Olá, colegas! Neste artigo, irei tratar sobre temas bem
conhecidos pelos investidores, mas talvez com um enfoque um pouco
diferente. O tema hoje é razoavelmente
abrangente, mas espero não me estender muito no texto.
Como se mede a “riqueza”
produzida por um País? Atualmente, se mede pela métrica do PIB. Eu coloquei
entre aspas, pois para mim o PIB está longe de ser um bom indicador para
desenvolvimento econômico humano saudável. Se o ar de alguma cidade brasileira piorar,
por exemplo, e alguma empresa começar a
vender máscaras para os habitantes dessa cidade hipotética, o PIB aumenta.
Logo, para mim é um erro a procura incessante pelo crescimento do PIB a
qualquer custo. É por isso que sempre
achei interessante um país como o Butão adotar o conceito de “FIB” (felicidade
interna bruta). Porém, não irei adentrar
nessas questões, vou partir do pressuposto que a riqueza produzida em um país é
bem capturada pelo PIB.
Qual é a riqueza “produzida” por
um indivíduo? Para a esmagadora maioria das pessoas é a retribuição financeira
recebida pela venda da sua força de trabalho. É a renda proveniente do salário.
Há alguma outra fonte? Sim, é claro. A pessoa pode ter uma casa alugada, ou
receber dividendos de um Fundo Imobiliário ou de uma ação ou até mesmo juros
emprestando dinheiro para o governo. Isso é uma forma de renda que não vem do
trabalho, mas sim de um capital previamente acumulado. Chega-se, portanto as duas formas de renda
que um indivíduo pode receber: do seu trabalho e do seu capital acumulado.
Quanto mais capital se tem, mais a renda proveniente do capital irá ser
proporcionalmente maior à renda oriunda do trabalho. Quanto menos capital se
tem o inverso acontece. O livro do Piketty aborda muito bem esses
conceitos. Aliás, para além das questões
ideológicas, o livro possui muita divagação interessante, e essa é uma delas.
Quanto mais se sobe na escala de riqueza (os 0.1% mais ricos, por exemplo),
mais a renda do capital vai se tornando preponderante.
A riqueza produzida num país
também vem das mesmas fontes: renda do trabalho e renda do capital. Porém, como
é possível alguém possuir capital e auferir renda do mesmo? Há basicamente duas
formas: poupando ou herdando o capital de alguém. Pense em vocês mesmos
queridos leitores. Como chegar a R$ 5 milhões de reais em capital acumulado? Ou
se poupa ou se herda essa quantia ou uma mistura dos dois. E a poupança vem da
onde? Ela só pode se originar da riqueza produzida. Assim, se alguém não é
herdeiro, e não possui nenhum capital acumulado, a única forma de auferir renda
é ofertando a sua força de trabalho. Se o hipotético indivíduo consegue ter uma
renda de R$ 25.000,00 ao ano, duas possibilidades se abrem: consumo ou
poupança.
O que seria consumir? Simples, a
pessoa gasta os R$ 25.000,00. Logo, toda a sua renda foi para o consumo e nada
foi poupado. Dessa maneira é impossível haver acúmulo de capital, e, por
conseguinte renda proveniente do capital acumulado. Agora, se a pessoa resolve consumir apenas
70% da sua renda, isso quer dizer que ela terá ao final de um ano R$7.500,00 em
capital. Nessa situação, e imaginando um
lugar sem inflação para fins de simplificação e uma taxa de juros básica de
10%, o nosso sujeito hipotético poderia
aumentar a sua renda em R$ 750,00 (presumindo que ele receberá a taxa básica de
juros), passando a receber R$ 25.750,00 por ano. Notem agora que esse indivíduo
possui renda não só do trabalho, mas como também, ainda que pequena, renda do
capital acumulado.
