quarta-feira, 28 de maio de 2014

SERVIÇO PÚBLICO - TUDO O QUE VOCÊ NUNCA QUIS SABER

                 Olá, colegas! Depois de um artigo mais técnico, vou escrever sobre algo mais tranqüilo e pouco abordado. É claro que as visões externadas são eminentemente pessoais. E aí, serviço público é a panaceia para todos os seus males? Vamos falar sobre os vários aspectos do tema.

                Ser um Juiz Federal, ou um promotor, quem não gostaria? Dois meses de férias, mais o recesso de final de ano, salário bruto na ordem de 22/23 mil, respeito, reconhecimento social, diversas vantagens funcionais. É o suprassumo da atividade profissional, o desejo de tantos. A outra moeda de cargos tão prestigiosos é que são carreiras que envolvem muita responsabilidade, pois se mexe com interesses relevantes de toda a sociedade. Entretanto, os cargos públicos nessas profissão são a minoria da minoria. A massa dos servidores públicos muito provavelmente se ocupa de funções eminentemente burocráticas.

                Quais são as vantagens de se trabalhar para o Estado Brasileiro em suas três esferas (com maiores vantagens em média para os funcionários da esfera federal)? Essa é fácil Soul! Estabilidade, segurança, cargas horárias não tão pesadas como na iniciativa privada e salários em média mais altos. Poxa, segurança e salário mais alto? Nós que gostamos de finanças já estranhamos essa equação, pois, e o tema do artigo anterior foi exatamente sobre isso, se há segurança o salário deveria ser mais baixo, se a insegurança é maior o salário deveria ser mais alto. Aqui, já encontramos algo diferente, o “almoço grátis” do serviço público brasileiro onde a segurança é, em média, mais premiada do que a insegurança da iniciativa privada.

                Não é à toa que os serviços públicos são um verdadeiro ímã para tanta gente e com razão. Há casos de cargos de analistas, com função não tão complexa, recebendo salários que engenheiros com alta especialização às vezes não ganham na iniciativa privada. Aqui, colegas, o nosso sistema se mostra muito ineficiente na alocação de recursos na sociedade.  Soul, você ta querendo dizer que os servidores públicos devem ganhar pouco, mas você não trabalha para o governo? Não, o meu ponto não é esse. A toda evidência os serviços públicos são essenciais em qualquer país. A polícia parou em Recife e um estado de guerra de todos contra todos (como diria o querido filósofo político do século XVII Hobbes) se instalou. Quer uma sociedade sem um Judiciário independente? Até você ser acusado injustamente de algo que não cometeu.  Logo, são necessários serviços públicos, e é necessário que haja pessoas qualificadas para exercer essas funções.

                Porém, e o século passado nos mostrou claramente, a inovação, a criação de riqueza, vem de atividades eminentemente privadas.  Logo, faz sentido que as iniciativas privadas sejam incentivadas, inclusive financeiramente, para que um país possa prosperar. Se todas as pessoas preparadas de um país resolverem trabalhar para o Estado, por causa de incentivos exagerados para o serviço público, me parece claro que teremos um problema na criação de riqueza e no empreendedorismo de qualidade na  nação. Mas, o meu artigo não é sobre alocação de recursos numa sociedade, é sobre os aspectos pouco comentados do serviço público, principalmente para quem nunca fez parte da “Máquina”.

                Antes de adentrar mais no assunto, faço uma pequena digressão. Há um livro, já citado por mim no meu primeiro artigo http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/01/ola-todos-mais-um-blogsobre-financas.html, chamado positivamente irracional que descreve uma experiência interessantíssima. Cientistas dividiram pessoas  em dois grupos. Aos dois grupos foram dados bonecos tipo LEGO para serem montados. Para o primeiro boneco montado seria pago um dólar, no segundo boneco 90 centavos de dólar, e assim sucessivamente. Logo, a utilidade financeira para cada boneco montado ia caindo à medida que mais bonecos fossem montados. A diferença fundamental entre os dois grupos, é que um grupo não teria os bonecos desmontados, ou seja os bonecos iriam ficar um ao lado do outro, já no outro grupo a cada boneco montado o mesmo ia ser desmontado.  O resultado excepcional encontrado foi que o primeiro grupo montou uma média muito maior de bonecos do que  o segundo grupo, creio que a desproporção foi mais de 100%.

               Livro muito bacana, recomendo a leitura, já que a mesma é fácil e agradável.

                Esse Soulsurfer, o que ficar montando bonecos LEGO tem remotamente a ver com serviço público? Amigos, essa experiência é a demonstração cabal de que o ser humano precisa de sentido em qualquer atividade produtiva. O  fato dos pesquisadores desmontarem os bonecos na frente da pessoa que tinha acabado de montar o mesmo, o simples fato da pessoa ver o seu trabalho (por mais simples que fosse como montar um boneco) sendo destruído, e não vendo nenhum resultado prático, mesmo que ela estivesse sendo remunerada para realizar a atividade, fez com que a mesma se desinteressasse pela tarefa num grau muito mais intenso do que uma pessoa do outro grupo.  Isso mostra que o sentido na atividade era tão ou mais importante do que a remuneração obtida pela atividade.  Isso é um resultado para pararmos e pensarmos bastante sobre nossas vidas e o que estamos fazendo com elas.

                Se pessoas ficaram frustradas a ver simples bonecos sendo desmontados, imagina o grau de dano que uma atividade repetitiva onde a pessoa não vê nenhum significado naquilo que faz pode causar a uma pessoa no longo prazo, depois de 25/30 anos realizando essa mesma atividade? Eu creio que as frustrações podem ser profundas.  A  maioria das atividades de serviço público envolve pessoas fazendo atividades repetitivas onde às vezes é muito difícil se extrair um sentido mais profundo naquela tarefa. Isso para mim é a causa de grande frustração de muitas pessoas no serviço público, e a causa da maioria das lutas dos servidores ser focada  quase que exclusivamente por aumento de salário.

                Não é brincadeira, a quantidade de pessoas frustradas que eu já conheci é enorme. A quantidade de pessoas que apenas pensam na aposentadoria, mesmo faltando 10/15 anos é gigantesca. Como essas pessoas às vezes não conseguem extrair um sentido mais profundo do seu trabalho, o foco é quase sempre  apenas para aumentar o salário. Para mim é a mesma fuga que a sociedade moderna dá para todas as suas frustrações e ansiedades: cada vez mais consumo. Está triste? Compre um IPAD. Não se relaciona bem com sua comunidade? Compre um carro de 100 mil reais (e nós que entendemos um pouco de finanças sabemos como um carro caro, num patrimônio pequeno, pode ser uma verdadeira draga financeira).  Portanto, é muito normal ver pessoas com salários muito razoáveis para padrões brasileiros descontentes e frustradas no serviço publico.

                Por isso, qualquer jovem com uma boa formação acadêmica, com um gás de querer aprender e fazer, deve, em minha opinião, ponderar esse aspecto do serviço público.  Além do mais, o serviço público pode ser lugar para climas desagradáveis de trabalho.  Isto num primeiro momento não parece fazer sentido, pois todos são estáveis, todos tem o salário garantido e não haveria razão para ter um clima ruim de trabalho num ambiente sem a competição natural da iniciativa privada. Porém, em alguns casos, a história pode ser outra.

