sábado, 6 de fevereiro de 2016

CAMBOJA - UMA AVENTURA INESQUECÍVEL DE MOTO - PARTE INICIAL

Olá, colegas. Preciso escrever e por causa disso o presente artigo. Pode parecer repetitivo, mas quando falo que tenho inúmeras histórias para contar e, depois de algumas semanas, muitas mais histórias ocorreram, mas é a mais pura verdade. Desde o meu último artigo sobre viagem, o meu ano novo espetacular em Bangkok, a quantidade de experiências e pessoas bacanas que conheci apenas aumentaram. Entretanto, os últimos três dias conseguiram ser mais diferentes do que o normal. É preciso entender também que os meus últimos 300 dias foram tudo menos “normais”.

Meus amigos, como forma de tornar a leitura mais agradável, sugiro que ouçam o vídeo linkado. É o quarto movimento da Sinfonia número 4 de Tchaikovsky. A primeira vez que escutei foi há 12 anos vendo a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina. O Maestro ao final se desculpou e disse que eles tentaram tocar essa sinfonia como forma de desafio, pois ela é uma das mais difíceis e até mesma as grandes orquestras internacionais a temem. Quando o último movimento terminou eu não sabia se chorava, se ria, se gritava, o que fazia. Fiquei sentado na cadeira apenas imaginando como alguém poderia ter produzido uma música tão fabulosa e com tanto sentimento.


  Estou novamente no Camboja. Sempre me perguntam qual país eu gostei mais de ter visitado. É uma pergunta normal vinda de pessoas que não estão acostumadas ao tipo de viagem que aprecio. É o mesmo tipo de pergunta que sempre escutei quando jogava xadrez de forma semi-profissional “Quantas jogadas você consegue “ver” mentalmente”. Quem joga xadrez num nível de competição internacional jamais faria uma pergunta como essa,  mas é uma curiosidade mais do que normal e saudável de quem não é habituado com o jogo. A minha resposta sempre foi “depende da posição”. É impossível dar uma única resposta a essa pergunta. É mais ou menos o mesmo tipo de explicação que dou em relação a países: não posso dizer qual é o melhor ou pior, pois todos são diferentes e cada um possui uma beleza particular. 

  Posso dizer que a Nova Zelândia é o país mais bonito do planeta, e é mesmo, mas isso não quer dizer que seja o lugar que eu mais tenha gostado.  Eu me apaixonei pela Nova Zelândia, há duas cidades chamadas Raglan e Wanaka que eu poderia morar meses e meses, pois elas são simplesmente sensacionais.  Entretanto, não poderia dizer que o país dos kiwis foi o que mais gostei. Agora, sempre existiu um país que, apesar de ser completamente diverso e eu não entender absolutamente nada da língua, me tocou profundamente: Camboja.  Já discorri brevemente sobre o mesmo no artigo Os Campos da Morte É difícil descrever o que sinto, mas a história desse incrível país é uma memória constante de que tudo é efêmero. Como um povo pode ter ido da glória ao horror absoluto? Gostaria de escrever muitos artigos sobre esse país, quem sabe o faça, mas viajando é difícil, até hoje não produzi nada sobre a Nova Zelândia, país que renderia muitos e muitos artigos.

Este país me marcou profundamente e sempre tive dificuldades de achar uma forma racional de explicar o motivo.


  Assim, foi uma sensação muito diferente retornar a este país 7-8 anos depois. Muitas coisas mudaram. Há muitos mais turistas, principalmente grupos de chineses. Na verdade, os chineses correspondem a uns 60-70% dos turistas, algo que não existia quando estive no Camboja pela primeira vez. Só esse fato já daria um artigo. Logo, os templos de Angkor (sobre isso com certeza escreverei mais detalhadamente) estão muito mais cheios, o que de certa maneira faz com que se perca um pouco a atmosfera. Como há dezenas e dezenas de templos, sempre é possível encontrar paz. Entretanto, nos templos mais famosos como Angkor Wat, Bayon ou Ta Prohm (onde foi filmado “Tomb Raider”) é difícil não esbarrar em muitos turistas, é preciso paciência e disposição para visitar esses templos ao meio dia (muito quente e chineses detestam sol forte) ou muito cedo como seis e meia da manhã para se ter uma experiência mais tranquila.

  Ao falar em Angelina Jolie (estrela do filme citado), é muito bacana também o envolvimento dela com o país. Eu admiro essa atriz, não pela beleza, algo que ela tem de sobra, mas por seu envolvimento em causas nobres. A ligação dela com o país é profunda. Podemos dizer que ela mostrou a glória do país no filme “Tomb Raider” ao mostrar os templos de uma das civilizações mais poderosas que o mundo já viu. Porém, o filme que a marcou foi quando ela experimentou os horrores que esse povo sofreu há menos de 40 anos. O filme chama-se “Amor sem fronteiras” e é lindo. Um dos filmes que mais gosto de assistir novamente. Ao conversar com um diretor de uma ONG que trabalha em projetos de retiradas de minas terrestres (um tema que merecia um artigo a parte), ele me disse que prestou algumas consultorias para a Angelina, pois ela estaria fazendo um terceiro filme sobre o Camboja. Aliás, ele é ex-militar americano, e tinha cada história para contar. Quando disse que era brasileiro, ele abriu um sorriso e falou que um dos melhores amigos dele era brasileiro. Contou-me que o mesmo era vendedor de armas, teve a empresa nacionalizada na década de 80 e era amigo pessoal de Kaddafi , sendo que ajudou no tratamento do filho do ex-ditador da Líbia trazendo o garoto para o Brasil, arrumando um passaporte francês falso para que o mesmo pudesse entrar nos EUA para tratamento de alta qualidade (aparentemente, os EUA não permitiriam a entrada de um filho de Kadaffi). Esse senhor deve ter história para contar.

Belíssimo filme sobre amor, sofrimento humano e redenção. Trata também sobre a omissão de nós humanos que temos uma boa vida e se isso é compatível com a auto-percepção de que somos bons enquanto seres humanos (tema tratado de forma indireta no meu artigo Cidadão de bem?


  Enfim, tenho uma ligação com esse país, mesmo conhecendo tão pouco, é algo que não sei explicar tão racionalmente. Ao visitar mais uma vez por 4 dias os templos famosos de Angkor, fiquei sabendo que existiam templos mais remotos, centenas de quilômetros distantes, em regiões extremamente empobrecidas e com quase nenhuma infra-estrutura. Nesses templos, haveria pouquíssimos turistas, tendo em vista a dificuldade e empenho para se atingi-los.

  Quando soube disso, coloquei-me a pesquisar uma rota. Não há transporte público para esses locais. Como recentemente as estradas foram sendo melhoradas, carros  convencionais já conseguem chegar até lá. Alugar um carro com motorista para fazer o trecho que tinha em mente, em dois dias, sairia algo em torno de uns 250 dólares americanos (a economia do Camboja é dolarizada).  Muito caro. Falei para a Sra. Soulsurfer: “Vamos alugar uma moto como a gente sempre faz”. Sempre alugamos motos, pois é muito barato na Ásia e prático. Entretanto, dessa vez seria diferente, não há quase estrangeiros dirigindo motos, como não há demanda há pouquíssima oferta. Além do mais, seriam mais de 500 km por lugares remotos e muito pobres com uma simples scooter, algo que ainda não tínhamos feito.

