domingo, 29 de junho de 2014

IMÓVEIS - EXPECTATIVA REALISTA DE RETORNO NO LONGO PRAZO

     Olá colegas! Estou com muitos temas na cabeça, e originalmente iria escrever sobre renda fixa. Porém, eu vi um comentário sobre a tendência de imóveis e alugueis dobrarem de valor real a cada 10 anos. Tal fato me fez elaborar o presente artigo para mostrar alguns dados históricos, e algumas premissas básicas sobre crescimento reais sustentáveis.

                Primeiramente,   toda vez que se fala em retorno real, está se dizendo um retorno onde a inflação foi descontada,  portanto um  retorno  positivo significa um aumento no poder de compra e se negativo o contrário. Há algumas questões fundamentais sobre a inflação. Primeiramente,  não se subtrai a inflação de um rendimento para saber o rendimento real, a inflação deve ser descontada. É impressionante como até economistas que falam na televisão ou são educadores financeiros famosos às vezes cometem esse erro primário.

A razão é simples amigos. Se houve uma inflação de 10% em um ano e um investimento rendeu 20% no ano, para medirmos o aumento do poder de compra a comparação  deve ser com o final do período onde um valor de R$ 100,00 terá se transformado em poder de compra em R$110,00 (R$100,00 + 10% de inflação). Logo, o valor de R$ 120,00 (R$ 100,00 + 20% de retorno do investimento) deve ser comparado com o valor de R$ 110,00, e isso ocasiona diferenças.

A fórmula para se encontrar a taxa real de um investimento descontando a inflação é a seguinte:
Taxa Real = ( (taxa nominal + 1)/(inflação + 1) – 1

Continuando no exemplo, o retorno real de um investimento que teve rentabilidade em um ano de 20% com uma inflação de 10% é de : Retorno real = ((1+0,2)/(1+0,1)) – 1 = 9%

Portanto, o rendimento real não é de 10% no exemplo dado, o que aconteceria se apenas se subtraísse o rendimento nominal de 20% da inflação de 10%, mas sim 1% a menos. Pode parecer pouco, mas não é, imagine a grande diferença que isso faz num fundo de pensão com bilhões de reais sobre sua administração. Fica claro também que quanto maior a inflação, menor será o rendimento real, portanto um investimento com taxa nominal de 5% e uma inflação de 2% é muito melhor do que um retorno de 20% e uma inflação de 17%. Esse é um dos motivos porque  países com altas taxa de  inflação pagam juros reais maiores, e não apenas juros nominais maiores.

O segundo ponto importante é que os índices oficiais de inflação não refletem necessariamente a perda do poder aquisitivo de uma pessoa ou de uma família específica. Como assim, Soul? Os diversos índices de inflação nada mais são do que séries de números ponderados por algum critério. Ih, Agora complicou. É fácil. Um índice de inflação geralmente possui uma cesta de produtos: vestuário, alimentos, transporte, energia, etc. Cada tipo de produto possui um peso nesse índice, por exemplo, os alimentos podem ter um peso duas vezes maior do que o item transporte, por exemplo. Se a ponderação dos alimentos no total do índice for de 20% (e do item transporte de 10%), quer dizer que a cada alta de 1% nos alimentos corresponderá a um aumento de 0,2% no índice total e uma alta de 1% no item transporte vai afetar o índice em apenas 0,1%.

Soul, como é feita essa composição, como eles determinam o peso de cada variável no índice? Há metodologias, e elas podem ser encontradas no site do IBGE (para o caso de sabermos sobre o índice calculados por essa instituição). Não cabe aqui se discutir as metodologias para ponderação nos índices oficiais de inflação, mas apontar que a ponderação do IPCA pode ter uma estrutura muito diferente dos gastos de um indivíduo. O IPCA possui um item relacionado a mensalidades escolares, se um casal não possui filhos, muito provavelmente um aumento em 50% nas mensalidades não afetará em nada o poder de compra deles, apesar de afetar o índice oficial de inflação.  Se uma pessoa possui um gasto maior do seu orçamento com comida (o que é o caso para a maioria dos pobres), a inflação com o item comida pode ter um peso maior do que na inflação oficial. Isso claramente está ocorrendo com o Brasil, onde o IPCA transita entre 5,5% a 6,5%, mas a inflação de alimentos em 2013 encerrou em 8,5% (http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/01/inflacao-oficial-fecha-2013-em-591-diz-ibge.html) . Portanto, os mais pobres estão sendo penalizados, e não é à toa a queda de popularidade da presidente.

Sendo assim, a medição do poder de compra é algo complexo e intimamente ligado aos indivíduos, porém é inegável que os índices oficiais de inflação, desde que o país seja sério (o que não foi o caso da Argentina que manipulou os seus índices de inflação nos últimos anos) é uma boa aproximação para o poder de compra de uma moeda para indivíduos e famílias.

Depois dessa breve-longa introdução sobre inflação e rentabilidade real, posso falar sobre o tópico central do artigo. O Brasil possui poucos dados sobre o seu mercado imobiliário. Infelizmente, não se tem dados confiáveis para períodos longos de tempo, e alguns dados são evidentemente falhos, como o índice FIP-ZAP que se baseia nos anúncios de venda de imóveis. Apesar destes problemas, há um índice brasileiro que mede razoavelmente bem o comportamento dos preços dos imóveis residenciais no país é o Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados, ou IVG-R publicado pelo Banco Central.

 A maioria das vendas de imóveis no Brasil, até mesmo porque os valores envolvidos são muito altos para a esmagadora maioria dos brasileiros, é vendida por financiamento. É difícil saber exatamente o percentual de imóveis vendidos financiados por instituições financeiras, mas há estimativas que seja de aproximadamente 60%, contra 35% de pagamento à vista e 5% de financiamento do próprio dono do imóvel (http://revista.zap.com.br/imoveis/um-terco-dos-imoveis-vendidos-e-pago-a-vista/, os números são para o mercado de São Paulo).

Portanto é inegável que os imóveis financiados possuem uma grande relevância no mercado residencial brasileiro.  Antes de o banco liberar o financiamento de um imóvel, um especialista, geralmente um engenheiro avaliador, precisa avaliar o valor de mercado de imóvel, pois é o próprio imóvel que servirá de garantia para o banco em caso de inadimplemento dos empréstimos.  O IVG-R mede essas avaliações imobiliárias feitas pelas instituições financeiras ao conceder financiamentos imobiliários. É um índice bom que representa razoavelmente o comportamento de preço dos imóveis residenciais brasileiros. O único problema do índice é que ele remonta apenas há março de 2001, então a janela temporal é muito pequena, o que me leva ao próximo parágrafo.

Como sempre o mercado americano possui muito mais dados do que o brasileiro, quem leu minha série sobre REITs pode perceber isso claramente.  Logo, o mercado americano é um bom ponto de partida para se analisar o comportamento de preço dos imóveis residenciais. Felizmente, os EUA possuem um índice que mede o valor dos imóveis residenciais desde 1890, ou seja mais de 120 anos. É o famoso Case-Shiller index Composite, elaborado pelos economistas Karl Case e o Nobel de economia  Robert Shiller (mais informações aqui http://en.wikipedia.org/wiki/Case%E2%80%93Shiller_index) .
 O índice já é ajustado pela inflação (sempre que se fala que alguma coisa é ajustada pela inflação, quer dizer que os rendimentos/evoluções mostrados são reais, esse tipo de ajuste é essencial para poder comparar dados de épocas tão distintas como 1920 com 2007, por exemplo), e teve início numa base 100 em 1890. Sendo assim, se o índice chegar a 200 quer dizer que o valor dos imóveis residenciais está uma vezmaior em termos reais do que em 1890, e se o valor for de 100 quer dizer que os imóveis estão basicamente com o mesmo valor real de 1890. Amigos, neste caso uma imagem, ou melhor um gráfico, vale mais do que mil palavras:


                A tendência é clara. Os imóveis possuem uma discreta valorização real no longo prazo (no período de 1890 a  2012 foi de 0,3% ao ano), e quando há um descolamento muito grande dessa tendência histórica é um claro indicativo de que os preços estão sobreavaliados ou subavaliados. O período de 1995 a 2006 salta aos olhos, pois os preços dos imóveis subiram muito em relação a sua média histórica, o resultado , conhecido por todos,  está consubstanciado no gráfico na severa retração nos anos de 2007-2008.

