Olá, colegas. Antes de mais nada, nos últimos dias tenho escrito um texto por dia. Fui um pouco motivado pela leitura do livro o “Poder do Hábito”. Sempre pensei que fosse um livro mais superficial, mas fui surpreendido pela qualidade da obra. Também resolvi experimentar outras formas de escrever. Fazendo textos mais satíricos, tentando trabalhar novas formas de construção, usando o diálogo como forma de expressão. Foi uma experimentação. Fiquei surpreendido como algumas pessoas ficam desconcertadas com novas formas de texto. Acho um processo pessoal importante a experimentação. Quem quiser olhar os textos, basta ver ao lado nos artigos escritos em março.
A frase que dá título ao presente artigo foi dita para mim pelo meu pai há uns 15 anos. Ele por sua vez disse que a tinha lido num artigo escrito por um pensador estrangeiro. Ela resume de forma magistral como podemos pensar nossos sistemas políticos. Vou além, ela pode ser aplicada a quase tudo relacionado a relacionamentos humanos.
Qual o sentido da frase? É simples. Se governantes são seguros em relação ao seu futuro político, há uma probabilidade muito grande para que haja abuso do poder no momento presente, com consequências deletérias para os governados no presente. Talvez fazendo uma associação como funciona, ou deveria funcionar, um mercado livre fique mais fácil a compreensão.
Num mercado livre, a competição, ou seja a insegurança das empresas no futuro, fará com que sempre haja uma busca por uma melhora contínua nos processos. A busca pela eficiência, isso é fazer mais com menos, será quase que uma questão de sobrevivência para os agentes econômicos. Uma empresa bem consolidada no presente poderá simplesmente quebrar no futuro se houver uma acomodação grande ou uma perda de eficiência significativa. Logo, a insegurança das empresas no futuro, representa uma maior segurança para os consumidores no presente, que terão empresas sempre buscando ofertar melhores produtos e serviços.
Por seu turno, se uma empresa possui um monopólio concedido pelo Estado , por exemplo, é lícito presumir que essa empresa não temerá muito pelo seu futuro. Se assim o é, muito provavelmente ela não terá muitos incentivos para ser cada vez mais eficiente no presente. Logo, a segurança da empresa, nesse contexto, em relação ao seu futuro financeiro, fará com que a vida para os consumidores do presente seja pior na forma de piores serviços e produtos prestados.
Boa parte dos artigos do Instituto Mises Brasil falam sobre isso. É um dos conceitos fundamentais de toda teoria defendida por lá. E faz todo o sentido. Porém, a nossa vida é muito mais ampla do que relações de consumo. Eu não creio que é a melhor forma de analisar o mundo pensar que todas as relações humanas possam ser resumidas a relações de consumo e produção. Ou, mesmo admitindo que haja relações distintas, usar a mesma forma de pensar para fenômenos completamente distintos. Apesar desse contraponto, fica evidente que faz todo o sentido de que mercados onde haja mais incerteza no futuro, as empresas tenderão a ser mais eficientes no presente, fazendo com que haja ganhos para os consumidores.
Pense agora no seu relacionamento, caso você tenha um. Pense num casamento há 100 anos, onde o divórcio não existia, e havia uma pressão enorme sobre a mulher casada. A certeza por parte do marido sobre o futuro do casamento, com certeza levava a comportamentos que não prezavam de maneira mais intensa os interesses da esposa no presente.
Hoje em dia, onde as mulheres podem se divorciar quando quiserem, podem trair com muito mais facilidade sem uma pressão social enorme como existia há 100 anos, ou seja a incerteza por parte dos homens na manutenção do relacionamento no futuro, faz com que os maridos tenham que se esforçar mais para levar os interesses da esposa no presente com mais atenção. É mais ou menos o que consta no adágio popular “ Quem não dá assistência, abre para a concorrência”.
Esse raciocínio pode ser levado para muitas esferas da nossa vida. Porém, volto aqui para a política. Algo que acho bem interessante é observar alguns discursos de Stalin, principalmente a parte dos aplausos. O vídeo de menos de um minuto abaixo é apenas um exemplo:
Um sujeito desse evidentemente não tinha qualquer receio sobre o seu futuro, e hoje nós sabemos o que aconteceu com os seus governados. Porém, o que Stalin fez nos causa repulsa não porque ele tenha sido o único sádico da história, isso está muito longe de ser verdade, mas porque aconteceu há pouco tempo. O meu pai era vivo quando ele deu esse discurso, e para nós que vivemos em sociedades razoavelmente estáveis e democráticas, a sombra de um Stalin é de certa forma perturbadora.
O abuso total e completo do poder, como feito por Stalin, era a norma, não a excessão no mundo. Sempre quando leio sobre a história, nem que de forma superficial, sobre um país que visito, fico abismado com o grau de violência e arbitrariedade que existiam há centenas de anos. Massacres de dezenas de milhares era algo comum. Governantes despóticos e poderosos podiam fazer o que bem entendessem.
