Trump, o novo presidente da maior potência econômica e militar do planeta. Quem iria imaginar isso há 15 meses? Porém, o inusitado ocorreu. Quais seriam os motivos para uma vitória tão improvável ter ocorrido? Primeiramente, porque temos que reconhecer que a Democracia americana, para um país daquele tamanho e com níveis grandes de complexidade, é dinâmica e forte. Se não fosse assim, um negro com nome de Obama (que se parece muito com Osama) jamais seria eleito. Sempre disse para pessoas que criticavam os EUA na minha presença, de que a eleição do Obama era uma prova de como os EUA podem ser surpreendentes. Alguém imagina um negro sendo eleito num futuro próximo no Brasil, mesmo nossa população tendo uma quantidade de negros e mestiços muito maior do que a norte-americana? Eu não.
Eu não sabia que o Trump tem 70 anos. Ele será, segundo artigo que li, o presidente mais velho da história dos EUA. Seria ele o mais despreparado também?
Assim, os EUA são vibrantes neste aspecto. Trump é um empresário de grande destaque e um homem sem qualquer experiência política, militar ou diplomática. É um completo outsider. Isso não deixa de ser algo incrível. Não temos ninguém, pelo menos até agora, que poderia ser idêntico ao Trump neste aspecto no Brasil. O Bolsonaro além de não ter qualquer relação com Trump nas origens, nem mesmo na capacidade argumentativa, nada mais é do que um político profissional de longa data. Portanto, os EUA mais uma vez surpreendem a todos com a eleição de alguém tão diferente do status quo político.
Em segundo lugar, parece que é uma mensagem dos americanos, ao menos metade da população que foi às urnas (o voto não é obrigatório lá, ao contrário do Brasil), de forte repulsa ao sistema político atual. Não se enganem amigos, a crise de representação política é profunda e abrangente, não é apenas no Brasil. O nosso país é apenas pior em sua representação, talvez fruto de uma sociedade não tão esclarecida e desenvolvida, mas tirando alguns países extremamente ricos e estáveis (como Austrália, Nova Zelândia, Noruega, etc), o mundo passa por um momento de profundo questionamento da representação política.
Mas, por que essas pessoas estão insatisfeitas? Elas não estão insatisfeitas porque estamos piorando o ambiente que deixaremos para nossos filhos, ou porque hoje o número de deslocados e refugiados é maior do que no ápice da segunda guerra mundial. Não. Elas estão insatisfeitas porque a sua qualidade de vida, em que pese termos muito avanço na tecnologia, não vem necessariamente melhorando. Elas querem mais empregos com maior remuneração, vizinhanças mais seguras, aposentadorias melhores, sendo todos estes desejos compreensíveis e naturais.
Um ponto que chama, e chamou, a minha atenção sobre Trump, é que via muitos colegas entusiasmados com a possibilidade de sua vitória, pois ele representaria alguma forma de resgate de valores individuais e de liberdade econômica. Isso é algo que não se encontra nas falas do agora novo presidente americano. Ao contrário, acaso ele realmente venha implementar o que disse, é possível que tenhamos uma nova onda de protecionismo nacional, não a expansão do comércio entre as nações.
É interessante ressaltar também, ao contrário do que muitos que se interessam por finanças (bato nessa tecla, pois a audiência maior desse blog é voltada para essas pessoas), não há qualquer indício de que ele venha a diminuir o papel do Estado, muito pelo contrário. Neste ótimo artigo feito pelo Instituo Mises Brasil, fica claro que o que Trump quer, acaso ele realmente implemente o que prometeu, é mais Estado. A diferença em relação a candidata democrata é que ele aumentaria o papel do Estado via endividamento, ou seja empurraria a conta para gerações futuras, que foi exatamente o que o Governo Dilma I e II fizeram com o Brasil.
Nos debates, eu ficava me perguntando como ele vai baixar impostos e aumentar substancialmente gastos governamentais militares e em infra-estrutura sem subir a já altíssima dívida pública americana? A resposta do IMB é que ele simplesmente não vai fazer nem metade do que prometeu, porque simplesmente é inviável economicamente.
Ele fará os EUA fortes de novo no ponto de vista da geopolítica? O Obama é visto por muitos como um presidente fraco nesse front, e eu gostaria de saber os motivos. “Ah, ele não interveio mais decisivamente na Síria, não impediu a anexação da Crimeia pela Rússia, ou não se impôs a expansão da China” alguém pode ser refletindo.
A Crimeia tem uma maioria russa, não havia muito o que ser feito. A China é a nova superpotência do mundo, não há nada e nenhum país que irá impedir isso. Depois de passar 4 meses naquele país, eu apenas me sinto humilde em relação ao meu conhecimento sobre uma das civilizações mais antigas do mundo, e sempre acho engraçado ver a análise de pessoas sobre o país sem conhecer quase nada sobre a incrível história ou nunca nem ter colocado os pés lá. A Síria é um atoleiro, não há saída fácil, talvez no começo, agora não mais.
