Olá, colegas. Hoje escrevo sobre um filme. Eu adoro cinema,
é uma das coisas que realmente aprecio. Se eu tiver um dia onde peguei altas ondas,
encontre-me com bons amigos e assisti a um ótimo filme, creio que é muito perto
de um dia ideal, um dia bem vivido. Portanto, eu adoro falar sobre cinema e sobre
as idéias que alguns filmes passam ou representam. Neste artigo, como é costume do meu estilo de
escrita, falarei sobre alguns conceitos que possuo tendo como pano de fundo o
filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”. Não irei fazer uma crítica do filme,
pois eu não possuo muita competência técnica para analisar todas as perspectivas
possíveis da construção de um filme. Além do mais, eu creio que a crítica sobre
cinema algo muito subjetivo, o que é um filme excepcional para mim, pode não
ser para outra pessoa. É apenas uma
reflexão minha.
É um dos melhores filmes de todos os tempos? Não. Interpretações brilhantes? Não. Roteiro extremamente bem construído? Não. Porém, é um filme que nos faz pensar sobre o rumo que damos às nossas vidas, e há cenas e reflexões muito bonitas.
Eu
sou péssimo para descrever objetos ou eventos. Deve ser por isso que eu sempre tirava
notas medianas em narração. Sempre me dei melhor escrevendo textos
dissertativos. Tendo em vista essa minha deficiência, um dos motivos de não
gostar de fazer resenhas de livros, não estenderei muito sobre o roteiro do
filme. Basicamente, a história é sobre um homem (Walter Mitty) que trabalha no
setor de negativos de fotografias da antiga revista LIFE. É um sujeito tímido, que aparentemente possui
dificuldades de relacionamento e está apaixonado por uma colega de trabalho,
mas não consegue se expressar para ela. Uma das formas dele lidar com esse
aparente problema é criar situações imaginárias onde ele realiza atos heroicos
ou de extrema coragem. Nestes momentos, ele fica paralisado, e numa das cenas o
seu chefe fica jogando objetos nele e dizendo “Ground Control to Major Tom”. Eu quando vi a cena não entendi o
motivo, mas ficaria claro no decorrer do filme.
Num
determinado momento da trama , é
anunciado que a revista LIFE deixaria de existir em sua versão impressa. Um
grande fotógrafo então manda uma série de fotos e diz que uma determinada foto
representaria a “quintessência da vida”. O novo diretor então resolve publicar
essa foto como a última capa da versão impressa, porém o negativo da foto some,
e o protagonista do filme se vê numa enrascada. Após alguns
desdobramentos, Walter Mitty é inclinado
a pensar que o fotógrafo poderia estar na Groenlândia. Será que ele, um homem de hábitos simples e extremamente tímido, que nunca fez nada de extraordinário na vida, vai seguir uma pista e ir
até a Groenlândia atrás de uma foto? Isso não seria uma loucura? É aí que surgem
duas cenas muito bacanas e que me motivaram a escrever este artigo.
Lembram-se da
cena onde num dos momentos de paralisia o chefe ficou falando “Ground Control to Major Tom” e da garota
do trabalho pela qual ele estava apaixonado? Pois então. Ela diz que a música sobre a qual o chefe estava tirando sarro dele (eu
não sabia que era parte de uma música), na verdade fala sobre coragem e não ter
medo de se arriscar no desconhecido. A música é simplesmente sensacional. Trata
de um astronauta que está prestes a decolar, e depois de entrar em órbita tem
que dar o passo para fora da nave rumo ao desconhecido. Chama-se Space Oddity e é do David Bowie. Vale
a pena ouvir e refletir sobre a letra.
Uma grande música, uma letra fantástica.
A outra
parte é quando Walter Mitty realmente resolve ir para Groenlândia e partir para
uma aventura desconhecida. A cena mostra então o lema da revista LIFE que é o
seguinte (já coloco traduzido):
“Ver o mundo e os perigos que virão, ver por trás dos muros,
chegar mais perto, encontrar o outro e sentir. Esse é o propósito da vida.”
