quarta-feira, 6 de agosto de 2014

REFLEXÃO - A INCOMPREENSÃO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS

                "As ideias tomam conta, reagem, queimam gente na praça pública" Oswald de Andrade (1928)

                   Olá, colegas! Depois de dois artigos sobre finanças, hoje gostaria de falar sobre um tema mais geral, e aqui no Brasil de certa forma polêmico, apesar do motivo ser um enigma para mim. Afinal o grande pensador Paulo Maluf estava correto ao dizer: “Nossa Política é boa, o que atrapalha é essa política de direitos humanos para bandidos” (http://noticias.uol.com.br/album/2013/09/02/qual-e-a-frase-mais-polemica-dos-82-anos-de-maluf.htm#fotoNav=11)? Essa frase encontra ressonância em muitas pessoas no Brasil, inclusive em alguns da classe política, sob o pretexto de que direitos humanos servem apenas para proteger criminosos de alguma punição exemplar.  Será que isso é verdade? Ou melhor reformulando a questão, será que essa forma de ver o mundo nos leva a uma sociedade melhor?

                Primeiramente, o que são direitos humanos? Direitos humanos nada mais são do que direitos atribuídos a uma pessoa pelo simples fato dela ser humana. Logo, são direitos que todos possuem independente se nasceram mulher num campo de refugiados no Congo, ou filho de alguém da família real do Camboja ou na progressista Sidney na Austrália. Portanto, pelo simples fato de ser humano  é atribuído uma série de direitos e garantias de que estes mesmos direitos não sejam violados ou abusados.

                Onde surgiu essa noção? Parece claro que ela nasceu do conceito de igualdade fundamental entre os homens, pois só é possível reconhecermos que há direitos atribuíveis a todos os membros de uma sociedade, quando deixamos de lado conceitos como direitos divinos, divisão de direitos fundamentais baseados em castas, etc.  Não vou me alongar na formulação histórica do conceito de direitos humanos, até porque seria uma digressão longa e acima dos meus conhecimentos, mas posso dizer que a configuração atual dos direitos humanos, pelo menos para nós ocidentais, nasceu com a revolução francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789 (A Declaração de Independência dos EUA foi um marco também, e a criação do conceito de Habeas Corpus na Inglaterra no longínquo ano de 1215 é tido como o primeiro marco histórico).

                Revolução francesa, um monte de esquerdistas revolucionários (muitas pessoas não sabem mais o termo direita e esquerda foi cunhado nessa época, os esquerdistas eram considerados aqueles que eram mais inovadores e sentavam-se à esquerda da “mesa diretora” da Assembléia Nacional. Dá  para perceber que é um termo anacrônico para um mundo cada vez mais complexo como o nosso), o que será que essas pessoas conceberam como direitos humanos? Faço questão de citar a Declaração elaborada em 1789:
Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5.º A lei proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11.º A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a colecta, a cobrança e a duração.
Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.

                Percebam, colegas, que o último artigo é o estabelecimento que a propriedade privada é um direito humano. Sim, os primeiros direitos humanos, conhecidos como direitos humanos de primeira geração, foram concebidos como uma maneira do indivíduo se proteger da ação arbitrária do Estado, que na época era Absolutista. Sendo assim, nenhum humano poderia ser mais torturado, preso sem que houvesse uma lei anterior que considerasse crime, impedido de exercer a sua liberdade de se expressar ou privado de maneira arbitrária de suas propriedades.

                A humanidade, e ainda muitos países infelizmente são assim, conviveu milênios sem que esses direitos que consideramos básicos fossem garantidos ou até mesmo existissem. Portanto, quando as pessoas hoje em dia no nosso país simpatizam com a tortura, a prisão sem um devido processo legal, a possibilidade de se cercear a liberdade de expressão, é preciso ter em mente que a humanidade já teve tudo isso e os resultados, se a pessoa não fosse do seleto grupo dominante, não eram agradáveis. Nós já vivenciamos a barbárie, e os direitos humanos são a evolução cultural humana, uma evolução moral da humanidade.

                Com o passar do tempo, o espectro de direitos humanos foi aumentado. Depois da revolução industrial e a condição precária de vida de muitas pessoas em quase todo século 19, surgiu o conceito de direitos humanos sociais nas Constituições Mexicana e Alemã do início do século passado. Logo, os humanos também viriam a ter direitos de acesso à educação, à saúde, a alguma espécie de proteção contra a invalidez (e daí que viria a surgir o conceito de previdência pública), etc. Diz-se que os países desenvolvidos da Europa conseguiram promover esses direitos para as suas populações principalmente na segunda metade do século passado. Atualmente, há uma grande discussão sobre a sustentabilidade desses sistemas europeus ou não, e não vou entrar nessa discussão que é interessantíssima, mas o fato é que o que se discute é a aplicação desses direitos humanos chamados de segunda geração.

                Por fim, nas últimas décadas se fala do surgimento de direitos humanos de terceira geração, que seriam o direito de ter acesso a um meio-ambiente saudável (inclusive os direitos humanos de gerações futuras de ter acesso a ecossistemas sustentáveis), o direito à informação, o direito à privacidade digital (e a polêmica do caso Snowden é sobre isso), etc. Portanto, a gama de direitos humanos hoje em dia é imensa, fruto da nossa evolução, bem como da complexidade das nossas relações e da nossa tecnologia.

                Portanto, limitar o alcance dos direitos humanos a uma discussão de política criminal é um erro histórico, conceitual e material. Negar direitos humanos é simplesmente negar o seu direito de ter acesso a um meio-ambiente saudável, ter direito à informação, direito à saúde, direito a não ser torturado, direito a um processo legal conduzido por uma autoridade imparcial, etc.

                Ok. Soulsurfer, até aqui nada a objetar, mas você considera certo que um "bandido" tenha direitos humanos, mesmo que ele tenha matado várias pessoas? Sim, eu considero certo.  Vejam, como dito no corpo desse artigo, os direitos humanos são “adquiridos” pela pessoa pelo simples fato de nascerem (e há direitos garantidos para aqueles que foram concebidos, mas ainda não nasceram) humanos.  A proibição da tortura e o direito de  qualquer um ter acesso a um devido processo legal são garantias que servem a toda coletividade, e não apenas a um indivíduo em especial. É porque ninguém pode ser torturado que posso ficar tranqüilo de nunca vir a ser torturado no futuro.

