sábado, 23 de setembro de 2017

MATANAY - "AQUELE QUE ROUBA DA MORTE"

“Como ela se sente?”, ela diz que sente a dor da fome, mas sabe que é melhor sentir fome do que estar morta, ela deu um nome para você: MatanayAquele que rouba da morte”.

                Essa é uma cena do filme Beyond Borders ou “Amor Sem Fronteiras”. Resolvi assistir novamente esse filme hoje.  Em minha opinião, é um filme espetacular. Talvez não porque seja uma obra-prima da sétima arte. Não, provavelmente está bem longe disso. Contudo, é um filme que, apesar de ser muito triste em várias partes, tem o potencial de extrair boas coisas de quem nós somos.

                O filme é centrado na história de amor entre Angelina Jolie e Clive Owens  tendo como pano de fundo a atividade de ajuda humanitária nos lugares mais difíceis da terra. Etiópia em 1984 e a grande fome pela qual esse país passou na época, Camboja em 1989 logo depois que tropas vietnamitas invadiram o país e expulsaram o Khmer Vermelho para as florestas remotas do país (se você quiser conferir o que já escrevi sobre o Cambodia: Os Campos Da MorteO Horror, O Horror e Camboja: Uma Aventura Inesquecível de Moto e Chechênia em 1995 no auge do conflito separatista com tropas russas (estive em zonas próximas dos territórios complicados da Chechênia e Dagestão).

Cena do filme num acampamento da Etiópia. No filme, a palavra Matanay é dita por uma mulher à beira da morte. Tentei procurar na Internet se a palavra realmente significava em Etíope "Aquele que rouba a morte", mas não achei resposta. Mesmo sem confirmação, é uma bela palavra e uma boa história.


                No meio de tanto rancor, ódio, indiferença, a existência de milhares de trabalhadores humanitários que para além de ideologias, opiniões, crenças, arriscam as suas próprias vidas para levar algum alívio para milhões de pessoas desesperadas, é um bálsamo para o que há de mais belo em nossa humanidade.

                Se pedissem para me apontar uma organização  humana incrível, apenas uma, eu não teria dúvidas que escolheria os Médicos Sem Fronteiras. Claro, hoje em dia, ao contrário da minha juventude, eu consigo enxergar quão fantástica são empresas como uma Apple, ou admirar pessoas como Elon Musk. Entretanto, poder, dinheiro, inovação, nunca me tocaram tão profundamente como a generosidade e coragem de pessoas dispostas, apesar das piores condições, a ajudar os outros de forma voluntária.



                Aliás, eu sempre fui fascinado pela Ciência e pela generosidade. São os dois atributos que acho mais maravilhosos da nossa espécie. A capacidade humana de procurar a verdade, seja para onde ela leve, de perscrutar os segredos mais complexos do universo de uma forma sem pré-conceitos ou reverência a autoridades. A capacidade humana de ser generoso e amoroso com desconhecidos, com outros humanos que talvez não sejam da mesma família, clã, tribo ou nação.

                Quando estava na faculdade, alguém me perguntou o que eu gostaria de ser. A pergunta me pegou de surpresa, e a única coisa que me veio à cabeça foi “ser uma boa pessoa”. Eu nunca dei muita bola se seria um juiz, ou um advogado rico, ou seja lá o que for, de alguma maneira eu não dava importância para esse tipo de identificação, que é central para muitas pessoas. Um pouco mais adulto esse tipo de identificação, confesso, ganhou mais força. Entretanto, nos dias atuais não significa, como nos tempos de faculdade, muita coisa.

                Quem algum dia leu  o artigo Minha História Financeira, sabe que perdi muito dinheiro na organização de uma festa quando tinha 22 anos.  Gastei R$ 30.000,00 em meados de 2002. Esse dinheiro corrigido pelo IPCA corresponde a algo em torno de R$ 80.000,00. Esse dinheiro aplicado a 95% do CDI a algo em torno de R$ 180.000,00. Sim, foi uma grana enorme.

                Depois de tudo dar errado, de ter gasto essa grana num evento de uma noite que não deu certo, eu me senti um derrotado. Um paspalho de ter perdido essa grana, um verdadeiro idiota. Foi uma época onde os professores da Federal onde estudava estavam em greve, e eu estava sem aulas há alguns meses.  Eu cheguei até pensar em largar a faculdade.

                No outro dia do evento, não sei por qual motivo, acho que minha mãe estava pensando em trocar de carro, nós dois fomos numa loja de  automóveis. Resolvi acompanhá-la e também não sei o motivo. Lembro como se fosse hoje que eu fiquei parado olhando um carro de luxo que estava em disposição. Minha mãe chegou próxima de mim e disse “não fique triste meu filho, você vai ganhar muito dinheiro e poderá comprar um carro desses se quiser”.

                Eu não estava olhando o carro porque de alguma maneira o desejava, aliás,  aquele carro não fazia qualquer sentido para mim (e atualmente faz menos sentido ainda). Porém, até hoje agradeço  aquelas palavras, pois elas  representam o amor que um ser humano especial como a minha mãe teve por mim naquele momento de fragilidade emocional da minha vida. E quantos outros momentos como esse não existiram?       Para além da educação e as condições materiais que a minha mãe me proporcionou, tenho absoluta certeza que me transformei de uma criança no adulto que sou hoje pelos vários momentos de amor que ela me forneceu.

