domingo, 26 de outubro de 2014

REFLEXÃO - VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE LIBERDADE

                  Olá, colegas! Você é livre para dispor do seu corpo como bem entende? Os impostos são uma forma de coerção à liberdade do indivíduo? Somos escravos do Estado? São perguntas interessantes e provocativas, e estão no centro de debates teóricos e práticos no nosso mundo moderno.

                A posição libertária, como o próprio nome diz, parte do pressuposto de que o bem mais precioso do ser humano é a sua liberdade. Qualquer forma de coerção a essa liberdade é uma forma de ataque à própria dignidade do ser humano. Assim, se o Estado me cobra coercitivamente tributos, na verdade a minha liberdade e dignidade estão sendo feridas, pois se o fruto do meu trabalho é confiscado em prol da coletividade, isso nada mais é do que me obrigar a trabalhar pela coletividade de forma forçada, assemelhando-se a um trabalho escravo.

                Como assim, Soul? É simples. Se eu sou tributado em 40% da minha renda, quer dizer que em 40% do meu tempo (vamos presumir que para cada unidade de tempo corresponda uma unidade de renda) eu não estou trabalhando para mim, mas sim sendo forçado a trabalhar para os outros. Dizem os libertários mais radicais, se sou obrigado a trabalhar para os outros de forma forçada no que isso se diferenciaria da escravidão? Eu creio que essa forma de ver o mundo possui falhas. Porém, não é sobre isso que quero falar, mas sim sobre algumas conseqüências dessa forma de ver o mundo.

                Se a liberdade é o meu bem mais precioso com primazia sobre tudo mais, se posso dispor da minha liberdade da maneira que melhor me aprouver, desde que isso não fira a liberdade dos outros, isso traz conseqüências práticas bem diretas. Não haveria qualquer problema moral com o suicídio assistido, por exemplo. Aliás, não haveria qualquer problema moral com o suicídio em si.  Entretanto, avancemos mais no exercício.

                Se as pessoas possuem liberdade para dispor dos seus corpos como bem entendem, não há nada do ponto de vista dessa forma de ver o mundo, que proíba essas mesmas pessoas de se transformarem em escravos voluntários de alguém. Soul, essa hipótese é absurda. Será? Alguns anos atrás um alemão colocou um anúncio em um jornal se oferecendo para comer literalmente pessoas interessadas em vivenciar essa experiência. Dezenas de pessoas responderam ao anúncio, sendo que uma topou. Ela foi morta, e o nosso degustador bizarro foi preso quando já tinha comido boa parte do voluntário (mais informações http://pt.wikipedia.org/wiki/Armin_Meiwes). O alemão acabou sendo condenado a prisão perpétua pelo crime de assassinato. Porém, se o juiz fosse um libertário convicto, por qual motivo uma pessoa deveria ser condenada por assassinato, se outra pessoa de forma voluntária assentiu que fosse assassinada e devorada? A pessoa não possui a liberdade total sobre o seu corpo? A liberdade não é o nosso maior direito se sobrepondo a todos os outros em valor e dignidade?

                Se você ficou enojado com a história, e concordou com a condenação do Canibal de Rotemburg, então você implicitamente está questionando, mesmo que parcialmente, a ideia libertária mais radical sobre a liberdade irrestrita que temos sobre nós mesmos e que talvez haja outros bens e direitos tão importantes quanto à liberdade. Porém, avancemos ainda mais.

Um libertário mais radical em suas concepções não teria outra solução,desde que quisesse se manter coerente com seus pressupostos iniciais, a não ser inocentar o Canibal de Rotemburg. A ironia nesse caso é que o mesmo virou vegetariano na prisão, por achar que se alimentar de carne de animais confinados é um ato de extrema injustiça;

                Pressuposto básico dos libertários na área econômica é que trocas feitas por indivíduos no livre mercado, desde que esses indivíduos possuam igualdade formal (não há considerações sobre desigualdades materiais e nem nas distorções que isso pode ocasionar), é o que melhor se assemelha a um sistema social justo.  Se assim o é, desde que as pessoas livremente compactuem o que quer que seja, e desde que isso não interfira em direitos de outros, essa será considerada uma negociação justa. Pois bem.

                Se um país entra em guerra com outra nação, de quem é a responsabilidade pela defesa do país? “Do exército”, Soul, alguém pode pensar. E o Exército deve ser formado por quem? Essa não é uma pergunta simples. Há duas formas de formar um exército. Ou pelo alistamento compulsório ou pela contratação de mercenários (e mercenário aqui pode ser entendido como aquele que se dispõe a ir para guerra por troca de uma recompensa financeira). O alistamento compulsório pode ser explicado como uma obrigação cívica de todos os habitantes para com a sua nação. Porém, nenhum libertário pode sustentar essa obrigação cívica, pois essa “obrigação” (creio que um libertário não chamaria assim) não é baseada no consentimento livre, e o alistamento compulsório é uma clara violação da liberdade. Assim, parece-me claro que para um libertário a melhor alternativa será a formação de um exército de mercenários.

                Isso já vem sendo adotado em larga escala pelos EUA (na verdade até o próprio exército dos EUA é formado por pessoas que estão lá como uma carreira, não necessariamente por uma convicção) nas últimas guerras.  Poucas pessoas sabem, mas mais da metade das forças militares num determinando momento da ocupação do Iraque era formada por mercenários contratados de forma privada (um pouco mais de informação nessa reportagem da folha de 2007 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2005200701.htm). Portanto, não se pode mais falar que os EUA foram à guerra, mas sim que mercenários contratados pelos EUA foram à guerra em nome dos EUA.

