sábado, 9 de abril de 2016

INCRÍVEL MUNDO - UM ANO NA ESTRADA

   Olá, colegas! Hoje o artigo será bem curto. Na data de hoje faz exatamente um ano  em que parti junto com a minha companheira para a aventura de uma vida. Tenho tantas histórias, reflexões, amigos feitos, que eu precisaria de um livro para contar tudo. Todos os dias são diferentes.  A minha rotina é não ter rotina. Tive cada semana maravilhosa. A semana no outback australiano acampando no deserto junto com um casal de canadense  foi inesquecível. Surfar em  Cloudbreak-Fiji ou na disnelândia do surf Mentawai no oeste da Ilha de Sumatra na Indonésia  algo que sempre lembrarei na minha vida. Aventurar-se nos parques nacionais de Bornéu e ver a quantidade de vida selvagem, algo surreal para alguém que sempre morou em cidades como eu. Passar uma semana com uma família australiana  na maravilhosa Sydney e ser recebido como se fosse um familiar. São tantas e tantas semanas com experiências fantásticas que o meu coração enche de alegria. Entretanto, a última semana que se passou foi fantástica, talvez a mais diferente que eu já tive na vida. Abaixo uma breve descrição de como os últimos dias foram.


Primeiro Dia

   Pegamos um ônibus de Shangri-la na província de Yunnan para Xingcheng na Província de Sichuan. A viagem durou 8 horas para percorrer 200km. Foi a viagem mais linda que já fiz na vida,  numa estrada localizada quase que no topo das montanhas.

Estrada pelas montanhas. 30km por hora, estrada estreita e esburacada. Sensação inacreditável!


Segundo Dia

  Tive o privilégio de ir ao lugar mais bonito do mundo. Yading Natural Reserve. Caminhamos cerca de 7 horas numa altitude que variou de 4.200 metros a quase 5.000 metros. É muito difícil fazer esforço nessa altitude, nunca tinha feito algo parecido. A Sra.Soulsurfer chegou a passar mal, mas persistente do jeito que é conseguiu terminar a caminhada. Um dia para lá de especial para nós dois.


Sim, é quase que indescritível esse lugar. Quer ver mais fotos (há muitas mais de paisagens lindíssimas da trilha)? Quando publicar minha aventura na Yading Natural Reserve você poderá ver.


Terceiro Dia

   Litang, primeira cidade predominantemente tibetana. Não encontramos nenhum estrangeiro nos dias que passamos nessa cidade. Povo extremamente simpático, nunca me senti tão acolhido. Devo ter falado  mais de 200 vezes “Tashi De Le” (olá em Tibetano).  Sorrisos para todos os lados vindos de crianças, homens, mulheres e principalmente idosos.

                       Litang. A cidade é muito bonita. Mas os tibetanos dão um toque mais do que especial  ao local
 Monastério da cidade

Os locais ficavam felizes quando pedíamos para tirar uma foto

Quarto dia

  Passeio de moto pelos arredores de Litang. Fomos a um monastério afastado e foi muito interessante ver a reação dos monges a presença de dois estrangeiros. Pilotar uma moto com neve, não é das  coisas  mais fáceis.

Aprendizes de Monges

Passeio de Moto: estradas vazias, montanhas para todos os lados (Litang está a quase 4100 metros de altitude) e Yaks zanzando para lá e para cá.


Quinto Dia

  Uma experiência forte e impactante. Presenciamos um Sky Burial tibetano. Nunca pensei que iria ver isso na minha vida. Foi bem forte, principalmente para um ocidental como eu que não está acostumado a pensar e lidar com a morte. Os locais nos convidaram, e fomos “obrigados" a tomar o chá tradicional tibetano, bem como comer uma carne que mais parecia o osso da costela seca de um Yak. De tarde fomos para uma cidade chamada Batang. Parados pela polícia chinesa para saber por qual  motivo estávamos indo para essa cidade que faz divisa com a Região Autônoma do Tibet. Acho que deve aparecer um estrangeiro a cada mês nessa cidade, pois absolutamente todas as pessoas olhavam de torcer o pescoço para a gente . Muitos sorrisos, “olás” e fotos que as pessoas pediam para tirar com a gente.

Comi um pedaço muito pequeno, mas o gosto ficou horas na boca. Se eu soubesse que um Sky Burial iria realmente ocorrer, não sei se teria aceitado a gentileza dos tibetanos

Tibetanos antes do Sky Burial. Um deles uma hora pegou a minha mão e ficou analisando a textura dela, bem como a cor branca. Foi uma manhã intensa num nível muito alto. Extremamente reflexiva também.