   Pensei comigo “só se vive uma vez, vamos fazer essa aventura”, jamais poderia pensar que seriam três dias inesquecíveis pelos mais variados motivos. Descobrimos uma única loja na cidade de Siem Reap (porta de entrada para os templos de Angkor) que alugava para estrangeiros. O cara pediu 15 dólares por dia. Argumentei que estava muito caro, em qualquer lugar na Ásia pago de 4-5 dólares por dia.  Foram muitos minutos negociando até que o cara aceitou reduzir para 13 dólares. Caro, mas acabei aceitando, já que o prospecto da aventura tinha crescido em mim. A moto não tinha compartimento interno e teríamos que nos virar para dirigir com uma mochila no meio das pernas do motorista.

  Ao fechar o aluguel, o dono da moto pediu um passaporte de depósito (normal na Ásia). Já estávamos preparados e entregamos um dos nossos passaportes cancelados, mas que possui o visto de 10 anos para os EUA. Todos, sem exceção, aceitam esse documento (talvez simplesmente porque não entendem a palavra cancelado bem grande na segunda página do documento). O Cambojano não. Ele foi meticuloso e viu que no passaporte não tinha o visto do Camboja. Começou mais uma rodada de negociação. Argumentei que não poderia deixar o passaporte com o visto, pois como iria fazer se a polícia (estava indo para uma área tensa entre o Camboja e a Tailândia, com muito exército estacionado em ambas as fronteiras) me parasse e visse que não tinha o visto? Ele falou ligue para mim, o meu irmão é policial (o Camboja é um dos países mais corruptos do mundo) e está tudo certo. Contra-argumentei "meu amigo se eu estiver a 250 km de distância não vai adiantar nada ligar para você". Por fim, aceitei deixar 400 dólares de depósito, e no final isso provou ser uma verdadeira burrice. 

Pelo menos tive a percepção na hora de tirar foto das fotos e da série das mesmas, o que provou ser uma boa estratégia. Vai que o cara me voltasse quatro notas falsas quando eu retornasse a moto.


  Moto alugada partirmos para a nossa aventura. A primeira parte foi tranquila. No primeiro templo mais afastado infelizmente muitos ônibus de turistas chineses ainda vão até ele, pois a estrada é muito boa, demos o azar de chegar no horário de pico e resolvemos esperar para entrar até que os ônibus fossem embora. Ficamos uma hora e meia numa sombra se alongando, olhando o movimento. Nesse tempo, um senhor japonês de mais idade se aproximou e encantado que estávamos de moto, apontou e disse “É uma Honda!”, “meu filho trabalha na Honda!”.  Soltei diversas frases em Japonês, e o tiozinho quase caiu para trás, abriu um enorme sorriso e desandou a falar japonês muito rápido comigo. Apenas sorri e disse “Nihon-Go Hanassemasen” (eu não falo japonês). Conversamos um pouco no Broken English dele e foi bacana. Ao final, ele pediu para tirar uma foto nossa com a moto. Alguns minutos depois, comecei a conversar com um guia cambojano sobre a estrada que iríamos pegar, se era fácil ou não. Ele estava como guia de um casal de americanos. Engatamos um diálogo, e o americano abriu um sorriso imenso quando disse que era de Florianópolis. Ele, então, começou a falar um português bem razoável sobre a experiência dele de ter morado na ilha da magia por quase um ano. Californiano, foi para o Brasil viver e estudar o Movimento Sem Terra, e as conclusões dele são bem parecidas com as que eu penso desse movimento específico. Uma pena que a conversa durou poucos minutos, pois os dois pareciam ser muito bacanas.

  Visitamos então o templo de Beng Maela. Muito bacana mesmo. Havia turistas, mas não tantos, e deu para brincar um pouco de Indiana Jones ao entrar em salas cheias de destroços sem ninguém. Após um almoço mais ou menos, a comida por aqui não é tão boa como na Tailândia e sempre tem que se barganhar o preço (comida era algo que nunca barganhei), seguimos viagem para a antiga cidade imperial de Koh Ker.

Sra. Soulsufer perambulando pelo templo de Beng Maela.

As Árvores tomaram conta de boa parte do templo, depois de centenas de anos de abandono.



  Tudo mudou. De repente, a estrada que tomamos nao tinha mais movimento. O povoamento tornou-se muito mais esparso e bem pobre. Gasolina era vendida em pequenas barracas no acostamento da pista e absolutamente ninguém, digo ninguém mesmo, entendia uma palavra em Inglês. Depois de quatro horas, e o traseiro já doendo um pouco de ficar tanto tempo sentado numa scooter, chegamos ao complexo de Koh Ker. 

Posto de Gasolina da estrada...

  Único e espetacular é o que posso dizer. Não havia absolutamente ninguém no primeiro templo que visitamos chamado  Wat Prasat Pram. Ficamos mais de uma hora lá e fomos os únicos. Foi mágico e especial. Além do mais, o lugar era muito fotogênico, devido ao fato das árvores terem se misturado aos templos que datam de mais de 1000 anos de idade. Foi muito legal mesmo. 

                   Momentos especiais nesse templo abandonado no meio da floresta e sem ninguém por perto
 Olha as raízes e como se misturaram com o templo num efeito magnífico
     Saudação ao sol!


Soulsurfer contemplando a beleza do templo e do momento único


  Seguimos então por estradas de terra, passando por inúmeros templos sem absolutamente uma viva alma no meio da floresta com muitas placas dizendo que o local tinha sido limpo de minas terrestres (a região que estávamos entrenado na província de Preah Vihear é um dos locais com mais minas terrestres do mundo). Passamos por um grupo de três garotas numa moto bem antiga. Fiz sinal para que parassem, elas abriram um enorme sorriso. Eram jovens e bonitas, apesar de um pouco castigadas pela vida provavelmente dura. Perguntei por meio de mímicas onde era a Pirâmide, elas não entenderam e apenas sorriram. Disse então aw-koon ch’ran (muito obrigado em cambojano) e fomos em frente cercado de floresta e templos até que chegamos no enigmático templo de Prasat Thom.

Sem brincadeira, passamos por mais de 10 templos "abandonados" no meio da floresta. A região de Koh Ker chegou a ser por 20 anos a capital do mais poderoso império que o sudeste asiático já conheceu: A Civilização Khmer

Placas como essa avisando que o terreno foi liberado de minas terrestres é comum quanto mais se afasta das zonas eminentemente turísticas.