                Particularmente, para mim isso é profundamente errado. A privatização da guerra possui conseqüências perversas em minha opinião. Além do mais, isso de alguma maneira acaba com um conceito muito antigo de obrigação cívica com o Estado em que você habita. Parece-me claro também que apenas pessoas, pelo menos na maioria dos casos, dos extratos sociais mais baixos se disporiam a ir combater alguma guerra. Quem escolheria ir combater num país montanhoso como o Afeganistão por dinheiro se não tivesse necessidade para tal? Poderia se falar de uma escolha realmente livre nesse caso ou simplesmente estaria se transferindo o ônus de ir para guerra para as pessoas mais pobres? Essa é uma conseqüência lógica de acreditarmos que justa é uma sociedade onde apenas sou obrigado a cumprir obrigações onde eu voluntariamente tenha aderido.

Esta era a maior empresa de serviços privados de guerra do mundo. Acusada de cometer inúmeros crimes e violações a direitos humanos no Iraque. Será que um admirável mundo novo está nascendo onde as guerras do futuro serão travadas por exércitos privatizados? 

                Qualquer outra “obrigação cívica” como ser jurado, mesário, etc, por essa perspectiva de ver o mundo, é um ato de coerção contra a liberdade e não haveria qualquer problema em ser privatizado. Aliás, isso é conseqüência até mesmo desejável para uma pessoa que acredite que a própria existência do Estado é um ato de agressão à liberdade humana, sobre essa "interessante" visão de mundo ver o meu artigo sobre o tema http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/08/reflexao-o-ato-de-fe-de-algumas-ideias.html

                Alguém poderia me dizer: “Soul isso tudo está me parecendo muito teórico, além do mais nunca fui chamado para ser jurado e o Brasil não entra em guerra com ninguém mesmo. Eu não me importo com essa discussão”. Amigos, essa discussão é extremamente importante e possui grande relevo prático.  Se o bem maior e inquestionável de um ser humano é a sua máxima liberdade, se não é possível a existência de obrigações sem um prévio consentimento, como ir para guerra, por exemplo, se o próprio conceito de obrigações cívicas é um absurdo para um libertário, então isso pode realmente significar que o ato de tributar é um ato de violência contra o indivíduo. Se não existem outras obrigações fora daquelas previamente consentidas, então o indivíduo não possui qualquer obrigação com a coletividade, não possui qualquer obrigação com a solidariedade para outros membros da sociedade e, portanto não tem qualquer obrigação pelo pagamento de tributos.  Creio que é por isso que meu amigo André do ótimo blog Viagem Lenta talvez insista tanto na filantropia. É por isso que vejo vários artigos no instituto Mises insistindo na filantropia.

                Por qual motivo a filantropia ganha relevo nessa discussão? Aqui apenas posso presumir. Todos que pensam dessa maneira reconhecem, nem que de maneira inconsciente, que sempre existirão pessoas mais necessitadas ou que temporariamente possam estar passando por problemas muito difíceis, sendo que uma simples condição de livre mercado possa não ser suficiente para dar conta desses problemas humanos. Porém, aqui se cria uma dificuldade. Se tributos nada mais são do que uma violência contra a liberdade humana, se não existem “obrigações cívicas de solidariedade”, quem será responsável por ajudar essas pessoas em dificuldade? A filantropia.  Como é possível garantir que essa filantropia irá existir em grau e volume suficientes para mitigar alguns sofrimentos humanos? Não se pode garantir, é impossível que isso seja garantido. Portanto, é necessário mais um ato de fé para abraçar completamente a forma libertária de ver o mundo: apostar no “bom coração” das pessoas.

                O leitor pode pensar: “Soul, você acha que os seres humanos são maus por natureza, é isso?”. Essa é uma ótima pergunta. Somos seres bestiais capazes de atos angelicais, ou somos anjos capazes de atos bestiais? Essa pergunta é sempre feita há milênios pelos seres humanos, e aqui adentramos no complicado tema da Natureza Humana. Eu acredito que somos apenas humanos, nem mais, nem menos do que isso. Isso quer dizer que não podemos exigir mais do que a nossa condição humana permite. Portanto, para saber do que a condição humana consiste, eu creio que devemos analisar o que é o ser humano, como ele se desenvolve, como ele evoluiu e como ele se comporta em diversas situações. Eu acredito quem melhor desenvolve essa análise atualmente é a Ciência. Portanto, eu acho quase todas as análises sobre o ser humano feitas pelas “ciências sociais” (não, leitor, estão longe de ser ciência na acepção correta do termo ramos do conhecimento como sociologia, filosofia, economia, etc) sem se importar com as mais novas descobertas da ciência são no mínimo capengas.  Esse é um tema muito interessante, e num outro artigo posso divagar mais sobre ele.

                Portanto, será que o ser humano se tornaria um filantropo para com os mais necessitados se a “sociedade ideal” dos libertários existisse ou isso é apenas um ato de fé? Não sei, mas um bom começo seria entender o que os mais diversos ramos da ciência tem a dizer sobre isso. A busca poderia começar sobre o próprio conceito fundamental para os libertários: o que a nossa evolução enquanto espécie, e o que a ciência hoje em dia tem a dizer sobre a individualidade? Ela é a única e principal característica a nos moldar enquanto espécie ou há outras coisas mais como solidariedade ao grupo, por exemplo?

Apenas um palpite, mas acho que iremos encontrar muitas respostas mais precisas para inúmeros questionamentos sobre o ser humano aqui, do que em livros sobre economia ou filosofia.

              
  É isso colegas, grande abraço a todos!

22 comentários:

  1. Soul, uma pessoa tão culta e eloqüente como você possuí todas as ferramentas a partir de um discurso que utiliza o radicalismo de uma idéia mostrar que a mesma é falha.

