Olá, colegas! Os últimos oito dias no deserto foram simplesmente sensacionais. Aconteceu tanta coisa boa que poderia escrever páginas e páginas de reflexões ou simplesmente narrar as diversas experiências. Porém, ao acessar o blog vi que a marca de 200 mil visualizações tinha sido ultrapassada, e não posso deixar de dizer que fiquei feliz. Primeiramente, porque nunca imaginei que um blog feito sem quase nenhum cuidado na parte estética e sem funcionalidades básicas (eu até hoje não sei se o feed de recebimento de mensagens no e-mail do blog funciona ou não) poderia ter essa quantidade de acessos em um ano e meio.
Ah, o Deserto Australiano (Outback). Memorável, é o que eu posso dizer em apenas uma palavra. O bom de ter uma casa dessas, é que você pode levá-la para lugares espetaculares.
Além do mais, os temas aqui são demais diversificados e o foco de quase todos, no que se convencionou chamar de blogosfera financeira, quase sempre é voltado para análises de ativos financeiros (há diversos blogs nessa direção) ou temais mais básicos da vida como ter ou não carro, aparência, a necessidade de se possuir planos e metas, etc (há alguns blogs nessa direção). O blog pensamentos financeiros não se enquadra em nenhuma categoria dessas, e já houve diversos comentários negativos a respeito disso. A minha última postagem sobre a Tasmânia , por exemplo, para mim foi muito bacana de escrever, e talvez atraísse mais atenção se fosse escrito num blog voltado apenas a viagens, já que não é do interesse da maioria das pessoas que querem ler sobre finanças apenas. Artigos sobre a incompreensão dos direitos humanos (a incompreensão dos direitos humanos), o lado mais sombrio do ato de se rotular (a racionalidade do ato de rotular e o seu lado mais sombrio, o conceito de que não temos mérito nenhum do mundo que herdamos (herança e a incongruência de alguns argumentos), entre outros artigos dificilmente são enquadráveis na categoria “finanças”, o que com certeza contribuiu para que não haja tanta atenção para este espaço.
Não posso negar também que muitos artigos meus são às vezes longos para o que as pessoas estão cada vez mais se acostumando a ler. Infelizmente ou não, as pessoas estão impacientes e clamam por sínteses ou textos fáceis. A revista Veja é um exemplo claro disso. Cito esse periódico, pois ele é o mais famoso do Brasil. A revista em muito se parece com um lanche do MC Donalds, visualmente pode chamar atenção, mas o valor nutricional é quase nenhum. A revista é feita para ser lida em uma hora. Há fotos, gráficos coloridos, fofocas, alguns artigos sobre assuntos sérios escritos num português básico para que seja rapidamente compreendido sem muito esforço. Não há nada de errado com essa postura editorial, desde que os leitores tenham claro que a leitura é um passatempo, é um arremedo de leitura da realidade. Antes que alguém queira adicionar alguma conotação política a essa simples observação, digo que a revista que mais gosto de ler, quando tenho algum exemplar disponível, é a “The Economist”, considerada como uma revista conservadora. Você não lê uma “The Economist” em uma hora, e os textos são muito bem escritos, abordando diversos temas (para se ter ideia foi num artigo da revista que pela primeira vez soube da existência do grupo extremista Boko Haram, isso alguns anos antes de haver qualquer matéria no Brasil a respeito). Por fim, escrever textos mais longos e densos como alguns meus, a toda evidência não quer dizer que são textos bons ou bem escritos. Apenas pontuo que a realidade costuma ser muito mais sutil e complexa do que alguns textos de alguns parágrafos com muita exclamação e lugares-comuns parecem transparecer.
Por fim, sempre parti da premissa que ideias não devem ser respeitadas. Ideias servem para ser testadas, contrastadas e aceitas ou rejeitadas depois de passadas pelo crivo rigoroso do debate e da análise. Não se deve respeitar ideias, mas sim pessoas, e infelizmente no Brasil atual não se respeitam nem ideias (aliás é difícil ter um debate genuíno de ideias), nem pessoas. Logo, esse estilo de texto não agrada algumas pessoas que por ventura se sentem ofendidas, o que também afasta a popularidade desse blog. Porém, mesmo com todas essas características, considero o número de acessos muito bom mesmo. Agradeço a todos que já manifestaram por aqui palavras de incentivo e críticas construtivas. Obrigado, o que mais me incentiva a continuar escrevendo é contato mesmo que virtual com pessoas, isso para mim é muito bom, pois uma viagem de longo prazo, apesar disso já ser bem claro para mim há bastante tempo, mostra como é importante se ter amigos e relações humanas saudáveis.
