quinta-feira, 27 de agosto de 2015

BRASIL - HOMEGANEM, SILOGISMO, ERRO E PROVOCAÇÃO

Ai de mim, Ai de mim, Provocações!”, era assim que começava o brilhante programa “Provocações" do brilhante Antônio Abujamra. Antes de mais nada, saudações a todos os leitores do blog pensamentos financeiros. Soube que o Abujamra morreu. Não fiquei triste. A morte vem para todos, e quando se morre com mais de 80 anos dando a contribuição que esse Sr. deu, não há motivos para a morte ser encarada com extrema tristeza. Quando alguém jovem morre, aí sim é uma lástima, ou quando o personagem interpretado por Brad Pitt no sensacional filme “A incrível história de Benjamin Button” fala que a morte não parecia natural ao ver centenas de corpos boiando depois de uma batalha naval na segunda guerra mundial. Quem não conhece nem o Abujamra, nem o programa “Provocações”, vale a pena dar uma olhada.  

Homenagem ao talentoso e único Abujamra.


  O programa era uma das únicas coisas inteligentes produzidas pela televisão brasileira. Eu me divertia com as entrevistas dele, com as reflexões e tiradas que ele costumava produzir (nos últimos anos, ele já estava mais debilitado e o vigor não era o mesmo).  O show chamava-se "Provocações", pois literalmente o objetivo era provocar o entrevistado e o telespectador, provocações de reflexões sobre a vida e algumas “verdades" tidas como auto-evidentes. Nada mais distante da pasmaceira intelectual que impregna a nossa sociedade e os debates. Aliás, não há debates. Cada vez mais me espanto da incapacidade das pessoas conseguirem manter diálogos com pessoas de ideias antagônicas. Não há possibilidade de construir um país sério assim, não mesmo. Eu também adorava a parte final do programa onde dele declamava poesias lindíssimas, e ele tinha uma voz espetacular, tanto que a voz dele aparecia em inúmeras propagandas de televisão. Portanto, esse breve artigo é uma homenagem ao grande Abujamra e como não poderia deixar de ser o texto terá uma provocação.

Uma boa música é sempre bom para acompanhar uma leitura. Tenho certeza que Abujamra concordaria, como na música, que não devemos entregar a parte doce da nossa vida para homens de vidas vadias e vazias, e sempre que possível cutucar a ferida dos homens de olhos sombrios.

  Comecemos por uma regra de lógica e depois por um erro de julgamento. Já ouviu falar de silogismo, não? Bom, um silogismo nada mais é do que lógica pura em ação. O clássico silogismo Aristotélico é um exemplo simples de entender:
Premissa A - Todo homem é mortal
Premissa B - Aristoteles é um homem
Conclusão silogística - Aristoteles é mortal

  É impossível discordar da conclusão sem ferir um princípio básico de lógica. Portanto, quem comete erros desse tipo, comete um dos erros mais simples de argumentação. Prosseguimos com um erro de julgamento. Um dos pensadores  brasileiros atuais que mais admiro, talvez é o que eu mais admiro, chama-se Eduardo Giannetti. Já indiquei diversos livros dele. Se quer ler algo interessante, leia os livros do Eduardo. Um deles é magnífico e chama-se o “Auto-Engano”. Nele, o autor discorre de maneira magnífica, com exemplos científicos e filosóficos, da tendência do ser humano, em nível consciente e inconsciente, em se auto-enganar, quase sempre sobre supostas qualidades auto-atribuídas. Leitura mais do que recomendada. O nosso erro de julgamento, a nossa inclinação em se auto-enganar,  é muito conhecido por economistas que atuam e estudam a área de finanças comportamentais, bem como por estudiosos da área de como os seres humanos tomam decisões (tema diversas vezes abordado por aqui). É comum em perguntas como “você se considera um motorista acima da média?” ou “ um amante acima da média?”, 90-95% das pessoas invariavelmente respondem que sim, elas se consideram acima da média. Porém, o resultado não faz sentido, pois 95% das pessoas não podem estar acima da média, isso seria outro erro de lógica simples, como se enganar com silogismos.  Pesquisa após pesquisa, fica evidente que o ser humano tende a ter um visão muito otimista de si mesmo, e muito pessimista de outras pessoas. Essa forma de raciocinar pode ser interessante em momentos onde se faz necessária uma melhora da auto-estima, mas pode levar a resultados desastrosos em alguns campos, e finanças é o maior exemplo disso. Assim, muito provavelmente, caro leitor, você não está acima da média na esmagadora maioria das coisas.


