terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A VIAGEM DA PATERNIDADE: SOBRE SER MÃE, EMPATIA E PODCASTS DE TRÊS HORAS


        Olá, colegas leitores. Já faz certo tempo que não escrevo nada. Coisas da vida. Nesse tempo passado minha linda filha nasceu. Filhos, dizem “só quem tem sabe o que é”, e é a mais pura verdade. Incrível. Participar do parto dela foi uma das experiências que fico feliz de ter passado nessa vida. Com certeza, um dos momentos impactantes de minha existência Parto natural, com uma médica humana, tocando Queen no quarto, foi um momento extraordinário.

                E quão extraordinária não é a vida. Ao ver a minha filha se desenvolvendo, as habilidades mais básicas sendo adquiridas dia após dia, nesse último mês, eu não consigo evitar ser tomado por inúmeras reflexões.  Qual será o mundo que a espera em 2050? Eu venho lendo muito sobre Inteligência Artificial, bioengenharia, e pensadores como Yuval Harari e Sam Harris, e me pego um pouco assustado ao imaginar que o mundo dela vai ser completamente diferente do meu, talvez de uma forma sinistra. Porém, sou trazido ao presente, pelos choros e fraldas, e fico feliz de poder estar com ela todos os dias várias horas, algo que a liberdade financeira me permite. O que posso dizer? Quero apenas aproveitar todos os momentos, do primeiro sorriso, a primeira engatinhada, a primeira palavra, tantas coisas boas ainda por acontecer.

                Ao olhar para ela, e vivenciar o que estou passando, também não consigo parar de olhar para as pessoas sejam homens, mulheres, brancos, negros, ricos, mendigos, mau encarados, etc, e refletir que um dia todas essas pessoas apenas choravam, mamavam e defecavam, completamente dependentes de um outro ser. Será que nesse momento de extrema fragilidade, de intensa atividade formativa neural, elas receberam amor ou indiferença? Será que mamaram como deve ser até um ou dois anos de idade, ou tomaram fórmula, ou coisa pior? Quanto do que essas pessoas hoje são não se deve a como elas foram tratadas nos primeiros meses? Ao pensar sobre tudo isso, um sopro de felicidade entra na minha vida, pois às vezes sou tomado de um grande sentimento de empatia por todas essas pessoas e suas histórias sofridas ou não.

                E se há alguém importante nessa história toda, ela é em especial a minha companheira, e em geral a Mãe. A dedicação, a dor na hora do parto, as mudanças hormonais, as 24 horas preocupadas com a criança, a dor de dar o seio para a amamentação, meu deus, só posso dizer obrigado Mãe, e obrigado para minha companheira. Mãe, um papel tão negligenciado socialmente. Não vale quase nada socialmente ser uma Mãe dedicada. Aliás, principalmente em meios financeiros, um dos diferenciais para salários maiores a homens em relação a mulheres é o fato que estas engravidam e ficam afastadas por períodos longos de tempo. Compreensível do ponto de vista individual de um empreendedor, completamente incompreensível de um ponto de vista social como um todo. Uma sociedade que não valoriza como uma das funções mais importantes o ato de ser Mãe, encorajando e ajudando as mulheres, é uma sociedade doente que está míope para as grandes questões

          Ouvi de uma excelente pediatra numa palestra que fui que ela aprendeu no tempo que viveu em Malawi (um país Africano) que é "necessário uma vila inteira para se criar uma criança". Eu pensava que esse era um ditado indígena, mas na verdade esse é apenas a constatação óbvia de diversos povos de diversas geografias.  Hoje em dia, muitas mulheres não possuem uma vila inteira, muitas vezes não possuem nem mesmo um companheiro, e ainda precisam ouvir explicações sobre os motivos delas, geralmente proferidas por homens (com h minúsculo mesmo) serem preteridas por sua simples condição de ser mulher ou Mãe. E há pessoas que acham isso não só normal, mas como o ápice da melhor ideologia e forma de se organizar dos seres humanos. Não é à toa que vemos tantos adultos depressivos, ansiosos, que não sabem lidar bem e de forma saudável com relacionamentos humanos, com várias sombras da infância mal resolvidas, e continuaremos a "fabricar" adultos assim, sem sombra de dúvidas.

                Falando em mulheres, grandes questões e empatia, que entrevista fui brindado ao ouvir o Podcast do Sam Harris de número 144 com Deeyah Khan. São quase três horas de duração de uma entrevista fantástica, com uma mulher extraordinária. Se você ainda perde o seu tempo com Lula, Bolsonaro, dinheiro do assessor, Olavo de Carvalho, conspirações globalistas e comunistas, blogs mal escritos, noticiário, redes sociais, etc, é uma escolha única e exclusivamente sua de desperdiçar o seu tempo com coisas que além de não acrescentarem nada, apenas te deixam mal. Infelizmente, isso ainda não existe no Brasil, e é por isso que eu queria começar um Podcast. Porém, no exterior, especialmente os EUA, podcasts fantásticos existem em grande número. E por que eles são fantásticos?

Incrível a entrevista. O Sam Harris todos sabem que é um cara diferenciado, mas essa entrevista passou todas as expectativas que tinha sempre que ouço um podcast dele.

                Principalmente, pela longa duração, tem podcasts de quase quatro horas. Num mundo onde textos de duas folhas são “textões”, onde vídeos de 2 minutos com milhões de visualização como “bolsonaro humilha não sei quem”, “Ciro arrebenta economista de direita” atrai a atenção de quase todos, é uma bênção e oportunidade poder ver realmente conversas acontecendo num período de tempo correto. Não, um debate de idéias não se faz em cinco minutos, mas em cinco horas, ou talvez em cinco meses. Em cinco minutos, você tem apenas frases de efeito, e chavões e mais chavões, sem que os interlocutores estejam realmente interessados no que o outro está falando.

                Isso, na realidade, era o que mais me incomodada (irritava em certas ocasiões) quando falavam de mim (Soulsurfer) em outros espaços. Não era o fato de discordar de mim, já que pela milésima vez repito que isso é o normal numa sociedade democrática, mas sim não fazer a mínima questão de entender o que eu tinha escrito. Uns por preguiça, outros por má-fé e outros por falta de capacidade interpretativa mesmo. Nisso, a jornada com esse blog foi um grande aprendizado, que não temos controle sobre isso, e temos que focar nossa atenção naquelas pessoas que realmente querem ter um diálogo genuíno, seja para concordar, discordar, ou refletir.

                Por isso, os diversos podcasts são ferramentas fantásticas. Esse da Deeyah Khan é um deles. Ela é uma mulher que devota a sua vida a fazer documentários e a questionar diversas questões complexas. Dois dos seus documentários (que estão disponíveis no Netflix nos EUA, mas não no Brasil, aliás quem conseguir um link para assistir agradeceria enormemente) tratam dos Jihadistas e do movimento de extrema direita branca nos EUA. A forma corajosa que ela abordou esses temas, a forma empática com que ela se refere a jovens radicalizados muçulmanos e neonazistas americanos, é espantosa. É um exemplo de como nós temos ainda muito a evoluir.

White Right: Meeting The Enemy (não consigo achar um link para ver esse documentário de jeito nenhum)

                É isso amigos leitores, muita iluminação para vocês todos.

Um abraço!

OBS: Não respondi diversos comentários no meu último artigo, peço desculpas. Irei fazê-lo agora.