                Talvez como, apesar dos salários e estabilidade, há uma frustração grande em muitos servidores, isso cria um ambiente propício para a deterioração do  ambiente de trabalho.  Muitas chefias no serviço público são eminentemente políticas e não necessariamente lá estão por competência técnica, e ao lado dessas chefias sempre orbitam as pessoas “leais ao poder”, mesmo que o cargo de chefia seja um nível hierárquico baixo (eu fico só imaginando o "puxa-saquismo" que não deve ser nos altos cargos de poder). Pegue pessoas frustradas por não ver sentido naquilo que fazem que só pensam na aposentadoria daqui 20 anos no futuro, chefias políticas, pessoas que querem apenas agradas essas mesmas chefias, e a possibilidade de se criar um ambiente de trabalho insalubre do ponto de vista emocional está formada.

                Há diversas pesquisas que mostram que altos salários não é o principal fator de satisfação numa atividade profissional, a título de exemplo cito apenas uma http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/jovens-da-geracao-y-preferem-oportunidades-em-empresas-internacionais-a-altos-salarios/56443/.  É claro que salário é importante, mas a partir de um limite, o salário começa a ter, para usar um jargão econômico, uma utilidade marginal cada  vez menor, sendo que outros aspectos se tornam muito mais importantes.  Deve ser por isso, e não sou sociólogo ou psicólogo mas arrisco um palpite, que em países ricos como Austrália, Noruega, Nova Zelândia as pessoas são mais felizes.  Nesses lugares, não é preciso ser médico, advogado, engenheiro, servidor público, para ter uma vida digna. Talvez outras profissões mais “alternativas” ofereçam a possibilidade de se ganhar um salário menor do que um advogado bem sucedido, por exemplo, mas mesmo assim suficiente para ser ter as necessidades atendidas. Não há nada de errado em querer seguir essas profissões mais tradicionais, pelo contrário,  o que parece ser errado no nosso país é apenas essas profissões trazerem um retorno financeiro razoável para se ter uma vida digna.

                Afinal, depois de ter um teto e comida garantidos, não é muito melhor acharmos algo para fazer que nos deixe satisfeito intelectual e emocionalmente? Eu creio que sim.   Portanto, amigos, é claro que não há só frustração e intrigas no serviço público, é evidente que muitas pessoas são satisfeitas, e essas são sortudas já que podem ganhar bem e ter estabilidade. É claro também que os problemas apontados por mim podem ocorrer também na iniciativa privada, obviamente não são exclusividade do setor público. Meu artigo serve apenas para fazer o contraponto, pois é sempre bom termos diversas perspectivas sobre os mais variados temas.

             Sempre é bom ouvir um clássico! E algo melhor do que um Led live?


           Grande abraço a todos!


segunda-feira, 26 de maio de 2014

AÇÕES - OS TRÊS FATORES DE RISCO DE FAMA&FRENCH


            Olá colegas! Hoje, meu artigo irá focar num tema de razoável complexidade e de muita importância para o mercado acionário: os três fatores de risco de Fama e French. Antes de tratar do tema propriamente dito, gostaria de fazer algumas observações.

            Eu sou um profundo admirador do método científico. Creio que por meio deste método premissas podem ser postas a prova, e o conhecimento pode genuinamente evoluir, aliás, esse é um dos temas centrais do meu último post http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/reflexoes-os-tres-golpes-da-ciencia.html

                Sendo assim, eu não creio que o mercado acionário seja imune a estudos realizados pela academia, muito pelo contrário. Ah, Soulsurfer, o W.Buffett não é da academia, despreza esses estudos, e ganha um monte de dinheiro. Olha, não sou amigo pessoal do W.Buffet então não posso ter certeza, mas é muito difícil que um dos maiores investidores de todos os tempos ignore a lógica ou estudos rigorosos sobre o mercado. A toda evidência, e nisso concordo com o Buffett, complexidade nos mercados financeiros não necessariamente quer dizer verdade ou sabedoria, mas isso, amigos, é conhecido desde o século XIV, quando um frade franciscano chamado Guilherme de Ockham anunciou o célebre princípio lógico, que depois viria ser adotado pelo método científico moderno, de que "Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor" (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Navalha_de_Occam).  . Portanto, complexidade desnecessária a toda evidência não deve ser confundida com verdade ou sabedoria sobre qualquer tema. Entretanto, isso não quer dizer que a complexidade não possa existir, aliás matemática e física usada pelos cientistas hoje em dia são extremamente complexas.

            Ok, mas qual é o seu ponto Soul? A questão é que eu vejo em alguns lugares uma certa desconfiança ou “ojeriza” por pesquisas acadêmicas, sendo que em muitas vezes não há qualquer fundamento lógico para essa postura, mas apenas premissas que são aprendidas e apreendidas em algum livro ou site, e de certa forma se tornam “verdades” que não podem ser questionadas.  Obviamente, não concordo com essa forma de ver os mercados, e muito menos a vida. Uma pesquisa pode ser falha, um campo de estudo pode ser difícil de ser estudado objetivamente, mas isso não quer dizer que devemos simplesmente ignorar tentativas de trazer luz sobre qualquer tema, e não há motivos para o mercado acionário fugir dessa lógica.

            Um outro ponto importante é o fato de como uma pesquisa deve ser encarada. Pesquisas envolvendo o mercado acionário geralmente funcionam da seguinte maneira: pegam-se milhares de empresas, dividem-se essas empresas em grupos (geralmente por decile - 10 partes iguais) de acordo com o parâmetro a ser analisado (P/L, P/VP, ROE, tamanho, etc) e geralmente se rebalanceia a carteira anualmente e no final do período analisado se mede os resultados. Exemplo hipotético: alguma pesquisa quer mostrar que o tamanho da empresa possui uma correlação negativa com os retornos. O pesquisador escolhe os dados (vamos supor o mercado brasileiro com 300 ações), o período a ser abrangido (vamos dizer 10 anos), divide essas 300 ações em grupos de 30 ações de acordo com o tamanho da empresa, a cada ano se ajusta os grupos (uma empresa que era do grupo 9 por ter aumentado de preço, e via de consequência valor de mercado, passa para o grupo 8, por exemplo), e no final chega-se aos retornos de cada grupo.

            Pode-se perceber que essa estratégia de análise ignora custos de transação e  custos de impostos (há algumas pesquisas que fazem essas análises considerando tudo isso, mas são a minoria). Além do mais, um investidor amador não tem condições de seguir a risca qualquer pesquisa, pois evidentemente é difícil comprar tantas ações e ficar rebalanceando todo o ano. Apesar desses problemas evidentes, essas pesquisas são válidas, pois elas apontam alguns caminhos, algumas facetas do mercado acionário. Não se pode  cegamente apostar nos resultados de uma determinada pesquisa (até porque elas se utilizam de dados históricos, e nada garante que retornos passados irão se assemelhar a retornos futuros), mas ela pode sim apontar alguns fenômenos, e algumas idéias para como melhor gerir o patrimônio e uma alocação eficiente de portfólio para uma determinada pessoa. Colocados esses dois pontos, posso discorrer um pouco sobre o tema do artigo propriamente dito.

