quinta-feira, 5 de outubro de 2017

LEILÃO DE IMÓVEIS - FAÇA A SUA PERGUNTA E AJUDE NA CONSTRUÇÃO DO LIVRO

Olá, colegas. Muitas coisas acontecendo na minha vida nas últimas semanas, muita coisa boa ocorrendo. Semana que vem devo estrear em mercados internacionais com a minha primeira remessa para o exterior. Vendi meu último ativo em renda variável que possuía. Representava uma parte minúscula do portfólio que eu até esquecia de contabilizar, mas finalmente vendi minhas 2135 ações da EZTEC.  Para minha surpresa, que há meses não acessava a conta da corretora, tinha quase 30 mil na conta que eu nem sabia que existiam. Deixei essa grana parada na conta e nem me dei conta. Algo parecido já tinha acontecido quando estava viajando quando em alguns meses que fiquei sem mexer na conta, uma quantia parecida se acumulou de dividendos e aluguéis de FII. Imagina a minha surpresa. 

Esse dinheiro, uns U$ 26k, vai todo para o exterior. A primeira de inúmeras remessas que quero fazer nos próximos 15-18 meses, na fase um da alocação no exterior. Pretendo que a fase dois (que terá início daqui dois anos, se tudo ter certo) seja ainda mais intensa em envios para comprar ativos extremamente diversificados pelo mundo.

Sobre minha estratégia no exterior pretendo escrever ainda muitos artigos, mas não é o foco desse texto. Falando em novo, estou finalmente preparando um novo website com a ajuda de um leitor que já se tornou um bom amigo. Estou me forçando para lançá-lo em breve. Tenho muitas idéias interessantes, inclusive de fazer um tipo de Podcast que talvez ainda não exista no Brasil.

Falando em algo que não existe no Brasil, depois de dezenas de pedidos, recomecei a escrever um livro sobre leilões. Baseado nas idéias de Cal Newport e o seu sensacional "Deep Work "(pretendo abordar o trabalho desse autor mais vezes), comecei a fazer um teste de aumento de produtividade por meio do “trabalho profundo”.  Toda manhã, comecei a acordar muito cedo, depois de fazer algumas posturas de yoga, dedico-me de 45 minutos a 1 hora para o livro.

É impressionante o resultado que um trabalho concentrado e contínuo, mesmo que de curta duração, pode fazer. Já escrevi 45 páginas em 12 dias, acabei dois capítulos e estou no esqueleto de mais quatro e já tenho a ideia do formato do livro. Para se ter uma noção, sobre acordo de desocupação voluntária (um dos tópicos mais importantes para se atuar com imóveis ocupados em leilão) foram 16 páginas, de um material que apesar de simples, está cheio de dicas práticas aprendidas a duras penas pela minha experiência direta com a coisa.

Quando entreguei o capítulo em questão para minha companheira ler para saber se estava claro o suficiente, ela só disse “você vai contar tudo assim mastigado mesmo?”, interpretei como um sinal de que o material está ficando bom e de qualidade.

Estou empolgado em escrever esse livro, não porque eu seja apaixonado pelo tema, longe disso, mas por outra ideia de Cal Newport expressa no Livro “So Good They Can Not Ignore You”. A ideia do livro é que você precisa primeiro ser bom em alguma coisa, para depois ter “poder de barganha” para procurar coisas que realmente o satisfaçam. Eu poderia escrever sobre finanças, e ainda penso em fazê-lo, mas a verdade é que minha experiência é pequena.

Agora com leilões, além de escrever sobre conceitos, ver sobre perspectivas diversas margem de segurança, custo de oportunidade, armadilhas mais comuns em leilão, etc, eu tenho bastante experiência nisso. Tive que fazer dezenas de acordos, negociar com pessoas fáceis, difíceis, imóveis de tudo que é tipo (terrenos, casas, apartamentos), conversar com juízes, esperar decisões rápidas outras lentas, então realmente posso escrever algo de valor para as pessoas.

Se eu for bem sucedido nesse livro, quem sabe eu não possa tomar coragem de escrever sobre minhas viagens pela China desconhecida, ou pela Mongólia, ou Rússia, ou sobre reflexões de vida? Quem sabe, sei que estou animado e feliz com a ideia de que com pequeno esforço diário é possível escrever um livro. Se eu conseguir expandir a minha capacidade de realizar deep work por mais horas durante o dia, então uma gama de oportunidades se abre. Até para melhorar como cantor estou tentando usar essas técnicas, e posso dizer que melhorei significativamente nos últimos dois meses de ensaio com a minha nova banda.

O motivo desse texto, na verdade prezado leitor, é para instigá-lo a fazer perguntas na aba de comentários, ou em e-mails para pensamentosfinanceiros@gmail.com. Quais são suas dúvidas sobre leilão? O que você gostaria de ver esclarecido num livro? O que você acha que um livro sobre esse tema deveria conter?

Eu creio que irei abordar as principais dúvidas, mas se houver bastante feedback posso saber se realmente estou no caminho certo de produzi algo que possa ajudar as pessoas a entender um tema que chama atenção de muitos.  Quase não existe nada produzido, muito menos de forma sistematizada, e muito menos ligando conceitos de finanças, jurídicos, negociais e de imóveis de uma forma coerente.  Talvez algumas dúvidas possam me fazer refletir, e pesquisar alguns tópicos que porventura ainda não compreenda de maneira apropriada.

Enfim, se tiver alguma dúvida deixe aqui ou mande um e-mail. Eu não irei responder as perguntas, mas será um guia importante para eu continuar na escrita do livro.