                O amor de uma mãe para com um filho talvez seja uma das coisas mais preciosas que exista.  Talvez trabalhadores humanitários que se dedicam a salvar vidas em condições precárias tentem de alguma forma replicar o amor materno, o amor desinteressado, para ajudar pessoas que talvez não falem nem o mesmo idioma.

                No meio de discussões políticas, de embates econômicos sobre qual doutrina está correta, ou sobre se uma religião é ruim ou não, o sofrimento humano fica em segundo plano, ou às vezes até mesmo some do radar de qualquer consideração. Por isso, fica aqui a minha homenagem a todos os Matanay que por meio de sacrifícios pessoais e amor roubam da morte e ajudam que milhões de pessoas possam viver.

                Um grande abraço a todos!

                

49 comentários:

  1. Alguma ideologia por tras desses eventos na africa e na asia que vc mencionou?
    Nao podemos ter uma certa mas certamente temos uma que por onde passa gera fome, caos e mortes. É preciso chamar o diabo pelo nome! Mal, teu sobrenome é comunismo!

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    1. Olá, colega. É verdade. Porém, o comunismo do Khmer vermelho é tão parecido com o comunismo da União Soviética como uma música do Iron Maiden é parecida com um Funk.
      Porém, o que há de bacana por trás de pessoas que fazem ajuda humanitária é que para eles não importa o que causou (se ideologia, decisões econômicas ruins, uma seca prolongada, um ditador sanguinário), mas sim ajudar seres humanos.
      Quão melhor não seria a nossa vida se, mesmo nas nossas relações diária, conseguíssemos ter essa visão mais profunda sobre sofrimento e a humanidade?
      Um abraço

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    2. Não sou o anônimo do primeiro comentário.
      Soul, às vezes, coisas diferentes tem mais em comum do que pensamos:
      https://m.youtube.com/watch?v=ISpbEfY7QV0
      Vale para iron e funk, vale para Camboja e URSS.

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  2. Texto bem legal. Já que citou Angelina Jolie e Camboja, ela acabou de lançar um filme "First they killed my father" sobre o que aconteceu ao país. Produção da Netflix. Vale conferir.

    Engraçada essa história do carro. O meu basicão seguro japonês já me atende bem. Também não vejo motivo de ter um carrão que até cabe no bolso, nem prejudicaria o patrimônio. Nada. Só não faz sentido mesmo. O pessoal da classe média, meus pares, acaba arrumando umas correntes bem estranhas na minha visão, mas cada um faz o que acha melhor pra si.

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    1. Olá, colega.
      Sim, quando estive no Camboja em 2007 a primeira vez eu comprei o livro "First they killed my father" e o li quando estava no país. No meu retorno em 2016, estava na cidade de Battambang e eles estavam filmando esse filme. Várias ruas estavam fechadas e havia muito locais como coadjuvantes. Era uma cena envolvendo caminhões.
      Eu quase vi esse filme ontem, mas optei por assistir novamente o Beyond Borders. Porém, com certeza irei assistir.

      É verdade sobre o carro, concordo integralmente.

      Um abraço!

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  3. A caridade essencial para quem recebe porém ajuda mais quem a faz .Na minha opinião pode nos deixar mais humanos do nos era antes

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    1. Belo Nickname, e bom desenho (o personagem que mais gostava da Disney era o Tio Patinhas).
      É verdade, colega, concordo contigo.
      Um abs!

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  4. Meu filho ja completou um ano. Surge repentinamente um tipo de amor que você nem imaginava que poderia existir. E ai cada dia que passa você descobre que esse amor aumenta mais e mais, como se fosse o Universo, sempre em expansão.
    Mas paro e olho o relacionamento do meu filho com minha esposa, sua mãe, e fica evidente que o amor materno fica em uma outra categoria. Uma categoria sobre humana, até. Percebi isso pela primeira vez durante o parto. Só uma mãe aguentaria um parto normal. Uma pai, jamais. E cada dia que passa se torna mais evidente que o amor materno fica em uma categoria elevada das demais.
    Você tem razão, acho que quando as pessoas ajudam estranhos de maneira totalmente altruista, elas temporariamente acessam essa categoria.

    Einstein disse que os juros compostos é a força mais poderosa do Universo. Tenho pena dele por não ter conhecido o amor.

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    1. Olá, Finanças Cotidianas. Grato pelo comentário, e parabéns pela paternidade.

      Apenas como um adendo, é muito provável que Einstein não tenha dito essa frase sobre juros compostos. Aliás, não é nada factível que um homem como ele tenha dito isso.
      Einstein foi um dos maiores cientistas de todos os tempos e um grande humanista. Ele inclusive foi chamado a ser presidente de Israel em 1952, mas recusou por motivos de consciência (quem hoje em dia recusaria ser presidente de uma nação?).
      Einstein é uma das pessoas históricas que mais admiro.

      Sobre a citação de Einstein:
      http://www.snopes.com/quotes/einstein/interest.asp
      https://skeptics.stackexchange.com/questions/25330/did-einstein-ever-remark-on-compound-interest

      Sobre Einstein recusar a presidência:
      http://www.newsmax.com/FastFeatures/albert-einstein-israel-president/2014/12/14/id/612969/

      Um abs!

