terça-feira, 19 de setembro de 2017

VIOLÊNCIA NO BRASIL - VAMOS CONTINUAR A USAR O MESMO REMÉDIO?



 Olá, colegas. Se há um tema que provoca comoções, debates acirrados, polarizações intensas é o da violência no Brasil. Aliás, talvez a violência seja a principal preocupação da vasta maioria dos brasileiros. Afinal, eventuais problemas econômicos empalidecem quando alguém vê a si ou a pessoas queridas ameaçadas em sua segurança.



 Há mais de três anos, escrevi um artigo denominado A Incompreensão Sobre os Direitos Humanos. Mesmo sem meu blog ser muito conhecido na época, teve lá as suas polêmicas. Não pretendo resgatá-las aqui. Porém, gostaria refletir um pouco sobre a violência que nos assola e a solução que alguns, ou muitos, pensam ser eficaz.  Acho o tema importante para refletirmos o que queremos enquanto sociedade.



 Se um remédio aplicado a uma pessoa doente não resulta em nenhuma melhora do problema original e provoca inúmeros efeitos colaterais danosos, aposto que quase ninguém recomendaria manter a prescrição do uso do remédio. Porém, se alguém não só dissesse que o remédio deveria ser mantido como a dosagem aumentada, eu imagino que quase todos achariam a ideia uma tolice e potencialmente perigosa.



 Pois bem. Há a ideia espalhada por vários setores da sociedade que a política de segurança pública deve ser feita com violência desmedida. Quanto mais criminosos mortos melhor. O conceito  per si não pode ser considerado verdadeiro ou falso (apesar de poder ser elogiado ou criticado do ponto de vista ético).  Talvez a melhor forma de lidar com um aumento da criminalidade seja assassinando supostos criminosos, talvez não seja.



  Acontece que essa formulação pode ser observada no cotidiano brasileiro. Como? Refletindo se um aumento no número de pessoas mortas pela polícia reflete numa diminuição da violência ou da criminalidade. O que quero dizer é que a ideia de violência como forma de se realizar segurança pública já é o que acontece no nosso país, e portanto podemos analisar se está funcionando ou não.



 Primeiramente, isso por uma questão de lógica, uma polícia que mata mais irá morrer mais. Não existe confronto letal onde apenas um lado morra. Isso pode ser atestado nas estatísticas, já que o número de policiais assassinados é enorme no Brasil, de 8 a 10 vezes maior do que o número nos EUA (um país com mais de 300 milhões de habitantes). Não cito países europeus, Japão, Austrália, etc, pois os EUA são o país rico-desenvolvido mais violento por qualquer métrica que se analise. Logo, não faria muito sentido comparar o Japão com o seus 0.1 assassinato por 100 mil habitantes com o Brasil. Além do mais, os EUA são um país continental como o nosso, e com muitas questões inter-raciais não muito bem resolvidas.



 Logo, um respaldo a uma polícia que exerce mais a força letal é condenar essa mesma força policial a ser mais morta. Portanto, a política do “Bandido Bom é Bandido Morto” tem quase como consequência imediata o aumento significativo do número de policiais mortos. A morte de um agente de segurança, além do trauma da perda de uma vida e do impacto na família, é um incentivo a mais para que os demais agentes de segurança ajam com mais violência, numa espiral de violência.

O número de policiais mortos é gigantesco no Brasil. Não pesquisei, e nem sei se esse dado é fácil de encontrar, mas com quase certeza deve ser (ao menos em números absolutos) o país onde mais policiais são mortos no número.

A correlação (e ouso dizer "causação")  parece clara entre aumento de pessoas mortas pela polícia e número de policiais mortos (dados do Estado do RJ)




  A força policial brasileira matou mais de 3300 pessoas no ano de 2015. Por seu turno, as forças policiais dos EUA mataram um  pouco mais de 1000 pessoas.  Portanto, o Brasil com uma população significativamente menor, tem três vezes mais pessoas mortas pela polícia do que nos EUA. É interessante observar nos EUA que a esmagadora maioria das pessoas mortas são nativos (indígenas) e negros. Já no Brasil, a esmagadora maioria das pessoas mortas é composta por  jovens e negros.



 Aliás, se você é como eu, Branco, idade adulta, com um nível de renda maior, a possibilidade de ser assassinado deve ser muito parecida com a média de um cidadão americano ser assassinado.  Uma parcela significativa dos quase 60 mil assassinatos no Brasil são de pessoas pobres, jovens e negras. Sendo assim, se você não tem nenhuma dessas características, a probabilidade, em média, de ser assassinado no Brasil é bastante reduzida.



  Logo, pergunto, o que efetivamente melhorou com o aumento de pessoas mortas pela polícia, e por via de consequência, de policiais mortos? A nossa sensação de segurança melhorou? Parece-me que não, ao contrário, as pessoas estão a cada dia que passa mais inseguras e com receio da violência.



 Portanto, é compreensível que muitas delas se deixem seduzir por discursos fáceis de segurança pública. E falo fáceis, pois eles são extremamente simples de serem proferidos. Qualquer um pode dizer que a solução é mais violência, mesmo que o uso de mais violência não tenha melhorado em nada a vida do brasileiro.



 Há outros  potenciais efeitos que o aumento da violência como forma de segurança pública pode ocasionar. Falei apenas de um que é o aumento do número de policiais mortos. Porém,  o fato é como na velha frase que sempre escutamos desde criança “violência gera mais violência”, talvez uma sociedade com forças policiais mais violentas gerem criminosos ainda mais violentos.

 No Estado onde habito, organizações criminosas estão cometendo cada vez crimes mais horripilantes, algo que não se tinha notícia há 10 anos. Não nos esqueçamos  das dezenas e dezenas de presos mortos por brigas de facções em presídios do Norte-Nordeste do Brasil no começo do ano.  A morte de presos de forma selvagem dentro de um presídio que deveria ser controlado pelo Estado não significa “a melhora da sociedade, pois há menos bandidos vivendo”, não colegas. Representa o fortalecimento de organizações criminosas poderosas e violentas, e isso, como dito no meu artigo escrito à época, é extremamente perigoso.



  Isso pode ser considerado o que Nicholas Taleb chama de efeitos de segunda ordem. O que seriam esses efeitos? É simplesmente as consequências imprevisíveis de quando se tem uma postura intervencionista em sistemas complexos. Taleb gosta muito da ideia que sistemas complexos são complexos e qualquer interferência atabalhoada pode resultar em efeitos não-previstos e muitas vezes danosos. Ele fala que as guerras promovidas pelos EUA no Oriente Médio, e as diversas consequências negativas (como a atual crise de refugiados) são um exemplo claro da sua ideia.