Batang. Acho que quase nenhum estrangeiro vai para esse lugar. Não havia absolutamente ninguém que falasse nem o Inglês mais básico. Com mímica e boa vontade, tudo se resolve.

Protesto contra o "Golpe"? Amigos, vocês iriam se surpreender como a esmagadora maioria das pessoas do mundo não sabe  nada sobre o Brasil. Absolutamente ninguém com quem eu conversei faz a mínima ideia do que está ocorrendo no país atualmente. Sim, nossos problemas são apenas nossos e aparentemente ninguém mais se importa. Talvez isso seja importante para colocar as coisas em perspectiva. Estudantes desfilando e cantando pelas ruas de Batang


Sexto Dia

  Na volta para a cidade de Litang, o motorista da Van resolveu dar uma olhadinha no celular. Resultado? O carro caiu numa vala e por pouco não capotamos. Pensei que seria muito difícil tirar o carro dali, e não é que em 20 minutos, contanto com o apoio de várias pessoas que pararam para ajudar, o pessoal, com uma singela ajuda minha, conseguiu tirar a van da vala? A união faz a força! De tarde visita ao local de nascimento do sétimo Dalai Lama. Dalai é uma palavra do idioma mongol que significa “oceano”, Dalai é uma palavra do idioma tibetano que significa “conhecimento”, literalmente o significado é oceano de conhecimento.

E você ainda fala no celular enquanto dirige? Ainda bem que não aconteceu nada com a gente, apenas o susto.

Soulsurfer dando uma mão para o trabalho em equipe.
Estrada de volta para Litang. Sensacional como todas as estradas na região.



Sétimo dia

  Será que depois de uma semana dessas, o sétimo dia é para descanso? Não, creio que não. Estamos indo para outra vila pequena tibetana chamada Tagong.

   É isso. Só posso me sentir agradecido e privilegiado por ter a oportunidade de estar fazendo isso. Já pude saborear conquistas materiais, pessoais e intelectuais que são objeto de desejo de muitos brasileiros. Creio que todas elas foram de certa maneira importantes na minha vida. Porém, hoje em dia, é cada vez mais claro para mim como conquistas profissionais e materiais dizem muito pouco sobre quem realmente sou, sobre a minha humanidade. São aspectos secundários, apesar de serem centrais para quase todas as pessoas hoje em dia.  Por mais singelas que possam parecer algumas experiências como, por exemplo, uma troca de sorriso com um Sr. de 80 anos com vestimentas diversas, língua inacessível e uma crença religiosa de difícil compreensão, fazem eu sentir a minha humanidade de forma muito intensa. Fazem me sentir vivo e conectado com outros seres humanos. Isso é muito especial para mim. Só posso me sentir feliz com isso.  Poder realizar isso ao lado de uma mulher linda, companheira e aventureira só torna tudo mais prazeroso.

Grande abraço a todos!


27 comentários:

  1. Boas Soul Surfer,

    Que experiência de vida maravilhosa que vcs estão passando.

    Fico muito agradecido por vc compartilhar conosco o que está passando.

    Parabéns por levar a vida dessa forma.

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    1. Olá, Investidor Maluco!
      Eu que agradeço uma mensagem como essa. Obrigado!
      Abração!

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  2. Este nosso mundo é fantástico mesmo, cada lugar maravilhoso. O ser humano é que faz umas coisas estranhas, tipo esta vala na beira da estrada, rs.

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    1. Olá, UB! Realmente. Depois da "cagada" que o motorista fez, o interessante foi a reação dele: ficou sorrindo.
      Abraço!

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    2. Realmente é perigoso dirigir e mexer com celular, mas de qualquer forma, pelas fotos, não concordei com a construção desta vala, é algo muito perigoso.

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    3. É verdade, UB. Deve ser por causa da neve. Porém, achei também absurdamente perigoso, imagina dirigindo de noite?

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  3. Soul,

    Parabéns pela aventura! Mas o que realmente chamou a minha atenção em seu relato é como o Bostil é um paíszinho totalmente insignificante perante o resto do mundo.

    Somos e sempre seremos uma eterna república das bananas.

    Abraços!

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    1. Olá, IL!
      É verdade, por um lado podemos ficar pessimista. Por outro lado, sou bem tratado quando digo que sou brasileiro. Quase sempre, mesmo em regiões mais remotas, o Brasil é associado com a alegria do futebol. Talvez nosso futebol seja o maior embaixador do país, e seria inteligente se o país cuidasse melhor desse esporte.
      Abraço!