Um grande abraço a todos!

sábado, 23 de setembro de 2017

MATANAY - "AQUELE QUE ROUBA DA MORTE"

“Como ela se sente?”, ela diz que sente a dor da fome, mas sabe que é melhor sentir fome do que estar morta, ela deu um nome para você: MatanayAquele que rouba da morte”.

                Essa é uma cena do filme Beyond Borders ou “Amor Sem Fronteiras”. Resolvi assistir novamente esse filme hoje.  Em minha opinião, é um filme espetacular. Talvez não porque seja uma obra-prima da sétima arte. Não, provavelmente está bem longe disso. Contudo, é um filme que, apesar de ser muito triste em várias partes, tem o potencial de extrair boas coisas de quem nós somos.

                O filme é centrado na história de amor entre Angelina Jolie e Clive Owens  tendo como pano de fundo a atividade de ajuda humanitária nos lugares mais difíceis da terra. Etiópia em 1984 e a grande fome pela qual esse país passou na época, Camboja em 1989 logo depois que tropas vietnamitas invadiram o país e expulsaram o Khmer Vermelho para as florestas remotas do país (se você quiser conferir o que já escrevi sobre o Cambodia: Os Campos Da MorteO Horror, O Horror e Camboja: Uma Aventura Inesquecível de Moto e Chechênia em 1995 no auge do conflito separatista com tropas russas (estive em zonas próximas dos territórios complicados da Chechênia e Dagestão).

Cena do filme num acampamento da Etiópia. No filme, a palavra Matanay é dita por uma mulher à beira da morte. Tentei procurar na Internet se a palavra realmente significava em Etíope "Aquele que rouba a morte", mas não achei resposta. Mesmo sem confirmação, é uma bela palavra e uma boa história.


                No meio de tanto rancor, ódio, indiferença, a existência de milhares de trabalhadores humanitários que para além de ideologias, opiniões, crenças, arriscam as suas próprias vidas para levar algum alívio para milhões de pessoas desesperadas, é um bálsamo para o que há de mais belo em nossa humanidade.

                Se pedissem para me apontar uma organização  humana incrível, apenas uma, eu não teria dúvidas que escolheria os Médicos Sem Fronteiras. Claro, hoje em dia, ao contrário da minha juventude, eu consigo enxergar quão fantástica são empresas como uma Apple, ou admirar pessoas como Elon Musk. Entretanto, poder, dinheiro, inovação, nunca me tocaram tão profundamente como a generosidade e coragem de pessoas dispostas, apesar das piores condições, a ajudar os outros de forma voluntária.



                Aliás, eu sempre fui fascinado pela Ciência e pela generosidade. São os dois atributos que acho mais maravilhosos da nossa espécie. A capacidade humana de procurar a verdade, seja para onde ela leve, de perscrutar os segredos mais complexos do universo de uma forma sem pré-conceitos ou reverência a autoridades. A capacidade humana de ser generoso e amoroso com desconhecidos, com outros humanos que talvez não sejam da mesma família, clã, tribo ou nação.

                Quando estava na faculdade, alguém me perguntou o que eu gostaria de ser. A pergunta me pegou de surpresa, e a única coisa que me veio à cabeça foi “ser uma boa pessoa”. Eu nunca dei muita bola se seria um juiz, ou um advogado rico, ou seja lá o que for, de alguma maneira eu não dava importância para esse tipo de identificação, que é central para muitas pessoas. Um pouco mais adulto esse tipo de identificação, confesso, ganhou mais força. Entretanto, nos dias atuais não significa, como nos tempos de faculdade, muita coisa.

                Quem algum dia leu  o artigo Minha História Financeira, sabe que perdi muito dinheiro na organização de uma festa quando tinha 22 anos.  Gastei R$ 30.000,00 em meados de 2002. Esse dinheiro corrigido pelo IPCA corresponde a algo em torno de R$ 80.000,00. Esse dinheiro aplicado a 95% do CDI a algo em torno de R$ 180.000,00. Sim, foi uma grana enorme.

                Depois de tudo dar errado, de ter gasto essa grana num evento de uma noite que não deu certo, eu me senti um derrotado. Um paspalho de ter perdido essa grana, um verdadeiro idiota. Foi uma época onde os professores da Federal onde estudava estavam em greve, e eu estava sem aulas há alguns meses.  Eu cheguei até pensar em largar a faculdade.

                No outro dia do evento, não sei por qual motivo, acho que minha mãe estava pensando em trocar de carro, nós dois fomos numa loja de  automóveis. Resolvi acompanhá-la e também não sei o motivo. Lembro como se fosse hoje que eu fiquei parado olhando um carro de luxo que estava em disposição. Minha mãe chegou próxima de mim e disse “não fique triste meu filho, você vai ganhar muito dinheiro e poderá comprar um carro desses se quiser”.

                Eu não estava olhando o carro porque de alguma maneira o desejava, aliás,  aquele carro não fazia qualquer sentido para mim (e atualmente faz menos sentido ainda). Porém, até hoje agradeço  aquelas palavras, pois elas  representam o amor que um ser humano especial como a minha mãe teve por mim naquele momento de fragilidade emocional da minha vida. E quantos outros momentos como esse não existiram?       Para além da educação e as condições materiais que a minha mãe me proporcionou, tenho absoluta certeza que me transformei de uma criança no adulto que sou hoje pelos vários momentos de amor que ela me forneceu.

                O amor de uma mãe para com um filho talvez seja uma das coisas mais preciosas que exista.  Talvez trabalhadores humanitários que se dedicam a salvar vidas em condições precárias tentem de alguma forma replicar o amor materno, o amor desinteressado, para ajudar pessoas que talvez não falem nem o mesmo idioma.