 O surgimento da organização Estado Islâmico (Ou ISIS) é um efeito de segunda ordem, como tentei destacar neste artigo também escrito há mais de três anos :A Infâmia, A Mentira, O Massacre e a Criação de um Monstro. O surgimento do PCC, conforme palavras do Drauzio Varella (alguém que conviveu e ainda convive no sistema prisional), está intimamente ligado com a ação desastrosa do Carandiru. Como eu era adolescente à época, não me lembro das reações, mas com certeza muitas pessoas devem ter pensando “menos bandidos vivendo, isso é bom”, mal sabiam elas que as sementes para o surgimento de uma imensa e perigosa organização criminosa tinham sido plantadas.



  Há uma razão para o uso da força e da violência serem recursos últimos, principalmente por agentes que detém o monopólio legal do uso da violência (fundamento maior do Estado de Direito moderno).

 Uma palestra interessante de um comandante do exército holandês. Nela ele fala dos motivos de ter escolhido uma arma para fazer o mundo melhor. Ele fala sobre a maior conquista humana, na visão dele, que é o Estado de Direito com o monopólio do uso da violência organizada, e é para defender esse Estado de Direito ou graves violações de direitos humanos em lugares longínquos (ao menos do ponto de vista de um cidadão médio holandês) que ele constrói o seu argumento de por qual motivo a arma pode ser um instrumento de paz (em variadas ocasiões pode ser mesmo).


 É evidente que os policiais devem ser autorizados a usar força letal para proteger a vida de terceiros, bem como em legítima defesa. É evidente também que no estado atual de coisas do Brasil, a força policial precisa ser dura e passar autoridade. Parece-me evidente também que nossa força policial sofre, ao menos em muitos estados, com materiais de baixa qualidade, pouca infraestrutura e níveis elevados de stress. Entretanto, nada disso parece justificar que nós, enquanto sociedade, encorajemos uma postura cada vez mais letal de nossos policiais.



 As causas da violência no Brasil provavelmente são múltiplas. Passam pela ineficiência do Judiciário, pela falta de estrutura e interligação dos diversos órgãos de segurança, pelo abandono que algumas comunidades se encontram, pela falta de empatia (sim, a falta de empatia pelos outros com certeza torna a violência mais fácil de ser manifestada), pelas nossas desigualdades históricas, pela impunidade, pela corrupção, etc.



 As causas são variadas, logo para enfrentarmos o fenômeno complexo da violência, parece-me muito mais inteligente e eficiente que possamos ter várias frentes de combate. A insistência no uso cada vez maior de violência pelos órgãos repressores não me parece ser uma saída inteligente, e com o passar dos anos parece claro que esse tipo de ideia fracassou redondamente no Brasil.



  Dizem que a definição de loucura é “fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. O que dizer então da ideia de “fazer ainda mais do mesmo e esperar um resultado significativamente diferente”?



 Um abraço a todos

42 comentários:

  1. Olá Soulsurfer,

    Primeiramente excelente post.

    Umas das causas da violência é a falta de respeito ao próximo.
    Há pessoas que matam que matam por nada, por um celular ou uma discussão boba. A falta de uma boa estrutura familiar também contribui com a geração de filhos violentos.

    Na minha opinião as pessoas deveriam educarem seus filhos e não deixar para que o governo eduque. Vi uma frase que é mais ou menos assim: eduque seu filho hoje e não será preciso punir o homem de amanhã.

    Abraços.

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    1. Olá, Cowboy I.
      Grato pelo comentário, amigo.
      A frase é conhecida e bem verdadeira.
      O problema são as crianças que infelizmente nascem em famílias desestruturadas e não tem a chance de ter uma boa educação.

      Um abraço

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  2. Soul, compartilho do seu pensamento. Exemplo:

    O combate ao tráfico de drogas prende estatisticamente um marginal à sociedade, é o formiguinha do esquema: pobre e com pequena quantidade de droga. Essa pessoa, muitas vezes com um grau de periculosidade muito baixo, é preso por um longo período provisoriamente, e quando vai a julgamento, recebe uma pena alta, pois é um crime grave.

    Indo para o sistema prisional, recebe um tratamento brutal tanto por parte do Estado, quanto por parte dos presos, que o forçam a se filiar a alguma organização criminosa.

    Pronto. O delinquente torna-se um criminoso profissional.

    Comando Vermelho, PCC, FDN são também consequências de uma política anti-drogas incorreta, que falhou miseravelmente. Qual a alternativa eu não sei, mas do jeito que está não dá.

    As políticas da sociedade brasileira precisam ser repensadas em todas as esferas e, neste momento, saídas fáceis, com atitudes extremadas, tendem a agravar o problema.

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    1. Olá, colega. Sim, creio que a sua descrição geral é uma boa forma de ver o problema.

      "Comando Vermelho, PCC, FDN são também consequências de uma política anti-drogas incorreta, que falhou miseravelmente. Qual a alternativa eu não sei, mas do jeito que está não dá."
      Esse é o problema de um país que se desestrutura politicamente, como está acontecendo com o Brasil. Os temas deixam de ser debatidos. Quando a própria solvência fiscal está em jogo, outros temas deixam de ser importantes (apesar de não o serem). Quando a sobrevivência política de inúmeros políticos está por um fio os assuntos da nação, cidadania, economia, vão ficando para trás.
      É uma pena.

      Grato pelo comentário.
      Um abs

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  3. Na minha leiguice, concordo com você. Os policiais se arriscam mais, matam mais e morrem mais. E a segurança não melhora muito.

    Pra mim, o problema parece ser mais de impunidade. Alguns saem rápido da cadeia, outros sequer passam tempo lá, mesmo cometendo delitos sucessivos. A sensação é que o crime compensa. Sobre o monopólio da força, outro problema particular no nosso país em que as pessoas não conseguem sequer terem armas em suas casas. Não existe monopólio da força noutros países quando se trata de legítima defesa. Aqui você mora em prédios, ou condomínios, casas de ruas normais muradas e com cerca elétrica, isso é reforçado porque as pessoas não podem se defender em caso de ameaça. Outros países subdesenvolvidos têm essa característica, mas acho que neles a tendência é diminuir, até porque Brasil é um ponto fora da curva em questão de violência. Dados alarmantes.

    Falando em dados, eu teria cuidado em falar que jovens negros morrem mais e brancos morrem menos, pode soar um pouco racista pra alguns, parece que você tá tentando emplacar uma narrativa. Óbvio que segmentos que cometem mais crimes serão mais combatidos e mais vidas serão perdidas. Quais são as razões pra eles cometerem mais crimes? Pobreza? Tem relação, mas no geral não acho que seja o fator determinante, digo por experiência própria, ter crescido nela. A maioria é decente. A economia engessada e pobre contribui? Poucos empregos? Educação? Talvez. Realmente não sei. Um conjunto de fatores.

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    1. Olá, colega. Sem dúvida a impunidade tem um papel importante.
      Um sujeito chamado Cesare Beccaria escreveu no século 18 um livro chamado "Dos Delitos e das Penas". Esse é um livro que todo estudante inicial de direito penal tem que ler (ao menos era assim na minha faculdade na minha época). Há mais de 250 anos, esse escritor já dizia que não era a dureza da pena, mas sim a proporcionalidade da mesma e a certeza de sua aplicação que fazem uma boa política de dissuasão criminal. Num país onde meros 5% dos homicídios são elucidados, qualquer fala de que as penas do Brasil são brandas é simplesmente ignorar o que se sabe há séculos. Precisamos avançar intelectualmente, e o combate sério a corrupção e impunidade é uma das maneiras de diminuirmos a criminalidade não tenho a menor dúvida.

