terça-feira, 30 de julho de 2019

UM PSICOPATA NO PODER? REFLEXÕES DESIMPORTANTES SOBRE A ATUALIDADE


    Olá, colegas. Faz tempo que não escrevo neste espaço, e ainda mais tempo que não comento sobre atualidades. Na verdade, é uma perda de tempo. Tenho plena consciência que estou desperdiçando o que tenho de mais precioso em minha vida ao comentar sobre estes temas.  Então, por qual motivo fazê-lo? Bom, na verdade, cansei um pouco por hoje de ouvir podcasts sobre saúde (estou nos últimos dias ouvindo horas e horas entrevistas de médicos dissertando sobre a dieta exclusivamente carnívora), e também quis dar um tempo de passar as músicas para o ensaio de hoje à noite. Resolvi escrever, e como nada me veio a mente, acabei optando por falar da atualidade.

O FRITADOR DE HAMBÚRGUER 

                Eu, sinceramente, não conhecia Bolsonaro há uns dois anos. Quando escrevi esse breve texto Bolsonaro "O Mito" Brasileiro em outubro de 2016, fiz uma rápida pesquisa sobre o mesmo, e de cara dava para ver quão fraudulento o mesmo era. Mas, não deixa de ser incrível, como alguém que colocou toda a família na política pela sua força junto ao nicho militar mais subalterno, e foi político por 30 anos, conseguiu se eleger como presidente de um país de 200 milhões de habitantes com o discurso de representar a nova política. Era risível e patético, mas de alguma forma isso convenceu dezenas de milhões de pessoas.

                Naquele texto, eu já dizia que não havia qualquer semelhança entre Trump e Bolsonaro. Um é articulado e inteligente, e o outro é completamente limitado, mal conseguindo articular as palavras e pensamentos.  Eu imagino um debate de duas horas entre Dilma e Bolsonaro, seria uma experiência “interessante” do ponto de vista da antropologia intelectual.

                O meu receio sempre foi, ao contrário das instituições americanas, que talvez as instituições brasileiras não fossem fortes o suficiente para aguentar um governo como esse. O surrealismo tomou graus dantescos quando o Presidente sinalizou indicar para o cargo (tirante o chanceler) mais importante, e talvez mais difícil de ser bem executado, da diplomacia brasileira o seu filho. Na defesa da indicação, o presidente disse que “ele sabe falar inglês”. Basta ver uma entrevista dele, o filho, em inglês para ver que o nível de fala dele é de “inglês macarrônico”. A Dilma, o Bolsonaro, o Lula, não saberem falar Inglês não nunca foi o ideal, mas eles foram eleitos pelo povo e saber inglês fluente não é um pré-requisito para ser presidente. Agora o embaixador do Brasil nos EUA não ser fluente em inglês é simplesmente inacreditável.

                Adicionando bizarrice a algo já bizarro, o filho então disse que ele estaria apto, pois já tinha feito intercâmbio e fritado hambúrguer no  Estado Americano do Maine. Nem o PT chegou a ir tão longe.

UM PSICOPATA?

                O presidente então na data de ontem (29/07/2019) resolveu então fazer pouco caso sobre o desaparecimento, e provável assassinato, do pai do presidente nacional da OAB.  O presidente além de debochar do provável assassinato de um ser humano, foi além dizendo que ele sabia como se deu o “desaparecimento” e que ele poderia contar ao presidente da OAB como o pai dele “sumiu”. Horas mais tarde, enquanto fazia o cabelo, num tom de banalidade, o Presidente disse que Fernando Santos Cruz teria sido morto por integrantes de grupos revolucionários de esquerda, e não por forças do Estado.

                Aparentemente, essa fala não guarda qualquer ligação com a realidade e já foi desmentida. Normal, nisso Bolsonaro é parecido com Trump, ele mente compulsivamente sobre juízos de fato que são fáceis de ser averiguados. Porém, o ponto não é nem esse. Zombar sobre o desaparecimento do Pai de alguém é simplesmente um ato de maldade. É um ato que releva que o emissor possui pouca ou talvez nenhuma empatia por pessoas que acredita ser adversários políticos.  Não ter qualquer empatia por uma dor tão profunda como essa num outro ser humano comumente é diagnosticado como Psicopatia. É muito provável que o presidente da República Federativa do Brasil possa ser um psicopata, não metaforicamente, mas no termo médico da palavra.

                Uma vez alguns anos um Blogueiro resolveu me insultar. Eu acabei fazendo um texto duro dizendo que ele estava cruzando a linha do que seria juridicamente válido alguém fazer, e que não existe anonimato na internet, nada que uma ordem judicial não ajudaria a desvendar quem ele era. 

      Por mais que meu texto tenha sido incisivo, eu não tinha ou tenho absolutamente nada contra a figura desse blogueiro em especial. Ao contrário, sempre falava que ele podia estar equivocado na forma de se dirigir a mim, ou em eventuais opiniões sobre alguns assuntos, mas ele poderia ser um ótimo pai, um ótimo marido, um bom profissional, uma coisa não excluiria a outra.  Um tempo atrás fiquei sabendo que o pai dele tinha falecido, e fui dar minhas condolências sinceras, e ele foi educado e disse que estava surpreendido pela minha mensagem.

