Olá, colegas. Depois de semanas intensas em partes remotas da Mongólia, estou na Rússia! Uau, é um privilégio poder visitar este país detentor de uma cultura e história tão diversa e rica. Estou na capital da República de Burtyatia (Ulan Ude). Há uma grande presença de pessoas da etnia Mongol e budistas por aqui. Aliás, ontem foi bem interessante ver jovens bem loiros tipicamente russos interagindo com jovens com aparência tipicamente mongol. Na bem da verdade, há dezenas de Repúblicas, regiões com autonomia, na Rússia. Há até mesmo uma região autônoma Judia. Tudo muito interessante. Passadas as preliminares, vamos ao tema do presente artigo.
Eu acredito que cultivamos no nosso dia a dia relações adoecidas. Isso era muito claro para mim há muito tempo, mas depois de quase 17 meses na estrada a sensação aumentou significativamente. Há situações evidentes disso, e basta andar em alguma cidade brasileira, ou em certo grau em qualquer outra cidade do mundo, para presenciar isso. Se observarmos as diversas interações que ocorrem em mídias sociais como o Facebook, por exemplo, a situação fica ainda mais cristalina. Entretanto, aqui eu quero tratar de aspectos mais sutis que na minha opinião mostram a deterioração da nossa qualidade de vida sobre a perspectiva de interações humanas mais saudáveis.
Como eu tratei num artigo há pouco tempo Newspeak, Neve e A Distorção da Realidade, as palavras, ou seja a forma que usamos para expressar verbalmente a realidade, são importantíssimas e dizem muita coisa sobre uma pessoa, uma sociedade e um tempo histórico. É possível estabelecer significados para além da simples literalidade de uma palavra, a depender do seu uso e contexto. É baseado nisso que se pode afirmar com uma dose de convicção bem grande que expressar o relacionamento com outros seres humanos pelo termo amizade ou networking diz muito a respeito de como interagimos uns com os outros.
Hoje em dia, especialmente em blogs de empreendedores ou de finanças, usam-se diversas palavras para expressar como deveríamos nos portar em relação a nós mesmos e aos outros. Alguns espaços parecem que descobriram a pedra filosofal ao escreverem sobre certos temas, não se dando conta, como disse Eclesiastes na Bíblia, "que não há nada que seja novo debaixo do sol”.
Portanto, que tipo de mensagem e atitude humana está por trás da ideia que devemos saber vender a nós mesmos? Quantas vezes não li que uma pessoa de sucesso é aquela que sabe se vender, ou seja, consegue fazer com que os outros observem o(s) valor(es) dessa mesma pessoa. Se eu “me vendo” corretamente, as pessoas “me comprarão”, e com isso poderei prosperar na vida, principalmente no sentido financeiro e profissional, pois o meu valor aos olhos dos outros será alto. Penso, reflito, penso novamente, e não consigo achar outra definição que não seja doentia para essa forma de expressar sucesso financeiro e profissional.
“Mas, Soul, não funciona? Pessoas que “se vendem” não alcançam sucesso financeiro?”. Talvez, é bem provável que muitas pessoas consigam. Mas a que preço? Talvez o preço seja muito alto. Talvez seja a decepção no final da vida, como é retratado no livro da enfermeira australiana Bronnie Ware "The Top Five Regrets of the Dying - A Life Transformed by the Dearly Departing" sobre os arrependimentos das pessoas no final da vida. Tenho certeza que muitas dessas pessoas arrependidas no final da vida usaram a mentalidade do “vender-se” a si mesmo para o mundo.
E se ao invés de você tentar vender a si mesmo para o mundo em busca de prosperidade profissional, você se apaixonar pelo que faz? Não há nada mais poderoso que a paixão. Pensamos muito na paixão do ponto de vista amoroso ou sexual, mas pouco do ponto de vista de como viver a vida. Eu, na minha viagem, já convenci muitas pessoas a mudarem roteiros para visitar determinados locais. Sabem porque isso aconteceu? Simplesmente, porque eu falei com paixão sobre esses lugares e as pessoas reconheceram a minha paixão.
No célebre discurso do Steve Jobs para graduados de uma universidade americana, o que nos chama tanta atenção? Por qual motivo é tão hipnótico? Por que ele tenta se vender? Não, porque ele fala com paixão sobre a vida e sobre o seu trabalho. Não há nada mais poderoso do que a paixão para chamar atenção e convencer outras pessoas.
Agora, para se falar com paixão, é preciso viver a vida apaixonado. Isso se refere a todas as esferas de nossas vidas, sendo o trabalho apenas mais uma delas. Seja apaixonado pelo que você faz, e muito provavelmente as pessoas perceberão e darão muito valor a isso, inclusive na forma de retornos financeiros. Quando alguém tenta se vender, sem paixão, os retornos financeiros podem vir, mas é quase certo que com arrependimentos no final da vida. Afinal, vale a pena viver uma vida sem ser apaixonado pela mesma?
O mesmo vale, talvez com mais força, para a expressão networking. Hoje, é utilizada por quase todos. “Vou fazer um curso X, porque meu networking pode aumentar”. "Vou agir dessa determinada maneira, porque daí posso conhecer mais pessoas e o meu networking aumentar e isso será melhor para mim”. De novo, penso, reflito, penso novamente, e não consigo achar outra definição que não seja relações adoecidas para essa forma de encarar o mundo e as relações humanas.
Ao invés de fazer networking, que é uma definição que nada diz sobre a qualidade das relações entre as pessoas, por que não fazer amigos? Há algo melhor do que amizade? Não, não há. Amizade é a chave para entendermos e alcançarmos estágios felizes de existência. Muitas das minhas alegrias nessa viagem, e pensando em retrospectiva na minha vida como um todo, só foram possíveis por causa do meu envolvimento com outras pessoas de uma forma harmônica. Como é bom ter amigos, mesmo que sejam pessoas que você conhece há pouco tempo, e poder compartilhar momentos com estas pessoas.
Portanto, ao invés de fazer um MBA para criar uma networking maior, porque não fazer um curso de MBA para adquirir mais conhecimentos e fazer amigos? Por que não ver os outros seres humanos como potenciais amigos e não apenas meios para que você consiga alguma coisa? Além de ser melhor para a forma como você interage com outras pessoas, e via de consequência para a sua qualidade de vida, é mais eficiente como forma de ganhar dinheiro. Quando fazemos amigos, ganhamos a sua confiança. É muito mais fácil fazer negócios ou criar relações com pessoas que confiamos e que confiam na gente. Para mim isso é apenas uma consequência, eu realmente não ligo muito para isso, o que realmente importa é um relacionamento saudável com outros seres humanos. Se o sucesso financeiro é tão importante para tantas pessoas, saibam que ele é muito facilitado quando se tem amigos. Entretanto, quem apenas quer se “vender" sem possuir paixão pela vida ou pelo que faz, pensado apenas em criar relações com outros para sucesso financeiro, muito provavelmente não fará amizades.
Logo, meus colegas leitores, apaixonem-se mais pela vida e façam mais amigos. O seu “Eu" à beira da morte no futuro, irá agradecer muito. Quem sabe até mesmo o seu portfólio financeiro irá se beneficiar disso.
Apaixonando-me mais ainda pela Vida. Primeiro dia de hike no Tavan Bogd National Park, no remoto Far West da Mongólia. Literalmente, na fronteira entre Mongólia, Rússia e China
Um grande abraço!