    Veja, não há e nem nunca haverá um modelo plenamente aceito como o ideal. Especificamente, sobre seu último texto, ontem mesmo conversei com um europeu radicado aqui há três anos. Ele foi muito lúcido em seu comentário : segundo ele a esquerda no mundo todo tem o mesmo discurso e ação, que é penalizar a classe média em prol dos miseráveis. Modelo Robin Hood. Isso pode ser interessante durante um escasso tempo. Mas, e depois?

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    1. Continuando... E depois que eles agora tem comida e TV e geladeira em casa. Será que 100 reais vão continuar suficientes? Não. É aí que entra um outro pensamento político, representado hoje pelo Aecio. Um modelo que faz a economia funcionar e da chances a este indivíduo crescer pela meritocracia. Então, mesmo que não possua uma ideologia, o óbvio para o pais é a troca de poder, caso contrário cairemos no chavismo, e como sabemos NUNCA houve um pais comunista que fosse democrático no mundo.

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    2. Olá, Guardião.
      Grato pelo elogio inicial, colega.
      Eu apenas não entendi a pertinência da sua mensagem com o texto sobre liberdade hehe
      Se foi baseado no meu penúltimo texto, lembre-se que também votei em Aécio. Também sou partidário da liberdade e acho a livre iniciativa uma boa forma de distribuir e produzir riqueza. Portanto, não entendi muito bem o seu ponto, amigo.

      Abraço!

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  2. A liberdade total inexiste e não há condições práticas para que ela ocorra. Está lá no contrato social que todos nós assinamos inconscientemente ao nascer.
    O ser humano é incapaz de se perpetuar sendo totalmente egoísta, vivendo por si só a sua maneira. Afinal somos "bestiais capazes de atos angelicais, ou anjos capazes de atos bestiais" e aí entrará o linha tênue do fim da minha liberdade e início da liberdade do outro indivíduo.
    Supondo um ser humano (cidadão 1) que, no exercício de sua liberdade individual, adquire uma metralhadora e dispara no centro de uma grande cidade, retira a vida de outro ser humano e declara que repetirá semanalmente o mesmo ato pois se diverte com aquilo, deveria continuar livre?
    Qual a garantia que os outros indivíduos, também parte da sociedade com suas liberdades individuais, teriam de que o seu direito à vida seria preservado com o cidadão 1 à solta?
    Deveria haver julgamento para o cidadão 1? Quem deveria julgar tais atos? Qualquer indivíduo no livre uso de suas liberdades individuais deveria ter o poder de julgar o cidadão 1? Alguém eleito pela sociedade?
    E se o julgador decidisse por restringir a liberdade do cidadão 1, este não estaria fazendo o mesmo ato do julgado, restringindo a liberdade de alguém (mesmo que não seja com a pena capital)?

    Enfim, trago mais alguns questionamentos para a discussão.
    Será que o bem a ser preservado e subsidiado deve ser a liberdade? Ou deveria ser a vida? Ou deveria ser o dinheiro? Ou deveria ser as relações entre os cidadãos?

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    1. Olá, colega.
      Grato pelo comentário.
      Eu acho que a liberdade, mesmo para uma concepção mais firme de liberdade, parte do pressuposto que o uso da minha liberdade só é legítima a partir do momento que eu não interfira em direitos e na liberdade alheia.
      Sendo assim, o cidadão 1 está distorcendo o uso da sua liberdade e de alguma maneira precisa ser detido.
      Quem irá julgá-lo, ou o que será feito com ele, é uma ótima questão. Quase todos os filósofos políticos vão falar que isso o cidadão 1 deve ser julgado pelo Estado, um ente que seja desapaixonado e represente a vontade de todos de forma imparcial.
      Há pessoas que acreditam ser possível uma outra solução, eu realmente, talvez pela minha limitação de ser histórico, não consigo sinceramente vislumbrar.

      As suas indagações ao final vão ao cerne da questão. A liberdade é o fim último da existência humana, sobre qualquer hipótese (partindo do pressuposto de que não se está interferindo na liberdade dos outros) ou há outros elementos que nos definem enquanto espécie e que são necessários para a criação de uma sociedade Justa?

      Abraço!

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  3. Soul, gosto muito, ou gostava, do seu blog (ultimamente sinto que se tornou um espaço para levantar e defender bandeiras progressistas, com clara tendência socialista).
    Acho que a pergunta que você tem que se fazer é: a quem pertence à vida de uma pessoa?
    A vida de um indivíduo qualquer pertence a ele mesmo ou a coletividade?
    Por que soul se um indivíduo não é dono de sua própria vida, se sua vida pertence à sociedade, então esse indivíduo é sim um escravo.
    Se minha vida me pertence, então sou eu e somente eu o responsável por cuidar dela e cabe a mim também decidir o que caminho que quero trilhar.
    Quando você diz que a sociedade tem uma obrigação de ser solidária, você está cometendo dois equívocos:
    1° não existe solidariedade forçada. Não pode existir solidariedade por obrigação. Ou você é solidário ou não. Eu não posso obrigar uma pessoa a ser solidária, posso ser solidário com o que o é meu ou com o que eu tomo dos outros.
    2° A sociedade é apenas um coletivos de indivíduos que convivem num determinado lugar.
    Há sim uma parte dos libertários que defendem uma sociedade sem estado. Mas é uma minoria, auto denominados anarco-capitalistas.
    Eu não acho que uma sociedade ideal seja uma sociedade sem estado. Mas o que temos de discutir é qual é o papel do estado. E em minha opinião o papel do estado é de harmonizar a vida em sociedade.