Um pequeno grande livro. É impressionante a forma como Eduardo Giannetti discorre sobre "verdades" que aceitamos como evidentes. 


  Tendo discorrido brevemente sobre os dois tópicos, a provocação, homenageado o querido Abujamra, pode ser feita. Há no Brasil, e principalmente por quem lida com dinheiro ou pensa sobre dinheiro (blogs de finança incluso), uma tendência de se dizer que o pior do Brasil é o brasileiro. Pois bem. Assim, façamos o silogismo com uma pessoa brasileira chamada Y que pensa assim.
Premissa A - O pior do Brasil é o Brasileiro
Premissa B - Y é brasileiro
Conclusão silogística - Y é o pior que há no Brasil.

 Portanto, colega, se você realmente acredita na ideia, a única conclusão possível é que você é o pior que existe no Brasil. Se assim o é, alguns desdobramentos forçosamente ocorre. Em primeiro lugar, não se exporte para nenhum outro lugar. Uma regra costumeira de relações internacionais é que um país não deve exportar o que há de pior para outro país. É por isso que  quando um país exporta o seu lixo hospitalar para outro país, por exemplo, a comunidade internacional reage com repulsa. Há uma ideia de que o pior que um país possui deve ser lidado internamente. Portanto, se você, que acredita na frase, é o pior que existe no seu país não seja um verdadeiro “presente de grego” para outros povos. Em segundo lugar, se você é o pior que existe no seu país, por qual motivo não tentar melhorar a si mesmo e por via de consequência acabar melhorando o seu próprio país? Se o maior problema é você, então alguma solução para a melhora do estado de coisas do seu país passa necessariamente por uma melhora individual.

  Alguém pode protestar “não, eu não sou o pior que há no Brasil, pelo contrário, pois eu….- colocar qualquer justificativa”. Chegamos aqui no erro de julgamento. É muito comum a frase “eu não sou racista, mas…” ou “eu não sou machista, mas…” ou “eu não sou xenófobo, mas…”, aliás visitando a galeria nacional em Canberra (capital australiana) no setor de arte aborígene vi um quadro muito bacana  que mostrava o quão patética é essa forma de se colocar no mundo. Portanto, a pessoa sempre pode se excluir de um determinado grupo da qual pertence atribuindo-se alguma qualidade que a destaque da média desse grupo. Assim, Y dirá que mesmo sendo brasileiro, ele é diferente da maioria dos brasileiros, pois ele possui alguma qualidade que o destaque dos demais brasileiros. Assim, ele pode ser pagador de impostos, um empreendedor que cria empregos, um servidor público que presta um grande serviço a nação indo atrás de empreendedores que não pagam tributos, ele pode ser um filiado de um sindicato de empregados, ele pode ser qualquer coisa de direita, esquerda, do meio, da diagonal, pois qualquer argumento serve para fins da pessoa achar que está acima da média ou fora das características negativas de um grupo que ela originalmente pertence.

   
"Eu não sou racista, mas os aborígenes bebem muito...Eu não sou racista, mas porque eles não aceitam a nossa forma de viver? Eu não sou racista, mas..." Sei. (Imagem da galeria aborígene da bela Galeria Nacional em Camberra). Aliás, se teve algum povo que se deu muito mal e foi completamente espoliado foi os aborígenes.Irei escrever sobre isso e a fragilidade conceitual e principiológica de algumas ideologias.


 Portanto, agora o silogismo quebrado fica assim:

Premissa A - O pior do Brasil é o Brasileiro
Premissa B - Y é brasileiro
Premissa C - Apesar de Y ser brasileiro, há algo que o diferencia da essência de ser brasileiro da premissa A
Conclusão nada silogística - Y não é  pior que há no Brasil.