            A Moderna Teoria do Porfólio (MPT) é baseada na assunção de que os riscos explicam os retornos esperados, se alguém quer mais retornos tem que se submeter a mais riscos. Além do mais, risco é conceituado como variabilidade dos retornos, ou mais tecnicamente o desvio-padrão dos mesmos. Para se medir riscos e retornos de um ativo em relação ao mercado como um todo, criou-se um coeficiente chamado Beta (representado pela letra grega β). O Beta do mercado é por definição 1. Os Betas dos ativos específicos podem ser maiores ou menores do que 1. O que isso quer dizer? Se um ativo tem β  =2, isso quer dizer se o mercado subir 10%, o ativo tende a subir 20%, sendo o mesmo verdadeiro para retornos negativos. Se um ativo possui  β= 0,5, quer dizer se o mercado cair 10%, o ativo tende a cair apenas 5%. Logo, beta menores significam volatilidade de retornos menores, logo tendem a fornecer resultados menores. Por seu turno beta maiores tendem a ter uma volatilidade maior, e um retorno associado maior.

            Há diversas críticas que podem ser feitas a essa forma de pensar o mercado, bem como a forma de definir risco como volatilidade dos retornos. Aqui há um artigo interessante que faz isso http://www.travismorien.com/FAQ/portfolios/mptcriticism.htm.

            Até 1992 no campo acadêmico, e de finanças nas grandes firmas de investimento, essa era a sabedoria reinante: o  β de um ativo era o que explicava as relações de risco x retorno do mercado acionário. Porém nesse ano, os Professores Eugene Fama and Kenneth French publicaram um artigo que viria a modificar o entendimento dominante sobre risco e retorno dos mercados, o famoso artigo: “The Cross-Section Of Expected Stock Returns”. O artigo pode ser acessado aqui http://www.bengrahaminvesting.ca/Research/Papers/French/The_Cross-Section_of_Expected_Stock_Returns.pdf.  Não é uma leitura fácil, pelo menos eu não achei, para quem não domina razoavelmente a língua inglesa, nem para quem não tem alguns conceitos básicos sobre mercado razoavelmente dominados, bem como sobre estatística.  Não vou esmiuçar os detalhes do artigo, até porque não tenho competência técnica para tanto, mas apenas apontar os resultados encontrados por esse estudo.

            O estudo pegou empresas listadas na NYSE e NASDAQ e dividiu-as em 10 grupos pelo tamanho de mercado (size). Dentro de cada um dos 10 grupos divididos previamente, se dividiu em 10 subgrupos pelo β .  Foi feito isso, pois os autores queriam separar os efeitos do tamanho, dos efeitos do β de cada grupo. O mesmo procedimento foi feito, mas agora separando as empresas por grupos de BE/ME (Book Equity/Market Equity, é a mesma coisa do que o P/VP, mas invertido, ou seja, VP/P. Sendo assim, quanto maior o múltiplo, mais descontada estaria a ação) e depois em subgrupos pelo β  .  Mediram então os retornos entre 1962 a 1991 dos variados grupos formados (um período longo de tempo, como deve ser em pesquisas desse tipo. Períodos de dez anos costumam não ter tanta relevância estatística, comparar rentabilidades em períodos de 1 ano, meses, então, não possui nenhuma relevância estatística).

            Os autores, depois de aplicar algumas técnicas estatísticas de regressão, chegaram a surpreendente conclusão (pelo menos para o mundo financeiro) que o β não tinha poder explicativo sobre os retornos.  Os retornos eram explicados basicamente por duas variáveis: tamanho e BE/ME. Os retornos se mostraram negativamente correlacionados com o tamanho, ou seja,  quanto maior a capitalização da empresa menor o retorno, e uma correlação positiva do BE/ME com os retornos. Os dois gráficos mostra de forma esquemática as descobertas. No primeiro, uma simples representação dos fatores de retorno. No segundo, a diferença entre os quatro tipos de portfólios e os retornos em quase 70 anos .



O gráfico mostra esquematicamente os achados. Empresas menores tendem e de valor tendem a possuir maiores expectativas de retorno.
O gráfico mostra quatro grupos: Ações com tamanho de capitalização menor de valor e de crescimento e ações de grande capitalização de mercado de valor e de crescimento no período entre 1928 a 2007. É evidente o retorno muito maior das empresas small value, bem como das empresas large value, o que parece confirmar os estudos seminais de Fama&French sobre prêmios de valor e de tamanho. A diferença entre 1 dólar investido em small value e large growth é de simplesmente 46 vezes. Logo,  U$ 1  se transformou em U$ 46.000 num caso e "apenas" U$ 1.000 no outro.

            Ok. Soul, mas se os retornos das ações estão associados a dois fatores (tamanho e desconto no Valor Patrimonial), o que significa o título do seu Post os TRÊS fatores de risco de Fama&French?  Para entendermos melhor esse ponto, é preciso falar em Equity Premium e sobre os quatros fatores de retorno do investimentos em ações (não desanime, pois não é confuso como aparentemente possa parecer).

            O Equity Premium nada mais é do que o retorno a mais sobre o ativo “livre de risco” esperado por investir no mercado acionário.  Não adianta fugir, qualquer análise financeira passa pelo conceito de ativo “livre de risco”, que geralmente  é a taxa que os governos pagam para se endividar. No caso dos EUA, são os títulos T-BILL de maturação menor do que um ano, e no caso do Brasil a taxa SELIC.  Obviamente, nenhum ativo é livre de risco, NADA garante que os EUA, e principalmente o Brasil, não pode um dia eventualmente dar um calote na sua dívida. É possível, mas no contexto atual improvável, pois isso ocasionaria uma mudança radical de como os mercados financeiros são estruturados, no caso americano é claro. Além do mais, ao investir num título do governo você terá uma renda fixa (lembram-se do conceito de renda fixa e variável discutido nesse artigo http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/investimentos-vamos-falar-sobre-o-pl.html), ao contrário de uma renda que pode variar para menos num investimento feito em ações.  Sendo assim, o ativo “livre de risco” é aquele que o investidor sempre deve ter em mente ao realizar investimentos em renda variável.

            Apenas uma reflexão rápida. Se a taxa do ativo "livre de risco" for alta demais, os demais ativos deverão proporcionar um retorno muito bom para compensar o investimento. Como os ativos ficam atrativos? Diminuindo de preço, a mecânica é idêntica a precificação de títulos pré-fixados. Quando os juros são baixos demais, os ativos não precisam fornecer um retorno muito forte.  Se a rentabilidade não precisa ser tão alta, os ativos possuem espaço para crescer, e em muitos casos em níveis irrealistas de preços. Os títulos de curto prazo do governo americano estão rendendo atualmente próximo de 0% aa (isso mesmo, você não entendeu errado). Apenas com essa informação (e a média dos juros de curto prazo nos EUA historicamente sempre foi muito maior do que isso),  mesmo sem conhecer os dados, eu chutaria que o mercado acionário americano encontra-se em níveis altos de precificação.  Por coincidência, ou não, as bolsas internacionais quebram topos históricos, mesmo com um mundo com uma atividade econômica fraca nos últimos anos. Para mais esclarecimentos, leia qualquer artigo do excepcional site Finanças Inteligentes (se você ainda não conhece, está no meu blogroll).

