sexta-feira, 20 de maio de 2016

CHINA - KARAKUL LAKE E MUZTAGH ATA: SIMPLESMENTE MAGNÍFICO

  Olá, colegas. Iria escrever sobre outro tema, mas não tem como. Os últimos três dias foram simplesmente magníficos. Para dizer a verdade, todos os 13-14 meses que se passaram desde o início da viagem foram especiais. Entretanto, posso dizer que o local onde estive nos últimos dias foi o mais bonito da minha vida.

  “Ah, de novo com esse papo Soul?”, é de novo. Teve até um anônimo em algum artigo escrito por mim que de uma maneira gentil escreveu que eu era um caso típico de “complexo de vira-lata”, pois era impossível encontrar beleza em diversos lugares e situações. É, talvez seja. Em viagens de longuíssima duração, como a minha atual, é normal que os lugares vão ficando menos bonitos e as pessoas menos interessantes. Já li sobre esse sentimento em diversos blogs estrangeiros. Aliás, não é assim que chegamos a fase adulta? Tudo vai deixando de ser tão interessante, muito diferente quando éramos criança. Se ao menos conseguíssemos manter um pouco aquele sentimento infantil de encantamento com o mundo, como nossas vidas não seriam melhores e mais significativas.

  Não é à toa que o meu breve artigo sobre uma memorável tarde no planetário da belíssima cidade Brisbane na Austrália remeteu à nossa criança interior. É por causa disso, que só posso me sentir abençoado e privilegiado de poder me maravilhar com o mundo, mesmo depois de tanto ter viajado. É uma sensação incrível. Parece que essa forma de sentir e vivenciar o mundo de alguma maneira é uma porta de entrada para relações humanas melhores e significativas, pois a quantidade de pessoas especiais que eu e minha companheira conhecemos nos últimos meses é enorme. Não são apenas jovens e mochileiros. São pessoas de de diversas nacionalidades, idades, profissões e formação cultural diferente. É maravilhoso. Uma mostra clara de como precisamos conviver com o diferente, como a homogeneidade torna a vida muito menos colorida e interessante do que ela pode ser.

  Nas últimas duas semanas, convivemos como uma família com um casal de franceses. Nos conhecemos na cidade de Turpan (nosso porto de entrada na província de Xinjiang). Passamos inúmeras experiências juntos, logo nossos destinos foram para sempre marcados, pois dezenas de anos passar-se-ão e muito provavelmente ainda lembraremos uns dos outros. Nico na verdade é chileno, mas possui dupla cidadania. Completamente orgulhoso de sua origem chilena, não tente falar mal do vinho de lá, porque ele realmente fica brabo. Aliás, nas minhas viagens eu nunca encontrei alguém desmerecendo o seu próprio país de maneira tão intensa como os brasileiros, independente da situação política, econômica ou moral em que sua nação possa se encontrar. E olha que já conversei com pessoas de países em situação inúmeras vezes pior do que o nosso Brasil. Uma pena que brasileiros destratem a sua origem. Ela, Sara, francesa de origem. Recém-formada advogada, extremamente simpática.

  Nossos últimos dias na China, nossa última aventura juntos, seria no lago Karakul na famosa Karakoram Highway. Esta é a estrada mais alta do mundo, começando na China e terminando no Paquistão. O lago fica numa região quase que de fronteira entre China, Afeganistão, Tajiquistão e Paquistão. É uma região completamente sensível do ponto de vista geopolítico. É talvez uma das regiões mais belas e remotas do planeta.

  Havia apenas um ônibus entre Kashgar (belíssima cidade onde estávamos) e Tashkurgan já quase na fronteira com o Paquistão. Iríamos pedir para descer no lago, pois infelizmente, por causa do visto chinês, nós não teríamos mais alguns dias e seria impossível ir até a fronteira entre China e Paquistão, algo que seria sensacional, pois a Khunjerab Pass (Khunjerab significa literalmente “Vale do Sangue”, devido ao passado sangrento na antiga silk road - rota da seda) está a cinco mil metros de altitude (algumas pessoas não acostumadas com altitude já morreram ao atravessar a fronteira, o que fez com que haja oxigênio no ônibus e na fronteira para casos de emergência) e pelas fotos que vi é para lá de bela. Aliás, talvez o Paquistão e o Afeganistão sejam uns dos países mais bonitos do mundo. É uma pena que viajar por esses lugares é um No-No por razões de segurança, apesar de ter conhecido um ciclista que atravessou o Paquistão com escolta armada. A conversa com esse ciclista foi bem interessante. Ele era Irlandês e estava indo para a Mongólia visitar sobrinhos que lá moravam. Guia de Montanha de profissão, com várias idas ao Everest, um sujeito bacana na faixa dos 50 anos de idade, muito bem conservado fisicamente. Mais surpreende ainda foi conhecer no Hostel de Kashgar um casal de franceses com dois filhos pequenos que atravessou o Paquistão num caminhão militar reformado como uma espécie de Motorhome. Uau, que experiência para as crianças. Aparentemente, trafegar pela Karakoram Highway não é tão arriscado. O Irlandês me disse que há milhares de tropas paquistanesas vigiando a estrada, um esforço do governo do Paquistão para proteger eventuais estrangeiros de passagem.  Observei as crianças francesas brincando com crianças chineses. Como crianças, acaso estimuladas e não tolhidas por adultos, interagem uma com as outras independente de classe social, etnia, religião, etc. Talvez, se tiver filhos, faça uma viagem dessas com eles, pois com certeza uma experiência desse porte é uma forma maravilhosa de se educar um filho. Uma pena que uma parte significativa dos brasileiros de maior poder aquisitivo ache que levar o filho para a Flórida e ensiná-lo na “arte" de comprar um monte de coisas sem qualquer utilidade seja uma forma instrutiva de formação de caráter.