                Por quais motivos os imóveis possuem essa tendência de apenas acompanhar a inflação no longo prazo? É difícil dizer, o professor Shiller dá algumas respostas interessantes: a) mobilidade, quando os preços de uma região ficam caros demais, as pessoas/indústrias/comércio se mudam, b)  as restrições para construção vão sendo relaxadas pelo poder público, assim onde pode se construir um prédio de 10 andares passa a poder construir 30 andares, diminuindo o custo de se construir um aparamento por terreno,  c) tecnologia que torna a construção de casas mais baratas, entre outros argumentos. Porém,  não é o foco desse artigo discutir essa questão específica.

                Depois de ver os resultados centenários do mercado americano, e nos acostumarmos com o grau de magnitude de mudança de preço real dos imóveis no longo prazo, eu posso apresentar o índice IVG-R de 2001 a 2014 retirado diretamente do site do Banco Central. É necessário destacar que diferentemente do índice Case-Shiller o IVG-R série temporal não é ajustado pela inflação. O início da série é em março de 2001 a valor 100 (http://www.bcb.gov.br/pt-br/paginas/banco-central-publica-serie-temporal-sobre-variacao-de-preco-de-imoveis.aspx).




                Colegas, sem entrar na polêmica discussão se há ou não uma bolha imobiliária, o fato é que o gráfico é um pouco assustador. Ele mostra uma valorização real muito grande no período entre 2004 a 2014, muito maior do que a valorização no boom imobiliário dos EUA entre 1995-2006.  Para percebemos melhor a valorização real dos imóveis nos últimos 10 anos basta olharmos o seguinte gráfico:





                Durante os anos de 2007 a 2012, os imóveis residenciais valorizam 10% ou mais ao ano de forma real, chegando ao pico de 2010 com inacreditáveis 20% aa. Tais números em muito discrepam da longa tendência de valoração real verificada no mercado americano nos últimos 120 anos. É possível, porém, ver uma clara tendência de diminuição da valorização real dos imóveis. Portanto, talvez realmente não haja uma grande queda acentuada em valores como ocorreu em 2007-2008 no mercado imobiliário (o que não pode ser descartado totalmente), mas, e aqui é minha opinião pessoal, parece clara a tendência para os próximos anos de acomodação dos preços. Como a inflação aqui no Brasil é muito maior do que a inflação nos EUA, uma acomodação de preços em valores nominais, pode fazer que em 5/6 anos boa parte dessa valorização real seja “comida” pela inflação, se houver uma pequeno decréscimo nominal nos preços o vigor da queda da valorização real será ainda mais acentuado.  Sobre esse tema há inúmeras opiniões, a perspectiva aqui adotada é baseada única exclusivamente na premissa de que a valorização real em períodos longos de tempo dos imóveis é discreta, como foi nos EUA. Pode ser que não seja o caso no Brasil, e que aqui possa haver uma expectativa de crescimento real dos imóveis no longo prazo, mas se houver essa tendência com certeza não será de 20%, nem tampouco de 5% (com essa taxa os imóveis dobram de valor real em 14 anos aproximadamente), mas talvez algo em torno de 1,5/2% ao ano.

                O que dizer dos alugueis? Colegas, se os imóveis possuíssem uma tendência de crescimento real acelerado, os yields (percentuais) chegariam a níveis baixíssimos depois de pouco tempo. Tal fato pode ser comprovado pelo seguinte gráfico que mostra o declínio percentual do valor dos alugueis nos últimos anos devido à valorização real acentuada dos imóveis.



                A explicação é simples. As dinâmicas atrás de valorações dos imóveis são distintas da valorização dos alugueis. O aluguel está nitidamente relacionado à renda per capta dos habitantes de um pais. Os imóveis financiados também estão, mas como os prazos para pagamento de um financiamento são longos, como é o caso no Brasil onde os financiamentos foram esticados  para 30/35 anos,  o impacto não é tão direito e imediato. Eu já li perspectivas otimistas de que o aluguel poderia crescer de forma real em 7% ao ano. Um crescimento desses é apenas otimismo, pois não encontra nenhuma correspondência com os dados econômicos.

                De onde sai o dinheiro para pagar um aluguel residencial ou comercial? Da economia real. A economia real é afetada por diversas variáveis macroeconômicas. O que mede a possibilidade de aumento de renda de uma população é o aumento real do seu Produto Interno Bruto. Qual é o principal fator para o aumento do PIB? A produtividade da força trabalhadora. O que faz aumentar a produtividade? Basicamente investimentos e educação. De onde vem o dinheiro para se fazer investimentos? Basicamente da poupança interna de um país (e complementada com investimentos estrangeiros direitos em alguns países).  Portanto, para um aluguel crescer 7% real ao ano, o que dobraria o valor do aluguel real em uma década, quer dizer que necessariamente a economia de um país deve crescer a taxa de 7% pelo menos, pois se uma empresa ou indivíduo vai pagar um aluguel em valor real dobrado daqui 10 anos, o dinheiro tem que sair de algum lugar.

                Colegas, um crescimento real de 7% ou mais só foi atingido recentemente pela China, e a China possui inúmeras peculiaridades (ou ao menos possuía), como uma vasta população rural, taxas de investimento enormes e taxas de poupança interna gigantescas. Um crescimento dessa magnitude é tão fenomenal que ele não pode ser mantido para sempre, há um limite, e a China já está começando a esbarrar nesses limites. O Brasil com uma taxa de investimento ridícula, uma taxa de poupança incrivelmente baixa (os números são menos de um terço dos números chineses) não possui nenhuma condição estrutural de crescer nem remotamente perto de 7%, tanto é verdade que o nosso crescimento orgânico, segundo o FMI, possui um limite de 3,5% (http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,fmi-reduz-crescimento-potencial-do-brasil-para-3-5,168296e)  , com o atual estágio da nossa produtividade, poupança, infraestrutura investimento.  Esse 3,5% é o potencial se nós fizéssemos absolutamente tudo certo, portanto é uma taxa para lá de otimista. Portanto, o Brasil não vai crescer a taxas altas, pois o Brasil não apresenta condições objetivas para tanto. Logo, não é possível estimar, no mercado como um todo, é claro que pode haver alguma exceção setorial e geográfica, crescimentos reais muito acentuados, se é que vai haver algum, num período curto ou médio de tempo.

                 Eu gosto de imóveis. Invisto em imóveis via FII, e principalmente via negócios diretos. Creio que imóveis, se feitos corretamente, são um ótimo investimento. Porém, sempre precisamos ter cautela e expectativas realistas. Os maiores problemas para investidores, e em última instância para sociedades inteiras, ocorre quando um otimismo exagerado (em algumas situações é bom ser otimista, mas em investimentos uma postura mais cautelosa ou até mesmo pessimista costuma ser muito mais segura e com melhores retornos no longo prazo para o pequeno investidor) toma conta, o que pode fazer com que haja desequilíbrios na precificação de ativos e ao funcionamento de toda uma sociedade a depender do grau de exacerbação.