      Sobre a sua questão de armas, eu creio que o tema é complexo. Eu antigamente acreditava que apenas propriedades rurais deveria ser permitido armas, mas já começo a aceitar alguns argumentos para a posse de armas na residência. Porém, continuo sendo contra o porte de armas de pessoas na rua.
      Mas, não há muita correção entre uma população armada e índices de violência. A última vez que eu estudei havia uma correlação fraca de menos de 0.2 entre a métrica População-número de armas e número de homicídios. Enfim, é um bom assunto.

      "Falando em dados, eu teria cuidado em falar que jovens negros morrem mais e brancos morrem menos, pode soar um pouco racista pra alguns, parece que você tá tentando emplacar uma narrativa."
      Não, isso são apenas dados da violência. Não há tentativa de começar uma narrativa, sobre ser racista, eu não consigo nem vislumbrar como isso poderia soar assim. Infelizmente, há uma grande mortandade de jovens (o que é péssimo para o futuro do país), e a maioria dos jovens assassinada é composta por negros e pardos.


      Qual é a razão para determinados segmentos cometerem mais crimes? Essa é a questão complexa que os simplismos, de forma consciente ou não, tentam deixar de lado. Aliás, a própria ideia de que certos segmentos cometem mais crimes pode ser analisada se perguntarmos quais tipos de crime. Tenho certeza de que não há pessoas pobres pegas com 50 milhões de dólares em espécie num apartamento. Porém, um braço direito do atual presidente foi flagrado nessa situação. Acho que vários segmentos das nossas sociedade cometem os mais variados crimes. Porém, crimes envolvendo uma violência mais direta costumam estar associados aos extratos de menor renda de nossa sociedade, nisso concordo.

      Grato pelo bom comentário. Um abs

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  4. Eu acho que o combate a violência exige um conjunto de ações inclusive mais violência.
    Sim, eu fico feliz quando um bandido leva a pior e morre e comemorei as dezenas de presos mortos no presídio do Norte.
    Bandido bom é bandido fora de circulação, ou morto ou preso.
    Acredito que a política de combate as drogas é equivocada. Sou a favor da liberação total e irrestrita do uso de drogas. Quem quiser usar que use e assuma as consequências. A polícia tem combater assaltantes, sequestradores, ladrões, estupradores, etc.
    Uma outra questão são as penas. As penas deveriam ser efetivamente cumpridas. Uma pessoa é condenada a 30 anos e sai da cadeia em 10 por bom comportamento. ????
    É aqui fora que o comportamento deve ser avaliado. Na cadeia ele deve cumprir a pena e não deveria importar o que ele faz lá dentro.
    Há muito que pode ser feito pra se combater a violência no Brasil.

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    1. Olá, colega.
      Sim, realmente há muito que pode ser feito para combater a violência no Brasil.
      É verdade, e nisso concordo, que as penas deveriam guardar mais similaridade entre o que é decidido numa sentença e o que é efetivamente cumprido.
      Porém, acho que, como num sistema normal de incentivos, deve haver incentivos para a pessoa eventualmente presa para ela diminuir a sua pena seja por bom comportamento, trabalho ou estudo.
      Na verdade, a política de encarceramento no Brasil há muitos anos fracassou. Mandar alguém para prisão não quer dizer necessariamente que essa pessoa vai melhorar (um dos efeitos pedagógicos da pena) e nem que a sociedade ficará mais segura (o efeito dissuasório da pena).
      Grato pelo comentário.
      Abs

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    2. Eu não quero que o bandido saia da prisão melhor ou pior, quero que pague pelo que fez. O objetivo da pena não deveria ser ressocializar mas pura e simplesmente punir.
      Uma pessoa que mata a outra por maldade não merece segunda chance, já que a vítima não terá, o criminoso tem que ser punido, pagar pelo que fez.
      Uma das coisas que acho mais equivocada é essa ideia de que cadeia é para ressocializar e que criminoso merece uma segunda chance quando muitas vezes a vítima não terá uma segunda chance.
      Uma mulher que foi estuprada carregará o trauma pro resto da vida, uma vítima de violência idem.
      O bandido não que comete crimes violentos não pode reclamar direitos humanos já que não age como tal.

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    3. Olá, colega.
      "Eu não quero que o bandido saia da prisão melhor ou pior, quero que pague pelo que fez. O objetivo da pena não deveria ser ressocializar mas pura e simplesmente punir."

      Sim, isso é sentimento de vingança. Foi o que vigorou por muito tempo em vários agrupamentos humanos. Acontece que a ideia de repressão criminal evoluiu nos últimos séculos, passou-se de um conceito único e exclusivo de vingança para aplicação imparcial da Lei. Não há um sistema moderno (ao menos nos países desenvolvidos, que creio que deveríamos ao menos olhar o que fazem) penal que parta única e exclusivamente da ideia de vingança. A vingança é um sentimento humano e compreensível. Porém, ela não costuma trazer bons resultados para a vida individual, muito menos para a vida de um agrupamento.

      “Uma pessoa que mata a outra por maldade não merece segunda chance, já que a vítima não terá, o criminoso tem que ser punido, pagar pelo que fez.”

      Presumo que ao dizer isso, você necessariamente está dizendo que não concorda com os princípios elementares do cristianismo. Não há qualquer problema aqui (aliás, nem cristão você talvez seja), mas algumas pessoas que vejam emitindo essa opinião não percebem, ou não querem perceber, o contraste.
      Você tem que explicitar o que entende por “o criminoso precisa ser punido”. Não há nenhuma sombra de dúvida de que alguém que comete assassinato sem ser em legitima defesa necessita ser punido de forma rigorosa. Não há qualquer dúvida. Porém, pela sua mensagem interpreto que só há duas possibilidades de apenamento para alguém condenado por assassinato:
      a) Pena de Morte e b) prisão perpétua. Sobre pena de morte, deixando de lado questões éticas e morais, está mais do que provado que é um meio ineficiente para se lidar com a criminalidade. Tanto é verdade que a maioria dos países desenvolvidos abandou essa prática. Se não me engano, o país que mais mata pessoas pela aplicação da pena de morte é a China. A outra de prisão perpétua pode ser uma solução, quem sabe. Ela tem custos sociais e financeiros.

      “Uma das coisas que acho mais equivocada é essa ideia de que cadeia é para ressocializar e que criminoso merece uma segunda chance quando muitas vezes a vítima não terá uma segunda chance.“
      Essa parte é apenas uma repetição das duas idéias defendidas por você nas frases acima e já abordadas.

      “Uma mulher que foi estuprada carregará o trauma pro resto da vida, uma vítima de violência idem.
      O bandido não que comete crimes violentos não pode reclamar direitos humanos já que não age como tal.”

