Pai, hoje ao colocar sua neta para dormir, lembrei de você, e meu deu uma saudade, Pai.
Você me ensinou a jogar xadrez. Você quando eu tinha 4 anos me disse "que o finito não consegue compreender o infinito" quando perguntei o que era Deus, e sem eu saber, começou a instilar as bases para uma vida mais reflexiva. Você me acompanhou nos campeonatos de xadrez mundo a fora. Você sempre me apoiou em minhas decisões. Sinto saudades, Pai.
Errei. Para além do plano abstrato, percebi que o final da vida não é fácil. Não foi fácil. Eu poderia ter sido melhor. Você provavelmente foi o melhor pai que poderia ter sido. Nascido no interior de Pernambuco na década de 30, com certeza você me deu enquanto pai aquilo que você poderia dar pela sua história. Eu deveria ter tido mais sabedoria para entender mais profundamente esse aspecto da natureza humana.
Eu te amo Pai. Eu te amo quando você me levou para jogar futebol na praia com três anos. Eu te amo quando ficava na sua casa quando criança. Eu te amo quando você me levava na sorveteria e depois no Fliperama do Gonzaga. Eu te amo quando você me deixou dar o meu primeiro xeque mate. Eu te amo pelas nossas conversas na minha juventude. Eu te amo de ir na pracinha jogar xadrez e depois ir comer uma pizza. Eu te amo por toda a sua ajuda. Eu te amo quando você veio para Florianópolis. Eu te amo quando você ficava brabo de eu te levar para os médicos. Eu te amo quando você ficava irritado pela sua dor. Eu te amo quando você partiu.
Se eu sou alguma coisa hoje, se eu tenho algum valor, com certeza você tem grande parcela de contribuição nisso. Pai e filhos. O seu neto está tão lindo, Pai. Como eu queria que você tivesse visto ele engatinhar, e como eu queria que você o visse dar o primeiro passo. Mesmo com a sua dor, mesmo com todo o seu estado de saúde, carregarei comigo os seus sorrisos sinceros de alegria quando você viu o Felipe, bem pequeno no meu colo.
Peço desculpas, Pai, se eu não fui o melhor filho que eu poderia ter sido.
Eu te amo, Pai.