            Portanto, para um investimento em um ativo mais arriscado do que o ativo “livre de risco” fazer sentido do ponto de vista financeiro, este mesmo ativo precisa ter uma expectativa de retorno superior ao ativo “livre de risco”. Vejam, coloquei expectativa. Isso não quer dizer que necessariamente irá ocorrer, mas apenas que um investidor pode ter a expectativa de que, principalmente em períodos longos de tempo, será recompensado por escolher um ativo mais arriscado. Sendo assim, o prêmio acionário (Equity Premium) é o retorno esperado a mais sobre o ativo livre de risco que alguém pode esperar ser remunerado por se expor ao mercado acionário.  A existência de Equity Premium é muito bem documentada nos EUA, e nos países desenvolvidos nos últimos 100 anos, para períodos longos de tempo.  No excelente estudo da Credit Suisse internacional de 2009, pode-se ver que todos os mercados acionários exibiram prêmio sobre o mercado de títulos, bem como apresentaram crescimento real. O estudo pode ser acessado aqui http://topforeignstocks.com/wp-content/uploads/2009/02/2009-global-investment-returns-yearbook.pdf. Aliás, se alguém possui interesse em entender o mercado acionário de uma maneira um pouco mais profunda, recomendo todos os yearbook do Credit Suisse, são uma verdadeira aula de finanças e economia.

            Faço aqui mais uma breve reflexão. Como as taxas de juros no Brasil desde a implantação do plano real foram e continuam sendo muito altas, o mercado acionário brasileiro como um todo (é claro que empresas individuais podem ter retornos maiores e menores do que o mercado como um todo) apresentou um forte Equity Premium negativo desde a estabilização econômica. Portanto, entre 1994-2014 o mercado acionário rentabilizou muito menos do que a taxa do ativo “livre de risco”. Sendo assim, financeiramente olhando em retrospectiva, não fez nenhum sentido, sem a realização de timing no mercado, de ficar posicionado em ações nos últimos 20 anos. Para ser justo, nos últimos 10 anos houve prêmio acionário no mercado brasileiro. Isso se deve aos juros muito altos no primeiro mandato de FHC, e é um alerta que com juros altos tudo mais perde o interesse no mercado financeiro. Abaixo dois gráficos retirado do link http://www.minhaseconomias.com.br/blog/investimentos/vale-a-pena-investir-em-acoes-no-longo-prazo mostrando o prêmio negativo acionário brasileiro desde a estabilização monetária.

 Investindo pelo Lump sum (investimento tudo de uma vez) o resultado do bovespa foi bem inferior ao CDI nas últimas duas décadas.
Ah, eu compro aos poucos, uso o método X de investimento (colegas, usar o Dollar Cost Averaging ou qualquer técnica parecida é muito antiga e há décadas é tratada nos livros sobre finanças, não é nenhuma fórmula nova de investimento inventada há 5 anos na internet), o resultado iria ser negativo do mesmo jeito como mostrado no gráfico.

            Depois dessas breves explicações, estamos prontos para falar sobre os quatro fatores de retorno do mercado acionário, e os três fatores de risco de FAMA&FRENCH. O retorno acionário deve ter dois fatores de retorno, e pode ter quatro fatores de retorno a depender do risco que algum investidor que correr:

1   1)   Retorno do ativo livre de risco – Aqui no Brasil já se vê uma distorção, pois há pessoas que recebem menos do que o ativo livre de risco ao investir na poupança. Sendo assim, investimento na poupança, tirando questões de reserva de emergência, não faz qualquer sentido no longo prazo;
2    2)  Retorno por investir no mercado acionário (primeiro fator de risco) – É o já discutido Equity Premium;
3    3)     Retorno por investir em empresas com menor capitalização (segundo fator de risco);
4   4) Retorno por investir em empresas descontadas em seus múltiplos, principalmente o BE/ME, ou P/VP (terceiro fator de risco);

       Creio que agora deve ter ficado claro quais são os três fatores de risco, e quais são os quatro fatores de  retorno por investir no mercado acionário. O primeiro fator de risco já abordamos ao falar sobre o equity premium, porém e os outros dois?

O segundo fator de risco é o tamanho da empresa. Necessário relembrar que o estudo achou correspondência entre maiores retornos quanto menores eram o valor de mercado das empresas. Entretanto, os autores atribuíram esse maior retorno a um maior risco, e tal conclusão faz sentido. Por mais que uma empresa menor possa ser bem administrada, é muito mais fácil uma empresa de capitalização de 200 milhões de dólares vir a falir, do que uma empresa de 200 bilhões de dólares.  Portanto, ao investir em empresas com menor capitalização, parece haver claramente um fator de risco. Risco deve ser recompensando (premissa básica de finanças) e os dados históricos confirmam que investir em empresas menores foi recompensado. Além do mais, é intuitivo, pensar que uma empresa de 200 milhões pode crescer para um bilhão de dólares se for extremamente bem administrada e tiver algum diferencial competitivo. É muito mais difícil imaginar uma empresa de 200 bilhões crescer para um trilhão de  dólares, por mais bem administrada que seja, pois obviamente a empresa se tornaria muito grande, às vezes até maior do que todo o mercado que atua. Logo, empresas menores tendem a ter uma perspectiva de rentabilização maior do acionista do que uma empresa muito grande em termos de capitalização.

O terceiro fator de risco é o mais polêmico de todos no mundo das finanças e da academia. O estudo de Fama&French apontou, aliás esse fator segundo regressões estatísticas feitas pelo estudo apresentou mais relevância do que o fator tamanho, que empresas com baixo P/VP , ou alto BE/ME, apresentaram retornos muito maiores do que empresas com alto P/VP, ou baixo BE/ME. Como explicar os resultados? Neste ponto, o mundo das finanças e os acadêmicos se dividem em dois grupos bem claros: a) os que acreditam que isso apenas mostra que os mercados são irracionais, e tendem a overreaction tanto em  Bull como em Bear Markets e b) empresas com baixo P/VP são empresas problemáticas, muito possivelmente com expectativas de lucros tímidas, sendo assim são mais arriscadas, e, portanto o retorno a mais obtido ao investir nessas empresas nada mais é do que o trade off de risco x retorno.

            Há diversos estudos, e num próximo post irei abordá-los, mostrando que o investimento em valor produziu resultados muito mais satisfatórios do que o investimento em crescimento, e quase sempre com menos risco de downside. Logo, se assim o é, as ações tendem a ter um comportamento de regressão à média, o que indica que há sim overreaction e irracionalidade, mesmo que seja parcial, nos mercados. Graham pensava assim (mesmo sem talvez pensar nestes termos, pois em sua época não existiam discussões tão técnicas), investidores em valor pensam assim e alguns acadêmicos também pensam assim.  Entretanto, a maioria dos acadêmicos é da opinião de que não há ineficiência, mas apenas remuneração pelo risco assumido de investir em empresas mais problemáticas.

E você, Soul, o que acha? Bom, eu no meu amadorismo e conhecimento parco,  tendo a achar que há em certa medida uma tendência de regressão à média, e ( principalmente pelos vários ensinamentos vindo das finanças comportamentais) que o investidor tende a ter uma reação exagerada. Se na maioria do tempo as reações não são tão exageradas, e a precificação costuma não apresentar grandes desvios, em períodos de pessimismo ou otimismo extremo, as reações podem ser extremamente exageradas, o que pode proporcionar oportunidades e riscos a depender de como o investidor irá se comportar. Logo, eu tendo a achar que o grupo do item "a" possui mais razão.

Estamos chegando ao fim desse artigo, e espero que os três fatores de risco tenham ficado claros para os meus valorosos leitores.  É necessário destacar que resultados semelhantes foram encontrados no mercado acionário internacional em variados estudos, cito aqui apenas um deles (mas há diversos outros): Value versus Growth: The  Internacional Evidence – Fama&French - 1998( http://www4.gsb.columbia.edu/filemgr?file_id=645730).