                É isso colegas, espero que tenham gostado deste artigo. Um grande abraço a todos!



quinta-feira, 26 de junho de 2014

PEQUENA REFLEXÃO - TEMPO E AMIGOS

                Olá amigos! Parabéns para mim que faço hoje (acho que vou publicar o post um pouquinho depois da meia noite) aniversário, 34 anos, já posso dizer que estou na idade madura! Na verdade, eu estou escrevendo para agradecer todos os colegas que acompanham esse blog, e de alguma forma se identificam, ou não, com alguns pensamentos meus. Em quatro meses, foram mais de 32 mil acessos, e mais de 1.000 comentários. Nunca imaginei que tantas pessoas pudessem se interessar pelo que eu escrevo. Obrigado mesmo.
                Os convidados de uma festinha que eu dei aqui no meu apartamento acabaram de ir embora, e como é bom ter amigos, bem como uma companheira parceira, pessoas bacanas para compartilhar momentos felizes ou às vezes não tão agradáveis em nossas vidas. Por isso, agradeço aos colegas virtuais que eu venho fazendo por aqui :Green, Poeta Investidor, Gaucho, Paris, Di Finance, Guardião, UB, Além da Poupança, Capixaba, Carioca, Anônimo inteligente do último post, Troll, Estagiário e outros que porventura escrevem por aqui. Fico feliz de poder compartilhar algo que eu possa saber alguma coisa, mesmo que de forma incipiente, e fico feliz de poder receber tantos feed back inteligentes.
                Hoje, e aqui vou ao tema dessa pequena postagem, um amigo meu perguntou faz 32 anos? Eu disse que não, eu tinha dois anos a mais. Não sei por qual motivo, mas quando eu respondi isso, segundos depois veio uma reflexão de se eu chegar aos 90 anos, quantos milhões de reais, ou qualquer moeda que porventura venha a existir, eu não pagaria por ter dois anos num corpo jovem e com saúde? Isso me fez refletir ainda mais profundamente sobre o tempo, e como ele é o que mais temos de precioso. Eu não tenho a menor dúvida, se meus filhos ou netos estivessem encaminhados, e eu tivesse dezenas de milhões de reais, eu daria tudo para ter dois anos a mais como jovem,  dois anos a mais para viver, se aventurar, sentir a vida.
Só que eu ainda sou jovem, eu ainda posso sentir a vida, e essa reflexão só me fez enxergar com mais clareza e nitidez e me dar confiança para os passos que estou dando na minha vida. E veja, eu tenho profundo respeito por pessoas de idade, e acho que a sabedoria é saber envelhecer bem, sem desgostos, amarguras ou um apego excessivo às lembranças da juventude. Entretanto, é inegável que nossos corpos físicos vão envelhecendo, e na juventude podemos fazer muitas coisas que não serão mais possíveis em idades avançadas como 85/90 anos.
                É isso amigos, um viva aos amigos, verdadeiro bálsamo da vida. Um viva à vida, a vida bem vivida, pois nenhum dinheiro do mundo pode trazer o tempo por ventura desperdiçado ou mal aproveitado.


                Um grande abraço a todos!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

REFLEXÃO - RETORNO HISTÓRICO DO CAPITAL, PIKETTY, MERCADO ACIONÁRIO, GESTÃO ATIVA E OUTROS TEMAS

           Olá colegas, estava aqui trabalhando e pensando em escrever sobre RF (que se tratado com profundidade é extremamente complexo), e resolvi compartilhar com os leitores desse blog, uma salutar discussão que tive com algumas pessoas na internet.
A minha mensagem inicial tinha o foco de falar sobre: alguns fatos históricos, retorno sobre capital, gestão ativa e a fórmula básica de precificação do mercado acionário. Eu citei de passagem o livro do Piketty (para quem não sabe um economista Francês que escreveu um livro que está dando o que falar). Houve um comentário um  sobre esse pequeno detalhe do texto de citar o Piketty, e a conversa se transformou, e foi-se falado de impostos, justiça, paraísos fiscais, artigos do site Mises, países da Escandinávia, etc.
Eu coloquei algumas mensagens, mas acho que ficou meio se pé nem cabeça (foram muitas mensagens), portanto resolvi editar agora e apenas colocar a mensagem original, que ficou como se fosse um artigo.



"Colegas,

a) É muito interessante quando lemos sobre pessoas que tratam um determinado tema de uma maneira original. Aliás, nós termos tempo para ler sobre isso também é fundamental para tornar as nossas visões de mundo mais apuradas (e por isso falam sobre o decréscimo exponencial de utilidade marginal no estudo cada vez mais aprofundado de FII, um dos motivos é o custo de oportunidade do seu tempo estar sendo destinado a uma atividade que não irá trazer uma utilidade marginal muito pequena em relação a outras atividades onde a utilidade pode ser muito maior). Falo sobre isso, pois estou lendo o monumental livro do Sr. Piketty sobre desigualdade. Antes de mais nada, o livro, pelo menos até a parte que eu cheguei, é extremamente instrutivo sobre diversos temas que ou não são debatidos, ou são debatidos pelo “ouvi dizer” sem qualquer embasamento em dados. A toda evidência, o tema é central para o convívio humano no século XXI, se realmente queremos um mundo mais pacífico (não é demais lembrar, que ontem era o dia do refugiado, e a humanidade hoje possui mais deslocados – 51 milhões – que quando da segunda guerra mundial);

b) Porém, eu não vou falar sobre desigualdade aqui. Eu citei o livro do economista francês, pois ele utiliza muito a métrica retorno do capital. Esse retorno, e estou falando aqui de dados de 300 anos, tem uma média de 5% (em termos reais), mas atualmente ela oscila entre 3-4% (o que achei incrível, pois é idêntico aos 4% do estudo Trinity sobre uma taxa segura de retirada de portfólio para fins previdenciários). A toda evidência algumas espécies de ativos remuneraram mais do que isso e outros menos. Porém, essa foi uma média. Algo muito interessante também é ver um livro sobre economia citando exemplos de Balzac ou Jane Austen, tal fato inusitado fez o Sr. Krugman dizer que havia dezenas de anos que isso não ocorria, e o Gianetti fala exatamente a mesma em seus livros, que a discussão econômica foi dominada por apenas uma forma de ver os fatos (mas isso também é outra história, para um outro momento). Citei os exemplos literários de mais de 200 anos citados no livro, pois nos séculos 18/19 os conceitos de capital e renda deste mesmo capital eram intercambiáveis como se fossem a mesma coisa. Alguma semelhança aqui com FII e como as pessoas vem esses instrumentos para os seus fins sucessórios e previdenciários?