                Ok, então se um criminoso tortura uma família, está tudo certo, você vai defender o criminoso e deixar a família que sofreu a violência desassistida? Não, a toda evidência, e é esse tipo de argumento que costuma embasar a críticas a organizações de direitos humanos. É de se deixar claro se uma pessoa comete um crime definido em lei, a mesma deve ser punida conforme a legislação em vigência.  Se fôssemos combater todos os crimes cometidos no Brasil, quando alguém dolosamente sonega um imposto, quando alguém dirige embriagado, quando alguém agride o meio-ambiente, etc (a lista é bem longa, e aposto que a maioria da população já fez algum ato criminoso), o sistema simplesmente entraria em colapso. Assim, não vou me ater a todas as espécies de crimes, o que seria do ponto de vista racional e intelectual o mais correto, mas aos crimes que agridem diretamente a integridade física das pessoas. Porém, até aqui pode se falar que alguém que não paga o imposto devido, provavelmente está prejudicando a vida de outras pessoas ou alguém que polui um rio e leva pessoas a ficarem doentes anos depois, mas não vou me estender nesse tópico e irei me concentrar nos crimes onde há uma maior cobertura midiática.

                Quando alguém comete um homicídio, sequestra alguém, ou comete qualquer ato violento, essa pessoa deve ser punida, conforme a legislação.  A punição não deve ser aquém nem além do que prevê a lei, e esse é o fundamento básico do Estado de Direito.  Diz a legislação que pessoas que cometem crimes dessa gravidade devem ser segregadas do convívio social, ou seja irem para cadeia, e assim deve ser feito.  Porém, a pessoa deve ser punida dentro da lei e pelos procedimentos que a legislação permite. Uma pessoa que tortura não pode ser torturada pela polícia, pois há uma diferença abissal entre um ato ilícito cometido por um indivíduo dentro da coletividade de um ato ilícito cometido por um agente estatal no exercício do monopólio da força.

                Soul, o que é esse exercício estatal do monopólio da força? Colegas, eu teria que fazer uma digressão bem grande aqui e citar inúmeros filósofos políticos que pensaram sobre a formação e os pressupostos do Estado Moderno. Porém, simplificando, as pessoas para viver em coletividade aceitam abdicar do uso da força, a exceção de casos em legítima defesa, para o Estado, pois este deve ser imparcial nas resoluções dos conflitos e pode apenas usar a força nos limites estabelecidos pela lei, para que o uso da força não seja arbitrário. Portanto, o Estado possui o monopólio do uso da violência numa sociedade, mas essa violência deve ser feita de forma legal e organizada. A partir do momento que se permite que agentes estatais no uso do monopólio da violência, basicamente a força policial, transgrida os limites estabelecidos pela lei, estamos diante de um rompimento do pacto fundamental de qualquer sociedade moderna. Portanto, alguém que tortura uma família deve ser processo, julgado e ,se comprovada a sua culpa, preso. Porém, isso nunca pode ser uma desculpa para o órgão estatal torturar seja quem for.

                Certo, mas não parece utópico para você Soul? Do que adianta essas palavras “bonitas” num país que vive um estado de insegurança enorme? Amigos, o nosso estado de insegurança não vem do pretenso respeito aos direitos humanos dos “bandidos”, mas sim de erros gestados por muitos anos em nossa sociedade. É muito mais fácil falar “bandido bom é bandido morto” do que pensarmos numa forma das nossas polícias serem mais eficientes e mais transparentes. É fácil dizer que um suposto criminoso não  deve ter direito à defesa, do que melhorar nosso sistema jurídico, para fazer que o mesmo seja mais célere e eficiente, e assim sucessivamente.  É a mesma lógica que infelizmente ainda temos em nossa economia e em diversos outros assuntos sociais e políticos importantes. Por exemplo,  é mais fácil aumentar o IOF para viagens internacionais, já que muita gente viaja para fora do país para gastar, do que tornar a nossa economia mais produtiva e eficiente e os produtos mais baratos.  Nós, enquanto nação, precisamos começar a dar de ombros para essas soluções fáceis para problemas complexos, e começarmos a pensar que problemas difíceis envolvem soluções difíceis e quase todas de médio/longo prazo.


                O uso da violência e o desrespeito aos direitos humanos não produzem nada positivo, muito pelo contrário, eles acabam criando monstros. Vou falar sobre um monstro criado dentro do Brasil e outro extremamente assustador gestado no exterior em dois artigos específicos sobre isso. Portanto, quando um político ou alguém vier a dizer que o problema de segurança no Brasil é causado pelos direitos humanos, desconfie, pois essa pessoa talvez não saiba exatamente que são, como surgiram e evoluíram e para que servem os direitos humanos, e talvez esteja apenas tentando uma solução simples e falha para um problema que deve ser atacado em diversos fronts. Não é demais lembrar que inúmeras organizações de direitos humanos são aquelas que dizem que há violação de direitos humanos na Síria, na Venezuela, nas prisões clandestinas que eram mantidas pelos EUA no exterior, etc, etc. Geralmente são instituições sérias, quase sempre perseguidas pelos governos e muitas vezes a única voz de milhões de pessoas oprimidas em inúmeros lugares nesse planeta.

               Por fim, deixo dois vídeos curtos muito bem feitos de uma dureza e delicadeza ímpar produzido pela respeitada Anistia Internacional:




               Um grande e cordial abraço a todos!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

FII - FUNDO DE PAPEL : O QUE REALMENTE ESTA ESPÉCIE DE ATIVO É?

