Olá, colegas. Este meu artigo
iria ser apenas sobre a alegria, porém depois do acontecimento de hoje, também
tive que refletir sobre a tristeza e o imponderável. Comecemos pela alegria.
Ontem,
um Brasileiro ganhou a medalha Fields, conferir em http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/artur-avila-o-genio-brasileiro-cool-das-equacoes. Sou sincero ao dizer que não fazia ideia
que esse prêmio existia. É conhecido como o “Nobel” da matemática. É um prêmio
importante concedido a quatro matemáticos a cada quatro anos (outro fato
interessante é que uma das ganhadoras foi uma matemática do Irã). Soul, por
isso iria te trazer alegria?
É
claro que não dei pulos de alegria com a notícia, mas fiquei feliz ao saber que
um brasileiro tão jovem tinha ganho um prêmio tão importante numa área que
admiro tanto que é a matemática pura. Eu entendo pouco de matemática, mas tenho
uma profunda admiração pela matemática e pela física. Outra coisa muito bacana é que a área de
estudo do Artur Ávila é matemática abstrata que pode vir ou não a ter
aplicações práticas. Eu sempre achei esquisita a argumentação sobre teoria e
prática, e aqui não me refiro a ninguém em especial até porque isso é muito
comum em nossa sociedade, colocando as duas em pontos antagônicos da existência humana, como se elas não fossem complementares e imprescindíveis uma para a outra, o que é um
erro bem grave em minha opinião. O conhecimento abstrato por si só
já é engrandecedor, aliás como procurei ilustrar com a minha reflexão sobre as finalidades
do dinheiro (http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/06/reflexao-as-tres-finalidades-do-dinheiro.html), porém nunca se sabe as conseqüências práticas da busca pelo
conhecimento puro.
Algumas
pessoas que torcem o nariz para a busca do conhecimento por si só, talvez se surpreendessem ao saber que a internet, o celular, aliás, quase tudo que usamos como
tecnologia, são frutos de pessoas que se dispuseram a pensar sobre o
desconhecido às vezes sem qualquer finalidade prática em mente a curto prazo. É
o que Artur Ávila faz. Ele trabalha com sistemas dinâmicos, ou seja, sistemas
que evoluem com o tempo e que podem ser sensíveis a pequenas perturbações (está
relacionado com a teoria do caos). Portanto, num país onde as boas práticas não
existem e onde a teoria é mal-tratada, até por causa do nosso péssimo sistema
educacional, para mim é uma grande alegria ver um brasileiro se destacando num
ramo do conhecimento onde o pensamento abstrato é de suma importância.
A
toda evidência, eu não faço a mínima ideia dos pormenores matemáticos dessa
teoria. Entretanto, ao reler “A Lógica do Cisne Negro” estou bem
na parte onde o autor fala do matemático Poincaré e sua contribuição à ideia de
sistemas dinâmicos e da limitação do conhecimento humano na possibilidade de
prever eventos futuros, da nossa
cegueira epistêmica ao imponderável, e isso me leva ao motivo da tristeza.
Artur Ávila. Espero que a conquista desse rapaz sirva de inspiração para outros jovens brasileiros e que desperte um maior interesse pela ciência e pela busca do conhecimento em nossas crianças.
No
dia de hoje, um acidente aéreo ocorrido na minha querida cidade de Santos
vitimou sete pessoas, uma delas o presidenciável Eduardo Campos. Em minha
visão, a vida de qualquer ser humano é digna, e não creio que existam vidas
mais importantes do que às outras. Por isso, a morte das outras seis pessoas,
muitas delas jovens, de uma maneira tão inesperada é algo muito triste. Porém,
é inegável que um dos principais candidatos à presidência possui uma posição mais
proeminente e cause uma comoção nacional maior.
Eu
também não conhecia bem Eduardo Campos. Apenas sabia que tinha sido governador
de Pernambuco, Estado onde tenho raízes familiares, com um altíssimo nível de
aprovação e pelo que vi no jornal da cultura ele foi reeleito com uma das
maiores quantidades de votos da história do Brasil. Ele era um político
relativamente jovem e representava talvez uma tentativa de fazer uma
política diferente no país. Poderia não
ser ideal ou ter cometidos erros, mas com certeza ele era muito diferente dos
Renans, Sarneys e tantos outros políticos profissionais que conhecemos e que o
Brasil não suporta mais.
O
falecimento de um político como esse dessa forma inesperada a dois meses das
eleições é algo muito triste e ruim para o país. A política do Brasil, já
extremamente enfraquecida, fica ainda mais frágil. Isso, e provavelmente esqueceremos, pois
nosso cérebro não é projetado para lidar com a extrema incerteza, apenas mostra
como o imponderável é decisivo em grandes acontecimentos históricos. O que vai
ocorrer agora? A Marina será candidata? Será que ela pode ter força para ganhar
a eleição (algo que Campos dificilmente teria condições - talvez as maiores chances dele seriam para 2018 )?
Difícil saber. O que se pode dizer é que
o imponderável, um Cisne Negro, ocorreu hoje no Brasil e as suas conseqüências são impossíveis de estimar. Não é demais lembrar que a morte de Tancredo Neves
mudou completamente a história recente do nosso país, pois muito provavelmente
o nosso país seria outro com ele no poder do que foi com José Sarney, principalmente num momento tão crítico como foi o período da transição de uma ditadura para um regime democrático. Cito uma bela frase do Eduardo Campos proferida em sua entrevista ao Jornal Nacional ontem: "Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde vamos criar nossos filhos, é aqui onde temos que criar uma sociedade mais justa….”
Eduardo Campos. Podia ter os seus problemas e suas falhas (qual ser humano não as tem), mas ele sinalizava com a possibilidade de se pensar uma política mais alinhada com os anseios de boa parte da população.
Alegre
e triste com o Brasil em menos de 24 horas, como a vida é dinâmica. Eu particularmente não sou muito fã de mídias
sociais, mas observei que muitas brincadeiras de gosto duvidoso estão sendo
feitas com o acontecimento. Às vezes
penso que o “pseudo” anonimato da internet traz à tona algumas características
lamentáveis dos seres humanos, porém creio que temos que aprender a conviver com
isso, pois não parece um fenômeno passageiro. Ficam aqui os meus parabéns ao
brasileiro Artur Ávila e os meus sentimentos às famílias de todos que pereceram
no acidente de hoje.
Olá, colegas! Hoje faço um artigo bem mais breve (para alegria de alguns:P), e volto um pouco às raízes de início desse blog que foi a análise de FII. Fiz uma breve atualização do estudo feito por mim no começo desse ano para dois fundos. Por que esses dois fundos? Como são fundos com distribuição não completamente linear, é sempre bom estar atualizado, pois a renda média não fixa tanto na cabeça como em fundos muito mais estáveis como um XPCM ou um BBPO. Além do mais, esses fundos não são tão novos, o que permite que se faça uma análise um pouco melhor sobre os dados e os resultados dos fundos. Coloco abaixo a análise e peço que prestem atenção principalmente às partes sublinhadas.
