quarta-feira, 9 de novembro de 2016

DONALD TRUMP - O VIGOR DA DEMOCRACIA AMERICANA, O GOLPE NAS GERAÇÕES FUTURAS E UNCHARTED REEFS PELA FRENTE

Trump, o novo presidente da maior potência econômica e militar do planeta. Quem iria imaginar isso há 15 meses? Porém, o inusitado ocorreu. Quais seriam os motivos para uma vitória tão improvável ter ocorrido? Primeiramente, porque temos que reconhecer que a Democracia americana, para um país daquele tamanho e com níveis grandes de complexidade, é dinâmica e forte. Se não fosse assim, um negro com nome de Obama (que se parece muito com Osama) jamais seria eleito. Sempre disse para pessoas que criticavam os EUA na minha presença, de que a eleição do Obama era uma prova de como os EUA podem ser surpreendentes. Alguém imagina um negro sendo eleito num futuro próximo no Brasil, mesmo nossa população tendo uma quantidade de negros e mestiços muito maior do que a norte-americana? Eu não.

Eu não sabia que o Trump tem 70 anos. Ele será, segundo artigo que li, o presidente mais velho da história dos EUA. Seria ele o mais despreparado também?


  Assim, os EUA são vibrantes neste aspecto. Trump é um empresário de grande destaque e um homem sem qualquer experiência política, militar ou diplomática. É um completo outsider. Isso não deixa de ser algo incrível. Não temos ninguém, pelo menos até agora, que poderia ser idêntico ao Trump neste aspecto no Brasil. O Bolsonaro além de não ter qualquer relação com Trump nas origens, nem mesmo na capacidade argumentativa,  nada mais é do que um político profissional de longa data. Portanto, os EUA mais uma vez surpreendem a todos com a eleição de alguém tão diferente do status quo político.

 Em segundo lugar, parece que é uma mensagem dos americanos, ao menos metade da população que foi às urnas (o voto não é obrigatório lá, ao contrário do Brasil), de forte repulsa ao sistema político atual. Não se enganem amigos, a crise de representação política é profunda e abrangente, não é apenas no Brasil. O nosso país é apenas pior em sua representação, talvez fruto de uma sociedade não tão esclarecida e desenvolvida, mas tirando alguns países extremamente ricos e estáveis (como Austrália, Nova Zelândia, Noruega, etc), o mundo passa por um momento de profundo questionamento da representação política.

  Mas, por que essas pessoas estão insatisfeitas? Elas não estão insatisfeitas porque estamos piorando o ambiente que deixaremos para nossos filhos, ou porque hoje o número de deslocados e refugiados é maior do que no ápice da segunda guerra mundial. Não. Elas estão insatisfeitas porque a sua qualidade de vida, em que pese termos muito avanço na tecnologia, não vem necessariamente melhorando. Elas querem mais empregos com maior remuneração, vizinhanças mais seguras, aposentadorias melhores, sendo todos estes desejos compreensíveis e naturais.

  Um ponto que chama, e chamou, a minha atenção sobre Trump, é que via muitos colegas entusiasmados com a possibilidade de sua vitória, pois ele representaria alguma forma de resgate de valores individuais e de liberdade econômica. Isso é algo que não se encontra nas falas do agora novo presidente americano. Ao contrário, acaso ele realmente venha implementar o que disse, é possível que tenhamos uma nova onda de protecionismo nacional, não a expansão do comércio entre as nações. 

  É interessante ressaltar também, ao contrário do que muitos que se interessam por finanças (bato nessa tecla, pois a audiência maior desse blog é voltada para essas pessoas), não há qualquer indício de que ele venha a diminuir o papel do Estado, muito pelo contrário. Neste ótimo artigo feito pelo Instituo Mises Brasil, fica claro que o que Trump quer, acaso ele realmente implemente o que prometeu, é mais Estado. A diferença em relação a candidata democrata é que ele aumentaria o papel do Estado via endividamento, ou seja empurraria a conta para gerações futuras, que foi exatamente o que o Governo Dilma I e II fizeram com o Brasil.

  Nos debates, eu ficava me perguntando como ele vai baixar impostos e aumentar substancialmente gastos governamentais militares e em infra-estrutura sem subir a já altíssima dívida pública americana? A resposta do IMB é que ele simplesmente não vai fazer nem metade do que prometeu, porque simplesmente é inviável economicamente.