  Depois refleti se as garotas sabiam escrever ou ler,  como era a vida delas e qual seria o futuro das mesmas, e automaticamente lembrei-me de como as pessoas se iludem e se enganam com histórias sobre mérito ou extremo sucesso pessoal sem levar em conta o fator acaso e aleatoriedade. A vida muitas vezes é uma loteria genética e muitas pessoas não percebem isso, abordei esse tema, um dos artigos meus que mais gosto, chamado A Herança e a Incongruência de Alguns Argumentos

   Enfim, tínhamos chegado a famosa pirâmide de Koh Ker. Como já tive o privilégio de viajar pelo México e América Central, vi muitas ruínas Maias (as mais fabulosas foram Palenque no conturbado, creio que hoje em dia não tanto, estado de Chiapas no México e Tical na Guatemala), estou acostumado com construções maias. É impressionante a semelhança dessa do Camboja com algumas que vi em minhas viagens anteriores pela América. Enorme, mais de 40 metros de altura, e sem ninguém a não ser um pequeníssimo número de uns seis turistas e mais dois sujeitos que tinham aparência de chineses. Encontrar um monumento desses no meio da floresta com quase ninguém é algo absolutamente raro no mundo, a não ser que você seja um arqueólogo mapeando cidades ainda desconhecidas, o que é cada vez mais raro de se encontrar.

Portal que leva a Pirâmide


Andando até chegar a monumental pirâmide sem ninguém no caminho, havia um templo antes da pirâmide que era consideravelmente grande

   Subimos então ao topo da pirâmide, e todos os turistas já tinham ido embora, apenas os dois homens que não. Resolvemos então ficar para ver o por-do-sol, mesmo sabedor que ainda não tínhamos lugar para dormir e estávamos no meio do nada. Engatei uma conversação com os rapazes, e eles eram muito simpáticos. Oriundos de Hong Kong. Um deles falava um ótimo inglês, algo difícil de encontrar em chineses e trabalhava como corretor de venda de obras de arte em leilões (emprego chique hein).

  A conversa foi boa, muito bacana. O sol se pondo, no alto de uma pirâmide de mais de 1000 anos de idade, sem mais ninguém, no meio da floresta, o que esperar mais de um fim de dia? Falei então que estávamos viajando há 10 meses, ele disse que tinha uma “inveja boa”. Comentei então sobre neurociência, memória de longo e curto prazo e como experiências como aquela ficam em nossa memória de longo prazo e disse brincando que em algum canto da memória deles a experiência de encontrar dois brasileiros numa pirâmide no meio da floresta iria permanecer por muitos anos, muito mais do que eventual compra de um telefone ou qualquer bem material. O Chinês mais fluente em inglês concordou assentindo com a cabeça.

   Hora de descer a pirâmide e procurar algum lugar para ficar (o Lonely Planet dizia que havia uma única pousada na estrada de volta, não tínhamos visto no caminho de ida, mas resolvemos confiar que a acharíamos). Pedi mais uma foto para a Sra. Soulsurfer. Ora, por que não mais uma foto, não é mesmo? Subi então numa laje. Não sei o que ocorreu, mas o meu óculos caiu. Num impulso tentei pegá-lo no ar com a mão direita, mas isso fez com que o óculos voasse longe para a outra direção. Tentei pegá-lo com a mão esquerda e me desequilibrei quase caindo para o lado.

  Quando me dei conta apenas pensei “Ah, Merda!!”. O topo da pirâmide tinha um buraco escuro sem fundo visível no meio, algo que não havia notado. Os meus óculos simplesmente tinha caído nesse poço, eu inadvertidamente quase tinha caído no poço ao me desequilibrar para pegar o óculos. Eu não dou bola para marca de produtos, procuro ter um consumo consciente daquilo que me é necessário e realmente importante para a minha satisfação. Entretanto, como tenho os olhos muito claros, como sempre estou na praia, faço questão de ter bons óculos escuros. Ultimamente, venho comprando apenas Per Sol. Já tinha quebrado um óculos na Austrália e agora tinha perdido outro. Caraca! Os óculos são carro para burro, 270 dólares americanos. Mierda. Se tivesse apenas quebrado, poderia trocar o óculos quebrado por um novo pela metade do preço. É isso, mil reais caindo no fundo do poço, porém pensei que não tinha sido nada, pois poderia ter sido eu a cair, aí creio que a chance de escapar com vida seria muito pequena.

  Um pouco atordoado, ainda tentei em vão ver se o poço era muito fundo mesmo, quando um dos Chineses me disse “Deixe isso para lá, não vale a pena se arriscar por um óculos. Ele pertence ao templo agora”. É, claro que não vale. Os óculos agora pertencem ao templo, apenas aceite e foi o que fiz.

No crepúsculo da Pirâmide. É, meus (que não são mais meus) óculos agora pertecem ao templo.

Aqui está o buraco que "engoliu" a minha proteção ocular. Quase fui eu que despenquei lá para baixo.


  Cabisbaixo descendo a pirâmide, lembrei que tinha que me preocupar em achar uma acomodação. Saímos então com a nossa scooter no meio da floresta e caminhos de terra até voltar a estrada. Por sorte achamos a pousada. Tomei um banho gelado, não tinha água quente, e fomos jantar. Mais uma vez tivemos que negociar o preço da comida. A dona da pousada queria 10 dólares, mas a Sra. Soulsurfer ficou cinco minutos conversando com a mesma até ela aceitar fazer por 7 dólares. Fazer o que, no meio do nada era pegar ou pegar.

  Éramos apenas nós na pousada e mais um grupo de quatro italianos acompanhados de um guia local. Eles não fizeram questão de conversar, então fiquei na minha comendo. Foi quando surgiu uma senhora com aparência chinesa de já certa idade falando um ótimo inglês. Ela chegou na mesa dos Italianos e eles, a exceção de um, nem deram bola para a senhora e continuaram a falar em italiano. Aquilo me incomodou bastante. Perguntei então para a senhora se ela não queria se sentar conosco. Ela abriu um sorriso e disse “Claro que sim!”.

  Meus amigos, foi uma das conversas mais gostosas e felizes que tive em vários e vários meses. Eu e minha companheira sentimos-nos conectados com a Senhora. Ela era nascida em Hong Kong (coincidência, pois os dois rapazes da pirâmide também o eram), mas morava há 42 anos no Canadá em Toronto. Falamos sobre tantas coisas. Filosofia, política chinesa, a bobagem que é achar que a visão ocidental sobre a China é o único retrato da realidade que existe, sobre a vida, filhos, desejos, bens materiais, foi sinceramente demais.

  Quando ela nos disse o que estava fazendo, apenas respondi "what?" Ela estava simplesmente pedalando. Sim, uma senhora de 62 anos resolveu comprar um ticket aéreo Canadá-Bkk, trazer a sua bicicleta e estava pedalando há 10 dias. O objetivo dela era chegar na China em um mês. Fantástico, extraordinário, é o que posso dizer.  O nome da senhora Elley Ho (provavelmente o nome ocidental dela).  Foram duas horas conversando que pareceram alguns minutos apenas.

  Frases e pensamentos lindos que ela ia dizendo como “coisas que aquecem o coração”, “vida que vale a pena ser vivida”, “a beleza de ajudar os outros e compartilhar momentos” apareciam enquanto a conversa transcorria. Como dois brasileiros na faixa de 30 e poucos anos podem se sentir tão conectados com uma Senhora na sétima década de vida de uma origem cultural tão diferente? Há algo que nos une enquanto seres humanos, prezados amigos leitores, algo difícil de se explicar (apesar de eu tentar fazer isso nesse espaço em alguns artigos), mas muito fácil de se sentir quando se passa por uma situação dessas. Foi maravilhoso.