RBRD11 – Quatro imóveis voltados para logística (10% do faturamento), varejo (60% do
faturamento) e também escritórios (30% do faturamento), localizados no Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte. Fundo administrado pela Votorantim. Três
locatários, sendo que um deles (Ampla) paga o aluguel anual em outubro, isso
faz com que o rendimento tenha um comportamento parecido com o FIIP11B. Os
contratos são de longa duração (2024/2025). O fundo está protegido contra
eventuais rescisões pela existência de multas contratuais que prevêem o
pagamento de aluguéis até o fim do contrato. O fundo tem uma participação
pequena em logística com 10% e uma grande participação de lojas de varejo
(retaliers) alugadas para a empresa
LAEDER. Projetando-se um
rendimento para 2014, tendo como base os aluguéis mensais e o aluguel anual da
AMPLA, e um IGP-M e IPCA de 6% (o fundo possui contratos reajustados pelos dois
índices) , pode-se esperar um rendimento de
R$ 7,4 anual , algo em torno de
R$0,62 por mês na média, por quota (em 2011 foi de R$ 6,00, em 2012 de R$ 6,4 e
em 2013 de R$6,97, mostrando uma evolução interessante e uma proteção da renda)
o que dá um yield de razoáveis 0,86 % am e 10,3% aa com quota a preços atuais de R$72,00 (agosto de 2014) , o
que é um patamar bem interessante pela segurança do fundo tendo em vista a boa
diversificação geográfica, bem como a longevidade dos contratos, o que dá
fôlego para o fundo agüentar uma eventual crise econômica e/ou imobiliária.
Despesas na ordem de 4% do faturamento, o que é muito bom. Taxa de
administração de 0,21% do PL do fundo. O
Valor Patrimonial da quota está em R$ 77,00, sendo assim a quota está sendo
negociada com um leve deságio patrimonial. Volume não é grande, mas é
razoável. É interessante notar que a
cota foi lançada em novembro de 2010 por R$74,12, portanto quase não houve
valorização nominal da quota em quase quatro anos (é de se destacar que em 2011
houve uma amortização de R$4,00 por quota).
Avaliação: Ótimo. Contratos longuíssimos com bons locatários,
rendimento atual bom.
Risco: Baixo. Não vejo riscos
significativos para esse fundo no curto/médio prazo.
FIIP11B – Fundo de logística e de locação para lojas de varejo.
Particularidade de ter contratos corrigidos pelo IPCA (contratos longos com fim
de prazo entre 2018-2024, a exceção do imóvel de Ilhéus que vence em dezembro
de 2016 e representa 13% do faturamento do fundo). Razoavelmente diversificado
com vários locatários e vários imóveis. Outra particularidade é uma certa
diversificação geográfica, o que é sempre bem interessante para a carteira de
FII (imóvel no Paraná, Bahia, Minas Gerais e São Paulo). As despesas de
administração são relativamente baixas em relação a outros FII (algo em torno
de 3% do faturamento). Há uma particularidade também que a AMBEV paga o aluguel
anual em janeiro, o que faz que o rendimento mensal seja um pouco inferior nos
outros 11 meses. Renda projetada para esse ano de R$ 15,8 anual, com uma média
de R$1,31 mensal - com aluguel anual da AMBEV – (distribuição nos anos de 2010
- R$ 12,86, 2011- R$ 13,65, 2012- R$ 14,21 e 2013- R$ 14,97, o que mostra que a
renda vem sendo protegida contra a inflação), o que dá um yield de razoáveis
0,87% am e 10,5% anuais com quota a R$ 150,00 (o que é muito parecido com o
yield do RBRD) em agosto de 2014. Há uma particularidade de que o fundo possui
apenas direito de superfície em relação ao imóvel localizado em Tatuapé e
alugado a CA. O direito se extingue em 2047. Aparentemente não é um grande
problema, pois representa 6% do faturamento do fundo. O valor patrimonial do
fundo é de aproximadamente R$ 172,00, o que dá um deságio de aproximadamente
15%, o que é interessante e de certa forma mitiga o risco do imóvel com direito
de superfície. Outro detalhe é que nos imóveis alugado para AMBEV e para a
Magazine Luiza quase metade dos terrenos estão desocupados, o que com certeza
pode ser usado para construção de outros galpões, o que pode trazer ganhos de
valor no médio/longo prazo para o quotista. É interessante notar que a cota foi lançada
em dezembro de 2009 de 2009 por R$142,37, portanto houve uma valorização
nominal da quota discreta de apenas 7%, muito abaixo da inflação do período.
Sendo assim, os rendimentos foram protegidos da inflação, o valor da quota não,
por isso é essencial reconhecer que a função precípua de um FII é gerar fluxos
de caixa razoavelmente protegidos contra a inflação, o ativo subjacente pode
sofrer desvalorização real como no presente caso.
Avaliação: Ótimo. Não há problemas aparentes. Os contratos são longos,
há vários locatários e vários imóveis. O yield atual é bom. Foi um dos fundos
onde a quota se manteve mais estável durante a baixa generalizada de 2013 e do
começo desse ano.
Risco: Baixo. Os contratos possuem preço de locação competitivo, o que
dá força para o fundo em um eventual cenário econômico adverso.
O ponto principal que quero chamar atenção, e que sempre procurei colocar nesse blog, é como, pelo menos para nós pequenos investidores, é importante saber qual é a função de um ativo e o que esse ativo pode e não pode entregar. Sempre procurei ressaltar, e isso vem já do segundo post desse blog http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/01/fii-pessimo-negocio.html, que a função precípua da classe de ativo fundos imobiliários é gerar fluxos de caixa razoavelmente protegidos contra a inflação. Por que isso é importante? O colega Bob Lucas me indicou um texto (há dois artigos atrás) muito bom sobre a crise das aposentadorias escrito pelo economista e ganhador do prêmio nobel (sim, eu sei que não existe prêmio nobel de economia, mas é como se diz na prática) Robert C Merton que pode ser conferido em http://www.hbrbr.com.br/materia/crise-no-planejamento-da-aposentadoria.
O ponto fundamental do texto é que a preocupação central da esmagadora maioria dos aposentados é a renda que um portfólio pode produzir, e não necessariamente o tamanho do portfólio. Sendo assim, os gestores dos grandes fundos de pensão pelo mundo deveriam mudar o foco de suas estratégias, pois o foco deve ser a geração de renda, ou seja fluxo de caixa, e não necessariamente de crescimento patrimonial ou estabilidade da mesma. Não irei analisar o artigo, pois os argumentos do Professor do MIT são fortes por si só e recomendo fortemente a leitura do artigo que é muito interessante.
Soul, e qual é a relação disso com o seu artigo e principalmente com os FII? O motivo é simples. Ativos e configurações de patrimônio diversas podem produzir fluxos de caixa e expectativas de crescimento distintas. Um aposentado, ou uma pessoa com necessidade de fluxo de caixa porque quer viver de renda passiva (meu caso e o desejo de muitos blogueiros), talvez deva direcionar o seu portfólio para um configuração que privilegie mais a geração de renda. Se vocês prestarem atenção nas duas partes sublinhadas na análise dos dois fundos, perceberão que foi exatamente isso que quis salientar, a diferença entre o fluxo de caixa e a diferença da valorização patrimonial.