  Nossa primeira manhã começou agitada. Fomos para a estação rodoviária errada. O ônibus iria sair em menos de 25 minutos e não sabíamos ao certo qual das duas outras rodoviárias era o local certo. Um taxista ofereceu para nos levar à rodoviária aparentemente correta. Ele disse 10 Yuan para o trajeto. Quando estávamos no meio do caminho, presumi que ele diria que seriam 10 por pessoa e não pelo percurso até a rodoviária. Dito e feito. Não aceitei pagar, houve uma pequena discussão e como o ônibus estava prestes a sair, resolvemos pagar 30 Yuan.  Antes de embarcar, um americano se aproximou e começou a conversar comigo. Um sujeito de uns 50 anos, corpulento. Estava indo para o Paquistão. Interessante que em menos de meia hora estávamos falando sobre o sentido da vida e o papel maléfico dos EUA em várias partes do mundo. Ele era um  ex-militar e confidenciou que participou de diversas operações na América Central, e que não se orgulhava muito disso. Ofereceu casa e comida se algum dia passarmos por Seattle. Peguei o contato do facebook e espero que tudo ocorra bem em sua estada no Paquistão.

  A viagem transcorria normalmente e a estrada ficava cada vez mais linda. De repente, o ônibus parou atrás de uns carros. Pensei que era a tradicional “pausa da mijada” muito comum em viagens de ônibus pela China, mas não. A estrada tinha simplesmente colapsado num ponto. Havia um garoto de uns 20 anos manobrando uma espécie de trator misturado com um guindaste tentado fazer uma “nova estrada”. Quando me dei conta, vi que havia uma snow mountain ao fundo que deveria ser muito alta mesmo. O cenário era excepcional. Pensei comigo mesmo “bom, vai levar umas duas horas até ficar pronto”. Para a minha surpresa, e eu fiquei observando o trabalho, em 10 minutos estava pronta uma nova passagem. O garoto manobrando a máquina era muito talentoso. Ao ver aquela cena, lembrei-me de uma história do economista Milton Friedman a qual eu ouvi em algum lugar, mas não lembro onde. Numa visita a China, algum representante do governo chinês tentou vangloriar-se de que não havia desemprego na China e apontou para inúmeros trabalhadores braçais usando picaretas na construção duma represa. Aparentemente, não havia nenhuma máquina sendo utilizada. Diz-se que então Friedman voltou-se para o representante Chinês e falou algo mais ou menos assim “ Se o problema são empregos, por qual motivo eles não estão usando colheres?”. É patente como tecnologia, e a educação para como usar as ferramentas, potencializa a produtividade de um povo, aumentando assim a sua riqueza, bem como o bem-estar potencial. Se não fosse aquela máquina e um jovem bem preparado para utilizá-la, se fosse tudo feito manualmente, talvez seriam necessários dezenas de homens por várias e várias horas. Tive um vislumbre dessa situação, pois vi um senhor tentando ajudar com as próprias mãos e ficou tão patente a diferença de produtividade, que por uns minutos fiquei pensando sobre produtividade, Brasil, tecnologia, educação, tudo isso num cenário para lá de magnífico.

Um habilidoso trabalhador chinês em poucos minutos "reconstruiu" parte danificada da estrada. Produtividade=tecnologia.
  O povo Uyghur é extremaste simpático. Ainda escreverei apenas sobre este tópico. Faz parte de uma das 56 etnias,  você não leu errado, que compõe a China. São quase 10 milhões de pessoas. Um Uyghur tentou conversar comigo a viagem inteira. Extremamente educado, ele falava algumas coisas e eu tentava compreender o contexto. Quando passamos por um lago belíssimo, apontei para ele e perguntei “Karakul?” Ela acenou com a cabeça e disse não. Pensei comigo mesmo “caramba, se esse lago lindo não é o Karakul, como não deve ser a paisagem quando chegarmos lá?"