  
   Entretanto, essa é a mesmíssima situação das pesquisas que mostram que 95% das pessoas acham que são melhores que a média em matéria de direção, sexo, inteligência, etc. Há um erro claro de julgamento aí, e pode ser que seja a nossa tendência de se auto-enganar. Sempre haverá pessoas que são acima da média, assim é possível argumentar em casos especiais que um indivíduo brasileiro é muito acima da média dos demais brasileiros. Não há nenhum problema nisso e pode ser o caso de alguns leitores. Porém, quando muitas pessoas dizem estar acima da média, como parece ser o caso, o problema de lógica fica claro. Ou, sempre é possível que haja um exercício sincero de auto-análise, não há problema nenhum e a pessoa realmente acha que ela mesma é o que tem de pior no Brasil. Ora, a pessoa ao admitir isso é muito mais coerente e lógica.

   É isso colegas, o raciocínio, a ciência, a filosofia, servem para que questionemos o nosso mundo e as nossas convicções como muitas vezes escrevi a respeito. Você não "pensa fora da caixa", pois não consome roupas de marca, ou se veste bem, ou sabe que deve gastar menos do que ganha, ou porque chegou a conclusão que o dinheiro não é a última finalidade da vida ou porque "descobriu" que o focar em alguma atividade é um dos ingredientes de muitas pessoas destacadas em suas áreas. Isso  são pensamentos triviais, nada mais do que isso. Quem realmente “pensa fora da caixa” é alguém como Eistein que simplesmente questionou a noção mais elementar humana sobre a realidade: tempo e espaço. Uau, isso sim é ser revolucionário na forma de pensar. Ou um exemplo fora das ciências, um economista com formação acadêmica de ponta em universidades de países ricos raciocinar que miseráveis de seu país miserável poderiam receber microcréditos e com isso melhorar de vida (Yunus), isso sim também é ser revolucionário no pensar. Logo, é muito provável que o seu e o meu pensamento estejam apenas na média, não possuam absolutamente nada de novo ou de extraordinário. Eu não tenho qualquer problema com isso. E você caro leitor? Porém, não é por causa disso que você vai deixar a parte mais doce da sua vida na mesa dos homens de vida vadia e vazia, como já diz a bela música de Chico Buarque.

  Espero ter feito uma boa provocação ao estilo Abujamra, a quem eu dedico este artigo.

Adeus Abujamra! Agradeço todas as belas provocações que perguntas suas como "o que é a vida?", "a beleza te faz chorar?" e tantas outras tiveram em minha vida.


Abraço a todos!



25 comentários:

  1. Não conhecia o livro, parece bem interessante. Mas essa comparação do "95% dos motoristas se consideram acima da média" eu já li também em outro livro. Não lembro se era o "uma senhora toma cha" (algo assim) ou "freakonomics". Recomendo ambos.

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    1. Olá, colega. Creio que li sobre essas pesquisas no livro "Rápido e Devagar".
      Recomendo todos os livros do Giannetti, principalmente quem gosta de finanças o fantástico livro "O valor do Amanhã".

      Freaknomics é muito bom. Adoro o jeito diferente e lógico do autor abordar diversas questões do cotidiano. O outro citado eu não conheço.

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  2. Soul,

    Eu não sei se o seu post teve uma indireta para mim, porém, com silogismo ou sem silogismo o fato é o seguinte:

    O pior do Bostil é o bostileiro.

    E é por isso que esse país não tem jeito.

    Abraços!

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    1. Olá, IL!
      Não foi não. Seria, se apenas você dissesse isso, mas como dito no texto parece que é algo que muitas pessoas estão compartilhando no momento.
      Além do mais, uma homenagem ao Abujamra não poderia ser feita sem uma provocação à reflexão. Poderia fazer outras, mas foi a única que me veio à cabeça enquanto escrevia o texto ontem de noite.

      Abraço

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    2. Soul,

      Entendi! Em todo o caso, parabéns pela postagem. Refletir sempre é bom.

      Abraços.

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  3. "O inferno são os outros" Sartre

    Falta senso de coletividade ao brasileiro, este é um dos problemas crônicos do país. Quem é dito "superior" ou "acima da média" quer muito mais se diferenciar da massa (status kkk) do que propriamente fazer algo para ajudar o país a se desenvolver.

    Ótimo post, Abujamra é eterno!

    Abraços, Renato C

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    1. Lembro que quando fiz vestibular na Fuvest, a dissertação da segunda fase era sobre essa frase do Sartre.