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    1. O estado deveria ser o garantidor das liberdades e dos direitos individuais. Proteger meu direito a vida. E quando falo de direito a vida, me refiro ao direito que eu tenho de que não atentem contra minha vida. O direito a vida não pode ser confundido com direito de receber da sociedade o que eu preciso para viver. O direito a vida é o direito de poder viver minha vida, sem que esteja prejudicando outras pessoas e saber que se alguém atentar contra a minha vida, será punido.
      O estado deveria também proteger os direitos que decorrem do direito a vida, que são os direitos de liberdade, ou seja, o meu direito de buscar minha felicidade com os objetivos que estabeleci, e o de propriedade, que é meu direito de usufruir dos frutos do meu trabalho, do tempo e do esforço que dediquei para conquistar algo.
      Isso soul não quer dizer que acho que deveríamos viver numa sociedade sem regras. Eu mesmo sou a favor do estado impor limites a atos individuais que possam colocar em riscos a vida de outros indivíduos, como beber e dirigir.
      O que eu não aceito de forma alguma e chega a me provocar sentimentos ruins é a idéia de que o indivíduo deve ser escravo de uma coletividade. Uma coisa é pagarmos impostos para manter um aparato estatal que irá harmonizar a vida em sociedade e proteger os direitos individuais, outra é a idéia de que o estado pode impor sobre uma parte da sociedade que sustente a outra parte, ou seja, que um conjunto de indivíduos que trabalham devem ser “solidários” com os que têm menos. Como disse acima, solidariedade é um ato voluntário, não existe solidariedade forçada.
      A produção pertence aos indivíduos que dela participaram. Uma coisa é os indivíduos abrirem mão de uma parte do que produziu em prol do estado que ira proteger os direitos de todos os indivíduos, outra é uma parte da produção escorrer para outros indivíduos que não produziram nada. Eu nunca aceitarei isso como justo e me sinto mal com essa idéia.
      Penso que os homens de bem precisam pegar em armas para se defenderem dessa idéia absurda. E quando digo homens de bem, não falo que aqueles que nada produziram são maus, mas sim os que querem impor sobre os outros suas ideologias coletivistas, que negam o direito a vida aos indivíduos, como se um individuo não fosse um fim em si mesmo, mas um meio para se atingir objetivos estabelecidos por aqueles que se colocam acima da humanidade e que quer governa-la.
      Querer definir os objetivos de uma sociedade é achar que está acima de outros indivíduos, achar que seus nobres objetivos estão acima dos objetivos de seu vizinho, aquele que quer apenas trabalhar e cuida da própria vida. Ao dizer que a sociedade tem a obrigação de ser solidária, você está impondo aquele seu vizinho sua visão de mundo. Quer que ele se submeta as suas vontades, como se suas visão de mundo fosse superior. E se ele não quiser se solidário, quiser apenas cuidar da vida dele, como irá obigá-lo?
      Você deveria pesquisar mais sobre os libertários, saberia que são veementemente contra a guerra.

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    2. Olá, colega!
      Primeiramente, eu me reservo ao direito de falar sobre os mais variados assuntos aqui nesse espaço. Acho que algumas pessoas apreciam, outras nem tanto (talvez gostariam que eu falasse mais sobre fundos imobiliários, por exemplo), mas se o respeito se faz presente não vejo nenhum problema da pessoa não gostar ou discordar.
      Outro ponto. Eu não procuro me taxar em nenhum grupo. Seja neoliberal, socialista, tucano, petista, libertário, etc. O que eu prezo é o pensamento independente, e uma busca genuína pela verdade, mesmo que isso signifique o questionamento de ideias pré-concebidas.

      Eu acho que o colega não entendeu talvez corretamente o que eu escrevi. A questão é se existem ou não outras esferas importantes para o ser humano ao lado da liberdade, ou se a liberdade é um bem supremo sobre quaisquer outras considerações (deixei bem claro também, que partindo do pressuposto que a liberdade está sendo exercida sem ferir direitos ou a liberdade de alguém).

      Portanto, uma resposta-pergunta como "A vida de um indivíduo qualquer pertence a ele mesmo ou a coletividade?" Parece-me um pouco fora do tom, dadas as premissas adotadas no texto.

      Em nenhum momento, posso estar enganado, eu disse que a sociedade tem a obrigação de ser solidária. Tanto é verdade que no final do texto, eu disse que devemos voltar as nossas atenções mais o que a ciência, e principalmente a neurociência, vem dizendo sobre o homem, do que termos visões sobre o que achamos que o ser humano deva ser. Por isso a figura no final do texto de um cérebro. Por isso, a minha figura é um cérebro. Eu acho que o nosso cérebro pode nos revelar muitas respostas, bem mais do que divagações às vezes sem correspondência com o mundo natural, o mundo onde vivemos e evoluímos.

      Na sua segunda mensagem, eu não creio que alguém discordaria dos seus dois primeiros parágrafos. A ideia do ser humano como um fim em si mesmo é muito forte no pensamento de Kant e é a base para os direitos humanos, e eu concordo plenamente. Portanto, concordamos aqui.

      O que não ficou claro, em sua bem elaborado argumento (e lembre-se que estamos falando de princípios, e acho que discussões principiológicas fundamentais, é algo que falta muito no Brasil) foram a algumas questões levantadas. Eu disse que não gosto de taxar pessoas em limites estreitos (apesar de infelizmente fazer algumas vezes) como libertário, etc. Eu posso ser contra a guerra, mas se a guerra chegar ao meu país, de quem é a obrigação de defendê-lo em termos de princípio? Mercenários?
      A questão colocada é se existem obrigações que independem do consentimento ou não, é uma questão muito interessante, e não acho que precisa ser vista com tanta paixão.

      Além do mais, não ficou claro também, como a sociedade como um todo deve lidar com pessoas em situação enfraquecida, se os tributos são uma forma de escravidão, quem seria responsável ou não há responsáveis e numa situação onde não houvesse filantropia e uma crise de fome, por exemplo, seria ético deixar pessoas morrendo à míngua?