  Disse para ela “esse é o jeito brasileiro de se despedir” e nós três demos um grande abraço longo e apertado. Ela então falou “venham me visitar em Toronto”, e se um dia passar por lá, como pretendo fazer numa próxima viagem de carro longa pelas Américas, com certeza será um prazer imenso reeencontrá-la. 

  Colegas, o relato ficou razoavelmente grande e a parte da aventura nem começou ainda (deixei muitas coisas de fora). Vou fazer uma segunda parte para que a escrita não se torne tão cansativa para aqueles leitores que se interessam pelo texto, mas tem apenas alguns minutos para se dedicar ao mesmo. O que terá na segunda parte? Bom, minha ida ao “banheiro" num lugar com suspeita de ser um campo com minas terrestres, a visita a um templo no alto da montanha onde há menos de cinco anos foi palco de um conflito armado entre Tailândia e Camboja com vários mortos, a quebra da moto no meio do nada, a ajuda espontânea das pessoas e a quebra novamente da moto num lugar que foi a última cidade sobre controle da organização genocida Khmer Vermelho até o final da década de 90 (lugar onde o infame Pol Pot foi mantido prisioneiro e cremado após a sua morte) , o desespero de ninguém falando inglês, a moto não ligando e meu passaporte com o visto americano com mais 400 dólares na mão de um Cambojano furioso com toda a situação a mais de 140 km de distância.


  Espero que tenham gostado, um grande abraço a todos!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

IMÓVEIS - FUNDAMENTOS: ESCRITURA E REGISTRO IMOBILIÁRIO

 Olá, colegas! No artigo de hoje escrevo um pouco sobre a documentação exigida pela nossa legislação quando se trata de imóveis, bem como esclareço uma confusão muito comum cometida por quase todas as pessoas sem conhecimento técnico da área. Qual seria? Dizer que um imóvel não tem escritura. Para entendermos a razão disso, é preciso detalhar, nem que seja superficialmente, alguns conceitos jurídicos.

  Um dos princípios basilares do direito privado é a autonomia da vontade. Basicamente, significa que as partes envolvidas em qualquer tipo de negociação são autônomas para livremente pactuarem o que bem entenderem. Evidentemente, e sendo o Brasil um país com uma grande tendência paternalista, há inúmeras exceções a essa regra. O Direito do Trabalho é um exemplo disso. Há relativa autonomia para se negociar um contrato de trabalho, que nada mais é do que um contrato de prestação de serviços, já que há diversas disposições legais sobre o que pode e o que não pode constar num contrato regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas, também conhecida como CLT, independente da vontade dos contratantes. Há diversas outras exceções em nosso sistema jurídico, mas a toda evidência não é a intenção desse artigo discorrer sobre elas.

  Assim, caso não haja nenhuma disposição legal em contrário, dois indivíduos capazes juridicamente (há variados casos de incapacidade jurídica como menores de idade, pródigos, alienados mentais, etc) podem transacionar o que bem entenderem.  E a forma como esses acordos de vontade se dão? Pode ser qualquer coisa? Um guardanapo  com um rascunho de negócio serve como prova de um contrato de 500 mil reais ou não? Aqui, mais uma vez, a regra geral será que a vontade dos indivíduos poderá ser expressada de qualquer forma, seja verbal ou escrita, para que haja a perfectibilização de um negócio jurídico. Logo, não há teoricamente problemas de fazer qualquer contrato de forma verbal, a única dificuldade é relacionada a prova da existência desse contrato. Isso é um ponto interessante, pois muitas pessoas, inclusive operadores jurídicos com uma técnica não tão apurada, confundem a existência do direito com a prova deste mesmo direito, o que são coisas completamente diferentes. Portanto, um contrato verbal é juridicamente válido, porém difícil de ser comprovado num processo judicial sem que haja outros meios de prova.

  Entretanto, a legislação brasileira excepciona alguns casos nos quais a forma de celebração de um acordo não é livre, mas sim determinada pela lei de antemão.  É nessa categoria de contrato que entra as negociações de bens imóveis. A nossa legislação, mas especificamente o Código Civil Brasileiro, determina que os negócios jurídicos envolvendo imóveis devem ter a forma pública. O que isso quer dizer? Isso significa que para se comprar um apartamento, por exemplo, é preciso que haja um contrato escrito feito por um cartorário, sob pena do negócio não ter validade jurídica.  Isso não se aplica a um veículo automotor, por exemplo. Alguém pode vender uma BMW por 250 mil reais e o contrato ser verbal. Não se pode comprar, todavia, do ponto de vista da validade jurídica, um Kitinete de R$50 mil reais sem a feitura de um contrato com assinatura de um tabelião. A razão disso  é o  art.108 do Código Civil:

"Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País."

  Antes de mais nada, como tudo em direito, há exceções (como transações regidas pelo SFI - Sistema Financeiro Imobiliário, um resumo das exceções pode ser visto aqui), porém a regra geral é que negócios imobiliários devem ser feitos por meio de pública forma, ou escritura pública. Até mesmo se um pai quiser doar uma casa para o único filho,  por exemplo, tal ato deve ser feito por meio de escritura pública. 

  Logo, colegas, a frase “o imóvel não tem escritura não possui qualquer sentido jurídico. A escritura, pública no caso por determinação legal, é apenas a forma de se materializar um negócio jurídico envolvendo imóveis. Se assim o é, "por qual motivo quase todo mundo repete a mesma coisa?", alguém pode estar pensando. O que as pessoas querem dizer é registro imobiliário, não escritura.

  O que é o registro imobiliário? Nada mais é do que um cadastro de todos os imóveis que existem numa determinada região. Assim, o 2 ofício de registro de imóveis da cidade de Criciúma-SC, por exemplo, é o local onde estão cadastrado todos os imóveis pertencentes a uma determinada região (geralmente essas subdivisões entre regiões são feitas por lei) da cidade catarinense em questão. Qualquer imóvel que ali exista deve estar registrado no registro de imóveis competente.

  Se todos os imóveis já se encontram registrados, como um novo imóvel pode vir a existir em relação ao Registro de Imóveis? Com a criação de um “RG" próprio, que tecnicamente é chamado de matrícula imobiliária.  Alguém possui um terreno de 10.000 m2 e quer dividir em dois terrenos de 5.000m2, como fazer? É preciso extinguir a matrícula imobiliária do terreno maior, e criar duas novas matrículas imobiliárias dos terrenos menores. Sendo assim, o terreno de 10.000m2 deixa de existir juridicamente, havendo agora dois imóveis novos de 5.000m2. É assim que se faz grandes loteamentos de terra, divergindo apenas na burocracia, pois loteamentos maiores de terra (loteamento na acepção jurídica é quando há divisão em terrenos menores com passagem de algumas áreas para a municipalidade para a feitura de obras públicas) envolvem mais etapas jurídicas e documentos do que um simples fracionamento de um terreno.


  Na matrícula do imóvel irá existir todas as informações sobre o mesmo: dimensões, quem foi o primeiro dono, se há cláusula de usufruto, averbação de alguma ação judicial, etc, etc.  É por meio da matrícula imobiliária que se consegue descobrir se há algum problema jurídico ou não, e quem é o dono de direito do imóvel. Essa última frase é essencial: para a legislação brasileira só é dono de um imóvel quem possui o mesmo registrado no competente registro imobiliário em seu nome. Se não está registrado no nome, juridicamente não se é dono do imóvel, simples assim.

