sábado, 21 de janeiro de 2017

MAGNÍFICO. SOBERBO. HUMAN.


 O que dizer sobre o que penso sobre a nossa espécie e o nosso mundo? Como transmitir o que senti nos quase dois anos que passei viajando? É possível dizer o que pensei e penso sobre o que vi e experimentei? 

  Dormir com nômades na Mongólia, passar uma semana na moderna Hong Kong com amigos que nos fizeram sentir como ser grato é algo incrível, dirigir motos por estradas mais remotas no Laos e Camboja, Surfar nas incríveis Mentawaii na Indonésia, percorrer a imensidão do território russo de trem, passar mais de um mês em regiões tibetanas fora do Tibet presenciando duelos argumentativos de centenas de aprendizes de monges, andar de 4x4 nos montanhosos Tajiquistão e Quirguistão, compartilhar uma semana com uma linda família em Sydney, compartilhar uma semana com uma linda família em Melbourne, acampar sobre as estrelas do deserto australiano, sair de noite numa trilha no meio da floresta em Bornéu ouvir a cacofonia ensurdecedora de sons de animais e ver cobras, formigas de 6-7 cm e aranhas gigantes, subir num lago congelado de mais de cinco mil metros de altitude sem qualquer ser humano num raio de 10 km, ser tratado como rei por uma família tradicional iraniana,  e dezenas e mais dezenas de outras experiências.

  É possível transmitir tudo isso? "Como foi a viagem? Qual país você mais gostou? O que você comeu de diferente?  Qual foi a maior roubada? " São perguntas que ouço com frequência. Elas são válidas e posso entender o motivo de conhecidos fazê-las. Eu respondo, interajo com as pessoas, e como está sendo bom interagir com as pessoas nessa volta ao meu país. Porém, essas perguntas não arranham nem de perto o que gostaria de falar sobre a minha experiência. 

  HUMAN. Sim, humanos, todos nós somos. É o nome de um documentário dividido em três partes. São algo em torno de 4 horas e meia de filme. Não tenho palavras para descrever. É estupendo, magnífico, arte, paixão, alegria, tristeza, lindo, tudo ao mesmo tempo. É primoroso, é, é…, absolutamente magnífico.


ESPETACULAR

  O que eu sinto pelo mundo, como gostaria de contar a minha experiência, como acharia bom interagir com outros humanos é descrito nos três volumes do documentário. Não posso explicar em palavras, nem  sei se é possível racionalizar (algumas partes talvez, e é o que tento fazer neste blog), mas a sensibilidade do criador do documentário transformou em imagens o que talvez eu não seja capaz de transmitir em palavras.

  A primeira entrevista talvez seja uma das mais fortes das três partes. É algo que coloca em perspectiva todo o ódio que possamos sentir, algo tão presente em nosso país, e por que não dizer no mundo. Aliás, a segunda parte com entrevistas de combatentes, e sobre o impacto profundo que a humanização do inimigo teve na percepção deles sobre a própria guerra, algo muito marcante. 

  Não é novo, eu mesmo neste blog já contei a história, que por sua vez ouvi do meu pai, sobre quando um soldado russo ia enfiar a baioneta num soldado japonês que estava caído no chão (Japão e Rússia entraram em guerra em 1905, foi a primeira vez que uma potência européia perdeu um confronto militar para outro país não-europeu) e percebeu que o soldado tombado deixou uma lágrima cair dos seus olhos. Ao perceber este fato, o soldado russo percebeu que aquele inimigo não era muito diferente dele mesmo e questionou o ato de matar o suposto "inimigo". Será que ele realmente seria um inimigo?

  Não, não somos tão diferentes. O ódio só prevalece quando encontramos diferenças onde elas não existem. Ao ver tantos rostos diferentes, tantas imagens sublimes do nosso planeta, apenas uma pergunta fica no ar: por qual motivo não nos amamos mais, se temos tantas coisas em comum?