c) Se não ficou muito claro o final do último parágrafo, explico. A riqueza naquela época estava nas terras rurais (e é por isso que um dos maiores economistas clássicos, David Ricardo, focou toda a sua análise sobre escassez na relação terra x aluguéis). Logo, o retorno sobre o capital terra equivalia a 5%. Como não existia inflação naquela época, ou era muito reduzida como 0,1/0,2%, esse era um retorno real. Logo, os escritores daquela época diziam que 1 milhão de francos (no caso Francês) era equivalente a uma renda de 50.000 francos por ano. E essa era uma quantia para que a pessoa não precisasse trabalhar e ter uma boa vida. Logo, o capital 1 milhão era uma medida intercambiáveis com a renda. A outra forma de capital daquela época era ser credor do governo, e os governos também pagavam em média 5% reais (lembrando que não tinha inflação). Logo, o capital proveniente de terras ou o capital proveniente de empréstimos ao governo também eram noções intercambiáveis, pois a quantia de 1 milhão de francos era o passaporte para uma vida de rentista. Apenas a título de curiosidade, a frança deu calote em sua dívida quando houve a queda do antigo regime, pois possuía uma relação dívida/PIB bem alta. A frança também no pós segunda guerra, assim como a Alemanha, deram outro calote na dívida pela inflação alta(algo que pode acontecer num futuro não muito distante no Brasil, se não começarmos a discutir as questões realmente sérias nesse país). Já a Inglaterra nunca deu o calote na sua dívida por moratória ou por inflação nos últimos 300 anos. A relação dívida/PIB, que chegou a quase 200/250%, foi diminuída a base de superávits. Dá para entender agora por qual motivo o Brasil sempre, num janela de muitos anos ainda, vai pagar mais por seus empréstimos do que uma Inglaterra?
d) E o que isso tudo quer dizer Soulsurfer? Significa muitas coisas, colegas. Primeiro, essa ideia de não me preocupo com o capital, pois a função de FII é gerar renda, é muito, mais muito antiga. Segundo, o retorno sobre o capital sempre oscilou numa média histórica de 5% (e isso antes dos impostos), e está caindo para 3-4% (e há uma explicação muito lógica para isso, tem a ver com a relação capital/renda produzida pela sociedade seja nacional ou global, mas eu não vou adentrar nisso também). Logo, qualquer estimativa de longo prazo que leve a taxas de retorno do capital muito baixas ou muito altas, ou são pessimistas demais ou otimistas demais (e aqui a sua valoração vai depender de como você enxerga ideologicamente o retorno sobre o capital);
e) Portanto, se uma pessoa possui um capital de 5M, e vive com 100k, dando um retorno de capital sobre 2%, ela pode estar em FII, renda fixa, ações, não vai fazer diferença, a não ser que haja eventos de ruptura completa da ordem como a revolução bolchevique de 1917, a desapropriação em massa de fazendeiros brancos no Zimbábue no final da década de 80 ou se você era Judeu em boa parte da Europa entre os anos de 33 a 45. Esse nível de 2% é metade dos 4% do estudo Trinity, logo, não há chance de dissipação do capital e não manutenção da renda (na verdade alguém com esse patrimônio faz parte da super elite mundial, faz parte dos 0,1% do mundo, apenas lembrando que na época da revolução francesa, a nobreza que vivia em festas nos palácios representava 2,5% da população). Logo, quando fomos discutir decisões financeiras ótimas ou não-ótimas (retornos esperados para determinados graus de risco) não faz sentido confundirmos essa discussão com risco de exaurimento do capital em casos extremados como esse. São duas coisas distintas;
f) Por mais abstrato que isso possa estar parecendo, ele é fundamental para nos dizer que os yields atuais dos FII (estimando em 10%) são o dobro do retorno histórico do capital. Para melhorar a situação, esses retornos são isentos de impostos, e o retorno atual do capital de 3-4% é pré-tax, que em países ricos ultrapassa 30%. Portanto, e aqui concordo com o Small, esses dividendos não serão provavelmente sustentáveis no médio/longo prazo, nem mesmo a isenção dos mesmos, pois eles diferem em muito do retorno médio do capital, numa forma de investimento que é muito menos arriscada do que o investimento em setores produtivos (mercado acionário);
g) Aqui mudo um pouco o enfoque e o tema. Colegas, acadêmicos, gestores de fundos hedges, grandes investidores, concordam que o retorno do mercado acionário pode ser resumido na seguinte equação (presumindo-se uma taxa de payout constante do tempo, bem como valoração constante):
Equity premium Risk + Return on Riskless asset = Dividend Yield + Real Growth (ou EPR + Y = D/P +G).
Para quem já leu ou pensou sobre o assunto, sabe que o lado esquerdo nada mais é do que a taxa de desconto, sendo que o lado direito nada mais é do que o fluxo de caixa.
Algumas pessoas cometem o equívoco de comparar o Y nominal (geralmente a taxa de um Bond americano, se a análise for daquele mercado) com um G real. Isso é muito comum, e a toda evidência não se pode comparar medidas nominais com medidas reais, sob pena de se chegar a valores subavaliados no caso (o que não deixa de ser uma margem de segurança).
h) Os inputs dessa equação podem ser trabalhados de diversas formas, e dependendo dos resultados podem mostrar se há sobreavaliação ou não, se há otimismo exagerado ou não. Geralmente, o otimismo se concentra na parte do G, ou seja do crescimento real dos dividendos, ou se você usar um modelo do fluxo de caixa para empresa, do crescimento real dos lucros. Logo, as pessoas podem estimar crescimentos reais de 5%, 10%, 15%. Entretanto, sabem qual foi o crescimento real dos lucros e dos dividendos na maior potência econômica da história mundial entre 1950-2009 (época do grande boom econômico americano pós-guerra)? 1.5% e 1.3% respectivamente. Sim, isso mesmo, os lucros das empresas americanas listadas na bolsa tiveram em média um crescimento real dos lucros anualizados de 1.5% (a título de curiosidade o crescimento do PIB real americano foi de 3%, se você ficou confuso pelo descompasso entre o crescimento real dos lucros das empresas e o crescimento real do PIB, isso se deve principalmente ao fato de que boa parte do crescimento de uma economia se dá nas start-ups, empresas que não estão listadas em bolsa. Pode-se imaginar que o descompasso no caso brasileiro, talvez seja maior ainda, devido ao tamanho diminuto de nosso mercado).
i) Logo, previsões de crescimentos reais de 10-12% para o mercado como um todo são completamente dissociadas da realidade e dos retornos históricos. Geralmente, esse super-otimismo acontece apenas em investidores individuais bem como em analistas, pois gestores de fundo hedge, por exemplo, costumam serem muito mais pessimistas em relação ao crescimento. Já vi gráficos que quando as previsões de crescimentos de analistas e investidores amadores/ou retaliers ficam assim sem qualquer base com a realidade é quase que completamente correlacionada com momentos pré-crash. O motivo é claro, quando se é otimista demais com o crescimento real dos lucros, se pode pagar pelos ativos preços esticados em seus múltiplos (P/L, P/VP), o que leva a valorações extremas dos ativos;
j) O crescimento tende a diminuir no mundo, e isso é muito bem explicado pelo Pikkett no livro. O crescimento real de uma economia depende de dois fatores: o crescimento da produtividade e o crescimento demográfico. Quase metade do crescimento de uma economia é explicado pelo crescimento demográfico. É por isso, amigos, que economistas sérios brasileiros nos alertam sobre o período em que o Brasil deve crescer para enfrentar os desafios do futuro, nós estamos passando por um período de transição demográfica, nós estamos no melhor momento demográfico possível, e ele vai se encerrar em 2040/2050, assim como encerrou-se na Europa. O Japão atualmente possui crescimento demográfico negativo, sendo assim o Japão apenas com aumento de produtividade não vai crescer a 3% real ao ano no longo prazo, independente de qualquer política de afrouxamento monetário.
k) Isso quer dizer que o crescimento da economia, e do lucro das empresas, irá diminuir no longo prazo, o que é compatível com uma diminuição no retorno da capital. Portanto, as previsões deveriam ser mais cautelosas e não otimistas. Soul, você está falando sobre a média do mercado, eu vou fazer gestão ativa e escolher as melhores empresas. Sim, estou falando sobre a média do mercado, e realmente há empresas e setores que irão se sair pior e outras se saíram melhores, e a esmagadora maioria ficará na média. É uma estratégia de investimento, e eu também gosto de fazer. Porém, precisamos estar cientes de alguns detalhes;
l) A literatura é unânime que a gestão ativa é jogo de soma negativa. Não é matematicamente possível a média da gestão ativa ser melhor do que a média do mercado (gestão passiva), e o motivo é muito simples.
O retorno do mercado acionário = Média do retorno de investidores ativos x percentual de capitalização deles no mercado + média de retorno de investidores passivos x capitalização deles no mercado.
Isso pode ser escrito como RM = Rativo x Cativo + Rpassivo x Cpassivo.
Se nós temos um mercado divido 50% entre gestão ativa e passiva, e o retorno do mercado acionário é 10% (o que presume-se que o retorno dos passivos será de 10%) teremos:
10% = Rativos x 50% + 10% x 50%. Amigos, o retorno dos investidores ativos só pode ser 10%. Qualquer capitalização que você coloque para os investidores ativos, redundará que a média dos investidores ativos será igual a média do mercado.
Se colocarmos as taxas administrativas e os altos custos de se ter uma estratégia ativa, o retorno médio dos investidores ativos sempre será menor do que a média de retorno dos investidores passivos.
O que acontece na verdade, é que há uma competição entre investidores ativos para quem vai se posicionar acima da média, e na verdade o que acontece é uma transferência de renda de investidores para os gestores financeiros do mundo. Isso é tão evidente, e está ficando cada vez mais escancarado no mundo, e pode ser muito bem visto num documentário como o “Inside Job”. Gestores não perderam dinheiro, pelo contrário receberam milhões de dólares mesmo pós-crise. Gestores financeiros nos EUA podem ganhar centenas de milhões de dólares por ano. De onde vem esse dinheiro? Do alpha (retornos em excesso sobre um benchmarket ajustados pelo risco)? É claro que não, vem do jogo de soma zero, da transferência de dinheiro de uma camada numerosa da população para o bolso de uma minoria. A situação é tão extrema nos EUA que o J. Bogle tem um livro chamado “Dose Certa” onde ele passa metade do tempo metendo o pau nisso, mesmo ele sendo um dos gestores financeiros mais respeitados do mundo;
m) Se a pessoa entende que a gestão ativa é um jogo de soma negativa (e os investidores amadores perdem por uma margem absurda no longo prazo para uma gestão ativa segundo várias pesquisas. Os únicos que mais ou menos empatam são gestores de fundos hedge, mas estes são a nata da elite intelectual financeira), ele pode tentar achar empresas ou ativos que irão crescer a taxas reais de 8/10/15% em períodos longos de tempo. Se tiverem sorte ou competência, o fenômeno Equity Bond bem exposto por W.Buffett se aplica em toda sua completude, e a toda evidência os retornos serão fabulosos. Porém, é sempre ter em mente o número G (crescimento real dos divendos), bem como o retorno do capital historicamente nos últimos 300 anos em mente.
n) O fato do W.Buffett não conseguir vencer um índice nos últimos cinco anos a toda evidência não denigre as habilidades de um dos maiores investidores de todos os tempos. Isso apenas mostra que quando um mercado é consolidado como o americano (e como o mercado brasileiro não o é, uma estratégia ativa faz mais sentido), até mesmo um grande investidor, cercado por dezenas de analistas que devem ganhar milhões de dólares, não consegue bater um simples ETF. Isso deveria ser um alerta para baixarmos nossas expectativas, em minha opinião. Hoje os mercados são muito mais competitivos do que antigamente, e cada vez mais fica difícil explorar qualquer ineficiência que o mercado por ventura possa oferecer;
o) Se você ainda não faz parte da super-elite mundial com patrimônios superiores a 2 milhões de dólares para poder contar com o retorno sobre o capital, e se suas expectativas devem ser mais cautelosas, o que se deve fazer? Como bem dito pelo colega Paulo (e isso é matemático também), o foco deve ser na constituição do patrimônio, no aporte, no engrandecimento na profissão ou na assunção de riscos no empreendedorismo. Não há outra solução.
Obs: não revi eventuais erros ortográficos.
Abraço a todos!"