                No meio de discussões políticas, de embates econômicos sobre qual doutrina está correta, ou sobre se uma religião é ruim ou não, o sofrimento humano fica em segundo plano, ou às vezes até mesmo some do radar de qualquer consideração. Por isso, fica aqui a minha homenagem a todos os Matanay que por meio de sacrifícios pessoais e amor roubam da morte e ajudam que milhões de pessoas possam viver.

                Um grande abraço a todos!

                

terça-feira, 19 de setembro de 2017

VIOLÊNCIA NO BRASIL - VAMOS CONTINUAR A USAR O MESMO REMÉDIO?



 Olá, colegas. Se há um tema que provoca comoções, debates acirrados, polarizações intensas é o da violência no Brasil. Aliás, talvez a violência seja a principal preocupação da vasta maioria dos brasileiros. Afinal, eventuais problemas econômicos empalidecem quando alguém vê a si ou a pessoas queridas ameaçadas em sua segurança.



 Há mais de três anos, escrevi um artigo denominado A Incompreensão Sobre os Direitos Humanos. Mesmo sem meu blog ser muito conhecido na época, teve lá as suas polêmicas. Não pretendo resgatá-las aqui. Porém, gostaria refletir um pouco sobre a violência que nos assola e a solução que alguns, ou muitos, pensam ser eficaz.  Acho o tema importante para refletirmos o que queremos enquanto sociedade.



 Se um remédio aplicado a uma pessoa doente não resulta em nenhuma melhora do problema original e provoca inúmeros efeitos colaterais danosos, aposto que quase ninguém recomendaria manter a prescrição do uso do remédio. Porém, se alguém não só dissesse que o remédio deveria ser mantido como a dosagem aumentada, eu imagino que quase todos achariam a ideia uma tolice e potencialmente perigosa.



 Pois bem. Há a ideia espalhada por vários setores da sociedade que a política de segurança pública deve ser feita com violência desmedida. Quanto mais criminosos mortos melhor. O conceito  per si não pode ser considerado verdadeiro ou falso (apesar de poder ser elogiado ou criticado do ponto de vista ético).  Talvez a melhor forma de lidar com um aumento da criminalidade seja assassinando supostos criminosos, talvez não seja.



  Acontece que essa formulação pode ser observada no cotidiano brasileiro. Como? Refletindo se um aumento no número de pessoas mortas pela polícia reflete numa diminuição da violência ou da criminalidade. O que quero dizer é que a ideia de violência como forma de se realizar segurança pública já é o que acontece no nosso país, e portanto podemos analisar se está funcionando ou não.



 Primeiramente, isso por uma questão de lógica, uma polícia que mata mais irá morrer mais. Não existe confronto letal onde apenas um lado morra. Isso pode ser atestado nas estatísticas, já que o número de policiais assassinados é enorme no Brasil, de 8 a 10 vezes maior do que o número nos EUA (um país com mais de 300 milhões de habitantes). Não cito países europeus, Japão, Austrália, etc, pois os EUA são o país rico-desenvolvido mais violento por qualquer métrica que se analise. Logo, não faria muito sentido comparar o Japão com o seus 0.1 assassinato por 100 mil habitantes com o Brasil. Além do mais, os EUA são um país continental como o nosso, e com muitas questões inter-raciais não muito bem resolvidas.



 Logo, um respaldo a uma polícia que exerce mais a força letal é condenar essa mesma força policial a ser mais morta. Portanto, a política do “Bandido Bom é Bandido Morto” tem quase como consequência imediata o aumento significativo do número de policiais mortos. A morte de um agente de segurança, além do trauma da perda de uma vida e do impacto na família, é um incentivo a mais para que os demais agentes de segurança ajam com mais violência, numa espiral de violência.

O número de policiais mortos é gigantesco no Brasil. Não pesquisei, e nem sei se esse dado é fácil de encontrar, mas com quase certeza deve ser (ao menos em números absolutos) o país onde mais policiais são mortos no número.

A correlação (e ouso dizer "causação")  parece clara entre aumento de pessoas mortas pela polícia e número de policiais mortos (dados do Estado do RJ)




  A força policial brasileira matou mais de 3300 pessoas no ano de 2015. Por seu turno, as forças policiais dos EUA mataram um  pouco mais de 1000 pessoas.  Portanto, o Brasil com uma população significativamente menor, tem três vezes mais pessoas mortas pela polícia do que nos EUA. É interessante observar nos EUA que a esmagadora maioria das pessoas mortas são nativos (indígenas) e negros. Já no Brasil, a esmagadora maioria das pessoas mortas é composta por  jovens e negros.



 Aliás, se você é como eu, Branco, idade adulta, com um nível de renda maior, a possibilidade de ser assassinado deve ser muito parecida com a média de um cidadão americano ser assassinado.  Uma parcela significativa dos quase 60 mil assassinatos no Brasil são de pessoas pobres, jovens e negras. Sendo assim, se você não tem nenhuma dessas características, a probabilidade, em média, de ser assassinado no Brasil é bastante reduzida.



  Logo, pergunto, o que efetivamente melhorou com o aumento de pessoas mortas pela polícia, e por via de consequência, de policiais mortos? A nossa sensação de segurança melhorou? Parece-me que não, ao contrário, as pessoas estão a cada dia que passa mais inseguras e com receio da violência.



 Portanto, é compreensível que muitas delas se deixem seduzir por discursos fáceis de segurança pública. E falo fáceis, pois eles são extremamente simples de serem proferidos. Qualquer um pode dizer que a solução é mais violência, mesmo que o uso de mais violência não tenha melhorado em nada a vida do brasileiro.