Karakul?

  Meu pensamento não estava errado. Descemos literalmente no meio do nada, mas para o meu alívio havia realmente alguns yurts perto do lago. A paisagem era simplesmente de outro mundo. Estava nublado, e imaginei como não seria aquele cenário com sol, sem nuvens e com o gigante Muztagh Ata completamente visível. Um yurt nada mais é do que uma tenda, muito usada por povos nômades nessa região do mundo. É bastante utilizada por Mongóis (e pretendo dormir várias noites em yurts locais quando estiver na Mongólia), Kazaks, Tajiks e Kyrgyz.

Sra.Soulsurfer e Nico andando em direção ao Yurt

  Estávamos numa região onde a etnia Kyrgyz é predominante. Pode parecer incrível, mas os Kyrgyz são completamente diferente dos Uyghurs e em nada se comparam aos Han (etnia predominante na China com algo em torno de 90% da população). Aliás, quase todos que nunca visitaram a China, ou a visitaram apenas nos nomes turísticos mais conhecidos da parte leste, pensam erroneamente que os Hans são a única etnia na China.

   Ao caminharmos pela estrada em direção aos yurts, alguns Kyrgyz se aproximaram de motocicleta oferecendo estadia numa vila a alguns quilômetros de onde estávamos. Recusamos, pois queríamos ficar num yurt. Um dos rapazes falava um inglês muito razoável e disse que conhecia um bom local à beira do lago por 50 Yuan por pessoa (algo em torno de 7,5 dólares americanos) com três refeições inclusas. Aceitamos a proposta, pois o yurt ficava a menos de 10 metros do lago. 

Isso é um Yurt, o melhor dizendo O YURT.


 Eu e a Sra.Soulsurfer, Nico e Sara iríamos coabitar o mesmo yurt por dois dias. Aliás, talvez poucas pessoas tenham tido essa experiência de dormir no mesmo ambiente com outras pessoas quando viajam. É um bom termômetro para saber se aquele bom amigo é suportável ou não numa convivência mais prolongada. Lembro-me de quando fiz uma viagem pela Califórnia com um casal de brasileiros que tínhamos conhecido em San Diego. Era a primeira viagem internacional deles e o Fernando estranhou e muito quando sugeri para dividirmos  quartos de hotel, que nos EUA são enormes e geralmente possuem duas camas de casal. São quartos de hotel praticamente construídos para 4 pessoas dormirem. Por que viajar assim? Primeiro, porque é muito mais barato. Em segundo lugar, porque é muito mais divertido. Hoje em dia, eles  são amigos do coração mesmo. Sempre que podemos nos visitamos. Um grande amigo e o laço de amizade foi construído nessa viagem. Detalhe, já devo ter falado dele por aqui, o Fernando é dono de uma empresa que vale dezenas de milhões de reais, possui atualmente dois galpões logísticos para alugar na ordem também de dezena de milhões de reais e um dos últimos vídeos que ele me mandou pelo Whatsapp, era o mesmo dirigindo uma lancha recém comprada ao som de “exagerado" do Cazuza e convidando para dar inúmeros rolês por Maresias quando voltar ao Brasil. Ele é extremamente humilde, gente boa mesmo e possui um grande coração. O seu único problema é a insistência de achar que o time do São Paulo é maior do que o Santos. Essa é uma impossibilidade lógica e física, pois o Santos Futebol Clube é o maior clube da história do futebol brasileiro por uma margem gigantesca em relação aos outros times.

  Nico na nossa humilde mais aconchegante residência por 3 dias

 Antes de jantarmos, eu e a Sra. Soulsurfer resolvemos namorar num morro bem perto do lago. Do nada, uma tempestade de areia fortíssima quase nos arrastou. Se não bastasse, começou a nevar também, e  as minhas mãos, que estavam sem luvas, começaram a doer de tanto frio. Iríamos observar como o tempo é instável numa região de tão alta altitude. Cheguei a presenciar o vento mudando de direção três vezes em menos de uma hora.

Karakul também é conhecido como o lago negro. É impressionante como o lago vai mudando de cor. 
Fomos pegos de surpresa por uma tempestade de areia cumulada com neve. Um frio de rachar.