      É isso aí, colegas, o tema que se desenvolveu depois foi bem interessante, mas ficou muito grande para se colocar aqui como um post no blog. Abraço a todos!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

REFLEXÃO - O BRASIL NÃO É O PAÍS DO FUTEBOL

         "A verdade é o tipo de erro sem o qual um certo tipo de vida não poderia subsistir"  Nietzche  


             Olá colegas! Uma bela copa do mundo está ocorrendo em nosso país do ponto de vista esportivo. Jogos bacanas, muito gols, e as torcidas dando um show a parte. Se a outra copa do mundo (aquela que ocorre fora dos estádios) foi um fiasco do ponto de vista da gestão, a copa do mundo esportiva está muito boa. Várias bandeiras brasileiras na rua, uma pena que as bandeiras brasileiras só entram em moda em copa do mundo, e o brasileiro mostrando que é o povo mais apaixonado por futebol, pois aqui é a terra do futebol. Será mesmo, amigos? Como o objetivo aqui sempre foi pensar sobre temas de maneira às vezes não convencional, vou refletir um pouco acerca das máximas “O Brasileiro é apaixonado por futebol como em nenhum lugar do mundo” e “Aqui é a terra do futebol”.

                Soul, é claro que o brasileiro é apaixonado por futebol! É mesmo? Então responda qual é o time que possui a maior torcida no Brasil? O mengão? O Corinthians meu? Não, é o time das pessoas que não dá a mínima para futebol. Esse resultado nem de longe é encontrado na Argentina, onde a preferência maior é sempre por um dos dois maiores times do país,  ou em países onde o futebol é muito forte. Ah, e daí? O que importa é que a maioria da população gosta de futebol, mesmo que uma parcela significativa não dê a mínima importância. É um ponto.  Então, esmiucemos um pouco mais a questão.



                Há alguns blogueiros (cito o investidor sócio, bem como o valores reais) escrevendo artigos sobre a emoção de ver um jogo de copa do mundo, a empolgação de estar no estádio, e sobre o fato que é muito mais divertido do que ver um jogo pela TV. Eles estão absolutamente certos. Como disse uma vez aqui, minha adolescência eu passei na Vila Belmiro. Eu ia a absolutamente todos os jogos. Lembro de uma vez meu pai me deixando perto do estádio, uma baita chuva, me dando o casaco dele para me proteger, e eu na arquibancada cantando e incentivando o tempo inteiro com meia dúzia de gatos pingado num jogo que não valia nada. Ou lembro-me também uma vez no Morumbi, onde eu cantava e gritava que nem um louco, e de repente empolguei milhares de santistas que começaram a cantar também. Ou quando o Santos fez o gol de empate na final do brasileiro de 2002, o gol do título, quando eu simplesmente sai rolando arquibancada abaixo de tanta emoção de ver o meu time campeão pela primeira vez em cima do maior rival. Enfim, estar ao vivo no estádio é uma emoção diferente.

                Logo, presumir-se-ia que um povo tão apaixonado por futebol como o brasileiro iria lotar sempre os estádios, correto? Não é nem de longe o que ocorre. A média de público do campeonato brasileiro é simplesmente medíocre. Não acredita? Irei colocar três links ao final, muito interessantes por sinal, onde mostra que a taxa de ocupação dos estádios brasileiros é de 30% nos jogos da primeira divisão nacional, contra uma taxa que em alguns países é superior a 90%. Além do mais, a média de público no Brasil é  muito inferior a média das principais ligas da Europa, sendo que o Brasil também perde em média de público para as segundas divisões do futebol Inglês e Alemão (não, você não leu errado, a segunda divisão lá leva mais torcida do que o nosso “Brasileirão”), Japão, EUA (mesmo sendo o futebol  o quinto esporte em audiência), China e México. Os resultados podem ser conferidos em

                Se você prestou atenção no segundo link disponibilizado, a torcida do  time brasileiro que foi mais ao estádio em 2013, o “bando de loucos”, foi a 91º torcida do mundo em comparecimento aos estádios. Sim, a nossa torcida que mais compareceu aos estádios foi a nonagésima primeira torcida no mundo. Talvez o bando não seja de tão loucos assim, principalmente se compararmos com outras torcidas do mundo.

                Ok, Soul, o Brasileiro não vai ao estádio porque o ingresso é caro. Não parece ser o caso, segundo (não conferi para saber se a fonte é fidedigna ou não) a informação que consta aqui http://dribles.com/artigos/bilhetes-futebol-mais-caros-mundo, já que os preços parecem guardar alguma correspondência com a renda per capta numa primeira análise superficial. Pode ser, Soul, mas as pessoas não vão porque há muita violência, desorganização, etc. É uma afirmação justa, e vai me remeter a outra máxima se “O Brasil é o País do futebol”, já que os dados parecem apontar nitidamente que não somos o país onde há a maior paixão do mundo pelo futebol, e não creio que isso seja necessariamente bom ou ruim é apenas um juízo de fato.