O leitor com um conhecimento mais técnico do tema irá perceber que deixei de fora a discussão sobre Momentum.  Nos estudos acadêmicos mais recentes há bastante discussão sobre a existência ou não de Momentum, ou seja, se os retornos podem ser correlacionados a movimentos anteriores no mercado acionário, ou se o mercado acionário possui um movimento Random Walk, completamente aleatório. Em termos mais simples, se o mercado acionário subiu ontem, qual é a chance de subir hoje? Isso é possível ser medido estatisticamente com testes de auto-correlação.  Os estudos apontam para a existência de Momentum em períodos curtos de tempo com dias, e meses. Esses achados podem dar mais suporte teórico para os investidores que gostam de fazer operações baseado em análise técnica de curto prazo.  Entretanto, o tema é muito específico, e creio não ser de tão grande interesse para investidores amadores.

 É isso colegas. Talvez não tenha sido um artigo tão fácil, procurei de alguma maneira, com todas as deficiências técnicas que possuo, passar os conhecimentos de estudos acadêmicos de alta complexidade, principalmente para mim sem formação em exatas. Creio que estes estudos podem trazer luz para nossa forma de investir, isso não quer dizer que temos que seguir cegamente ou que podemos replicar os estudos ou até mesmo que os resultados irão se repetir no mercado acionário brasileiro pelo período em que estivermos investidos. O mercado brasileiro é estranho, tanto que nem equity premium apresentou nos últimos 20 anos, mesmo a nossa economia e nosso PIB per capta crescendo enormemente (fruto da distorção que uma taxa de juros acarreta na economia e nos investimentos).  Porém, acredito que quanto mais informações e estudo um investidor possui, mais preparado o mesmo está para alcançar os seus objetivos financeiros e evitar erros muito grandes ao investir.

Grande abraço a todos!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

REFLEXÕES - OS TRÊS GOLPES DA CIÊNCIA CONTRA O EGO HUMANO

            "O mundo é o meu país, toda a humanidade é a minha raça, e fazer o bem é a minha religião" Thomas Paine    

                Olá amigos! Continuando os artigos sobre temas mais gerais, hoje pretendo falar um pouco sobre ciência e ego humano. Primeiramente, devo explicitar que entendo como ego humano a nossa percepção de que somos especiais no universo, na natureza e na individualidade. O tema é vasto, complexo e polêmico. Aqui farei apenas algumas breves reflexões.


I -  PRIMEIRO GOLPE – A ILUSÃO DE SERMOS O CENTRO DO UNIVERSO DESTRUÍDA


                Não vou aqui descrever a história das idéias sobre o fato da terra ser o centro do universo (há pessoas com muito mais competência que já fizeram isso, sendo facilmente obtido na internet), mas essa era a ideia a prevalecer por mais de mil e quinhentos anos na humanidade.  Foi preciso que um polonês, Nicolau Copérnico, e posteriormente um italiano, Galileu Galilei, para que esse conceito central na vida humana até então fosse questionado.  Galileu, no que ia ser para sempre considerado um dos episódios que ilustram como o conhecimento humano pode ser barrado por questões outras do que a verdade, foi obrigado a se retratar perante a Igreja Católica, pois suas afirmações contrariavam passagens literais da Bíblia, mas pior do que isso colocavam em cheque a posição central da terra e do homem no universo.

                Com o avanço da ciência nos últimos séculos, a ideia de que a terra fosse de alguma maneira o centro do universo foi descartada, pois  estamos na verdade na periferia de um dos braços da nossa galáxia. Na bem da verdade, quem conhece um pouco sobre teoria cosmológica, sabe que o conceito mais aceito hoje é que o universo não possui um centro, na verdade qualquer ponto pode ser considerado o seu próprio centro, já que o universo está se expandindo e as galáxias se afastam uma das outras conforme o espaço é criado (esse é um conceito um pouco difícil de entender, o universo não se expande por algo que já existe, na verdade o próprio espaço é criado com a expansão do universo).

                Assim, a humanidade, principalmente as religiões institucionalizadas, teve que aceitar o fato de que a terra não era o centro do universo, longe disso. Esse primeiro golpe no ego humano não foi tão duro para a maioria das pessoas, pois se trata de algo mais abstrato, pouco relacionado com a vida prática.  O segundo golpe da ciência seria muito mais duro de aceitar, o que de fato ainda não é aceito por boa parte da humanidade.

 Galileu Galilei foi um dos grandes homens a andar pela terra. Ele inicia uma nova forma de se pensar o mundo, o que iria desembocar na criação do método científico moderno.
Não estamos nem no centro da nossa Galáxia, o que dirá do Universo (que aliás não tem centro).


II – SEGUNDO GOLPE – A ILUSÃO DA ESPÉCIE HUMANA SER O ESTÁGIO FINAL EVOLUCIONÁRIO E POSSUIR UMA POSIÇÃO ESPECIAL DESTRUÍDA


                O ano é 1859 e um livro com o sugestivo nome de “On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life “(Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida) foi publicado (apenas na sexta edição o livro teria o título de “A origem das espécies”, como é mais conhecido).  Há algum debate na história da ciência se Charles Darwin foi original ou não em sua abordagem, mas tal tema foge do escopo desse breve artigo. O ponto é que as idéias contidas nesse livro são absolutamente revolucionárias.

                A explicação para a variedade da vida não necessitaria ter mais uma causa sobrenatural (ou seja fora da natureza). A própria natureza continha a explicação para sua própria complexidade. Isso, amigos, é absolutamente assustador para nós humanos que possuímos uma tradição de milhares de anos de explicação do mundo, e principalmente da vida, pelo uso de mitos da criação. O mais provocador, também por ausência de conhecimento técnico não vou discutir a teoria em si – recomendo os livros do genial Richard Dawkins para isso -, é que a evolução das espécies acontece de maneira aleatória, não há nenhum significado ou objetivo especial (além da adaptação) da evolução. Logo, o homem é apenas produto de alterações genéticas aleatórias, não é fruto de algum desígnio especial da natureza. Sendo assim, a humanidade não possui um caráter especial enquanto espécie, ela é apenas mais uma dentre tantas outras espécies, algumas delas com grau de complexidade fisiológica muito parecida com a espécie humana.

                Talvez boa parte das pessoas não reflita tanto sobre isso, ou não entendam o real alcance dessa descoberta. Minha mãe, por exemplo, fala desde que sou criança que não consegue entender a complexidade das adaptações dos seres vivos, que isso só poderia ter uma explicação fora da natureza.  É um sentimento extremamente natural, afinal tudo parece estar tão conectado que não poderia ser obra do acaso, seria imprescindível a existência de algum desígnio inteligente prévio (sim é a teoria do criacionismo sob a  roupagem moderna do "desígn inteligente"). Acontece que essa complexidade começou a ser desvendada por Charles Darwin, e nenhuma explicação sobrenatural foi ou é requerida.  Isso é um tremendo golpe em muitos conceitos extremamente arraigados nas nossas culturas, e em nossas religiões institucionalizadas, principalmente as ocidentais.

