguistão, compartilhar uma semana com uma linda família em Sydney, compartilhar uma semana com uma linda família em Melbourne, acampar sobre as estrelas do deserto australiano, sair de noite numa trilha no meio da floresta em Bornéu ouvir a cacofonia ensurdecedora de sons de animais e ver cobras, formigas de 6-7 cm e aranhas gigantes, subir num lago congelado de mais de cinco mil metros de altitude sem qualquer ser humano num raio de 10 km, ser tratado como rei por uma família tradicional iraniana,  e dezenas e mais dezenas de outras experiências.

  É possível transmitir tudo isso? "Como foi a viagem? Qual país você mais gostou? O que você comeu de diferente?  Qual foi a maior roubada? " São perguntas que ouço com frequência. Elas são válidas e posso entender o motivo de conhecidos fazê-las. Eu respondo, interajo com as pessoas, e como está sendo bom interagir com as pessoas nessa volta ao meu país. Porém, essas perguntas não arranham nem de perto o que gostaria de falar sobre a minha experiência. 

  HUMAN. Sim, humanos, todos nós somos. É o nome de um documentário dividido em três partes. São algo em torno de 4 horas e meia de filme. Não tenho palavras para descrever. É estupendo, magnífico, arte, paixão, alegria, tristeza, lindo, tudo ao mesmo tempo. É primoroso, é, é…, absolutamente magnífico.


ESPETACULAR

  O que eu sinto pelo mundo, como gostaria de contar a minha experiência, como acharia bom interagir com outros humanos é descrito nos três volumes do documentário. Não posso explicar em palavras, nem  sei se é possível racionalizar (algumas partes talvez, e é o que tento fazer neste blog), mas a sensibilidade do criador do documentário transformou em imagens o que talvez eu não seja capaz de transmitir em palavras.

  A primeira entrevista talvez seja uma das mais fortes das três partes. É algo que coloca em perspectiva todo o ódio que possamos sentir, algo tão presente em nosso país, e por que não dizer no mundo. Aliás, a segunda parte com entrevistas de combatentes, e sobre o impacto profundo que a humanização do inimigo teve na percepção deles sobre a própria guerra, algo muito marcante. 

  Não é novo, eu mesmo neste blog já contei a história, que por sua vez ouvi do meu pai, sobre quando um soldado russo ia enfiar a baioneta num soldado japonês que estava caído no chão (Japão e Rússia entraram em guerra em 1905, foi a primeira vez que uma potência européia perdeu um confronto militar para outro país não-europeu) e percebeu que o soldado tombado deixou uma lágrima cair dos seus olhos. Ao perceber este fato, o soldado russo percebeu que aquele inimigo não era muito diferente dele mesmo e questionou o ato de matar o suposto "inimigo". Será que ele realmente seria um inimigo?

  Não, não somos tão diferentes. O ódio só prevalece quando encontramos diferenças onde elas não existem. Ao ver tantos rostos diferentes, tantas imagens sublimes do nosso planeta, apenas uma pergunta fica no ar: por qual motivo não nos amamos mais, se temos tantas coisas em comum?

  HUMAN é um filme que trata sobre temas como refugiados, violência contra mulheres, pobreza extrema, fome, ódio, amor, felicidade, sentido da vida (aliás, a última entrevista do menino africano sobre qual é o sentido da vida, até arrepia de ver algo tão profundo sair da boca de uma criança que provavelmente tem uma vida sofrida), filhos, sexo, dor, redenção, rejeição a deficientes, e muitos outros temas. Na verdade, HUMAN é um filme sobre eu, você, seus filhos, é  um filme sobre e para nós mesmos.

 As imagens aéreas são de uma beleza indescritível, olhar uma estupenda filmagem aérea de crianças mongóis cavalgando como verdadeiros cavaleiros cavalos semi-selvagens e saber que experimentei isso algumas vezes, nossa, foi bem emocionante. As expressões faciais de muitas pessoas são indescritíveis. Como nós somos belos. 

  Obrigado, muito obrigado, é o que tenho dizer a um colega  anônimo que nos comentários me recomendou este documentário, e obrigado pela minha companheira por insistir para que víssemos (ela já tinha visto) as três partes.  Não lembro de ter visto nenhum documentário tão fantástico como este durante minha vida, e com certeza assistirei novamente.