      Concordo expressamente. Então, não deveríamos tratar com mais respeito nossas mulheres? Ou nos preocupar mais com os 50 mil estupros reportados (e talvez haja uma imensa subnotificação?). Eu acho que sim. E com certeza é um trauma para a vida da mulher.
      Eu creio que foi um erro de digitação seu e você quis dizer “o Bandido que comete crimes violentos...”. Correto, e o Bandido que não comete crimes violentos como os donos da JBS, ou Geddel com os seus 50 milhões, que causam potencialmente danos para dezenas de milhares de pessoas? Sobre a aplicação ou não de direitos humanos, eu precisaria primeiramente saber o que você entende por direitos humanos, pois senão discussões assim costumam levar o nada ao lugar algum.

      Grato pelo comentário, colega.


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    4. Eu não sou cristão.
      A pena de morte não é eficiente? Pode não inibir o cometimento de crimes por outros criminosos, mas o sentenciado não mais cometera crimes.
      Quem é vítima de crime quer mesmo é se vingar, ou você acha que uma mulher que foi estuprada ou alguém que foi assaltado e levou um tiro se pudesse não mataria o criminoso?
      Eu não quero que criminosos sejam ressocialização, quero que sofram, que sejam com rigor.
      Crimes de corrupção deveriam ser punidos com grande rigor, mas nada se compara aos crimes violentos que põem em risco nossa integridade física.
      As mulheres não são respeitadas em nossa sociedade?

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    5. Olá, de novo.
      "A pena de morte não é eficiente? Pode não inibir o cometimento de crimes por outros criminosos, mas o sentenciado não mais cometera crimes. "
      Não, ela não é eficiente, tanto que quase não mais existe em nenhum lugar do mundo desenvolvido. Sob a perspectiva de que a pessoa a ser morta pelo Estado não irá mais cometer qualquer espécie de crime, sim, sobre esse aspecto a pessoa que não mais existe realmente não poderá cometer mais nenhum outro crime.

      "Quem é vítima de crime quer mesmo é se vingar, ou você acha que uma mulher que foi estuprada ou alguém que foi assaltado e levou um tiro se pudesse não mataria o criminoso?
      Eu não quero que criminosos sejam ressocialização, quero que sofram, que sejam com rigor. "

      Sim, a sua preferência por um sistema unicamente vingativo (de preferência com sadismo "quero que sofram") já ficou bem clara. É uma opção sua. Porém, nenhum sistema criminal moderno de um país desenvolvido atual assim, nenhum. Você precisaria ou voltar no tempo, ou ir para um país como Arábia Saudita que ainda possui decapitações em praças públicas. Você pode querer isso, o que não dá é querer isso, e querer morar num país moderno e num Estado de Direito. Você precisa se definir.

      "Crimes de corrupção deveriam ser punidos com grande rigor, mas nada se compara aos crimes violentos que põem em risco nossa integridade física."

      É uma opinião, não sei a melhor, mas não deixa de ser uma opinião.

      "As mulheres não são respeitadas em nossa sociedade?"
      Você se refere ao Brasil? Se sim, em alguns aspectos sim, em outros aspectos não. A sociedade brasileira está longe de ser um modelo de um bom tratamento para as mulheres (como a australiana, norueguesa ou sueca, por exemplo).

      Abs

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  5. Meu amigo, parabéns pela iniciativa de falar sobre o assunto.

    Eu penso um pouco diferente. Sempre haverá pessoas más que escolhem o crime independente do status social ou questões socio-culturais. Se existe muito crime hoje é por que a impressão geral é que o crime compensa. A saída não é matar todo mundo que não segue lei, mas deixar claro que não compensa. Para isso é necessária uma força repressora gigante e desproporcional em relação aos candidatos à rebeldes. Para isso precisamos de uma lei mais repressora, mas efetivo policial e mais ferramentas para a força policial. Se os policiais forem melhor armados (hoje são bem piores) que os bandidos, e se enfrentarem a criminalidade na proporção de 10 policiais para cada bandido, duvido que esses vagabundos pensem em vender drogas ou trocar tiros. Hoje a sensação é que o risco compensa. Por mais que existam pessoas boas com mente fraca que entram no crime, essas mesmas pessoas também tem o instinto básico de qualquer ser vivente que é da sobrevivência. A sobrevivência é a primeira necessidade da pirâmide de Maslow. Não digo isso para afirmar que só isso é necessário, pois não adianta coibir o traficante e deixá-lo sem outras fontes de renda. Mas a segurança é o pilar principal de qualquer sociedade. Sem segurança não há incentivo para crescimento econômico e investimentos, seja no nível empresarial ou pessoal.

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    1. Olá, colega.
      “ Sempre haverá pessoas más que escolhem o crime independente do status social ou questões socio-culturais.”
      - Bom, se interpretarmos maldade como desonestidade (e não digo que são os mesmos), a questão torna-se complexa. Há um livro recente que trata sobre isso “A Mais Pura Verdade sobre a Desonestidade” do famoso Dan Ariely (que escreveu o bem conhecido “Previsivelmente Irracional”). Há até mesmo um documentário no Netflix a respeito.
      - Se formos falar de maldade especificamente, sugiro conhecer o trabalho de Phillip Zimbardo, talvez um dos “cientistas sociais” vivos mais famosos. Além de todo o trabalho dele ser interessante, ele parece ser um grande ser humano, sem falar na vitalidade do mesmo com mais de 80 anos. O trabalho dele é permeado pelo estudo da “maldade” humana, mas ele tem um livro específico sobre isso chamado “The Lucifer Effect”. Os estudos desse Sr., quem tiver interesse, com certeza faz nos refletir muito sobre maldade, “cidadão de bem”, “cidadãos do mal”, etc. Se quiser ouvir uma belíssima entrevista dele feita pelo TIM FERRIS, aqui está o podcast: https://tim.blog/2017/03/08/how-to-not-be-evil-dr-phil-zimbardo/


      “Se existe muito crime hoje é por que a impressão geral é que o crime compensa. A saída não é matar todo mundo que não segue lei, mas deixar claro que não compensa”

      Claro, estamos de acordo. Como dito num comentário acima, Cesare Beccaria já falava sobre isso há mais de 250 anos.

      “Para isso é necessária uma força repressora gigante e desproporcional em relação aos candidatos à rebeldes”
      Nós que gostamos de finanças, podemos pensar essa ideia sobre o ponto de vista financeiro. Qual é o tamanho dessa força repressora? E isso custa dinheiro. Poucos tem curiosidade de pesquisar, mas o ministério da defesa é o que mais consome recursos em relação a pessoal. De onde virá dinheiro para uma “força repressora gigantesca”? Por outro lado, forças repressoras gigantescas são mais associadas a estados ditatoriais. Tenho certeza que a força repressora é gigantesca na Coréia do Norte, na Arábia Saudita ou no Turcomenistão. O problema é como se controla democraticamente uma força repressora gigantesca, e como isso não se degenera. Eu prefiro olhar para países com violência sob controle, com bom padrão de vida, e nenhum deles possuem forças de repressão hipertrofiadas.