                Somos pentacampeões do mundo, é claro que somos a "pátria de chuteiras" alguém pode afirmar. Primeiramente,  quem realmente gosta de futebol tem uma paixão muito forte pelo seu clube, e não pela seleção, principalmente nas últimas décadas onde a seleção foi se distanciando cada vez mais do Brasil pelo elevado número de jogadores jogando no exterior. O clube é o que faz a pessoa que realmente gosta de futebol se emocionar e sofrer em graus elevados. Logo, na minha perspectiva, o melhor futebol do mundo teria que se manifestar no melhor campeonato de futebol do mundo, até porque a copa do mundo é um evento de quatro em quatro anos e disputado em apenas sete jogos. E como está o nosso futebol?

                O nosso futebol , jogado no Brasil, vai muito mal.  O nível técnico da principal competição nacional é baixo. O desinteresse das pessoas pelo futebol nacional é cada vez maior. Não acredita? No começo da década de 1990, eu nunca via ninguém com a camisa de uma equipe estrangeira (é verdade que o Brasil não era tão aberto, nem o futebol tão globalizado), e muito menos alguém dizendo que torcia para um clube espanhol ou inglês. Hoje, o mais comum, infelizmente, é ver crianças com camisas de agremiações estrangeiras, mesmo no futebol brasileiro existindo mais de 10 clubes com grandes torcidas. Por que isso ocorre? A resposta é simples: nós temos matéria-prima, mas não sabemos nos organizar de uma maneira eficiente.  Alguma semelhança com a questão mais geral organizacional do país? Eu acho que tem muita, na verdade acho que o futebol é um dos maiores retratos da nossa incapacidade de gestão.

                Há uns 13/14 anos atrás, numa época onde a economia do Brasil estava cambaleante, eu já discorria para meus amigos que o futebol era um teste para o Brasil, pois se nós, com tantas coisas favoráveis como torcida, grandes clubes, histórias, jogadores bons, reconhecimento internacional, não fossemos capazes de nos organizar e fazer um  futebol nacional a la NBA,  por quais motivos nós conseguiríamos nos organizar e nos destacar em áreas em que o Brasil é muito carente e tem pouca tradição como ciência e economia de ponta? 

                Passados esses anos, o futebol brasileiro quase não andou, e em certa medida eu acho que regrediu.  Uma emissora continua monopolizando o futebol, ao ponto de colocar jogos  às 10 da noite de uma quarta-feira, o que é algo que não faz o menor sentido. Os clubes nunca estiveram tão endividados(http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/05/flamengo-reduz-dividas-mas-segue-na-lideranca-entre-os-clubes-brasileiros.html ), a seleção brasileira nunca esteve tão distante do país (dos 23 convocados, 19 não jogam no Brasil, sendo que dos 4 que jogam dois são goleiros reservas e um é atacante reserva) e o interesse por futebol cada vez vai perdendo espaço seja para o futebol europeu, seja para outras atrações.  É evidente o problema de gestão.Nada mostra que essa situação irá se modificar, pois a seleção da CBF nunca ganhou tanto dinheiro em patrocínios, a seleção é a galinha de ovos de ouro dos nossos cartolas maiores, não o futebol nacional, é por isso que  os dois últimos títulos mundiais da seleção em absolutamente nada se reverteram para a melhora do nosso futebol.

                Além da questão da fraqueza cada vez maior do  futebol interno em si, o fato é que nem mesmo um futebol  bonito o Brasil apresenta dentro de campo com seus melhores jogadores, e para mim isso vem desde 1982. A grande verdade é que o Brasil ficou marcado no mundo como o país do futebol pela geração de Pelé, e pela absolutamente magnífica apresentação do Brasil na copa de 70. Tivemos uma outra bela seleção em 1982, e depois da derrota de 1986, fica claro que o Brasil deixou de apresentar um futebol diferenciado e foi cada vez mais se tornando mais uma seleção, chegando hoje em dia a ter um futebol como qualquer outro, e ouso dizer até mesmo inferior a outras escolas de futebol. Não há mais absolutamente nada de diferenciado no futebol jogado pelos jogadores brasileiros, e como poderia haver se quase todos jogadores jogam na Europa?

                Eu não dou mais tanta importância para o futebol, pois a questão de gestão realmente me frustrou bastante. Eu acho que o futebol tem o seu papel na nossa cultura, e não vejo necessariamente como “pão e circo” ou como “ópio do povo”. É claro que também pode ser isso e ser manipulado para ter essa função, mas há um grande fator de integração social. Num estádio de futebol, pelo menos na minha época, o rico, o pobre, o branco e o negro se tornavam iguais, sofrendo, gritando e se abraçando na hora do gol sem qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Eu, por exemplo, que quando adolescente tinha um cabelo loiro tipo do Brad Pitt, era o único loiro de uma torcida organizada que fazia parte, e sempre convivi com pessoas pobres, mulatas, negras e nunca me questionei sobre nenhuma dessas características como algo diferenciador. Talvez esse convívio com pessoas diferentes do meu estrato social, algo cada vez mais raro no Brasil o que é um grave problema para a nossa convivência no futuro em minha opinião,  foi um dos grandes fortalecedores da minha índole de não ver diferenças morais onde elas não existem baseado em algum critério de riqueza ou de posição social. Portanto, o futebol pode sim ter uma grande função de coesão social.

                Entretanto, e aqui me despeço, eu não creio que o Brasil seja atualmente o “País do Futebol”, nem mesmo creio que os brasileiros sejam os mais apaixonados. Espero, pelo menos com esses novos estádios modernos, que o futebol brasileiro possa se organizar e ser mais forte, mas eu temo que isso não irá se concretizar, pois mentalidades arraigadas são difíceis de modificar, assim como é difícil modificarmos algumas estruturas débeis nacionais, e é por isso que o Brasil não melhora do ponto de vista político, tributário, de segurança, etc. 

                Um grande abraço a todos!






terça-feira, 17 de junho de 2014

BIBLIOGRAFIA - INDICAÇÕES DE LIVROS SOBRE INVESTIMENTO - PARTE 2



LIVROS AVANÇADOS

                Colegas, os livros dessa seção já são mais complexos e muito mais aprofundados sobre diversos temas. Ler estes livros sem ter um bom domínio sobre diversos aspectos do mercado financeiro, o que vim a descobrir há mais de um ano atrás quando tentei ler um deles, não é recomendável. Um investidor amador, como a esmagadora maioria dos investidores da blogosfera, precisa ler estes livros? Eu creio que não. Se assim o é, por que você os cita Soul? Ora, a razão é simples. Se especializar, se aprofundar num tema como esse mal não irá fazer, muito pelo contrário. Além do mais, eu creio que os conhecimentos financeiros podem ser aproveitados durante toda a vida, e em diversos outros ambientes que não o mercado de capitais. Pego o meu exemplo específico. Quanto mais vou aprofundando minhas leituras, mas sinto que vou compreendendo, nem que seja levemente, o “esquema mais geral das coisas”. Assim, eu me sinto mais capaz de pensar por mim mesmo acerca de um assunto que, sem algum conhecimento mais específico, seria bem mais difícil.