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    2. E por que esses termos? Bostil? Paíszinho? República das banacas? Cada coisa que se vê, viu...

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  4. Fantástica essa experiência.
    A gente tem uma visão muito distorcida do oriente. Lugares assim devem ser ótimos para viver e nós aqui só pensamos em NY, Londres, etc.

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    1. Olá, colega. O Oriente como nós entendemos é muito diferente entre si. A China não tem nada a ver com a Índia que não tem nada ver com o Japão que não tem nada a ver com a Tailândia que não possui qualquer semelhança com a Indonésia.
      Porém, realmente. Para a maioria dos brasileiros, viajar significa ir para centros de países desenvolvidos. Eu gosto muito de cidades como Paris, Amsterdan, Sydney, etc. Porém, o mundo é muito mais amplo do que isso, e experiências extraordinárias aguardam as pessoas que possuem um pouco mais de coragem para escolher os seus destinos de viagem.
      Abraço!

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  5. Nossa, que experiência incrível!

    Felizmente não ocorreu um acidente mais grave, bola murcha para o motorista.

    Soul, quanto em dinheiro eu precisaria ter, de renda passiva, para suportar uma viagem como a sua? R$ 10.000,00 mês (em reais) seriam suficientes? Ou mais?

    Queria conseguir mensurar uma experiência destas em dinheiro, quanto me custaria ter a mesma viagem.

    Abraço

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    1. Olá, VC!
      Olha, uma viagem como essa é um pouco diferente. É preciso se acostumar um pouco. Creio que você pode fazer viagens ótimas para a América do Sul, Europa e depois Ásia.
      Com 10.000,00, o dólar a 4,00, isso é igual a U$2.500,00 por mês. Se for só você, você viaja muito bem por muitos lugares do mundo. Europa central, Austrália e N.Zelândia, partes dos EUA, com esse dinheiro é possível viajar bem. Agora, se os seus cálculos forem para um casal, você dificilmente conseguirá viajar, mesmo economizando e ficando em lugares simples, em países mais ricos. Entretanto, com esse dinheiro é possível viajar muito bem como casal na maioria dos países.
      Países como Austrália, por exemplo, é caríssimo. Se quiser ficar num bom hotel, comer fora (não cozinhar) e fazer passeios, coloca uns 200-250 dólares americanos por dia o casal. Lá, eu aluguei uma campervan, dormi no carro, cozinhava todo o dia no carro (mas não economizava no supermercado) e fiquei na casa de várias pessoas que conheci durante a viagem. Quando estava lá o dólar australiano tinha caído algo em torno de 30% em relação ao dólar americano (não é só o real que despenca não), mas mesmo assim gastei algo em torno de 115-120 dólares americanos por dia para eu e minha mulher.
      Abraço!

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    2. Muita granaaaa,

      Mas ir para Chile, Peru e Bolívia acredito
      que seja mais barato né?
      10 Mil por mês é demais. Soul vc consegue ganhar isso com os investimentos??

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  6. vc chegou no topo da piramide maslow ,lugares lindos.

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    1. Olá, Soldado! Sabe que sempre ouvi falar da pirâmide maslow, mas nunca parei para ler. Os níveis mais baixos são de subsistência não? Se assim for, fico lisonjeado pelo elogio, mas creio que falta bastante para chegar ao todo ainda. Não importa, o caminho muitas vezes é mais importante e legal do que o próprio destino.

      Abraço!

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    2. O topo é quando vc atinge a auto-realização, e as necessidades biológicas, de proteção, sociais e auto-estima já estão satisfatoriamente supridas. Dizem também que é quando vc atinge um auto-desenvolvimento constante.

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  7. Fala Soul!!

    Pretende partir depois pra Nepal pra fazer os trekking do Annapurna ou do Campo Base?!