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    2. É complicado admirar pessoas, pois todos somos falhos. Alguns em aspectos muito graves e nunca sabemos realmente quem alguem é, especialmente quando se trata de figuras históricas.
      Acho que ninguém pode questionar a contribuição do Einstein como cientista e sua importância na história da humanidade. Mas não coloco a mão no fogo quanto ao seu caráter. Afinal, ele casou com a prima (se não estou confundindo personagens, ela era bem novinha na época) e foi uma mente chave na criação da bomba atômica. Nunca vi nenhuma matéria sobre ele ter se arrependido pela contribuição no desenvolvimento da bomba.
      Se comparar isto com um Santos Dumont, por ex, que se suicidou ao descobrir que aviões estavam sendo usados em guerra, o lado humanitario do Einstein perde significância.
      Eu não classificaria a mente por tras da bomba atômica como um humanista.
      Sei que é um assunto bem polêmico, com camadas de discussão, mas podemos concordar em discordar
      ;)

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    3. F.C.,
      Não vejo nenhum problema em admirar pessoas e estas mesmas pessoas possuírem "falhas". Todos nós somos humanos. Ghandi deveria possuir muitas "falhas", mas foi uma pessoa que influenciou positivamente dezenas de milhões (talvez centenas) de pessoas.
      O meu pai e Mãe possuem falhas, mas mesmo assim eu os admiro.
      O que talvez você quis dizer é uma admiração cega e quase messiânica por alguém. Nisso, estamos de total acordo.

      Sobre Einstein, tenho certeza que ele deveria possuir muitas falhas, mas as suas contribuições para o nosso entendimento do universo, do tempo, são tão fenomenais, que ele com certeza merece um lugar destacado.

      Sobre ele não ser humanista por sua contribuição no desenvolvimento da bomba, eu acho que há alguns erros factuais aí. Primeiramente, Einstein não participou do projeto para o desenvolvimento da bomba. A participação dele, até onde sei, foi simplesmente em 1905 na teoria da relatividade especial ter descoberto a conexão entre massa e energia (sim, a famosa equação). O seu envolvimento com a bomba foi ter enviado uma carta ao então presidente dos EUA avisando sobre as potenciais consequências de uma bomba teórica que usasse a energia liberada pela fissão de algum elemento radioativo. Já havia suspeitas de que nazistas poderiam ter conhecimento teórico para começar um projeto nesse sentido (não se esqueça que ele era judeu-alemão, e fugiu da Alemanha Nazista).
      Ele se arrependeu sim da carta enviada para o presidente americano em 1939. Atribuir a destruição nuclear a Einstein parece-me um equívoco fundamental.

      Um pouco mais sobre o assunto: https://reasonandreflection.wordpress.com/2014/11/08/einsteins-three-great-regrets/

      Grato pelas mensagens amigo!

      Um abraço!

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    4. "I made one great mistake in my life... when I signed the letter to President Roosevelt recommending that atom bombs be made; but there was some justification - the danger that the Germans would make them."

      Eu costumo acreditar que o "but" (mas) quase sempre invalida tudo que vem antes dele.
      Em todos os relatos, eu vejo ele totalmente ciente do impacto da contribuição dele na bomba atômica e os desastres em Hiroshima e Nagasaki. E na cabeça dele sempre foi justificado, pois os alemães poderiam ter chegado lá antes.
      Na minha opinião, não tem justificativa alguém com a mente brilhante que ele tinha usar o conhecimento e influência para desenvolver a arma mais destrutiva que a humanidade já viu.
      Entendo também o lado dele. O que estava acontecendo no mundo naquela época era realmente terrível. Mas ele da mesma maneira que ele contribuiu para o avanço do conhecimento humano, ele também contribuiu para a nossa decadência humana. EUA venceu a segunda guerra mundial com duas bombas atômicas e todos acham isso normal/legal.

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    5. Já escrevi sobre as duas bombas nucleares detonadas no Japão, como uma reflexão do tempo que passei naquele país: http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/japao-flor-estupida-e-graciosa.html

      Claro, colega, essa é a sua perspectiva e ela deve ser respeitada. Bem estabelecido os fatos, como não tinha ficado muito claro na primeira mensagem (que dava a entender que de alguma forma ele participou na construção da bomba, que na verdade foi um dos maiores projetos científicos-militares que o mundo já viu - O projeto Manhattan), creio que cada um pode pensar e refletir por si só.

      Abs!

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    6. Eu imagino que teriam morrido bem mais pessoas no mundo se as bombas atômicas não tivessem sido desenvolvidas, começando pela invasão do Japão na 2 GM.
      É incrível e paradoxal que a posse de artefatos ultra destrutivos mantenha um equilíbrio de forças em que os lados tem medo de dar o primeiro passo, ver sobre Destruição Mútua Assegurada.
      Também imagino que se nenhum dos lados tivesse a BA ao fim da 2 GM, cedo ou tarde a Europa teria sido tragada pela URSS.