  Forte abraço em todos!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A "PERDA FIXA", O OTIMISMO BRASILEIRO E MAIS UMA VEZ OS ERROS DE JULGAMENTO

O ano é 2015. O mês é dezembro. É oficial, o Brasil está prestes a acabar. O calote é iminente, a dominância fiscal é um fato (um conceito econômico que significa que a política monetária perde o seu poder de fogo, frente a um quadro fiscal deteriorado), os FII serão tributados e o PT se tornou uma espécie de III Reich com o seu plano de governar por 1000 anos um país que existe apenas há algumas centenas de anos.

Ah, esqueci do dólar a mais de R$4,00, e vi blogueiros e articulistas mais famosos falando que era questão de tempo para chegar a R$5,00. Por qual motivo chegaria a R$5,00? Foi uma pergunta que fiz uma vez, e recebi a resposta de que a razão era porque o PT quebrou o país. Quem investiu no Dólar a R$2,80, ou em patamares menores, dava um sorriso leve de ter acertado o momento certo. Quem investe no exterior comemorava rentabilidades extraordinárias, fruto de um conhecimento aprofundado das dinâmicas do mercado, alguns poderiam pensar.

 Eu escrevi um artigo chamado O Brasil Acabou Evidentemente, era uma ironia, e eu colocava algumas reflexões sobre o que pensar a respeito do nosso país. O artigo foi escrito em meados de fevereiro de 2016. Títulos pré-fixados pagando 17%, NTN-B chegando a 8%, vários FII pagando 1%am, Banco do Brasil sendo negociado a R$12,xx, a um PL 2, e um patrimônio líquido Negativo, pois só as participações acionárias do Banco em outras empresas listadas em bolsa já dava mais do que R$12,00 por ação.  O meu pai me disse que Bonds perpétuos com call em 2024 do Banco do Brasil com cupom de 9%aa em dólar estavam sendo negociados a 40% do valor de face, ou seja estavam pagando 20%aa em dólar. Era o armagedon. Não foi há 10 anos, não foi na época da eleição do Lula em 2002, foi há menos de um ano.

  E o que ocorreu no ano de 2016, a derrocada financeira de tudo no Brasil? Quase, os analistas foram quase precisos nesta. A curva de juros futuro se inverteu numa queda acentuada. A inflação cedeu, vários FII voltaram a patamares de 0.7%am (o que indica uma valoração acentuada da quota) e o “falido BB teve um retorno de 100% em alguns meses. E quem comprou Bonds Perpétuos do BB , acumula ganhos de capital na ordem de 100% e 20% de juros em dólar. Sim, a renda fixa é claramente uma perda fixa.

 O que acontece, colegas? E o que vai continuar acontecendo? A mesma coisa que sempre ocorre potencializado pelos  meios de informação mais democratizados: a grande maioria das pessoas irá superestimar suas capacidades analíticas analisando o passado com lentes do presente e darão mais preponderância ao passado recente.

  Isso tem nome técnico. Chama-se Hindsight Bias, já tratado em artigo deste Blog O que os Jornais de 20 anos atrás podem nos ensinar?, e Recency Bias. No primeiro, analisa-se os acontecimentos passados já se sabendo o que ocorreu (não se analisa o passado baseado nas informações que existiam no passado), o que faz com que tudo se torne “explicável”. O escritor Nicolas Taleb chama isso de a falácia lúdica: a criação de histórias que façam o passado se tornar muito mais inteligível do que ele realmente é.

  Já o Recency Bias, nada mais é do que darmos mais força a informação mais atual do que a uma informação mais antiga. Está em todo o lugar. Quando me perguntavam sobre o dólar, se eu acreditava indo a R$5,00, eu apenas dizia que isso me cheirava a Recency Bias cumulado com desconhecimento total sobre os fundamentos do comportamento do câmbio no médio-longo prazo.

  No artigo Câmbio, O Princípio Fundamental , eu compilei diversos dados, de diversas moedas, mostrando que o ganho real entre moedas é basicamente nulo no longo prazo, o que apenas confirma a teoria de que o câmbio em períodos maiores de tempo apenas reflete o poder de compra das moedas. 