Conforme consta na análise, tanto o fundo RBRD, como o FIIP, foram capazes desde o lançamento há alguns anos atrás, de produzir fluxos de renda estáveis e crescentes, o que demonstra que foram ativos apropriados para a geração de fluxo de caixa e para proteção inflacionária. Logo, se uma pessoa gastasse toda renda recebida no ano 2011, sem o reinvestimento, o mesmo teve o poder da sua renda mantido (claro que aqui vai depender da inflação pessoal de cada um, mas estou simplificando para ficar mais fácil a análise), logo essa espécie de ativo teria cumprido a função para uma espécie de investidor que está mais interessado na renda do seu patrimônio, os aposentados no artigo do Professor Merton, e os independentes financeiramente nos nossos objetivos pessoais enquanto investidores amadores.
Porém, se olharem a parte final da análise de cada fundo, perceberão que o patrimônio não cresceu, aliás teve desvalorização real, já que o valor nominal das quotas no mês de agosto de 2014 é quase igual ao valor nominal das quotas no lançamento nos anos de 2009 (FIIP) e 2010 (RBRD). Isso quer dizer que em termos patrimoniais, não estou considerando reinvestimento já que parto do pressuposto que a pessoa está consumindo o fluxo gerado, a pessoa ficou mais pobre em termos reais. Logo, uma pessoa que investiu nesses fundos manteve a mesma qualidade de vida já que o seu fluxo de caixa foi razoavelmente protegido da inflação, apesar de ter ficado em termos reais mais pobre. Se essa situação perdurasse por 10 anos, por exemplo, e os fluxos continuassem a ser protegidos, seria indiferente para um aposentado que o seu patrimônio diminuísse em termos reais. Porém, o fato é que no caso desses fundos houve prejuízo real.
Soul, vou parar de investir em FII, pois não sou aposentado, minha IF está longe e não quero perder patrimônio. Calma, colega! Não estou dizendo que as quotas não irão se valorizar nem mesmo nominalmente no longo prazo, aliás isso é o mais provável que aconteça, como aconteceu com os REITs em períodos longos de tempo (quatro décadas). O nosso mercado ainda é muito novo e os dados são de períodos muito curtos e eu peguei apenas dois fundos. Além do mais, essa é uma das razões (respondendo a uma pergunta feita pelo colega Economicamente Incorreto no blog do Guardião do Mobral) dos qual yields de alugueis residenciais estarem tão dissociados dos yields dos FII atualmente (sim, há outras elementos, esse é um deles), já que se a cota não se valorizou nem nominalmente em quatro anos, e a renda é cada vez mais crescente, isso quer dizer que o yield atual necessariamente tem que ser maior. Eu creio que o prêmio de fundos de tijolos em relação a alugueis residenciais para pessoas físicas está extremamente exagerado e creio que não se sustentará no longo prazo (mais de 10 anos), mas isso é apenas uma suposição.
Portanto, os FII possuem algum risco se o seu foco é o aumento patrimonial e se o seu horizonte de prazo é relativamente curto como menos de cinco anos. É natural que pessoas jovens com patrimônios menores foquem no aumento patrimonial e pessoas com mais idade ou com um patrimônio maior foquem na geração de fluxo de caixa. Portanto, precisamos sempre ter em mente quando formos investir num ativo as suas qualidades mais evidentes, e ter em mente o que o ativo poderá produzir, e o que dificilmente ele poderá produzir.
"A verdade sai do poço, sem indagar quem se acha à borda" (Machado de Assis - 1865)
"A distinção entre ilusão e verdade está na diferença de suas funções vitais. A ilusão vive da verdade - a verdade tem sua vida em si" (Novalis - 1798)
Não vou tratar com profundidade todos os assuntos abordados, pois isso redundaria em dezenas de páginas escritas e um trabalho muito grande, apenas lançarei
alguns fatos e reflexões. Sobre o que é exatamente o artigo que com esse nome parece o
filme de um faroeste italiano? É sobre uma história, na verdade várias
histórias, e como ações impensadas, ou melhor dizendo ações que comprometem
certos princípios, podem levar a resultados desastrosos.
No
dia 11 de setembro de 2001, o impensável iria ocorrer, um gigante cisne negro
se abateu sobre os EUA e viria a transformar o mundo de forma profunda. A história todos sabem, mas quem poderia
imaginar que um dos símbolos máximo do capitalismo mundial seria derrubado e a
fortaleza do exército americano seria atacada? Os EUA foram atacados em próprio
solo, algo extremamente raro na história de uma das nações mais poderosas de todos
os tempos. Aliás, muitos pensadores e historiadores atribuem ao isolamento
geográfico dos EUA uma das explicações para o seu desenvolvimento notável, já que
é quase impossível atacar os EUA militarmente em seu território.Entretanto, o
impensável ocorreu, e num ato de infâmia quase 3.000 pessoas foram
assassinadas, fora os milhares de trabalhadores de resgate que iriam sofrer problemas
de saúde principalmente de causa respiratória.
A potência econômica e militar do mundo foi atacada no seu coração financeiro. Um ato que pegaria a todos de surpresa, e uma prova cabal de que o mundo é muito mais imprevisível do que nossos modelos e analistas gostam de pensar.
A
resposta veio como se imaginava, os EUA iriam para guerra, pois um ataque
desses não poderia sair impune. Poucas semanas depois os americanos
bombardeavam o Afeganistão, pois este país, que era controlado por uma milícia
fundamentalista religiosa chamada Talibã, permitia que campos de treinamento de
grupos terroristas se desenvolvessem em seu território. O suspeito número um era
um sujeito chamado Osama Bin Laden, supostamente líder uma organização chamada
Al Quaeda.
Para
quem não sabe, Osama vinha de uma família extremamente rica da Arábia Saudita
(o principal aliado dos EUA na região, um regime fundamentalista wahabista onde
decapitações públicas ainda existem e onde mulheres possuem pouquíssimos direitos), e resolveu largar todas as
riquezas e posses de uma vida nababesca (acreditem, os homens mais ricos da
terra estão naquela região) para ir para o montanhoso Afeganistão se tornar um
mujahideen (uma tradução literal seria “aqueles que estão em Jihad”) contra a invasão
da Antiga União Soviética. Imperioso destacar que os EUA ajudaram os
mujahideen. Portanto, num primeiro momento Osama foi aliado do governo
norte-americano.
Filme "Jogos de Poder", é um filme bacana sobre a participação americana e seu apoio aos mujahideen no começo da década de 80
De aliado dos americanos a grande inimigo. Podem falar o que quiser, mas Osama podia estar num iate de algunas centenas de milhões de dólares com dezenas de mulheres estonteantes (talvez o sonho de boa parte da população masculina ocidental), mas trocou tudo isso para viver em cavernas por causa de um ideal. O ideal dele era grotesco e repugnante na minha opinião, mas mostra quão devotado à sua causa o mesmo era e que devoção a uma causa não necessariamente leva a grandes atos de desenvolvimento humano e espiritual
A
batalha contra o Talibã foi vencida rapidamente pela diferença de força dos
exércitos, mas a guerra nunca seria vencida, pois os afegãos são conhecidos na
história por ser um país de guerreiros e os mesmos já enfrentaram em sua
tumultuosa história várias outras potências estrangeiras, mas esse é um tópico
para outro artigo. Com as principais batalhas encerradas no Afeganistão, a
bateria de guerra americana virou-se contra um antigo amigo, que tinha se
tornado inimigo nos anos mais recentes, o infame Saddam Hussein.