O fato é que os EUA tem que reconhecer que eles tiveram um breve momento como a única superpotência do mundo logo depois da queda da União Soviética. Não é isso que se desenha para as próximas décadas. Os EUA vão querer ter influência no mar da China? E como eles podem fazer isso sem gastar quantidades enormes de dinheiro, prejudicando a sua própria economia? Assim como parece estranho a China querer influenciar alguma coisa perto dos EUA, cada vez, em minha opinião, ficará claro que não será possível os EUA influenciar áreas tão próximas a China.
Sobre este aspecto, não vejo muito como os EUA podem vir a ganhar maior influência no mundo do ponto de vista geopolítico. Os EUA são o ator mais importante da arena internacional, não há qualquer sombra de dúvidas, mas há limites para a sua atuação e eles irão ficar cada vez maiores, e não há nada de errado nisso. Portanto, aumentar ainda mais a máquina de guerra americana, como o Trump pretende, um erro que apenas aumentará a dívida americana, assim como Bush fez com a guerra do Iraque que estimam ter custado, além de centenas de milhares de vidas humanas, algo na faixa dos trilhões de dólares.
Porém, isso é apenas a minha opinião, e posso estar redondamente enganado, e sinceramente não vejo grande influência para o Brasil. Agora, há um tema que vejo com profunda tristeza: crise ambiental
Eu, ao contrário de grandes jornalistas, não viajei o mundo para observar o estrago que nós humanos com a nossa forma de vida estamos causando aos ecossistemas do planeta. Porém, como já estive em diversos lugares, pude observar algumas coisas que estão ocorrendo. As regiões que mais crescem no mundo são as localizadas na Ásia. Quando estive pela primeira vez há quase 10 anos havia poluição, mas sinceramente não era algo muito diferente de uma cidade grande brasileira. Quanta coisa mudou em menos de 10 anos. Quando estava na Indonésia, Malásia, e em algumas partes do Camboja e Laos há alguns meses, fiquei bastante impressionado. Em diversos dias, mesmo com sol e sem nuvens, não se conseguia ver o horizonte com clareza, mesmo montanhas. Demorou um certo tempo para perceber que era poluição advinda de grandes queimadas da ilha de Sumatra para plantação de Palm Oil.
Poucas pessoas sabem, mas grandes ecossistemas vem sendo destruídos apenas para a plantação dessa espécie que é utilizada em quase tudo hoje em dia pela indústria. Na ilha de Bornéu, quando peguei um avião para ir a um parque nacional mais remoto, vi plantações e plantações a perder de vista de Palm Oil, num deserto verde deprimente.
Bornéu, talvez junto com a nossa floresta Amazônica, talvez seja um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Essa preciosidade vem sendo destruída, colocando em risco a existência de populações selvagens de Orangotangos (um dos cinco grandes primata ao lado do Homem), além de muitas outras espécies. Tive a oportunidade de ver Orangotangos semi-selvagens e foi muito bacana. Será algo muito triste para toda a humanidade se de alguma maneira causarmos a extinção de um grande primata.
Poucas pessoas sabem, mas grandes ecossistemas vem sendo destruídos apenas para a plantação dessa espécie que é utilizada em quase tudo hoje em dia pela indústria. Na ilha de Bornéu, quando peguei um avião para ir a um parque nacional mais remoto, vi plantações e plantações a perder de vista de Palm Oil, num deserto verde deprimente.
Bornéu, talvez junto com a nossa floresta Amazônica, talvez seja um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Essa preciosidade vem sendo destruída, colocando em risco a existência de populações selvagens de Orangotangos (um dos cinco grandes primata ao lado do Homem), além de muitas outras espécies. Tive a oportunidade de ver Orangotangos semi-selvagens e foi muito bacana. Será algo muito triste para toda a humanidade se de alguma maneira causarmos a extinção de um grande primata.
Deserto verde: Plantações de Palm Oil
A poluição na China também é algo estarrecedor. Mesmo num dia claro, e sem muita poluição, não conseguimos ver o sol em Beijing. Foi uma sensação muito estranha. Fiz amigos na China que me disseram que há dias em que a poluição é tão extrema em grandes cidades chinesas que muitas pessoas chegam a sentir efeitos físicos negativos severos como dores de cabeça, olhos irritados por causa da poluição do ar. Estamos tornando o nosso mundo um lugar pior para se viver às custas das novas gerações, o que para mim é um grande crime.
Donald Trump disse que o aquecimento global, apesar de evidência científica em contrário, é uma farsa. Ameaçou tirar os EUA do acordo de Paris assinado em dezembro de 2015. Espero sinceramente que isso não aconteça, pois poderíamos repetir o que foi o acordo de Kyoto de 1997, e perdemos mais tempo, quando a janela de oportunidade para agir está cada vez se tornando mais estreita. Além do mais, estaria colocando os EUA na contramão do que a maioria dos países estão dispostos a fazer. Para mim a questão ambiental é uma das mais importantes para a espécie humana nesse começo de século.