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  5. Soul,

    Certa feita estava a falar com uma pessoa próxima a mim. Estávamos falando sobre qual caridade "é a melhor". Elencamos quatro fases, ou faces de quem a faz, as quais são:

    1) Caridade feita com o objetivo de mudar, concretamente, uma situação, como os casos de ONG's e projetos sólidos;

    2) Caridade feita com a intenção de se promover perante à sociedade, vem-me à cabeça os exemplos de famosos que postam em suas redes sociais participação em alguma organização caridosa, ou mesmo pessoas comuns que repetem o mesmo ato;

    3) Caridade realizada com objetivo de barganha com o universo ou uma divindade, geralmente, pessoas que fazem caridade a fim de ganharem bônus com os astros ou com Deus;

    4) Caridade efetuada apenas por bondade.

    O interessante é que cada uma, mesmo as mais recheadas de egoísmo, contribuem de maneira positiva para a melhoria dos ambientes. Porém, a que possui menor efeito perceptível e que é mais virtuosa, pode ser a mais inspiradora.

    Deixo-te um link para um vídeo para lá de tocante sobre a caridade feita por bondade:

    https://www.youtube.com/watch?v=OHH1Ametpw8

    Abraço!

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    1. Olá, colega.
      Do ponto de vista utilitário, sem dúvida "O interessante é que cada uma, mesmo as mais recheadas de egoísmo, contribuem de maneira positiva para a melhoria dos ambientes".
      De um ponto de vista diria mais "profundo" também concordo que "Porém, a que possui menor efeito perceptível e que é mais virtuosa, pode ser a mais inspiradora."
      Minha mãe sempre me falava da história de um refugiado na guerra que estava desesperado de fome e tinha um papelão com gordura para comer, mesmo assim ele repartiu o papelão engordurado com outra pessoa desesperada.
      Esse é um gesto que me impressiona muito mais do que doações milionárias, mas ambos gestos servem para melhorar o ambiente como você mesmo disse.

      Abs!

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    2. obs: muito bonito o vídeo, grato por compartilhar

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  6. Acredito que para muitos aqui a razão da necessidade de ajuda humanitária é o contínuo mal produzido pelo comunismo, e não a selvageria que acompanha a expansão capitalista no mundo, com suas guerras imperialistas, desigualdades, produção destrutiva, concentração de riqueza em 1% da população, ameaças ao meio ambiente. Onde está o êxito desse sistema para a população que vive na miséria em países historicamente explorados para que os mais ricos possam usufruir bem-estar?

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    1. "No meio de discussões políticas, de embates econômicos sobre qual doutrina está correta, ou sobre se uma religião é ruim ou não, o sofrimento humano fica em segundo plano, ou às vezes até mesmo some do radar de qualquer consideração. Por isso, fica aqui a minha homenagem a todos os Matanay que por meio de sacrifícios pessoais e amor roubam da morte e ajudam que milhões de pessoas possam viver."

      Abs !

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    2. Uma visão conservadora, Soul, de quem considera que tratando os sintomas se debela a doença. Todas essas pessoas perecem pelo sistema que eu e você ajudamos a enaltecer em nossa rotina diária, pois não queremos reconhecer a profunda desigualdade e injustiça que cercam todos nós. Refugiamos em nosso ego, por meio de distrações, viagens e blogs. Somos também responsáveis. É nisso compromisso querer mudar, pelo reconhecimento de que há um lado a ser combatido, vencido. Buda não transigiu. Ele adotou o lado da humanidade. Torne a sua filosofia algo prático.

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    3. Olá, colega. A injustiça é algo que sempre nos acompanhou enquanto espécie (isso sem tecer maiores considerações do que o termo Justiça significa).
      Hoje em dia talvez vivemos numa das épocas mais "justas" da terra, onde vemos um país como a Coréia do Norte como uma excentricidade do passado, por exemplo. Um líder que podia fazer de tudo e não prestava contas a ninguém não era a exceção, mas sim a norma. Sendo assim, não sei se você está correto no seu diagnóstico.
      "Refugiamos em nosso ego, por meio de distrações, viagens e blogs", você precisaria especificar o que entende por "refugiarmos em nosso ego".

      Agora, é verdade e concordo contigo que o sofrimento humano deveria ser mais pesado para nós, mas de certa forma, pelo menos a esmagadora maioria (na qual me incluo) de certa forma somos anestesiados, talvez aqui que entre o seu "refugiados no próprio ego".
      Um abs!

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    4. Parte I

      Soul, eu acho que entendo o que o Anôn das 21:12 está querendo dizer. Vou usar como exemplo o teatro - o que ele está dizendo é que devemos sair da coxia, de uma posição de assistentes, de "visualizadores passivos" e nos colocarmos no palco, virar protagonista nessa peça que é a vida. Mas, me pergunto, será que é uma alteração de papel fácil de fazer essa? Não é mais fácil admirar entidades e organizações que o fazem sem que necessitemos colocar a mão na massa, sem nos envolvermos, uma postura um tanto asséptica, ainda que contribuamos financeiramente para as causas que elas levantam? Acho que isso fica muito claro no papel desempenhado pela Jolie no filme. O choque que ela leva no jantar beneficente ao perceber que não bastava somente arrecadar/doar dinheiro, era preciso participar.