  Quem tem contas em reais, e estava investido fora em 2016, provavelmente tem rentabilidades negativas em reais, enquanto quem investe apenas aqui no Brasil deve ter fortes rentabilidades positivas. Isso quer dizer que investir no exterior é ruim?

  Toda vez que eu ouço esse tipo de pergunta, eu preciso respirar fundo e compreender que o grau de interpretação de alguns às vezes não é tão, diríamos, refinado. Em 2014, escrevi um artigo sobre Fundos Imobiliários de Papel. Foi um bom artigo, que penso em revistá-lo, melhorá-lo e publicá-lo de novo, quem sabe num livro. O artigo tem quase dois anos e meio, mas ainda recebe visitas e comentários, o que é algo bem bacana. Pode ser acessado em Fundos Imobiliários de Papel: Abrindo a Caixa de Pandora

  Quando coloquei esse artigo no Tetzner, tinha um camarada que simplesmente parou de conversar comigo, e dizia que o investimento em Fundos de Papel era um bom negócio e que não era essa “porcaria" que o meu artigo retratava. O artigo em questão, se você se der o trabalho de ler, apenas tentava explicar a complexidade dos papéis, e alertava que eram mais arriscados do que certos investimentos em renda fixa, e por isso deveriam ser adequadamente remunerados. Nada mais, nada menos.

  Hoje em dia se pode investir em muitas coisas, muitas mesmo. Quer investir numa empresa de tecnologia? Torne-se um investidor anjo. Quer comprar investimentos de dívida atrelados ao mercado imobiliário e com precificação um pouco mais complexa? Vá de Fundos Imobiliários de Papel. Quer ser sócio operacional de uma padaria? Procure os classificados ou alguém que possa te vender o negócio. Quer investir no crescimento da Mongólia? Compre um ETF da Mongólia (sim, eu já pesquisei e há um que abrange Mongólia e Ásia Central com 0,75% aa de taxa de administração). 

 Compre o que você quiser, apenas entenda um pouco o funcionamento básico do ativo, os riscos prováveis, e dependendo do que for exija um prêmio de risco que seja adequado. 

  Sendo assim, os comentários do leitor do Tetzner, e a pergunta retórica desse texto de se investir no exterior é ruim, não fazem sentido. FII de papel não é bom, nem ruim, ele pode estar bom, e ele pode estar ruim, dependendo do prêmio de risco associado. Assim como comprar títulos seguros do Governo da Suíça pode ser bom ou ruim, no meu entendimento pagando juros nominais negativos, como é atualmente, não é um bom investimento.

  Podemos encarar tudo e qualquer investimento sobre essa ótica. Franquias, FII, ações, ETFs, barracos em favela, imóveis em leilão, etc, etc.


  Logo, se quer investir no exterior, tem que saber que há dois riscos: o da classe de ativo investida (e se escolher o ativo individualmente, o risco não-sistêmico também), bem como o risco cambial. Isso é tão importante, que há diversos trabalhos comparando a exposição ao mercado de renda fixa estrangeiro, na ótica de um investidor americano,  com hedge contra variação cambial ou não. Há um paper da Vanguard que trata apenas disso (Global Fixed Income: considerations for U.S. investors).

  Ao invés de sairmos por aí fazendo análises apressadas que nada mais são do que erros de julgamento como os dois apontados neste texto, vamos tentar parar e refletir sobre o que estamos fazendo. Se há uma coisa que venho aprendendo, é que é muito mais fácil perceber quando algo está barato, do que quando algo está razoavelmente precificado ou não.

  A verdade é que o Brasil estava quase de graça em fevereiro de 2016 em dólares. Isso não era tão difícil de perceber, e até eu percebi em certa medida. Tanto que foi o único mês que comprei ações e FII no último ano. Infelizmente, como estava no Laos na época, não consegui alocar muito dinheiro, pois meus procuradores no Brasil não estavam disponíveis para transferir dinheiro do Banco para a corretora e depois disso me perdi pela China por quase 4 meses onde nem acesso a internet livre se tinha muito. Se comprei 20k que tinha parado na conta da corretora de dividendos e recebimentos de aluguéis de FII foi muito.