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    2. “Se os policiais forem melhor armados (hoje são bem piores) que os bandidos, e se enfrentarem a criminalidade na proporção de 10 policiais para cada bandido, duvido que esses vagabundos pensem em vender drogas ou trocar tiros”

      Concordamos que o instrumental dos policiais precisa ser bom (ou seja melhor armas) e que a infraestrutura precisa ser melhorada. Agora, drogas não é um problema de oferta, mas sim de demanda. Pode mandar milhares de tropas especiais americanas para cá, e os traficantes continuarão vendendo drogas se houver mercado consumidor. E a resposta é muito simples. Quanto mais a oferta é reprimida, mais o retorno sobre o capital investido aumenta. Assim, ao invés talvez de ganhar 30 vezes mais por unidade de grama de cocaína comercializada, com um aumento da repressão, sem políticas em relação a demanda por drogas, é possível que o retorno passe de 300 vezes para um. Num mercado onde a pessoa pode colocar um milhão de dólares e retirar 300 milhões de dólares, sempre haverá alguém disposto a esse serviço. É por esse motivo que a política de guerra as drogas falhou miseravelmente.
      Logo, policiais mais bem armados e mais agressivos não farão absolutamente nada para diminuição do uso de drogas. Porém, você tocou num bom ponto. Boa parte dos assassinatos no Brasil são relacionados a disputa de drogas. Boa parte da nossa absurda mortandade é diretamente derivada do tráfico de drogas.

      “Por mais que existam pessoas boas com mente fraca que entram no crime, essas mesmas pessoas também tem o instinto básico de qualquer ser vivente que é da sobrevivência. A sobrevivência é a primeira necessidade da pirâmide de Maslow.”
      Isso é verdadeiro para a esmagadora maioria das pessoas, mas não para todas as pessoas na história e em diversos contextos geopolíticos. Posso citar terroristas suicidadas, ou os míticos 300 de Esparta. A sobrevivência biológica nesse caso não é a primeira necessidade para essas pessoas. Mas, para a esmagadora maioria das pessoas, sim a sobrevivência biológica é o mais importante.

      “. Mas a segurança é o pilar principal de qualquer sociedade. Sem segurança não há incentivo para crescimento econômico e investimentos, seja no nível empresarial ou pessoal.”
      Claro, concordamos aqui, e essa é a ideia central do texto. Por isso, devemos usar nossa inteligência e procurar formas racionais, eficientes e éticas para construir uma sociedade mais segura, para que potenciais humanos possam florescer.

      Grato pelo comentário amigo, um abraço!

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  6. Olá Soul!

    Concordo contigo, que para termos uma redução na violência em nosso país, tem que agir em várias frentes e não com a idéia que precisamos combater a violência com mais violência, isso só gera efeitos negativos de cada vez mais insegurança para todos nós.

    A intolerância é cada vez maior nas relações humanas, em um simples discordar de idéias, ou uma fechada involuntária no trânsito, desperte um ira nas pessoas que acabam partindo para a violência.

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    1. Olá, Rubens.
      Sim, os efeitos imprevisíveis (ou como gosta o Taleb de chamar de "segunda ordem") podem ser extremamente danosos. Esse é o problema. Não se procura, racionalmente, analisar os efeitos de posturas mais violentas. Quando o tempo passa, dezenas de anos, é aí então que não se analisa nada. E se o surgimento do PCC estiver realmente relacionado com um massacre de presidiários ocorrido há quase 25 anos? Olha o que um ato de violência pode ter gerado: uma organização criminosa gigantesca com braço em vários estados, milhares de membros e muito provavelmente penetração na política. Ou seja, um efeito de segunda ordem absolutamente monstruoso.

      Sobre a intolerância, com certeza. O Brasileiro está cada vez mais agressivo. Junte-se a isso a um caos político, mídias sociais espalhando notíciais falsas e desinformação para todos os viés ideológicos, e pronto a receita para o desastre está feita.
      Basta ver um blogueiro narrando semana passada que quase foi linchado porque a catraca de um ônibus não funcionou direito.
      As pessoas não estão raciocinando e refletindo que as nossas decisões diárias de como agir, estão transformando para muito pior a nossa vida em comunidade.

      Um abs

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  7. Olá, Soul
    Como sempre um texto bem escrito com temas instigantes. Concordo com as principais ideias do texto. Todavia, permita-me uma divagação. Creio que esse ideal descrito no texto foi instrumentalizado por uma corrente ideológica, produzindo uma condenação prévia e injustificada de qualquer uso da força pela polícia, mesmo legal. Ora, como citou, as fotos policiais estão com condições precárias e limítrofes, além disso, tem que enfrentar uma execração além de um processo caro, com recursos individuais. Diante disso, a conduta do policial enquanto agente público não deveria ser considerada verdadeira e legal ate ser provado o contrário? A quem interessa a construcao da polícia como "assassina"? Por fim, nos dados citados, parece existir uma associação entre violência e ação letal, contudo, poderia pensar uma via contraria: a polícia estaria mais violenta pela escalada da violência criminal?
    Abraço!

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    1. Olá, colega!
      “Creio que esse ideal descrito no texto foi instrumentalizado por uma corrente ideológica, produzindo uma condenação prévia e injustificada de qualquer uso da força pela polícia, mesmo legal”
      Sim, você pode ter razão. Esse é o problema de orbitarmos em visões míopes de mundo, ou que simplificam tudo. E evidentemente não estou falando que você aja assim, pelo contrário. Como pessoas que são rotuladas de “esquerda” costumam ser críticas de operação policiais, o outro espectro tido como de “direita” assume então que qualquer reflexão sobre violência ou força policial é necessariamente um ataque a polícia. Por outro lado, um apoio a atividade policial seria um endosso a “práticas ilegais de repressão”. Ora, nem uma coisa nem outra. Não pode haver prévia condenação, e a força policial não pode exceder aos limites da lei. Essa para mim é a visão equilibrada e mais acertada sobre essa questão específica.

      “Ora, como citou, as fotos policiais estão com condições precárias e limítrofes, além disso, tem que enfrentar uma execração além de um processo caro, com recursos individuais.”
      Eu não entendi bem esse ponto. Quando diz de um processo caro, você está falando sobre processos administrativos disciplinares ou mesmo processos judiciais? Se sim, isso acontece com qualquer servidor público que deseja se defender em processos disciplinares ou judiciais.

      “Diante disso, a conduta do policial enquanto agente público não deveria ser considerada verdadeira e legal ate ser provado o contrário?”
      Não sei se você é familiarizado com conceitos de direito administrativo. Qualquer ato administrativo é presumido verdadeiro, há uma presunção relativa de veracidade. Cabe ao cidadão provar que o ato administrativo é eivado de alguma ilegalidade. Ora, o mesmo raciocínio se aplica ao poder de polícia exercido por policiais. Sendo assim, o seu desejo já é o que existe nos princípios de direito administrativo. Agora, a presunção é relativa, isso não é um cheque em branco para ilegalidades claras e abusos incontestes. Para esses casos a presunção é facilmente derrubada.