            Olá, colegas. Tem um tempo que quero escrever sobre o mercado de Renda Fixa. Vejo que é um tópico onde há poucas postagens seja em blogs, seja na mídia especializada, que vão além de explicar qual é a diferença entre uma LCI e um CDB ou outras questões que não abrangem os pressupostos do mercado de dívida. Primeiramente, devo esclarecer que como os fluxos da renda desse mercado são fixos (daí vem o nome), há muita matemática na análise dessa espécie de ativo. Muitas vezes as análises estão em alguns graus, em alguns casos muitos graus, acima dos meus parcos conhecimentos seja de finanças, seja de tratamento matemático. Portanto, eu estou longe de conhecer profundamente esse tipo de ativo. Porém, creio que posso contribuir com alguma coisa.
            Em segundo lugar, não vai ser hoje que vou começar uma pequena série sobre Renda Fixa. Eu estava começando a estudar alguns fundos de papel, e ao ler uma carta de um administrador sobre os riscos do investimento no FII em questão, apenas ficou claro o que eu já falei algumas vezes: FII de papel é renda fixa, em nada se confunde com um FII que investe em imóveis para gerar receitas operacionais de aluguel. Além disso, FII de papel é muito mais complexo de se analisar do que uma NTNB do tesouro direto, por exemplo.
            Isso quer dizer que FII de papel é ruim? Não, claro que não, pode vir a ser um ótimo investimento, porém como acredito que cada ativo tem uma função numa carteira diversificada, é muito importante o investidor ter em mente no que investe para não exigir de um ativo algo que ele dificilmente vai fornecer. Portanto, a distinção de FII de papel x FII de “tijolo” é fundamental. Se um investidor possui 100% em FII, mas com 40% em FII de papel, ele para mim está posicionado em 60% FII e 40% Renda Fixa.
            Vou reproduzir a carta que eu li do gestor do fundo PLRI e vou tecer alguns comentários (http://www.polocapital.com.br/fundos/citibank/fundo.php?fundId=10, pesquisar relatório de junho):
“A dinâmica de oferta e demanda de capital no setor de high-yield (1) segue favorável, conforme delineado nas cartas anteriores. Contudo, houve incremento em certos fatores de risco de forma que cabe uma discussão mais detalhada
No âmbito macro, a atividade econômica mais fraca pode acarretar dinâmicas que culminem em maiores níveis de inadimplência em diversos segmentos de crédito. Além disso, dada a fragilidade do balanço fiscal brasileiro, há o risco de nova pernada de aperto monetário o que reduziria o valor dos ativos já em carteira E, finalmente, pode haver surpresa inflacionária. (2).
Quanto aos riscos macro, o Fundo tem proteções razoáveis. A totalidade da carteira de CRIs do Fundo é indexada à inflação, de forma que uma surpresa inflacionária não constitui necessariamente um risco para o posicionamento atual. (3)
Em relação a uma eventual alta de juros, há que se fazer uma distinção. Se o aperto monetário for motivado por alta das métricas de inflação, o Fundo beneficia-se da indexação mencionada acima. Se houver abertura de juros reais, os ativos em carteira teoricamente perdem valor, mas os fluxos de caixa serão reinvestidos a taxas mais elevadas. (4)
Em relação à inadimplência, a experiência da Polo Capital é de que a carteira do Fundo não segue necessariamente a trajetória de inadimplência observada nos bancos. Em 2012, por exemplo, houve aumento expressivo da inadimplência bancária no 2º trimestre, ao passo que no mesmo período as operações de crédito estruturadas pela Polo Capital registraram redução do nível de atrasos. A Polo Capital atribuiu este descolamento a (i) investimentos realizados em sistemas que possibilitam gestão ativa das operações em atraso, e (ii) curva de aprendizado na estruturação de créditos após vários anos de envolvimento no mercado de high-yield (5). Basicamente, as operações detidas pelo Fundo passam por rigoroso processo de estruturação, contam com um loan-to-value bastante baixo e cadente, e tipicamente têm uma garantia real associada. O resultado é um desincentivo ao tomador em atrasar os pagamentos ao Fundo. O controle viabilizado pelos sistemas internos garante uma vigilância que disciplina o devedor. (6)
No âmbito micro, observou-se uma piora no setor imobiliário, com queda de preços em algumas regiões e aumento de distratos. Como o Fundo tem exposição relevante ao setor de construção e, no rol de garantias, tem predileção por ativos imobiliários, essa deterioração setorial merece discussão.Para os recebíveis performados, a dinâmica de preços atualmente observada não deve afetar a propensão do devedor em se manter adimplente com a dívida. Ocorre que, como o loan-to-value das operações tipicamente situa-se abaixo (algumas bem abaixo) de 70%, há uma proteção relevante para queda de preço de ativos imobiliários. De forma estilizada, uma operação com loan-to-value de 70% pode tolerar uma queda de até 30% no valor da garantia até que inadimplir seja economicamente interessante para o devedor (7) (assume-se ausência de custos e indiferença ao risco de uma execução, premissas não-triviais) (8).
(1)  – o texto já deixa claro que é um fundo que investe no mercado de High-Yield. Geralmente, se divide a Renda Fixa em títulos governamentais e títulos privados, estes por sua vez são divididos em investment grade (grandes empresas-instituições com grau de classificação , feito por alguma agência de risco, baixa de risco) e High-Yield (empresas ou instituições com grau de classificação média ou alta de risco e por isso pagam um spread em seus títulos de dívida). Portanto, o texto já deixa claro que se investe em instrumentos com maior risco;
(2)  Indica que há forte exposição em títulos com alguma forma de pré-fixação. Logo, com uma alta do aperto monetário via aumento da SELIC, os títulos tendem a se desvalorizar. Percebam que esse parágrafo poderia ser substituído para uma análise sobre uma NTNB: inflação, problemas fiscais, etc, o que mostra que estamos falando aqui de títulos de renda fixa;
(3)  Parcialmente verdade. Sim, há proteção inflacionária, mas se a inflação fugir do controle os títulos podem sofrer grandes perdas, o motivo explico no próximo comentário;
(4)  Correto, porém quando há aumentos significativos da inflação, geralmente o movimento de aperto monetário quase sempre leva a aumentos nos juros reais.
(5)  Aqui o gestor aborda o maior risco no mercado de títulos High-Yield: o default. Basicamente, ele diz que o risco está amenizado pela curva de aprendizado da gestão na atuação do mercado de dívidas de alto rendimento. Ou seja, tem-se que confiar na expertise da gestora;
(6)  Outra forma de se prevenir do risco de default é que os FII de papel investem principalmente em CRIs que quase sempre possui algum colateral relacionado a um imóvel. Colateral é o termo financeiro para garantia (Sim, os famosos CDO da crise sub-prime americana nada mais eram do que dívidas colatelarizadas com algum bem imóvel – Collateralized Debt Obligation). Portanto, a métrica de Loan to Value (empréstimo para valor – no caso o valor do bem dado em garantia) é importante para se medir o risco de um default em determinado título. O fundo diz que possui métricas Loan To Value seguras, para se saber isso apenas olhando todos os CRIs adquiridos pelo fundo, bem como as garantias e as taxas de Loan to Value de cada CRI;
(7)  É correto o raciocínio. Quanto menor o Loan to Value, mais segura é a operação e mais seguro se torna o empréstimo no caso de uma crise imobiliária. Se ocorrer uma crise leve no setor e duração não maior do que 1/2 anos, é possível que esse LTV médio de 70% ofereça uma margem de segurança. O problema é se ocorrer uma crise aguda, como ocorreu nos EUA e em alguns países europeus, e houver uma desvalorização muito maior, esses títulos podem vir a sofrer muito, pois se as garantias começarem a ser executadas, muitos imóveis seriam jogados no mercado num momento de crise e baixa liquidez, e aí já dá para imaginar o que aconteceria nos spreads BID/ASK de negociação desses imóveis;
(8)  Aqui o gestor foi ao menos sincero ao dizer que o cenário traçado não levava em conta os custos de se executar uma garantia e que eles não são triviais, e não são mesmo. Adicione custos de advogados e de uma eventual judicialização da disputa, e estamos falando aqui de custos que podem chegar a 20% ou mais do valor da garantia;
             Portanto, colegas, vejam como pode ser complexa a análise de um FII de papel, e como as dinâmicas dessa espécie de ativo são bem diferentes de um FII de "tijolo".  Logo, com essa taxa de juros básica, com yields reais dos FII de "tijolo" numa média de 10% aa, o investidor precisa ser bem criterioso na hora de investir no mercado de High-Yield. O mínimo é exigir spreads que de alguma maneira compense os diversos riscos dessa espécie de ativo. 
            É isso colegas, grande abraço a todos!