      São indagações que para mim servem apenas para tentar entender melhor a complexa sociedade humana. Não tenho compromisso com nenhuma visão de mundo ou ideologia, apenas com o meu livre convencimento.

      Continue frequentando o espaço, mensagens como a sua só servem para engrandecer o meu pequeno espaço e a mim mesmo.

      Abraço!

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  4. Lembrando que os libertários não defendem a liberdade irrestrita há um limitador que é o principio da não agressão. Infelizmente não possuo o conhecimento adequado para discorrer sobre o tema.

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    1. Olá, colega.
      Sim, terceiro parágrafo: "Se a liberdade é o meu bem mais precioso com primazia sobre tudo mais, se posso dispor da minha liberdade da maneira que melhor me aprouver, desde que isso não fira a liberdade dos outros, isso traz conseqüências práticas bem diretas."

      O pressuposto mínimo é que o uso da minha liberdade não restrinja a liberdade ou direito de outros.

      Abraço!

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    2. Soul, é justamente neste ponto que está o pecado.

      Não é possível viver ser violar a liberdade alheia dentro de uma sociedade capitalista. Não custa lembrar dos jargões: "Sempre que há um vencedor, há no mínimo um perdedor"; "Não existe almoço grátis"; "No pain, no gain".

      Vamos partir das seguintes premissas e simplificações:
      1 - Uma sociedade socialista ou comunista é insustentável no longo prazo dentro do mundo prático. Não há o que divagar sobre isso, basta observar a história. Portanto só nos sobrará a opção da sociedade capitalista.
      2 - O capitalismo precisa que os indivíduos gerem riqueza e parte dessa riqueza gerada deve voltar para si como pagamento.
      3 - O contratante (pessoa física ou jurídica) quer gerar mais riqueza.
      4 - Dinheiro é necessário para a vida.
      5 - Não existem programas assistenciais.

      Então vamos lá: A própria definição de trabalho remete à venda de liberdade. Você vende seu tempo em troca de um salário mensal ou semanal. Ocorre que para que a empresa cresça, sempre haverá mais gente precisando vender a sua liberdade (perdendo) para que menos gente tenha sua liberdade plena (vencendo). E quanto mais cresce, mais essas relações se ampliam, tanto em quantidade como em forma de comprar a liberdade alheia por menores preços.

      Veja que mesmo tendo a falsa ilusão de que o trabalhador está fazendo uso de sua liberdade vendendo a mesma para o seu contratante. Não há como afirmar que o contratante não está restringindo a liberdade do seu contratado, uma vez que sem aquele emprego específico o indivíduo deverá obrigatoriamente procurar outro contratante que compre a sua liberdade por um preço, já que é impossível se viver sem dinheiro.

      Desta forma, não é 40% do seu tempo que você não está trabalhando para si, e sim 100% do tempo. "Se sou obrigado a trabalhar para os outros de forma forçada no que isso se diferenciaria da escravidão?"

      Assim, pelo menos no caso das relações de trabalho, sempre haverá alguém restringindo a liberdade do outro indivíduo.

      Refaço a pergunta do anônimo anterior mudando apenas as perspectivas:
      1 - A liberdade de um indivíduo qualquer pertence a ele mesmo ou a coletividade?
      2 - A liberdade de um indivíduo qualquer pertence a ele mesmo ou a outro(s) indivíduo(s)?
      3 - A vida de um indivíduo qualquer pertence a ele mesmo?

      Ass. Olho do Elefante.

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    3. Olá, colega.
      Nas questões de trabalho levantadas por você, parece-me claro que houve consentimento e parece que apenas isso basta para uma determinada forma de ver a justiça do mundo.
      Foi por isso que no meu artigo sobre Justiça, eu coloquei que essa não é a única forma de se pensar sobre uma sociedade justa.
      O seu raciocínio sobre a perda gradual de liberdade pode fazer sentido, mas o princípio fundamental é que as trocas estão sendo justas, pois são obrigações baseadas no livre consentimento (e talvez não seja tão livre se as condições materiais são diversas, mas esse tema já foi tratado no artigo sobre justiça).

      É claro que a liberdade de um indivíduo pertence a ele mesmo, porém não foi essa a indagação do texto. As indagações, repito aqui, foram essas:
      a) A liberdade é o maior direito é o que nos moldou enquanto espécie?
      b) caso contrário, há hipóteses onde a liberdade (mesmo que o uso da liberdade não esteja ferindo a liberdade de outros) pode ceder para outras considerações?
      c) Existem obrigações sem que haja consentimento (como servir o país no exército)? Há obrigações cívicas?
      d) Por fim, se há sofrimento humano degradante, há qualquer obrigação em mitigá-lo (e quando falo obrigação, isso exclui filantropia e os impostos que como dito nessa forma de ver o mundo são uma coerção à liberdade).

      Abraço!

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  5. Olá Soul! Em primeiro lugar, obrigado pela citação do blog. A admiração é mútua! Agora com o fim dessa disputa política, vou voltar a escrever mais sobre liberdade, economia de mercado, enfim... sobre um dos propósitos mais específicos do blog.

    Um primeiro comentário que faço da postagem é enfatizar a diferença de liberdade negativa e positiva. Acredito que vc já tenha lido sobre isso, mas muitas pessoas ainda não a diferenciam. Eu sou um partidário pleno da negativa, que significa basicamente ausência de coerção. A liberdade positiva é a mais usada pelas massas, e significa capacidade ou possibilidade, porém acho um conceito deturpado. Eu comecei a escrever sobre isso na postagem http://www.viagemlenta.com/2014/07/liberdade-e-poder-os-direitos-naturais-de-John-Locke.html e posteriormente, na segunda parte desse mesmo artigo, cujo link está ao final dessa página.