 Há outros  potenciais efeitos que o aumento da violência como forma de segurança pública pode ocasionar. Falei apenas de um que é o aumento do número de policiais mortos. Porém,  o fato é como na velha frase que sempre escutamos desde criança “violência gera mais violência”, talvez uma sociedade com forças policiais mais violentas gerem criminosos ainda mais violentos.

 No Estado onde habito, organizações criminosas estão cometendo cada vez crimes mais horripilantes, algo que não se tinha notícia há 10 anos. Não nos esqueçamos  das dezenas e dezenas de presos mortos por brigas de facções em presídios do Norte-Nordeste do Brasil no começo do ano.  A morte de presos de forma selvagem dentro de um presídio que deveria ser controlado pelo Estado não significa “a melhora da sociedade, pois há menos bandidos vivendo”, não colegas. Representa o fortalecimento de organizações criminosas poderosas e violentas, e isso, como dito no meu artigo escrito à época, é extremamente perigoso.



  Isso pode ser considerado o que Nicholas Taleb chama de efeitos de segunda ordem. O que seriam esses efeitos? É simplesmente as consequências imprevisíveis de quando se tem uma postura intervencionista em sistemas complexos. Taleb gosta muito da ideia que sistemas complexos são complexos e qualquer interferência atabalhoada pode resultar em efeitos não-previstos e muitas vezes danosos. Ele fala que as guerras promovidas pelos EUA no Oriente Médio, e as diversas consequências negativas (como a atual crise de refugiados) são um exemplo claro da sua ideia.



 O surgimento da organização Estado Islâmico (Ou ISIS) é um efeito de segunda ordem, como tentei destacar neste artigo também escrito há mais de três anos :A Infâmia, A Mentira, O Massacre e a Criação de um Monstro. O surgimento do PCC, conforme palavras do Drauzio Varella (alguém que conviveu e ainda convive no sistema prisional), está intimamente ligado com a ação desastrosa do Carandiru. Como eu era adolescente à época, não me lembro das reações, mas com certeza muitas pessoas devem ter pensando “menos bandidos vivendo, isso é bom”, mal sabiam elas que as sementes para o surgimento de uma imensa e perigosa organização criminosa tinham sido plantadas.



  Há uma razão para o uso da força e da violência serem recursos últimos, principalmente por agentes que detém o monopólio legal do uso da violência (fundamento maior do Estado de Direito moderno).

 Uma palestra interessante de um comandante do exército holandês. Nela ele fala dos motivos de ter escolhido uma arma para fazer o mundo melhor. Ele fala sobre a maior conquista humana, na visão dele, que é o Estado de Direito com o monopólio do uso da violência organizada, e é para defender esse Estado de Direito ou graves violações de direitos humanos em lugares longínquos (ao menos do ponto de vista de um cidadão médio holandês) que ele constrói o seu argumento de por qual motivo a arma pode ser um instrumento de paz (em variadas ocasiões pode ser mesmo).


 É evidente que os policiais devem ser autorizados a usar força letal para proteger a vida de terceiros, bem como em legítima defesa. É evidente também que no estado atual de coisas do Brasil, a força policial precisa ser dura e passar autoridade. Parece-me evidente também que nossa força policial sofre, ao menos em muitos estados, com materiais de baixa qualidade, pouca infraestrutura e níveis elevados de stress. Entretanto, nada disso parece justificar que nós, enquanto sociedade, encorajemos uma postura cada vez mais letal de nossos policiais.



 As causas da violência no Brasil provavelmente são múltiplas. Passam pela ineficiência do Judiciário, pela falta de estrutura e interligação dos diversos órgãos de segurança, pelo abandono que algumas comunidades se encontram, pela falta de empatia (sim, a falta de empatia pelos outros com certeza torna a violência mais fácil de ser manifestada), pelas nossas desigualdades históricas, pela impunidade, pela corrupção, etc.



 As causas são variadas, logo para enfrentarmos o fenômeno complexo da violência, parece-me muito mais inteligente e eficiente que possamos ter várias frentes de combate. A insistência no uso cada vez maior de violência pelos órgãos repressores não me parece ser uma saída inteligente, e com o passar dos anos parece claro que esse tipo de ideia fracassou redondamente no Brasil.



  Dizem que a definição de loucura é “fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. O que dizer então da ideia de “fazer ainda mais do mesmo e esperar um resultado significativamente diferente”?



 Um abraço a todos

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O MERCADO ACIONÁRIO NÃO É TÃO IMPREVISÍVEL ASSIM?

 Olá, colegas. O mercado acionário realmente é imprevisível? É verdade que não passa de uma “caminhada  aleatória” (expressão retirada do clássico livro a “Random Walk Down Wall Street”)? Não é possível prever os retornos do mercado acionário para o futuro?

  Bom, eu costumava acreditar que sim o mercado acionário é imprevisível, sim é um caminho aleatório, e que não era possível qualquer tipo de previsão. Entretanto, venho mudando um pouco essa ideia, e espero que este artigo torne claro o motivo.


OS COMPONENTES DE RETORNO


 O assunto já foi tratado em dois artigos neste blog (Detalhando os Elementos do Retorno Financeiro de um Ativo e Fundamento - Explicando o Retorno Financeiro de um Ativo, logo remeto a leitura dos mesmos.  Não há outra fonte de retorno. O retorno de um ativo só pode vir do seu dividendo, do crescimento do fluxo de caixa desse dividendo e da mudança ou não da precificação desse ativo

 Esse raciocínio serve para qualquer ativo, e qualquer mercado. Como irei usar ilustrações do mercado americano, achei por bem enfatizar esse aspecto mais uma vez no blog, para evitar comentários padrões de "ah, isso não se aplica ao mercado brasileiro". O que pode mudar são os inputs, que podem variar de país para país, mas a fonte dos retornos, o raciocínio lógico por trás é rigorosamente o mesmo. Uso os dados do mercado americano, pois é ele que possui as fontes de dados mais acessíveis e longas, logo ideal para fixar os conceitos.