  Para aclarar mais esses conceitos, vamos imaginar o exemplo do terreno já citado. Vamos supor que o terreno de 10.000 m2 esteja devidamente registrado com matrícula imobiliária e esteja no nome de João. Vamos supor que João queira vender o terreno, mas tenha percebido que se ele vendesse o terreno em duas metades distintas,  poder-se-ia conseguir mais dinheiro. João poderá vender dois terrenos, mesmo que ele não tenha feito o processo de fracionamento no Registro Imobiliário com a criação de duas novas matrículas e a extinção da matrícula do terreno maior? A resposta jurídica correta é não, pois na verdade está se vendendo algo que não existe do ponto de vista jurídico. 

  Se João encontrar um interessado em comprar metade do seu terreno (como um imóvel autônomo, não em condómino, pois nesse caso não haveria problema jurídico algum), nenhum cartorário irá lavrar escritura pública de compra e venda, pois simplesmente como não há matrícula imobiliária, a metade do terreno não existe como um imóvel autônomo. Não há como se tornar juridicamente proprietário de apenas metade do imóvel de 10.000 m2, sem haver o fracionamento do terreno no registro de imóveis, com a criação de uma nova matrícula.

  “Soul, como assim não pode? É o que mais se tem em vários lugares do Brasil!”. É verdade. Porém, essas transações são feitas à margem da lei. Se alguém compra um terreno sem que esse tenha uma matrícula própria, para o direito brasileiro ele não será o dono do terreno.  Evidentemente, há riscos em situações como essa. 

  Se eu quero comprar um apartamento que esteja devidamente legalizado  com matrícula própria (posso escrever um artigo específico sobre como funciona tudo isso em condomínios de unidades autônomas), é muito fácil se precaver. Basta pedir uma certidão atualizada da matrícula imobiliária,  ver se o vendedor é realmente o dono (vocês ficariam espantados na quantidade de pessoas que cometem erros banais como esse, de compras minhas de imóveis em leilões já peguei dois casos onde houve erro grave nesse quesito, inclusive por imobiliárias), se há algum ônus sobre o imóvel, etc. Como a forma do negócio deve ser pública, ou seja por escritura pública, depois de concretizado o negócio basta levar a escritura para registro no Registro de Imóveis. Se houver um due diligence básico, a chance de dar problemas é quase zero.

 Agora, se uma pessoa compra um imóvel sem este ter matrícula, fica muito difícil saber se o imóvel pode ter algum problema, ou se o dono é realmente o vendedor. Além do mais, nada impede que o vendedor já tenha vendido o mesmo imóvel para mais de uma pessoa, aliás esse tipo de prática não é incomum. Não há absolutamente nada que se possa fazer para extirpar 100% esse risco, não há como. É por isso que terrenos sem matrícula, sem registro próprio, são mais baratos. É a velha relação, bem conhecida pelos leitores desse blog, entre risco x retorno.  Pode-se ganhar dinheiro com isso, como em qualquer outra coisa. Se a pessoa tiver conhecimento e paciência, pode-se comprar terrenos e “legalizá-los”, ganhando um belo dinheiro em cima. É um nicho, como comprar imóveis em leilão, empresas em dificuldade, importação e exportação. Não há nenhum problema, desde que a pessoa saiba o que esteja fazendo, bem como possua check-lists para ao menos diminuir substancialmente o risco de perdas maiores.

   Além do mais, imóveis que não possuem matrícula não podem ser usados como colateral. Em finanças, sempre que ouvir o termo “colateral" pense em garantia. Ninguém pode financiar a compra de um imóvel sem matrícula, pois nenhum banco emprestará dinheiro tendo como garantia um imóvel que não existe do ponto de vista jurídico. A questão é tão séria que muitos economistas de renome aludem que a informalidade fundiária em muitas comunidades pobres é algo que estanca e muito a possibilidade de crescimento econômico. Nisso, eles parecem ter toda razão. Quanto mais confiança e estabilidade jurídica, mais próspera é uma nação. Logo, quanto mais desconfiança e instabilidade jurídica, menos próspera é uma nação. Portanto, uma forma de se criar um dinamismo muito maior na economia, seria proporcionar formas de regularização fundiária, porém não irei me alongar nesse interessante tópico, mas posso voltar qualquer dia.


  Há muitos outras temas relacionados que poderia abordar , mas vou ficando por aqui para que o artigo não se torne desnecessariamente longo. Se achar que o texto foi de valia para algumas pessoas, pretendo escrever outros a respeito  de aspectos mais fundamentais em relação a imóveis para trazer um pouco mais de luz sobre o tema. Portanto, quando ouvir novamente alguém dizer “o imóvel não tem escritura”, pergunte para o interlocutor se ele na verdade não está querendo dizer matrícula imobiliária, se ele não entender, você, prezado leitor,  já é capaz de explicar os motivos.

  Grande abraço a todos! 



domingo, 17 de janeiro de 2016

AS CONEXÕES IMPREVISÍVEIS DA VIDA E BLOGS NOTÁVEIS

  Olá, colegas! Espero que estejam todos bem.  Minha estada na Tailândia que deveria durar duas semanas já passa de um mês e ainda devo ficar mais algumas semanas. Muito bom estar por aqui.  Neste artigo, entretanto, escrevo sobre como um comentário de um Anônimo, que se identificou como Victor, fez-me revisitar alguns estudos, ler muitos outros e criar um contato muito maior com blogs realmente notáveis.

Na magnífica cidade histórica de Sukhothai (primeira capital do que se pode chamar culturalmente de Tailândia há 700 anos). O espetacular Buda leva o nome de "Subduing Maya". Mais explicações abaixo


 Isso é muito interessante mesmo. Como um comentário em uma postagem pode ser o catalisador de algo bacana. A vida muitas vezes, talvez na maioria das situações, opera por “caminhos misteriosos”. É simplesmente impossível saber o que vai ou pode ocorrer com nossas vidas, e o controle é simplesmente uma ilusão, algo maravilhosamente retratado na cena do acidente da bailarina no estupendo filme “ O Curioso Caso de Benjamim Button”. A mesma temática é mostrada de forma muito assaz no filme “Instinto" com Antony Hopkins. A cena dele ameaçando tirar a vida de um psiquiatra se o mesmo não respondesse qual ilusão ele tinha acabado de perder é fantástica. O conceito de Ilusão - Maya -  é central para o Budismo e qual não foi a minha surpresa ao ver um shopping luxuoso com nome de Maya na cidade onde atualmente estou no norte da Tailândia: Chiang Mai. Não deixa de ser interessante colocar um nome como esse em um dos lugares que mais promove a ilusão no mundo contemporâneo.

Esse filme tem uma cena sublime (sempre me emociono), quando ele é capturado no meio dos Gorilas e um deles morre.

Esse é um belo filme. Há muitas cenas interessantíssimas. Uma das que mais me fazem refletir é a da cena do acidente e a cadeia de eventos completamente fora de controle que levou ao incidente. Uma reflexão bem parecida é feita no clássico livro "A Insustentável Leveza do Ser".


