Olá,
colegas! Não vou falar diretamente de eleições. Já há muita coisa na mídia e
internet a respeito. Nesse artigo vou falar sobre estratégia e como é
importante possuir uma quando falamos de finanças.
Afinal,
o que é estratégia quando se fala em investimentos? Quando eu jogava xadrez era
muito normal pensar em termo de estratégia. O jogo de xadrez é extremamente
estratégico. A estratégia do ponto de vista financeiro pode ser vista como a
forma em que uma pessoa pretende atingir os seus objetivos financeiros. A
primeira lição é que não existe estratégia se não existir objetivos. Estes
objetivos podem ser de curto, médio ou longo prazo. Como assim, Soul? No xadrez
é exatamente assim. Se um jogador quer fortalecer sua posição no centro do
tabuleiro (um objetivo de mais curto prazo), pode-se elaborar uma estratégia
para atingir tal objetivo. O objetivo final do xadrez sempre será ganhar o jogo
com o competidor abandonando (eu nunca dei um xeque-mate em competições
oficiais, geralmente quando a partida está perdida, o jogador inferiorizado
abandona a partida). Assim, um objetivo de curto prazo (conquistar o centro do
tabuleiro) pode estar diretamente relacionado com o objetivo de longo prazo
(ganhar o jogo).
Espero que não seja isso que venha na cabela do leitor quando falo de estratégia financeira e associo a xadrez:)
Sendo
assim, a primeira coisa a se pensar em finanças pessoais é quais são os seus
objetivos financeiros. O objetivo
financeiro maior de longo prazo para alguém pode ser conquistar a independência
financeira. Para outra pessoa pode ser deixar uma boa herança para os filhos.
Para outra pessoa pode ser comprar uma casa em Miami. Somente a pessoa pode definir quais são os
seus objetivos. Somente nos conhecendo e fazendo uma auto-reflexão pode-se
chegar a objetivos que sejam coerentes com quem nós somos. Sendo assim, o
primeiro passo para se pensar em finanças pessoais, por mais estranho que se
pareça, não é saber o que é bolsa de valores, mas sim refletir sinceramente
sobre quem somos e o que realmente queremos.
Portanto,
os objetivos podem variar de pessoa para pessoa. Ter um objetivo maior de ser
independente financeiramente é muito diferente do objetivo de deixar um bom
patrimônio para os herdeiros. Nenhum é melhor ou pior do que o outro, eles são
apenas diferentes. “Ok, Soul, entendido, mas qual é a relação com estratégia”,
alguém pode estar pensando. Simples. Objetivos finais diferentes vão levar
quase sempre a estratégias financeiras diferentes. Portanto, em finanças
podemos ter alguns conceitos gerais, algumas práticas mais indicadas, mas é
muito difícil dizer que uma estratégia é melhor ou pior do que outra sem
sabermos quais são os objetivos perseguidos.
Assim,
como saber se uma estratégia com 50% do patrimônio alocado em Fundos de
Investimento Imobiliário é pior ou melhor do que outra estratégia onde a
alocação é de apenas 20%? Não dá para saber, de antemão, sem primeiramente se
indagar quais são os objetivos. Portanto, colegas, antes de começar a investir,
defina com clareza quais são os seus objetivos. Se alguém puder ainda ser mais
preciso em dividir os objetivos em curto, médio e longo prazo melhor ainda.
Geralmente, muitos autores chamam esse ato de reflexão sobre os objetivos um
dos momentos mais importantes, sendo que muitos deles dizem que é muito
saudável fazer uma “Declaração Inicial de Investimento”, onde a pessoa diz
claramente quais são os seus objetivos financeiros e como planeja alcançá-los.
Alcançar os objetivos financeiros nada mais é do que a estratégia financeira.
Aqui sim é importante saber o que é bolsa de valores, o que é duration no
mercado de renda fixa, o que é análise fundamentalista, quais são os parâmetros
da análise gráfica, opção, derivativos, yields, imóveis, etc, etc. O mundo
financeiro é vasto e às vezes complexo. Se um investidor pudesse saber com
detalhes toda a complexidade do mundo de investimento, é inegável que o mesmo
poderia estabelecer talvez estratégias que levassem de maneira mais fácil a
atingir os objetivos financeiros. Porém, não é necessário ser um expert em
finanças e tampouco conhecer todos os instrumentos financeiros para se criar
uma estratégia que possa atingir os objetivos financeiros almejados.