  Importante ressaltar que as ilustrações dizem respeito a quase a totalidade do mercado (representado Pelo S&P500 – índice das 500 maiores empresas listadas em bolsa americana), e não apenas a uma empresa em específico. O mesmo raciocínio pode ser feito em relação a uma empresa, mas a toda evidência a volatilidade seja dos lucros, seja do dividendo, seja da mudança de precificação é muito maior numa empresa, mesmo que ela seja a Apple ou Coca-Cola, do que no mercado como um todo.


Esses são os componentes de retorno de qualquer ativo com fluxo de caixa



 O SHILLER CAPE


 O índice SHILLER CAPE já foi comentado algumas vezes aqui na blogosfera. Ele é uma métrica desenvolvida pelo professor Shiller, que ficou muito conhecido pelo seu livro Irrational Exuberance (e que é um baita livro). A expressão "exuberância irracional"  foi apropriada pelo então presidente do FED (Banco Central) americano Greenspan num famoso discurso onde ele expressa a preocupação de uma exuberância acima de qualquer racionalidade no mercado americano nos anos que antecederam o crash da bolha dot.com. No que consiste? Sabemos que a métrica Preço/Lucro pode ser muito volátil de um ano para o outro.  Vejamos o gráfico abaixo:

(fonte http://www.multpl.com)


  Dois momentos chamam atenção: 2001-2002 quando a relação P/L (P/E = Price/Earnings)  chegou a passar de 40, e em 2008 quando ela subiu ainda mais. Os anos de 2001-2002 foram o topo da famosa bolha dot.com, foi o momento da história onde a valuation das ações americanas foi a mais esticada de todos os tempos.

 Porém, como explicar o índice P/L tão alto em pleno crash de 2008? Simples. Mesmo as ações despencado de valor, o lucro das empresas que compõe o índice despencou ainda mais, elevando o P/L a níveis altíssimos. Uma pessoa desavisada poderia pensar que o mercado acionário americano estaria "caro", quando na verdade ele estava razoavelmente "barato"

 E se ao invés de se olhar apenas os lucros corporativos de um ano, se pegasse a média dos últimos 10 anos de lucros corporativos ajustasse tudo pela inflação, isso não faria com que mudanças abruptas como a de 2008 fossem suavizadas? Sim, e essa é a ideia do CAPE-SHILLER. Por qual motivo 10 anos? Porque uma década é um período bem razoável de tempo para todo um ciclo econômico se realizar. Por que ajustar pela inflação? Porque comparar o lucro corporativo no ano de 2005 com o lucro corporativo do ano de 2015 , por exemplo, só faz sentido quando incluímos a inflação, pois caso contrário o lucro nominal do ano de 2015 vai parecer muito maior do que ele realmente é.

 Vejam agora o mesmo gráfico de P/E mais “suavizado” pela média de lucro dos 10 anos anteriores:


 (fonte http://www.multpl.com)

  Observem que a bolha dot.com realmente foi uma bolha forte por qualquer métrica que se analise. Agora, o ano de 2008 apresenta um CAPE de 15, que para padrões americanos é relativamente barato. O ano de 2008 era um ano de subprecificação do mercado acionário.


EARNINGS YIELD DO SHILLER CAPE (EY10)


  Algo extremamente simples, mas com conotações extraordinárias, acontece quando mudamos brevemente o mind set com o qual analisamos alguns ativos.  Pegue o P/L de qualquer ativo e inverta a fração para L/P. Bem-vindo ao earnings yield (EY)

 Quando se analisa Renda Fixa, ou  Fundos Imobiliários no Brasil, se pensa em EY já que comumente se fala que o TD NTN-B35 está pagando 5%aa, ou uma LCA  Pré-Fixada paga 10%aa, por exemplo. Por seu turno, quando se fala de mercado acionário se usa a métrica P/L: a AMBEV está com um P/L de 25, por exemplo. Não sei o motivo de tal diferenciação, mas usualmente se fala de EY para um instrumento de dívida, e não o seu P/L. Porém, coisas muito interessantes acontecem quando analisamos uma renda fixa pela métrica P/L, ou ações pela métrica EY.

 Quando se inverte o CAPE-SHILLER, obtém-se o Earnings Yield Shiller (alguns chamam apenas de EY10) . A média do CAPE SHILLER do mercado americano desde mais ou menos 1890 é de 16.78.

Mean:
16.78
Median:
16.12
Min:
4.78
(Dec 1920)
Max:
44.19
(Dec 1999)
(Média, Mediana, mínimo Cape que foi em 1920 e Máximo Cape em 1999)

  O retorno real, já descontada a inflação, aproximadamente do índice acionário americano foi de 6.5%aa, conforme se pode observar   nessa calculadora

 Colegas, o CAPE-SHILLER médio de 16.78 resulta num EY10 de aproximadamente 6% aa.  Notaram alguma semelhança com o retorno real histórico do índice? Pois é, essa foi uma das maiores “sacadas” que tive esse ano sobre mercados financeiros.  O EY10 é um fator preditivo do retorno real das ações. Eu já tinha lido estudos nesse sentido, mas nunca tinha ficado tão claro assim que eu simplesmente inverti o CAPE-SHILLER para EY10.