  Outro anônimo, o qual eu agradeço também, enviou link para ver o famoso discurso de Jobs para os formandos de uma universidade de ponta nos EUA. O discurso é simplesmente brilhante. Muitas das falas me chamaram a atenção. Uma delas é quando Jobs disse que largou o curso regular na faculdade, pois custava muito dinheiro, e a poupança dos seus pais adotivos (eu não sabia que ele era adotado) estava sendo dilapidada por algo que ele não conseguia ver sentido. Ele começou então a literalmente “zanzar" pela universidade fazendo alguns cursos gratuitos. Um deles foi de Caligrafia. Sim, o gênio que revolucionou a forma como relacionamos uns com os outros no mundo moderno fez um curso de Caligrafia. Ele disse no discurso que algo que aparentemente não tinha qualquer relação, ou algo “útil" na vida prática moderna, foi o que mostrou para ele a importância da beleza e da estética. Foi por causa disso que ele se tornou tão obcecado com a aparência estética dos dispositivos da Apple, o que viria a revolucionar a informática e muitas outras coisas.

   Pensem sobre isso, colegas leitores. O Design de seu smartphone, se eventualmente você possui um, talvez tenha ocorrido porque uma pessoa fez um curso de Caligrafia. Logo, é simplesmente impossível saber as consequências ou relações do que eventuais eventos em nossas vidas podem ter no futuro. Desconfie de pessoas que ridicularizam a teoria ou práticas “não muito úteis” (na perspectiva única e pessoal delas) dando uma ênfase quase que absoluta à “prática" (seja lá o que essas pessoas possam definir o que seja “prática”).  Se, enquanto espécie, dependêssemos delas, teríamos uma vida muito, mais muito mais pobre em todos os sentidos. Não teríamos, com absoluta certeza, alcançado o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e humano que temos hoje em dia.

 Assim, de uma maneira quase “serendiptosa”, um simples comentário de um anônimo me levou a leitura de dezenas de artigos, a feitura de diversos textos (em processo de escrita) e a criação de um novo blog (em construção com a ajuda do colega Estagiário).  “Ok, Soul, sobre o que foi esse comentário, foi sobre o sentido da vida ou se há vida após a morte?”. Há uma cena que acho muito engraçada no filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”. Como dizem os americanos “to make a long story short”, o filme tem como enredo a busca desesperada do protagonista  na procura de um negativo de uma foto que deveria ser supostamente a última capa da edição impressa da revista Life. Depois de muitas aventuras em volta do mundo, numa busca que se torna interior também, Walter Mitt descobre o negativo. Como a empresa está fazendo downsizing, ou seja despedindo quase todo mundo, há uma cena no elevador onde um dos seus companheiros de trabalho pergunta sobre o que tinha ma foto “Era por acaso a imagem do Pé-Grande ou do Mostro do Lago Ness?” querendo significar que uma busca tão intensa por algo, esse algo só pode ser uma coisa “grandiosa”. Fiz essa breve digressão apenas para que a pergunta de um leitor imaginário pudesse ser melhor entendida e para que assim pudesse ser um pouco engraçado. Aliás, o humor é essencial para que uma sociedade se mantenha saudável. Os Judeus faziam piada até mesmo sobre o seu destino trágico no holocausto conduzido pelos Alemães. Uma sociedade que perde a capacidade de ter humor ou que se ofende facilmente com brincadeiras sobre suas instituições, moralidade, religião, ética, etc, é um agrupamento humano com uma grande propensão a uma vida pior. Isso, evidentemente, também vale para indivíduos.

Cena do filme onde Walter Mitty descobre que há um negativo faltando na presença de seu colega de trabalho. Será que o comentário que aludo nesse artigo foi sobre algo extraordinário na vida?

   Não, o comentário não foi sobre a Teoria M (que tenta unificar os campos da gravitação e física quântica, o Holy Graal da física contemporânea), ou sobre como gerar Alpha (o sonho de qualquer investidor), mas foi simplesmente a indicação de um blog americano chamado Brave New Life.

   Eu irei, muito provavelmente no meu novo blog, falar muito sobre esse Blog e mais outros dois, principalmente focar nas diversas questões interessantes que eles abordam. Na bem da verdade, muitos dos temas ali tratados já foram objeto de reflexões aqui nesse espaço, mas é inegável que os blogs em questão falam de forma muito mais direta sobre assuntos de muito interesse a todos investidores amadores, cidadãos e seres humanos preocupados com a sua posição no mundo em geral. 

  O mais antigo chama-se Early Retirement Extreme, também conhecido pele acrônimo ERE. Como o nome diz, trata-se de independência financeira de forma muito rápida. O autor arrepende-se um pouco de ter colocado o termo “retirement” (aposentadoria), pela conotação que a palavra representa na sociedade. As palavras e os sentidos que elas tem em um determinado agrupamento humano contam e muito. É uma área do conhecimento humano que gosto bastante, mas não irei me estender aqui. O blog iniciou-se em 2007 e é um dos pioneiro no assunto na internet. O autor, Jacob, é um Dinamarquês que mora nos EUA, se entendi corretamente, que largou a profissão de físico profissional e hoje em dia vive financeiramente independente vivendo com menos de U$ 10.000,00 por ano. 

O autor do Blog escreveu um livro. Pretendo lê-lo quando tiver oportunidade;


  O Blog indicado pelo comentário é o Brave New Life. É a história de um engenheiro e a sua jornada de auto-conhecimento que o levou de forma sistemática a desistir de um emprego de U$ 170.000,00 anuais  (sim R$ 700.000,00 por ano) para viver com sua família de dois filhos com um orçamento em torno de U$ 30.000,00 anuais. O interessante é que a história dele em muitos aspectos se assemelha a minha. Ele tem 35 anos, durante os primeiros 10 anos de sua vida profissional teve uma alta taxa de poupança (muito semelhante a minha) sem saber muito o que fazer com isso, até que uns cinco anos atrás a ficha de muitas coisas começou a cair e a sua compreensão do mundo, sua vida, e o que ele realmente acha uma boa vida alargou-se de uma forma fantástica. 

  Por fim, o terceiro blog é o já clássico MMM, ou também carinhosamente conhecido como Mr. Money Mustache. Ele se “aposentou" com 30 anos de idade, como ele está atualmente com 40 anos, há uma década ele goza de independência financeira.  A forma dele abordar diversas questões é simplesmente fantástica. Ele, se não me engano, trabalhou como Engenheiro, exatamente como o Brave New Life.  Há artigos muito interessantes. A forma como ele discorre sobre a Taxa Segura de Retirada é muito boa mesmo. O artigo que ele trata sobre Margem de Segurança, e suas diversas camadas protetivas,  é como eu vejo a questão de independência financeira em meus modelos mentais, mas ele conseguiu traduzir isso em palavras, o que foi algo bem interessante. O texto que ele aborda sobre a ilusão da segurança era algo que eu estava a beira de escrever nesse espaço e devo fazê-lo em um dos diversos artigos que irei tratar sobre Taxa Segura de Retirada e Independência Financeira. Hoje de manhã, li o artigo onde ele fala que apego à luxo é apenas uma fraqueza humana, algo com o qual concordo plenamente, e já tratei do tema de forma indireta diversas vezes nesse espaço. Ter um sentimento de dependência ao luxo é a mesma fraqueza de ser dependente de uso de substâncias químicas legais ou não.