A frase
é excepcional e traduz muito do que acredito ser uma vida bem vivida. Ver o
mundo é uma das coisas que me fascina, um dos motivos de gostar de viajar
para tantos lugares que boa parte das pessoas descarta. Porém, quando você realmente resolver ver o
mundo, isso necessariamente traz perigos,
pois você sai da sua zona de conforto, daquilo que você está habituado. Sair da
zona de conforto sempre será perigoso, se entendermos perigo como o rompimento
da rotina. A maioria tem medo de cair numa vida rotineira, mas a rotina é uma
forma de proteção nossa contra eventuais percalços da vida. Será que troco de
emprego e se der errado? Será que acabo um relacionamento que não faz mais
sentido? Assim, a rotina é uma forma de nos tranquilizar, ela é muito mais
fácil para o nosso cérebro (ver artigo sobre as duas formas como nosso cérebro
resolve problemas).
Ver por trás dos muros e chegar mais perto,
ou seja, buscar a verdade, o conhecimento.
Isso que torna a nossa vida mais emocionante e completa. Como disse uma
vez Thoreau:
Uma grande verdade para mim. Muito difícil se se conseguir, mas é uma boa utopia a se mirar. Um bom caminho para se trilhar e sempre tentar melhorar nessa direção.
Para
mim não é apenas uma frase bonita, ela para mim significa algo vital: a busca
incessante pela verdade, independente de onde o caminho possa nos levar. A verdade (conhecimento) é tão importante que ela deve se colocar acima da fama,
do ego, do dinheiro. Eu possuo uma admiração enorme por pessoas que conseguem ter esse tipo de postura na vida. Essa para mim, junto com a compaixão, é a característica mais formidável
de um ser humano.
Qual
é a “recompensa” por se arriscar no mundo, e procurar o conhecimento mesmo que
isso traga problemas? Você encontrar o outro e sentir. A nossa
felicidade, a sensação de bem-estar subjetivo, depende muito das nossas relações
com outros seres humanos. Não são ganhos no mercado acionário, um carro
potente, etc, que trarão uma sensação de completude na vida de uma pessoa. Muito
provavelmente uma sensação de satisfação genuína apenas brota quando temos
relacionamentos saudáveis com a nossa família, nossos vizinhos, nossos
compatriotas. Relacionamentos fortes e
saudáveis são só possíveis quando encontramos genuinamente o outro e quando tornamos possível sentir o outro.
Ver
o mundo, enfrentar os perigos do mesmo, procurar o conhecimento, encontrando o
outro e sentido, esse é o propósito da
vida. Numa forma mais protocolar, eu poderia dizer “Nada a Acrescentar”.
Depois
que o inusitado herói parte para Groenlândia, ele se envolve em várias
situações, viaja o mundo, enfrenta perigos, encontra pessoas e realmente as
sente. Nesse processo, obviamente ele muda a si próprio e sua percepção sobre o
mundo. A última cena, quando é revelada a imagem do negativo desaparecido, a “quintessência
da vida”, para mim é algo belíssimo também. Será que é a imagem da Área 51, de uma mulher
lindíssima, de uma paisagem natural espetacular ou de alguma situação que
exprima poder e riqueza? Assista ao filme e descubra.
A música Space Oddity também tem uma parte belíssima onde se canta "O Planeta Terra é azul e não há nada que eu possa fazer". Sim, o nosso planeta é azul. Ele não é capitalista, socialista, americano, chinês, branco, rico ou pobre. Ele é simplesmente azul, e não há nada que possamos fazer a respeito disso. Nesse ponto, é sempre salutar assistir novamente ao excepcional vídeo do Carl Sagan chamado Pale Blue Dot (pálido ponto azul), onde o grande astrônomo faz reflexões sobre uma foto tirada do nosso planeta a uma distância muito grande, que nada mais é do que um pálido ponto azul.
O que falar sobre Carl Sagan e essa belíssima reflexão? Do século passado, ele é uma das pessoas que eu gostaria de apetar a mão.
Espero
que tenham gostado. Grande abraço a todos!