  A família Kyrgyz que nos abrigou falava um Inglês rudimentar, talvez fruto da acolhida de outros estrangeiros. A casa deles era extremamente simples, seria quase que um quarto de favela se estivéssemos no Brasil, mas muito aconchegante.  Os nomes Kyrgyz são muito difícil para um falante de língua portuguesa. Deveria ter anotado o nome dos meus anfitriões, pois não faço mais a mínima ideia de como eram. A janta foi deliciosa. Um arroz com muitos vegetais, servido com chá. O ponto alto foi quando alguém bateu na porta e de repente ela abriu. Ao invés de “alguém" apareceu um Yak com cara de curioso olhando para dentro e assim ficou por uns bons 30 segundos. Foi engraçado. Como estava muito frio e ventando bastante, o nosso anfitrião achou melhor que dormíssemos numa casinha de uns 20m2 ao lado da dele ao invés de na frente do lago. Dormi como um bebê, coberto com uns três cobertores extremamente pesados. 

O Yak "bateu" na porta

A Sra. Kyrgyz que nos abrigou terminando os seus afazeres domésticos antes no entardecer

Sra. preparando arroz com vegetais. Sr. preparando o chá. Residência extremamente humilde, mas aconchegante, principalmente com o frio que fazia lá fora.

Dia a dia da família..

  O dia amanheceu e às seis da manhã no horário local (sobre horário local x Beijing time, falarei em algum outro artigo) estávamos de pé. Fazia um frio muito intenso, mas o colosso Muztagh Ata estava visível na penumbra da manhã. Essa montanha foi a mais impressionante que já tive o prazer de ver, mesmo já tendo estado no Nepal. O motivo? Ela é enorme, com mais de 7.500 metros de altitude. Isso é muito, muito alto. Além do mais, estávamos a algo em torno de 3.500 metros de altitude, o que significa que a montanha se erguia em 4km de extensão para o alto. É impressionante, e vendo aquilo não tem como não se sentir pequeno. Tomamos café da manhã, e a Senhora Kyrgyz nos preparou uma espécie de massa de pastel frito, que delícia! Quando saímos para caminhar, o sol já iluminava bastante o ambiente. O cenário era mágico. O outro colosso do local, uma montanha também de mais de 7.500 metros, também se fazia visível. 

Nascer-do-sol. Sem nuvens e a primeira vez que vimos A montanha em todo o seu esplendor.

Com sol, a vista é sublime

  Durante as próximas três horas, caminhamos, sorríamos, fazíamos filmes e fotos no cenário mais lindo que já vi em toda a minha vida. Um lago lindíssimo, inúmeras montanhas nevadas, sendo que duas delas com mais de 7.500 metros de altitude. Yaks andavam para lá e para cá, foi inesquecível.  Não tenho muitas palavras para descrever o quão prazeroso foi estar naquele local e caminhar ao redor do lago até a pequena vila de Kyrgyz de Subachi

Casal apreciando a vista

Estava muito frio, apesar do sol.



Sra.Soulsurfer, Nico e Sara caminhando ao redor do lago

Olha esse visual....


e esse...

e mais esse (esplêndido Muztagh Ata, quase 8 mil metros de altura)

Esqueci o nome dessa montanha (era ainda maior do que o Muztagh Ata). Tinha no mínimo uns 7 glaciares um do lado do outro reconhecíveis a distância. Impressionante.



  Antes de chegar na Vila, resolvemos subir um morro. A Sra. Soulsurfer sentido a altitude ficou no meio do caminho. Resolvi continuar junto com os franceses e valeu a pena, pois as vistas eram espetaculares. Quando já estava no topo, vi uma motocicleta subindo a montanha, o que foi algo incrível, pois a superfície era toda irregular com várias pedras. Era o rapaz do dia anterior que falava um bom Inglês. Ele ofereceu a sua casa na vila para tomarmos chá e disse que levaria a Sra. Soulsurfer de moto. Aceitei a proposta.

Sara e o rapaz da moto que falava um inglês razoável (dentro do yurt)

  Ao chegar na vila andando não conseguia achar de jeito nenhum o sujeito e muito menos a minha companheira. A vila é localizada no pé da montanha e o local é fabuloso. Andei para lá e para cá e comecei a ficar preocupado. Depois de quase 40 minutos perambulando, vi o rapaz chegando de moto e dizendo que tinha me procurado esse tempo inteiro.  Ele me deu carona até a sua casa e lá vi a Sra. Soulsurfer sorrindo e tirando fotos de locais preparando pão num forno. Entre esses locais, estava a mulher do rapaz. Mulher bonita e elegante, ainda mais num local tão remoto como aquele. Extremamente sorridente, ela nos ofereceu um pão quentinho delicioso. Na Ásia como um todo, não há a cultura do pão como no ocidente. Uma rara exceção foi esse local no extremo oeste da China. Entretanto, os vínculos históricos e culturais são com a Ásia Central, e por via de consequência o Oriente Médio, e não propriamente a China. Não sabem o prazer que foi para gente comer um pão caseiro quentinho. Quando voltar ao Brasil, vou ter um verdadeiro prazer gustativo ao poder comer pão com requeijão. Simples coisas na vida, e que podem dar uma sensação de bem-estar enorme, quando nos damos conta de como essas singelas coisas são tão importantes. O rapaz tinha 25 anos e a mulher dele 22 anos. Aparentavam mais. Resquícios da vida dura que não deve ser morar num lugar lindo, mas longe de quase tudo.