Assim, resolvi escrever sobre o tema que domina o sonho de 10 entre 10 investidores amadores, o nirvana das finanças pessoais, é claro que só pode ser INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA. O que é ser independente financeiramente? Quanto é necessário? São perguntas que qualquer investidor amador já se fez e nesse texto procuro dar a minha opinião singela sobre esse tema.
Primeiramente, deve-se conceituar de uma maneira um pouco menos subjetiva o que é ser independente financeiramente. Alguns conceitos já foram abordados diversas vezes nesse blog, porém, apesar de auto-evidentes, é sempre bom relembrá-los. Um indivíduo pode ter renda proveniente do seu trabalho (o que é a tônica para a esmagadora maioria da espécie humana) ou renda proveniente de algum capital acumulado (imóveis, renda fixa, ações, negócios próprios, etc), também denominada por alguns escritores renda passiva. É de se esclarecer que um negócio próprio é capital acumulado. “Soul, não me parece ser renda passiva de um pequeno empreendedor que trabalha bastante para manter a empresa funcionando”, alguém pode pensar. É verdade, mas isso é porque o capitalista, ou seja dono do capital, também exerce funções de gerência. O que é possuir uma ação de uma empresa listada em bolsa se não ser capitalista e deixar a administração por conta de terceiros? Um pequeno empreendedor poderia deixar a administração para terceiros, e ter a renda passiva do negócio que é dono. Não entro no mérito se é factível ou não para a maioria dos negócios, apenas digo que é possível. Assim, pequenos empreendedores realmente parecem estar no limite entre renda passiva e ativa.
Assim, se conceitua independência financeira quando alguém possui renda passiva, ou seja renda proveniente do capital previamente acumulado, suficiente para manter o padrão de vida desejado. A última oração revela que é impossível se chegar a um valor preciso para a independência financeira, pois cada pessoa obviamente poderá ter uma definição própria do que seja “um padrão de vida desejado”. O sujeito A pode acreditar que precisa de R$ 20.000,00 mensais para ter uma vida boa, enquanto o sujeito B pode pensar que com R$ 5.000,00 mensais é possível viver-se bem. Teoricamente, os sujeitos A e B podem ser independentes financeiramente com a mesma quantia de capital acumulado. Como? Basta que os rendimentos totais no primeiro caso sejam quatro vezes maiores do que no segundo caso. É possível na teoria, mas muito difícil na prática, e aqui posso começar a falar um pouco sobre um conceito essencial para mim não só em finanças, mas principalmente em finanças: Margem de Segurança.
Todos os conceitos tratados até aqui são intuitivos e do conhecimento da grande maioria que já gastou algum tempo pesquisando sobre independência financeira. Aqui, ao tratar de margem de segurança e sua relação com independência financeira, espero trazer uma perspectiva um pouco diferente do usual. O que é margem de segurança? Nada mais é do que uma “folga" em algum parâmetro para que não haja consequências negativas ou que ao menos elas sejam minimizadas. Exemplo? Vá a um supermercado e olhe a data de validade de algum produto. Ao passar a data de expiração do produto, isso não quer dizer que o alimento não pode mais ser consumido. Uma vez um Engenheiro que trabalhava numa empresa de consultoria de estratégia que tinha a missão de otimizar alguns aspectos da logística da gigante Walt Mart me disse que se pode consumir os alimentos dias depois da data de expiração (claro que vai variar a quantidade de dias de alimento para alimento). A razão disso é que as empresas preferem colocar uma data de expiração do alimento muito antes da real data em que o alimento se tornaria impróprio para consumo, para que não haja muito espaço para qualquer responsabilização legal da companhia. Isso nada mais é do que margem de segurança. Há uma “folga" no parâmetro data de expiração do alimento, pois, e isso nada mais é do que estatística, sempre haverá um alimento que estragará antes da média. Logo, se a data de expiração é colocada com bastante folga, a empresa quase que elimina qualquer risco do alimento estragar antes do prazo de validade que se encontra na embalagem.
