sábado, 26 de abril de 2014

AMÉRICA CENTRAL - NA TERRA DOS MAIAS, DOS REBELDES, DO SURF E DO AMOR

           "Especialistas sem espírito, sensualistas sem coração - e esta nulidade se considera, ainda por cima, o supra-sumo da civilização" - Goethe


     Olá, amigos! (vou começar a cada Post colocar alguma citação de alguma grande figura humana. Esta frase é ou não é um retrato dos nossos tempos?)

Depois de uma série sobre REITs com dezenas de gráficos e conjecturas, o próximo post tinha que ser mais light né!

Hoje vou escrever sobre minha experiência na América Central. Este pequeno “continente”, com pequenos países, guarda histórias grandiosas, histórias tristes, e uma beleza natural de tirar o fôlego.  Quem gosta de surfar, então, é  um paraíso, com lugares de água quente, ondas constantes e perfeitas e preços muito, mas muito baratos. No meu caso, a viagem ainda me presenteou com o começo de uma história de amor e companheirismo.

A América central é uma unidade continental muito diversa da América do Sul, bem como da América do Norte, apesar de ter traços similares com o México. São oito países que formam a América Central, e eu tive a oportunidade de passar por todos (Honduras foi apenas de passagem mesmo). Não pretendo, pois seria cansativo e além dos meus conhecimentos, esmiuçar a história e as características de cada país, mas apenas fazer um relato das minhas percepções.  Vou começar a contar um pouco da minha epopéia que teve ondas incríveis na Nicarágua, SUS de El Salvador, brigas de amigos e o encontro da minha companheira.

GUATEMALA

                Comecei a viagem com dois grandes amigos da época da faculdade. Eles nunca tinham mochilado na vida, e a primeira viagem seria para Guatemala.  Este é um país incrível. Berço dos poderosos Maias. Aproximadamente 60% de sua população é indígena e descendente dos Maias. É um país, como a maioria da América Central, com grande desigualdade e muita pobreza. A miséria chega a ser tanta que é comum ver centenas de crianças muito pequenas, despidas complemente de sua dignidade,  acenando para os carros nas estradas para que as pessoas jogassem moedas num espetáculo deplorável. Foi uma das partes tristes da viagem presenciar isso.

                Como a maioria dos países da região, a Guatemala foi sempre um país muito desigual, geralmente com uma elite descendente dos europeus no poder. Houve, é claro, muitas resistências populares, mas todas elas sufocadas com extrema violência. Os EUA, como em quase todos os países da América Central, sempre tiveram um papel muito negativo na região. Em 1954, por exemplo, um presidente democraticamente eleito, o Sr. Jacobo Arbenz, num que seria um dos primeiros golpes documentado patrocinado pela CIA , foi ilegitimamente retirado do poder pela força militar patrocinada pelos americanos. A plataforma de Arbenz colidia fortemente com uma gigante multinacional americana a United Fruit, e interesses econômicos foram responsáveis por um golpe de estado apoiado por uma potência estrangeira.

                Após esse golpe, o que se seguiu, como aconteceu em outros países na América Central, foi uma violenta guerra civil, com abusos atrozes de direitos humanos praticados, principalmente contra a maioria indígena, que se estendeu por vários anos até meados da década de 90.  A Guatemala possui até mesmo um prêmio Nobel da paz (o Brasil, apenas para comparação, ainda não possui nenhum nobel) conferido a Rigoberta Menchú, devido sua luta por direitos dos povos indígenas.

                Eu passei por diversas cidades interessantes como a cidade colonial de Antígua, o surreal lago de Atitlán, os maravilhosos lagos esmeraldas de Semuc Champey e a espetacular cidade antiga maia de Tikal, considerada por muitos historiadores o centro de poder maia entre o começo da era cristã até o final do primeiro milênio depois de cristo. Até um vulcão  ativo eu escalei, ficando a menos de 1 metro de um rio de lava numa das experiências mais diferentes da minha vida.

                O fato triste é que os meus dois amigos brigaram entre si durante a viagem, e nunca mais a amizade deles seria a mesma. É a vida, e por mais que eu tenha ficado chateado, não se tem qualquer controle sobre isso.

Soulsurfer admirando a beleza em Tikal. Sim, foram obras que dezenas de milhares de escravos trabalharam (poucas pessoas pensam nisso quando visitam esse tipo de lugar), mas apesar disso, não se pode negar que Tikal é uma cidade impressionante.