      Questiono-me muito sobre isso porque, há alguns anos atrás, vivi uma experiência que faz com que eu "arraste correntes" até hoje. Um familiar possuía uma clínica geriátrica em uma capital bastante desenvolvida do país (hoje, essa cidade se não é a mais degradada, é uma das top five em degradação e violência). Bueno, essa clínica atendia pessoas de alta renda ou provenientes de famílias de políticos, de fazendeiros, de "famílias quatrocentonas". O perfil dos pacientes da clínica era de idosos de ambos os sexos, quase todos portadores de demências como esquizofrenia, Alzheimer, Parkinson...em diferentes graus de intensidade além de doenças como diabetes, hipertensão. Ou seja, se tratava de pacientes que requeriam cuidados intensivos vinte e quatro horas por dia.


      Os pacientes tinham atendimento médico, cuidados de enfermagem, fisioterapeutas, entre outros profissionais, de maneira rotineira. O local era limpo, arejado, claro. A clínica possuía lista de espera (vagas só se tornavam disponíveis quando algum paciente morria), ainda que os proprietários não fizessem divulgação do estabelecimento, tamanha era a boa imagem propagandeada no boca-a-boca. Um dia, fui convidada para passar o dia na clínica. Enquanto esse membro da minha família trabalhava, eu fiquei zanzando por lá, observando funcionários, conversando com alguns pacientes, ao menos com aqueles com os quais ainda era possível manter uma conversação ou uma tentativa de.

      (continua...)

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    5. Parte II

      Depois do almoço um interno me chamou para conhecer a horta da clínica, cuidada com seu auxílio. Esse paciente era um dos "menos problemático". Me mostrou com orgulho os canteiros de couves, cenouras, alfaces. Sempre com um olho observador por parte de algum cuidador, pois esse paciente, ainda que raro, tinha surtos nos quais precisava ser contido. Continuei minha andança e me desloquei para o andar superior da clínica. Caminhei pelos corredores da casa até chegar a um quarto; no centro desse quarto havia uma cama hospitalar. Deitado na cama, um senhor já bem grisalho, ligado a esses aparelhos de ventilação mecânica e com sondas e cateter para alimentação e para recolha dos urina/fezes. Perguntei para a técnica que estava atendendo-o naquele momento, o que havia acontecido com ele. Contou-me que ele havia sofrido um derrame e havia ficado quase que totalmente paralisado, restando um movimento muito débil nas mãos e pouca movimentação de cabeça, principalmente olhos. Aparelho respiratório, digestivo e excretor estavam paralisados. Assisti a técnica realizar a limpeza corporal, aos exercícios de fisioterapia e massagens para evitar as escarras e preservação do que ainda restava de músculos no corpo. Contaram-me que havia sido professor. “De quê?”, eu quis saber. Não sabiam. “Onde ele havia ensinado?” Também não sabiam me dizer. Os técnicos terminaram o serviço e passaram para o quarto ao lado. Eu fiquei lá parada, ao lado da cama. Esse senhor me olhava. Senti-me sem jeito. Nisso, a pessoa que havia me levado lá, disse pelas minhas costas ao passar pelo corredor: "Anna, converse com ele, ele não pode te responder, mas ele ouve perfeitamente". E seguiu pelo corredor me deixando só, ainda paralisada ao lado de professor. E o professor?


      O professor seguia com o olhar firmemente posto em mim.


      Por longos minutos, eu inspecionei tudo o que havia naquele quarto: o piso de madeira, a grande janela atrás e acima da cabeceira da cama por onde entravam raios de sol, os equipamentos nos quais ele estava ligado, o som que ele emitia ao respirar pelo aparelho. Volta e meia eu olhava pra ele, e ele seguia lá sem desgrudar o olhar do meu rosto. Eu não sabia o que fazer, eu não conseguia tomar uma atitude, nem sequer conseguia me mover para sair do quarto.


      Então, muito desajeitadamente, eu comecei a falar com ele. Disse meu nome, quem eu era, o que eu estava fazendo lá, o que estudava e onde (na época, eu era uma estudante universitária). Acho que falei por uns 10 minutos. Ele, então, fez um sinal com a mão enfraquecida. Aproximei minha mão da dele e nos demos às mãos. O pouco de força que ainda restava nas mãos do professor ele concentrou-a em apertar a minha mão.

      (continua...)

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    6. Parte III

      Não tenho formação na área médica, não entendo nada de terapia ocupacional, nem psicóloga eu sou. Mas, durante aquele gesto, o apertar da mão dele na minha, eu senti que haveria uma possibilidade. Então, combinei com ele que um aperto de mão significariam sim e dois apertos equivaleriam a não. E assim, começamos a conversar. Eu soube que ele havia sido professor da PUC, eu soube para quais cursos ele havia lecionado, que havia se doutorado, que havia se casado, que sua mulher já era falecida, quantos filhos tiveram, que tipo de cinema ele gostava, que tipo de leitura fazia e que gostava do Mario Quintana...


      "Conversamos" a tarde toda, uma conversa lenta que mais dependia da minha capacidade de formular perguntas do que das ganas dele em responder-me. Volta e meia eu interrompia a nossa conversa dizendo que já voltaria. Eu saía correndo do quarto e me trancava no banheiro pra chorar. Foi a experiência emocional mais impactante que eu já vivi na minha vida.


      A tarde já ia acabando quando fui chamada para ir embora. Despedi-me do professor e fiz uma promessa a ele: "Professor, eu voltarei outras vezes pra seguir esta nossa conversa, ok? Vamos assistir alguns filmes juntos e trarei livros e jornais para ler para o senhor."