 Ele fará os EUA fortes de novo no ponto de vista da geopolítica? O Obama é visto por muitos como um presidente fraco nesse front, e eu gostaria de saber os motivos. “Ah, ele não interveio mais decisivamente na Síria, não impediu a anexação da Crimeia pela Rússia, ou não se impôs a expansão da China” alguém pode ser refletindo.

 A Crimeia tem uma maioria russa, não havia muito o que ser feito. A China é a nova superpotência do mundo, não há nada e nenhum país que irá impedir isso. Depois de passar 4 meses naquele país, eu apenas me sinto humilde em relação ao meu conhecimento sobre uma das civilizações mais antigas do mundo, e sempre acho engraçado ver a análise de pessoas sobre o país sem conhecer quase nada sobre a incrível história ou nunca nem ter colocado os pés lá. A Síria é um atoleiro, não há saída fácil, talvez no começo, agora não mais.

 O fato é que os EUA tem que reconhecer que eles tiveram um breve momento como a única superpotência do mundo logo depois da queda da União Soviética. Não é isso que se desenha para as próximas décadas. Os EUA vão querer ter influência no mar da China? E como eles podem fazer isso sem gastar quantidades enormes de dinheiro, prejudicando a sua própria economia? Assim como parece estranho a China querer influenciar alguma coisa perto dos EUA, cada vez, em minha opinião, ficará claro que não será possível os EUA influenciar áreas tão próximas a China.

 Sobre este aspecto, não vejo muito como os EUA podem vir a ganhar maior influência no mundo do ponto de vista geopolítico. Os EUA são o ator mais importante da arena internacional, não há qualquer sombra de dúvidas, mas há limites para a sua atuação e eles irão ficar cada vez maiores, e não há nada de errado nisso. Portanto, aumentar ainda mais a máquina de guerra americana, como o Trump pretende, um erro que apenas aumentará a dívida americana, assim como Bush fez com a guerra do Iraque que estimam ter custado, além de centenas de milhares de vidas humanas, algo na faixa dos trilhões de dólares.

  Porém, isso é apenas a minha opinião, e posso estar redondamente enganado, e sinceramente não vejo grande influência para o Brasil. Agora, há um tema que vejo com profunda tristeza: crise ambiental


 Eu, ao contrário de grandes jornalistas, não viajei o mundo para observar o estrago que nós humanos com a nossa forma de vida estamos causando aos ecossistemas do planeta. Porém, como já estive em diversos lugares, pude observar algumas coisas que estão ocorrendo. As regiões que mais crescem no mundo são as localizadas na Ásia. Quando estive pela primeira vez há quase 10 anos havia poluição, mas sinceramente não era algo muito diferente de uma cidade grande brasileira. Quanta coisa mudou em menos de 10 anos. Quando estava na Indonésia, Malásia, e em algumas partes do Camboja e Laos há alguns meses, fiquei bastante impressionado. Em diversos dias, mesmo com sol e sem nuvens, não se conseguia ver o horizonte com clareza, mesmo montanhas. Demorou um certo tempo para perceber que era poluição advinda de grandes queimadas da ilha de Sumatra para plantação de Palm Oil. 

 Poucas pessoas sabem, mas grandes ecossistemas vem sendo destruídos apenas para a plantação dessa espécie que é utilizada em quase tudo hoje em dia pela indústria. Na ilha de Bornéu, quando peguei um avião para ir a um parque nacional mais remoto, vi plantações e plantações a perder de vista de Palm Oil, num deserto verde deprimente. 

 Bornéu, talvez junto com a nossa floresta Amazônica, talvez seja um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Essa preciosidade vem sendo destruída, colocando em risco a existência de populações selvagens de Orangotangos (um dos cinco grandes primata ao lado do Homem), além de muitas outras espécies. Tive a oportunidade de ver Orangotangos semi-selvagens e foi muito bacana. Será algo muito triste para toda a humanidade se de alguma maneira causarmos a extinção de um grande primata.

Deserto verde: Plantações de Palm Oil

  A poluição na China também é algo estarrecedor. Mesmo num dia claro, e sem muita poluição, não conseguimos ver o sol em Beijing. Foi uma sensação muito estranha. Fiz amigos na China que me disseram que há dias em que a poluição é tão extrema em grandes cidades chinesas que muitas pessoas chegam  a sentir efeitos físicos negativos severos como dores de cabeça, olhos irritados por causa da poluição do ar. Estamos tornando o nosso mundo um lugar pior para se viver às custas das novas gerações, o que para mim é um grande crime.