Não
vou falar como seria uma estratégia financeira, pois isso daria um livro e eu
também não seria capaz de tamanha tarefa hercúlea. Porém, vou falar sobre as
três etapas da estratégia (e isso pode ser aplicado não só em finanças, mas em
várias outras áreas na nossa vida).
- A ELABORAÇÃO DA ESTRATÉGIA
O
primeiro passo, obviamente, é a elaboração da estratégia. Se quero ser
independente financeiramente aos 45 anos, o que eu vou fazer objetivamente para
alcançar esse objetivo? Irei poupar 30% da minha renda e aportar apenas no
mercado acionário e de fundos imobiliários? Ou será que é melhor poupar 40% da
renda e dividir o aporte entre renda fixa e o mercado de renda variável? Faz
sentido ter exposição internacional? Vou fazer balanceamento do meu portfólio,
se sim com qual freqüência, semestral ou anual? Vou me manter fiel aos
percentuais estabelecidos, ou tentarei fazer uma alocação de ativos mais
agressiva, tentando fazer timing de acordo com filtros fundamentalistas ou de
acordo com filtros de análise técnica? Qual é o prazo mínimo para repensar a
estratégia? Dois ou cinco anos?
Assim,
a elaboração da estratégia é vital e fundamental para que possamos atingir
nossos objetivos financeiros. Ela não precisa ser estanque, ela não precisa ser
complexa, mas ela deve ser clara, compreensível e principalmente factível.
Assim, não adianta estabelecer metas que sejam praticamente inatingíveis, sob
pena do planejamento da estratégia virar um exercício sem qualquer
correspondência com a realidade.
IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA
Pensada a
estratégia, é hora de colocar em prática. Uma vez um pai de um amigo meu falou
para ele o seguinte: “Ok, filho, você faz
vários planos, analisa bastante, muito bacana, mas quando vai começar a colocar
em prática?”. Eu imagino que um
empreendedor sinta bastante esse problema da transição entre o planejamento e a
colocação em prática de uma determinada ideia. Aliás, tenho certeza que deve
ter dezenas de livros que abordem esse problema.
No
mundo das finanças pessoas, colocar em prática é quando você vai assumir, caso
não tenha optado por contratar um profissional para fazer por você, a
responsabilidade pelos seus atos. É quando você vai apertar o botão de compra e
venda dos ativos. A minha transição da elaboração da estratégia para a implementação
não foi boa. Muito em parte talvez porque eu não tinha os meus objetivos
financeiros tão claros, e nem uma estratégia muito clara pronta. Sendo assim,
eu cometi erros. Ainda bem que não foram graves, pois eu sou muito conservador,
eu tinha estudado razoavelmente bem antes de comprar ativos e não me expus de
maneira demasiada em renda variável. Porém, foram erros, e eu sempre sou
lembrado deles quando vejo alguns milhares de reais negativos em alguns ativos
que possuo, não por causa de estarem negativos, mas sim porque hoje em dia eu
não faria as mesmas escolhas de alguns meses atrás, por exemplo, (não, eu não
sou experiente no mercado de renda variável, sempre estou aprendendo e cada vez
mais vejo que eu sei muito pouco mesmo sobre finanças).
É
um teste de fogo que todos que querem investir devem passar. Depois de
implementada a estratégia, e todo esse meu texto foi para chegar nesse ponto, é
hora talvez da fase mais difícil de ser seguida da estratégia: a sua
manutenção.
- MANUTENÇÃO DA ESTRATÉGIA
Colegas,
quando falo que cada vez fico mais humilde com os meus limites de entendimento
do mercado, não estou sendo falso. É verdade. Cada vez mais eu percebo como é
difícil entender o que pode acontecer no próximo ano, por exemplo. Também
percebo como as análises de analistas famosos são extremamente rasas. Por
exemplo, com a vitória de Dilma nas eleições, foi dito que os próximos dias
seriam de desespero no mercado e no câmbio. Eu não via muito sentido para isso,
mas vai saber o que poderia acontecer. Li inúmeras mensagens de pessoas em
alguns espaços dizendo que iriam liquidar posições, pois era claro que os
estrangeiros iriam debandar do Brasil. Ao menos nos dois primeiros dias após a
eleição, nada disso aconteceu, simplesmente tudo ficou como antes.