Quando comecei a refletir mais profundamente sobre margem de segurança, eu percebi que é um conceito que eu uso em quase tudo. Assim, se vou passar um Road Train na Austrália (caminhões que possuem mais de 50 metros de comprimento), eu utilizo uma grande margem de segurança, ou seja, precisa haver muito espaço para eu realizar a ultrapassagem, se não houver eu simplesmente fico atrás do caminhão, mesmo que haja espaço suficiente para a manobra. Poderia dar inúmeros exemplos, mas acho que o conceito ficou claro. Quanto maior a margem de segurança, menor o risco que algum evento negativo aconteça, quanto menor a margem de segurança mais arriscado se torna a materialização de algum evento negativo.
Obviamente, todos nós em certa medida pensamos em margem de segurança, mesmo que não reflitamos de maneira específica sobre esse fato. O mesmo se dava comigo com certeza. Porém, ao ler um livro de investimentos considerado clássico nos dias de hoje chamado “Margin of Safety” de um autor chamado Seth Klarman, um novo insight surgiu na minha cabeça. O livro é simples, mas não sei se existe tradução para o português. A partir da leitura desse livro eu comecei a pensar mais profundamente sobre o conceito e como eu poderia usá-lo em minha vida de maneira apropriada. Como eu estava lendo muito sobre investimentos na época, tentei aplicar o conceito ao mercado acionário. Não deu certo, pois primeiro o mercado acionário é muito mais complexo do que alguns inputs de alguma fórmula de valuation. Hoje carrego posições acionárias com perdas na ordem de -50% ou até mais (ETER, EZTEC e STBP). Porém, e isso também é uma forma de pensar sobre margem de segurança, comprometi uma parte muito pequena do meu capital nessa forma de investir. Hoje talvez se computar o valor de mercado atual da minha posição acionária, dividendos recebidos, lucros com venda de alguns papéis, talvez o impacto no meu patrimônio total seja menor do que -1%.
Belo livro sobre investimento e modelo mental de como se deve encarar os desafios financeiros. Recomento a leitura.
Se no mercado acionário (e digo que nunca procurei me aprofundar mais, talvez seja possível usar o conceito de margem de segurança no mercado acionário de maneira satisfatória, algo que remete a discussão se é possível a gestão ativa ser mais eficiente do que uma estratégia passiva), na atuação de compra e venda de imóveis o conceito foi de absoluta extrema valia. Não existe nenhuma posição imobiliária minha, algo que eu entendo muito mais do que mercado acionário (por isso uma parcela muito significativa do meu patrimônio está alocada em operações desse tipo), onde o conceito de margem de segurança não venha em primeiro lugar. É por isso que com crise ou sem crise, é improvável eu ter resultados nominais negativos. Na bem da verdade, posições minhas estão prestes a ser desfeitas, pois tenho recebido propostas razoáveis de compra, o que eu pensei que seria bem difícil num cenário de tanto pessimismo e dificuldades política-econômicas. Talvez, com medo as pessoas optem a compra de imóveis. Espero que assim seja, pois se o for, e a crise for de média duração, haverá muito espaço para realizar operações de pequena complexidade e talvez com margens potenciais de lucro bem grandes. É por causa do conceito de margem de segurança, que eu já deixei passar inúmeras “oportunidades”. Se eu não me sinto confortável com a margem do negócio, eu simplesmente passo para outro e ponto final. Talvez, fosse uma oportunidade mesmo, mas se na época eu achei que não atendida requisitos seguros de margem, eu simplesmente mantenho-me afastado.
Por qual motivo toda essa conversa sobre margem de segurança e minhas aventuras financeiras num artigo sobre independência financeira? Caros leitores e amigos, assim o procedo, pois esse conceito é central para a independência financeira. A margem de segurança pode ser um ótimo modelo mental (ainda preciso escrever sobre os modelos mentais e a ótima abordagem de Charlie Munger sobre o tema - para quem não conhece sócio do Buffett) para evitarmos riscos e navegarmos mais tranquilos diante das vicissitudes da vida. Entretanto, ele pode ser um dificultador, algo que imobiliza as pessoas a irem para frente. Como? O motivo é simples. Quanto mais conservador você for em suas premissas, maior será a sua margem de segurança e por consequência menor será o seu risco. Assim, eu posso colocar uma margem de segurança enorme nas minhas operações imobiliárias. Porém, será que eu conseguirei entrar em algum negócio? Dependendo do tamanho da margem, será difícil, muito difícil.
