Olá, colegas!
Estou preparando um artigo sobre taxa de retirada de um portfólio para fins previdenciários.
Sim, está relacionado com a taxa de 4%
do estudo Trinity, na verdade houve um artigo anterior de Bill Bengen quatro anos antes desse estudo recomendando o 4% rule. Estou
lendo diversos papers e é um assunto interessante, principalmente para as pessoas que almejam viver de renda passiva, ou se preparar melhor para a
aposentadoria. Porém, o assunto hoje é outro, o tema tem como pano de fundo o
debate entre os presidenciáveis realizados na data de ontem.
Eu não li, até
porque não gosto de perder tanto tempo com isso, os diversos comentários sobre
o desempenho dos candidatos. Porém, li um artigo do Sr. Rodrigo
Constantino http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/o-debate-na-band-aecio-neves-foi-o-melhor-no-show-de-horrores/ e percebi que o discurso permanece o mesmo no Brasil. Eu particularmente não gosto dos textos do
Constantino, pois eles são quase sempre extremamente agressivos e virulentos.
Não é a forma que gosto de encarar as questões, pois dá a entender que só há um
determinado tipo de resposta para questões cada vez mais complexas num mundo
cada vez mais complexo. Além do mais, apesar de não apoiar tal forma de agir, a
pessoa precisa ser muito, mas muito boa para ter esse tipo de postura, pois
senão acaba caindo no ridículo quando pega uma pessoa mais preparada, e foi o
que ocorreu quando vi um “debate” (não foi bem um debate, pois a diferença foi
gritante) entre o Constantino e o Ciro Gomes
há um tempo atrás. Portanto, quer se agressivo e dono da verdade (isso
não vai te trazer iluminação nem para si nem para os outros), seja ao menos
muito bom.
Entretanto, o
artigo em tela não é para discutir as qualidades técnicas ou comportamentais do
Constantino, mas pegar o seu texto como pano de fundo que demonstra para mim
que algo muito errado está acontecendo, ou talvez sempre acontecesse e eu nunca
me dei conta por ser jovem demais, com nossa sociedade. Do que você está falando especificamente,
Soul? Falo da incapacidade de ser ouvir o outro, aliás da completa falta de
vontade de sequer reconhecer a existência do outro.
O Constantino
fala que a Marina adotou uma “Postura de
Gandhi”, o que é “muito irritante
para quem não sonha em ´salvar o planeta´ só com uma bike e comendo alface”. O que acho engraçado é que diversas pessoas
no comentário da página dele o elogiavam, pois ele supostamente tinha feito uma
leitura imparcial do debate. Colegas, você pode concordar com o que ele disse,
e está em seu direito, porém a análise dele (e olha que peguei apenas duas
frases) está repleta de falácias ad hominem e pré-conceitos (por gentileza não
confundir com preconceito). A análise
dele pode ser esplêndida, o que não é na minha opinião, mas ela está longe de
ser imparcial. Não há nenhum problema em ser parcial numa análise intelectual
de um fato, apenas isso deve estar claro no texto, algo que não gosto é quando
um ator faz uma defesa parcial de algo assumindo que está sendo imparcial. Porém, continuemos.
Há uns meses
escrevi um comentário, quase um artigo, num blog sobre a incapacidade das
pessoas saberem conviver com opiniões diversas, e uma simples discussão de idéias
descambar rapidamente para agressões e argumentos falaciosos da pior qualidade
argumentativa. Citei expressamente a
polarização que esperava que fossem as nossas eleições. Para mim isso é um atraso
de vida, pois de um lado vejo pessoas falando "petralhas" para tudo e de outro vejo (e tenho um primo petista que adora dizer isso) pessoas falando "coxinhas" para tudo. Sabe quem fica no meio e perdido no meio dessa cacofonia de
agressões? O bom-senso e o verdadeiro embate de idéias.
A Marina,
segundo o colunista, teve uma “Postura de Ghandi”, pois não assumiu lados
explícitos na polarização que vivemos há duas décadas, como se não existissem
outras opiniões possíveis. Ela para mim
teve um atitude admirável ao reconhecer os avanços tanto da era FHC, como da
era Lula. Ora, com o FHC se estabilizou a economia, na bem da verdade foi o Itamar que deu o grande passo (um presidente quase nunca falado, mas que foi essencial ao Brasil), se
criou avanços institucionais importantes e é inegável que o Brasil avançou bastante em algumas áreas. Com o Lula se focou, inclusive do ponto de vista do discurso, a questão da desigualdade
absurda que existe no Brasil, e obtivemos diversas melhorias em vários campos:
econômico, de saúde, de contas públicas, etc. Não reconhecer isso no plano coletivo, algo que esta polarização sem
sentido não permite, é simplesmente fazer mais do mesmo, é
condenar o Brasil a nunca ter uma visão do que quer ser num horizonte maior de tempo, pois como é possível
construir um país pensando daqui 20 anos a frente se a cada 4 anos pode vir um grupo
político e dizer que tudo deve ser feito novamente? Essa postura é ainda contrária aos dados objetivos dos últimos 30 anos e da evolução do país em diversas esferas.