    Eu concordo que existem muitas batalhas morais a ser enfrentadas pelos partidários da liberdade plena. Mas o exemplo do canibal que você deu achei um pouco excessivo, pois o que se questiona nesse caso é a sanidade mental da pessoa que aceitou ser devorada. Quando falamos em liberdade de escolha, é fundamental que a pessoa seja psicologicamente sã. Sei que vc gosta dessa área e possivelmente terá considerações a fazer sobre o que é sã hehe. Mas de qualquer forma, eu concordo com vc que mesmo uma pessoa sã possa cometer ator morais duvidosos, e nosso problema continua. Não é de difícil resolução, mas acredito que essa consideração atenua um pouco o exemplo que você deu.

    Sobre os exércitos, divergimos de forma ampla, eu acredito. Não vejo problemas na contratação de mercenários, uma vez que isso faz com que as pessoas que não querem ir à guerra fiquem em casa e as pessoas que desejam ir à guerra, em troca de uma compensação monetária, o façam. Acho plenamente justo. Injusto seria obrigar pessoas pacíficas a estarem no front e pessoas que precisem de grana e topam o desafio serem proibidas de o fazerem.

    Talvez nossos pensamentos sejam diferentes pois eu não tenho possivelmente enraizado o conceito de "nação" ou "estado" dentro de mim. No meu entendimento, o ser humano é mais importante do que qualquer constituição supra-nacional. Sou um defensor do secessionismo. Pequenos estados ao redor do mundo seriam uma condição natural para o desenvolvimento da liberdade de cada pessoa. E assim, não acho que cada um deve seguir uma "obrigação cívica" com base em um sentimento nacional. Acredito que o indivíduo é livre para essa escolha.

    Em relação à filantropia, de fato não sabemos como será. Mas temos sim muitas indicações. Como citei em outro comentário, veja o ranking dos países onde a população é mais filantrópica. São os mais ricos. Riqueza vem com mais dinheiro para as pessoas, e uma das razões para tal é a diminuição de impostos. Eu acrescentaria o voluntarismo também, que não depende de dinheiro e não foi citado. Eu mesmo o faço e vejo muitos profissionais que também praticam, ajudando pessoas sem exigir pagamento monetário em troca. Novamente, o indivíduo fará a diferença em tal mundo. Mas, como comentei em seu outro post, isso não ocorre de uma vez. Precisamos sim de uma fase de transição.

    Abraço e boa semana!

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    1. Olá, André. O seu blog é de extrema qualidade e você sempre tem bons comentários:)

      O exemplo do canibal foi para realçar princípios. Veja, você teve que partir para (in)sanidade da pessoa, sem que esse dado tenha sido apresentado. Não creio ser a melhor forma de enfrentar o problema.
      Excessivo ou não, um juiz teve que julgar um ser humano e cerceou a liberdade do mesmo pelo resto da vida. A pergunta foi se uma pessoa possui liberdade irrestrita do seu corpo. Se você mesmo considerou excessivo, quer dizer que deve haver mais considerações sobre a liberdade tão ou mais importantes em determinados casos.
      Veja que você mesmo citou a moral nesse parágrafo, ao falar "atos morais duvidosos" você saiu da zona de neutralidade que essa corrente de pensamento prega sobre valores morais (e foi a linha de raciocínio de um colega aí em cima). Veja que com esse simples parágrafo, muitos outros temas surgiram que de certa maneira contrastam com a ideia de liberdade plena.

      Pois é. Aqui discordamos. Ninguém que ir à guerra, ou pelo menos a maioria das pessoas não querem. Porém, às vezes a guerra acontece. Ás vezes surge um nazismo, um ISIS, e quem deve ir combater? Você parece não aceitar a existência de outras obrigações não fundadas no consentimento, é uma opinião. Porém, nesse caso, ao se privatizar a guerra, o próprio problema moral da guerra começa a ficar em segundo plano. Por que se sou um americano eu vou me preocupar se os EUA vão para guerra no Iemen, se vão contratar mercenários africanos para guerrear no nome do meu país. Qual é a problemática moral se eu, meus filhos, amigos, vizinhos não precisaremos arriscar as nossas vidas em conflitos.
      E qual justiça há em mandar pessoas que necessitam de dinheiro para combater e morrer em nome de todos?
      Não acho correto, creio que isso mina o tecido social e a própria noção de coletividade.

      Também, não. Gosto da frase de Thomas Paine de que "meu país é o mundo, minha religião é fazer o bem". Porém, quer a gente queira ou não, a nossa história possui contornos com o país em que nascemos. Não só a nossa história, como a história dos nossos familiares.
      Ser um país pequeno em nada altera a possibilidade de haver guerras, pelo contrário. Por que você acha que há tantos conflitos em regiões como as montanhas do Afeganistão, Líbia, Iraque, etc, pois lá há diversos "mini-estados" ou "diversas tribos" que sempre estão guerreando por poder e influência. É por isso que quando Saddam caiu, quando Kaddafi caiu, Iraque e Líbia entraram num estado de caos.

      André, não acho que países mais ricos sejam mais propensos ao ato de doar. Para mim há mais valor moral num pobre repartindo um pão do que o Bill Gates dando bilhões de dólares. Comunidades pobres geralmente são muito mais solidárias pelo simples motivo se não houver solidariedade a vida é muito mais difícil. É como na natureza, geralmente a expulsão do grupo equivale a morte. Até pouco tempo atrás, para humanos a pena de banimento era tão terrível como a morte.
      Com o avanço tecnológico e material, algumas pessoas e sociedades talvez criaram a ilusão de que podem ser independentes da comunidade. Isso para mim é um erro, e a ciência vem demonstrando isso.

      Como disse, pode ser que aconteça, pode ser que não. Porém ninguém ainda respondeu se a filantropia e voluntariado não forem suficientes, de quem é a obrigação de cuidar de pessoas que estejam extremamente necessitadas por algum motivo permanente ou temporário? Se não houver ninguém obrigado (já que não temos obrigações cívicas), você realmente acharia ético deixar pessoas morrendo à míngua?