Algumas horas depois de uma caminhada para subir o vulcão Pacaya, eu simplesmente não acreditei quando vi esse rio de lava, e pude chegar tão perto. Sim, era perigosíssimo, qualquer estouro ali era morte, mas na hora nem pensei nisso. Jamais num país desenvolvido seria permitido chegar tão perto de um rio de lava. Bom, pelo menos voltei vivo, e a experiência foi única.

         Um lago com dois vulcões ao fundo. Paisagem alucinante, lago Atitlán.

  Os lagos de Semuc Champey. Você pode se banhar neles, e foi iradíssimo. Ainda fiz um passeio numa caverna no meio de um rio que foi também algo muito diferente. Tive que nadar, e para você ter uma ideia, entramos com uma vela na caverna, pois não tinha lanterna, e eu nadando e tentando não apagar o fogo.

                Guatemala, um país sofrido, um povo sofrido, com histórias de genocídios e massacres. Um povo, mesmo assim, que sorri, com um artesanato riquíssimo e colorido e com um passado glorioso. Sim, os Maias foram gloriosos, atingiram feitos na astronomia, nas ciências, na arquitetura que são realmente notáveis, se pensarmos que algumas cidades maias possuem mais de 2 mil anos. Veja, eu não idealizo os Maias ou povos indígenas. Pelo contrário. Há dois mil anos, havia sacrifícios coletivos, não havia direitos mínimos, e se você fosse de uma tribo conquistada pelos Maias o seu destino era a morte ou a escravidão. Era como a vida humana transcorria há séculos atrás, isso só demonstra como nós evoluímos em muitas questões como seres humanos. O declínio dos Maias, e eu já tinha visto isto no Camboja com a civilização Khmer, é um alerta para nós, de que a desgraça pode vir logo depois da glória, de que não somos poderosos para sempre, e que a falta de recursos naturais e seu uso desmedido(a razão mais provável para o declínio dos Maias) podem sim levar uma civilização ao colapso.

O filme possui erros históricos claros e  não deixa de ser um pouco forçado em algumas cenas. Entretanto, é um filme interessante, e mostra o declínio da civilização maia. Apocalypto, direção Mel Gibson.


BELIZE
  
             Imagine passar o ano novo gastando cinco dólares com a hospedagem, 1 dólar com  cerveja gelada e 8 dólares com  lagosta na brasa, isso tudo numa ilha pequena caribenha com mar cristalino, sentando para comer com o pé na água? Pois foi exatamente assim que eu passei o ano novo de 2010. Meus amigos, depois da Guatemala, voltaram para o Brasil, e eu segui viagem rumo a Belize, um país pequeno, na já pequena América Central.

                O que chama atenção em Belize é que a sua população majoritária é negra. Enquanto na maioria dos outros países da América Central a população é indígena ou mestiça, não há muitos negros, pois o grosso dos escravos africanos foi enviado para o Brasil pelos europeus. Além do mais, a língua lá falada é o inglês, ou similar ao inglês.  Eles falam “Broken” English, isso mesmo "inglês quebrado", eles não pronunciam todas as letras ou pulam vogais, etc. É muito difícil de entender, e nem os nativos de língua inglesa às vezes conseguem decifrar o que os belinezes falam.

                Minha passagem por Belize foi basicamente fazer snorkel, tomar cerveja, e andar descalço com o pé na areia numa ilha que fiquei alguns dias para o ano novo. Foi muito bacana, e com certeza repetiria a dose em alguma outra oportunidade. Quando eu já estava indo embora para o meu próximo destino, fiz amizades com três austríacos gente boa. Após conversamos um pouco, este foi o nosso diálogo:

Austríacos – Para onde você está indo amanhã?
Soulsurfer – El Salvador.
Austríacos – Vai fazer o que lá?
Soulsurfer – Vou surfar.
Austríacos – Saindo de onde estamos quanto tempo para chegar lá?
Soulsurfer – Não sei, mais de 30 horas pegando no mínimo uns seis ônibus diferentes.
Austríacos – Beleza. Vamos para El Salvador contigo
Soulsurfer – Vocês surfam?
Austríacos – Não, mas a gente aprende lá!

                Isso é estar vivo, isso é sair da rotina e se entregar ao que a vida pode oferecer, é aceitar o diferente e não temer o novo.  Podemos fazer isso diariamente, não precisamos estar viajando num país diferente para termos esse tipo de atitude. Depende única e exclusivamente da gente se levamos uma vida sem surpresas ou se escolhemos uma vida que leve a desafios, decepções, alegrias, amizades, brigas e tudo o que acontece normalmente quando humanos se relacionam. Quando desafiamos a nossa zona de conforto, quando nos permitimos avançarmos por lugares novos, idéias novas, percepções novas, a vida fica mais colorida e muito mais divertida.
               