 Donald Trump disse que o aquecimento global, apesar de evidência científica em contrário, é uma farsa. Ameaçou tirar os EUA do acordo de Paris assinado em dezembro de 2015. Espero sinceramente que isso não aconteça, pois poderíamos repetir o que foi o acordo de Kyoto de 1997, e perdemos mais tempo, quando a janela de oportunidade para agir está cada vez se tornando mais estreita. Além do mais, estaria colocando os EUA na contramão do que a maioria dos países estão dispostos a fazer. Para mim a questão ambiental é uma das mais importantes para a espécie humana nesse começo de século.

  Se a sua vida será influenciada diretamente enquanto investidor? Difícil dizer. O melhor a fazer  é  se concentrar em sua vida e procurar fazer o melhor ao seu alcance. Isso é verdadeiro. Porém, não vivemos numa ilha, e é inegável que atos políticos afetam as nossas vidas, mesmo atos vindo de potências estrangeiras. Como brasileiro dificilmente minha vida será afetada diretamente, mas é estranho pensar que tantos lugares que estive podem sofrer grandes consequências. 

 Em poucos dias estarei no Irã, e uma das primeiras medidas a ser anunciada pelo Trump, pelo menos é o que ele disse nos debates,  é de alguma forma procurar anular o acordo nuclear. Há dois dias conheci um Iraniano que estuda economia em Londres. Ele disse que é isso exatamente o que o Supremo Líder Iraniano quer. O Irã possui um sistema político que mistura religião com política. Há eleições diretas, mas os nomes dos candidatos precisam ser aprovados por um conselho de 12 "sábios" que são diretamente influenciados pelo supremo líder o Alitolá Khamenei. O acordo foi meio que “empurrado" goela abaixo de partes mais conservadoras do país, pois há um grande movimento por mudanças, principalmente pela classe média bem informada de Tehran. O que os conservadores mais queriam, segundo esse Iraniano, era uma vitória do Trump e o fracasso da negociação desse plano, pois assim poderão  voltar com a velha retórica de demonizar os EUA, o que fazem com certa razão pois os EUA só fizeram bobagem no Irã nas últimas décadas,  e seguir com o programa nuclear.

  Ou o que vai acontecer na Coréia do Sul. Quando estive lá, tive a oportunidade de ir na DMZ (demilitarized zone), uma área de extrema tensão entre a Coréia do Sul e Coréia do Norte. De alguma forma, os EUA irão mudar a sua política no país? Existem dezenas de milhares de militares americanos lá, eu mesmo tive a oportunidade de conversar com um mercenário que já tinha lutado em Fallujah (uma das batalhas mais sangrentas da guerra do Iraque). 

 Difícil saber, pois o Trump ficou conhecido por mentir descaradamente sobre fatos nessa eleição e mudar de ideia constantemente sobre alguns temas. Uma vez conheci um americano que comprou um barco e navegava o mundo. Ele me disse que no pacífico sul, havia uma região com inúmeros uncharted reefs, ou seja bancadas de corais que não estavam catalogadas nos mapas de navegação, o que tornava a navegação difícil e perigosa.

  Creio que com Trump entramos num “oceano com uncharted reefs”, o que vai acontecer é difícil saber. Talvez ele não cumpra nem 10% do que prometeu, talvez ele vá mais além ainda, muito difícil saber. Independente do que acho ou penso a respeito dele, o resultado deve ser respeitado, pois esse é o cerne da Democracia.  Nós, e isso é uma lição para os brasileiros, devemos aceitar eventuais resultados desfavoráveis na política. Isso é do jogo.

 “Ah, a Democracia não é o melhor regime, quem disse que a maioria vai tomar a melhor decisão”, essa é uma ideia defendida por alguns. É verdade, não há qualquer garantia de que a maioria tome necessariamente a melhor decisão. Porém, depois de passar por alguns países onde a dissensão política é duramente reprimida, só me fez ainda mais ver o valor de um regime onde possamos expressar opiniões e eventualmente nos colocar contra o governo do momento.