      Mas essa não é uma história de redenção. Ela não tem um final feliz. É a história do ponto mais baixo da gangorra entre ser uma pessoa boa ou má que eu atingi pois eu nunca mais voltei lá. A única coisa que consegui fazer foi pedir aos meus familiares para inverterem a posição da cama dele no quarto e dessa maneira, que ele ficasse de frente para a janela e, assim, conseguisse acompanhar o transcorrer do dia pela luz que entrava pela janela.


      Dois anos depois daquela tarde, ele morreu. Posso imaginar ele contando os minutos, esperando o meu retorno no final de semana seguinte. Eu sabia que as pessoas, incluído familiares, apenas falavam com ele. Nunca houve, durante todo o período que ele ficou entrevado naquela cama (cerca de seis anos) alguém que tivesse "conversado" com ele. A única havia sido eu. E eu não voltei.

      (continua...)

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    7. Parte IV

      Então, quando o Anôn diz que - refugiamos em nosso ego, por meio de distrações, viagens e blogs - isso ressoa em mim e me dói profundamente pois é uma necessidade cada dia mais forte em mim, uma necessidade de romper com esse ciclo, nessa minha luta para me tornar uma pessoa melhor. E não se trata de garantir "meu terreninho no céu" até porque sou agnóstica.

      Não estou desmerecendo quem faz doações (como aquela que permite abater % do IR). Dinheiro é preciso para que as instituições possam se manter funcionando. Mas, será que não podemos fazer mais? Será que eu não posso fazer mais? Colocar à disposição do Outro todo o conhecimento que acumulei, seja no estudo formal, seja nas minhas andanças pelo mundo, obtido pelas minhas leituras e conversas? Será que ser "militante de redes sociais" ou de blogs a partir meu sofá, no conforto da minha casa, pilotando o último modelo de PC da Apple é suficiente para mudar o mundo? Me questiono o quanto eu consigo interferir nele realmente (somente via doações) e o quanto isso ajuda a torná-lo um local verdadeiramente melhor.



      Por favor, não entenda como uma crítica ao teu post, a ideia é ampliar o horizonte deste debate... Aliás, considero teus escritos e muitos dos comentários que são postados aqui como instantes de trégua nesse lodaçal de iniquidades que estamos submetidos e/ou somos participantes.



      Decidi relatar essa história para que sirva de exemplo que não precisamos ir a um local de conflito armado do outro lado do mundo para nos tornarmos matanay. Relato porque, daquele momento em diante, eu me afastei de tudo, eu me isentei/ausentei e acredito que se aprende também com o erro dos outros. Hoje, até contribuo com dinheiro, seja à instituições, seja via apadrinhamento de crianças que estão muitos quilômetros de distância de mim. O que ocorre é que eu sinto que não é suficiente, isso não tem me ajudado a me redimir - Absens heres nbo erit.

      O professor Moacir (esse era o nome dele), eu não conseguiria roubá-lo da morte, estava além das minhas possibilidades e das possibilidades do professor. Mas que eu poderia ter tornado o caminho dele menos dolorido, mais vivo, isso eu poderia ter feito!


      Um abraço,
      Anna Kelnner

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    8. Olá, Anna. Grato pela “grande” (nos dois sentidos) mensagem.
      “Não estou desmerecendo quem faz doações (como aquela que permite abater % do IR). Dinheiro é preciso para que as instituições possam se manter funcionando. Mas, será que não podemos fazer mais? Será que eu não posso fazer mais? Colocar à disposição do Outro todo o conhecimento que acumulei, seja no estudo formal, seja nas minhas andanças pelo mundo, obtido pelas minhas leituras e conversas? Será que ser "militante de redes sociais" ou de blogs a partir meu sofá, no conforto da minha casa, pilotando o último modelo de PC da Apple é suficiente para mudar o mundo? Me questiono o quanto eu consigo interferir nele realmente (somente via doações) e o quanto isso ajuda a torná-lo um local verdadeiramente melhor.”
      As pessoas têm dons, expectativas, habilidades e tolerâncias diferentes. Eu também refletia exatamente como o anônimo e você. Porém, hoje penso um pouco diferente. Uma das melhores entrevistas, se não a melhor, que já vi foi do Patch Adams para o roda vida em 2007 (e já coloquei o link no blog diversas vezes). Numa das muitas inesquecíveis partes, ele fala que “eu não vejo diferença entre ser amoroso com uma criança morrendo de câncer no hospital e ser cordial com um homem de negócios no elevador, para mim são experiências idênticas”. A sabedoria de uma frase dessas é imensa. Ser cordial com o seu vizinho, ou num blog, é algo tão importante como atos de caridade ou compaixão. Todos nós podemos achar algo no que podemos ser bons para com os outros e o mundo.
      O mundo é mudado quando mudamos a nós mesmos. Se não fossem doações de pessoas que talvez não tenham a mínima vontade de ter contato com um campo de refugiados, talvez nem o campo de refugiados poderia existir, e existiria apenas caos e desespero. Tecnologias de ponta, como as produzidas pela Apple, podem ajudar e muito aqueles que trabalham de forma direta prestando auxílio ou socorro de quem necessita.
      O que precisamos fazer é parar de julgar tanto e apenas admirar aqueles que achamos que fazem um bom trabalho, e de certa maneira inspirar-se na história dos mesmos para que possamos melhorar as nossas próprias condutas nas coisas mais banais do dia a dia.
      “Por favor, não entenda como uma crítica ao teu post, a ideia é ampliar o horizonte deste debate... Aliás, considero teus escritos e muitos dos comentários que são postados aqui como instantes de trégua nesse lodaçal de iniquidades que estamos submetidos e/ou somos participantes. “
      E se fosse uma crítica? Qual seria o problema? Eu adoro críticas ao que escrevo, em especial as escritas de maneira tão bem construída. O que mais tem são artigos que criticam o politicamente correto, e não sei mais o que, e quando recebem uma crítica simplesmente ficam nervosos, ou apagam comentários.
      “O que ocorre é que eu sinto que não é suficiente, isso não tem me ajudado a me redimir - Absens heres nbo erit. “
      Se você tem esse sentimento, cabe apenas a você decidir o que fazer, ainda mais que já teve uma ligação momentânea tão especial e diferente com o professor Moacir.