                  Bom, depois de dezenas horas,  diversos transportes (especialmente “Chicken Bus” – falo sobre ele abaixo), pagamento de propina (na fronteira da Guatemala com Belize) pela minha cara “gringesca”, eu estava em El Salvador,  na região de La Libertad, e mal esperava para cair na água e pegar a minha primeira onda internacional!

                   É isso, Caye Caulker. Não tem muito o que falar, apenas aproveitar. 
                                          Barzinho pé na areia, coisa boa.
               Vá Devagar! Diminua o ritmo! É bom desacelerar de vez em quando.
Olha o visual do Snorkel, tartarugas gigantes.
Água cristalina, inúmeros peixes, sim é um tubarão ao fundo, já fiz snorkel algumas vezes com tubarão.
       Olha o Rango! E nem é caro, e você gastando 130 reais em algum restaurante no nordeste (nada contra o nordeste, pelo contrário já que o meu pai é nordestino, mas o Brasil tá caro demais para o serviço oferecido em troca). 

Esse é o famoso "Chicken Bus". São ônibus escolares americanos que foram importado por vários países da América Central e servem como meio de transporte local. Eles são coloridos, barulhentos e quase sempre entupidos de gente.


EL SALVADOR


                El Salvador, com a sua capital com o sugestivo nome de San Salvador, fez me lembrar que eu estava no Brasil, pois a semelhança com o nome da capital da Bahia não saía da minha cabeça. O gozado também é que quando estive lá  todo El-Salvadorenho quando sabia que eu era do Brasil fazia questão de  dizer que a primeira-dama era brasileira e todo mundo gostava dela.
             
               O país possui uma história similar com outros países da América Central. Os Maias não tiveram tanta presença em El Salvador, como na Guatemala, mas há alguns lugares históricos no país. A vida após a independência da Espanha foi marcada pelo domínio de uma elite sobre uma maioria empobrecida. Na segunda metade do século 20, devido a graves problemas econômicos, uma intensa guerra civil entre o governo e a  FMLN (Frente Farabundo Marti de Liberación Nacional) – uma guerrilha de orientação marxista – mergulhou o país no caos e na violência, com a morte de 75.000 pessoas e o desaparecimento de quase 40.000.  


                A guerra civil chegou a um fim na década de 90, mas uma guerra dessas sempre deixa cicatrizes. El Salvador é um país violentíssimo com 41,2 assassinatos a cada 100.000 habitantes, é o terceiro país mais violento do mundo (o Brasil é o 18ª com uma média de 25,2 assassinatos, o que é um número horroroso. O Japão, por exemplo, possui uma média de 0,3, enquanto a média mundial é de 6,2, ou seja o Brasil é quatro vezes mais violento que o resto do mundo).  O clima de tensão é evidente na capital do país. Apesar de ser violentíssimo, o país mais violento do mundo é Honduras com incríveis 90.4 assassinatos, seguido pela Venezuela com assustadores 53.7.  A situação realmente é caótica no nosso vizinho do norte, a inflação é apenas um dos graves problemas (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140410_homicidio_onu_mm.shtml) 
               
            Lembram da longa viagem de Belize para El Salvador, da minha ansiedade para ir surfar? Pois então. Quando eu cheguei à pousada na frente da praia, pela qual paguei apenas 7 dólares por noite, eu lembro até hoje que comi um hambúrguer com fritas, tomei umas cervejas, e parecia uma criança de tão faceiro que eu estava.  Depois de uma longa viagem, estava alimentado, levemente feliz pelo efeito do álcool, e no próximo dia ia pegar onda na frente da pousada, bah, era bom demais para ser verdade.  Eu estava indo dormir, faltava alguns passos até a minha cama gostosa (como uma cama fica boa depois de dois dias sem dormir direito), quando eu tropecei e torci o meu pé, e uma dor absurda começou. Eu apenas pensei “Fudeu.”

                                      Vixe! E agora? Quem poderá me defender?