  HUMAN é um filme que trata sobre temas como refugiados, violência contra mulheres, pobreza extrema, fome, ódio, amor, felicidade, sentido da vida (aliás, a última entrevista do menino africano sobre qual é o sentido da vida, até arrepia de ver algo tão profundo sair da boca de uma criança que provavelmente tem uma vida sofrida), filhos, sexo, dor, redenção, rejeição a deficientes, e muitos outros temas. Na verdade, HUMAN é um filme sobre eu, você, seus filhos, é  um filme sobre e para nós mesmos.

 As imagens aéreas são de uma beleza indescritível, olhar uma estupenda filmagem aérea de crianças mongóis cavalgando como verdadeiros cavaleiros cavalos semi-selvagens e saber que experimentei isso algumas vezes, nossa, foi bem emocionante. As expressões faciais de muitas pessoas são indescritíveis. Como nós somos belos. 

  Obrigado, muito obrigado, é o que tenho dizer a um colega  anônimo que nos comentários me recomendou este documentário, e obrigado pela minha companheira por insistir para que víssemos (ela já tinha visto) as três partes.  Não lembro de ter visto nenhum documentário tão fantástico como este durante minha vida, e com certeza assistirei novamente.

  Forte abraço em todos!

21 comentários:

  1. Grande Soul, seguindo a sua dica vou ver tb.
    Tem no netflix?

    Acho que foi Mandella que disse que o ódio não é natural, ele nos é ensinado.

    Será que Tutsis odiavam os Hutus desde sempre?

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    1. Olá, Frugal! Eu vi pelo youtube.
      Na verdade, o genocídio foi dos Hutus contra os Tutsis em Ruanda em 1994. Interessante você tocar neste ponto, pois há a entrevista de uma Tutsi, e enquanto ela fala aparecem alguns Hutus apenas o rosto, e se percebe que realmente as feições (principalmente o nariz) são diferentes. Foram essas pequenas diferenças que fizeram os Europeus, Belgas se não me engano, a separarem as duas etnias, a classificá-las como fundamentalmente diferentes. Lá pelas décadas de 40,50, criaram cartões de identificação para cada etnia.
      E em resposta a sua pergunta, não, durante séculos eles conviveram em razoável harmonia.

      Abraço!

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    2. Foram os Hutus que cometeram o genocídio, porém, após os Tutsis retomarem o controle, centenas de milhares de Hutus fugiram para a república democrática do Congo em busca de refúgio contra uma eventual represália dos Tutsis. Rejeitadas pelo Congo e sem poder voltar para Ruanda, estas pessoas morreram de fome e doenças.
      Essa história é contada no excelente filme "o sal da terra" (recomendadíssimo e disponível no Netflix).

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    3. Olá, colega. Sim, é verdade que quando da chegada das forças Tutsis houve a fuga de centenas de milhares de Hutus principalmente, mas não só, para a RDC. Se eu não me engano, o nosso embaixador Sergio Vieira, um homem que admiro, visitou um desses campos na fronteira entre Ruanda e a RDC. Entretanto, não houve uma grande represália. Não sei se este documentário conta, mas houve milhares de julgamento comunitários, conhecidos como Gacaca, onde se tentou por meio delas alguma justiça e principalmente reconciliar o país. Hoje, Ruanda, é um país que cresce economicamente, possui liberdade econômica e é um modelo para todo o continente. A História de recuperação de Ruanda é impressionante. É evidente que os traumas ficam, afinal 800 mil pessoas foram assassinadas em três meses, a esmagadora maioria por facão. Porém, mesmo assim, eles estão tentando retomar a vida, e isso é muito bonito.

      No mais, obrigado pela indicação, quando instalar o Netflix, com certeza irei assistir.

      Um abraço

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    4. Indico o livro de Immaculée Iligagiza: "Sobrevivi para Contar - O Poder da Fé Me Salvou de um Massacre". Ela conta com muitos detalhes o Horror que viveu. Por três meses se escondeu num banheiro, junto com outras muitas mulheres... uma história impressionante.