      Sim, gostava muito do Abujamra.

      Abraço Renato!

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    1. Sim, boa lembrança. Ele era um grande ator também, principalmente de teatro, área na qual tinha um grande conhecimento.

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  5. Meu nível de auto-engano é bom no futebol, mas no surfe as vezes acho que sou muito humilde... Post muito bom e gostei da provocação estou refletindo aqui sobre tudo que eu me acho muito foda.

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    1. Eu também, colega. Creio que preciso ir um pouco mais com gana no surf de vez em quando, mas isso está mais relacionado com a confiança. Quanto mais se surfa, mais confiante se sente.

      Abraço!

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  6. Soul, esse post foi bem bacana.
    Se alguém pensa que é horrível e um ser humano péssimo, nem vai se esforçar para melhorar ou fazer outras coisas. Deve continuar com ódios e raivas eternos.

    Infelizmente, a grande mídia massacra o bom senso, faz com que as pessoas se odeiem, além de impedir o pensamento.

    Abs

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    1. Olá, colega.
      Sim, a imprensa tem um papel fundamental numa sociedade livre e democrática.
      Às vezes, infelizmente, essa mesma mídia se esquece desse papel, e se presta a espalhar rancor, medo e ressentimento. Cabe a nós refletir a respeito, e tentar separar o que é bom ou não para nós enquanto humanos, indivíduos e cidadãos.

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  7. FAla, Soul,

    O que você acha da musculação para melhorar as habilidades no surf? Já tentou algo assim ?

    Abs,

    Carioca

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    1. Olá, colega.
      Essencial. Eu deveria ter feito mais exercícios funcionais para surf, foquei muito apenas para caminhadas. Não estou me alongando muito também na viagem, e estou um pouco encurtado, o que não é uma boa sensação.
      Quero ver se crio uma rotina de alongamento e alguns exercícios. Quanto mais alongado e preparado o seu corpo, melhor para a prática de uma atividade tão intensa como o surf.

      Abraço

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  8. O pior do Brasil não sei se é o brasileiro, mas o pior da Argentina é o argentino!

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    1. É bom ter rivalidade com os argentinos, desde que seja saudável. Vejo a rivalidade entre australianos e kiwis e é algo muito interessante.
      A primeira vez que estive em Buenos Aires há 10 anos, fui positivamente surpreendido com a educação dos argentinos, muito diferente da experiência com argentinos em Santa Catarina.

      Porém, creio que a situação está feia por lá, o namorado da melhor amiga da minha mulher foi roubado e surrado em plena luz do dia na Caje Florida, algo impensável de acontecer alguns anos atrás.

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  9. Soulsurfer, muito bom texto.

    Existe um conflito enorme na minha cabeça sobre este ponto. Sou humilde em muitos quesitos e me considero na média na maioria deles, mas os resultados de sucesso ao longo da minha vida mostram o contrário, pois como posso me considerar na média e me destacar como o melhor em um grupo, seja na escola, no serviço militar ou na empresa. Talvez a modéstia me possibilite comer pelas beiradas para chegar mais eficientemente a um bom resultado, mas confesso que isso gera um enorme conflito na minha consciência.

    Na prática, sou feliz por fazer parte da média e conseguir resultados acima desta, por mais contraditória que seja esta frase.

    Sobre a crítica ao estilo "o pior do Brasil é o brasileiro", eu concordo com você. Muitas pessoas nunca sequer saíram do país e tendem a criticar aqui ou elogiar ali com base em informações bem superficiais. Existe realmente um problema muito grande no Brasil relacionado à cultura e ao histórico de comportamento, mas é um problema que precisa necessariamente ser resolvido pelos próprios brasileiros. O processo natural de evolução passa pela necessidade de amadurecimento e vivência da população para o atingimento de níveis mais elevados. Todos os problemas que estamos passando (políticos, sociais, violência, etc), de certa forma, são o motor para proporcionar a evolução, lenta é verdade, que pretendemos um dia atingir.

    Talvez, o que fruste algumas pessoas é justamente saber que são parte desta mudança, mas que não terão tempo suficiente para "aproveitar" os resultados das mudanças esperadas que ficariam para as próximas gerações.