Será que eu tinha quebrado alguma coisa? Continuo a viagem? Volto para o Brasil? Enquanto pensava isso meu pé ia inchando.  O dono da pousada achava que nada tinha quebrado, e me ofereceu carona (eu não tinha conseguido contactar o meu seguro-viagem) até o hospital mais próximo. Lá, eu tive a minha experiência com o SUS de EL Salvador. Imagina as pessoas simples do local olhando um gringo mancando dentro de um hospital de uma cidade nada turística. Seis ou sete horas depois, consegui fazer um Raio X, e o médico me disse que nada tinha quebrado, era ficar com o pé para cima e gelo 24 horas por dia. Perguntei: "Dr. Vou conseguir surfar em duas semanas"? Ele falou, "não sei vai depender da evolução". Voltei para pousada, depois de passar um certo sufoco na cidade, pois nunca tinha visto tantos olhos com intenções que eu interpretei como “Gringo, esse não é o seu lugar, está escurecendo, o que você está fazendo aqui?” direcionados a mim. Por fim, cheguei à pousada. A semana toda eu fiquei em companhia de um dos austríacos (que tinha raspado a cara no fundo de pedra tentando aprender a surfar, ele não podia pegar sol no ferimento) vendo filmes (vi muitos), lendo livros (li uns três), refletindo na vida, sofrendo um pouco vendo altas ondinhas quebrando, e principalmente pensando: “Caraca, Lula, foi dar abrigo ao Zelaya, agora eu estou preso aqui em El Salvador e não vou conseguir ir  para Nicarágua via Honduras. O que eu vou fazer?”

Não sei se lembram, mas Honduras viveu uma crise institucional alguns anos atrás, e o presidente deposto Zelaya se refugiou na embaixada brasileira em Honduras. O Brasil aplicou sanções em Honduras, uma delas foi começar a exigir visto de entrada de Hondurenhos no Brasil. Honduras, pelo princípio de relações internacionais da reciprocidade, começou a exigir visto de Brasileiros para entrar em Honduras, e eu que só queria passar pelo território de Honduras para chegar na Nicarágua, tinha agora que ter um visto. Um visto formal que deveria ser feito na embaixada de Honduras em El Salvador. Eu não sabia se eu conseguiria fazer o visto. Tive que ficar em San Salvador, a capital, por longos três dias (os austríacos seguiram viagem, pois eles não precisavam de visto). A capital de El Salvador é cheia de homens armados fazendo segurança, muros incrivelmente altos e uma quantidade absurda de Fast Food que nem nos EUA você encontra tanto. Por fim, consegui o bendito visto e iniciei mais uma jornada em direção a Nicarágua, passando por Honduras.

Foi outra viagem extremamente cansativa. Peguei inúmeros Chicken Bus de conexão em conexão. Ao final deu tudo certo, e enfim tinha chegado à bonita cidade de Léon na Nicarágua.

                   Meu cartão do SUS de El Salvador está guardado, vai que eu precise dele um dia....
                                                       Valeu Zelaya!
O nome Farabundo Marti é uma homenagem a um líder popular esquerdista da década de 20, morto por tropas governamentais, coordenadas  pelos  EUA. Seu nome virou símbolo da luta contra as condições injustas em que viviam a maioria da população. Seu nome seria homenageado pela guerrilha marxista FMLN.
Um filme de 1986 dirigido por Oliver Stone. Retrata o panorama de El Salvador em plena guerra civil.
         Direitas incríveis de El Salvador, algum dia irei voltar para surfá-las!

NICARÁGUA

Ah, Nicarágua! Saudade de suas esquerdas longas e perfeitas!  Como dizia, depois de uma longa viagem, e inúmeros trâmites de diversas fronteiras, estava na Nicarágua, na cidade revolucionária de Leon.

Existe uma espécie de Rio x São Paulo na Nicarágua, no caso entre as cidades de León e Granada. As duas são cidades coloniais bem bonitas. León sempre foi considerada o reduto das ideias progressistas, dos ideais revolucionários, sendo atualmente um grande centro sandinista (explicação abaixo). Granada, por seu turno, sempre foi associada com ideias mais conservadoras dentro da Nicarágua. Assim, foi interessante saber da existência de duas cidades com posições ideológicas distintas. Será que temos algo parecido no Brasil?

A história da Nicarágua, não há sítios Maias no País, nos últimos séculos é parecida com seus vizinhos do norte. Dominação colonial européia, independência, grave abismo social entre a maioria da população e a elite governante. Um fato um pouco diferente é que os EUA, no final do século XIX, intervieram diretamente no país, controlando suas ferrovias e banco central. Na década de 20 do século passado, revoltas populares questionaram a presença militar dos EUA, e um movimento de guerrilha, liderado por César Augusto Sandino conseguiu repelir as forças estrangeiras.Após a expulsão das tropas americanas,  Sandino resolveu abandonar o combate armado, mas um golpe de estado apoiado pelo EUA e liderado por Alberto Somoza Garcia, que ficaria 42 anos no poder, tomou o controle do país. Sandino, que iria virar um dos heróis nacionais nicaraguenses, foi assassinado logo após o golpe.