Assistindo ao primeiro episódio da série Marco Polo no Netflix, fiquei imaginando que o poder de um Trump ou de um Obama não é nada perto do que Kublai Khan poderia fazer com os seus súditos. Não havia qualquer incerteza no futuro para o grande Khan, o mesmo não se pode dizer dos presidentes mais recente e atual dos EUA.
Assistindo ao primeiro episódio da série Marco Polo no Netflix, fiquei imaginando que o poder de um Trump ou de um Obama não é nada perto do que Kublai Khan poderia fazer com os seus súditos. Não havia qualquer incerteza no futuro para o grande Khan, o mesmo não se pode dizer dos presidentes mais recente e atual dos EUA.
Logo, a minha, a sua, a nossa segurança, depende de sistemas políticos onde o futuro dos atuais mandatários seja incerto. E algumas coisas contribuem para essa incerteza. A existência de pluralidade de pensamentos e de espectros políticos é uma delas. Num lugar onde não há dissidência política, de forma muito severa como na Coréia do Norte, e de forma mais branda como em Cuba (para citar dois exemplos que alguns leitores desse espaço adoram falar), a incerteza do futuro dos poderosos é muito menor. Logo, a arbitrariedade no presente é muito maior.
Não é à toa que esse espaço prima pela racionalidade no debate, não pela rotulação. Pessoas são diferentes. Há testes psicológicos que mostram isso. Há pessoas mais introvertidas, outras mais extrovertidas. Há pessoas com laços maiores com um determinado grupo, em que pese considerações como justiça por exemplo, outras pessoas já não agem desse modo. Há uma cacofonia de vozes e opiniões. Nós temos que saber conviver com isso, e para mim, por mais que seja um sistema com as mais diferentes falhas, a Democracia e o Estado Democrático de Direito são os melhores instrumentos para acomodarmos esse choque permanente. É um equilíbrio dinâmico ou um “equilíbrio instável”.
O que muitos não percebem é que a sua própria segurança depende da existência de pessoas que pensem diferente. Isso é muito difícil de conceber e aceitar, eu admito. É por isso que muitas pessoas procuram o caminho mais fácil que é se fechar em suas concepções de mundo, invertendo o significado da famosa frase atribuída a Sócrates de que “Conheço uma gota, ignoro um oceano”. Quando se fecha para as diversas visões que existem sobre mundo, comportamento humano, etc, as pessoas na verdade estão implicitamente dizendo que “Ignoro uma gota, conheço o oceano”.
O que se sabe, pelo menos pelo decurso da história, é que quase sempre houve grupos que dominaram uma grande maioria, muitas vezes de forma violenta. O poder de uns sobre muitos sempre foi a tônica. Logo, precisamos admitir que há uma tendência humana do poder ser abusado. Até pouquíssimo tempo essa era a norma, o que nós vivemos hoje em dia com poderes políticos limitados, respeito a direitos fundamentais mínimos, é uma completa exceção na história da humanidade.
Isso independe do tamanho do Estado. O tamanho do Estado, ou do governo, nunca foi uma medida de maior ou menor liberdade dos súditos. Essa afirmação pode chocar ou irritar alguns ideólogos que pregam que quanto maior o Estado, menor a liberdade humana. Quanto maior a tributação, maior a “escravização” de um povo. Isso não se sustenta a uma breve análise dos números e dos próprios fatos históricos.
Quando um blogueiro do qual eu gosto bastante repetiu essa ideia nos comentários de um outro artigo que eu tinha escrito, ele talvez possa ter ficado surpreendido que os países com menor carga tributária do Mundo são países onde a liberdade é muito restrita. Arábia Saudita, Guiné, e outros países “difíceis" estão entre os de menor carga tributária. Por outro lado, países extremamente livres, educados e saudáveis (pelas métricas do IDH) estão entre os de maiores cargas tributárias do mundo.
Fique claro que aqui não é uma defesa de tributos ou de mais Estado, e nem o contrário de menos tributos e menos Estado, mas apenas uma constatação factual de que Estados com pouquíssimo peso no PIB podem ser totalitários, enquanto outros com grande participação, não.
Além do mais, na história da humanidade , se fosse possível medir a carga tributária em períodos distantes de tempo no passado, é quase certo que há 500 anos ela seria muito menor do que é hoje. O Imposto de Renda é uma criação recente, por exemplo. Apesar disso, quem você acha que é mais livre, um cidadão inglês no ano de 2017, ou um camponês da Inglaterra no século 15?
Logo, com Estados Grandes ou não, com ideologias das mais variadas possíveis, momentos históricos diversos, a tendência é que grupos pequenos abusem do poder. Quanto maior a segurança desses grupos sobre futuro, maior será a insegurança da maioria. Quanto menor a segurança desses grupos sobre o futuro, maior a segurança da maioria. Lembrem-se disso, prezados leitores.
Um abraço!