      “A quem interessa a construcao da polícia como "assassina"?”
      A ninguém interessa uma polícia que assassina. E uma construção ideológica assim seria deletéria. Porém, o fato concreto é que a força policial brasileira mata em demasia, isso são os números, não há uma construção ideológica aqui. O cerne do texto é mostrar que o aumento de pessoas mortas pela policia não está resultando em uma diminuição da criminalidade.

      “Por fim, nos dados citados, parece existir uma associação entre violência e ação letal, contudo, poderia pensar uma via contraria: a polícia estaria mais violenta pela escalada da violência criminal?”

      Não. O gráfico colocado foi posto para mostrar a clara correlação entre letalidade da polícia e número de policiais mortos, não para correlacionar aumento da violência e letalidade policial. Esse último vínculo é apenas uma dedução no texto, como um efeito de segunda ordem, que pode ser real ou não. Porém, parece-me claro, ao menos no plano das idéias, que um aumento da violência tende a levar a um aumento da violência e a uma degeneração ainda maior nos crimes. Não tenho a menor dúvida que a polícia se torna mais violenta com o aumento da violência, e isso foi dito claramente no texto sobre o efeito da morte de um policial em outros policiais.

      Agradeço as instigantes provocações e um grande abraço!

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  8. Parabéns pelas reflexões. Gosto muito do seu Blog.
    Alguns detalhes sobre o que eu pensei do texto:

    "Se um remédio aplicado a uma pessoa doente não resulta em nenhuma melhora do problema original e provoca inúmeros efeitos colaterais danosos, aposto que quase ninguém recomendaria manter a prescrição do uso do remédio".

    "Há a ideia espalhada por vários setores da sociedade que a política de segurança pública deve ser feita com violência desmedida. Quanto mais criminosos mortos melhor".

    Eu senti que você, para embasar seu argumento, reduziu toda a "Política de Segurança Pública" simplesmente ao enfrentamento com violência desmedida, embora no decorrer do texto e dos comentários, que sempre leio, tenha identificado como parte do problema outros fatores:

    "As causas da violência no Brasil provavelmente são múltiplas. Passam pela ineficiência do Judiciário, pela falta de estrutura e interligação dos diversos órgãos de segurança, pelo abandono que algumas comunidades se encontram, pela falta de empatia (sim, a falta de empatia pelos outros com certeza torna a violência mais fácil de ser manifestada), pelas nossas desigualdades históricas, pela impunidade, pela corrupção, etc.

    "As causas são variadas, logo para enfrentarmos o fenômeno complexo da violência, parece-me muito mais inteligente e eficiente que possamos ter várias frentes de combate. A insistência no uso cada vez maior de violência pelos órgãos repressores não me parece ser uma saída inteligente, e com o passar dos anos parece claro que esse tipo de ideia fracassou redondamente no Brasil".

    No final, concordei com o que escreveu. A analogia mais correta lá no início seria do doente que precisa tomar 10 remédios para melhorar e, ao invés disso, dobra a dose da aspirina. Talvez ele não melhore tomando mais aspirina da mesma forma que não vai melhorar tomando aspirina alguma.

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    1. Olá, colega. Agradeço as palavras e o comentário.
      A toda evidência o problema da violência, e da criminalidade como um todo, no Brasil é complexo e tem inúmeras causas. No espaço de um simples artigo, tirando o fato que eu nem teria competência para tanto, é muito difícil tratar de algo dessa profundidade. O que procurei chamar atenção, é que uma violência mais exarcebada tem como consequência quase imediata mais policiais mortos, e aparentemente não está ajudando em nada no problema.
      Teremos eleições ano que vem, e já consigo ver os candidatos, inclusive a presidência, usando e abusando do discurso que precisamos aumentar a "dose da aspirina."

      Dito isso, pensando melhor em sua mensagem, talvez possa ter passado a impressão de que parti do pressuposto que a violência seria a única forma de segurança pública no Brasil. Se o meu texto passou e essa impressão, não era o meu intento original.

      Mais uma vez grato pela mensagem,

      Abs

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  9. Olá Soul, independentemente de qual seja sua opinião sobre o assunto, na sua interpretação dos dados de mortes de policiais x mortes de criminosos você claramente cometeu o erro clássico de confundir correlação e causalidade.
    Consigo pensar em diversas explicações para a correlação entre os dados. Sem isolar diversos fatores é impossível confirmar a existência de nexo causal entre as duas séries de dados.
    Abraço.

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    1. Olá, colega. Estou bem familiarizado com os conceitos de correlação e "causação". Veja, que no próprio texto abaixo do gráfico eu digo expressamente que:
      "A correlação (e ouso dizer "causação") parece clara entre aumento de pessoas mortas pela polícia e número de policiais mortos (dados do Estado do RJ"
      Obviamente, o gráfico mostra a correlação, eu usei a palavra "ouso" para fazer uma afirmação arriscada (por isso o verbo ousar) que essa correlação poderia até ser mesmo uma "causação". Isso foi mais um efeito argumentativo do que qualquer outra coisa. Porém, parece-me evidente que quanto mais conflitos letais, mais supostos criminosos irão morrer, e via de consequência mais policiais irão falecer.
      Agora, você está correto que não se pode afirmar que algo causa alguma outra coisa por uma simples correlação.

      Abs

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  10. A resolução da violência, ou a sua diminuição a ponto de tornar a coisa "saudável", não é de simples obtenção.

    Não acredito que o problema esteja na polícia que mata, acho que a questão se passa pela ineficiência do judiciário - um outro tema interessante a tratar - e reduzido espaço prisional. Este cero mal feito apenas dá folga para que bandidos pratiquem seus crimes e, caso sejam pegos, em pouco tempo estarão nas ruas para aterrorizar os cidadãos de bem - falo no sentido de cidadãos não criminosos.

    Talvez, creio, se tivéssemos um judiciário em dia, uma polícia em dia e presídios em dia, e toda a coisa continuasse do mesmo jeito ou apenas "menos pior", então, poderíamos tomar conclusões mais apuradas.

    Por ora, acredito que o problema esteja na falta de competência do estado em resolver os problemas mais básicos que ele se propõe a resolver - e olha que o próprio estado se dá ao direito de querer resolver uma penca de coisas, mas o mais básico não consegue.

    Enfim, como percebes, meu pensamento é permeado de achismos, mas isso se dá porque não tenho base - conhecimento científico e técnico - para debater esse assunto. Apenas tenho a impressão de que o estado não faz nem o básico para resolver essa doença pública.

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    1. Olá, colega.

      “A resolução da violência, ou a sua diminuição a ponto de tornar a coisa "saudável", não é de simples obtenção. “

      Concordo.