Mr. Money Mustache: belo bigode!

   O nível desses três blogs relatados é muito alto, algo que não se encontra muito por aqui. Infelizmente, eles são escritos em língua inglesa,e talvez isso afaste uma grande maioria de leitores brasileiros que possam ter dificuldade em ler textos em Inglês. O nível dos artigos, na maioria, é bem alto. Os comentários dos leitores, principalmente no MMM, são bons e às vezes muito instrutivos. Faço questão de ler todos os comentários, e muitos artigos interessantes de outros sites foram recomendações dos comentários. Os autores não caem em contradições lógicas banais, como muitas pessoas no Brasil atualmente o fazem, bem como sabem escrever de forma clara e precisa,  e saem dessa lógica preguiçosa intelectualmente entre "bons x maus, direta x esquerda", ou qualquer "Fla-Flu ideológico" que a sociedade brasileira infelizmente está tornando muito comum, sem se dar conta das consequências terríveis de médio prazo que isso pode ocasionar no tecido social. Leitura de alto nível e espero compartilhar alguns pensamentos deles por aqui.

  É evidente que o que eles falam não é novo. O MMM, por exemplo, até pouquíssimo tempo atrás não sabia o que era estoicismo, e nem sobre os estóicos. Aparentemente, ter contato com essa forma de pensamento teve uma grande influência em sua vida recente (ainda preciso ler o artigo em específico). Logo, como sempre disse o meu pai, em matéria de sentimentos e paixões humanas não há muito de novo sendo refletido pelos humanos. Entretanto, é inegável que eles - os blogs - trazem uma roupagem mais moderna e acessível para as pessoas, bem como conectam reflexões mais profundas de vida com finanças pessoais, um dos objetivos primordiais do blog pensamentos financeiros.

   Encerro o artigo recomendando fortemente a leitura dos blogs em questão para os leitores que podem ler em Inglês. Se a leitura no idioma do grande Escritor não é muito boa, desafie-se um pouco, faz bem para o cérebro. Acaso seja realmente difícil a leitura em outro idioma, prometo que vou tentar trazer muito dos temas abordados por lá para a nossa realidade brasileira. Por fim, coloco o famoso discurso de Jobs. Vale muito a pena assisti-lo, e agradeço novamente o anônimo que enviou o link.

                               Um discurso cativante, emocionante e inspirador. 

  Acabo esse artigo embaixo de um coberta na cidade bem pequena no meio das montanhas de nome Pai. Está frio, o que é algo unusual para a Tailândia. No caminho entre Chiang Mai e Pai eu e minha companheira fizemos amizade com um casal de americanos que mora no Alasca. Ele nasceu e cresceu no Havaí. Eu falei só pode estar de brincadeira! Quero morar no Havaí uns meses e quero muito viajar pelo Alasca. Que coincidência. Ele me contou cada história bacana do Alasca, que fez a minha vontade de conhecer essa região apenas aumentar. Comentei sobre o filme “Into the Wild”, e ele já tinha visto várias vezes, assim como eu. Muito interessante encontrar alguém que quando eu falo sobre a cena de um filme específico se lembra da cena em detalhes. Nos conhecemos por algumas horas, mas parecemos amigos que se conhecem há muito tempo. Estamos no mesmo hotel, e é incrível como quando estamos abertos a novas experiências, quando saímos um pouco da “defensiva" e interagimos com outras pessoas, podemos encontrar pessoas bem bacanas pelo caminho.

Essa noite na agradável cidade de Pai. Ela trabalha fazendo Café. Ele é DJ e cozinheiro. Acabou de comprar 2.5 alqueires de terra no Alasca e quer produzir a sua própria comida, bem como construir a sua casa com as próprias mãos. Ao se despedir para dormir, ambos deram um abraço bem forte na gente, algo inusitado para americanos, o que foi bem legal. Como é bom fazer amigos e procurar se dar bem com outras pessoas.



  Um grande abraço em todos!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

TAILÂNDIA - UMA VIRADA DE ANO FABULOSA NA "CIDADE DOS ANJOS"

  Olá, colegas! Antes de mais nada, desejo um bom ano novo para todos. Eu, sinceramente, não me impressiono tanto com esse tipo de data. O eterno ciclo de finais e começos é bem conhecido na filosofia oriental, e está presente em muitos conceitos para vários correntes místicas dessa parte do mundo. Nós, ocidentais, até pela nossa raiz cultural e religiosa, não refletimos tanto sobre isso. Porém, parece-me evidente que o final de ano, mesmo que seja um dia como qualquer outro,  encarna o ciclo de fim-começo-fim,  pois parece ser para muitas pessoas  a oportunidade de um novo recomeço, onde todas as esperanças e sonhos podem se renovar, deixando para trás no ano finalizado eventuais frustrações. É claro, como é apenas mais um dia e as pessoas continuam exatamente as mesmas (assim como o mundo), que a esmagadora maioria dos sonhos e esperanças não se concretizarão no ano novo vindouro, mas para isso sempre haverá mais um ano novo, onde ter-se-á mais uma oportunidade para agora sim realizar todos os projetos que alguém eventualmente possa acalentar.

  Apesar de não ser um dia especial para mim, assim como o natal também não o é, eu desde jovem sempre compreendi o que significava para a esmagadora maioria das pessoas. São momentos alegres, onde as pessoas gostam de confraternizar umas com as outras, e isso é algo muito positivo, saudável e bonito. Bom seria se todos os dias fossem ano novo ou natal, como o mundo e nossas sociedades não seriam? Uma mudança tão simples de comportamento traria mudanças tão profundas na forma em que vivemos que nenhuma teoria filosófica, econômica ou política conseguiria prever. Logo, essas datas, por esse estado de humor das pessoas, costumam ser interessantes para mim.

  O meu ano novo não poderia ser mais diferente . Foi na “Cidade dos Anjos”, também conhecida por nós ocidentais como Bangkok. Já tive a oportunidade de visitar essa cidade muitas vezes, até porque junto com Cingapura e Kuala Lumpur, é um dos maiores hubs dessa parte do mundo. Foco nesse artigo apenas na minha experiência de ano novo nessa fantástica cidade.

  Em outras ocasiões já passei a virada do ano em lugares muito inusitados. Como esquecer a vez que estava em Hanói, capital do Vietnã, e os vietnamitas me confundiram com um jogador de futebol europeu famoso. Os vietnamitas são fechados no começo, mas basta abrir um sorriso para eles que eles retribuem com um sorrido ainda maior. Logo, foi um ano novo tirando fotos com inúmeras pessoas que pediam e sorrindo para dezenas, quiçá centenas de pessoas. Ou o final de ano passado no deserto de Thar na fronteira entre Paquistão e Índia (umas das regiões mais tensas do mundo) na presença de um guia chamado Mr. Desert. Tenho um vídeo que é um dos mais legais que eu já fiz, quando o mesmo improvisou uma queima de fogos no meio do deserto. Dormirmos a virada do ano literalmente a céu aberto, no meio de dunas, sendo acordado de noite por um cachorro que vinha nos acompanhando por algumas horas, num dos maiores sustos que já tomei. Ou o final do ano num dos lugares com as praias mais lindas do mundo: El Nido na ilha de Palawan, Filipinas. Tinha feito três mergulhos no dia e meu ouvido estava doendo,  a cada explosão de fogo de artifício era um verdadeiro martírio para mim. Ou, mais recentemente, no deserto ao norte do Peru, em Lobitos, um lugar com altas ondas no meio do nada. Enfim, já passei viradas de ano muito interessantes.