Se a sua vida será influenciada diretamente enquanto investidor? Difícil dizer. O melhor a fazer é se concentrar em sua vida e procurar fazer o melhor ao seu alcance. Isso é verdadeiro. Porém, não vivemos numa ilha, e é inegável que atos políticos afetam as nossas vidas, mesmo atos vindo de potências estrangeiras. Como brasileiro dificilmente minha vida será afetada diretamente, mas é estranho pensar que tantos lugares que estive podem sofrer grandes consequências.
Em poucos dias estarei no Irã, e uma das primeiras medidas a ser anunciada pelo Trump, pelo menos é o que ele disse nos debates, é de alguma forma procurar anular o acordo nuclear. Há dois dias conheci um Iraniano que estuda economia em Londres. Ele disse que é isso exatamente o que o Supremo Líder Iraniano quer. O Irã possui um sistema político que mistura religião com política. Há eleições diretas, mas os nomes dos candidatos precisam ser aprovados por um conselho de 12 "sábios" que são diretamente influenciados pelo supremo líder o Alitolá Khamenei. O acordo foi meio que “empurrado" goela abaixo de partes mais conservadoras do país, pois há um grande movimento por mudanças, principalmente pela classe média bem informada de Tehran. O que os conservadores mais queriam, segundo esse Iraniano, era uma vitória do Trump e o fracasso da negociação desse plano, pois assim poderão voltar com a velha retórica de demonizar os EUA, o que fazem com certa razão pois os EUA só fizeram bobagem no Irã nas últimas décadas, e seguir com o programa nuclear.
Ou o que vai acontecer na Coréia do Sul. Quando estive lá, tive a oportunidade de ir na DMZ (demilitarized zone), uma área de extrema tensão entre a Coréia do Sul e Coréia do Norte. De alguma forma, os EUA irão mudar a sua política no país? Existem dezenas de milhares de militares americanos lá, eu mesmo tive a oportunidade de conversar com um mercenário que já tinha lutado em Fallujah (uma das batalhas mais sangrentas da guerra do Iraque).
Difícil saber, pois o Trump ficou conhecido por mentir descaradamente sobre fatos nessa eleição e mudar de ideia constantemente sobre alguns temas. Uma vez conheci um americano que comprou um barco e navegava o mundo. Ele me disse que no pacífico sul, havia uma região com inúmeros uncharted reefs, ou seja bancadas de corais que não estavam catalogadas nos mapas de navegação, o que tornava a navegação difícil e perigosa.
Creio que com Trump entramos num “oceano com uncharted reefs”, o que vai acontecer é difícil saber. Talvez ele não cumpra nem 10% do que prometeu, talvez ele vá mais além ainda, muito difícil saber. Independente do que acho ou penso a respeito dele, o resultado deve ser respeitado, pois esse é o cerne da Democracia. Nós, e isso é uma lição para os brasileiros, devemos aceitar eventuais resultados desfavoráveis na política. Isso é do jogo.
“Ah, a Democracia não é o melhor regime, quem disse que a maioria vai tomar a melhor decisão”, essa é uma ideia defendida por alguns. É verdade, não há qualquer garantia de que a maioria tome necessariamente a melhor decisão. Porém, depois de passar por alguns países onde a dissensão política é duramente reprimida, só me fez ainda mais ver o valor de um regime onde possamos expressar opiniões e eventualmente nos colocar contra o governo do momento.
Apenas espero que não entremos numa era da "pós-verdade", como vi um artigo na folha de São Paulo de um colunista que gosto. Nesta nova era, a verdade não é algo mais tão necessário para a política. Ao invés da cansativa checagem de fatos, raciocínio sobre o que se diz faz sentido, nos contentaríamos com histórias que nos fazem felizes ou façam mais sentido para nossas visões de mundo, independente se é verdade ou não o que se diz. Espero sinceramente que não, pois para mim seria uma degradação total da vida política tão importante para convivermos em sociedade.
obs: O colega blogueiro Rover em seu último artigo disse que conseguiu vender a sua empresa e que em breve estará mudando para o exterior, provavelmente para os EUA já que o Trump venceu. Lembro de um e-mail há mais de um ano ele ter me dito que esse era o seu objetivo, conseguir vender a empresa a qual construiu. Escrevi uma mensagem no blog dele, mas fica aqui a minha mensagem de satisfação de saber que ele atingiu o seu objetivo tão arduamente perseguido. Que sirva de lição e incentivo a todos os demais blogueiros e leitores que possuem objetivos que possam ser aparentemente difíceis de conquistar, mas que com determinação podem ser alcançados. Por que não?
É isso colegas, grande abraço a todos!