      “Não acredito que o problema esteja na polícia que mata, acho que a questão se passa pela ineficiência do judiciário - um outro tema interessante a tratar - e reduzido espaço prisional. Este cero mal feito apenas dá folga para que bandidos pratiquem seus crimes e, caso sejam pegos, em pouco tempo estarão nas ruas para aterrorizar os cidadãos de bem - falo no sentido de cidadãos não criminosos. “

      Sim, a ineficiência do Judiciário é central no tema, concordo contigo.


      “Talvez, creio, se tivéssemos um judiciário em dia, uma polícia em dia e presídios em dia, e toda a coisa continuasse do mesmo jeito ou apenas "menos pior", então, poderíamos tomar conclusões mais apuradas. “

      Claro que apenas com tudo isso em dia poderíamos analisar se a criminalidade realmente iria cair. Antes disso só podemos conjecturar. Porém, parece-me uma boa conjectura: um Judiciário efetivo e célere (mas garantido garantias processuais básicas), uma polícia menos violenta, mais estruturada e respeito o Estado de Direito, e prisões mais estruturadas, cumulando com um maior foco em efetivas penas restritivas de direito como prestação de serviços comunitários (para boa parte dos crimes creio ser uma forma muito mais eficiente de combate ao cometimento de crimes), tudo isso leva a acreditar que a situação iria melhorar e muito.

      “Por ora, acredito que o problema esteja na falta de competência do estado em resolver os problemas mais básicos que ele se propõe a resolver - e olha que o próprio estado se dá ao direito de querer resolver uma penca de coisas, mas o mais básico não consegue.”

      Não creio que seja apenas um problema Estatal, mas a toda evidência ele possui grande parcela de responsabilidade. O problema é que culpar o Estado é efetivamente não responsabilizar ninguém.


      “Enfim, como percebes, meu pensamento é permeado de achismos, mas isso se dá porque não tenho base - conhecimento científico e técnico - para debater esse assunto. Apenas tenho a impressão de que o estado não faz nem o básico para resolver essa doença pública.”

      Todos nós quando resolvemos falar sobre temas que não passamos anos e anos estudando vamos proferir juízos de valor que são “achismos”. Isso não deve ser um impeditivo para que se possa discutir as coisas, ainda mais num tema que afeta a todos nós brasileiros.

      Um abraço

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  11. Soul, gosto do seu blog.

    Depois desse post e de seus comentários, posso inferir que você só pode ser um anjo, você parece ser até um pouco ingênuo, sei lá...

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  12. Soul, fomos influenciados pela Revolução Americana que legou ao mundo as virtudes da Democracia para o desenvolvimento econômico.


    Parece que teremos de seguir os ensinamentos da Revolução Chinesa e usar o controle de natalidade,que foi uma influência AMERICANA depois da Guerra do Vietnam, com vasectomia e laqueadura. Pois são os jovens que cometem mais crimes. Logo, quanto menos jovens menos crimes.


    Com o declínio da América e a ascensão da China, veremos algumas mudanças na maneira de agir de grande parte da humanidade.

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    1. Olá, amigo.
      "Parece que teremos de seguir os ensinamentos da Revolução Chinesa e usar o controle de natalidade,que foi uma influência AMERICANA depois da Guerra do Vietnam, com vasectomia e laqueadura. Pois são os jovens que cometem mais crimes. Logo, quanto menos jovens menos crimes."

      Você está coberto de razão quando diz que crimes violentos estão relacionados com jovens. É por isso que o Norte da África é uma bomba relógio pronta para explodir nas próximas décadas para todo o mundo, se não houver melhoras significativas na vida das centenas de milhões de jovens que irão existir naquela região.
      Já países desenvolvidos costumam ter taxas de natalidade menores do que a taxa de reposição e população já consolidadas, logo eles estão na verdade com falta de jovens.

      Veremos o que as próximas décadas irão trazer para a humanidade.

      Abs

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  13. Offtopic

    Ficaste sabendo que a PGR entrou com uma ADI para derrubar integralmente a lei 13.465/17?

    http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI265422,21048-Lei+1346517+Parte+VII+A+nova+lei+sob+grave+e+obtuso+ataque

    Abraço
    Eduardo

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    1. Olá, Eduardo.
      Agradeço. As alterações da AF iriam para o saco se toda Lei fosse declarada inconstitucional, só que isso geralmente demora anos e tome mais insegurança jurídica. Complicado navegar no Brasil, mas é também por isso que as margens são enormes por aqui.
      Abs

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  14. Muito bom o tema soul

    Os comentários também achei bem ricos de informação. O que penso do assunto? Realmente acho que o rigor contra bandidos tem que aumentar, mas sei que na prática isso acaba virando um bola de neve de sangue, os efeitos vão muito além de "menos um bandido".

    Agora, observo também que a polícia está sendo chamada para cumprir muitos papéis, ja que os outros agentes dessa complexa equação estão estagnados.No âmbito judiciário existe toda uma relação que faz com que a pŕática do crime compense e a tentativa de se defender ou precaver de crimes seja punida. No quadro social as crianças estão cada vez mais expostas a ideologia da glamuorização do crime. O tráfico atua forte nas escolas fazendo seus feudos e criando servos diretos ou indiretos. Além disso o sucateamento do poder público não deixa nunca o poder policial ter força e inteligência para combater o crime. Num ceñário desses a gente acaba entendendo como a violência vai escalando a pontos absurdos (não a justificando, mas observando alguns dos fatores).

    Eu acredito que porte de arma é um fator necessário para trazer mais equilíbrio nessas situações, mas hoje em dia acho que dois fatores seriam mais facilmente aplicáveis: a ocupação das escolas por força militar como forma de reocupação de imagem de autoridade.Não vejo nenhum argumento válido para mantermos nossas crianças à merce do crime : deixamos elas em perigo e ainda estamos deixando crescer o exército do inimigo.

    E em outro plano, dentro de presídios, implantar trabalho forçado. Nada melhor para se ressocializar do que ser alguém produtivo pra sociedade. Essa deveria ser a métrica para medir bom comportamento e permitir redução de pena. Presídio não tem que ser spa e nem escola tem que ser academia de bandido. Tendo essas duas pontas da equação abordadas, com certeza o crime não vai compensar como ele compensa agora para os criminosos.

    Fox

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    1. Olá, Fox.
      Estamos de total acordo com os dois primeiros parágrafos. O único senão que faço, é como conciliar "Além disso o sucateamento do poder público" com desequilíbrio fiscal e com a crítica que tanto se faz ao Estado? Não é fácil.

      "Eu acredito que porte de arma é um fator necessário para trazer mais equilíbrio nessas situações, mas hoje em dia acho que dois fatores seriam mais facilmente aplicáveis: a ocupação das escolas por força militar como forma de reocupação de imagem de autoridade.Não vejo nenhum argumento válido para mantermos nossas crianças à merce do crime : deixamos elas em perigo e ainda estamos deixando crescer o exército do inimigo.
      "
      Posse ou porte de arma? Eu acho que a postura que tem que ser fortalecida de autoridade é do professor. O tráfico, e o crime como um todo, podem ter a sua influência em algumas escolas, mas o problema é muito maior do que isso. Além de ser operacionalmente difícil uma "ocupação" do Exército em milhares de escolas, não podemos saber os diversos efeitos de segunda ordem que podem sair daí.