O alvo era agora outro antigo aliado que se tornou inimigo. Isso mostra que quando fazemos aliança apenas por conveniências, sem nos importamos com os aspectos morais e principiológicos, o resultado acaba sempre sendo desastroso (pode colocar nessa linha de raciocínio qualquer coisa: política partidária, se associar com alguém para empreender, etc, etc)
A
Comunidade Internacional se posicionou fortemente contra o ataque ao Iraque, ao
contrário da primeira guerra do golfo no começo da década de 90 onde o apoio
internacional foi maciço. Como se justificar uma guerra sem apoio? Aliás, como
justificar qualquer coisa quando não se tem apoio? Muitos políticos apelam para
uma antiga prática humana: a mentira.
Os
EUA estavam dispostos a atacar o Iraque, com anuência ou não da ONU, mas
precisam de um motivo, independente se ele fosse verdadeiro ou não. O Iraque é de uma importância singular na questão energética mundial, um inimigo dos EUA
estava no poder desse país e de brinde ainda poderiam isolar um dos maiores inimigos dos EUA: a República Islâmica do Irã. Parecia um prato cheio para os EUA irem à guerra e gerar centenas de bilhões de dólares em contratos com empresas de segurança privada (apenas esse tema já merece um artigo), de armas e grandes empreiteiras para a reconstrução do país que seria arrasado pela máquina de guerra. Antes de continuar com a nossa saga no Iraque, creio ser importante falar um pouco sobre a antiga Pérsia. Farei uma brevíssima digressão da
história recente dos EUA e de sua relação com o Irã.
O
Irã sempre foi um dos países mais progressistas da região, e na década de 50
tinha elegido democraticamente Mohammed Mossadegh para primeiro-ministro. Este senhor era nacionalista e possuía metas
ousadas como nacionalização do petróleo iraniano e outras políticas não
alinhadas com as principais potências ocidentais. Como talis políticas se opunham a interesses econômicos principalmente ingleses, Mossadegh viria a ser deposto
num golpe com a ajuda da CIA, naquilo que seria a primeira participação
americana num golpe de estado em outro país. Assumiu o poder no país, com apoio
de EUA e Inglaterra, o Xá Mohhamad Reza Pahlavi. O governo do Xá foi
transformando-se numa ditadura sanguinária, onde a família do xá e a elite
iraniana viviam em extremo luxo e a população em situação cada vez mais
miserável, fora os assassinatos e torturas políticas. O governo do xá foi tão
brutal que grupos tão heterogêneos como comunistas, estudantes universitários e fundamentalistas islâmicos se uniram e
em 1979 conseguiram derrubar o governo, no que ficaria conhecido como a
revolução iraniana.
Um dos primeiros líderes populares que viriam a ser derrubados com ajuda dos EUA no século passado (Mossadegh)
Xá Reza Pahlavi com sua família
Um levante popular de proporções gigantescas viria a derrubar o regime sanguinário e ditatorial do Xá.
Todos
os demais espectros da política iraniana que não os de origem religiosa
perceberam que não haveria espaço no novo Irã, e o país viu o retorno do exílio na França do líder supremo religioso o Ayatollah Ruhollah Khomeini que
iria transformar o Irã num regime teocrático. As relações entre EUA e Irã deterioram-se
de vez quando milhares de manifestantes exigindo que o Xá fosse extraditado de
volta para o Irã(ele tinha fugido do país e se abrigado nos EUA) invadiram a
embaixada americana em Teerã e fizeram dezenas de americanos reféns. Esse episódio é muito bem retratado no filme “Argo”.
Pouco tempo depois o Irã entraria em guerra com o Iraque, país que era
comandado por um jovem chamado Saddam Hussein, numa guerra extremamente
mortífera que levaria a morte de mais de um milhão de pessoas segundo algumas
estimativas. Adivinhem que armou o regime de Saddam?
O líder supremo da revolução iraniana: Ayatollah Ruhollah Khomeini. Este homem transformaria o Irã num regime teocrático. É necessário salientar que o Irã é a antiga Pérsia um dos reinos mais poderosos que existiram na antiguidade da humanidade.
A guerra Irã x Iraque, pouco conhecida por nós ocidentais, foi atroz. Guerra química, guerra de trincheiras (o que lembra um pouco a primeira guerra mundial, onde quase não se avançava territorialmente e a mortalidade era muito grande) e um número muito grande de pessoas mortas.
Foto reveladora: Donald Rumsfeld (que viria a ter um papel importante no governo Bush filho e na segunda guerra do golfo) confraternizando com o mas novo aliado americano o Sr. Sadam Hussein
Sim,
num primeiro momento Saddam virou aliado dos EUA, assim como Osama Bin Laden,
seguindo a lógica magistralmente colocada no muito bom filme “O Senhor das Armas”
de que o “inimigo do meu inimigo é meu aliado”.
O tempo passou, Saddam entrou em guerra com os EUA no começo da década
de 90 e agora iria entrar em guerra de novo.
Toda essa digressão serviu para mostrar como os eventos podem tomar
rumos inesperados no longo prazo, será que quando a CIA apoiou o golpe de
estado contra Mossadegh na década de 50 tinha noção do que poderia ocorrer? Os
EUA tentaram combater um suposto “mal” e criaram um “mal” muitas vezes pior.
Os
EUA precisavam de um motivo para atacar o Iraque. Associar Saddam Hussein a
Osama Bin Laden como alguns tentaram fazer não seria crível, pois o
Iraque nunca permitiu campos de terroristas em seu território, aliás Saddam era
conhecido por não gostar de grupos como Al Quaeda. Qual foi a melhor estratégia
então? Criar medo e assustar, pois as pessoas com medo e assustadas são
dispostas a apoiar qualquer coisa que se destine a eliminar as causas que
originam o medo. Assim, os EUA
inventaram a história de Armas de Destruição em Massa que o governo iraquiano
possuía, sendo, portanto, uma grave ameaça
não só à região, mas como também à segurança interna americana.
Ora,
o Iraque estava quebrado depois de mais de uma década de pesadas sanções
econômicas, e o seu exército estava enfraquecido. Não havia nenhum relato confiável de
inteligência de que o Iraque possuía armas de destruição em massa operacionais
para colocar em risco a estabilidade da região, muito menos para ameaçar os
EUA. Portanto, um país usou de uma
mentira para justificar moralmente uma guerra. Quando se mente para qualquer
coisa, não se pode esperar que o resultado final seja bom. Porém, quando se
mente para ir para uma guerra onde vai ocasionar a morte de dezenas de milhares
de seres humanos é algo gravíssimo.