      Agradeço mais uma vez a sua mensagem.
      Um abraço!

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  7. Eu guardo uma profunda admiração pelos médicos sem fronteiras e todas essas organizações humanitárias apesar de não me ver de forma alguma fazendo algo do tipo.
    Eu realmente acho que se há miséria no mundo é pela falta de capitalismo e não por causa dele e quando digo capitalismo me refiro a respeito pela propriedade, livre comércio, etc.
    Que bom que essa ongs fazem esse trabalho de aliviar o sofrimento desses seres humanos, mas melhor seriam se essas sociedades se organizassem e criacem instituições que lhe garantissem o direito de trabalhar e poder prosperar.

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    1. Eu concordo, colega.
      Porém, o mundo é muito assimétrico. Veja o pacífico Camboja (digo nos tempos modernos, pois lá já foi o centro de um dos impérios mais poderosos que o Mundo Já viu há 800 anos), foi tragado para o abismo por causa de uma guerra no país vizinho.
      Ou casos de desastres naturais, péssimos governantes, ditaduras, desrespeitos aos direitos humanos mais básicos. Eu creio que as fontes de problemas podem ser as mais variadas possíveis.
      Porém, estamos de total acordo que um lugar onde se estimula o comércio, onde não há restrições indevidas à propriedade privada, onde um Judiciário funcione de forma célere e independente, onde a violência está controlada, onde as pessoas confiam uma nas outras, com certeza tragédias como essas costumam ser raras ou inexistentes. E sim, uma economia de livre mercado é parte integrante desse arranjo.

      Um abs!

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    2. Economia de livre mercado não terá sido o grande problema que traga a humanidade para a miséria?

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    3. Colega, não vamos transformar um artigo de homenagem a pessoas que se dedicam a ajudar os outros, em mais uma discussão, às vezes cansativa, sobre esse tipo de coisa.
      E não, a prosperidade humana adveio principalmente com o aumento do nosso conhecimento científico e também pelo livre mercado.
      Abs

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  8. Olá Soul!

    Bela homenagem! Realmente essas pessoas devem chegar próximos ao amor materno... Dias atrás assisti "A Teoria de Tudo" Não fala sobre o amor materno, e tampouco chega na atitude do filme retratado. Mesmo assim, vale a pena ser visto.

    Abraços!

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    1. Olá!
      "A Teoria do Tudo" é muito interessante, não?
      Um abs!

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    2. Sim! Achei muito boa a história do Hawkings. E o cara teve filhos! Que legal isso! Não sabia...

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  9. A realidade é que existem povos/culturas que vão prosperar mais que outras, seja pela força militar, pela educação e por aí vai.
    Aos derrotados sobrará indiferença, pena ou compaixão (caso desse post).
    Foi assim no passado, é presente e será no futuro.

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    1. Olá, colega. É possível.
      A indiferença creio ser um sentimento ruim, para quem é indiferente e para quem sofre a indiferença.
      A pena já é um sentimento que de alguma maneira nos conecta com quem está sofrendo.
      A compaixão é a possibilidade de realmente nos conectarmos com quem está em dificuldades.
      Que possamos ter compaixão para com outros que por algum motivo estão em sofrimento.
      Um abs

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  10. Soul, gosto da arbordagem de alguns temas seus, você tem a sensibilidade de trazer esses assuntos que nem sempre são faceis de definir como acumular riquezas e afins. Assiste o video da entrevista do patch adams que recomendou uma vez no seu blog. Não concordo com algumas coisas que ele diz, mas sem dúvida ele traz reflexões muito boas e que me ajudaram muito a me entender melhor com minha família.

    Fox

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    1. Olá, Fox.
      Nem eu mesmo concordo, mas ele foi uma das pessoas mais inteligentes que eu já vi ser entrevistada na televisão, e o melhor é que boa parte dos entrevistadores fizerem questões interessantes, e ele se esforçou o máximo para fazer o melhor programa possível.

      Abs

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  11. Grande Soul, belo post mais uma vez.
    Gostaria de recomendar o documentário Poverty, Inc.
    É bastante interessante e mostra como a indústria da caridade e seus bilhões e bilhões de dólares podem inclusive ajudar a perpetuar a pobreza. Existem diversos casos lá, e também mostra os trabalhadores de várias dessas ongs ganhando altos salários e tendo vidas nababescas. Enfim, até a própria caridade se tornou um business.