- “Avaliações de Empresas”–  do Aswath Damodaran
                Sim! É o famoso livro que nosso colega DI Marcinho gosta bastante de citar ao falar sobre Valuation. Como ele, eu também não passei do quarto capítulo, pois comecei a ler o livro há um ano atrás, e não estava preparado teoricamente. Hoje em dia, sinto que a leitura dele seria muito mais útil, e pretendo voltar assim que terminar alguns livros que atualmente estou lendo. O livro é muito bom. Algumas pessoas sem conhecer o que o Damodaran faz o criticam como se ele fosse algum autor que tivesse inventado um método de “fique rico com o mercado acionário”. Nada mais falso. Se você gosta de “boas empresas”, se acha que filtros fundamentalistas são essenciais para montar o seu portfólio, então Damodaran é o cara que vai te ensinar como aprofundar esses filtros, como olhar com outros olhos para balanços de empresas e para o mercado como um todo. Muitos não percebem que ao fazer a valoração de uma empresa, se deve passar necessariamente por muitos filtros fundamentalistas. Ao se escolher empresas, ou ativos, sem usar Valuation, está se fazendo na verdade uma análise fundamentalista mais superficial.  Pô, Soul, quer dizer que então preciso aprender esse raio de Valuation? Não necessariamente, e aqui os autores citados nos livros introdutórios, e em sites como bastter tem razão. Se você poupar mais do que ganha, se você ganhar bem,  aplicar filtros fundamentalistas mínimos, diversificando seus investimentos, e se mantendo fiel a uma estratégia de investimento por dezenas de anos,  a probabilidade de ter um patrimônio suficiente para os objetivos financeiros traçados é muito grande. Porém, é inegável que análises feitas com a utilização de algumas técnicas ensinadas pelo método de Valuation são de extrema valia, mesmo que para atividades fora do mercado acionário, como empreendedorismo, por exemplo. Enfim, é um grande livro, mas ele cobra dedicação e conhecimento prévio.


- “Avaliação de Investimentos” do Aswath Damodaran
                Pô, tá de brincadeira, mais um livro do Damodaran? Pois é. Eu ainda não li esse livro, apenas folheie algumas páginas na biblioteca de uma universidade uma vez. O livro parece ser bem completo, e é uma análise sobre como avaliar qualquer tipo de investimento e não apenas empresas. Pretendo lê-lo também.





- “Expected Returns” do Antti Ilmanen
                Estou lendo atualmente esse livro. É um calhamaço de 600 páginas daqueles livros que possuem folhas grandes e letras pequenas. Como definir esse livro? Como o próprio nome diz é focado em retornos esperados. O que isso quer dizer? Lembra do equity premium (retorno esperado a mais que alguém recebe por assumir o risco de investir em ações) que abordei no artigo http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/acoes-os-tres-fatores-de-risco-de-fama.html, pois então esse é um livro extremante aprofundado sobre estes retornos esperados.  O livro é uma grande descrição de como está o “estado da arte” no que se refere ao mundo das finanças. Ele aborda absolutamente tudo: retornos históricos, Capital Asset Price Model, prêmio acionário, prêmio por iliquidez, prêmio inflacionário, estratégias de value, carry, momentum, renda fixa de forma aprofundada, riscos da renda fixa, tail risks, e muito mais. É um grande compêndio financeiro. O livro possui muitas informações, e a cada 10 páginas equivale, sem nenhum exagero, a leitura de um livro intermediário sobre finanças dado a riqueza de detalhes. O autor é um cara extremamente experiente, é gestor de um dos maiores fundos hedge da Europa, foi conselheiro do fundo soberano da Noruega (para quem não sabe, esse é o fundo que a Noruega constituiu para administrar o superávit em petróleo. Atualmente possui mais de 800 bilhões de dólares, para se ter uma ideia do tamanho é quase cinco vezes o patrimônio da empresa do W. Buffett), e trabalhou em diversas empresas financeiras gigantes. Enfim, é um cara com extrema experiência prática e conhecimento.  Se você gosta de finanças, se lê com certo prazer sobre o tema, é um belo livro, e traz temas que nem em sonho são abordados no mercado brasileiro.

- Artigos Acadêmicos
                Aqui não são bem livros, mas artigos escritos por acadêmicos. Não são de fácil leitura e envolvem geralmente estatística pesada (estatística T, regressões, erros padrões, etc). Citei um, que foi seminal no mundo de investimentos, escrito em 1992 pelos professores Fama&French no meu artigo http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/acoes-os-tres-fatores-de-risco-de-fama.html. Ler estes artigos apenas faz sentido para quem talvez queira seguir carreira na área ou tenha um interesse muito grande no assunto

- Análise quantitativa
                Colegas, até agora basicamente tratei de análise qualitativa. Entretanto, a nova fronteira em finanças são as análises quantitativas. É extremamente complexo, utilizam-se modelos matemáticos muito fora da minha compreensão, e geralmente só Phd em matemática ou física para trabalhar com isso. Esses modelos complexos varrem o mercado em busca de micro-ineficiências para utilizar alguma forma de arbitragem estatística. Às vezes se utilizam de transações que ocorrem em menos de um segundo (as chamadas High frequency trading – transações feitas numa velocidade que apenas computadores podem operar), e operam muitas vezes fora do mercado normal (sim há isso também, o mundo é muito mais estranho do que vemos no dia a dia da mídia e dos livros básicos). Esperava-se que depois do colapso de 2008, onde as análises quantitativas tiveram um protagonismo importante, haveria uma redução da importância dos quants (termo que se dá aos que utilizam análise quantitativa) nos mercados financeiros, entretanto isso não ocorreu, conforme um artigo que li recentemente, muito pelo contrário. Escrevo sobre análise quantitativa apenas por curiosidade, pois quem realmente quer aprender análise quantitativa deveria o fazê-lo para ganhar milhões de dólares por ano em alguma firma de investimento, estrangeira de preferência, sabedor que terá que dedicar muitos e muitos anos para adentrar nos mistérios e complexidade dessa forma de análise.

                É isso pessoal. Quem tiver vontade e paciência de ler todos os livros em ordem de complexidade do iniciante ao avançado, creio que no final atingirá um razoável grau de conhecimento sobre os mercados. Se não o suficiente para sair ganhando 20/25% aa (o que algumas pessoas pensam ser possível, mesmo sem qualquer conhecimento mais profundo, num grande ato de auto-engano, conhecido nas finanças comportamentais como overconfidence), pelo menos para formular as próprias idéias sem seguir cegamente quem quer que seja, bem como para sobreviver e prosperar no mercado com mais segurança, e esse é o meu objetivo primordial de dedicar tanto tempo a esta parte do conhecimento humano: poder alcançar e manter minha IF com certa segurança do que estou fazendo, sabedor é claro que podem ocorrer diversos cisnes negros e tudo ir para o saco, mas daí estamos falando de coisas completamente fora do nosso controle.


- LIVROS QUE TRATAM SOBRE FINANÇAS DE FORMA MAIS GERAL E LÚDICA

                Colegas, aqui são livros que tratam sobre diversos temas desde bolhas imobiliárias (que é um assunto que atrai muita atenção de jornalistas econômicos) a quants. São livros divertidos e muitas vezes instrutivos de se ler. Cito apenas alguns, há diversos outros. O último livro que cito é uma obra-prima sobre um tema extremamente atual e interessante: finanças comportamentais




- “Crash” do Alexandre Vergignassi
            Este é um livro escrito por um jornalista que trabalha para a superinteressante. É um livro bem bacana e foca na história de diversos “crash” de forma bem lúdica. Uma das coisas mais interessantes que li foi saber que no antigo império romano se tentou congelar preços e em menos de três meses começou a ocorrer desabastecimentos (alguma semelhança com o Brasil da dedada de 80, ou nossos hermanos argentinos e venezuelanos atualmente?). Recomendo




- “Bumerangue” do Michael Lewis
                O autor possui diversos livros sobre W. Street, mercados, etc. Nesse, o autor tentar contar a história da crise de 2008 na perspectiva de alguns países protagonistas como Grécia, Islândia, Irlanda e Alemanha. Acha que estamos numa bolha imobiliária no Brasil? É porque você não viu o que ocorreu na Irlanda. Acha que é só no Brasil que o pessoal passa preços inferiores na escritura quando compra e vende um imóvel para pagar menos imposto? É porque você não leu mais profundamente sobre a Grécia. Aliás, as semelhanças da Grécia com o Brasil em muitas matérias é aterradora. Eu fico imaginando que daqui uns 30 anos (quando seremos um país muito mais envelhecido) talvez a gente se transforme numa Grécia piorada, se não abrirmos nossos olhos para os diversos desafios e problemas que nosso país possui para os próximos 20 anos. Quer ver um país inteiro ficar louco pela ganância? Veja o caso da Islândia. O livro é muito bem escrito e divertidíssimo, e nos dá uma panorâmica da crise européia iniciada em 2008.