Filme sensacional sobre a história de uma agente da CIA ameaçada pelo governo americano por revelar a mentira da existência da compra de urânio pelo Iraque de um país Africano (uma das principais "provas" dos EUA para a existência de armas de destruição em massa por parte do Iraque). Recomendo.
Em
20 de Março de 2003, os EUA iniciavam a segunda guerra do golfo. Uma guerra que
dura até hoje, apesar da retirada das tropas americanas em 2011, que ceifou a
vida até o ano de 2013 de aproximadamente 174 mil pessoas, sendo que entre
110/120 mil pessoas eram civis (http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-03-17/guerra-do-iraque-contabiliza-174-mil-mortes-em-dez-anos).
Essa está sendo uma guerra horrorosa, com diversas violações de direitos
humanos e massacres de civis. Os EUA que sempre foram conhecidos por um país
que lutava pela liberdade e garantias fundamentais dos povos (pelo menos do ponto de vista teórico-moral, principalmente por causa da lembrança da segunda guerra mundial, onde os EUA tiveram um papel decisivo na derrota do Nazismo) chegaram ao fundo do
poço do ponto de vista ético e de princípios com casos de abusos, torturas, assassinatos prisões
arbitrárias e ilegais. Um grande massacre ocorre e continua ocorrendo no
Iraque, um país que há uns 50 anos atrás era relativamente pacífico e próspero.
Uma das cenas infames da infame prisão de Abu Ghrabi. Não, a Tortura e a humilhação não levam a nenhum lugar, apenas a mais ódio. Alguns falam que o presidente Obama fez os EUA perderem destaque na agenda internacional geopolítica. A verdade, além de questões de surgimento de outros pólos de poder econômico e militar (no caso da Rússia de ressurgimento), é que os EUA perderam legitimidade depois de mentirem para invadir o Iraque e de abusarem de direitos humanos com tortura e prisões ilegais. Quando se perde a legitimidade, se perde a habilidade de se posicionar como uma parte legítima em conflitos próprios ou de terceiros.
As
ações sempre geram conseqüências, como procurei demonstrar com a minha
brevíssima digressão sobre as relações entre EUA x Irã nos últimos 60
anos. Qual é a conseqüência da guerra
americana no Iraque baseada numa mentira, e com inúmeras violações de direitos
humanos? Há várias conseqüências, mas uma é completamente aterradora e sinistra: criou-se
um monstro.
Com
a desintegração do regime de Saddam e o vácuo de poder que ocorreu, houve um
extenso rearranjo de forças no Iraque. Tensões religiosas que eram mantidas
sobre controle no governo Hussein voltaram com toda força no Iraque. O país
possui uma maioria xiita e uma minoria sunita e para agravar a situação ainda
possuem uma minoria étnica ao norte; os curdos (a história dos curdos merece um
artigo em específico). Saddam Hussein era sunita, e com a queda do seu regime
os xiitas viram a chance de retomar o poder, em muito apoiado pelo Irã que é um
país com a imensa maioria da sua população xiita, alijando e muitas vezes
perseguindo os sunitas do Iraque. Onde há ressentimentos, onde há divisões, há
o surgimento de lideranças mais propensas a violência e ao radicalismo. Foi o
que ocorreu no Iraque.
Um
grupo chamado aqui no Brasil de ISIS pelas letras da abreviação em Inglês, Islamic State in Iraq and Syria (porém o
mais correto seria ISIL-Islamic State in Iraq and the
Levant, pois a região do levante é muito maior do que a região da Síria),é uma organização que surgiu em meados de 2005/2006. O seu objetivo principal é
a criação de um califado (que abrangeria o território de muitos países, pare se
ter ideia até com partes no continente africano) com a aplicação da Sharia, a lei estrita dos Muçulmanos.
O grupo é tão extremista que até mesmo a Al quaeda renega o grupo. O ISIS
está simplesmente espalhando o terror e o horror no Iraque e na Síria,
parecendo que estamos vendo alguma cena saída da idade média. Estupros
coletivos, assassinatos coletivos, cabeças cortadas, conversões forçadas ao
islamismo, perseguição cruel a outros grupos étnicos e religiosos, é
simplesmente um horror.
É
um horror que está ficando cada vez mais poderoso. O grupo já controla boa
parte do território Sírio e Iraquiano. O grupo vem tomando reservas de petróleo
e nessa semana tomou a principal reserva de água do norte do Iraque. O grupo
pode simplesmente deixar boa parte do Iraque sem eletricidade, pode inundar
partes do país e pode trazer uma instabilidade para o lugar mais instável do
planeta (sim, infelizmente é possível). A situação é tão grave que os EUA foram
obrigados a reiniciar operações militares no Iraque esta semana, algo que não
faziam desde 2011, para impedir o avanço do grupo na região do Curdistão, numa
cidade onde há um consulado americano (já pensou cabeças de americanos cortadas
e colocadas em varas de madeira, algo que o ISIS está fazendo, e transmitida a
cena grotesca para todo o mundo?). Se alguém quer ver algumas cenas bem tristes e saber mais sobre o que está ocorrendo veja http://edition.cnn.com/2014/08/07/world/meast/stopping-isis/index.html?iid=article_sidebar.
Sim,
criou-se um monstro. Como esse monstro
vai ser contido, se é que vai ser, é algo que não se sabe. Esse monstro foi criado, claro que o motivo
não é apenas esse, mas ele tem grande explicação, por uma mentira e pelos
abusos de direitos humanos. Talvez as raízes para criação desse monstro tenham
sido plantadas quando a CIA ajudou o golpe de estado contra Mossadegh na já distante década
de 50. É difícil saber. O que podemos ter certeza é que as ações têm conseqüências,
violações graves de direitos humanos produzem conseqüências negativas e muitas
vezes imprevisíveis e quando se usa a desinformação e a mentira o resultado
nunca pode ser positivo.
Portanto,
colegas, talvez poucos tiveram a paciência de ler até o final, até porque esse
tipo de assunto pode ser interessante para mim, mas não para outras pessoas.
Porém, aos que chegaram até aqui fica a lição de que a violência arbitrária sem
a preservação de garantias mínimas e sem uma justificativa moral forte, quase
sempre produz apenas mais violência arbitrária e as vezes conseqüências muito
piores do que o imaginado. Portanto, antes de apoiar um pai batendo ou tendo um comportamento agressivo, antes de regojizarmos ao ver um bandido sendo espancado por uma multidão enlouquecida, antes de apoiarmos medidas de força que podem estar baseadas em argumentos frágeis ou mentirosos, devemos lembrar que essas ações geram quase sempre efeitos negativos muito intensos. O Brasil também possui o seu monstro criado, baseado num massacre e em pressupostos no mínimo contestáveis, e
pretendo abordar esse tema qualquer dia desses.