                Se o homem não é A espécie, mas apenas mais uma espécie, o que poderia justificar todo um sistema de dominação da espécie humana sobre outras espécies não-humanas, a não ser o poder? Se assim o é, qual é a diferença fundamental do uso do poder para subjugar outras espécies do uso do poder para subjugar membros da espécie mais fracos? Se o homem é apenas uma espécie entre tantas outras fruto de mutações aleatórias, como justificar mitos de criação, absolutamente centrais para tantas instituições religiosas ou não, onde o homem aparece como algo apartado das demais espécies? O pior talvez seja a questão da finalidade, porque se somos frutos de alterações aleatórias, se a evolução não necessariamente deveria culminar com a espécie humana (a evolução, pela sua aleatoriedade poderia ter tomado diversos caminhos), como fica a questão do sentido da existência? Será que realmente há algum sentido sobrenatural, algum sentido que fuja do próprio contexto natural? Do ponto de vista racional, é muito difícil justificar essas posições tão arraigadas em nossa cultura.  É por isso que esse golpe desferido pela ciência contra o ego humano é muito forte e profundo, pois mexe com crenças e suposições extremamente internalizadas em nós.

                Eu, particularmente, não me sinto tão atingido. Aliás, eu vejo com satisfação essa história narrativa da vida. Isso apenas serve para que nós, espécie dominante do planeta, tenhamos respeito por toda e qualquer forma de vida, pois nós temos uma ligação ancestral com toda forma de vida que existe hoje no Planeta Terra. Não há nenhuma forma de vida que não guarde algum ancestral em comum com os seres humanos. Isso é muito bonito, pois faz com que nós possamos nos sentir conectados com toda a vida nesse planeta, mesmo no nível mais fundamental. Além do mais, ao admitir que organismos extremamente simples do ponto de vista biológico possam evoluir para organismos extremante complexos como cachorros, golfinhos, homens, é muito mais surpreendente, misterioso e fascinante do que a explicação de um ser extremamente complexo criando seres menos complexos.

                Esse golpe ainda não foi digerido pela humanidade, se é que um dia será, mas há outro golpe em gestação, esse sim capaz em colocar em xeque absolutamente tudo que acreditamos ser mais fundamental a existência individual de cada ser humano.
               
  Esse livro marca o início de um novo entendimento sobre a vida no nosso planeta. É realmente revolucionário.
Pela ciência atual, todos esses seres vivos, por mais diferentes que sejam, são nossos parentes. Não é apenas "somos todos macacos", até porque o homem não evoluiu dos macacos, mas sim há um ancestral em comum entre os macacos e os cinco grandes primatas (homens, bonobos, chimpanzés, gorilas e orangotanos - em ordem decrescente de parentesco genético).


III – TERCEIRO GOLPE – EM ANDAMENTO – A ILUSÃO DE TERMOS CONTROLE SOBRE O QUE PENSAMOS E DECIDIMOS SENDO COLOCADA EM XEQUE

               
                     Quem é você? Quem é o Soulsurfer? Há algo que me distingue de outros seres humanos, há alguma coisa dentro de mim que me torna especial, algo que possa ser chamado de “Eu” em oposição aos “outros”? Se este “Eu” existe, é ele que está no controle ou alguma outra “coisa” está na verdade do controle da minha existência? O tema não é novo, é discutido há milhares de anos pelas maiores mentes que a humanidade já criou, e nunca se chegou a um consenso. É a dicotomia mente x cérebro, corpo x alma.

                Até pouquíssimo tempo atrás, tal discussão a toda evidência estava restrita a conversas metafísicas, longe do alcance do método de verificação científico. Entretanto, tal situação está mudando drasticamente com o avanço da neurobiologia e os processos de mapeamento do cérebro.  Hoje, a ciência está conseguindo olhar o nosso cérebro e testá-lo nas mais variadas situações. É um dos temas que atualmente eu mais aprecio ler ou me informar a respeito.  As descobertas são inúmeras e potencialmente reveladoras da limitação do papel de um “Eu”.

                Não vou me aprofundar, pois o tema é amplo e complexo. Entretanto, há descobertas cada vez mais incontestáveis que as nossas decisões são feitas antes de termos consciência delas (lhttp://www.humanasaude.com.br/novo/materias/2/c-rebro-indica-decis-o-futura-at-10-segundos-antes-de-ela-atingir-consci-ncia_5694.htm). No fantástico livro do Eduardo Giannetti “ A ilusão da Alma”, são descritos diversos estudos. Há um muito interessante sobre um pedófilo que foi preso, e se descobriu que ele tinha um pequeno tumor numa área do cérebro. O tumor foi retirado, o mesmo foi solto, e por alguns anos não se envolveu em mais nenhum ato de pedofilia.  Entretanto, o mesmo foi pego novamente num ato de pedofilia, e se descobriu que o mesmo tumor na mesma região do cérebro havia voltado. É difícil nesse caso específico achar um "Eu" para ser responsabilizado. As implicações sobre os nossos julgamentos morais e jurídicos são absolutamente profundas.

                   Há estudos que mostram que determinadas áreas do cérebro quando estimuladas eletricamente provocam a sensação da presença de uma entidade extracorpórea (o que pode explicar os mais variados fenômenos religiosos no curso da história), há outra parte do cérebro que quando estimulada provoca a sensação de separação da pessoa com o próprio corpo. Enfim, o tema é muito vasto e apaixonante.

                A tese central é que talvez não haja uma separação entre cérebro e mente, e que nossos processos mentais nada mais são do que processos físicos/químicos que acontecem no interior de nosso cérebro sem qualquer participação do meu “Eu”. Na verdade, a própria noção de um “Eu” está sendo colocada em xeque com esses experimentos. Tudo está numa frase embrionária, o que descobriremos daqui 50/60 anos é um grande mistério, mas se realmente nossa consciência não está no controle de quase nada, isso será um tremendo golpe contra o ego humano. Como os humanos lidarão com isso, apenas meus bisnetos talvez possam responder. É necessário salientar que muitas pessoas estão utilizando esse tipo de conhecimento para objetivos muito práticos. Há dois campos novos de análise que não param de crescer: neuroeconomia e neuromarketing.  Eu quando leio a respeito dessas duas novas fronteiras fico assustado, pois cada vez mais e mais as propagandas serão feitas, e os produtos serão designados e produzidos, para atingir diretamente regiões muito específicas dos nossos cérebros, onde a nossa consciência não terá a menor chance de resistir. 

Já falei sobre o Giannetti. Sou suspeito, pois o acho um dos maiores intelectuais vivos do Brasil. O livro é tão bom que li duas vezes. Recomendo.

                É isso colegas, de uma espécie especial que ocupava o centro do universo onde a consciência/mente/alma era o centro de nossa existência, a ciência vai cada vez nos mostrando que somos uma entre muitas espécies habitando ao redor de uma estrela periférica em uma galáxia qualquer (dentre centenas de bilhões de outras galáxias, e talvez até de infinitos universos – é a teoria do multiverso), onde nem mesmo temos controle consciente sobre as nossas decisões. Ao invés de nos tornamos depressivos e melancólicos com essas descobertas, talvez possamos usá-las para sermos menos egocêntricos, mais amorosos com os outros animais da nossa espécie e de animais de outras espécies, e mais humildes para admitirmos que somos muitos pequenos perto da complexidade da vida e do universo.


                Um grande abraço a todos!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

BRASIL - É TÃO RUIM ASSIM?