Elegância na feitura do pão...
A esposa do nosso "guia"


Pães sendo feito dentro do forno

Preparo tradicional. Talvez centenas ou mesmo de milhares de anos os pães devem ser feito dessa maneira


  O rapaz então ofereceu nos levar de moto até o glaciar no base camp que alpinistas usam para escalar o Muztagh Ata. Por meio de um blog de um casal australiano que viaja o mundo, já sabia da existência desse  glaciar. As informações sobre a beleza do local não podiam ser melhores. O casal australiano chegou lá andando, mas não poderíamos fazer isso, pois seriam dois dias de caminhada. Aceitamos o preço pedido de 200 Yuan para duas motos. Queríamos dirigir, mas eles disseram que não era possível. O valor não foi tão barato, mas, depois de ter feito, se tivesse que pagar mais, pagaria muito mais. 

Passeio de moto "a três"


  Gostaria de ter chegado no Glaciar de moto, mas o rapaz com outro companheiro pararam numa estação de polícia e trocaram as motos por um carro 4x4. A estrada foi sensacional até a entrada do parque nacional. Teoricamente, teríamos que ter pago uma entrada, mas o rapaz conhecia o gerente do local que deixou o carro passar por uma estrada paralela. Já dentro do parque nacional, ao pé do Muztagh Ata, comecei a ver vários animais marrons. Eram uma espécie de marmota e havia várias delas. 

Dezenas de "Marmotas". Ainda não pesquisei para saber qual animal é esse que habita numa altitude tão alta.

A Sra. Soulsurfer achou a "marmotinha" cute (engraçadinha). Você concorda prezado leitor?

  Estávamos a 5.000 metros de altitude, o que é muito alto mesmo, e teríamos que caminhar meia hora até o glaciar. Não havia ninguém. A Sra. Soulsurfer teve que caminhar muito lentamente para conseguir. Depois de mais de meia hora de caminhada com muita dificuldade, eu apenas disse para mim mesmo “Caraca!”.

Antes de chegar ao glaciar, era necessário caminhar ainda mais (desde o pequeno lago ao fundo). Olha o visual. Estávamos a poucos quilômetros da fronteira com o Tajiquistão. Curioso pensar que daqui uns 4 meses estaremos quase que no mesmo lugar, mais do outro lado da fronteira fazendo, se tudo der certo, a mítica Pamir Highway em duas semanas, passando alguns dias na zona de fronteira com o Afeganistão.

  O Glaciar era simplesmente monumental. Para complementar a paisagem havia um pequeno lago congelado. Nossa, que visual. Caminhamos pelo lago congelado com muito cuidado e curtirmos muito o local. Num local quase desconhecido por todos, perto do Afeganistão e Tajiquistão, a 5000 metros de altitude, em cima de um lago congelado, com um glaciar enorme atrás e sem nenhuma alma viva no local ao pé de uma montanha de quase 8000 metros de altitude. A situação foi tão surreal, tão diferente do meu dia a dia no Brasil quando por lá estava, que eu apenas pude abrir um sorriso e me considerar extremamente sortudo de poder ter uma experiência como aquela. Nenhum carro, celular, status baseado em bens, poderia me proporcionar nem 10% do que vivenciei aquele dia. Só posso agradecer por estar vivo. Estava tão absorto pelo local, que nem senti que fechei o famoso acessório “pau de selfie” no meu dedo, arrancando um belo naco de pele. Quando estava pousando para uma foto, a minha companheira apenas perguntou " que sangue é esse na sua mão, na mochila, no tênis e no lago congelado?”. Nada demais, mas a quantidade se sangue derramado foi razoavelmente grande.

Já estive no Perito Moreno na Argentina, e o glaciar é impressionante. Entretanto, esse foi muito especial por tudo que envolvia o local e o fato que podia-se chegar perto e não havia qualquer turista no local (ao contrário da argentina com hordas de turistas)

Caminhando no lago congelado em direção ao glaciar

O carro que nos levou perto do glaciar

   De volta ao acampamento, a janta foi servida. Uma pasta caseira muito gostosa. Dormi muito, mais muito bem mesmo nessa noite. Acordamos bem cedo novamente e infelizmente era o último dia. Teríamos apenas mais algumas horas naquele local encantado. Infelizmente, o dia não estava tão bonito como o outro e muitas nuvens pairavam no céu. Havia um outro lago uns poucos minutos caminhando da casinha dos nossos anfitriões e era bem bonito também. 