 Agora, é muito mais difícil analisar se algo está se tornando sobreprecificado, se há otimismo exagerado ou não. Há otimismo no Brasil? Aparentemente, nos mercados financeiros sim. Porém, os juros reais ainda são muito altos, um dos maiores do mundo, yields em FII ainda são bem razoáveis, ainda mais levando em conta a isenção tributária, que fica difícil dizer se há euforia desmedida ou apenas se os prêmios estão voltando para o lugar correto.

  Porém, assim como em 2014 ninguém estava dando bola para Lava-Jato (e para mim na época era o maior desafio de 2015, sem Hindsight Bias nos comentários hein), eu acredito que estão dando pouca importância as 77 delações da Odebretch e o impacto devastador que isso pode ter no nosso sistema político. O julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, e a possibilidade de um candidato radicalizado ter chances reais em 2018 são considerações que parecem não estarem tendo o seu devido peso nas análises.  

 O governo Temer, tão ou mais do que o da Dilma, está afundado em denúncias e mais denúncias de corrupção. Fica difícil imaginar que ele se mantenha no poder com baixa popularidade, menor do que a Dilma, e denúncias graves aos montes de corrupção quando revelarem o teor das delações. Para mim, está mais do que claro que houve e ainda há indignação seletiva, o que é terrível para se construir um país forte.

 Por isso, mantenho cautela em investimentos, com boa parte  do meu patrimônio atrelada ao CDI, mesmo com juros caindo. Um lado muito bom desse otimismo, e queda dos juros, é que os imóveis talvez comecem a ficar mais atrativos de novo. 

 São cinco imóveis meus que estão ou comprados, ou em vias de, ou ao menos com alguma proposta pendente que se melhorar um pouco, eu liquido a operação. Isso me deu ânimo para comprar mais dois em dezembro, e estou de olho em mais três nessa semana. Na verdade, ambiente de juros baixo é bom para mim, minhas rentabilidades potenciais são bem maiores. Ambiente de juros altos também é bom para mim, pois os ativos ficam mais baratos.

 Como assim, qualquer ambiente é bom? Sim, tendo capital acumulado, tendo instrumentos de renda fixa com juros reais de 4-5% ao ano e com liquidez imediata,  sendo genuinamente satisfeito com baixas despesas e uma vida mais simplificada, proporciona a habilidade de navegar de forma tranquila em vários cenários. Apenas em cenários de descontrole como Venezuela, ou de caos absoluto como Síria, é que há grandes problemas. E é por isso que faz sentido se expor a retornos menores, risco cambial , investido no exterior.

 É isso, colegas. Reflitam por si sós. Façam isso buscando os fundamentos. Deixem de lados análises complexas, e foquem no essencial das questões. Apenas depois de uma compreensão maior dos fundamentos, se torna  possível ter análises mais complexas.

  Abraço! 


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

UM MUNDO SEDENTO POR ATENÇÃO SINCERA. UM DIA DE BLABACAR, SOFRIMENTO, INDIFERENÇA E BEBÊS.


 Olá, colegas. Sabe como ficaria um título mais atrativo? “Minha Experiência com o Blabacar: prós e contras”. Utilizaria a palavra blablacar algumas vezes, algumas técnicas de SEO, e quem sabe o artigo não iria trazer muitos mais acessos para este pequeno blog. Não tenho dúvidas que seria válido para muitas pessoas, mas de certa forma não seria eu escrevendo. Vou além, eu não poderia passar tantas percepções que podem parecer desconexas num primeiro momento, mas que fazem todo o sentido quando olhadas em seu conjunto.

 Eu ouvi falar sobre o Blablacar numa palestra que vi no google talks (valeu a dica Frugal) sobre shared economy. Basicamente, é um aplicativo que conecta “caroneiros" de uma cidade a outra. Se você está indo de Paris a Bruxelas de carro , por que não dividir as despesas com outras pessoas que querem fazer o mesmo percurso? Ideia simples, mas poderosa. 

 Eu sou muito acostumado com este tipo de transporte, mas para a esmagadora maioria das pessoas o compartilhamento de um transporte como o carro é algo no mínimo diferente. Como precisei vir a Porto Alegre por motivos de ordem pessoal da noite para o dia, fiquei feliz ao saber que o Blablacar já tinha chegado ao Brasil. Resolvi tentar, até porque era algo em torno de 30% mais barato do que um ônibus.