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  2. A globo news passou uma parte deste documentário, enquanto entrevistava o autor. Parece ser bastante interessante, apesar de eu ficar com a impressão de que não havia espontaneidade ou sinceridade em alguns depoimentos. Como o do soldado americano que diz ao matar uma pessoa vc sente uma sensação e que vc passa a sentir vontade de sentir essa sensação novamente. Como se matar alguém fosse viciante ou prazeroso como fazer sexo, e tinha que ser um americano.

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    1. Olá, colega. Eu não tive essa impressão, aliás pelo contrário, achei maravilhoso a espontaneidade das pessoas ao tratar dos diversos temas. Esta entrevista, em especial, é o que é. O ato de matar alguém pode ser perturbador para muitos, mas é algo completamente unusual. Há até um filme do tipo B, chamado O Albergue, que trata desse desejo humano de causar sofrimento a outro ser humano. Não precisamos concordar, ou aceitar, essa não é a função, mas apenas tentar compreender as diversas facetas que uma guerra pode ocasionar nas mais variadas pessoas.
      São esses tipos de análises que são ausentes no mundo de hoje, com os seus simplismos e meias-verdades (quando não mentiras) sobre temas dos mais complexos como: refugiados, terrorismo, miséria extrema, etc.

      Abraço

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  3. Minha filosofia, na sua essência, é o conceito de Homem como um ser heróico, tendo a felicidade como o propósito moral da sua vida, a conquista produtiva como sua mais nobre atividade, e a razão como seu único referencial.
    Ayn Rand

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  4. Soul, você está fazendo um trabalho muito bonito nos seus últimos posts. É bom ler textos que tentam cultivar um sentimento tão essencial ao ser humano: empatia.
    É impressionante como empatia tem sido criminalizada hoje em dia... deixamos de ver o outro com a beleza humana que dividimos

    Continue publicando esses textos belíssimos.

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    1. Olá, colega. Sim, a empatia é fundamental para uma boa vida.
      Muito obrigado pelas palavras e comentário.
      Abraço!

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    2. É verdade ia comentar a mesma coisa ... tudo hoje giro em torno do .. o que vou ganhar com isso? é bacana as vezes a gente ter outras motivações ...

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  5. Obrigado pela dica. Se não for muito cansativo, tentarei assistir tudo de uma vez no próximo fim de semana. Abraço!

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  6. Obrigado pelo dica, vou ver também !!! compartilho, com você as idéias de humanidade, mas se for pensar e refletir nisso, ficaremos loucos!!! Infelizmente o mundo não tem solução ou seria uma cura, vai que é doença essa cultura do ódio !!

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  7. Soul, muito bom. Obrigado pelos ótimos textos. Acompanho o blog há algum tempo, mas nunca tinha comentado. Espero que pessoas como você sejam cada dia mais comuns no mundo. Seria muito mais fácil no trabalho, na família e na vida.

    Abraço.

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    1. Olá, amigo.
      Grato pelas palavras e comentários.
      Abraço!

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  8. Soul,

    Apenas um comentario rapido de agradecimento.
    Desde que comecei a ler seu blog, sem dúvida alguma minha vida mudou muito, tanto no aspecto financeiro como na parte "espiritual" ou "humana" portanto MUITO OBRIGADO ^^

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  9. Bacana Soul, realmente é muito difícil racionalizar essa experiência, mas verei o documentário, com certeza dará pra ter alguma noção.
    Abraço!

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  10. Olá, Soul.

    Sabia que iria gostar. Foi uma forma que encontrei de retribir por vários textos que você escreveu em seu blog que me fizeram refletir politicamente, financeiramente e pessoalmente.

    Abraço!
    Bob Lucas

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  11. Obrigado pela dica e pelos artigos, são todos muito ricos em conteúdo e trazem sempre novas informações.

    Um abraço.

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