Se pararmos para pensar, assumir riscos nada mais é do que diminuir a margem de segurança ou simplesmente ignorá-la. Qualquer grande analista do mercado financeiro, e eu acho o Damodaran um deles, admite que há limites para a modelagem de qualquer coisa e no final deve se aceitar que há certos parâmetros que fogem do controle. Aceitar isso liberta o investidor e não o deixa paralisado. Isso nada mais é do que o conceito budista de abrir mão da ilusão de controle sobre tudo. Há certas coisas que não estão no nosso controle, e se formos conservadores demais, talvez nunca faremos coisas memoráveis na vida.
Voltando ao exemplo inicial do exemplo dos sujeitos A e B. Se ambos tiverem o mesmo patrimônio, parece claro que a margem de segurança do sujeito que quer viver com R$ 20.000,00 mensais será muito menor do que a margem de segurança do sujeito B que se contenta com R$ 5.000,00. Ou o sujeito A aumenta o capital acumulado, ou ele diminui a sua necessidade de renda, sob pena de muito provavelmente fracassar no seu objetivo de viver de renda. Portanto, faz todo o sentido ter margem de segurança para viver de rendimentos. Assim, se pessoa tem um patrimônio de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), se a mesma se contentar com uma renda de R$100.000,00 anuais (5% aa) será muito mais seguro do que se ele quiser viver com R$ 200.000,00 anuais (10%). Óbvio. Sim, o é, porém refletir mais detidamente sobre obviedades pode nos revelar alguns segredos.
O que está em jogo, por que tantas pessoas querem independência financeira? Pense nisso por um momento, amigo leitor. Você quer viajar o mundo? Você quer ficar sentado vendo inúmeros filmes e lendo livros? Quer se dedicar a um trabalho voluntário? Não quer se submeter mais a empregos considerados “chatos" e opressivos? Sim, todos esses motivos são bons o bastante, mas por qual motivo você quer viajar o mundo ou ver filmes ou ajudar os outros? Não posso responder por outras pessoas, mas creio que o motivo principal é que as pessoas querem ser mais satisfeitas na vida e para isso elas precisam de tempo para realizar uma miríade de atividades que as deixem satisfeitas (chame de felicidade se quiser). Logo, o tempo é algo central na análise de independência financeira.
As pessoas não querem dinheiro necessariamente, o que eles querem é tempo livre para ir atrás de qual seja os seus sonhos e objetivos. “Porém, para ser livre das necessidades da vida, eu preciso de dinheiro, não é mesmo Soul?”. Para responder essa pergunta com mais detalhes, eu precisaria de um artigo em específico. Porém, vou partir da premissa mais fácil de que se precisa de uma quantidade pelo menos razoável de patrimônio acumulado.
Voltemos ao exemplo do sujeito que quer R$ 200.000,00 de renda anual com R$ 2.000.000,00 acumulados. Há inúmeros estudos estatísticos, feitos principalmente no mercado americano, sobre qual é a taxa segura de retirada para um portfólio. Houve uma semana no ano passado que eu li dezenas de estudos a respeito do tema, para tentar entender melhor o tema e ir mais a fundo do que simplesmente dizer aplique “a regra dos 4%” ou não aplique a regra. Até mesmo queria escrever uma série, fiz apenas o primeiro artigo e não continuei (Taxa Segura de Retirada - Primeira Parte) Como não tenho internet frequentemente no computador na viagem, não escreverei sobre temas muito técnicos, pois gosto de ler e conferir artigos antes de escrever algo. Apenas digo que uma taxa de retirada de 10%, mesmo num país com juros reais tão altos como o nosso (a propósito o Brasil foi o país que possibilitou a maior taxa de retirada sem extinguir o portfólio, há uma breve menção ao nosso país num artigo sobre taxa de retirada em países emergentes), não é segura. Não há margem de segurança alguma e é provável que depois de 20-25 anos o patrimônio esteja à beira da extinção.
