Olá, colegas. Como uma continuação do artigo fundamento - explicando o retorno de um ativo financeiro, hoje abordo um
pouco mais sobre retornos financeiros. Se quiser saber um pouco mais sobre os
fundamentos, sugiro a leitura do artigo supracitado.
Como explicitado, o
retorno de um ativo financeiro basicamente é dado pela seguinte fórmula:
RETORNO
DO ATIVO = (DIVIDENDO + CRESCIMENTO DOS LUCROS) X MUDANÇAS DE
PRECIFICAÇÃO
Vamos analisar mais
detidamente cada um dos elementos dessa fórmula.
1 – DIVIDENDO
Esse é o o
elemento mais fácil, talvez o único que o investidor tem um grande controle. É pelo yield que geralmente se analisa se um
investimento está ou não esticado. Em instrumentos de dívida, ou renda fixa,
esse elemento é o que vai determinar quase todo o retorno do investimento.
Se eu
compro uma Debênture que remunera 12% aa ( deixemos de lado questões
tributárias e supondo que não há mercado secundário para a venda desse título - ou seja sem liquidez e a correspondente marcação a mercado), o retorno do meu
investimento será:
RETORNO ESPERADO = 12% + 0% (não há crescimento de
distribuição) x 1 (ou seja não há alteração na precificação)
RETORNO ESPERADO = 12% aa.
Portanto,
tudo mais constante e idêntico, um ativo com yield de compra maior terá uma expectativa de
retorno maior. É nesse aspecto que a maioria dos investidores amadores se
concentra: a busca por "bons" preços nos ativos.
Para quem gosta de Fundo Imobiliário é comprar fundos com um yield
alto, para quem gosta de títulos indexados a inflação é adquirir com um prêmio
mais alto, e quem gosta de dividendos acionários é comprar um papel com o maior
dividend yield possível.
2 - CRESCIMENTO DOS LUCROS OU DA DISTRIBUIÇÃO
Esse é um ponto mais difícil de
análise. Por qual motivo? Porque ao contrário do yield, ele requer que o
investidor faça estimativas sobre o futuro.
Como funciona a grosso modo com as três grandes classes de ativos
brasileiros?
Renda Fixa – Não há crescimento da distribuição, ou o
crescimento se dá indexado pela inflação (pense numa NTN-B onde a distribuição
é corrigida pela inflação do período).
Imóveis/FII – Em teoria, não há crescimento real das
distribuições. O que quer dizer? Que em períodos maiores de tempo, o aluguel tende
a corrigir pela inflação, ou levemente abaixo ou acima. Não há possibilidade de
grandes crescimentos reais da renda gerada pelo ativo. “Mas Soul, e os FII que
estão diminuindo a renda seja por diminuição dos aluguéis, seja por vacância?”.
É verdade, colega, mas repare que disse que isso é uma tendência e de longo
prazo, ou seja , pelo menos durante um ciclo imobiliário de uns 15-20 anos. Não
podemos nos esquecer que houve forte crescimento real dos aluguéis entre os
anos 2003-2012, e os últimos anos talvez sejam apenas uma correção do excesso, e que se analisarmos no futuro o período de 2003-2022, os aluguéis terão mantido em média o mesmo patamar real.
Ações – Aqui que mora o sonho acalentado de muitos
blogueiros. Uns investem em ações “aristocráticas”, ou seja, que possuem um
histórico de aumento dos lucros, e conseqüentemente aumento dos dividendos, por
décadas. Há aqueles que querem descobrir uma empresa pequena, que tem o
potencial de crescer os lucros 20/30 vezes. Não há dúvida que o mercado
acionário é o tipo de ativo mais indicado para se ter um retorno potencial
maior oriundo do crescimento dos lucros.
É nesse fundamento
que alguns educadores financeiros falam para se concentrar. “É uma empresa que
cresce os lucros de forma consistente durante os anos”, então é uma boa
candidata para compor a sua carteira. É aqui também onde analistas,
profissionais ou não, tentam entender o negócio da empresa, projetar para onde
a companhia pode crescer, onde pode se tornar mais eficiente, tudo isso para
que os lucros aumentem.
Eu tenho sérias
dúvidas sobre a capacidade de investidores amadores analisarem isso. Porém,
tenho que reconhecer que já vi boas análises sobre fundos imobiliários em
grupos de discussão que eventualmente participo. Pessoas que muitos meses antes
faziam análises de que um determinado fundo tinha potencial para aumentar a sua
distribuição, potencial esse que não estava refletido na cota num determinado
momento.
Logo, por mais que
ache difícil, e algo que pode consumir muito o tempo escasso de um investidor,
que antes de tudo é um ser humano com diversos outros interesses, é possível
investidores em alguns casos estimarem com certo grau de acerto o crescimento,
ou eventual decréscimo, dos lucros.