  Apenas espero que não entremos numa era da "pós-verdade", como vi um artigo na folha de São Paulo de um colunista que gosto. Nesta nova era, a verdade não é algo mais tão necessário para a política. Ao invés da cansativa checagem de fatos, raciocínio sobre o que se diz faz sentido, nos contentaríamos com histórias que nos fazem felizes ou façam mais sentido para nossas visões de mundo, independente se é verdade ou não o que se diz. Espero sinceramente que não, pois para mim seria uma degradação total da vida política tão importante para convivermos em sociedade. 

  
obs: O colega blogueiro Rover em seu último artigo disse que conseguiu vender a sua empresa e que em breve estará mudando para o exterior, provavelmente para os EUA já que o Trump venceu. Lembro de um e-mail há mais de um ano ele ter me dito que esse era o seu objetivo, conseguir vender a empresa a qual construiu. Escrevi uma mensagem no blog dele, mas fica aqui a minha mensagem de satisfação de saber que ele atingiu o seu objetivo tão arduamente perseguido. Que sirva de lição e incentivo a todos os demais blogueiros e leitores que possuem objetivos que possam ser aparentemente difíceis de conquistar, mas que com determinação podem ser alcançados. Por que não?


É isso colegas, grande abraço a todos!

domingo, 6 de novembro de 2016

A PERGUNTA BRILHANTE QUE NOS TRANSFORMA EM SERES HUMANOS MELHORES

Olá, colegas. Estou no Uzbequistão, mas precisamente na belíssima cidade de Samarkand. As construções aqui talvez sejam as mais bonitas que já vi na vida. Se fossem na Europa, muito provavelmente seriam tão ou mais famosas do que uma Torre Eiffel, por exemplo. É uma cidade muito antiga, com quase 3000 mil anos de história. Capital do império de Tamerlane, um sujeito extremamente complexo, e aposto que absolutamente desconhecido no Brasil,  conhecido como o último grande conquistador nômade do mundo. Fiquei estarrecido ao saber que alguns historiadores, apesar de ser muito difícil precisar esse tipo de coisa, estimam que algo em torno de 17 milhões de pessoas morreram devido às diversas expedições militares de Timur que do atual território Uzbequistão chegaram até Moscou para o norte, Líbano para o oeste e Delhi para o leste. Esse numero de pessoas representava à época mais de 5% da população humana estimada. Enfim, é um sujeito pouco conhecido para nós, assim como Chinggis Khaan, mas que teve uma influência enorme no mundo. São dois personagens que gostaria de me dedicar mais em algum outro artigo.

 Os exemplos históricos citados vêm bem a calhar ao presente artigo. Tamerlane é considerado um monstro para muitos. A forma com que ele tratava muita das cidades conquistadas faria o Estado Islâmico parecer um grupo terrorista dos mais acanhados. Há relatos de que numa única  vez ele teria mandado executar 70 mil pessoas. Para outras pessoas ele é um dos melhores estrategistas militares de todos os tempos. Quem está certo? Será que é possível que essas duas visões sejam corretas? O fato de ele tratar populações conquistadas com extrema violência é antagônico ao fato dele ser considerado um dos grandes generais da história da humanidade?

Tamerlane, ou Tamerlão na forma  aportuguesada. Grande estrategista militar ou sádico assassino?


  Isso me leva à pergunta brilhante que foi feita no segundo debate presidencial para a eleição presidencial americana. Sério mesmo, foi talvez a melhor pergunta que eu já ouvi nesse tipo de debate. O segundo debate foi feito no formato onde cidadãos faziam perguntas diretas aos candidatos. O debate foi muito mais acirrado e combativo do que o primeiro. Era a última pergunta, quando um senhor se levantou e fez o questionamento. Qual foi a questão? Foi sobre os juros? Imigrantes? Se os candidatos iriam ajudar a região onde ele morava? Se a vida dele iria melhorar? Não. A pergunta foi mais ou menos a seguinte : “ Os senhores candidatos observam alguma grande qualidade no seu oponente. Se sim, qual seria esta?”.

 A plateia ao ouvir a pergunta apenas sorriu. Com eleições cada vez mais acirradas, onde o outro oponente é demonizado quase sempre e nenhuma qualidade é ressaltada, a pergunta vai ao ponto da miopia de muitas pessoas, talvez a maioria delas, e por causa disso ela é sim brilhante.

  No meu último artigo sobre o Bolsonaro, como seria de  se esperar, trouxe muitos comentários com ressalvas ao meu escrito. O meu colega blogueiro Frugal, por exemplo, levantou argumentos sobre a probidade do deputado, dando a entender que eu teria focado apenas em aspectos negativos, não reconhecendo eventuais qualidades do congressista.

  O problema com as análises políticas de hoje, pelo menos de boa parte das pessoas, é de que se trata de uma questão de vida ou morte. O fato de achar que Bolsonaro seria inapto para ser presidente de um país complexo como o nosso, não representa a toda evidência que eu o ache destituído de qualidades. Mesmo que eu diga ser desprezível uma declaração que de certa forma “desumaniza" refugiados não representa que o supracitado deputado não possa ter boas opiniões sobre outros assuntos. Não há qualquer contradição entre Tamerlane ser um brutal conquistador e um brilhante general.