"As ideias tomam conta, reagem, queimam gente na praça pública" Oswald de Andrade (1928)
Olá,
colegas! Depois de dois artigos sobre finanças, hoje gostaria de falar sobre um
tema mais geral, e aqui no Brasil de certa forma polêmico, apesar do motivo ser um enigma para
mim. Afinal o grande pensador Paulo Maluf estava correto ao dizer: “Nossa
Política é boa, o que atrapalha é essa política de direitos humanos para
bandidos” (http://noticias.uol.com.br/album/2013/09/02/qual-e-a-frase-mais-polemica-dos-82-anos-de-maluf.htm#fotoNav=11)? Essa frase encontra ressonância em muitas pessoas no Brasil, inclusive em
alguns da classe política, sob o pretexto de que direitos humanos servem apenas
para proteger criminosos de alguma punição exemplar. Será que isso é verdade? Ou melhor
reformulando a questão, será que essa forma de ver o mundo nos leva a uma
sociedade melhor?
Primeiramente,
o que são direitos humanos? Direitos humanos nada mais são do que direitos
atribuídos a uma pessoa pelo simples fato dela ser humana. Logo, são direitos
que todos possuem independente se nasceram mulher num campo de refugiados no
Congo, ou filho de alguém da família real do Camboja ou na progressista Sidney
na Austrália. Portanto, pelo simples fato de ser humano é atribuído uma
série de direitos e garantias de que estes mesmos direitos não sejam violados
ou abusados.
Onde
surgiu essa noção? Parece claro que ela nasceu do conceito de igualdade
fundamental entre os homens, pois só é possível reconhecermos que há direitos
atribuíveis a todos os membros de uma sociedade, quando deixamos de lado
conceitos como direitos divinos, divisão de direitos fundamentais baseados em
castas, etc. Não vou me alongar na
formulação histórica do conceito de direitos humanos, até porque seria uma
digressão longa e acima dos meus conhecimentos, mas posso dizer que a
configuração atual dos direitos humanos, pelo menos para nós ocidentais, nasceu
com a revolução francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão em 1789 (A Declaração de Independência dos EUA foi um marco também, e a criação
do conceito de Habeas Corpus na Inglaterra no longínquo ano de 1215 é tido como
o primeiro marco histórico).
Revolução
francesa, um monte de esquerdistas revolucionários (muitas pessoas não sabem
mais o termo direita e esquerda foi cunhado nessa época, os esquerdistas eram
considerados aqueles que eram mais inovadores e sentavam-se à esquerda da “mesa
diretora” da Assembléia Nacional. Dá
para perceber que é um termo anacrônico para um mundo cada vez mais
complexo como o nosso), o que será que essas pessoas conceberam como direitos
humanos? Faço questão de citar a Declaração elaborada em 1789:
Art.1.º Os homens nascem e são
livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na
utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda
associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a
resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a
soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode
exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste
em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos
direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram
aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites
apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5.º A lei proíbe senão as
ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado
e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6.º A lei é a expressão da
vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou
através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos,
seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos
e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos,
segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes
e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser
acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com
as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam
executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado
ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário
torna-se culpado de resistência.
Art. 8.º A lei apenas deve
estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido
senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e
legalmente aplicada.
Art. 9.º Todo acusado é
considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável
prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente
reprimido pela lei.
Art. 10.º Ninguém pode ser
molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua
manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11.º A livre comunicação
das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo
cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo,
todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12.º A garantia dos
direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é,
pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular
daqueles a quem é confiada.
Art. 13.º Para a manutenção da
força pública e para as despesas de administração é indispensável uma
contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas
possibilidades.
Art. 14.º Todos os cidadãos têm
direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da
contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de
lhe fixar a repartição, a colecta, a cobrança e a duração.
Art. 15.º A sociedade tem o
direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que
não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos
poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é
um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser
quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de
justa e prévia indenização.
Percebam,
colegas, que o último artigo é o estabelecimento que a propriedade privada é um
direito humano. Sim, os primeiros direitos humanos, conhecidos como direitos
humanos de primeira geração, foram concebidos como uma maneira do indivíduo se
proteger da ação arbitrária do Estado, que na época era Absolutista. Sendo
assim, nenhum humano poderia ser mais torturado, preso sem que houvesse uma
lei anterior que considerasse crime, impedido de exercer a sua liberdade de se
expressar ou privado de maneira arbitrária de suas propriedades.
A
humanidade, e ainda muitos países infelizmente são assim, conviveu milênios sem que esses direitos que consideramos básicos fossem garantidos ou até mesmo existissem. Portanto, quando as pessoas hoje em dia no nosso
país simpatizam com a tortura, a prisão sem um devido processo legal, a
possibilidade de se cercear a liberdade de expressão, é preciso ter em mente
que a humanidade já teve tudo isso e os resultados, se a pessoa não fosse do
seleto grupo dominante, não eram agradáveis. Nós já vivenciamos a barbárie, e
os direitos humanos são a evolução cultural humana, uma evolução moral da
humanidade.
Com
o passar do tempo, o espectro de direitos humanos foi aumentado. Depois da
revolução industrial e a condição precária de vida de muitas pessoas em quase
todo século 19, surgiu o conceito de direitos humanos sociais nas Constituições
Mexicana e Alemã do início do século passado. Logo, os humanos também viriam a
ter direitos de acesso à educação, à saúde, a alguma espécie de proteção contra
a invalidez (e daí que viria a surgir o conceito de previdência pública), etc.
Diz-se que os países desenvolvidos da Europa conseguiram promover esses
direitos para as suas populações principalmente na segunda metade do século
passado. Atualmente, há uma grande discussão
sobre a sustentabilidade desses sistemas europeus ou não, e não vou entrar
nessa discussão que é interessantíssima, mas o fato é que o que se discute é a
aplicação desses direitos humanos chamados de segunda geração.
Por
fim, nas últimas décadas se fala do surgimento de direitos humanos de terceira
geração, que seriam o direito de ter acesso a um meio-ambiente saudável
(inclusive os direitos humanos de gerações futuras de ter acesso a ecossistemas
sustentáveis), o direito à informação, o direito à privacidade digital (e a
polêmica do caso Snowden é sobre isso), etc. Portanto, a gama de direitos
humanos hoje em dia é imensa, fruto da nossa evolução, bem como da complexidade
das nossas relações e da nossa tecnologia.
Portanto,
limitar o alcance dos direitos humanos a uma discussão de política criminal é
um erro histórico, conceitual e material. Negar direitos humanos é simplesmente
negar o seu direito de ter acesso a um meio-ambiente saudável, ter direito à
informação, direito à saúde, direito a não ser torturado, direito a um processo
legal conduzido por uma autoridade imparcial, etc.
Ok.
Soulsurfer, até aqui nada a objetar, mas você considera certo que um "bandido" tenha direitos humanos, mesmo que ele tenha matado várias pessoas? Sim, eu
considero certo. Vejam, como dito no
corpo desse artigo, os direitos humanos são “adquiridos” pela pessoa pelo
simples fato de nascerem (e há direitos garantidos para aqueles que foram
concebidos, mas ainda não nasceram) humanos.
A proibição da tortura e o direito de
qualquer um ter acesso a um devido processo legal são garantias que
servem a toda coletividade, e não apenas a um indivíduo em especial. É porque
ninguém pode ser torturado que posso ficar tranqüilo de nunca vir a ser
torturado no futuro.