O outro lago também era espetacular. 


Casa dos nossos anfitriões

Soulsurfer dirigindo a nova caranga...
Grato aos senhores por proporcionarem uma experiência tão marcante

Beleza para todos os lados


  Resolvemos então pedir carona para voltar a Kashgar. Um carro parou e pediu 50 Yuan por pessoa, uma espécie de "Uber da estrada". O preço era razoável e aceitamos, foi quando vi um camelo branco lindíssimo. Acenei para a Sra. Soulsurfer e falei “era essa foto que tanto queria”. Uma pintura de enquadramento. O motorista do carro era um verdadeiro maluco e ainda bem que chegamos bem ao nosso destino. Quando já na cidade, ele  queria nos deixar bem longe do centro de Kashgar (é bem comum esse tipo de coisa). Eu e a Sra. Soulsurfer deixamos a entender que de jeito nenhum desceríamos ali. O motorista apenas paralisou e ficou olhando para a minha companheira, acho que nenhuma mulher jamais tinha falado tão incisivamente com ele. No final, ele nos deixou no centro da cidade. 

O filho do casal que nos hospedou apareceu com um camelo lindíssimo quando estávamos indo embora

A foto que eu queria. Pena que o Muztagh Ata estava encoberto

Um lembrete de que não estávamos numa região das mais tranquilas. Dezenas de caminhões do exército na estrada. Uma cena normal em Xinjiang e nas províncias que possuem população tibetana.


  De noite, tomamos uma cerveja com nossos novos bons amigos Sara e Nico. Relembramos um pouco as nossas aventuras nas últimas duas semanas. Será que nos veremos novamente? No Chile, no Brasil ou em Paris? Não sei. A Sara disse que os pais tem uma bela casa na Britânia e nos convidou a ficar lá. É uma região da França que sempre quis conhecer, principalmente para ir às praias onde os aliados desembarcaram na Normandia em junho de 1944. Talvez nos encontremos, talvez não. Porém,  eles já fazem parte da nossas vidas, pois a quantidade de vida e experiência que tivemos nos últimos 15 dias com certeza nos acompanharão por dezenas de anos. 


   No nosso quarto de hostel, havia um casal chinês que falava uma ou outra palavra de Inglês. Toda hora eu tinha que repetir em chinês que não compreendia o que eles falavam. Pelo que entendi, eles estavam numa espécie de lua de mel. Eles estavam extasiados de dividir o quarto com dois estrangeiros.  No final, tiramos uma foto juntos, e ele apontou para mim e fez sinal de que eu era um Macaco. Não sei se foi um elogio ou não. Acho que sim. É o ano do Macaco na China, e eu nasci em outro ano do Macaco. Esse animal é reverenciado na China. Há inclusive uma mitologia muito forte sobre um Rei Macaco, e um blockbuster chinês tem esse nome “The Monkey King”. É pensando bem, deve ter sido um elogio.
                          

Parecido com o Soul? Depois eu lembrei que eu vi o filme quando estava indo de balsa de Padang até o paraíso absolutamente paradisíaco de Mentawai (ai que saudades daquelas ondas perfeitas...) Bom, o rapaz aí era meio poderoso, na cena final ele derrota sozinho milhares de soldados de um outro exército

  O artigo ficou grande para apenas três dias de viagem? Ficou. Não me importo, precisava contar essa experiência para quem possa ter algum interesse e principalmente fazer o registro desses dias maravilhosos. Escrevo esse artigo direto do aeroporto. Estamos indo para Beijing e amanhã de manhã temos outro voo para Seoul, capital da Coréia do Sul. Ficaremos lá duas semanas, depois vamos a H.Kong e entramos na China novamente para mais um mês rumo a Mongólia. Daí a viagem se tornará mais épica ainda, serão cinco meses da Mongólia até o Irã, passando pelos cinco Stans e Rússia. Será demais e espero compartilhar diversas histórias com os leitores desse blog.

Até mais China Maravilhosa

Nos vemos em breve (cadeia de montanha Tian Shan - Divisa entre China, Quirguistão e Cazaquistão)



  Grande abraço a todos!


36 comentários:

  1. Adorei o relato!! Acompanho seu blog gosto dos textos financeiros que sempre ligam um sinal de alerta entretanto os textos sobre sua viagem são excelentes tenho a sensação que escreve de coração e parece que escuto sua voz ..muito doido, eu adoro esta sensação de encantamento em todos os lugares que conheço espero nunca perder isso!!! Esperando mais relatos!!!Abraços

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    1. Olá, Paula. Grato pelo comentário e agradeço as palavras.
      Abraço!