  Como não conheço a fundo a vida do Sr.Bolsonaro, não posso falar muito. Porém, parece que ele é um sujeito com boa relação familiar com seus filhos. Isso não é pouca coisa num mundo cada vez mais desestruturado no que concerne à relação pais e filhos, ao menos no ocidente. Além do mais, ele aparentemente nunca esteve envolvido em casos de corrupção, o que não deixa de ser algo digno de nota para alguém que está há décadas na política brasileira (infelizmente, pois esta deveria ser a norma dos congressistas).

 Sim, o Bolsonaro tem qualidades. O caro Frugal também disse que o deputado era conhecido por não aceitar doações e basear suas campanhas na força da rua. Isso também pode ser verdade. Sabe quem mais fez isso de maneira absolutamente surpreendente? Bernie Sanders o candidato democrata à nomeação do partido.  Imagine a quantidade de interesses numa eleição para presidente da maior potência militar e econômica do mundo. Faz parecer uma eleição para deputado federal num país de renda média como o Brasil ser coisa de criança. Uma das plataformas mais forte do supracitado candidato foi a influência indevida, principalmente de Wall Street, sobre a democracia americana. Um dos maiores feitos, segundo Sanders, era que o grosso de sua campanha era bancada por doações de pessoas físicas de pequena monta, algo que Hilary e Trump não podem dizer sobre os deus doadores. 

  Por que cito esse exemplo? Como boa parte das pessoas que frequenta esse espaço gosta de finanças, alguns que se interessam pela eleição americana chamavam Sanders de socialista e que tinham verdadeiro embrulho no estômago ao ouvir ele falar. Talvez até mesmo o nosso caro blogueiro pense assim. Agora, raciocinemos. Se o fato de um deputado brasileiro concorrer sem grandes doações é algo positivo, imagine concorrer para presidente dos EUA sem o apoio de grandes e poderosos Lobbies?

  Assim, pode-se discordar de tudo que o Sanders eventualmente tenha dito, mas, repetindo se formos analisar a ausência de grandes doações como algo positivo, o político americano deveria ser extremamente elogiado por este aspecto. No fundo, colegas, nada mais é do que a questão sobre Tamerlane. Na verdade é a mesma questão.

  Podemos raciocinar assim sobre quase tudo na vida. Onde conseguimos ver esse tipo de análise na internet? Honestamente? Em quase nenhum lugar, e essa é uma das qualidades que procuro sempre ter quando escrevo um texto sobre um assunto mais “polêmico”: a tentativa de ver as nuances nos diversos aspectos da vida. 

  Quando fui ofendido diversas vezes sem qualquer motivo na net por um outro blogueiro, escrevi um texto em resposta. Uma mensagem muito boa de um outro blogueiro chamado “O Idiota”, trazendo à tona uma história de Buda, me fez refletir bastante sobre o assunto. Creio que saí fortalecido enquanto pessoa do processo, pois fui obrigado a (re)pensar sobre minhas atitudes. Por que cito esse caso? No calor dos acontecimentos, alguém me perguntou se eu “odiaria" o blogueiro aloprado ou se eu desejaria algum mal a ele. Pensei comigo mesmo na hora “nossa, como posso odiar e desejar mal a alguém que nem conheço?”. 

  O fato do blogueiro citado ter me ofendido, não o torna um mau marido ou pai de família necessariamente. Com certeza não é um bom exemplo, mas ele pode ser uma pessoa dedicada ou atenta aos seus familiares. Pode ser também um profissional muito competente no que se propõe a fazer. De novo, é a mesma questão sobre Tamerlane, não há qualquer diferença. Não é porque alguém me ofende e eventualmente não goste de mim, que esse alguém não possa ter boas qualidades.

  Infelizmente, não é assim que boa parte das pessoas agem. Há um erro de julgamento estudado pela ciência que se chama Efeito Halo que é baseado nessa forma de ver a vida. Não irei tratar sobre o Efeito Halo neste artigo, mas garanto que o assunto é interessante.

  Boa parte dos seres humanos continuará agindo assim, não há nada que se possa fazer a respeito. Entretanto, você, prezado leitor, pode agir de forma diferente. Se assim o fizer, verá o quão libertador essa forma de encarar a vida pode ser. 

  Pense em pessoas que eventualmente você não goste por qualquer motivo. Pode ser um chefe, um artista, um político, um blogueiro.