Fica claro que
quanto mais a pessoa poupar, mais o estoque de capital acumulado irá crescer, e
mais significativa será a parcela da remuneração de capital na renda total da
pessoa. Logo, a taxa de poupança é
fundamental para pessoas sem muito patrimônio e para países pobres ou de renda
média. É a única forma de se acumular patrimônio. É por isso, colegas, que a
nossa taxa de poupança enquanto país (o quanto o governo, as empresas e as
famílias economizam) é uma lástima. No gráfico abaixo, é possível ver como a
nossa taxa é baixa. A nossa poupança caiu ainda mais em 2014, estando abaixo de
13% em relação ao PIB. Logo, em 2014 para cada R$ 100,00 produzidos, economizamos enquanto
nação menos de R$ 13,00. Você
conseguiria ir longe economizando apenas 13% do que ganha? Eu acho que não.
Essa taxa de poupança muito baixa diz um pouco sobre o caráter do brasileiro de
preferir o consumo imediato e não o acúmulo gradual de poupança.
Essa tabela é até 2013, a nossa taxa de 2014 foi ainda pior. Não sabe por qual motivo a China cresce tanto? A cada duas unidades produzida eles poupam uma. Isso quer dizer que um Chinês médio poupa quase cinco vezes mais do que um brasileiro médio. O Brasil perde de lavada para os demais países em desenvolvimento.
A taxa de investimento de um indivíduo depende
de sua taxa de poupança. Assim, se quero investir 20% do meu salário, eu
preciso ter uma taxa de poupança de 20%. Logo, poupança e investimento estão umbilicalmente
interligados. O mesmo raciocínio serve para países. Sem poupança não pode
haver investimento, a não ser que alguém financie esse investimento, e no caso
brasileiro estamos captando poupança externa para financiar o GAP entre a nossa taxa de
investimento baixa e a nossa taxa de poupança mais baixa ainda. Esse
financiamento se dá por meio de déficits em transações correntes. Observem que
ao longo dos últimos 60 anos o Brasil sempre poupou menos do que investiu, a
não ser num breve período de tempo no primeiro mandato de LULA.
Poucas pessoas lembram, mas a Dilma nas eleições em 2010 disse que iria levar o investimento para 22,5% do PIB, ela entregou um país com menos de 18% em taxa de formação bruta do capital fixo, ou seja, um retumbante fracasso.
Observem que o GAP entre a taxa de poupança e taxa de investimento é financiada com poupança externa (com a exceção dos anos dourados do primeiro mandato do LULA onde tudo deu certo para o Brasil).
Portanto, os
números brasileiros infelizmente não são bons. Investimos pouco e poupamos
menos ainda. Entretanto, nós enquanto investidores amadores podemos sair da
média brasileira e poupar muito mais, acelerando o processo de acúmulo de
capital. O acúmulo de capital para indivíduos se dá pela taxa de poupança, pelo
retorno do capital e pela quantidade de dinheiro investida. São esses conceitos que
todos os educadores financeiros, conscientemente ou não, trabalham em seus
livros, palestras, vídeos e sites.
Logo, se a
pessoa puder poupar mais da sua renda (chamarei aqui pela letra S), se puder
aumentar a sua renda do trabalho (chamarei aqui de R) e conseguir retornos
maiores em seu capital previamente acumulado (chamarei aqui de C), ela irá
maximizar os seus resultados. Portanto, se uma pessoa tem uma renda anual de R$
50.000,00 (R), uma taxa de poupança de 30% (S) e uma rentabilidade real do
capital acumulado de (10%), a pessoa pode melhorar o seu acúmulo de capital
seja aumentando R, S ou C. Se o indivíduo conseguir aumentar a sue renda anual
para R$ 100.000,00, a sua taxa de poupança para 40% e o seu retorno de capital
para 12%, ela estará numa situação muito melhor.
Nós temos
controle dessas três variáveis? Não, se entendermos como um controle absoluto. Aliás, a ideia de controle é ilusória, mas não irei filosofar nesse tópico.
Entretanto, parece-me que temos algum controle sobre essas variáveis. Numa
ordem ascendente de controle, eu diria que temos pouco controle em relação a C,
e maiores controles sobre R e S. Logo,
basear o acúmulo do nosso capital mais pesadamente no retorno do mesmo não é
conservador, pois é a variável que temos menor controle, ou alguém sabe ao certo
quanto vai ter de retorno investindo no mercado acionário brasileiro nos
próximos dez anos?