 Depois de fazer a reserva, tive acesso ao telefone da motorista e mandei uma mensagem perguntando se ela não podia me pegar em casa. Ela concordou, e seis da manhã estava em pé na frente de onde moro esperando-a chegar. A partir daqui o artigo começa a ficar interessante, pelo menos na minha percepção.

  Ela tinha se perdido e passado a entrada da minha rua, fui então andando em direção à rodovia principal, não sem antes pedir carona para um tiozinho que estava passando pela rua. Ele queria me levar longe, mas disse que até a esquina estava bom. Poucos segundos depois, chega a motorista com cara de poucos amigos. Pensei comigo mesmo “Xi, a mulher está brava”. 

 O motorista é aquela pessoa que terá a sua vida literalmente nas mãos dele. Nunca discuto com nenhum motorista de qualquer tipo de transporte. Pelo contrário, sempre, e eu digo sempre, elogio o  condutor, principalmente quando chego em segurança no destino final. Logo, minha missão seria acalmá-la. 

 Nós tínhamos que buscar uma menina que morava no mesmo bairro que eu. Enquanto ia guiando-a, ela ia me contanto uma história que tinha brigado com o namorado, que os dois faziam UBER e resolveram vir a Florianópolis tirar um dinheiro, que dormiram no carro, mesmo com eles dentro tentaram invadir o carro, que o namorado tinha gritado com ela, ou seja a mulher estava com os nervos a flor da pele.

  Enquanto isso, um belíssimo nascer do sol se descortinava, paisagens lindíssimas (onde moro é muito bonito mesmo), mas isso passava despercebido, o que é normal quando estamos estressados com algo, já que deixamos de prestar atenção à realidade e nossa mente apenas divaga nos pretensos problemas que porventura se possa ter.

  Encontramos onde a Lia estava (nome da passageira) e fomos em direção à rodoviária pegar o terceiro passageiro. Aos poucos ia conversando com a motorista, bem como com a Lia, uma gaúcha simpática que fazia biologia, resolveu largar a faculdade, pois tinha se desencantado com o mundo acadêmico,  e hoje trabalha com aromaterapia

 Chegamos à rodoviária, e o terceiro passageiro, Willian, um garoto que tinha ficado na vida louca a noite inteira, estava desabando de sono e com uma paixão recém-descoberta pela ilha da magia. Ele me contou que queria abrir uma Barbearia nos Ingleses (uma praia de Florianópolis). O trio estava completo. O namorado da motorista estava lá, e perguntou a ela se já tinha pegado toda a “carga”, ou seja nós. As palavras moldam nosso mundo e como o enxergamos, tema já abordado em Newspeak, Neve e a Distorção da Realidade. “Carga" amigo? 

  Começamos então a viagem de quase 500km rumo à capital gaúcha. Papo descontraído, a Lia ao saber que eu tinha ido a Mongólia, disse que era um sonho dela ir para lá, contou da sua experiência quando morou na Austrália, perguntou como era a Índia entre outras coisas. A Motorista , por seu turno, disse que se sentia mais relaxada depois de conversar comigo.

 Quando estávamos no meio da viagem, e os dois colegas de viagem estavam dormindo atrás, a motorista começou a ir em conversações mais profundas sobre a vida dela. Por que ela fez isso? Pelo simples motivo que ninguém está mais disposto de ouvir ninguém com a atenção e respeito que a pessoa merece. Infelizmente, estamos ficando cada vez mais surdos.

 A surdez é tão grande que hoje em dia, talvez sempre tenha sido assim mas só posso contar do tempo em que vivo, que quase todos precisam “berrar”. As pessoas berram com seus desejos de carros maiores e mais luxuosos, com seus desejos de mostrar fotos de mulheres exuberantes, com a pretensa indiferença pelos outros, por um foco obsessivo com suas carreiras, etc, etc. Quando mais berramos, mais surdos vamos ficando.