 
- “Mentes Brilhantes, rombos Bilionários” do Scott Paterson
                Este é um livro focado na crise de 2008 pela perspectiva dos quants. Os quants são aqueles gênios que modelam atualmente o mundo das finanças em busca de retornos superiores.  O livro é interessante, mas não é tão massa de ler como um “Bumerangue”. O mais interessante é que os personagens do livro são tão brilhantes e geniais que você acha que eles não existem de verdade. Qual foi a minha surpresa ao ver que o livro “Expected Returns” foi prefaciado por um deles: Clifford Asness.



- “Salve-se quem puder”  Edward Chancellor
                É um livro sobre bolhas. Desde a famosa bolha das tulipas, as bolhas nas IPOs (sim, a história de bolha em IPO é antiga) da Inglaterra do século 18, passando pelo crash de 29, a bolha japonesa, bolha tecnológica e muito mais. Como o livro é um pouco mais antigo, o crash de 2008 não é tratado. É um livro interessante para vermos que a loucura humana sempre existiu, e é possível que continue existindo. Talvez em nossas vidas financeiras nós nos deparemos com situações como essa, cabe a nós tentar evitar as armadilhas, e até mesmo prosperar em cenários como esse.

               


- "Rápido e Devagar" do Daniel Kahneman

           Eu parei de ler mais ou menos na metade nesse livro no ano passado, e ainda não voltei. Para quem não conhece o Kahneman ele foi, junto com Amos Tversky infelizmente já falecido, o fundador da área de estudo chamada finanças comportamentais. O tema é muito vasto e merece um artigo próprio. Resumidamente, as finanças comportamentais vão colocar em cheque a crença de que os agentes são seres racionais maximadores de utilidade. Há um grande debate, muito em parte pelos ensinamentos das finanças comportamentais, se a teoria dos mercados eficientes pode se sustentar ou não, já que a mesma é baseada em agentes racionais. Há diversos livros que trata sobre o tema, mas nada melhor do que ir na fonte, e esse é um grande livro para se fazê-lo. Acha que pode bater o mercado com pouco conhecimento e pouca prática? As finanças comportamentais explicam. Está maravilhado com os retornos conseguidos nos últimos meses ou ano (o que é conhecido como um erro de extrapolar os resultados recentes para o futuro, dando um grau menor de importância para os resultados mais antigos, o que é outro erro)? As finanças comportamentais explicam. É um grande campo de estudos para nos deixar mais conscientes das nossas limitações e para diminuir as nossas eventuais grandes expectativas com os mercados. Como já dizia Sócrates: "Homem, conhece-te a ti mesmo", não há nada melhor do que estudar finanças comportamentais para conhecer nós mesmos, pelo menos sobre a ótica de investidores.


            Há muitos livros sobre estes temas. E tenho certeza que os colegas conhecem diversos outros. Os livros aqui citados foram apenas uma sugestão de leitura.


LIVROS SOBRE FII/REITS


               A literatura sobre FII no Brasil é quase inexistente. Uma literatura mais profunda sobre FII simplesmente não existe no Brasil. Como é um instrumento financeiro que gosto bastante, e como sei que muitas pessoas também gostam, indico algumas leituras.


- “Introdução aos Fundos de Investimento Imobiliário” do Andre Bacci
                O André é um dos colaboradores do site Bastter. É um sujeito bem inteligente e esforçado, e entende bastante de FII, principalmente dos de papel. Ele possui um e-book, não consegui capturar nenhuma imagem para colocar aqui, sobre FII. É um livro bacana e interessante para quem está iniciando no mundo dos FII, sendo que há alguns capítulos bem legais sobre legislação e declaração de IR nos FII.


- “Fundos de Investimento Imobiliário” do Cristian Tetzner
                O Tetzner possui um livro sobre FII. Infelizmente, nunca o li, mas se o livro for tão organizado e caprichoso como o seu BLOG, creio que deve ser uma leitura bacana.






-Artigos do Soulsurfer sobre o tema no Blog Pensamentos Financeiros

                Pô, deixa eu vender o meu peixe aí! Ehhehe Creio que a leitura dos meus artigos sobre o tema, modéstia a parte, podem dar bons insights sobre os FII, bem como para sua importância e finalidade dentro de um portfólio. Cito os seguintes artigos: http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/01/fii-pessimo-negocio.html (primeiro artigo sobre a importância e finalidade dos FII como geradores de renda), http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/02/comentarios-sobre-fii-fundos-com-rmg-e.html (um dos sete artigos sobre análise de cada FII em particular),  http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/fii-meu-rating-pessoal-dos-fundos.html (meu rating com os melhores FII), http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/reits-um-estudo-sobre-suas.html (estudo sobre os REITs em mais de 12 temas diferentes. Foi um dos bons artigos que escrevi, e não lembro de ter visto nada parecido escrito em língua portuguesa), http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/fii-vamos-de-all-in.html (artigo sobre diversificação em FII, e por qual motivo concentrações muito altas podem carregar riscos altos, sem retornos tão maiores),  http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/fii-minha-carteira-meus-erros-e-meu.html (falo sobre minha carteira em FII e meus erros, e tento passar a ideia que a busca por uma carteira "perfeita" em FII é algo que apenas vai consumir o seu tempo, e não vai te trazer retornos adicionais)http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/investimentos-imoveis-proprios-fii-cap.html (artigo fazendo uma comparação com imóveis próprios, abordando diversos aspectos, creio que é um bom artigo para refletirmos sobre as vantagens dos FII como geradores de caixa) e http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/fii-parametros-objetivos-para-analise-e.html (artigos sobre filtros prévios para análise de um FII).
Eu creio que com a leitura desses artigos, combinada com um estudo dos FII individualmente por conta própria, é material mais do que suficiente para a pessoa montar uma carteira boa de FII, e evitar algumars armadilhas.



- "Investing in Reits" Ralph L. Block
Se alguém realmente quer entender mais profundamente sobre FII (além de ler os meus artigos! brincadeira:)), esse livro é leitura imprescindível. Apesar de ser focado em REITs (os FII americanos, ou os FII seriam os REITs americanos?), inúmeras questões são analisadas detidamente no livro: gestão passiva x gestão ativa, alavancagem, diferenças setoriais, requisitos objetivos de um bom REIT, retornos históricos, riscos, alocação ideal de REITs num portfólio, e muitos outros temas. Foi por meio da leitura desse livro, e pelo meu estudo sobre REITs, que fiquei mais confortável em destinar 25/30% do meu patrimônio para investir em FII (é a alocação que espero chegar no futuro, pois vou indo aos poucos).


             Colegas, depois de completado esse ciclo de livros, eu gostaria de me aprofundar mais em análise técnica e derivativos. Sendo assim, se alguém possuir material de iniciante até intermediário sobre análise técnica (já li um livro sobre Candles e estou vendo alguns vídeos na internet) e sobre derivativos para indicar ficarei bastante agradecido.

            É isso colegas, espero que tenham gostado destes últimos dois artigos sobre indicações bibliográficas e de que alguma maneira possa ser útil para alguém.

               Grande abraço!