    Saindo aqui do Brasil pra ir pro Tibet ou Nepal, qual vc acha seria o melhor caminho?! Pela Índia ou China?! meu sonho é fazer esses trekkings (se algumas coisas conspirarem tento ir em setembro)

    Abraços
    Victor (aquele que uma vez falou pra vc do blog do Brave New Life ... criei essa conta no blogger pra poder participar mais hahaha)

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    1. Olá, Victor!
      Então, devo ir para Mongólia que é um país que sempre quis conhecer. Lá é muito frio nos meses de janeiro a abril (em janeiro a capital chega a fazer -40), por isso vou tentar entrar lá em junho-julho.
      Não irei ao Nepal nessa viagem, mas já fiz o Annapurna. Recomendo muito mesmo! Foi uma das melhores experiências da minha vida. O Campo Base quem sabe um dia. O Nepal é um lugar maravilhoso e o seu povo encantador. Fiquei muito triste com o terremoto devastador do ano passado.
      A Fronteira Índia-China via a região autônoma do Tibet é fechada para estrangeiros. Você pode chegar no Nepal via Tibet, mas é bem carro e você só pode ir via excursão autorizada.

      Abração!

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  8. Caro Soul,

    Fantásticas imagens!

    Acho a Ásia o continente mais incrível. Cada canto é mais diferente que o o outro, Oriente Média, Rússia, China, Malásia, Coréia do Sul. São países bem diferentes.

    Ainda arrumarei um tempo para dar um pulo por essas bandas.

    Abçs!

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    1. Olá, I.Internacional!
      É verdade, colega, é verdade. Se você tiver a oportunidade, a Ásia pode te manter ocupado por meses e meses. Assim, você já aproveita para conhecer Cingapura e H.K que pelo que li do seu blog são excelentes opções para se enviar o dinheiro, não é mesmo?
      Grande abraço!

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  9. considerando que nestes últimos meses todos os relatos vem acompanhados de "foi uma das melhores experiências da minha vida" ou "um dos lugares mais belos que fui" ou ainda "é um dos povos mais encantadores que conheci", fica difícil realmente saber o que é bom e o que nem tanto.

    você é o reflexo do complexo de vira-lata deste país ... muita coisa tosca, só por ser do outro lado do mundo, ou de outra religião é muito mais "encantador" do que há em nosso país

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    1. É verdade, colega. Maravilhar-se com as belezas do mundo, sejam as pessoas ou as paisagens, é uma imagem quase que a perfeição de “algo tosco com complexo de vira-lata”. Infelizmente, não consigo me conter se o mundo e as pessoas continuam me proporcionando experiências maravilhosas que aquecem o meu coração. Talvez a amargura possa ser um relato mais fiel de um verdadeiro brasileiro que ama as coisas da sua terra. Quem sabe? Seria melancólico, mas sua mensagem talvez traga um pouco disso. Desejo sinceramente a você e sua família tudo de bom.
      Abs

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    2. E qual o problema anom? Você não tem sua sensibilidade aflorada quando saí de seu estado para outro? Ou quando vai a uma praia desconhecida? Quando seu cérebro recebe novos estimulos daqueles que ele está habituado a receber? A viagem dele é mais interna do que externa, as maravilhas que ele vê lá fora são estímulos diferentes que acendem dentro dele a admiração pelas belezas internas e externas da vida. Expanda sua mente, ele pode futuramente fazer uma jornada pelo Brasil, porque não? Que ótimo que ele está desfrutando essas experiências, quão bom seria se todo ser humano pudesse ter esse privilégio, pudesse compartilhar não apenas ao nível das palavras uma experiencia dessa, se todos pudessem percorrer o caminho interno e externo que ele pode percorrer.

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    3. É verdade, Nicolas. Uma boa descrição de como me sinto.
      Abraço!

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  10. Que legal soul, poucas pessoas tem a oportunidade que você tem infelizmente, aqui na maioria das vezes impera a simples luta pela sobrevivência mesmo, você já passou dessa parte como a maioria das pessoas que vivem em países ricos, e com as necessidades básicas satisfeitas as necessidades que ficam são as necessidades superiores do ser humano, reconhecimento, cumprimento de grandes metas, aprendizado, integração social. Meus parabéns! Nos somos como uma complexidade emergente como diria um biólogo, Ernst acho, os átomos que nos formam chegaram ao nível de complexidade da célula, e nossas células formaram nossos cérebros, que do intricado de sinapses deu origem a nossa consciência, que ultrapassou as propriedades das células e dos átomos porque agrega um arranjo diferenciado que gera uma informação única. Tão poucos chegam ao nível de aproveitar essa complexidade, vivem apenas para alimentar suas células.

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    1. Olá Nicolas! Grato pela mensagem.
      Gosto muito do Ernst Mayer. Apenas li um livro dele (Isto é Biologia), mas a paixão dele pelo tema é cativante.
      É verdade, ele trabalha bastante a ideia de complexidade emergente.
      Sinto-me muito privilegiado e agradeço a sua mensagem.
      Abraço!

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