  Logo, se conclui sem sombra de dúvidas que a valuation do mercado está intimamente relacionada com o retorno que esse mesmo mercado irá fornecer no futuro. O Link é tão forte, que há estudos de um planejador de aposentadoria chamado Michael Kitces ligando o CAPE na hora que uma pessoa passa de um portfólio de acumulação para um de desinvestimento (seja na aposentadoria ou numa Independência Financeira) e a Taxa Segura de Retirada (aquele percentual que se tira de um patrimônio para manter um determinado padrão de vida durante um certo período de tempo).

  Um CAPE menor, resultando num EY10 maior, leva a taxas muito maiores de retirada. Por seu turno um CAPE maior (como atualmente no mercado americano), resultando num EY10 menor,  leva a taxas menores. Num estudo em particular, Kitces achou que a sobrevivência de um portfólio de retirada de 30-40 anos tem uma correlação gigantesca de quase 0.8 (uma correlação de 0.4 já é considera às vezes significativa, uma de 0,8 é extremamente significativa) com o que acontece na primeira década em relação aos retornos do portfólio. A primeira década de retorno de um portfólio, por seu turno, tem uma correlação gigantesca com o CAPE-Shiller. Sendo assim, a TSR está intimamente ligada com o CAPE. 


A relação é evidente. A correlação é negativa entre CAPE e uma taxa segura de retirada num período de 30 anos.  Em 1921 (, quando o CAPE atingiu incríveis 5, uma pessoa poderia retirar 10% aa do seu patrimônio (o que para padrões americanos é absurdamente alto) durante 30 anos sem risco de extinguir o seu patrimônio. Por seu turno, quando o CAPE aumenta a taxa segura de retirada diminui consideravelmente


  Há até mesmo uma fórmula, que para mim é uma das maneiras mais inteligentes de se pensar a TSR (na equação representada pela letra W de Withdrawal) :


 

   Por mais interessante que seja o tópico, não irei me estender mais sobre esse assunto no presente artigo.


A MÉDIA NEM SEMPRE É A MANEIRA MAIS CORRETA DE SE OLHAR UMA SITUAÇÃO


  Nicholas Taleb no seu livro "Antifrágil" dá o exemplo de como médias podem ser enganosas e prejudiciais em alguns casos, se olhadas de maneira ingênua.  Ao falar de uma senhora que é dado o conselho de que a temperatura média do dia será de 20 graus Celsius e que portanto a mesma não precisaria se preocupar.  Diz o famoso escritor então que esse conselho não vale absolutamente nada, e pode até mesmo ser perigoso,  se a temperatura variar de 50 graus a -10 graus chegando numa agradável média de 20 graus. Logo, médias podem ser enganosas, se olhadas de forma incorreta.


  A mesma ideia  ingênua se pode ter em relação ao retorno real médio do mercado americano (ou de qualquer mercado, FII e mercado acionário brasileiro inclusos). O retorno real médio do mercado acontece quando se está na média da precificação do mesmo, conforme explanado na fantástica similaridade da média do EY10 desde 1890 e do retorno real médio do mercado americano. 

 Alguém que compre o mercado americano a um CAPE abaixo da média histórica, provavelmente terá retornos maiores do que a média, e alguém que compre acima provavelmente terá retornos menores do que a média. Logo, não é simplesmente comprar um ETF que tenta seguir o índice S&P500 e achar que como a média de retorno de mais de 80 anos que foi de 6.5% real aa, essa será a média de retorno provável no longo prazo do investimento, sem olhar para a precificação do mercado no momento da compra.

  Na verdade, os retornos financeiros de 10 anos  consecutivos do mercado americano dificilmente estão na média de retorno histórico, na maioria das vezes eles estão abaixo ou acima da média, e tudo isso por causa de precificações diversas. Tal fato pode ser facilmente observado nessa tabela:


Apenas 20% dos retornos de 10 anos consecutivos (1900-1909, 1901-1910, etc) ficaram na faixa de 8 a 12%, próximo da média de 10% de retorno nominal do índice americano



DE NOVO OS COMPONENTES DE RETORNO


  Os componentes são três: o yield, o crescimento dos lucros e a mudança na precificação do P/L.  O crescimento dos lucros está a grosso modo associado ao crescimento real da economia (há muitos detalhes em relação a isso, e precisaria de apenas um artigo para tratar dessa questão), logo não se pode esperar muito mais do que a média de crescimento da economia em relação ao crescimento dos lucros corporativos do mercado como um todo:

A linha azul é o crescimento nominal da economia Americana. A Linha verde é o crescimento do EPS (Earnings Per Share - Lucro Por ação) das empresas que na época compunham o índice acionário americano. Veja que o crescimento da economia quase não possui qualquer volatilidade, ao contrário do crescimento dos lucros corporativos, mas a tendência é que os dois andem juntos em períodos maiores de tempo (observem como o lucro corporativo despencou em 2008, o que ocasionou a disparada do índice P-L)


 O yield está fortemente relacionado com o índice P/L de compra de um ativo. Logo, se conclui que o maior drive seja para decréscimos ou acréscimos da remuneração de um ativo é a mudança de sua precificação em relação ao P/L, ou CAPE-SHILLER se quisermos ser muito mais precisos e suavizar o ciclo econômico.

A relação entre P-L e o dividend yield é clara

  Sobre essa perspectiva, o mercado acionário como um todo não é tão imprevisível. É claro que uma guerra pode eclodir e o mercado acionário virar pó, como aconteceu na Alemanha Nazista. Ou uma revolução pode acontecer e acabar com o mercado acionário, como aconteceu na Rússia Socialista e na China Maoísta. Porém, tirando esses efeitos extremos, e eventuais bolhas insustentáveis, a precificação atual do mercado é um bom indicativo de como ele irá se comportar na próxima década. A literatura nesse tópico é vasta, mas tentei com esse artigo deixar mais claros os motivos.