Por que não, então colocar uma taxa bem conservadora (no Japão a Safemax foi de pouco mais de 1%), e não correr nenhum risco? Isso é possível. Porém, uma taxa de retirada de 1% para uma renda anual de R$200.000,000, significa um patrimônio de R$20.000.000,00. Você pode acumular todo esse dinheiro? É possível, mas tenha certeza que isso custará, se você não for recebedor de uma grande herança, muito do seu tempo. Assim, você está trocando segurança de sobrevivência do seu portfólio, da sua independência financeira, por tempo livre de sua vida. Simples assim. Mas, se o seu objetivo em ser independente financeiramente é ter mais tempo livre de qualidade, faz sentido trocar tempo por segurança nesse grau? Na minha opinião, não. O que fazer, então?
Num dos últimos artigos que escrevi sobre liberdade, tributos, eu expressei minha opinião, que possui raízes biológicas (ou seja é muito mais forte que qualquer argumento baseado apenas em ideologia seja socialista, libertária, ou qualquer outro rótulo), de que quase todas as relações humanas não são lineares, logo elas são relações de equilíbrio. Buda percebeu isso, muitas pessoas percebem isso, e creio que eu aos poucos vou percebendo isso. Logo, a relação entre segurança, risco, tempo deve ser balanceada. Vale a pena trocar a sua juventude e idade madura em busca de uma segurança financeira muito grande apenas na velhice? Na minha opinião, não. Vale a pena não dedicar nenhum tempo de sua juventude e vida madura para ter segurança financeira na velhice? Também, não. Percebam, colegas, é uma relação de equilíbrio. Assim, a questão não é ter Estado ou não. Tributos ou não. Liberdade ou não. A melhor resposta sempre será uma dosagem entre os variados extremos.
Muitos colegas, ou até algumas pessoas de forma anônima normalmente num tom agressivo , perguntam como alcancei a independência financeira. Foi assim do dia para noite? Foi recebimento de herança? Colegas, obviamente houve acúmulo de capital desde a adolescência. Houve aportes consideráveis durante dez anos. Houve uma grande taxa de poupança em relação aos meus rendimentos Houve uma grande rentabilidade devido às minhas operações com imóveis em leilão. Porém, e talvez seja tão importante quanto as outras atitudes delineadas, houve uma grande mudança no meu estado mental em relação a isso. Eu sempre fui muito conservador em matéria de dinheiro. Minha família também . Logo, a simples menção da ideia de abandonar um cargo de elite externamente bem remunerado com estabilidade, fez os meus pais, e alguns conhecidos, simplesmente pensarem que eu estava louco (hoje em dia eles me entendem melhor, principalmente vendo como estou feliz, e como algumas operações imobiliárias minhas, apesar do pessimismo e da desconfiança, estão dando certo).
Talvez esteja, mas vejam, para mim ficou claro (e o amigo Viver de Renda alertou-me num e-mail pessoal) que eu poderia estar trocando tempo de qualidade por mais segurança no futuro. Claro, precisamos de segurança, mas qual é o grau que precisamos ter? Eu não me sentiria confortável sem ter um plano e um bom capital acumulado, como algumas pessoas podem-se sentir (essa semana li diversos artigos de um sujeito que tem um blog chamado Holidaze - http://blog.theholidaze.com - , largou o emprego com 24 anos e está há seis anos viajando o mundo vivendo do seu blog e de alguns trabalhos freelance), mas preciso de tanta segurança assim? Preciso de uma taxa de retirada de 1.0% para ai sim achar que posso dedicar meu valioso tempo para coisas que me agradem?