terça-feira, 29 de julho de 2014

INVESTIMENTO - COMPRAS RECENTES DE FII E DE AÇÃO

              Olá, colegas! Hoje vou falar um pouco sobre operações que fiz essa semana. Primeiramente, talvez algumas pessoas já notaram, eu me interesso por temas mais gerais do ponto de vista das finanças, poderia dizer a parte teórica. Eu não tenho tanto interesse em saber o patrimônio das pessoas, bem como suas carteiras. É claro que esse é o ponto final num portfólio, os ativos que você decide comprar. Porém, para mim sempre são mais proveitosas as reflexões sobre os diversos aspectos dos investimentos, pois com base nesses aprendizados eu posso montar eu mesmo a minha própria estratégia e carteira. Porém, eu percebo que os artigos na blogosfera que abordam temas sobre rentabilidades, carteiras, etc, são  os aspectos que as  pessoas mais gostam de saber.  Nenhum mal nisso de forma alguma, apenas não é o que mais me atrai.

                Entretanto, hoje resolvi compartilhar algumas compras minhas e o motivo do posicionamento em alguns ativos. Vou citar o exemplo de um Fundo Imobiliário e de uma ação.

FII - TBOF

                O FII comprado foi o TBOF a R$ 62,20 (eu sou daqueles que acha que preço importa, principalmente em FII). Há um tempo fiz um artigo que ficou bem interessante, modéstia à parte, sobre parâmetros objetivos para análise de um FII. Vamos ver como se aplicariam os filtros a minha compra (http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/fii-parametros-objetivos-para-analise-e.html).

Valor de Compra: R$ 62,20
Localização: Excelente. O que me leva a crer que o empreendimento será competitivo por muitos anos ainda.
Padrão Construtivo: Excelente. O que me leva a crer que não precisará de muita manutenção nos próximos 10 anos.
Valor do Aluguel: Está na faixa de R$ 120,00 o m2, o que é algo bem razoável pela localização e padrão construtivo do imóvel.
Valor Patrimonial: o deságio ao preço de compra de R$62,20 é da ordem de uns 35%, nesse preço o m2 está na faixa de uns R$ 11.700, o que é uns U$ 5.000 dólares (com câmbio a 2,3), o que também é bem razoável.  O HGRE vem vendendo imóveis com padrão construtivo e localização inferior a preços muito maiores, o que mostra que há realmente um deságio patrimonial. Caso haja retração imobiliária, esse deságio fornece margem de segurança, e há potencial de crescimento caso o mercado imobiliário se recupere no médio prazo;
Yield: A renda real por quota é de R$0,39, o que no preço de compra dá um yield anual de 7,5%. Esse yield é maior do que a poupança e significa 70% do CDI. É sempre bom lembrar que o yield de um FII é uma medida real, ao contrário da rentabilidade nominal do CDI e da poupança. Analisando friamente os retornos imobiliários de imóveis próprios seria um yield líquido muito alto. Porém, a renda potencial (caso a vacância fosse zerada) é da ordem de R$ 0,62/0,66 por quota, o que pode gerar um rendimento real líquido de 12% a 12,7%, o que é excepcional.  Portanto, mesmo que a vacância venha a ser zerada daqui 1 ou 2 anos, o yield potencial é muito razoável pelo custo de oportunidade que no presente caso não é tão alto. Além do mais, caso haja diminuição da vacância, é natural que o preço da quota vá se ajustando, o que pode oferecer um duplo ganho de rendimento, bem como de valorização patrimonial;
Tamanho do Fundo/Quantidade de Imóveis: É apenas um imóvel, mas o fundo é dono do imóvel inteiro, sendo mais de 50 mil m2 de área locável, o que é bem considerável;
Qualidade de locatários e duração dos contratos: Os locatários são pulverizados, o que de certa maneira diminui o risco de concentração. Os contratos firmados possuem duração de cinco anos. Logo, quando for tempo para renovação, talvez o cenário de oversupply já esteja mais amenizado (lá por 2017/2018);
Taxas administrativas: Médias. Algo em torno de 7/8% do faturamento, caso a vacância seja zerada corresponderia a 5/6%, o que é bem razoável.

                Portanto, colegas esses foram os filtros utilizados. Comprei algumas quotas apenas, início de posição e posição alvo bem menor do que fundos mais consolidados como  HGLG, FCFL, BRCR, etc. Caso o fundo seja mais penalizado pelo fim da RMG, creio que vou aumentando  mais fortemente a posição.

AÇÃO - GRENDENE

                A ação que comprei foi a Grendene. Não vou aqui fazer um resumo da empresa, pois isso pode ser encontrado em vários outros blogs, até porque é uma empresa que o pessoal gosta. Eu já tinha posição nela e aumentei.
Preço de compra: R$13,33
P/L atual = 9,24
P/VP = 1,94 (não é o que eu gosto, mas também não é muito descolado);
Dividend Yield = 6,9%, o que é bem razoável para um payout de mais ou menos 55/60%.
ROE = 21%
ROE de compra (ROE/P/VP de compra) = 11%. É igual ao ativo livre de risco, não é o ideal, mas está razoável
Dívidas = Empresa não tem dívidas relevantes, o que é muito bom, e diminui e muito o risco mais grave numa empresa que é a quebra. Costumo ser bem conservador em relação a dívidas;
Receita e Lucro = Crescimento constante nos últimos anos.
PEG = P/L atual dividido pelo crescimento do lucro nos últimos cinco anos = 9,24/10,74 =  0,86. Não é um número espetacular, mas é bem razoável, principalmente porque a empresa não possui dívidas.
Margem de segurança = utilizo uma calculadora simples de Fluxo de Caixa Descontado, costumo utilizar parâmetros conservadores (o que faz com que o preço da ação fique menor):
Parâmetros = crescimento de 10% nos lucros nos próximos cinco anos (abaixo do guidance da empresa e da média dos últimos cinco anos)
Perpetuidade = 5% (coloquei um valor que seja aproximado ao centro da meta da nossa taxa de inflação)
Taxa de desconto = 14% (11% da SELIC mais um spread de 3%. A empresa não possui dívidas, o que faz com que 3% pareça-me razoável).
O valor com esses parâmetros todos dá  R$ 20,xx, o que deixa uma margem de segurança de mais de 30%, o que é razoável.
Situação atual da empresa: como é uma empresa voltada para consumo, está sendo penalizada na bolsa. Além do mais, houve queda de volume de vendas no mercado interno. Tal queda foi compensada com um preço de venda maior dos produtos, bem como pelo aumento nas exportações. Portanto, no médio prazo a empresa tende a continuar pressionada, mas o aumento do câmbio, bem como uma maior participação das exportações nas receitas (o que vem ocorrendo nos últimos dois anos) pode de certa maneira ajudar a empresa a manter as margens e rentabilidade, mesmo em períodos mais fracos para o consumo interno. Além do mais, é uma empresa reconhecida pela sua administração boa e eficiente.