    Esse filme é muito legal o da Angelina, e também o First They Killed My Father. Eu assisti meio com sono pra variar, mas no final ela dá a entender que uma das causas da gênesis do Khmer Vermelho foi a chuva de bombas americanas não-oficial que caiu no Cambodja? Não conheço mt bem essa história.

    Abraço amigo!
    Como você sabe eu sou doador de MSF e já convenci vários amigos a serem também.

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    1. Grande Frugal,
      Então, evidentemente os EUA não podem ser responsabilizados pelo genocídio. Porém, também é inegável que o Camboja e o Laos foram os países mais bombardeados desde a segunda guerra mundial. A situação foi tão horrível, que até hoje há dezenas de milhares de UXOS (bombas que não explodiram), o que torna a vida em várias regiões do país ainda muito difícil.
      Muitos dizem que o Khmer Vermelho só teve apoio da população rural devido ao bombardeio dos americanos, tanto que se você reparar na cena que eles entram na cidade, as pessoas estão felizes os recebendo como libertadores (na época o ditador Lon Nol era apoiado pelos EUA e extremamente impopular).
      O Camboja, e o ainda mais pacífico Laos, eram países neutros, apesar de tropas vietnamitas usarem esses países para incursões militares no Vietnã do Sul.
      Como tudo nesses casos, a questão é complexa, e multicausal.

      Abraço!

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  12. Soul, estou muito preocupado com o Brasil. Não estava até então, mas algo me chocou. Tem um vídeo de uma exposição de "arte" - não a antiga polêmica de semanas atrás, agora a nova - de uma menina, uma criança de uns 6 anos, acariciando um homem nu e adultos em volta olhando aquilo como se fosse normal. Vi uma jornalista do Estadão defendendo a exposição. Cara, acho que infelizmente o Bolsonaro vai ganhar as eleições com as coisas nesse ponto. Até eu estou inclinado a votar em alguém claramente desqualificado pra ser presidente. Que baque foi aquele vídeo. As coisas passaram dos limites, ação-reação. Esse país tá maluco.

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    1. Olá, colega. Realmente aquele vídeo causou uma polêmica.
      O Brasil pegando fogo em vários sentidos.
      Um abs

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  13. Parabens por abordar e se mostrar realmente humanista num blog sobre financas. Esse filme e impactante e o trabalho dos voluntarios pelo mundo e de uma abnegacao exemplar. Ver jovens abrindo mao de baladas para se dedicar ao semelhante me deixa muito feliz e com esperanca na raca humana. Admiro muito seus textos.

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  14. Bertrand Russel - A conquista da felicidade - capítulo XI - Entusiasmo - fls.102-103.

    Como são assombrosamente variadas as atitudes das diferentes pessoas para com o próximo. Durante uma longa viagem de trem, um homem pode não se concentrar em nenhum de seus companheiros de viagem, ao passo que outro terá analisado todos eles, examinando seu caráter e deduzido com sagacidade a situação de cada um deles na ida, podendo, inclusive, chegar a descobrir muitos de seus segredos.

    As pessoas se diferenciam tanto no que sentem pelos demais quanto no que chegam a saber deles. Há pessoas que estão sempre aborrecidas com tudo, já outras sentem a maior facilidade em desenvolver sentimentos amistosos para com aquelas com quem entram em contato, a menos que exista uma razão concreta para sentir de outra maneira.

    Vejamos novamente a questão da viagem. Algumas pessoas viajam por muitos países, instalando-se sempre nos melhores hotéis, comendo exatamente a mesma comida que comeriam em sua casa, encontrando-se com os mesmos ricos ociosos com os quais se encontrariam se estivessem em casa, falando dos mesmos assuntos de que falariam na sala de jantar de casa. Quando regressam, seu único sentimento é o de alívio por terem acabado com o enfado de uma viagem cara. Outras pessoas, aonde quer que vão, veem o que é característico do lugar, conhecem os nativos, observam tudo o que tinha interesse histórico ou social, comem a comida do país, aprendem costumes e idiomas e voltam para casa com um belo acúmulo de pensamentos agradáveis para as noites de inverno.

    Em todas essas situações, o homem com entusiasmo pela vida leva vantagem sobre o homem sem entusiasmo. Para aqueles, até as situações desagradáveis s revelam úteis.

    Bertrand Russel - A conquista da felicidade - capítulo XI - Entusiasmo - fls.102-103.

    Entusiasmo meu caro Soulsurfer, entusiasmo.

    Abraço.

    H.

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  15. Grande Soul,

    Se não for um incômodo, como faço para lhe contatar? Gostaria de tirar duas dúvidas simples, e você seria a pessoa certa rs.

    Muito obrigado!

    VDC

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    1. Olá, VC!
      Você quer me contratar ou contactar?
      Se for a última hipótese, manda um e-mail para pensamentosfinanceiros@gmail.com

      Abraço!

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    2. Grande Soul,

      Só se eu fosse o PSG para contratar o Neymar da Blogosfera haha, não dá.

      Te mando um @, estou analisando uma operação imobiliária, mas estou com receios ... Algo muito similar feito pelo amigo Surfista, venda direta da Caixa ...

      Seu livro sobre leilões ajudaria muito, crie ele e coloque a venda :)

      Abração

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