No plano individual,
simplesmente é ter uma vida mais pobre intelectual e eticamente. A partir do
momento que nos fechamos em verdadeiros quadrados mentais, a nossa capacidade
de mudança e compreensão do mundo vai ficando cada vez mais estagnada. Isso é
científico, e está relacionado com o conceito de neuroplasticidade, ou seja, a
capacidade de se mudar e fortalecer conexões neurais. O nosso cérebro, ou seja
tudo que nós somos e pensamos do mundo, não é necessariamente estático, ele pode ser dinâmico. Sabe por qual motivos é difícil mudar hábitos? Não por causa de uma força desconhecida que faz com que a pessoa aja sempre de uma determinada maneira, mas sim porque as conexões neurais para uma determinado tipo de resposta vão se fortalecendo cada vez mais, enquanto outras conexões neurais vão minguando. Portanto, para uma pessoa que está acostumada sempre a proferir xingamentos no trânsito, por exemplo, será sempre mais fácil se "entregar" a reações já completamente estabelecidas em sua rede neural, porém ao frear esse impulso "natural" a pessoa pode muito bem fortalecer outras conexões que poderão desencadear outros tipos de respostas quando os mesmos estímulos externos se fizerem presentes.
Legal Soul, você está querendo dizer exatamente o quê? A Marina é a
melhor candidata? Olha, cada um pode ter a opinião que achar mais conveniente.
Achar quem é o melhor candidato para ser o próximo presidente não é bem o
tópico desse artigo. Além do mais, alguém pode realmente saber como seria um governo da
Marina? Ou do Aécio? É imprevisível. As
pessoas não aprendem que muitos eventos são imprevisíveis. Há duas semanas um avião
caiu na minha cidade natal e pode ter mudado os rumos de um país de 200 milhões de
habitantes, algo completamente inesperado e com conseqüências muito profundas
(sim um verdadeiro cisne negro), e as pessoas ainda acham que conseguem prever nos mínimos detalhes o que vai ocorrer se uma pessoa se tornar presidente.
O que eu posso dizer, entrando um pouco mais no tema na eleição
propriamente dita, é que a classe política está apodrecida, muito por causa de
conchavos políticos, do famoso “toma lá da cá”. Isso ocorre hoje, e ocorria com
FHC. Não é disso que todos reclamam? As
pessoas não querem uma mudança na forma de fazer política? Portanto, quando
alguém se apresenta como essa possibilidade, uma parcela considerável de
pessoas rejeita de antemão essa postura. Se a rejeição fosse pelas ausências de
qualidades técnicas seria compreensível (e pode ser bem verdade que as qualificações necessárias não existam), o que não é compreensível é a rejeição
pela rejeição.
Por fim, o colega UB fez um post bem interessante sobre a possibilidade do diálogo no meio político (http://blogdouo.blogspot.com.br/2014/08/giannetti-x-mansueto-dois-pesos-uma.html). Será que não está na hora de termos debates mais qualificados e
deixarmos de lado o discurso fácil e a argumentação capenga da ofensa? Eu acho
que sim.
Ah, não poderia terminar o artigo sem dizer algumas palavras sobre o
Gandhi, a Alface e a Bike. Primeiramente, Gandhi foi um ser humano
extraordinário, com uma história de vida fantástica. Não conhece? Não precisa
ler uma biografia , coisa que também não fiz, veja o clássico filme “Gandhi”
ganhador de vários Oscar em 1981, se não me engano. Portanto, se alguém disser
que você tem uma “Postura de Gandhi” fique feliz, pois isso deve ser encarado
como um grande elogio. Coma mais alface, pois o seu organismo, sua
carteira e o mundo agradecem. Por fim, comece sim a andar de
Bike, pois novamente o seu organismo, a sua carteira e o
mundo agradecem.
Ah, como o mundo ia ser melhor se mais seres humanos tivessem posturas semelhantes, nem que em apenas alguns aspectos, ao notável Mahatma (grande alma) Gandhi. Tenho certeza que ele comia alface.
Grande abraço a todos!