Além do mais, será que preciso de tanta renda para ser satisfeito? Dos últimos seis meses da minha vida, em cinco deles a minha casa foi uma campervan pequena. Minha geladeira, minhas roupas, minha cama, tudo estava nesse pequeno carro. Rodei, essa parte da viagem chega ao fim em dois dias, 27 mil quilômetros, e nunca me senti tão vivo na vida. Tive experiências que nem com muito dinheiro se pode ter, como jantar a luz do luar tomando um vinho no meio do deserto com um céu estrelado, dormir num parque nacional onde uma das montanhas mais impressionantes que eu já vi de dia ficou iluminada com as estrelas de noite, tal a quantidade absurda de estrelas no firmamento ou ficar na casa de uma família australiana sensacional, pois conheci um coroa de meia idade surfando na poderosa onda de CloudBreak em Fiji. Essas não correspondem nem a 5% das histórias que tenho acumulado desde o início da viagem, e se for pensar em todas as minhas viagens então. Não, definitivamente, não se precisa de muito. Mas, precisa-se de dinheiro para fazer o que eu fiz, afinal nada é de graça, apenas amigos, o ar , a felicidade entre outras coisas, mas muitas outras é preciso pagar, apesar que as melhores experiências geralmente não envolvem o dispêndio de muito dinheiro ou de qualquer dinheiro. Assim, a sabedoria, mesmo financeira, está em achar um ponto de equilíbrio.
Aos poucos fui me dando conta dessa realidade, e pensei comigo mesmo “Ei, eu já sou independente financeiramente, posso não poder viajar de cinco estrelas durante 4 anos pelo mundo, afinal esse jeito de viajar é o mais tedioso, sem graça e mais caro, mas posso viajar por 4 anos do jeito que mais gosto de fazer”. “Posso, quando no Brasil, não ter um iate, uma ferrari e uma cobertura na zona Sul do Rio, mas quem disse que preciso de um carro de luxo, de uma cobertura ou um barco luxuoso?”. Equilíbrio.
Há hoje em dia em finanças ou até mesmo na filosofia (o site IMB é impregnado desse conceito), uma tendência de não se discutir felicidade, ou uma boa vida. Isso nem sempre foi assim e com certeza não é assim para inúmeras sociedades no mundo. Nos primórdios da filosofia ocidental, o trio maravilha (Sócrates, Platão e Aristóteles) discutiam à exaustão sobre bem-estar, bem como uma vida plena. Eu acho que deveríamos voltar a rediscutir isso em termos abstratos e filosóficos, bem como em termos práticos. Logo, eu não tenho o menor pejo em dizer que adquirir uma ferrari não trará nenhum grande bem-estar a você e provavelmente você trocará o seu bem mais preciso (tempo de vida com qualidade) por um objeto material que não te acrescentará muita coisa. Seus filhos não serão mais felizes por isso, você não será mais satisfeito, a sua mulher não gostará mais de você por causa da aquisição e nem mesmo mais amigos genuínos você terá. Isso para mim não é uma boa vida, e está longe de ser uma vida bem vivida e com significado.
Quer dizer que devemos forçar todo mundo a entrar num avião e ir viajar? Evidentemente que não, e muitos críticos do meu espaço não percebem isso nos meus textos. A maior libertação é o auto-conhecimento e como a palavra diz (bem como a linda música do Marley “EMACIPATE YOURSELVES FROM MENTAL SLAVERY, NONE BUT OURSELVES CAN FREE OUR MINDS"), isso precisa da participação ativa do indivíduo, ninguém pode obrigá-lo a nada, até porque seria uma violação indevida da sua liberdade individual. Entretanto, se você confunde sucesso humano com sucesso financeiro (o meu artigo a respeito está quase pronto), saiba que está trocando o seu tempo nessa terra por segurança ou por coisas materiais que não trarão nenhuma sensação muito grande de bem-estar subjetivo.
Marley, um dos grandes artistas do século passado. Suas letras inspiradas, seu estilo de música delicioso de se ouvir, é um bálsamo às vezes para os ouvidos e cérebro.
É o que eu tenho a oferecer sobre Independência Financeira. Acumular patrimônio é importante. Margem de Segurança é importante. Consumir é importante. Ser conservador é importante. Não desperdiçar o seu escasso tempo nessa terra é importante. Saber que não temos controle sobre muitas das variáveis é importante. Ser satisfeito, entenda ser feliz é importante. Reflita sobre isso, e ache o seu ponto de equilíbrio. Equilíbrio é a chave para bem viver nesse mundo, e talvez seja a chave para que a humanidade dê um passo a frente para um novo modo de encarar o meio ambiente e a realidade. É a chave também para a sua independência financeira.
Grande abraço a todos e mais uma vez agradeço a todos os leitores pelos acessos, e-mails, e comentários desse blog.