 Portanto, a próxima vez que alguém falar que o mercado americano está em fase de bolha, pergunte por qual motivo? Se alguém disser que o mercado acionário brasileiro ainda está barato, pergunte qual dos componentes irá levar ao aumento de precificação: o crescimento da economia com consequente aumento dos lucros corporativos, ou o  aumento no índice P/L? Esse é um excelente exercício para melhorar nossa capacidade de olhar para ativos por nós mesmos, e não depender da análise de analistas que muitas vezes ignoram até o básico da precificação e retorno de ativos financeiros


  Um grande abraço!

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

VIVEMOS NUMA "BOLHA"?

Olá, colegas. Tenho escrito pouco. Não, escrever não deixou de ser prazeroso, apenas alguns outros pontos da minha vida estão pedindo mais atenção. Desde o meu retorno à minha casa da viagem (uns oito meses), muita coisa interessante aconteceu na minha vida. 

Sinto-me muito forte, aliás, foi essa a resposta que dei a minha professora de Yoga quando ela me perguntou como eu me sentia. Consigo enxergar com muito mais clareza vários aspectos da vida, se comparado com alguns anos atrás. A parte financeira da minha existência nesses breves oito meses anda bem agitada, com resultados presentes e potencias muito superiores ao que imaginava ao voltar ao Brasil. Foi tão surpreendente, que em poucos meses pretendo me ver livre das minhas “algemas de ouro”.

Apesar de não estar escrevendo muito, sempre olho as postagens dos blogs de finanças do Brasil. O interessante é o fato de que é  quase a minha única leitura em português, pois quase tudo que leio atualmente é em Inglês. A diferença de material de qualidade que existe na língua de Shakespeare comparada com a nossa é assombrosa.

Há muitos blogs novos, ou não tão novos, fazendo um trabalho de muita qualidade. Blogs como Aportador Financeiro, Busca do Primeiro Milhão, Investidor Inglês, Termos Reais (muito interessante o último artigo sobre Dopamina), entre outros, estão dando uma contribuição muito bacana, ainda mais num país com tão pouca difusão de idéias de boa qualidade. 

Há , porém, os blogs mais antigos, entre eles um dos mais conhecidos é o Blog do Corey. E pretendo hoje aqui abordar o último artigo dele sobre A Bolha da Classe Média, mas o farei é claro com a forma “soulsurferiana” de falar sobre alguns aspectos de nossa vida. Antes de mais nada, congratulo o Corey por trazer à baila um tema tão importante.


É POSSÍVEL VIVER “FORA DE UMA BOLHA”?


Conforme o autor do artigo supracitado, a “classe média” brasileira tem uma tendência de se fechar em seu mundo limitado, quase sempre com um foco mais forte no consumo, não percebendo que existem dezenas de milhões de pessoas que sobrevivem e vivem, algumas aparentemente com elevados graus de satisfação, com um padrão de consumo muito menor. Logo, o que boa parte da “classe média” pensa ser uma necessidade para se ter uma boa vida, talvez não seja tão necessário assim. Coloquei classe média entre aspas para evitar quaisquer discussões, que fogem do foco do texto, sobre o que seria a classe média.

O ponto é interessante e válido. Porém, podemos viver fora de uma “bolha”? Para responder a esta questão, precisaríamos definir o que entendemos como “bolha” nesse contexto.  Definirei como bolha a limitação que a realidade que nos cerca nos impõe e a nossa capacidade de entender essa mesma realidade. Parece-me uma definição razoável.

Sobre esse ponto de vista, nós seres humanos sempre viveremos numa eterna bolha. Nós só temos a habilidade de viver no tempo presente, não temos ainda a capacidade de fazer jornadas ao passado ou ao futuro (ao futuro é bem mais fácil, quem entende o básico da teoria da relatividade geral do Einstein sabe o motivo).  Logo, as instituições culturais, econômicas, sociais, científicas que dominam certo tempo histórico farão que a nossa compreensão da realidade seja condicionada. Em minha opinião, é impossível realmente saber o que um fenício há 2.500 anos pensava sobre sexualidade, por exemplo.

Além do mais, estamos presos num determinado lugar.  Não podemos, como na belíssima música Space Odyssey, sair flutuando pelo espaço. Portanto, ao menos por enquanto, nós humanos enquanto espécie estamos restringidos ao nosso planeta. Nós humanos  enquanto indivíduos  estamos restringidos a uma determinada localidade geográfica desse mesmo planeta. Por mais que nos esforcemos, a vida aos olhos de uma senhora nômade de 50 anos  no interior da Mongólia apresentará diferenças signiticativas aos olhos de uma senhora de 50 anos que sempre morou em Londres.

Se usarmos um pouco de Ciência, perceberemos ainda que a nossa própria capacidade de entender a realidade é limitada. O espectro da radiação eletromagnética que podemos observar sem a ajuda de aparelhos é limitadíssimo. Há sons que são imperceptíveis para nosso aparelho auditivo. Nós também não podemos observar eventos rápidos demais, ou lentos demais, ou pequenos demais como a fusão de dois átomos de hidrogênio num de Hélio (sim, é isso que nos mantém vivos). Mesmo reações tão fundamentais à própria realidade são e serão sempre, muito provavelmente, fora do alcance da nossa percepção concreta do mundo.


Uma imagem clara da nossa "bolha perceptiva". O especto de radiação que o ser humano consegue observar diretamente é minúsculo. Há mundos invisíveis às nossas próprias condições biológicas de percepção.


Portanto, “viver dentro de uma Bolha” é a condição humana. É algo inescapável. O que pode ser possível, entretanto, é expandir a nossa percepção, e por via de conseqüência o espaço da nossa própria “Bolha”. Como?