Somoza endureceu o combate a qualquer oposição. Isso fez com que houvesse a criação de um grupo guerrilheiro com orientação marxista, chamado Frente Sandinista de Libertação Nacional - FSLN- o que fez com que o país mergulhasse numa guerra civil sangrenta por muitas décadas. Os sandinistas conseguiram chegar no poder em meados da década de 70, mas o país estava arrasado e a economia em frangalhos. Além disso, a guerra continuava, pois havia grupos armados, conhecidos como Contras e apoiados pelos EUA, que agora combatiam os sandinistas no poder. Episódio muito conhecido é o caso de corrupção envolvendo altos funcionários da CIA, no qual os EUA secretamente forneceram armas ao Irã (sim ao Irã meus amigos, que na época já era inimigo dos EUA, devido ao incidente na embaixada americana de Teerã em 1979 - o recente filme ARGO retrata esse episódio, é um excelente filme - época também que o Iraque do simpático Sadam Hussein era aliado estratégico dos EUA na região), apesar de haver um embargos de armas, para financiar os Contras na Nicarágua. Eu vou repetir: Os EUA venderam armas secretamente para o Irã, inimigo, para financiar grupos guerrilheiros num país da América Central. Este caso é conhecido como IRÃ-CONTRAS (mais informações aqui : http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Ir%C3%A3-Contras).

Atualmente, a paz reina no país. Os índices de desenvolvimento humano e de renda são baixíssimos. A miséria é muito alta. Um Sandinista, Daniel Ortega, ocupa atualmente a presidência. Tive a oportunidade de conversar com um ex-guerrilheiro da FSLN quando estive em Léon. Foi uma conversa interessante, pois não é sempre que você tem a oportunidade de conversar com um ex-guerrilheiro marxista.   Veja, não sou adepto de guerrilhas, muito menos de guerrilhas marxistas, mas para mim é interessante  tentar compreender o desenvolvimento da história e os diversos lados que existem.

Depois de conhecer as duas aprazíveis cidades, era hora de tentar surfar. Já tinha se passado quase duas semanas desde o acidente com o meu pé. Eu já andava quase normalmente, mas não sabia se conseguiria surfar ou não. Fui conferir eu mesmo, e rumei para a praia de Popoyo localizada no sul da Nicarágua, perto da fronteira com a Costa Rica. A praia é afastada. Fica num pequeno vilarejo que é composto basicamente de uma rua. Não há nada. Pra chegar lá, eu desci de um Chicken Bus, pois o motorista tinha indicado, numa encruzilhada e comecei andar supostamente em direção à praia. O motorista tinha me dito que a praia era uns 5 minutos andando. Para minha sorte, parou um carro caindo aos pedaços com pacotes de pão praticamente até o teto e me ofereceu uma “táxi” até a praia, como ele pediu 1 dólar apenas, aceitei. Os cinco minutos andando do motorista eram na verdade 20 minutos de carro. Eu tinha a indicação de um surf hostel, e quando cheguei ao local apenas me perguntei: “O que eu estou fazendo aqui?”.

Não havia nada no local, tinha um vento muito forte (geralmente vento muito forte é muito ruim para o surf), o meu pé tinha começado a doer, pensei “é não foi uma boa todo esse esforço para chegar aqui”. José Saramago em sua infância era apaixonado pela beleza de uma catedral. Todos os dias ele passava em frente dela e se encantava com tão impressionante arquitetura. Um belo dia, ele por acaso deu a volta na catedral e viu que a construção estava completamente deteriorada na parte de trás, e percebeu que a administração da catedral apenas conservara a parte da frente do prédio. Saramago, eu ouvi essa história numa entrevista dele, disse que aquilo foi uma dura lição de que para se conhecer algo é preciso “dar a volta inteira”. Eu tinha visto, aliás minhas percepção tinha apenas apreendido, apenas a parte de trás de Popoyo. Quando eu “dei a volta inteira”, rapaz, como valeu a pena.