  Ela então contou-me uma história muito pesada sobre o seu ex-marido. Ela era contadora com 17 anos de prática, mas disse que estava difícil arrumar trabalho que não fosse sub-emprego na área. Narrou-me que há uns seis anos largou um emprego estável para acompanhar o marido que tinha acabado de casar. 

 Acontece que o marido era alcoólatra e começou a ser despedido de emprego após emprego, e ele tornou-se violento com ela. Agressões físicas e humilhações. Ela então na estrada começou a chorar, e disse-me que fazia anos que ela não contava essa história para ninguém. Disse para ela ficar tranquila, que tudo já havia passado. Ela então contou “não cheguei no pior”.

  Um certo dia, depois de muito discutirem, o marido dela entrou no quarto onde ela estava, apontou a arma e atirou. Ela me disse que quando viu ele entrando com a arma, algo dentro nela fez com que ela saísse correndo em direção a ele para empurrá-lo. Com esse ato de certa maneira heróico, ela conseguiu que o tiro pegasse apenas de raspão em sua orelha.

  Sim, meus amigos, ela seria assassinada se não fosse o impulso dela. Ela chorou mais uma vez, e apenas a deixei chorar. Depois, ela me confidenciou que o marido, eles ainda não se separaram formalmente, continuou a persegui-la. Eu me perguntei como um cara desses não está preso por tentativa de homicídio por motivo fútil. Coisas do nosso Brasil. 

 Ela, para meu espanto, narrou como os familiares dele ficaram contra ela depois do ocorrido. Se eu tivesse a pior mulher do mundo, que me fizesse muito mal, e eu desse um tiro nela, eu tenho certeza que minha mãe muito provavelmente não olharia mais na minha cara. Como em nome de relações familiares, as pessoas podem simplesmente ignorar atos horrendos? Eu não sei, e nunca consegui entender isso, apesar de estar a par das razões biológicas relacionadas à nossa evolução enquanto espécie.

 Ela depois contou sobre a família, sobre o irmão que tinha falecido com apenas 21 anos, sobre a irmã com a qual tinha relações complicadas, sobre os país que segundo ela nunca tinham feito nenhum elogio (apenas a mãe uma vez que teria dito que ela era muito trabalhadora). No final, ela disse que tinha trocado uma vida estável, com um bom emprego, por um verdadeiro inferno. Hoje, ela estava sem dinheiro, dirigindo o carro do “namorado” pelo UBER pagando R$50,00 de diária, morando de favor com uma amiga que estava brigada, e ela não sabia nem onde ia dormir depois que chegasse a Porto Alegre.

 Sim, foi uma sessão catarse para ela. Ela perguntou minha opinião. Eu comecei a falar sobre conceitos contábeis com ela, como ela tinha que pensar em fluxo de caixa, como deveria estabelecer metas de curto e curtíssimo prazo, mirando objetivos de mais longo prazo. Disse que deveria primeiramente encontrar um canto para ela ter paz de espírito, ou seja, alugar um lugar para ficar, nem que fosse muito simples, e nem que ela tivesse que trabalhar mais e aceitar sub-empregos na área dela. Falei que uma mulher que tem a força de empurrar um homem com arma na mão, possui a força necessária para dar a volta por cima e entrar num ciclo virtuoso.

 Enfim, eu fui um ouvinte que realmente estava interessado na história dela, e isso provavelmente fez um bem tremendo para ela. Depois dessa série de histórias, os outros viajantes acordaram, conversamos mais animadamente e num instante chegamos em Porto Alegre. A motorista fez questão de me deixar na casa de familiares (o combinado era na rodoviária), e me despedi desejando o melhor para ela em sua vida, bem como aos companheiros dessa curta viagem.

  Reencontrei familiares (infelizmente um tio meu faleceu), inclusive minha mãe que veio às pressas de Santos. Mais tarde fui a minha Mãe a um supermercado, pois ela como uma boa Alemã gosta bastante de uma cervejinha e fomos comprar mais latinhas. 

  No caixa a nossa frente, havia um casal de senhores. Minha mãe gosta muito de falar e de sorrir para os outros, mas esse casal simplesmente ignorou-a. Percebi que o Sr. que já tinha cabelos brancos não olhava para a cara da empregada do supermercado. Ela perguntava, ele respondia sem olhar nos olhos dela. 