Eu prefiro comprar empresas em setores que estão sendo penalizados. É claro que não é garantia de nada, mas para mim é muito mais seguro comprar a R$ 13,xx do que a R$ 20,xx (cotação máxima nos últimos 12 meses) que aliás foi mais ou menos o preço “justo” segundo os meus parâmetros.

É isso colegas, está longe de serem filtros perfeitos, mas acho que eles são mais do que razoáveis para eu não fazer grandes bobagens e acertar mais do que errar na média.

obs: sempre fica aquele alerta que as informações aqui não são indicações de compra e não me responsabilizo por nenhuma decisão tomada nas informações aqui postadas, bem como pela acurácia das mesmas.

Abraço a todos!


sábado, 26 de julho de 2014

REFLEXÃO E HOMENAGEM - A BREVIDADE DA VIDA E INVESTIDOR MATUTO

            “O que é Tolerância? Trata-se de uma prerrogativa da humanidade. Estamos todos imersos em erros e fraqueza: perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, eis a primeira lei da natureza (Voltaire 1764)

               Olá, colegas.  Um jovem de 25 anos chamado Dhyonata Willian Antonello faleceu. Ele também atendia pelo seu Nick de Investidor Matuto. Sim, era mais um colega, assim como eu, que se propôs a escrever e compartilhar as suas visões sobre finanças e sobre o mundo.

                Eu não o conhecia, e nunca tinha visitado o blog dele.  Hoje fiquei sabendo do seu falecimento e resolvi visitar o seu blog, bem como a sua página de facebook. Ao abrir o seu facebook, eu vi um rapaz sorridente. Ao ler os seus posts em seu blog, eu vi um sujeito que queria melhorar em finanças, que acalentava o desejo de um dia ser independente financeiramente.  Era um bom investidor? Cometia erros? Todas essas nossas angústias enquanto investidores empalidecem frente a um acontecimento que todos nós passaremos um dia.

                Sim, todos nós sabemos da nossa finitude, mas quando ela chega em pessoas tão jovens, realmente há um choque, pois parece que alguma coisa na ordem natural não foi respeitada. Eu sempre me lembro de uma frase de um filme belíssimo chamado “O Curioso Caso de Benjamin Button” quando o protagonista, Brad Pitt, ao ver tantos soldados mortos em uma batalha naval na segunda guerra mundial diz que a morte não parecia algo natural naquele ambiente.

                Como um admirador de vários conceitos budistas, eu realmente acredito que o nosso bem-estar e a nossa felicidade só podem estar no presente, pois o agora é a única coisa que existe. Nem o passado e o futuro existem, são apenas fragmentos de nosso cérebro que não existem na realidade. O presente tem esse nome, pois ele é uma dádiva oferecida a todos os seres vivos, por isso ele é um presente. É claro que vivermos no presente não quer dizer que não possamos projetar sonhos, estabelecer metas. Devemos fazer isso, pois muitas conquistas dependem de esforço e planejamento, e é da natureza humana entregar-se a sonhos. Isso é algo belo que devemos preservar.

                Porém, ao sermos confrontados com a falta de naturalidade da morte numa pessoa tão jovem como o Investidor Matuto, a lição pregada por Buda há mais de 2.500 anos atrás parece ficar transparente e clara como uma gota de chuva num dia de sol. Devemos fazer planos, mas devemos viver o presente com intensidade. Devemos dizer eu te amo hoje para os nossos pais, para quem tem a sorte de ter os pais vivos, e não amanhã. Devemos dizer coisas bonitas para a nossa mulher hoje, não amanhã. Devemos ser gentis com os colegas de trabalho, com o próximo hoje, não amanhã. Devemos fazer aquilo que nos faz bem hoje e não amanhã.

                Talvez para nós que dedicamos um precioso tempo da nossa vida para escrever sobre as nossas finanças, nossos aprendizados e erros e nossas dúvidas temos como objetivo principal a tão falada e sonhada independência financeira. Eu também a quero, afinal quem não quer ser livre, ainda mais nós ocidentais que damos um valor muito grande a liberdade. Porém, a IF não pode  ofuscar o agora. Podemos sim nos planejarmos, projetarmos, pouparmos, mas não podemos esquecer nunca que a nossa vida está acontecendo agora mesmo, não no passado, não no futuro, mas sim agora.

                Portanto, trilhemos o caminho da IF. Alguns atingirão mais cedo, outros mais tarde e outros talvez não alcancem. Porém, que todos vivam o caminho e aproveitem a jornada, de preferência sendo mais gentil com a família, amigos e desconhecidos. Talvez seja cada vez mais difícil, numa sociedade violenta, onde qualquer coisa é motivo para briga. Eu mesmo ontem quase me envolvi numa briga física, e me sinto arrependido, pois mesmo que eu por ventura poderia estar com a razão, a razão se perde quando nos descontrolamos e não respeitamos o próximo. Há brigas que infelizmente às vezes não podem ser evitadas seja a nível individual, seja a nível coletivo, mas que essas brigas sejam por coisas que realmente tenham sentido e importância, não por banalidades.

                Cometo muitos erros, tenho certeza que ainda há bolsões de vaidade dentro de mim, por isso peço escusas a qualquer um que eu possa ter ofendido, mesmo que não tenha sido essa minha intenção.  Acredito que Voltarie ao dizer “O que é Tolerância? Trata-se de uma prerrogativa da humanidade. Estamos todos imersos em erros e fraqueza: perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, eis a primeira lei da natureza” foi extremamente feliz.  Perdoemo-nos mutuamente as nossas tolices e vamos tentar ter uma vida mais harmoniosa.


                Aos familiares do colega Matuto as minhas condolências.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

REFLEXÃO - A REPÚBLICA DOS ADVOGADOS

                "A maioria  não tem apreço pelo que entende, e o que não compreendem ,veneram. Para serem estimadas, as coisas tem de custar: será celebrado tudo que não for entendido." (Baltasar  Grácian - 1647)

                 Olá, colegas! Nessa semana estou  mais motivado, e com várias idéias na cabeça. O artigo de hoje será curto, e talvez surpreendente para alguns. Vou falar sobre o número de faculdades de direito e de advogados no Brasil, e vou dar a minha reflexão sobre a razão dos números.