Ok,
então se um criminoso tortura uma família, está tudo certo, você vai defender o
criminoso e deixar a família que sofreu a violência desassistida? Não, a toda
evidência, e é esse tipo de argumento que costuma embasar a críticas a
organizações de direitos humanos. É de se deixar claro se uma pessoa comete um
crime definido em lei, a mesma deve ser punida conforme a legislação em
vigência. Se fôssemos combater todos os
crimes cometidos no Brasil, quando alguém dolosamente sonega um imposto, quando
alguém dirige embriagado, quando alguém agride o meio-ambiente, etc (a lista é
bem longa, e aposto que a maioria da população já fez algum ato criminoso), o
sistema simplesmente entraria em colapso. Assim, não vou me ater a todas as
espécies de crimes, o que seria do ponto de vista racional e intelectual o mais
correto, mas aos crimes que agridem diretamente a integridade física das
pessoas. Porém, até aqui pode se falar que alguém que não paga o imposto
devido, provavelmente está prejudicando a vida de outras pessoas ou alguém que
polui um rio e leva pessoas a ficarem doentes anos depois, mas não vou me
estender nesse tópico e irei me concentrar nos crimes onde há uma maior cobertura midiática.
Quando
alguém comete um homicídio, sequestra alguém, ou comete qualquer ato violento, essa
pessoa deve ser punida, conforme a legislação. A punição não deve ser aquém nem além do que
prevê a lei, e esse é o fundamento básico do Estado de Direito. Diz a legislação que pessoas que cometem
crimes dessa gravidade devem ser segregadas do convívio social, ou seja irem
para cadeia, e assim deve ser feito.
Porém, a pessoa deve ser punida dentro da lei e pelos procedimentos que
a legislação permite. Uma pessoa que tortura não pode ser torturada pela
polícia, pois há uma diferença abissal entre um ato ilícito cometido por um
indivíduo dentro da coletividade de um ato ilícito cometido por um agente
estatal no exercício do monopólio da força.
Soul,
o que é esse exercício estatal do monopólio da força? Colegas, eu teria que
fazer uma digressão bem grande aqui e citar inúmeros filósofos políticos que
pensaram sobre a formação e os pressupostos do Estado Moderno. Porém,
simplificando, as pessoas para viver em coletividade aceitam abdicar do uso da
força, a exceção de casos em legítima defesa, para o Estado, pois este deve ser
imparcial nas resoluções dos conflitos e pode apenas usar a força nos limites
estabelecidos pela lei, para que o uso da força não seja arbitrário. Portanto, o
Estado possui o monopólio do uso da violência numa sociedade, mas essa
violência deve ser feita de forma legal e organizada. A partir do momento que
se permite que agentes estatais no uso do monopólio da violência, basicamente a
força policial, transgrida os limites estabelecidos pela lei, estamos diante de
um rompimento do pacto fundamental de qualquer sociedade moderna. Portanto,
alguém que tortura uma família deve ser processo, julgado e ,se comprovada a
sua culpa, preso. Porém, isso nunca pode ser uma desculpa para o órgão estatal
torturar seja quem for.
Certo,
mas não parece utópico para você Soul? Do que adianta essas palavras “bonitas”
num país que vive um estado de insegurança enorme? Amigos, o nosso estado de
insegurança não vem do pretenso respeito aos direitos humanos dos “bandidos”,
mas sim de erros gestados por muitos anos em nossa sociedade. É muito mais
fácil falar “bandido bom é bandido morto” do que pensarmos numa forma das
nossas polícias serem mais eficientes e mais transparentes. É fácil dizer que um
suposto criminoso não deve ter direito à defesa, do que melhorar nosso sistema
jurídico, para fazer que o mesmo seja mais célere e eficiente, e assim
sucessivamente. É a mesma lógica que
infelizmente ainda temos em nossa economia e em diversos outros assuntos sociais e políticos importantes. Por exemplo, é mais fácil aumentar o IOF para
viagens internacionais, já que muita gente viaja para fora do país para gastar,
do que tornar a nossa economia mais produtiva e eficiente e os produtos
mais baratos. Nós, enquanto nação,
precisamos começar a dar de ombros para essas soluções fáceis para problemas
complexos, e começarmos a pensar que problemas difíceis envolvem soluções
difíceis e quase todas de médio/longo prazo.
O
uso da violência e o desrespeito aos direitos humanos não produzem nada
positivo, muito pelo contrário, eles acabam criando monstros. Vou falar sobre
um monstro criado dentro do Brasil e outro extremamente assustador gestado no
exterior em dois artigos específicos sobre isso. Portanto, quando um político
ou alguém vier a dizer que o problema de segurança no Brasil é causado pelos
direitos humanos, desconfie, pois essa pessoa talvez não saiba exatamente que são, como surgiram e evoluíram e para que servem os direitos
humanos, e talvez esteja apenas tentando uma solução simples e falha para um problema que deve ser atacado em diversos fronts. Não é demais lembrar que inúmeras organizações de direitos humanos são
aquelas que dizem que há violação de direitos humanos na Síria, na Venezuela,
nas prisões clandestinas que eram mantidas pelos EUA no exterior, etc, etc. Geralmente
são instituições sérias, quase sempre perseguidas pelos governos e muitas vezes
a única voz de milhões de pessoas oprimidas em inúmeros lugares nesse planeta.
Por fim, deixo dois vídeos curtos muito bem feitos de uma dureza e delicadeza ímpar produzido pela respeitada Anistia Internacional:
Olá, colegas. Tem um tempo que quero escrever sobre o mercado
de Renda Fixa. Vejo que é um tópico onde há poucas postagens seja em blogs,
seja na mídia especializada, que vão além de explicar qual é a diferença entre
uma LCI e um CDB ou outras questões que não abrangem os pressupostos do mercado de dívida. Primeiramente, devo esclarecer que como os fluxos da renda
desse mercado são fixos (daí vem o nome), há muita matemática na análise dessa espécie
de ativo. Muitas vezes as análises estão em alguns graus, em alguns casos muitos graus, acima dos meus parcos
conhecimentos seja de finanças, seja de tratamento matemático. Portanto, eu
estou longe de conhecer profundamente esse tipo de ativo. Porém, creio que
posso contribuir com alguma coisa.
Em segundo
lugar, não vai ser hoje que vou começar uma pequena série sobre Renda Fixa. Eu
estava começando a estudar alguns fundos de papel, e ao ler uma carta de um
administrador sobre os riscos do investimento no FII em questão, apenas ficou
claro o que eu já falei algumas vezes: FII de papel é renda fixa, em nada se
confunde com um FII que investe em imóveis para gerar receitas operacionais de
aluguel. Além disso, FII de papel é muito mais complexo de se analisar do que
uma NTNB do tesouro direto, por exemplo.
Isso quer
dizer que FII de papel é ruim? Não, claro que não, pode vir a ser um ótimo investimento, porém como acredito que cada ativo tem uma função numa carteira
diversificada, é muito importante o investidor ter em mente no que investe para não exigir de
um ativo algo que ele dificilmente vai fornecer. Portanto, a distinção de FII
de papel x FII de “tijolo” é fundamental. Se um investidor possui 100% em FII,
mas com 40% em FII de papel, ele para mim está posicionado em 60% FII e 40% Renda
Fixa.