  Como alguém pode perder isso? Desde quando perdemos a habilidade de olhar nos olhos das pessoas quando somos perguntados? Ao mesmo tempo em que a moça do caixa era quase que ignorada, havia uma criança com pais que estavam acabando de ensacar as compras do mercado. A Senhora era só sorrisos para a criança. 

  Mas a moça do caixa não era apenas um bebê que se desenvolveu e se tornou adulta? Nós todos não somos apenas crianças que crescemos? Por qual motivo somos carinhosos com crianças que não conhecemos, e frios e indiferentes com quem não conhecemos? O que se perde no caminho ao crescermos, ou o que nós perdemos, ou nunca fomos ensinados, ao olhar “bebês crescidos”? 

 É claro que crianças pequenas podem ser encantadoras. Afinal, é uma nova vida, geralmente são muito bonitos. Mas uma criança hoje é o estuprador de crianças do futuro, o político envolvido em esquemas de corrupção, o astro de futebol, o humanitário que vai a regiões sofridas do mundo, o grande investidor, a criança a qual nós olhamos tão efusivamente, somos nós no passado. Na verdade, a criança é nós, e nós somos a criança.

  Ouça mais as pessoas. As pessoas querem apenas um pouco de uma atenção sincera, prezado leitor. As pessoas estão tão sedentas por isso, que elas tentam disfarçar numa camada de indiferença. Ouça mais, querido leitor. Pode ser recompensador para quem fala, e quem escuta.

  E assim termina o meu final de semana. Com dois imóveis, que eu projetava vender apenas em 2019 por essa crise que passa o país, vendidos em apenas um dia, com o tio mais próximo meu não mais compartilhando a terra conosco, com uma forma agradável, bacana, barata de se viajar explorada, com uma história pesada de vida de uma pessoa que só queria ser ouvida e com uma reflexão de por qual motivo não podemos olhar para as pessoas e sentir uma proximidade maior assim como sentimos em relação a crianças bem pequenas.


 Um abraço a todos.

domingo, 8 de janeiro de 2017

O OCASO DAS VIDEOLOCADORAS E A (LEVE)TRISTEZA EM MEU CORAÇÃO.


  Olá, colegas. Ontem foi um dia muito interessante. Muitas coisas diferentes ocorreram, algo muito comum quando se viaja (principalmente se é uma jornada mais longa), mas incomum quando se está em casa e numa certa “rotina”. Por isso, foi bem agradável o dia de ontem. 

 Um dos momentos interessantes foi ter entrado numa videolocadora. “Como assim, Soul? O que isso pode ter de interessante?”. Eu já disse algumas vezes que gosto muito de ver filmes, e por causa disso fazia parte da minha rotina no Brasil alugar filmes uma ou às vezes duas vezes por semana. Sim,  eu sabia que o negócio em questão estava cada vez menor, e que talvez houvesse formas mais eficientes e baratas de se assistir filmes, mas eu gostava do ritual de ir numa loja para escolher um filme.

 Ao voltar para a minha cidade há uma semana, reparei que a viodelocadora que eu frequentava não mais existia. “Que droga!”, pensei comigo mesmo. Resolvi andar pelas ruas do bairro e percebi que outras duas videolocadoras deixaram de existir nestes dois anos que fiquei fora do país. Ainda haveria alguma locadora no meu bairro?

  Pesquisei na internet e aparentemente ainda existia uma a alguns quilômetros de onde moro. Fiz então uma rápida pesquisa na internet, e descobri que 2015-2016 foram os piores anos para esse segmento. O serviço de streaming de prestadores de serviço como o NOW da NET literalmente está acabando com a viabilidade financeiras de videolocadoras.

  Depois de almoçar, dirigi-me à loja. Abri um cadastro e perguntei para o proprietário como ele estava conseguindo se manter. Ele me respondeu que se não fossem pelas bebidas, ele já teria fechado as portas também, que o movimento tinha caído mais de 50% na locação de DVDs. O dono da loja tinha transformado metade da locadora numa loja de bebidas alcoólicas. Nos vinte minutos que fiquei escolhendo três filmes e conversando com ele, passaram uns quatro clientes e todos compraram bebidas, nenhum se interessou pelos filmes ali dispostos.