              Olá, colegas! Hoje resolvi falar um pouco sobre o nosso país. Existiram alguns comentários no meu último artigo, que as supostas “vantagens” de se investir no Brasil seriam compensadas pelo atraso econômico, social e humano no qual o Brasil se encontra.  Afinal, prefere poder ter um título pós-fixado morando em São Paulo, ou prefere não ter essa vantagem e morar na sensacional Sidney? Tirando questões de ordem sentimental, é claro que todos nós preferiríamos morar num país extraordinário como a Austrália. Troco todos os aparentes “almoços grátis” por um país mais organizado e justo.  Entretanto,  será que a resposta seria a mesma se ao invés de Sidney fosse oferecido morar em Lagos, Nairóbi, Hanoi, Kiev, Damascus, etc, etc? Talvez a resposta seja negativa.

                Ok, Soul. Qual é o seu ponto? O meu ponto é que os seres humanos, e os brasileiros em especial, possuem a tendência de apenas observar países e sociedades que estão indubitavelmente num estágio mais avançado, mas esquecem de olhar para o mundo miserável em que vivemos. É como queixarmos da nossa situação de classe média, sem se atentar para o fato que uma parcela significativa dos habitantes de nosso país não tem nem mesmo acesso a saneamento básico. O nome já diz: saneamento básico (http://noticias.cancaonova.com/saneamento-basico-no-brasil-ainda-e-insuficiente-diz-estudo/)


                Quão precária é a situação do país? Comecemos pelo mais famoso índice que mede a qualidade de um determinado país : O Índice de Desenvolvimento Humano, conhecido como IDH.  O Brasil encontra-se na 85ª posição, na metade superior do ranking.  A posição do país não é boa, mas o Brasil avançou significativamente nos últimos 30 anos em inúmeros índices que vão desde anos de estudo, renda per capta, expectativa de vida, etc. O curioso é que a Argentina possui um IDH muito melhor do que o Brasil, sendo que a Venezuela também possui um IDH levemente superior (todas as informações aqui http://noticias.uol.com.br/infograficos/2013/03/14/brasil-fica-na-85-posicao-no-ranking-mundial-de-idh-veja-resultado-de-todos-os-paises.htm).  Isso apenas demonstra o quão desigual e injusto era o nosso país há 30 anos atrás, pois se melhoramos tanto, mas mesmo assim temos uma posição ruim, pior até mesmo do que a Venezuela e a Argentina que estão em posição econômica frágil há alguns anos,  é porque as coisas eram muito piores do que são atualmente.

                Observem a situação de IDH de países como a Nigéria. Alguém já pensou o que é viver lá? Terroristas loucos como os do Boko Haram no norte sequestrando meninas e ameaçando vender como escravas por U$ 12 dólares, metade da população vivendo com menos de dois dólares por dia, uma completa falta de infra-estrutura, corrupção endêmica e muitos outros problemas graves. A vida lá não é nada fácil. Sabe quanto é a taxa de juros por lá? 12% (http://www.tradingeconomics.com/nigeria/interest-rate). Isso mesmo, quase igual a do Brasil. Portanto, o Brasil tem juros de apenas 1% a menos do que um país miserável, à beira de uma guerra civil. 

                   Se um país africano não serve, comparemos com um país como a Turquia. Este país, que é muito bonito (já tive o prazer de visitar duas vezes), é de uma história e cultura extremamente rica. A capital Istambul é muito mais cosmopolita e desenvolvida do que qualquer cidade grande do Brasil. Pois bem. O IDH da Turquia é pior do que o do Brasil. Os juros são de 10% aa - houve uma paulada nos juros lá no começo do ano - (http://www.tradingeconomics.com/turkey/interest-rate) e os dividendos, pelo que li aqui rapidamente, são taxados. A Turquia é um país muito parecido com o Brasil no campo econômico, tanto que os dois são considerados parte do grupo das economias frágeis. Sendo assim, aparentemente, há vantagens aqui para investidores se comparados com investidores nacionais turcos.

                Ao contrário do que muitos podem pensar, o Brasil é um país que possui instituições sólidas.  Aqui há uma democracia real, presenciamos isso quando FHC deu a faixa presidencial ao LULA, numa grande lição de democracia, de transferência pacífica do poder.   O Brasil também é conhecido internacionalmente como um dos países mais receptivos a refugiados. Há milhares de Sírios, Haitianos, e de diversos outros lugares que são amigavelmente recebidos pelo nosso país. Não é assim que funciona em outros países, principalmente os mais desenvolvidos, onde essas populações são vistas muitas das vezes com desdém e indiferença.

                Logo, o nosso país tem uma série de problemas (sendo o principal deles o aumento da violência nas relações cotidianas, em minha opinião). Entretanto, estamos longe de estar na parte de baixo, muito pelo contrário.  Os números mostram uma evolução fantástica no Brasil nos últimos 30 anos. Cabe a nós brasileiros continuarmos lutando e insistindo para que nossas instituições se aperfeiçoem,  para que possamos nos próximos 30 anos colhermos mais melhoras significativas.

                Ah, mas o Brasil nunca vai ser uma Noruega. Provavelmente em nosso tempo de vida, não, assim como os EUA provavelmente não terão o padrão de vida de uma Noruega nos próximos 30/40 anos, e olha que eles são a superpotência militar, e a maior potência econômica. Nosso país é diverso, desigual e plural. Uma das coisas que sempre passa pela minha cabeça quando estou num aeroporto internacional de grande circulação é que tirando algumas etnias com características bem próprias (como Indianos e Mongóis), quase todo mundo pode-se passar por Brasileiro, e essa é uma das razões, segundo um delegado da PF me disse uma vez, de um passaporte brasileiro valer tanto no mercado negro. Isso é uma característica tão única e singular do Brasil, que se fossemos mais organizados poderíamos explorá-la em nosso favor.

                Portanto, com certeza temos que olhar para parte de cima do mundo (que se restringe talvez a 1/1,5 bilhões de pessoas) e procurar avançar enquanto país, mas é bom lembrarmos de olhar para a metade baixo do mundo (que deve corresponder a uns 5.5/6 bilhões de pessoas) para ver o quanto a vida pode ser difícil.


E você, com razão, reclamando do trânsito em nossas cidades. Caos urbano em Lagos -Nigéria

Abraço a todos!

               


sexta-feira, 16 de maio de 2014

INVESTIMENTO - "THERE IS NO SUCH THING AS A FREE LUNCH". SERÁ?

"É preciso, pois, de vez em quando, saber perder-se, se quisermos aprender alguma coisa daquilo que nós próprios não somos." (Nietzshe)


Olá, colegas! Hoje vou fazer um artigo mais curto e pretendo abordar as benesses de se investir no Brasil, pois o nosso país não é só decepção não amigos! Muitos investidores amadores, e talvez profissionais, estrangeiros provavelmente invejariam (acaso conhecessem) muitos dos instrumentos e características que o nosso mercado possui.

I – NÃO TRIBUTAÇÃO DE DIVIDENDOS EM AÇÕES E ALUGUÉIS EM FII

                Essa é uma vantagem formidável do nosso mercado em relação ao mercado americano, por exemplo.  Eu pesquisei rapidamente, e os únicos países que não taxam dividendos (da lista da Wikipédia que vi, mais detalhes em http://en.wikipedia.org/wiki/Dividend_tax ) são: Brasil, Irã e  Hong Kong. Isso mesmo, amigos, para ter a moleza de não ser taxado nos dividendos apenas investindo no Irã dos Aiatolás.  Em países como França, EUA e Austrália (pô justo a terra dos cangurus que eu quero morar uns meses) a taxação de dividendos pode ser de 30%,39% e 45% respectivamente.