“A dinâmica de oferta e demanda de capital no setor de
high-yield (1) segue
favorável, conforme delineado nas cartas anteriores. Contudo, houve incremento
em certos fatores de risco de forma que cabe uma discussão mais detalhada
No âmbito macro, a atividade econômica mais fraca pode
acarretar dinâmicas que culminem em maiores níveis de inadimplência em diversos
segmentos de crédito. Além disso, dada a fragilidade do balanço fiscal
brasileiro, há o risco de nova pernada de aperto monetário o que reduziria o valor
dos ativos já em carteira E, finalmente, pode haver surpresa inflacionária. (2).
Quanto aos riscos macro, o Fundo tem proteções razoáveis. A
totalidade da carteira de CRIs do Fundo é indexada à inflação, de forma que uma
surpresa inflacionária não constitui necessariamente um risco para o posicionamento
atual. (3)
Em relação a uma eventual alta de juros, há que se fazer uma
distinção. Se o aperto monetário for motivado por alta das métricas de
inflação, o Fundo beneficia-se da indexação mencionada acima. Se houver
abertura de juros reais, os ativos em carteira teoricamente perdem valor, mas
os fluxos de caixa serão reinvestidos a taxas mais elevadas. (4)
Em relação à inadimplência, a experiência da Polo Capital é
de que a carteira do Fundo não segue necessariamente a trajetória de
inadimplência observada nos bancos. Em 2012, por exemplo, houve aumento
expressivo da inadimplência bancária no 2º trimestre, ao passo que no mesmo período
as operações de crédito estruturadas pela Polo Capital registraram redução do
nível de atrasos. A Polo Capital atribuiu este descolamento a (i) investimentos
realizados em sistemas que possibilitam gestão ativa das operações em atraso, e
(ii) curva de aprendizado na estruturação de créditos após vários anos de
envolvimento no mercado de high-yield (5).
Basicamente, as operações detidas pelo Fundo passam por rigoroso processo de
estruturação, contam com um loan-to-value bastante baixo e cadente, e
tipicamente têm uma garantia real associada. O resultado é um desincentivo ao
tomador em atrasar os pagamentos ao Fundo. O controle viabilizado pelos
sistemas internos garante uma vigilância que disciplina o devedor. (6)
No âmbito micro, observou-se uma piora no setor imobiliário,
com queda de preços em algumas regiões e aumento de distratos. Como o Fundo tem
exposição relevante ao setor de construção e, no rol de garantias, tem
predileção por ativos imobiliários, essa deterioração setorial merece
discussão.Para os recebíveis performados, a dinâmica de preços atualmente
observada não deve afetar a propensão do devedor em se manter adimplente com a
dívida. Ocorre que, como o loan-to-value das operações tipicamente situa-se
abaixo (algumas bem abaixo) de 70%, há uma proteção relevante para queda de
preço de ativos imobiliários. De forma estilizada, uma operação com
loan-to-value de 70% pode tolerar uma queda de até 30% no valor da garantia até
que inadimplir seja economicamente interessante para o devedor (7) (assume-se ausência de
custos e indiferença ao risco de uma execução, premissas não-triviais) (8).
(1)– o
texto já deixa claro que é um fundo que investe no mercado de High-Yield.
Geralmente, se divide a Renda Fixa em títulos governamentais e títulos
privados, estes por sua vez são divididos em investment grade (grandes
empresas-instituições com grau de classificação , feito por alguma agência de risco, baixa de risco) e
High-Yield (empresas ou instituições com grau de classificação média ou alta de risco e
por isso pagam um spread em seus títulos de dívida). Portanto, o texto já deixa
claro que se investe em instrumentos com maior risco;
(2)Indica
que há forte exposição em títulos com alguma forma de pré-fixação. Logo, com
uma alta do aperto monetário via aumento da SELIC, os títulos tendem a se
desvalorizar. Percebam que esse parágrafo poderia ser substituído para uma
análise sobre uma NTNB: inflação, problemas fiscais, etc, o que mostra que
estamos falando aqui de títulos de renda fixa;
(3)Parcialmente
verdade. Sim, há proteção inflacionária, mas se a inflação fugir do controle os
títulos podem sofrer grandes perdas, o motivo explico no próximo comentário;
(4)Correto,
porém quando há aumentos significativos da inflação, geralmente o movimento de
aperto monetário quase sempre leva a aumentos nos juros reais.
(5)Aqui
o gestor aborda o maior risco no mercado de títulos High-Yield: o default.
Basicamente, ele diz que o risco está amenizado pela curva de aprendizado da
gestão na atuação do mercado de dívidas de alto rendimento. Ou seja, tem-se que
confiar na expertise da gestora;
(6)Outra
forma de se prevenir do risco de default é que os FII de papel investem principalmente em CRIs que quase sempre possui algum colateral relacionado a um
imóvel. Colateral é o termo financeiro para garantia (Sim, os famosos CDO da
crise sub-prime americana nada mais eram do que dívidas colatelarizadas com
algum bem imóvel – Collateralized Debt Obligation). Portanto, a métrica de Loan
to Value (empréstimo para valor – no caso o valor do bem dado em garantia) é
importante para se medir o risco de um default em determinado título. O fundo
diz que possui métricas Loan To Value seguras, para se saber isso apenas olhando
todos os CRIs adquiridos pelo fundo, bem como as garantias e as taxas de Loan
to Value de cada CRI;
(7)É
correto o raciocínio. Quanto menor o Loan to Value, mais segura é a operação e
mais seguro se torna o empréstimo no caso de uma crise imobiliária. Se ocorrer
uma crise leve no setor e duração não maior do que 1/2 anos, é possível que
esse LTV médio de 70% ofereça uma margem de segurança. O problema é se ocorrer uma
crise aguda, como ocorreu nos EUA e em alguns países europeus, e houver uma desvalorização muito maior, esses
títulos podem vir a sofrer muito, pois se as garantias começarem a ser
executadas, muitos imóveis seriam jogados no mercado num momento de crise e
baixa liquidez, e aí já dá para imaginar o que aconteceria nos spreads BID/ASK
de negociação desses imóveis;
(8)Aqui
o gestor foi ao menos sincero ao dizer que o cenário traçado não levava em
conta os custos de se executar uma garantia e que eles não são triviais, e não
são mesmo. Adicione custos de advogados e de uma eventual judicialização da
disputa, e estamos falando aqui de custos que podem chegar a 20% ou mais do valor da garantia;
Portanto, colegas, vejam como pode ser complexa a análise de um FII de papel,
e como as dinâmicas dessa espécie de ativo são bem diferentes de um FII de "tijolo".
Logo, com essa taxa de juros básica, com
yields reais dos FII de "tijolo" numa média de 10% aa, o investidor precisa ser bem
criterioso na hora de investir no mercado de High-Yield. O mínimo é exigir
spreads que de alguma maneira compense os diversos riscos dessa espécie de
ativo.