 Pensou? Os motivos pelos quais você não se simpatiza devem ser claros para o seu cérebro, aliás talvez seja apenas a parte mais preguiçosa do seu cérebro em ação. Agora, subverta a lógica com a qual boa parte das pessoas raciocina, e pergunte-se: “Essas pessoas possuem alguma(s) grande(s) qualidade(s)? Se sim, qual(is) seria(m)?” Voilà! Chegamos na pergunta brilhante feita no segundo debate presidencial americano.

  “Mas o que isso pode ajudar na minha vida, Soul? O que isso muda?”. Muda tudo, absolutamente tudo. Quando percebemos que as pessoas possuem defeitos, mas também qualidades, nos aproximamos delas enquanto humanos. Elas se tornam mais próximas de nós aos nossos olhos. Quando criamos essa relação de proximidade, fica muito mais difícil odiar ou desejar mal a alguém. A vida fica extremamente mais leve, e ouso dizer que muito mais feliz.

 Além do mais, ao subvertemos o que somos “ensinados" dia após dia, ficamos livres intelectualmente. Não há qualquer mais amarra que possa nos prender. Apenas assim, penso eu, somos capazes de realmente discutir diversas questões humanas com mais profundidade e sem pré-conceitos tolos. 

 É por isso, e alguns outros motivos, que acho uma verdadeira tolice a categorização de pessoas em de esquerda, direita, “socialista de direita”, libertário, não-libertário, ou qualquer rótulo que possamos colocar em seres humanos. E, meus amigos, como somos pródigos em criar rótulos para dividir nossa espécie. O único que acho que faz sentido aplicado a mim é que eu sou um ser humano. Se alguém pergunta a mim o que eu sou, a melhor resposta que consigo dar é que sou um ser humano.

  Deve ser por isso que esse espaço, apesar de não ter tantos acessos, incomoda alguma pessoas. “Ser humano? Como assim? Você não se define como de direita, ou esquerda, Heterossexual, católico ou ateu ou qualquer outra coisa? Ah, você só pode ser um sofista, que aliás rima com o seu nickname!”. Sim, até mesmo de Sofista descobri que sou chamado.

  Eu não acho que haja ninguém escrevendo na internet, pelo menos em 99.99% dos casos, que possa ser chamado de Sofista.  Sofistas eram filósofos, dos bons diga-se de passagem, que por meio de argumentação sofisticada exporiam ideias que não seriam necessariamente verdadeiras. E como sabemos que não eram verdadeiras? Pelo simples fato de que eles, os sofistas, tinham que travar duelos argumentativos simplesmente com talvez o maior filósofo que já existiu: Sócrates. 

  Quisera eu poder discutir com alguém como Sócrates por diversas horas em quase pé de igualdade, até que finalmente fosse convencido que estava errado. Aliás, em tempos de discursos políticos tão rasos,  estaríamos muito melhor se tivéssemos mais sofistas com argumentos sofisticados, e não apenas falastrões que não resistem a dois parágrafos de argumentação ou a cinco minutos de um debate sério. Não, infelizmente eu não creio que tenha a habilidade e o conhecimento de um Sofista.

Quisera eu ter a capacidade intelectual para poder discutir com esse Senhor por horas a fio antes de ser subjugado pelas ideias superiores.


  Não, não é um sofisma. Eu sinceramente acho que podemos aprender com as mais inesperadas pessoas. Acho que a demonização, e a santificação, de seres humanos, principalmente políticos, extremamente perniciosa para à nossa inteligência, e em última análise para a vida sadia em comunidade. 

  Sim, Trump e Hilary tiveram que falar sobre alguma qualidade do outro. A resposta dos dois, até porque a pergunta foi para lá de inesperada, pareceu-me sincera. Foi um sopro de esperança num ambiente tão carregado. Espero sinceramente, querido leitor, que você possa tentar colocar em prática o estado mental que a pergunta brilhante desperta em cada um de nós.

Belíssimo Registan na cidade Uzbek de Samarkand. É muito bonito mesmo. A Madrassa (lugar de estudo de assuntos religiosos do Islamismo) à esquerda foi construída pelo neto de Tamerlane no século 15. O nome dele era Ulugh Beg. Ele foi um grande entusiasta das ciências, principalmente a Astronomia. Chegou a ser considerado um dos grandes cientistas da época. Sou sempre fascinado por homens muito poderosos que devotaram a sua vida para o conhecimento humano, e não necessariamente para conquistas terrenas.


  Grande abraço em todos!