                A empatia pela perda de um familiar de outra pessoa, o elo que nos conecta aos outros humanos independe de nossas visões políticas e ideológicas de mundo, isso se chama decência.  Assistir a um Presidente agir como um verdadeiro psicopata, sem decência humana, é assustador. Também é assustador ver uma minoria aplaudir um ato desses, o que talvez mostre o grau doentio que as relações mais básicas humanas no Brasil se encontram, ou uma parcela significativa achar que é apenas uma fala, não é importante.

                Collor, FHC, Lula, Itamar, Dilma, Temer, os presidentes pós-regime militar podem ter sido ruins ou bons, cometidos atos de corrupção ou não, mas é difícil puxar pela memória que eles tenham tido qualquer ato tão ignóbil como esse.

IMPARCIALIDADE DE UM JUIZ

                Há uns 50 dias, eu estava surfando alegre e feliz num domingo ensolarado, quando um surfista se aproximou de mim remando e me perguntou “você não é o pensamentos financeiros, por acaso?”. Surpreendido com a pergunta, começamos a conversar, e o rapaz, Arthur, contou um pouco sobre a história de vida dele e dos pais.  Extremamente estudioso sobre ciência política, ele tinha (tem) uma leitura muito mais vasta do que eu sobre diversos tópicos relacionados a pensadores políticos.

                Alguns dias depois nos encontramos novamente no Mar, e a “Vaza Jato” estava começando, e ele me perguntou o que eu achava, se para combater criminosos tão poderosos não seria natural que alguns “limites” fossem rompidos.  É provável que haja opiniões bem embasadas em outra direção, porém, eu respondi, “não sei tanto quanto você sobre ciência política, mas se tem algo fundamental num Estado de Direito moderno é a imparcialidade do juízo”.

                Todos os conflitos humanos podem ser decididos por um juiz. Não é apenas na esfera penal. Eu mesmo tenho diversos processos na Justiça por causa dos leilões de imóveis. Eu sei que posso perder alguns, mas o mínimo que espero é que o julgador seja imparcial e equidistante da outra parte. Isso é o básico. Sem isso, desmorona o Estado de Direito. Sem Estado de Direito não tem capitalismo, não tem fundos imobiliários, não tem nada. Minto, sim é possível ter tudo isso sem um Estado de Direito, mas garanto que ninguém quer um lugar como esse ao estilo da Arábia Saudita. Um dia desses brinquei com um amigo monarquista e que argumenta que imposto é roubo: “Ué vai para Arábia Saudita, lá tem uma família monarquia forte e nenhum imposto de renda te esperando”.

                Se as mensagens reveladas até agora forem verdadeiras, e tudo aponta para essa direção, é evidente que o Juiz Sergio Moro se comportou de maneira parcial, e em muitos casos aparentando ser o chefe da operação Lava-Jato (Não, não, a força tarefa da Lava-Jato não envolvia o Judiciário, ao menos não poderia envolver).  Admitir a parcialidade do juízo pelo suposto combate à corrupção em nada difere de argumentar que em nome do combate à desigualdades sociais se pode cometer atos de corrupção. É exatamente a mesma lógica, e invariavelmente leva a resultados desastrosos.

                Não se engane. Se você se divorciar de forma não consensual, se um locatário não pagar os aluguéis para você, se a Receita Federal acusar a sua empresa de alguma irregularidade fiscal, é um juiz que terá que decidir todas essas questões. A garantia de um juízo imparcial vai muito além da esfera penal, apesar de ser imprescindível no juízo criminal já que se trata da liberdade das pessoas. Se você não se importa num futuro em ser julgado de forma parcial, nada a se preocupar. Se, por outro lado, você tem algum juízo na cabeça, saber que pessoas poderosas  (imagine você e eu então meros mortais comuns) foram talvez julgadas por um juízo parcial, deveria acender um alerta amarelo de que podemos estar rumando para uma ordem de coisas extremamente perigosa.

NÃO TEM NADA DE BOM?

                Claro que tem. Bolsonaro foi inteligente ao dizer que tinha sido convertido ao liberalismo econômico. A Medida Provisória de Liberdade Econômica, que confesso que não li na íntegra, parece ser um passo no caminho certo no longo caminho que o Brasil precisa percorrer para modernizar muitas estruturas arcaicas.

                Cartórios e os seus emolumentos caríssimos, licenças das mais variadas, trâmite demorado, tudo isso vem sendo atacado há alguns anos, e a equipe econômica do governo, mérito para o Bolsonaro ter escolhido e mantido alguns integrantes da equipe anterior, tem planos interessantes em melhorar o ambiente econômico.

                Outro fato positivo é que o Presidente atual é tão inapto e despreparado para o cargo, que o Congresso Nacional está sendo empurrado a assumir um protagonismo maior.  Talvez isso venha a ser positivo para o país, pois o Congresso Nacional a toda evidência é muito mais representativo da população brasileira como um todo do que o Executivo Federal.

                É isso, colegas. Foi só esse texto, não pretendo tão cedo voltar a falar sobre esses temas. Um abraço!