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  2. SoulSurfer, te descobri navegando pela blogsfera. Obrigado pelos excelentes posts sobre FIIs, imóveis, etc. Este, porém, é um dos relatos mais comoventes sobre uma das regiões mais remotas e desconhecidas do mundo. Parabéns!!

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    1. Olá, colega. Grato, fico feliz que tenha gostado. Eu gostei bastante de ter escrito esse relato.
      Abraço!

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  3. Olá. Uma dúvida de quem mora aqui no Brasil e q, até hj, desconhece outros lugares do mundo: não é muito perigoso viajar para um país onde o regime é ditatorial e que não é preocupado com os direitos humanos? Pergunto isso, porque no Brasil, que se diz um país que respeita os direitos humanos, há tantos assassinatos, fico imaginando esses países (não estou discriminando)

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    1. Olá, colega. Vc diz especialmente sobre a China? Geralmente países ditatoriais, tirando países africanos, são muito seguros do ponto de vista de crimes comuns. A China é um país tão complexo, mas tão complexo que é uma generalização errada dizer que é uma ditadura. A história da China é algo de dar nó na cabeça de um ocidental. Dito isso, é praticamente impossível na China alguém te assaltar com uma arma apontada na cabeça, assim como em vários outros lugares na Ásia. Nesse aspecto, o Brasil vai mal, muito mal mesmo.
      Abraço!

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  4. Tô impressionado com as fotos. Tanta coisa bonita no mundo e o homem-médio vive restrito a ir nos lugares que já se tornaram banais.

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    1. Olá, Seu Madruga. Acredite que as fotos não mostram nem 10% por cento do que é o local ao vivo. É simplesmente fabuloso. Minha companheira tira boas fotos, mas eu me impressionei tanto com o local que resolvi trocar a câmera que nós temos (tiramos fotos com câmera, go pro e celular), por uma melhor.
      Abraço!

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  5. Que viagem em Sô!? É a maior que já acompanhei na vida, rs. Nem preciso sair de casa, rs

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    1. Ah, UB, precisa sim! Leva o uorremzinho, quando ele tiver mais idade, para algumas pequenas viagens para o campo e natureza. A experiência deve ser incrível de fazer outdoor com o filho. É verdade, uma baita viagem, estou bem feliz. Abração!

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  6. Impressionante, obrigado por compartilhar o relato e as fotos. Nos próximos anos espero também visitar a Ásia. Seu blog é muito inspirador. Já viu uma série chamada Departures? O que você tem feito com sua esposa lembra muito o que os caras fizeram por lá. Abraço

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    1. Em relação a desmerecer o próprio país, já vi isso em outras nacionalidades, especialmente com americanos e depois da crise de 2008. Aliás, acho que isso está tão transparente por aqui por causa da crise, antes dela já tínhamos o papo do pior do Brasil é o brasileiro etc, mas não era tão pronunciado.
      Eventualmente a crise passará e o sentimento das pessoas mudará outra vez. É tudo cíclico.

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    2. Olá Trader, Obrigado pelas palavras amigo! Não, acho que nunca vi não. Qualquer dia vou dar uma olhada na série.

      Sobre desmerecer ou não, falar mal eventualmente da parte política da nação, de alguns setores, é natural e normal. Agora nunca vi um americano nem de perto chamar o país dele de merda e os compatriotas de "merdeiros". Isso eu nunca vi nada nem remotamente parecido em nenhum nacionalidade.
      Mas, concordo que quando as coisas começarem a melhorar, é bem possível que o ânimo das pessoas com o país também vá a reboque.

      Abraço!

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    3. Assista. O legal da viagem deles é que eles não visitam simplesmente os lugares, mas também tentam se conectar com as pessoas, o que é muito legal.

      Essa questão de chamar o país de merda, bostil etc parece ser algo específico de alguns blogs que não valem muito a pena ser lidos (e os seguidores desses blogs). Converso com muita gente e, pelo menos aqui em Belo Horizonte, não vejo ninguém usar esses termos. Temos os populares tipo o pior do Brasil é o brasileiro, brasileiro só sabe levar vantagem etc. Para mim as pessoas só repetem mesmo o que os outros falam, e ninguém para pra pensar muito no que está dizendo, então o melhor é como você fez no post abaixo: concorde para encerrar o assunto, não se envolva e bola pra frente. É o que eu sempre faço. Abraço.

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    4. Olá Trader N.,
      Se o programa for de um alemão e moreno canadenses, eu já vi e adoro o programa. Acho o loiro muito engraçado.

      Creio que você tem razão, é uma minoria absoluta mesmo que usa termos mais ofensivos.

      Abraço!