    Um abraço

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    1. Olá, EI.
      Se gostou do meu comentário, gostei muito do seu.
      Creio que não poderia ter escrito melhor do que você fez nos últimos dois parágrafos.
      O meu receio é que nós brasileiros não temos um "mind set" de pensar muito a frente, e que a geração atual não esteja dando a mínima para as gerações futuras brasileiras.
      Assim, uma pessoa se preocupa com os filhos, ou seja com a próxima geração, mas se recusa a aceitar que ele não deveria poder se aposentar com 55 anos, pois isso prejudicará as novas gerações, o seu filho incluso.
      Essa miopia é o que mais me preocupa no Brasil, e que talvez impeça que discutimos e façamos as reformas tão necessárias para construirmos um país melhor.

      Sobre o seu primeiro parágrafo, não creio que necessariamente tenhamos que ser humildes, mas precisaria saber o que você entende por humildade. É claro que irão existir os acima da média, e é claro que em alguma coisa nós podemos nos destacar.
      Porém, você pode ser um engenheiro acima da média, mas nas outras 59.999 atividades possíveis estar apenas na média.
      Você pode ser um bom engenheiro, estar acima da média, mas não muito, no sentido de ser um dos 10 melhores engenheiros do mundo.
      Não nenhum problema numa alta auto-estima, isso é essencial para nos posicionarmos no mundo e descobrirmos algumas coisas. Entretanto, isso não pode ser um motivo para nos auto-enganar e achar que somos melhores que os outros em áreas que talvez sejamos idênticos às pessoas que eventualmente possamos criticar.

      Grande Abraço!

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  10. Como o PT ganhou 4 eleições presidenciais seguidas e eu votei sempre no opositor, considero ser "fora da média" neste quesito, o que depõe muito a favor de meu "QI eleitoral". De verdade, acho superficial essa sua avaliação de que o brasileiro que declara que o mal do Brasil é o povo esteja errado. O povo em sua predominância é inculto, apolitizado e inconsequente. Ou não? Ou estou sendo preconceituoso ou interpretando de forma errônea? Pois, se não estiver errado nesta minha afirmação, convenhamos que sou sim acima da média e por conseguinte posso criticar essa média. Creio ser importante ter análise crítica, e temo um mundo tão politicamente correto onde não posso sequer fazer uma análise crítica do povo no qual estou (infelizmente) inserido, sob o risco de ser julgado como sugere seu texto.

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    1. Olá, colega.
      No meu texto em nenhum momento eu disse se eu concordo ou não com a premissa de que "o pior do Brasil é o brasileiro". Pode ler que não há nada a este respeito. O meu texto foi construído sobre as consequências, muitas vezes não pensadas, sobre aceitar-se como verdadeira a premissa. Se a premissa é verdadeira, então eu mesmo também sou o pior de que há no Brasil, ou eu tenho que achar uma justificativa e quebrar o silogismo. Pode ser que seja boa, ou pode ser que seja apenas eu me auto-enganando sobre alguma característica minha.

      A análise crítica é essencial, e procuro nos meus textos sempre ser crítico. Sempre de ideias, e quase nunca de pessoas.
      Precisamos definir o que é "politicamente correto", para mim não exista ideia que não possa passar pelo crivo da análise.
      Assim, se uma pessoa quer justificar a escravidão, o holocausto, a superioridade ariana ou branca, ou seja, temas que para nós humanos do século 21 parecem superados (ver artigo meu sobre a herança), tudo bem. Porém, a pessoa precisa ter algum argumento, o que eu acho muito difícil em relação a estes tópicos.

      Abs

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  11. O pior do Brasil é o brasileiro.
    Isso não significa dizer que todos os brasileiros sejam uma lástima, mas sim que, na média, o conjunto é bem ruim.
    Diariamente me surpreendo ao ser desrespeitado por outros motoristas por simplesmente querer respeitar as regras de trânsito (nunca vou me esquecer de uma placa que li em uma estrada de Minas: "para sua segurança, acredite na sinalização").
    Em meio a multidões, as pessoas passam por você atropelando-o, como se fosse sua obrigação sair da frente.
    O sujeito que sai as ruas para criticar a corrupção é o mesmo que paga a algum despachante para "baixar" uns pontos na carteira. (Serviço que, aliás, é anunciado abertamente em cartazes colados em postes).
    Estudar (de verdade, não apenas frequentar o ensino formal) é visto com desprezo por muita gente.
    Os péssimos exemplos são tanso que daria para escrevermos um livro. Aliás, um não, vários livros.
    Pelo simples fato de tratar as pessoas com educação, cumprir meus deveres, estudar com afinco e trabalhar, já posso me colocar sem nenhuma prepotência muito acima da média dos brasileiros, mesmo sabendo que este deveria ser o comportamento padrão esperado da maioria da população.