MEIOS DE EXPANSÃO DA “BOLHA” NOSSA DE TODO O DIA


1)      Não se imponha limitações desnecessárias por algum sentimento negativo


Uma vez escrevi um artigo sobre “Globalismo”. Algumas pessoas não gostaram, mas um rapaz em especial ficou extremamente irritado.  A irritação foi tão grande que ele escreveu, em outros textos, alguns comentários negativos não sobre os meus textos,  o que seria compreensível e legítimo, mas sobre mim.  Houve um fato, porém, que foi interessantíssimo, o supracitado rapaz disse que a vida era muito mais do que “tomar chá com índios tibetanos”.  Talvez ele pensasse que um comentário como esse, para além do erro factual claro na frase, fosse uma maneira de ser agressivo e sarcárstico ao mesmo tempo.

Colegas, isso é apenas se auto-impor limites, encolher a sua “bolha” e ter uma visão muito menor de mundo. Se há algo extraordinário é tomar chá com pessoas em outros países. Tomar um Chá de Maça ao entrar numa loja de tapetes na Turquia ou no Irã, tomar chá ao com um russo completamente desconhecido ao acordar num trem passando no meio da Sibéria, tomar um chá com uma senhora de meia idade tipicamente britânica, pedir um chá  por R$0,10 para algum homem gritando "chai, chai, chai" no meio de uma rua lotada em alguma cidade da Índia, ou, sim, tomar um chá de leite de Yak com tibetanos.

O chá é algo muito arraigado na cultura de muitos povos. Sendo assim, se a pessoa pode ter acesso, nem que por um breve momento, a este ritual de forma espontânea, uma nova janela sobre uma diferente cultura pode se descortinar. Talvez o rapaz que escreveu não faça ideia disso, ele se auto-impôs uma limitação porque as suas emoções o fizeram ficar irritado.

E qual é a importância de “descortinar uma janela para outra cultura”? Enorme, se você quer expandir a sua “bolha”, ou melhor dizendo,  aumentar a sua compreensão sobre o planeta em que você vive, e sobre a espécie da qual você faz parte. Como dito anteriormente, dificilmente um brasileiro conseguiria entender o mundo na forma como um religioso hindu o compreende, por exemplo, mas é indubitável que se pode ao menos fazer um esforço legítimo para tentar chegar próximo.

Logo, se quer expandir a sua compreensão do mundo (a sua “bolha”), não se imponha auto-barreiras, principalmente se as mesmas são frutos de emoções negativas. Isso vale para inúmeros aspectos de nossa vida.


2)      Exercite Empatia


              A empatia talvez seja uma das forças mais poderosas para a transformação da vida de uma pessoa para melhor.  Pouco estimulada, a empatia às vezes é simplesmente eliminada em alguns contextos. Fale sobre algum tópico político no Brasil mais sensível, como , por exemplo,  porte de armas, ou aborto, ou legalização de drogas, e é possível, principalmente em mídias sociais, que a empatia de uma pessoa por outra com uma opinião diferente desapareça por completo.

                Quando a empatia por outro indivíduo desaparece por completo, fica evidente que comportamentos dos mais agressivos podem aflorar de maneira intensa. Para além de comportamentos agressivos ativos, talvez o resultado mais comum da falta de empatia é a indiferença aos outros.

             Mas o que é a empatia?  Há uma expressão inglesa que diz mais ou menos o seguinte: “put oneself in someone´s shoes”. Literalmente, significa “vestir o sapato de outra pessoa”, metaforicamente o sentido é “tentar se colocar na posição de alguma pessoa, para perceber as emoções, sentimentos, angústias, sofrimentos, etc , dessa mesma pessoa

           A expressão é perfeita. Isso é empatia. Nunca conseguiremos saber o que se passa realmente na vida de outra pessoa. Essa é uma limitação biológica. Talvez a Inteligência Artificial venha a mudar isso no futuro, mas não adentrarei nesse tópico. Porém, é possível se fazer um esforço genuíno para tentar ao menos compreender como é estar na situação de algum outro ser humano.

        Quando há um exercício legítimo de se colocar no lugar do outro, o que acontece? A nossa compreensão do mundo, e de nós mesmos se expande, a nossa “bolha” se torna maior. Se  procuro entender por qual motivo, mesmo que eu hipoteticamente seja totalmente contra o aborto, uma pessoa seja favorável ao aborto, ao invés de apenas ter a postura preguiçosa e cômoda de taxá-la de “monstro” ou coisas do gênero, se exercito a empatia, a minha compreensão de mundo e dos outros naturalmente aumenta.

         Se procuro entender, se hipoteticamente vivo num bairro de classe média, como é a vida de uma pessoa que mora no complexo do Alemão no Rio de Janeiro, e como essa pessoa pode se sentir em relação à vida, a minha compreensão do mundo aumenta. Ao aumentar a compreensão, pode ser que isso até tenha efeitos em como alguém leva a própria vida. A pessoa pode, por exemplo, achar que pode viver uma boa vida com R$ 3.000,00 por mês ao invés dos R$ 30.000,00 que anteriormente achava necessários. 


        A empatia nos faz seres humanos melhores. Aumenta a nossa compreensão do mundo, e pode ter efeitos práticos positivos extremamente significativos em nossa vida. Com certeza faz com que a “bolha” em que obrigatoriamente vivemos se expanda, e se torne muito mais complexa, colorida e divertida de se viver.


 É isso, colegas, o texto já está um pouco grande. Abordaria outras formas de expansão da nossa compreensão, e por via de conseqüência da nossa “bolha”, mas ficarei por aqui.


Um grande abraço a todos!