                Em relação aos REITs eu não consegui pesquisar como funciona a taxação nos REITs internacionais. Entretanto, desconfio que a taxação seja similar aos dividendos acionários. Portanto, receber dividendos e alugueis de FII sem qualquer espécie de taxação, e no caso brasileiro ainda com yields consideravelmente mais altos do que a média dos REITs americanos (mais detalhes aqui http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/reits-um-estudo-sobre-suas.html) é uma vantagem competitiva no médio/longo prazo que pode fazer uma diferença monstruosa.

II – A EXISTÊNCIA DE TÍTULOS PÓS-FIXADOS
               
                Poucas pessoas refletem sobre isso, mas a existência de um título pós-fixado é um “almoço grátis” que poucos lugares do mundo fornecem. Soul, por que você pensa que é uma vantagem a existência dessa espécie de títulos? Ora, depois do default, o maior risco no mercado de títulos de dívida é a flutuação da taxa de juros.  Um investidor ao comprar uma LTF, por exemplo, simplesmente elimina esse risco, e o que é melhor, no Brasil ainda se paga 11% por um título sem qualquer tipo de risco e com liquidez no mínimo semanal. Isso não existe em países minimamente consolidados, amigos. Os investidores precisam assumir o risco da flutuação da taxa de juros, bem como do aumento da inflação.

               Atualmente, os títulos de 10 anos americanos estão pagando algo em torno de 2,5% aa, e os títulos de 30 anos apenas 3%aa. Imagina se alguém quer fazer o seu pé-de-meia com esses títulos,  aportando por exemplo 50% do seu patrimônio neles, e os juros em 2018 disparam para 7%, e a inflação aumenta dos atuais 1,5% para uns 4%? Esse investidor simplesmente entrou pelo cano, pois não só o Valor Presente do título irá despencar, assim como o fluxo de pagamento de juros será inferior até mesmo do que a inflação.  Isso aconteceu nos EUA no final da década de 70, quando a inflação disparou e a taxa de juros teve que aumentar sensivelmente para combater a inflação e quem tinha se posicionado em títulos de maturação mais longa na década de 60 ou meados da década de 70 teve perdas expressivas.

                Portanto, ao comprar uma LTF se elimina o risco de flutuação da taxa de juros, e praticamente se elimina o risco da inflação, pois é difícil imaginar a SELIC ficando abaixo da inflação (pode acontecer, mas é improvável).  O “almoço grátis” é tão claro que o governo que ir aos poucos acabando com os títulos pós e só colocar títulos pré a venda para o mercado (eu tinha lido uma notícia alguns meses atrás sobre isso, mas infelizmente não consegui localizá-la para deixar o link).

                Esse é um dos motivos, em minha opinião, de um spread entre uma LTN17 e uma LTF estar encurtando para apenas 1% não fazer muito sentido, quando há uma dúzia de incertezas pairando sobre o país. Eu creio que o spread deveria ser bem maior para compensar o risco.


III – A INEXISTÊNCIA DE TAXAÇÃO SOBRE GANHO DE CAPITAIS NO MERCADO ACIONÁRIO PARA PEQUENAS VENDAS

                Todos, ou pelo menos boa parte dos investidores, está familiarizado com a regra de isenção de imposto de renda sobre operações de venda  mensais de menos de vinte mil reais.  Isto não existe no mercado americano, e duvido que exista em mercados mais consolidados. Ah, Soulsurfer, o limite é tão pequeno? Será mesmo? Vamos supor que você é um investidor que é holderzão, cotação não importa, e o que você quer é acumular cada vez mais e mais ações. Porém, em um determinado momento, você decide que quer viajar, quer montar um negócio para o filho, ou quer ser um bom ser humano e doar para os médicos sem fronteiras (faça isso, e não precisa ser no futuro, pode ser agora mesmo com pequenas quantias), e você decide vender algumas ações. Há a possibilidade de se vender R$ 240,000,00 ao ano  e não pagar nenhum tributo sobre isso. Se este limite for ao menos corrigido pela inflação de tempos em tempos, é inegável que é uma vantagem.

                Evidente que para um patrimônio de 20 milhões de reais em ações, esse limite de isenção começa a ficar irrelevante. Entretanto, é inegável que essa isenção é muito positiva para investidores com patrimônios não tão grandes no mercado acionário (para mim patrimônio grande em ações é a partir de uns R$ 3 Milhões, como faz sentido alocar o dinheiro em diversos ativos, estou falando aqui de patrimônios prestes ou na faixa dos oito dígitos).

IV – A GARANTIA DO FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITO

                Eu não fiz um estudo a fundo sobre o mercado de capitais no mundo inteiro, aliás, longe disso. Entretanto, o maior risco no mercado de dívidas é o default. Ora, risco em finanças deve ser recompensado, e o é com juros maiores no caso da renda fixa.

                Entretanto, não seria bom se nós pudéssemos comprar um título de dívida de um emissor mais arriscado, ganhar mais juros por isso, e se alguma coisa der errado, um fundo com risco quase soberano nos resgatar? Pois é isso o que acontece no Brasil com certos instrumentos de dívida. Comprar uma LCI do SOFISA pagando 1,5% a mais de juros do que uma LCI do BB é praticamente a mesma coisa hoje em dia. Antigamente, o FGC era de apenas 20 mil. Depois foi aumentado para 70 mil. Até que por fim recentemente foi aumentado para a razoável quantia de 250 mil. O que é ainda mais impressionante é que esse limite não é por CPF, mas sim por banco em que o investidor aplica.

                Isso é um baita “almoço grátis” que o nosso mercado de renda fixa oferece. Ah, Soulsurfer, e se o FGC não tiver dinheiro para honrar. Se isso ocorrer, é porque algo muito grave está acontecendo com o país, pode ter certeza, e talvez até a LCI do nosso querido BB esteja passando por apuros. Ah, mas se o banco quebrar e todo o problema de receber o dinheiro, e os meses com o dinheiro lá parado. Bom, esse é um pequeno  incômodo que o investidor por ventura pode passar, mas ele não invalida  a tese que o risco está sendo remunerado, sem haver qualquer risco de default.

                Portanto, amigos, nosso país possui diversas mazelas, inclusive na área econômica. Entretanto, a máxima do Sr. Milton Friedman de que “There is no such thing as a free lunch” (o que é uma grande bobagem se for levada ao pé da letra para todas as situações de relacionamento humano) parece não se aplicar aqui em terras Tupiniquins em sua plenitude. Há sim, e é espalhado pelos mercados de Renda Fixa, acionário e de Fundos de Investimento Imobiliário diversos "almoços grátis".

                É isso aí, grande abraço!


 Colegas, antes de irem para uma próxima pagina, assistam a este vídeo. É fenomenal. "The story of stuff" - A história das coisas. Esse é o primeiro vídeo, há muitos outros. O livro também é fenomenal, e recomendo a leitura. O vídeo trata simplesmente da insustentabilidade do nosso sistema atual de consumo, vida e economia. Sempre que posso eu o vejo novamente.



       É isso aí, grande abraço!