                Primeiramente, os colegas acham que seriam necessários mais advogados num país  onde há muita legislação e desconfiança mútua entre os membros da sociedade  ou numa nação onde a legislação é mais contida e a confiança um insumo importante do tecido social? A resposta óbvia seria apontar que o segundo país provavelmente vai precisar de menos advogados, pois seria uma questão econômica de oferta e demanda: como a confiança prevalece, não há tantos conflitos, não gerando demanda, o que acarreta uma diminuição da oferta de serviços jurídicos. Até aqui tudo muito intuitivo.

                Somos brasileiros e sabemos que o nosso país é complicado do ponto de vista de legislação. Legislação tributária extensa e confusa, leis previdenciárias complexas, leis longas e às vezes mal redigidas regulando quase todo aspecto da vida social.  Não acredita? Basta ver que o Estado agora quer regular até mesmo a relação de criação entre os Pais e os filhos, na famosa “Lei da Palmada”.  Soul, os pais não podem agredir os filhos. Claro que não podem, mas isso já era considerado errado, e em alguns casos tipificado até mesmo como crime. Logo, excessos já eram proibidos com a legislação vigente, mas se inventou de criar uma lei sobre esse tema.

                Além de termos uma legislação em abundância, a confiança não é o forte nos nossos relacionamentos do dia a dia. Quer comprar um imóvel? Contrate um advogado e tenha 10 pés atrás para não ser enganado. Quer fazer uma negociação comercial maior? Contrate um advogado e tenha 10 pés atrás para não ser ludibriado. A desconfiança impera hoje em dia no Brasil, o que é algo muito ruim, pois além de afetar os negócios (a confiança é a forma mais fácil e barata de se ter dinheiro), afeta também o nosso próprio bem-estar coletivo.

                Portanto, nós temos muitas leis,  algumas delas bem complexas, e um ambiente de falta de confiança mútua. Pelo meu raciocínio esboçado no segundo parágrafo, era de se esperar que aqui fosse um solo fértil para a existência de advogados. Os colegas que me conhecem um pouco sabem que gosto de quantificar as coisas. Ok, aqui é um solo fértil para advogados, mas quão fértil é esse solo? Muito é a resposta.

                O Brasil possui mais faculdades de direito do que todos os outros países do mundo juntos. Eu vou repetir o dado: em todos os outros países do mundo há menos faculdades de direito em número absoluto do que no Brasil. Um levantamento de 2010 apontou que o Brasil possuía 1240 cursos de direito contra 1100 no resto do mundo, ou seja, há 13% a mais de faculdades no Brasil do que no resto de todo o mundo. Olha, mesmo sendo da área e tendo refletido sobre o tema durante anos, esse número é completamente surpreende para mim. Para se ter ideia do gigantismo do Brasil nessa área, o Brasil forma bacharéis em direito todo o ano na mesma quantidade do número absoluto de advogados existentes na França.  É muito advogado. Todas essas informações podem ser consultadas aqui http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/brasil-recordista-de-cursos-de-direito-no-mundo/.

                Colega, os princípios econômicos geralmente se aplicam a perfeição em casos mais simples como esses. Só há um número exagerado de faculdades de direito porque o nosso país produz uma demanda exagerada por advogados. Seu pai faleceu? Se o patrimônio for razoável e houver uma mínima divergência entre os herdeiros, se prepare para anos no Judiciário, bem como para dividir a herança com novos herdeiros: os advogados. Contratou funcionários pela CLT, prepare-se porque em breve você vai precisar de um advogado. Quer pagar tributos e estar quites com todas as receitas federal, estadual e municipal? Prepare-se porque muito provavelmente vai precisar de um advogado.

                A demanda por serviços jurídicos é imensa no país, e por causa disso a oferta também tem que ser imensa. Fôssemos um país com uma legislação mais enxuta, onde a confiança prevalecesse mais sobre a desconfiança e com certeza o número de advogados seria bem menor.

                É evidente que a função do advogado é importante numa democracia, não há qualquer dúvida sobre isso.  Porém, uma sociedade onde o direito toma uma prevalência descomunal simplesmente sufoca esta mesma sociedade, principalmente na área produtiva da mesma. Precisamos de advogados, bons advogados, mas precisamos muito mais, no estágio atual do país, de bons engenheiros. Num país em que se forma mais advogados do que engenheiros (atualmente se formam entre metade e dois terços de engenheiros para o número de formados em direito)  vai ser difícil concorrer em pé de igualdade com potências tecnológicas.

                Não acredita? Na China, se formam atualmente cerca de 650 mil engenheiros, enquanto no Brasil são apenas 40 mil. São 16 vezes mais engenheiros formados por ano na China, enquanto a população lá é aproximadamente seis vezes maior. Logo, na China se formam quase 300% a mais de engenheiro per capta do que no Brasil (ver dados aqui http://www.confea.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=15360&sid=1206). Fica claro que a China está dando passos largos para ser um país de alta tecnologia num futuro não tão distante, enquanto o Brasil vai ficando cada vez mais para trás.

                É isso colegas, torcemos para que num futuro não muito distante, nossa sociedade possa produzir leis mais eficientes e enxutas, e que a atração por matérias ligadas a ciência atraiam mais cérebros do que matérias ligadas única e exclusivamente a solução de conflitos sociais. O desenvolvimento do nosso país precisará disso.

                Abraço a todos!


terça-feira, 22 de julho de 2014

EDUCAÇÃO E PRODUTIVIDADE - A VERDADEIRA GOLEADA VERGONHOSA

                      Olá, colegas! Fiquei um tempo sem escrever, pois algumas tarefas me tomaram tempo. Também fiz duas viagens em Finais de Semana, uma para o Rio de Janeiro na final da copa e outra para acompanhar o aniversário de um ano de um filho da minha prima. Ambas as pequenas viagens foram bem interessantes, e eu refleti sobre diversas coisas que poderiam facilmente virar uns 5 artigos, mas não vou abordar os diversos temas sobre os quais refleti nessas viagens nesse momento. O tema hoje é educação e a sua relação com produtividade.

            Antes de qualquer coisa, gostaria de falar brevemente sobre um assunto. Fiquei um tempo sem acessar os blogs dos demais amigos, e vi que o tema Brasil e sua comparação com outros países esquentou em alguns blogs, bem como nos comentários (refiro-me aos ótimos blogs do Corey e do Di Finance).  O artigo com mais visualizações do meu blog é disparado o que eu falei um pouco sobre o que eu penso do Brasil: http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/brasil-e-tao-ruim-assim.html
Eu nem o acho bom, creio que já escrevi reflexões muito mais interessantes como a minha “trinca dos três”, onde fiz reflexões sobre ações(http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/acoes-os-tres-fatores-de-risco-de-fama.html), dinheiro(http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/06/reflexao-as-tres-finalidades-do-dinheiro.html), e ciência/egohumano(http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/reflexoes-os-tres-golpes-da-ciencia.html). Porém, o mais acessado foi o sobre Brasil.