  Entretanto, esta foi a mais diferente.  Primeiramente, o ano novo para os Tailandeses é em abril, pois o calendário deles não é o mesmo que o nosso. Eles estão no ano 2558, não em 2016, já que levam em conta a vida do Buda histórico, não de Cristo. Porém, como é comum em países Asiáticos, eles “adotaram" esse dia como um motivo a mais para comemorar e unir-se com familiares e parentes. As festividades do ano novo Tailandês duram três dias e envolve basicamente reunir-se com amigos, familiares e refletir sobre ações feitas no ano que se passou. Uma tradição interessante é que eles jogam água uns nos outros, no que vira uma grande festa, simbolizando uma forma de purificação.

  A “Cidade dos Anjos” geralmente nessa época recebe muitos turistas estrangeiros. A Tailândia é visitada por 20 milhões de turistas estrangeiros por ano, o que é algo notável, pois o Brasil recebe apenas uns 5 milhões, o que mostra como nosso país é mal explorado em muitos setores, sendo o turismo apenas mais um deles. Logo, a festa de final de ano na cidade tem importância turística também.

  Eu e a minha companheira começamos a nossa peregrinação noturna pela cidade no dia 31 de dezembro indo para o enclave chinês da cidade, a famosa Chinatown de Bangkok. Já estou muito habituado com esse tipo de lugar. Comidas baratas de rua, várias barraquinhas e muita, mais muita gente. Após comer ostras fritas com uma camada de ovo frito em cima e uma bela cerveja local gelada, começamos a andar em direção ao centro histórico da cidade.

  Quando estávamos passando por um dos templos mais sagrados da cidade, e do país, chamado Wat Pho, ouvi  cânticos típicos de monges budistas. Eu simplesmente adoro a entonação dessa espécie de canto. Posso fechar os olhos e ficar ouvindo por muito tempo. Resolvi entrar no templo e fui surpreendido com o que vi. Além do templo iluminado de noite ser muito bonito, havia centenas de pessoas sentadas de branco entoando cânticos. Todas estavam com fios amarrados no corpo que por sua vez estavam amarrados numa rede entrelaçada de vários fios acima de suas cabeças. 



Percebam que todos estão com fios enrolados a cabeça que por sua vez estão todos conectados em fios esticados no teto num emaranhado de fios que talvez represente que todos nós estamos de alguma maneira conectados. Que mensagem linda, principalmente com tantas pessoas com ódio no coração contra pessoas diferentes, seja por causa de ideias, posicionamentos políticos, orientações sexuais, etnias, ou qualquer outra diferenciação que se possa fazer entre indivíduos que no fundo são apenas e unicamente humanos.

Linda Cerimônia

Essa foto foi tirada uns dias antes, quando por acidente descobri que o Wat Pho ficava aberto de noite e era de graça para visitar. Não havia ninguém e foi uma sensação extraordinária andar nesse templo iluminado sem ninguém (de dia há literalmente milhares de pessoas)


  Foi muito bonito ficar um tempo lá apenas assistindo. Minha companheira, no que foi um belo insight, disse-me que talvez as pessoas enroladas nos fios significava que todos na verdade estavam entrelaçados uns aos outros, num conceito que é um dos mais bonitos que eu conheço: o de unicidade. Não sei dizer se ela está correta ou não, apesar de ser bem plausível, mas é uma belíssima explicação.


  Saímos do templo e passamos por milhares de Tailandeses. Em inúmeros locais, havia diversas pessoas sentadas e orando, misturadas com alguns estrangeiros sentados ao lado, numa mistura muito bacana de culturas, etnias e religiões (apesar de eu não considerar o Budismo uma religião).  Isso para mim foi lindo de se ver, principalmente com tanto ódio existente no mundo em geral e em nosso país em particular.

                                          Countdown Thailand...

  Resolvemos então ir para um grande gramado que existe em frente ao Palácio real. Quando chegamos ao local, eu simplesmente não acreditei no que vi. Havia dezenas de milhares de pessoas sentadas, orando, muitas delas com as duas mãos em frente ao coração, uma forma tipicamente Tailandesa de se mostrar respeito e cumprimentar outros. Junto com a saudação japonesa de se curvar o corpo (algo que acho demais e sempre faço quando me despeço de um japonês - outra coisa que aprendi com japoneses é não entregar um objeto com apenas uma mão, mas com as duas mãos), é uma das mais belas formas de interação humana não-verbal que conheço.  

Quando olhei essa multidão sentada, de branco, orando e muitos com a mãos perto do coração eu simplesmente não acreditei no que estava vendo.



  Coordenando essa multidão havia  dezenas de monges num palco montado entoando cânticos. Nossa, foi demais. Quando o ponteiro do relógio marcou meia-noite, eu abracei a minha companheira e desejei feliz ano novo. Percebi que fomos os únicos, muitos continuaram simplesmente na oração. Quando belos fogos sobre o palácio começaram, os monges continuaram entoando cânticos e a maioria da multidão permaneceu sentada acompanhando os monges na cantoria. Foi lindo. Ver fogos iluminando uma das mais belas construções da Ásia, dezenas de milhares de pessoas sentadas entoando cânticos acompanhadas por inúmeros monges, foi algo muito especial mesmo.

Dezenas de Monges no palco (talvez tivesse mais de cem) entoando cânticos. Eu não consigo compreender nada, mas eles são tão belos e trazem uma grande serenidade para mim.
Fogos no Palácio Real ao fundo. Uma grande noite e um grande momento, sem dúvidas. Uma excelente experiência.

   Ficamos por um tempo e resolvemos voltar para o hotel. A rua onde ficamos em Bangkok, gosto muito de ficar nesse local, é do lado da famosa Khao San Road, conhecida como o coração Backpacker de toda a Ásia. A primeira vez que vi a mistura de estrangeiros, insetos fritos, barulho, cheiros, locais oferecendo shows de mulheres, massagens sendo feitas na rua, etc, etc tudo ao mesmo tempo,  foi algo extraordinário. Hoje em dia, ela não me atrai mais tanto. Nunca tinha visto a Khao tão cheia. Apenas estrangeiros, quase todos jovens, bebendo cerveja, ou qualquer outra droga alcóolica (não era nem duas da manhã e vi inúmeras garotas passando mal), dançando eletrônico. Foi como ir de um oposto ao outro. Ficamos algum tempo, na verdade para atravessar a extensão de toda rua demoramos uns bons 30 minutos e fomos dormir, felizes com mais uma grande experiência vivida.


  É isso, colegas. Grande abraço a todos!