      Abraço!

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    2. Sim, Soul, concordo que citei a moral. Ética e moral são um dos temas que escrevo no blog e não acho-os excludentes de maneira alguma. Se pensarmos em direitos como "à vida", citado por Locke, entraremos em uma discussão se, impedir àquele que atenta à vida, mesmo que seja a sua própria, é moral ou não. Não é uma discussão fácil, eu concordo. Minha observação aqui é que se apontarmos sempre um exemplo de radicalização de uma teoria, todo um arcabouço de ideias pode desmoronar. Podemos pensar em diretrizes gerais e discutir casos específicos, sem perder o ideal dessas diretrizes.

      Eu confesso que não entendi bem sua argumentação sobre o direito/dever de ir às guerras. Não entendi como a problemática moral dos habitantes de um país em guerra pode ser alterada, se eles forem coagidos ou não a estarem no front de batalha sem apelar para um sentimento de nacionalismo, que não concordo. Para mim, a justiça sempre será maior em mandar para a guerra alguém que aceita um pagamento do que alguém que não desejasse estar lá por dinheiro nenhum do mundo. Não vejo prejuízo para o ideal de coletividade que vc apresentou.

      Sobre mini-estados, os exemplos que vc citou não são sociedades integradas ao mundo. Quando vc fala em coletividade, eu não penso no sentido nacionalista, mas mundial. Assim, esses exemplos citados estão alheios ao coletivismo humano, sem trocas econômicas, sem trocas de conhecimento, sem trocas culturais. A tendência já conhecemos. Quando falo de secessionismo, é algo para o futuro onde o mundo seja integrado de uma forma coletiva. Nesse caso, incentivos para a guerra serão muito minimizados. Sou a favor do porte de armas também. Ocorrendo de forma conjunta, guerras serão quase impossíveis. Hitles não arriscou invadir a Suiça rsrs.

      Soul, se eu fiz-me entender que acho ético deixar pessoas à míngua, peço que reconsidere. Nunca pensei dessa forma. Apenas acredito que as pessoas, como seres individuais, possuem uma índole melhor do que a de qualquer Estado. Esse é o ponto. Existem muitas teorias que mostram claramente que o objetivo do Estado é manter pessoas dependentes. Para isso, nunca permitirá o florescimento delas. É isso que combato. Nada claro, é perfeito, mas penso no benefício de forma geral, ou seja, em uma sociedade onde não existisse Estado, a transferência de renda dos mais abastados para os menos abastados seria maior, sem intermediários. E moralmente voluntária.

      Abraços! :)

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    3. Então,
      Direito ninguém pode ter de ir a guerra né:)
      O que você não entendeu especificamente? Para mim parece-me claro que quando se privativa uma guerra, qualquer responsabilidade ou peso ético que possa cair numa sociedade que possa sofrer o peso desse mesmo conflito fica extremamente mitigado. Além do mais, transfere o ônus de ir para guerra para grupos mais necessitados, isso sim não me parece nada justo. Para mim o prejuízo é total.

      Como assim? Sem trocas econômicas e culturais? É claro que há trocas econômicas e culturais entre os lugares citados. Os meus exemplos foram apenas para dizer que Estados Menores não necessariamente levarão ao um mundo mais equilibrado, sem guerras e violência.

      Não, André, não pareceu isso e eu nem iria imaginar que você pensava isso. Estamos discutindo princípios. Você ainda não respondeu, se não houvesse filantropia ou voluntariado de forma voluntária no volume necessário apenas para ajudar os problemas humanos mais difíceis (como atualmente já ocorre), de quem é a responsabilidade por ajudar essas pessoas? Se não vai haver Estado, ou esse será mínimo, se as pessoas não são moralmente responsáveis, apenas por meio de voluntariado, existe alguém responsável? Sim ou Não? Por tudo que falamos agora, se falarmos apenas de princípio, a única resposta para ser coerente é: não, não existe ninguém moralmente responsável nessa situação. Não há obrigações para com a comunidade, o que existe são atos voluntários, pois caso contrário seriam coercitivos.
      Se não há obrigação moral nesse caso, deixar pessoas morrendo à míngua (esqueça do que você pensa, e sim o que essa forma de pensamento conduz de maneira lógica) seria amoral, não seria anti-ético ou imoral.

      Abraço!

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    4. "Direito" foi mal colocado. Quis dizer em desejar e ter direito à grana em troca da ação voluntária rs.

      É, talvez eu tenha entendido, mas de fato, não concordo mesmo rsrs. Não entendo como o peso ético sobre um Estado agressor é potencializado ou mitigado se entre sua linha bélica de frente existam pessoas que foram coagidas a estarem lá ou não. A responsabilidade da decisão de ir à guerra que é determinante. Sobre as pessoas e a justiça de irem à guerra, reitero o que falei anteriormente.

      Soul, estados tribais no Afeganistão não estão no mesmo nível de trocas culturais e econômicas como Liechtenstein e Suíça, por exemplo, que tornam a guerra ruim para ambos os lados. Pensei em algo mais profundo.

      Respondendo a pergunta: SE não houvesse filantropia e voluntarismo suficientes, de fato, não existiria um dever legal para ninguém ajudar ninguém. Provavelmente cairíamos no dever moral familiar, embora voltaríamos ao problema de alguém não ter família. O ponto aqui, entretanto, é mostrar que essa insuficiência é improvável em uma sociedade onde a riqueza ficasse nas mãos dos indivíduos e sua distribuição seria muito mais efetiva em relação à existência de um Estado. Foi esse pensamento que tentei mostrar nos comentários anteriores.