            É claro que devemos comparar o nosso país com países extremamente desenvolvidos. Eu já fui jogador semi-profissional de xadrez na adolescência, e a evolução vinha quando eu jogava com mestres ou grandes mestres, não quando eu jogava com jogadores de nível inferior. Sempre temos que nos desafiar e nos espelhar naqueles que são melhores seja em condutas éticas ou profissionais e o mesmo raciocínio se estende a comparação de países.

          A todo evidência não é olhar para a República Democrática do Congo (país que se diferencia do Congo, apesar de até mesmo alguns analistas não saberem disso) e achar que não devemos melhorar. Entretanto, e aqui divirjo de muitas pessoas, eu realmente creio que é importante saber o que acontece na RDC (e não são coisas nada bacanas, talvez seja o pior país do mundo para se viver), e não vejo como despicienda a comparação, muito pelo contrário, serve para não reclamarmos tanto (e a toda evidência isso não significa imobilismo ou aceitação) e principalmente, pelo menos para mim, para sentirmos compaixão por outros seres humanos. Veja, as pessoas que vivem na RDC sonham, sentem frio, amam, sofrem, querem prosperar na vida, assim como eu e você. São seres humanos com todos os anseios, medos e emoções assim como eu, você, um cidadão da Noruega ou o Warren Buffett.  Assim, temos que saber sim a nossa posição no mundo, como o mundo é, para que possamos ter uma perspectiva melhor sobre nós mesmos enquanto indivíduos, bem como nação, no caso do Brasil.

            Porém, o assunto desse artigo é educação. Pergunte para qualquer político ou cidadão o que fazer para melhorar o Brasil, e a maioria irá dizer “Melhorar a educação, pois a nossa está muito ruim”. É um lugar comum, mas que está certo. Porém, eu gosto de quantificações, a nossa educação é ruim, mas quão ruim ela é comparada com outros países? Esse é um tema já não tão discutido, pois quantificar problemas  é mais difícil e complexo do que apenas repetir conceitos  e ideias prontos.

            O quão ruim está a nossa educação? A resposta não é simples, e eu nem sou especialista no assunto, mas há uma série de dados que pode fornecer pistas valiosíssimas. Falo do teste PISA (Programme for International Student Assessment). Este é um teste feito pela OCDE aplicado de três em três anos em países membros da instituição, bem como em outros países que pedem para participar do teste. A prova é direcionada para alunos de 15 anos e procura medir as habilidades em três campos do conhecimento humano: interpretação de texto/leitura, matemática e ciências.

            Os resultados do Brasil nesse teste (que começou a ser aplicado no ano 2000 e o último foi feito em 2012) variam de horríveis a horripilantes. O resultado é muito ruim e a nossa evolução nos últimos 12 anos foi mínima (para um panorama geral dos resultados do Brasil veja http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm). Sabedor desses péssimos números, eu resolvi olhar um pouco mais o teste e tentar descobrir o que diziam os números.

            O teste PISA, de acordo com a pontuação, possui um sistema de classificação que vai do Nível 1 ao Nível 6. Basicamente, o Nível 1 significa que o aluno apenas consegue resolver problemas simples onde todos os dados para a resolução do problema são fornecidos explicitamente. O Nível 6 significa que o aluno consegue resolver problemas complexos sem que os dados para solução do problema sejam fornecidos de forma explícita. Colegas, o nível 6 é basicamente o que a sociedade do conhecimento irá cada vez mais exigir das pessoas. O que significa? Conto  uma história de um amigo meu para melhor ilustrar o conceito. Este colega foi consultor de estratégia em uma das maiores firmas do mundo, no seu processo seletivo algumas dessas perguntas foram feitas: a) Há no Brasil dois cachorros com o mesmo número de pelos?, b) Qual é o número de navios cargueiros no mundo (número aproximado, mas com ordem de grandeza próxima da realidade)? e c) É viável estabelecer um programa de internet a cabo (o teste foi há uns  8 anos atrás) em Cabo Verde? Se sim, por quanto em dólares?  Essas perguntas são feitas de bate pronto, não pode consultar internet ou se preparar, e mostram para o examinador a possibilidade de lidar com problemas complexos sem qualquer dado concreto fornecido, o que mostra, para as pessoas que conseguem lidar com esse tipo de problema, grande capacidade analítica, que é exatamente o que grandes consultorias de estratégia buscam.

            A toda evidência o teste PISA não vai medir em crianças de 15 anos habilidades analíticas tão finas, mas o Nível 6 demonstra que a criança chegou num nível de resolução de problemas muito alto, enquanto o Nível 1 mostra que basicamente a criança apenas consegue resolver problemas extremamente simples. Pois bem. Alguém imagina o percentual de Brasileiros colocados nos níveis 5 e 6 no último teste PISA nos três conhecimentos testados? Infelizmente, o número é sofrível e preocupante.

            O Brasil possui apenas 1% dos alunos nos últimos níveis em matemática, 0,5% em leitura e apenas 0,3% em ciências. Isso quer dizer que a cada mil alunos brasileiros, apenas três conseguem solucionar problemas mais complexos em ciência, por exemplo (se quiser conferir os resultados http://www.oecd.org/pisa/keyfindings/PISA-2012-results-brazil.pdf). No Japão, por exemplo, esses números são respectivamente: 24%, 18% e 18%. Isso quer dizer que a cada mil japoneses, 180 estão classificados nos melhores níveis em ciências, um número 60 vezes maior do que o Brasil. Como iremos construir uma sociedade próspera com números educacionais tão fracos? Como poderemos competir com o Japão nas cadeias globais de alto valor agregado com uma relação de um brasileiro preparado para 60 japoneses preparados? A resposta é que será impossível.

            Pô Soul! Você faz uma introdução gigantesca para falar que temos que olhar para todos os lados e não apenas para os melhores. Sim, falei. Vamos comparar com o Vietnã, um país que sofreu uma guerra sangrenta, que recebeu mais bombas americanas do que toda a quantidade despejada na segunda guerra mundial e que há 30 anos era extremamente miserável (mais sobre esse incrível país aqui no meu relato de viagem http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/07/vietna-guerra-americana_3.html). Os números do Vietnã são: 13.3% para matemática, 4,5% para leitura e 8,1% para ciências. Isso quer dizer que o Vietnã possui 13 vezes alunos mais preparados em matemática, 9 vezes em leitura e 27 vezes em ciência. Sim, a situação da educação do Brasil é dramática.