3 - MUDANÇA DE PRECIFICAÇÃO
Porém, é esse o
componente que geralmente traz os maiores ou piores retornos. É atrás disso que os
grandes gestores estão atrás. É isso que o gestor do fundo verde tenta
descobrir. É claro que o Luis Stuhlberger deve analisar o mercado num todo para saber se ele tem
uma tendência de aumentar os lucros/distribuição, e por via de consequência aumentar
os retornos, mas o que ele realmente
quer acertar é mudanças na precificação.
E o
que é isso exatamente? É simplesmente a mudança da relação entre a quantidade
de dinheiro que o mercado quer pagar por uma determinada quantidade de lucro de
uma determinada empresa , de um determinado imóvel para renda, de um
título de dívida soberano, de um setor da economia, ou de um mercado inteiro.
Se
alguém diz que o mercado acionário americano está “bolhudo”, por exemplo, o que na verdade essa pessoa está expressando
é que ela acredita que a quantidade de unidades monetárias que se paga por uma
unidade de lucro não faz mais sentido. No íntimo, ela acredita que essa relação
irá diminuir, irá ocorrer uma mudança na
precificação.
Nesse item, colegas, eu posso dizer
com certa confiança que nunca vi um investidor amador, principalmente em mudanças de
precificação para baixo, acertar em cheio uma mudança. Muitas vezes, talvez na
esmagadora maioria das vezes, é apenas sorte ou azar. O investidor pode cometer um autoengano e sinceramente achar que o seu retorno consistente é devido a uma capacidade
superior de análise, a uma habilidade de analisar dezenas de elementos, e então
fazer um investimento correto. Nada mais
enganoso.
Se
alguém começou a investir em ativos financeiros brasileiros em 2015, ou melhor
ainda no começo de 2016, essa pessoa muito provavelmente terá retornos muito
altos, quase garantido que em excesso ao
CDI, ou a gestores profissionais. Por quê? Ora, houve uma mudança de
precificação nos ativos brasileiros para cima, e quase qualquer ativo que a
pessoa por ventura tenha comprado subiu única e exclusivamente pelo efeito de
mudança de precificação.
Basta
ver os Fundos Imobiliários. Seja com vacância, sem vacância, revisional
negativa ou não, o simples fato é que quase tudo subiu desde 2015, e
principalmente desde o começo do ano de 2016. Ora, se quase tudo subiu, a
capacidade de analisar ativos em separado teve pouca ou nenhuma relevância, o fator
principal de um bom retorno no período foi simplesmente o começo dos investimentos no
momento certo.
É possível que seja por habilidade, mas é difícil imaginar habilidade em alguém com pouco dinheiro e início de investimento, a probabilidade maior é que seja pura aleatoriedade, ou seja sorte, ou Fortuna como diziam os antigos gregos (uma palavra mais bonita realmente).
Por seu turno, alguém que começou a investir no mercado acionário brasileiro em 2012-2013 muito provavelmente terá retornos tímidos se comparados com uma simples aplicação em algum título do tesouro direto. Péssimo investidor? Não soube analisar as peculiaridades de cada empresa ou setor? Não soube escolher boas empresas? Muito provavelmente a simples resposta seria algo como: azar na escolha do momento de começar a investir ou uma má Fortuna.
É possível que seja por habilidade, mas é difícil imaginar habilidade em alguém com pouco dinheiro e início de investimento, a probabilidade maior é que seja pura aleatoriedade, ou seja sorte, ou Fortuna como diziam os antigos gregos (uma palavra mais bonita realmente).
Por seu turno, alguém que começou a investir no mercado acionário brasileiro em 2012-2013 muito provavelmente terá retornos tímidos se comparados com uma simples aplicação em algum título do tesouro direto. Péssimo investidor? Não soube analisar as peculiaridades de cada empresa ou setor? Não soube escolher boas empresas? Muito provavelmente a simples resposta seria algo como: azar na escolha do momento de começar a investir ou uma má Fortuna.
É
muito difícil antever essas mudanças de precificação, principalmente quando se
está com preços não muito destoantes de médias históricas. Por que é difícil?
Bom, porque é simplesmente muito complicado saber os impactos positivos ou
negativos que uma sucessão de eventos podem ter na precificação dos ativos (sem contar os eventos aleatórios, eventos imprevisíveis, etc, etc).
Geralmente, e isso é um erro de julgamento que já foi abordado netse blog HINDSIGHT BIAS (recomendo muito a leitura do artigo), as explicações posteriores fazem todo o sentido de porque uma precificação aumenta ou diminui, mas na hora dos acontecimentos é uma tarefa das mais complexas antever mudanças bruscas de precificação.
Geralmente, e isso é um erro de julgamento que já foi abordado netse blog HINDSIGHT BIAS (recomendo muito a leitura do artigo), as explicações posteriores fazem todo o sentido de porque uma precificação aumenta ou diminui, mas na hora dos acontecimentos é uma tarefa das mais complexas antever mudanças bruscas de precificação.
É
isso, colegas, espero que tenham gostado. Um grande abraço!