      "E em outro plano, dentro de presídios, implantar trabalho forçado. Nada melhor para se ressocializar do que ser alguém produtivo pra sociedade. Essa deveria ser a métrica para medir bom comportamento e permitir redução de pena. Presídio não tem que ser spa e nem escola tem que ser academia de bandido. Tendo essas duas pontas da equação abordadas, com certeza o crime não vai compensar como ele compensa agora para os criminosos."

      Não tenho a menor dúvida que presos tem que realizar algum tipo de atividade produtiva. Minha vó no interior do RS há 60 anos já falava isso. Agora, discordo em relação à escola. Qualquer forma de aumentar a educação, seja de presos ou não, é algo positivo.

      Um abs

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  15. Abordei minha visão dentro da esfera polícia x bandido, mas existe também um fator ai que se não entrar no conjunto, simplesmente vamos sempre correr atrás do próprio rabo: a ligação nos altos escalões da sociedade com os crimes.

    E quem está ganhando dinheiro com tráfico de armas, tráfico de drogas, um sistema judicial e prisional leniente com a livre ação de bandidos? Se essa camada de colarinho branco/peixes graúdos não sentir o peso da impunidade, qualquer ação nas esferas micro vai perdendo força. Esse é um tema que temos entender que tem relação total com o exposto (aquela mala de dinheiro desviada faz uma falta enorme quando chega a conta da segurança).

    Fox

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    Respostas
    1. Olá, Fox.
      "Se essa camada de colarinho branco/peixes graúdos não sentir o peso da impunidade"
      Acho que você quis dizer se ela sentir que está impune...
      Concordo contigo. Por esse motivo, a Lava-Jato era e continua sendo uma luz de esperança, mas ela vem se degenerando e não sabemos qual vai ser resultado. Torcemos para que seja positivo.

      Um abraço

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  16. Fui júri do RJ-SP, mas só participei de fato de uma audiência.

    Crime: Fulano matou ciclano por causa de uma briga de bar. Crime ocorreu em 1994 (audiência foi em 2013), julgado à revelia, porque ninguém sabia o paradeiro do réu.

    Acho que isso meio que retrata o Brasilzão: homicídio por motivo fútil e judiciário extremamente moroso. 20 anos! O próprio promotor brincou: nem as testemunhas se lembram mais direito do que ocorreu.

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    1. Olá, colega.
      "Crime ocorreu em 1994 (audiência foi em 2013), julgado à revelia, porque ninguém sabia o paradeiro do réu. "
      Esse é um retrato triste do nosso país. Não tenho a menor dúvida que combater as causas para que isso não ocorra é muito mais efetivo para a queda da violência, do que o simples aumento da violência no combate da criminalidade.

      Abs

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  17. Boa tarde a todos!!!

    Acho uma excelente discuçao sobre o assunto.

    Tambem tenho o pensamento que bandido bom 'e bandido morto.
    Porem esse pensamento vem ficando mais forte com os anos. Pois vemos tanta impunidade, e injustiça, crimes com mais barbarie e truculencia mesmo em latrocinio com itens de pouco valor.

    Quanto a liberaçao de armas concordo o porte de arma, mas sendo proibido o transito com armas. Ainda seria muito cedo para isso, Nao somos, ou pelo menos a maioria penso eu, maduros emocionalmente, nem temos educaçao suficiente pra isso. Estamos todos de paivo curto, a qualquer discuçao seria motivo pra usar armas, vemos isso nos noticiarios.

    As soluçoes que vejo de imediato. seriam:

    Primeiro: Politica.

    Deveria ser acabado com a profissao politico. Virou sinonimo de altos salarios, muitos beneficios, legislar em causa propria, corrupçao, complos com empresas.

    A forma de resolver isso seria:
    1- So podedira se candidatar a um cargo politico no maximo em 3 mandatos.
    Sendo nao consecutivos e nao no mesmo cargo ja exercido. Se foi vereador, nunca mais podera concorrer a vereador, so a deputado, senador presidente. Isso acaba com "panelinha".

    2- Receberia so um salario fixo. Mais nada de beneficios. E pagaria do proprio bolso viagens, moradia, alimentaçao, e tudo o mais.
    Tudo que se recebe demais, e degraça 'e facil gastar a vontade.

    3- Nao poderia legislar em causa propria, para isso votaçao popular.



    Segundo: Educaçao

    1- Reformulaçao do ensino basico.

    Sendo focado totalmente em portugues,matematica,

    2- Ensino medio.

    Foco em portugues, matematica, fisica, quimica.
    Noçoes em historia, geografia e mais uma ou duas materias voltado pra etica, deselvolvimento pessoal.

    3-Segundo grau.

    Com formaçao tecnica nivel senai.

    Seria basicamente isso. O que resolve he educaçao, mas pra isso, tem que resolver o politico, pois nao ha vontade politica.
    Politica voltaria a ser servir a naçao, se he que algum dia foi.
    Rodrigo.
    Abraço a todos.

    OBS: Desculpem a falta de açentuaçao, mas aqui nao esta funcionando.

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    1. Olá, Rodrigo.
      Sua mensagem acabou abordando inúmeros tópicos, todos eles pertinentes.
      Grato pela sua manifestação.
      Abs

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    2. Sim, e nao teria como ficar em um unico topico, " o buraco he mais em baixo."

      Concordo contigo que violencia gera violencia, querendo ou nao, aflora o pior das pessoas, em quem reprime e quem he reprimido.

      A pergunta tem que quer o que resolve a raiz do problema.
      Resolveria 100%? Nao.
      Pelo menos usariamos bases solidas para amenizar e muito o problema e nao uma peneira pra tapar o sol.

      Rodrigo.
      Abraços!!

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  18. Olá, SS!
    No final das contas o monopólio do uso de armas pelo Estado, não é de fato monopólio, já que os bandidos o ignoram. Os únicos impedidos de possuir armas são as pessoas de bem.

    Nunca comprei a ideia de que pobreza produz bandido. O que mais tem nesse mundo é gente pobre honesta e essas são as maiores vítimas da violência. Repare como esse discurso de que bandido é "vítima" da sociedade desigual está na ponta da língua dos bandidos.

    No Brasil a impunidade impera. Temos muitas leis e pouca justiça. A impressão geral é a de que a polícia prende e a justiça solta.

    Abs

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    1. Olá, colega.
      Não, a pobreza não gera uma criminalidade como essa no Brasil. Já andei em lugares muito mais pobres em outras regiões do mundo, sem qualquer receio.
      Porém, a pobreza, ou melhor dizendo a falta de oportunidades, pode seduzir jovens para o caminho do crime, que é mais perigo, mas muito mais rápido para uma espécie de "ascensão social".
      A impunidade realmente está na raiz do problema.
      Um abs

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