O Surf Hostel era bacana e barato (apenas 10 dólares). O vento que soprava sem parar era terral o dia inteiro (terral e um vento que sobra da terra para o mar, e é muito bom para as ondas, mas é muito raro, principalmente no Brasil, de acontecer. Um vento terral o dia inteiro é quase impossível no Brasil), pois Popoyo está bem à frente de um gigantesco lago, então os ventos vão do lago em direção ao Mar. Encontrei uma bela prancha para alugar. Fui correndo ver as ondas, e esquerdas longas quebravam. Minha primeira queda (termo de surfista para ir surfar) foi no meio-dia. O meu pé não doeu, fiquei muito feliz. Voltei a surfar no final de tarde. O mar tinha melhorado muito, um metro e meio de esquerdas perfeitas, o sol se pondo no oceano, numa explosão de cores. Voltei para a pousada, comi um prato de macarrão gigantesco. Fui passear na única rua, e quase não havia luz artificial, mas o céu, minha nossa, que céu estrelado era aquele. Tinha surfado, tinha comido um simples macarrão, bebido uma cerveja, visto um pôr-do-sol magnífico e um céu estrelado que talvez apenas o meu amigo poeta investidor encontre palavras adequadas para descrever. Que dia maravilhoso. Vou guardá-lo para sempre na minha memória. Como pouco dinheiro e coisas simples podem encher nossas mentes de felicidade e satisfação. Minha passagem por Popoyo, fiquei seis dias lá, se resumiu a isso: acordar as cinco da manhã, surfar oito horas por dia, comer, tomar cerveja, dormir as 8 da noite, acordar as cinco da manhã, surfar oito horas por dia...

Frente Sandinista de Libertação Nacional - FSLN. Hoje em dia se transformou num partido político e abandou a luta armada.
                    Pôr-do-Sol na charmosa cidade colonial de Granada.
Mais um dia difícil em Popoyo...
Quando Popoyo funciona, é uma das melhores esquerdas de toda América. Ainda quero ver quebrando assim...
Olha o tamanho do Popoyo Express! (estou longe de ter surf para encarar uma onda dessa)
Não são as ondas espetaculares, e assustadoras, das duas fotos acimas. Mas e daí? Soulsurfer em momento de felicidade nas esquerdas longas de popoyo....

Depois de passar esses dias memoráveis, era hora de continuar descendo o continente rumo à famosa Costa Rica. E lá fui eu de novo pegar diversos transportes, ficar três horas em pé na emigração da Nicarágua, e passar certo perrengue. Muitas horas depois eu tinha chegando a Tamarindo no norte da Costa Rica, louco para conhecer as famosas ondas da região. 

COSTA RICA

A Costa Rica é um país singular. Eu pensava que era o único país a não ter forças armadas (mas dei uma pesquisada e há vários países nessa situação http://www.blogdotony.net/81624 - não conferi se a fonte é boa ou não). Foi uma opção do pais há mais de sessenta anos de não gastar dinheiro com algo que evidentemente não traz qualquer retorno para o bem-estar da população. O país é considerado um dos mais pacifistas do mundo,  um dos países onde a população se sente mais feliz (http://exame.abril.com.br/mundo/album-de-fotos/os-50-paises-onde-as-pessoas-sao-mais-felizes-segundo-a-onu), e um dos países com a maior parte do seu território constituído de parques nacionais e áreas de proteção, o que tornou o país uma referência em turismo ecológico. Não é por menos que a Costa Rica é considerada a “Suíça das Américas” (sim os índices de IDH, expectativa de vida, etc são bem maiores do que o Brasil).

Portanto, a vida na Costa Rica não é ruim não. É um país com uma beleza natural espetacular, e índices sociais muitos razoáveis. O Slogan do país é “Pura Vida”, você diz oi, e os locais respondem “Pura Vida”. É um país diferente. Eu, infelizmente, não tive sorte. Cheguei numa semana flat (expressão no surf para dizer que não tem onda), e não consegui surfar nos dias que fiquei no país. Conheci uns brasileiros e viajei de carro com eles pelo país. Foi bacana, visitamos o famoso vulcão Arenal, parei num hotel termal muito bacana, e fiquei uns dias na bacana cidade fronteiriça de Puerto Viejo de Talamanca, já na parte caribenha do país. Lá está localizada uma das ondas mais perigosas do continente, a famosa “Salsa Braba”. Tem esse nome, pois a onda faz “Salsa” com os surfistas. Quando eu estive lá não tinha onda nenhuma. Paciência, eu também não iria surfar um lugar desses. Depois de uns dias aproveitando a beleza de algumas praias, resolvi rumar para o último país da viagem, mal sabia que minha vida ia mudar completamente em poucos dias.