Além de não
ser conservador ou confiável, como dito no terceiro parágrafo ao fazer menção
ao livro de Piketty, a rentabilidade do capital só vai ficando expressiva, como
medida da renda geral produzida, quando se vai indo para os extratos superiores
de riqueza. Isso significa que apenas quando se tem muito capital a
rentabilidade do mesmo vai ficando cada vez mais importante.
Portanto, as
sugestões de educadores financeiros famosos não são despiciendas: foque em
formas de ganhar mais dinheiro com a sua força de trabalho e seja frugal pelo
menos em alguns aspectos da sua vida para poder gerar taxas de poupança
maiores, não seja obcecado com rentabilidades de capital, a não ser que já se
tenha um capital acumulado razoável.
Dois exemplos hipotéticos:
a)
Capital acumulado = R$ 100.000,0
R = R$300.000,00 anuais
S= 50%
C =8%
b)
Capital acumulado = R$ 100.000,0
R = R$100.000,00 anuais
S= 30%
C =12%
Em qual das duas posições você
gostaria de estar? Parece evidente que na primeira, mesmo tendo um retorno
substancialmente menor (4%) do que na situação “b” .
É por isso que um pequeno empreendedor pode ter muito mais capital
acumulado do que alguém que entenda de finanças e viva o dia a dia do mercado
freneticamente. É simples, a renda e a capacidade de aporte serão tão maiores,
que qualquer rentabilidade a mais de alguém que dedica horas e horas aos
mercados será mais do que contrabalanceada. É por isso que um bom amigo meu com
idade parecida e que deve saber bem menos de finanças do que eu, não que eu
saiba muito, possui capital acumulado de dezenas de milhões de reais. Ele se
arriscou, empreendeu, deu certo, e tanto faz se a rentabilidade real dele será
menor do que a minha.
Portanto, colegas e leitores, a
rentabilidade é algo a ser perseguido, evidentemente, mas ela está longe de
explicar a diferença de acúmulo de patrimônios, principalmente para jovens e
patrimônios pequenos. A parte financeira acaba aqui, mas prossigo mais um pouco
com uma reflexão mais pessoal.
Como dito alhures, quanto mais
capital acumulado se tem, mais a renda do capital vai se tornando mais
importante do que a renda do trabalho. Logo, para uma pessoa com R$
10.000.000,00 faz diferença receber 2% a mais, muita diferença. Porém, eu
indago, se alguém possui R$ 10.000.000,00 irá fazer tanta diferença para se ter
uma boa vida ganhar 5 ou 7% de retornos reais? Com 5% a pessoa poderá ter como
renda de capital R$500.000,00, quantia mais do que suficiente para se morar
bem, viver bem, viajar para onde quiser, ajudar outras pessoas necessitadas e
ainda, caso queira, reinvestir parte da renda para fazer o bolo crescer ainda
mais. Faria sentido uma pessoa nessa situação perder horas e horas lendo
relatórios, dedicando-se ao mercado no dia a dia, para ganhar 2/3% a mais?
É claro que é uma questão bem
particular, para mim não faz muito sentido, para outros pode fazer, mas eu
desconfio que a maioria opte por aproveitar mais algo que sempre diminui e
nunca aumenta: a nossa quantidade de tempo vivo com saúde no planeta terra. “Poxa,
Soul, 10M? Tá de brincadeira que eu vou chegar numa quantia dessas!”. É verdade,
a esmagadora maioria não chegará nem perto. Coloquei apenas um valor para que o
argumento fosse mais forte. Cada um, conhecendo a si próprio, poderá
estabelecer algo que seja mais factível e viável para o seu contexto atual.
Porém, parece-me claro que o investidor deve procurar escolher bons ativos,
tentar obter retornos reais protegendo o seu capital acumulado da inflação, mas
ter uma ótica excessiva em rentabilidade, principalmente com patrimônios
pequenos, não parece ser um bom negócio.
Abraço a todos!