 Ao ver a situação, ao conversar com o proprietário e ver todos aqueles filmes, tenho que confessar que me bateu um sentimento de tristeza. Lembrei-me de como as videolocadoras me acompanharam por quase todas as fases da minha vida.  

  Da minha  mãe falando comigo ao telefone quando tinha seis anos “Menino, para de assistir esse Indiana Jones, já vamos pagar  uma bela multa por atraso na devolução”, passando pela primeira vez quando adolescente pegando um filme pornô no meio de outros quatro que eu tinha alugado apenas para disfarçar a vergonha,  continuando quando jovem na faculdade ia com colegas assistir algum filme polêmico para podermos discutir depois de fazer o macarrão tradicional da “raça" que consistia em molho branco com presunto, desembocando nas centenas de filmes que assisti junto com a minha companheira nestes últimos anos.

  É, o ato de escolher um filme numa loja física esteve muito presente na minha existência até os dias de hoje. Olhei para os Blu-Ray enfileirados, que já foram DVDs, que já foram VHS, e fiquei triste. Quase uma lágrima escorreu pelos meus olhos. “Está de Brincadeira né Soul, tudo isso por causa de uma videolocadora?”

  Não, colegas, tudo isto pelo sentimento de saudade e nostalgia que à medida que vamos envelhecendo vai ficando mais presente nas nossas vidas. Pensei no meu Pai e Mãe e imaginei se eles sentiam saudades de coisas que não mais existem. Afinal, se é verdade que nós nos tornamos o que experimentamos, parece-me natural que de certa maneira possamos nos sentir entristecidos quando certas referências culturais, arquitetônicas, gastronômicas, etc, etc, deixam de existir.

  Devemos então salvar as videolocadoras? O governo deve intervir? Impedir serviços de streaming?  Evidentemente que não. A mola propulsora de nossa economia, e de parte do nosso desenvolvimento humano, é a inovação. Ora, se eu posso “alugar" um filme no conforto da minha casa, sem precisar me descolar duas vezes para uma loja física, inegavelmente o serviço de aluguel de filmes se tornou muito mais eficiente. Qualquer interferência que não a dos consumidores seria extremamente deletéria.

  A minha reflexão neste artigo não é para negar a realidade, ou mesmo para dizer que o mundo de alguma maneira ficou pior. Nada disso. O nosso desenvolvimento tecnológico a todo tempo está destruindo serviços e produtos e criando outros novos. É a destruição criativa, termo muito utilizado por economistas.

 Além do mais, estamos sempre como indivíduos em constante mudança, assim como a realidade que nos cerca. A única forma de encontrarmos satisfação nessa vida é aceitar esse fato. Nada mais, nada menos.  Esse é talvez um dos maiores ensinamentos que alguém pode aprender na vida, não é à toa que é um dos pilares do Budismo.

  Não é sobre como enriquecer, ou ser mais produtivo, ou mais influente, ou mais generoso, o ensinamento mais poderoso para o  bem-estar humano, e compreensão da vida,  é aceitar que as coisas estão em eterna mudança. 

 O filho cresce, a saúde se debilita, os vizinhos mudam, as profissões se transformam, os ícones morrem, os ícones nascem, e a realidade continua existindo, não importando o que pensamos sobre as mudanças. Podemos nos frustrar, ou podemos aceitar esse aspecto da vida.

  Logo, a tristeza, a nostalgia, que senti ao observar aqueles filmes enfileirados de certa forma é uma maneira de não aceitar a realidade, de forma leve é claro, mas mesmo assim é uma forma de não aceitar a eterna mudança de tudo. 

  Porém, somos humanos, não é mesmo? Podemos chegar perto de compreender e colocar em prática o maior ensinamento para se ter uma vida satisfeita, mas é difícil aplicar em todos os aspectos e a todo tempo. Além do mais, como já dizia a bela música




  Talvez um “caldinho" de nostalgia e tristeza sejam importantes para que possamos realizar algumas tarefas nesta vida. Talvez a tristeza inicial se transforme numa alegria posterior ao percebermos que o que nos causa tristeza por não mais existir hoje, nos causou alegria por existir ontem, e por que não ser grato por isso?


  É isso colegas, um grande abraço!