O
que quero enfatizar, colegas, não é esse caso específico, pois existirão vários
outros nos próximos quinze anos. O que quero realmente enfatizar é que não dá
para saber o que vai acontecer nos mercados no curto prazo, é muito difícil,
quiçá impossível. Se formos mudar a
nossa estratégia não pela mudança nos nossos objetivos, mas sim por
contingências fora do nosso controle , é muito que vamos tomar decisões
ruins, pois serão decisão feitas quase que às cegas. É como jogar
xadrez e mudar de estratégia a cada jogada, é impossível ganhar de um jogador
forte cometendo esse erro primário.
Portanto,
e aqui entra um profundo auto-conhecimento e reconhecer a nossa ignorância em
relação à complexidade do mundo financeiro (e a área de finanças
comportamentais centra todas as suas baterias de estudo nesse estágio do
processo), a manutenção da estratégia é vital para que possamos atingir nossos
objetivos financeiros, para que não tomemos decisões por impulso e para que não
erremos sem necessidade. Não há qualquer problema em errar. Não há qualquer
problema em revisar a estratégia de forma racional e pausada de tempos em
tempos. Porém, não há qualquer motivo para não se manter fiel a estratégia,
principalmente levado pelo calor do momento e análises que podem ser extremamente
incorretas e superficiais.
Uma
estratégia financeira serve exatamente para isso, para que as pessoas não tomem
decisões impensadas no longo do caminho. O mercado muitas vezes é cíclico. O
mercado imobiliário, por exemplo, é claramente cíclico. O Boom não dura para
sempre, nem a fase de depressão dura para sempre. Talvez pessoas muito bem
preparadas, que se dediquem a estudar o mercado imobiliário com profundidade,
talvez consigam acertar os momentos corretos para posicionamentos precisos no
mercado, porém isso é para poucos e com certeza não é para a maioria. Assim
como uma economia às vezes opera em ciclos. Se as estratégias forem sendo
alteradas pelas notícias sombrias de depressões ou pelas notícias otimistas de
boom, é provável que a pessoa tenha muita, mas muita dificuldade de atingir os
seus objetivos.
No caso do
nosso país, o Brasil não vai acabar. Pessoas precisarão comer, precisaram
alugar lugares para ter suas padarias, fábricas, etc e empresas precisarão existir
para produzir bens e serviços. Sempre foi assim na história da humanidade. O aluguel
de imóveis, por exemplo, é tão antigo como a civilização humana. Assim como o
mercado de dívida, eu num museu em Ancara (capital da Turquia) tive o prazer de
ver um instrumento de débito naquelas placas de escrita cuneiforme dos sumérios
de mais de mil anos antes de cristo. O conceito de ações remonta há mais de
quinhentos anos, quando se criou, na Holanda, o conceito de que uma empresa
possuída por várias pessoas poderia mitigar os riscos associados às grandes viagens
lucrativas que navios europeus faziam para o extremo oriente (ideia que eu utilizo quando faço operações de alta monta).
Portanto,
o mercado de dívidas, de imóveis e de empresas existem há muito tempo na humanidade.
Já teve padrão ouro, guerras mundiais, descoberta da eletricidade, comunismo soviético,
fim do comunismo soviético, etc, etc, e os humanos seguiram trocando bens, mercadorias
e precisando se endividar, alugar espaços ou levantar capital para empreender.
Logo, acredite, é muito mais fácil manter-se fiel a uma estratégia bem
elaborada, do que tentar acertar quando será o colapso permanente de uma classe
de ativos ou de um país.
Desde os Sumérios há milhares de anos os seres humanos já se endividavam, você realmente acha que isso vai mudar tão cedo ? (placa de escrita cuneiforme - não está relacionada com a placa de instrumento de dívida que vi na Turquia)
Planeje,
implante e mantenha-se fiel à sua estratégia. Tenho certeza que a probabilidade
colher bons frutos é muito grande.
Grande abraço a todos!