            Quais são as causas para esse descalabro? O tema é complexo e não há resposta simples. Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, a educação do Brasil não é tão subfinanciada como esses números podem levar a crer. Na verdade, os gastos com educação no Brasil giram atualmente em torno de 6% do PIB, o que é até um pouco acima dos gastos dos países da OCDE. Claro que há setores subfinanciados, mas parece que o nosso sistema é extremamente ineficiente, e colocar apenas mais dinheiro (e já foi aprovada no congresso medida para obrigar o gasto em educação em 10% do PIB) talvez não resolva problema e apenas faça que a nossa capacidade de investimento diminua ainda mais, e as contas públicas fiquem ainda mais sufocadas. Parece claro que o sistema educacional brasileiro precisa ser repensado urgentemente.  Há diversas conseqüências de um sistema educacional precário, aqui vou abordar apenas uma: a produtividade.

            O crescimento real de renda de uma nação pode ser quebrado em duas partes:

crescimento de renda = crescimento da produtividade + crescimento da força trabalhadora.

            O crescimento da força trabalhadora é o que vem sustentando o crescimento do Brasil. Não há nenhum mal nisso, pelo contrário. Os altos crescimentos dos países europeus entre as décadas de 50 a 80 são explicados pelo crescimento demográfico. Porém, o crescimento demográfico tem um limite, pois em determinado momento as populações se estabilizam ou começam a ter pequenos decréscimos (como é o caso dos países europeus e do Japão, por exemplo).  O Brasil está no que os demógrafos chamam de transição demográfica e os economistas de “plus” demográfico.  A população brasileira deve se estabilizar entre 2040/2050, e a nossa configuração demográfica parecer-se-á muito com a de um país estável europeu.

            Qual é o problema disso? O problema é que os próximos 15/20 anos são cruciais para que o Brasil possa se tornar um país mais próspero e rico para que possa melhor enfrentar os problemas de ter uma população envelhecida e um crescimento econômico mais modesto. Os países europeus já estão enfrentando o problema de ser uma sociedade mais estável demograficamente e com baixo crescimento, mas eles são ricos. O risco é o Brasil envelhecer e continuar sendo um país de renda média, aí temos o pior dos mundos: baixo crescimento com uma população envelhecida sendo um país de renda média. O ponto é que mesmo com crescimento tecnológico, há um limite para o crescimento da produtividade em países desenvolvidos. É difícil mensurar, mas há diversos economistas que estimam que o crescimento de produtividade em países de ponta deve ser da faixa de 1-1,5% real ao ano na segunda metade deste século. Logo, fica claro que em países pobres ou de renda média o crescimento da economia via crescimento populacional é importante, mas apenas o crescimento demográfico não é suficiente. São necessários ganhos em produtividade em larga escala para que os países mais pobres alcancem os mais ricos num processo conhecido pelos economistas como "catch up", e é o que vem ocorrendo com a China nos últimos 30 anos.

            Portanto, a questão da produtividade é essencial, eu diria vital.  Talvez seja o maior problema econômico brasileiro de médio/longo prazo. E como anda a nossa produtividade? Começo com um gráfico comparando a nossa produtividade com EUA e Coréia do Sul desde 1965:



            Em 1965, um trabalhador americano era 3 vezes mais produtivo do que um Brasileiro e 15 vezes mais produtivo do que um sul coreano. Em 2005, um americano era cinco vezes mais produtivo do que um Brasileiro e apenas 2,5 mais produtivo do que um sul coreano. Pode-se ver que o Brasil andou muito pouco em matéria de produtividade de 1965 a 2005, sendo que a Coréia do Sul voou e os EUA, apesar de já serem extremamente produtivos, continuaram crescendo. Reparem no gráfico como a década de 80 foi realmente perdida, pois além de não aumentarmos a produtividade, na verdade diminuímos a nossa produtividade. Porém, a situação é ainda pior, pois desde 2005 (data que esse gráfico acaba) o Brasil quase não obteve ganhos de produtividade, tendo um crescimento inferior a 1% (para uma resumo panorâmico sobre a nossa produtividade ver http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,produtividade-brasileira-tem-crescimento-lento-imp-,875341).

            EUA e Coréia do Sul são países extremamente produtivos. Porém, quando a comparação é feita com os demais países, a situação do Brasil é muito ruim. Em um raking internacional que compara produtividades o Brasil está em 57ª numa lista de 61países(http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(PPP)_per_hour_worked). Os dois gráficos abaixo dão uma visão clara de como está a nossa situação:



            Com uma produtividade tão baixa, como os salários poderão crescer e atingir níveis satisfatórios de renda? A resposta é que eles não irão crescer. Os salários vem crescendo de forma real no Brasil sem aumento da produtividade, e olha o que vem ocorrendo:


          Os gráficos foram retirados do relatório Empiricus. O último é o que os economistas falam "boca de jacaré" ao falar da produtividade e da demanda no Brasil. Vejam como a produtividade industrial quase não sai do lugar, enquanto a demanda cresceu fortemente a partir de 2008. Isso é insustentável no médio prazo, o que o Brasil já vem percebendo com inflação alta (o que é facilmente entendido por este gráfico, pois a produção não aumenta, mais a demanda aumenta, o que gera desequilíbrio e pressão inflacionária) e crescimento muito pequeno e um grande nível de retração na indústria. É por isso, colegas, que os salários aqui são muito menores do que nos EUA, por exemplo. Simplesmente não se pode pagar a mesma coisa para um trabalhador americano e um brasileiro, sendo que o americano é cinco vezes mais produtivo, sem gerar inflação e descontrole.

                Colegas, a produtividade está intimamente ligada com o nível educacional de uma população. Eu vi isso no Japão. Restaurantes onde no Brasil teria que ter 15 funcionários, quatro japoneses davam conta ou um sushi completamente automatizado com 4 funcionários, onde no Brasil precisaríamos de uns 20.  O grande problema é que se nosso nível educacional é baixíssimo, como poderemos consistentemente aumentar a nossa produtividade? A resposta é que não conseguiremos, não em níveis altíssimos como os países desenvolvidos se não atacarmos de frente o nosso prolema educacional.

            A situação é grave e séria, e deveria sofrer um intenso debate na sociedade, principalmente em época de eleição presidencial. Porém, creio que temas bem menos importantes terão prevalência, e o país irá adiar uma discussão que não poderia ser postergada, sob pena de plantarmos sementes muito ruins para o nosso futuro e dos nossos filhos. Muito pior do que tomar 7 a 1 da Alemanha, é ser goleado na educação e na produtividade, essa sim uma verdadeira derrota vergonhosa.

Sim, a nossa educação é mais vergonhosa do que o vexame histórico passado na copa. Afinal, o futebol é a coisa mais importante dentre as coisas sem importância e a educação é vital para qualquer povo.

            Grande abraço a todos!