      Mas reitero que essa pergunta pode ser feita mesmo na presença de um Estado. Quantas pessoas já morreram na África de inanição com a presença de um poder centralizador? A carência existiu nesse caso e pode, supostamente, existir no outro. O fato é que para o exemplo com Estado, temos exemplos claros históricos. Para a outra alternativa, não...

      Soul, se continuar, volto apenas à noite agora. Abraço!

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    5. Claro, não tenho a menor dúvidas de que uma Suíça possui trocas culturais e econômicas alguns graus de potência mais complexas do que as tribos na região montanhosa do Afeganistão. Talvez o meu exemplo não tenha sido adequado mesmo, apesar de achar que tamanhos de Estados não necessariamente tenham uma correlação positiva com violência entre os mesmos.

      Claro, eu já tinha entendido. Porém, agora ficou claro.
      Sim, André, mas lá estamos falando de comunidades altamente pobres e com grande grau de violência. Lá também se pode falar que em certas regiões não há Estado, muito provavelmente há mais poderes para-estatais do que estatais.

      Veja, não estou louvando aqui o Estado, apenas querendo deixar claro os princípios por trás de determinadas concepções. Eu, por exemplo, creio que haveria sim uma obrigação moral, é minha forma de ver o mundo. Eu acredito que temos obrigação moral com crianças morrendo na África (já que você citou esse continente, que aliás foi o lugar onde nós surgirmos, e é tão mal-tratado).
      É a forma que eu vejo a vida e possui mais coerência com que eu acredite ser certo, e isso não inviabiliza a existência de outras formas correntes de ver o mundo.

      Valeu, pela discussão André! Sempre bom trocar ideias contigo, colega.

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  6. Soul,

    Queria comentar o seu parágrafo abaixo:

    Pressuposto básico dos libertários na área econômica é que trocas feitas por indivíduos no livre mercado, desde que esses indivíduos possuam igualdade formal (não há considerações sobre desigualdades materiais e nem nas distorções que isso pode ocasionar), é o que melhor se assemelha a um sistema social justo.

    Aqui vou, agora, no meu comentário. Li um post seu, de Maio passado, "DOCUMENTÁRIOS - SOMOS TODOS TERRÁQUEOS" aonde comenta e recomenda alguns. Assisti neste fim de semana o Zeitgeist II e estou ainda assistindo o terceiro da série (Zeitgeist: Moving Forward). Creio que este seja o mais interessante deles. Estou na parte em que ele estabelece algumas correlações de diversas mazelas da sociedade com uma outra variável que é chamada de "estratificação socioeconômica da sociedade" (01:26:48 hora do documentário). Expectativa de vida, abuso de drogas, doenças mentais, capital social (a capacidade de as pessoas confiarem uma nas outras), índices educacionais, taxa de homicídios, taxa de criminalidade e prisão. E cita ainda: mortalidade infantil, obesidade, taxa de natalidade na adolescência. E por final, taxa de inovação científica que contradiz o saber comum de que uma sociedade competitiva é mais criativa e inventiva. Todos estes itens são melhores em sociedades mais igualitárias (mais achatadas na pirâmidade da estatificação da riqueza).

    Enfim... a "mão invisível do mercado" (parece que o termo foi cunhado por Adam Smith), e que é fortemente defendida pelos expoentes políticos/economicos da mainstream norte americana, não levam ao pressuposto libertário defendido no primeiro parágrafo que copiei de seu texto (mais justiça social).

    Prefiro ser um libertário aos moldes dos países escandinavos + Suiça + Alemanha, do que a dita sociedade libertária norte-americana.

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    Respostas
    1. Olá, Carlos. Preciso rever o ZIII.
      Para mim esses indicadores são tão ou mais importantes do que o PIB, para ser bem sincero. Li um discurso do Kennedy feito em 1968 extremamente inspirador e vai bem nesse sentido.

      Nem adentrei muito no mérito. Procurei nesse primeiro momento refletir sobre princípios e a solidez dos mesmos.

      Abraço!

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  7. Dois meses em total estagnação e um pequeno mundo desmoronado, esse foi o resultado de uma terrível tragédia familiar. Refletindo em como viver os próximos anos da minha vida, recebo um tal de "insight" e tudo acontece repentinamente...hoje, tenho 25 anos, não tenho filhos e estou solteiro. Foi uma decisão fatigante mas acabo de abandonar o curso de ciências farmacêuticas em uma universidade pública, fiz um acordo no trabalho e estou livre para pensar fora da caixa, dessa situação aprendo que a segurança é um sentimento pérfido.

    O Campo de Batalha surge como o diário de um jovem homem brasileiro resiliente, um sonhador de origem humilde com uma enorme apetência de vitória, que como milhões de outros continua lutando pela tão sonhada independência financeira. Há um ano estudando de forma autônoma posso afirmar, conheço de perto todas as dificuldades que rodeiam os iniciantes do universo empreendedor e no mercado financeiro!

    Deixo antecipadamente um pedido de perdão aos especialistas, analistas de mercado e imortais da Academia Brasileira de Letras, o objetivo aqui é dividir o conhecimento acumulado (e aprender) da forma mais simples possível, prometo que com o tempo e a prática irei melhorar.

    Assim começa uma nova história, repleta de objetivos e sem saber quais obstáculos terei que enfrentar nas sinuosidades da caminhada, se você tiver coragem e disposição para enfrentá-los traga uma mochila bem grande, vamos mergulhar juntos em um mar repleto de novas luzes, é uma região selvagem e somente com muita disciplina vamos vencer os desafios... quem sabe assim deixaremos uma trilha menos perigosa para novos exploradores.

    Conto com o seu apoio, envie críticas, elogios, sugestões de conteúdo e revisão textual, o blog é seu!

    LINK: http://campodebatalha1.blogspot.com.br
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