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  7. -Aliás, nas minhas viagens eu nunca encontrei alguém desmerecendo o seu próprio país de maneira tão intensa como os brasileiros, independente da situação política, econômica ou moral em que sua nação possa se encontrar.-

    O Bostil é uma exceção, é um dos maiores fracassos da humanidade. Miscigenação, mistura cultural, sincretismo religioso, sociedade de castas. Tudo para criar um país maravilhoso, não é? Quem sabe se no dia em que todos os bostileiros puderem ter um padrão de vida que os permita viajar pelo mundo o bostil passe a ser chamado de brasil?

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  8. Sem palavras Soul.... Crescimento cultural incrível.

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  9. Ei Soul, essas fotos não feitas de iphone neh? Qual eh o modelo de camera que vc usa? eu tenho vontade de comprar uma camera melhorzinha, semi-profissional, mas fico com receio de chamar atenção ou dela ocupar muito volume. Não entendo nada de câmeras.

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    1. São fotos principalmente de GoPro e uma máquina semi-profissional, mas que já está um pouco velha. Sim, mas tem máquinas menores do que aquelas profissionais enormes.
      Também não entendo muita coisa não:) Abraço!

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  10. É algo para se refletir. Filosofa-se sobre as coisas do bem e do mal, prega-se pela igualdade entre todos, mas com meros 35 anos já está com independência financeira, viajando um ano inteiro com a noiva, e o que tem dado em troca ao mundo? Ajuda os médicos sem fronteira? Tira um dia de seus 365 ao ano para ajudar os necessitados do Sri Lanka? Muito blá blá blá é apenas mais do mesmo.

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    1. Colega, ao ler sua mensagem fica patente que você precisa de ajuda. Como você aparenta ser um leitor assíduo desse espaço, resolvi ajudá-lo. Assista https://www.youtube.com/watch?v=MNOveHSJGto. Creio que será um bom começo para aquecer um pouco o seu coração, e quem sabe possa gastar o seu tempo mais com amor e menos com rancor. Abraço!

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    2. Eles têm inveja do seu cargo público e do seu bom gosto pra viagens. Infelizmente, a inveja envenena as almas.

      Seus relatos sozinhos inspiram pessoas como eu a sair de empregos chatos para poder conhecer o mundo.

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    3. Não adianta escrever essas coisas pq o caro blogueiro é aparentemente refratário a exames de consciência.
      Veja que ao invés de questionar seus argumentos ele simplesmente respondeu que voce "precisade ajuda", um claro argumento "ad hominen". E ainda aparenta ser sarcástico pregando mais amor e menos rancor (por parte de quem?). Gostaria de ver o nobre blogueiro acordando todos os dias às 4 da manhã, e suportar 6 horas por dia dentro de um onibus lotado para trabalhar num emprego de um salário mínimo. Creio que ele nem sabe que existem pessoas que tem de fazer isso no próprio país dele.

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    4. Colega, realmente acho que ele precisa de ajuda. Se martirizar, principalmente com rancor num espaço que ele disse não gostar, não é uma atitude de uma pessoa que esteja bem consigo mesma. Ele também disse que sentia falta que eu não ajudava pessoas no Sri-Lanka, por isso resolvi tirar um tempo para pesquisar o link e ajudar alguém.
      Vc quer me ver acordando às 4 da manhã? Que desejo mais estranho. Tanta coisa para querer ver, e esse é um dos seus desejos? Cada um, cada um.
      Eu realmente não sabia, pensei que no Brasil todos iam de carro para o trabalho em ruas bem-feitas e sinalizadas. Obrigado por me informar que esse não é o caso.

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    5. Ninguem quer ver você, vivo acordando às 4 da manhã, ou morto. Apenas queremos artigos na internet com mais qualidade e sem hipocrisia.
      Vê só? Você mesmo admite não conhecer a realidade do seu próprio povo!

      Lamentavel, Hypocrite Soul.

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  11. Caramba ...

    56 etnias na China

    Bom passeio.

    Voltará ao Brasil algum dia?

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    1. Olá, Guardião. Voltarei sim, principalmente por causa dos meus pais.
      Abraço!

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  12. Rapaz, seus relatos são inspiradores. Mas vc sabe que estava devendo um treino de aéreos....

    1 ano longe de repartição pública. Coisa boa.

    Por último, acredito que aqueles que falam sobre "merdeiros" não conhecem nada sobre História . Fica parecendo um pouco de sadomasoquismo achar que os americanos são bons em tudo e os brasileiros são horríveis em todos os sentidos.

    Abs
    Carioca.

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  13. Pelo amor de deus. Siga com seu "complexo de vira-lata". Siga compartilhando sua aventura. E MUITO OBRIGADO por me permitir conhecer mais da sua jornada.

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  14. Bom dia! meu gostaria de solicitar parceria, pois estou desenvolvendo um site também e gostaria de ter blogs parceiros. o meu e www.investimentosedividendos.blogspot.com.br

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