Salsa Braba. Essa onda é pesada. A bancada de coral é muito rasa, aqui só pró surfa.
A mítica Roca Bruja (quem já viu o clássico filme de surf Endless Summer, sabe do que estou falando! Bah, como eu queria ter surfado esse lugar, mas não consegui. 
Sem ondas, o negócio foi ficar morgando nas praias lindíssimas da Costa Rica.
     É isso aí, Costa é Pura Vida! Lugar manerríssimo, para se voltar várias vezes.

PANAMÁ


O Panamá é um país conhecido pelo seu canal, uma obra de engenharia do começo do século XX que de certa forma ajudou a conectar o mundo, ao fazer com que navios pudessem atravessar do oceano atlântico para o oceano pacífico, e vice-versa.

A história do Panamá diverge da dos outros países da América Central. O Panamá na verdade fazia parte da Colômbia até o começo do século XX, e sua história está mais ligada com o continente da América do Sul, do que com a América Central. Tendo em vista a importância estratégica do canal do Panamá, os EUA sempre tiveram uma presença muito forte no país, com muitos militares no país, sendo que o canal do Panamá só passou ao controle do próprio Panamá em anos recentes. Durante todo século XX, os EUA controlaram o canal do Panamá.

É um país que avança social e economicamente, sendo o destino de muitos americanos aposentados, já que numa recente pesquisa o Panamá foi eleito um dos melhores países para aposentados viverem.


Minha primeira parada no Panamá foi na cidade-ilha de Bocas Del Toro. Lugar com praias lindíssimas, astral muito bacana e ondas alucinantes. Peguei ondas muito boas, sendo que o interessante é que você tem que ir obrigatoriamente de barco surfar, pois os lugares que tem onda são um pouco afastados da ilha principal.  Bocas Del Toro é um lugar ideal para se ir com a família ou com a mulher, pois a atmosfera do local é muito legal mesmo.

Depois de dias pegando altas ondas e aproveitando o local, eu estava comendo numa pizzaria quando troquei algumas palavras com uma brasileira. Foram poucos minutos apenas de conversa, mas a conversa foi interessante, pois é bem raro encontrar alguma brasileira viajando sozinha de mochileira, muito menos na América Central, bonita então, uma raridade. Se acrescentar que ela estava lá fazendo curso de mergulho, então a raridade aumenta ainda mais.  No outro dia, eu estava em outro restaurante comendo, quando essa mochileira gatinha brasileira se aproximou e começamos a conversar novamente. Era o último dia dela na ilha, eu ficaria ainda mais uns dias, e ela estava me dando algumas dicas sobre um lugar no Panamá que ela já tinha ido e era um dos meus próximos destinos. Papo vai, papo vem, eu pedi o e-mail dela (essa geração virtual atual!), e anotei num papel. Ela, por uma sorte do destino, também pediu o meu e-mail.

Despedi-me da mochileira gatinha, desejei boa viagem e continuei almoçando na companhia dos austríacos que tinha reencontrado no Panamá (um tinha quebrado a perna ao cair num bueiro em Manágua, capital da Nicarágua, e tinha voltado para Europa). Entretido pela conversa, terminei o almoço e comecei a caminhar pelas ruas de Bocas Del Toro. Alguns minutos depois eu percebi que tinha esquecido o papel com o e-mail anotado, voltei correndo para o restaurante, mas não consegui achar, cheguei mesmo a olhar na lata de lixo. Pensei, "que mierda"! Paciência.

No outro dia, eu estava checando meus e-mails numa lan house. Eu recebo muitos e-mails, mais de 50 por dia (recebo muito e-mail de uma lista de discussão que faço parte). Quem eu não conheço, ou se o assunto do tópico não me interessa, eu deleto sem olhar. Eu vi que entre os e-mails selecionados para deletar havia o nome de uma Mulher que eu não conhecia. "Deve ser Spam", vou detetar assim mesmo. Entretanto, alguma coisa me fez olhar o e-mail ao invés de deletá-lo sem olhar, e não é que era o e-mail da mochileira gatinha. Se eu tivesse deletado, muito provavelmente ela não teria escrito outro, e os nossos breves encontros, seriam isso, uma memória apagada num futuro não muito distante.

Como eu iria imaginar que a mochileira gatinha iria se transformar na Senhorita Soulsurfer algum tempo depois? Aliás, como eu iria imaginar que iria conhecer alguém tão especial numa viagem pela América Central? Quando eu estava machucado e sozinho em El Salvador, na capital San Salvador esperando pelo visto de Honduras, eu apenas pensavam : "que droga, o que eu estou fazendo aqui, queria estar no Brasil". Quase fiquei um pouco deprimido, e é difícil eu ficar deprimido. Como eu iria imaginar que algumas semanas depois eu iria encontrar uma companheira tão bacana? Como a vida é espetacular e misteriosa. Como é importante estarmos abertos para o novo, e não termos tanto medo. Essa viagem na América Central fortaleceu em mim essa importante lição da vida.