    O pior do Brasil é o brasileiro médio.

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  12. Olá, colega,
    Você coloca características positivas suas para se afastar do que chama de Brasileiro médio. Logo, a sua premissa é modificada para acrescentar a qualidade médio.

    Também não gosto de muitas facetas do nosso comportamento enquanto povo, e talvez eu possua alguns defeitos que eu mesmo não gosto. Porém, temos sim qualidades positivas. A forma efusiva que sou tratado quando me identifico como brasileiro, quase todos os estrangeiros abrem um grande sorriso e só tem coisas boas a falar de eventuais brasileiros que por ventura travaram algum contato.
    Se falar de Educação, você não sabe o que é a Índia, quase ainda teve a oportunidade de visitar. O Indiano é único, com facetas boas e ruins, assim como o Brasileiro, assim como qualquer outro povo.

    Agora, se resolvemos atribuir apenas qualidades negativas a um grupo que pertencemos originalmente, é preciso muito malabarismo argumentativo para de alguma maneira nos excluir de um grupo que pertencemos, sem incorrer em erro de lógica, bem como em erro de julgamento documentado pela ciência da tendência de nos auto-enganar.


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    1. Você trouxe bons pontos para reflexão.
      Sem dúvidas, como qualquer outro ser humano tenho muitos defeitos conhecidos e outros tantos por mim desconhecidos.
      Dentre os defeitos que tenho e desconheço, muitos, possivelmente, são comuns à cultura em que me insiro.
      De toda forma, procuro seguir o comportamento esperado de todo bom cidadão e só por isso já me sinto muito distante da média do brasileiro, infelizmente (infelizmente, porque entendo que ser um bom cidadão deveria ser a regra, não a exceção).
      Não estou com isso de forma alguma tentando me colocar como uma pessoa virtuosa, até mesmo porque não sou e estou muito longe disso, mas sim dizer que, no Brasil, o simples fato de a pessoa respeitar regras básicas de convivência parece ser um comportamento acima da média.
      Mas é como você disse, se olharmos para outros povos talvez notemos que eles também tem seus defeitos. Índia, um exemplo muito apropriado que trouxe para discussão, nunca poderá ser levada a sério pelo resto do mundo enquanto seus cidadãos forem tratados de forma totalmente desigual apenas em função da casta em que nasceu.

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    2. Entendo. O ponto é que especificamente é muito difícil argumentar que somos melhores do que outros seres humanos principalmente para fins de nos destacarmos de um grupo a que originalmente pertencemos.

      Por exemplo, você diz que é educado, respeita as regras de trânsito, etc, isso é muito bom se realmente você age assim. Entretanto, isso não necessariamente significa que você ajudaria um vizinho em caso de necessidade (uma característica essencial de um povo forte, em minha opinião), ou que seja um bom marido, por exemplo. Você pode o sê-lo, mas não há uma ligação direta. Assim, alguém que desrespeita as regras de trânsito pode ser um ótimo vizinho, e como vamos no meio disso tudo, para fins de quebrar um silogismo dos mais básicos, atribuir quem é melhor ou pior? Eu acho difícil, contraproducente, ilógico, e o pior que às vezes impede a construção de pontes entre pontos de vistas divergentes, pois se eu me considero um brasileiro especial, por qual motivo um brasileiro comum iria querer dialogar ou fazer qualquer coisa em conjunto?

      Sobre a Índia, concordo que o sistema de castas é algo para nós ocidentais algo absurdo. Porém, a Índia possui uma história absurdamente rica (sério, é muita história para um só lugar), milhares de anos de existência e uma forma de ser única. A Índia sempre terá o seu papel de destaque no mundo, e se ela se organizar mais, pode vir a ser com certeza a segunda maior força do mundo no longo prazo.

      Abraço

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