Ruazinha de Bocas Del Toro. Lugar maneríssimo, e para mim o local em que eu conheci minha companheira.
Esse é o nipe das ondas em Bocas Del Toro, alucinante! Peguei um pouco menor do que o tamanho dessa foto, mas foi uma das ondas mais fortes e perfeitas que peguei  na vida(no dia devia estar uns seis pés tubulares)


Depois de Bocas Del Toro, passei pela capital Panama City, uma cidade bem interessante, e com muitas partes bem modernas e um centro histórico bem conservado. Geralmente as capitais dos países da América Central não são muito bonitas, poia são extremamente caóticas e de certa maneira violentas. Não possuem grande atração turística, mas a capital do Panamá não, talvez seja a capital mais interessante entre os países da América Central. 

Da capital eu fui em direção ao arquipélago de San Blás, o que viria a ser um dos pontos altos de uma viagem que já possuía diversos pontos altos. Este arquipélago é uma região autônoma dentro do Panamá, é administrado pelos índios Kunas. A região possui centenas de ilhas pequenas, rodeadas por um mar paradisíaco, e você pode se hospedar numa dessas ilhas pequenas. O lugar é mágico. Principalmente para ir com sua namorada, mulher ou companheira. Ficar com uma ilha quase que exclusivamente só para você, comer frutos do mar, e ver o dia passar sem muita preocupação, e pagando barato por isso, é algo muito bacana. Eu ainda dei sorte, pois teve um incêndio na ilha em que fiquei, e como eu ajudei a controlá-lo, o índio que administrava a ilha liberou as minhas diárias, ou seja, fiquei comendo e hospedado de graça!




Para ir de ilha em ilha só com barco. Minha fiel companheira: minha mochila que já me acompanhou em dezenas de países.

Minha suíte presidencial. Olha que bacana o visual do local.
O heróico Soulsurfer teve que ajudar a combater o fogo!
Quem precisa de luxo e conforto num lugar desses? Eu não.

Difícil a vida num lugar como estes (a foto não foi tirada por mim, mas posso atestar que o lugar é tão bonito quanto parece).

América Central. Um lugar relativamente pequeno, com países pequenos, mas meu amigo quanta coisa para se ver, fazer e refletir! Vulcões, rios de lava, guerrilheiros, ruínas maias, praias lindíssimas, ondas espetaculares, cultura, história, é muita coisa diferente. Essa viagem para mim foi sim uma verdadeira epopéia. Presenciei amigos brigando, conheci pessoas interessantes, machuquei-me, fui pego pela burocracia, tiver que sair correndo com balde de água para apagar um fogo, vi miséria e desesperança, vi força e garra para melhorar a vida tão sofrida, e principalmente encontrei uma mulher especial que seria a minha companheira por muitas viagens ainda.

Se você acompanhou esse longo post, agradeço. Espero que tenha gostado, e que tenha instigado alguém a ir comprar uma mochila e se jogar nesse mundo, ninguém sabe o que nos espera numa viagem como essas.

Grande abraço a todos!

36 comentários:

  1. Sensacional, mestre. Pode divulgar o investimento financeiro para um retorno tão excepcional? Pensar que a vida de acumulação faz com que o indivíduo esqueça a importância dessas maravilhas... Escreva algo sobre isto: a escravização do indivíduo em busca da libertação. É paradoxal.

    Abraços.

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    1. Amigo, mestre não né!
      Olha, se você for sozinho, e quiser viajar uns 30 dias, eu chuto que você gastaria, se comprar a passagem barato (às vezes a promoções para américa central por apenas 400 dólares), creio que com 2.000,00 dólares você faz uma baita viagem lá, talvez até menos. Se pular a Costa Rica, o resto dos países é barato, para gastar uns 40 dólares por dia no máximo.
      Não é caro viajar mochilando não, principalmente para países não tão "famosos", mas que possuem inúmeras belezas.

      Sim, temos que encontrar um equilíbrio na busca da independência financeira, com certeza. Vou pensar em escrever algo a respeito.

      Grande abraço!

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  2. Caraca, tipo assim: antes de comprar um FII visite o blog do soul, antes de viajar visite o blog do soul, rs.
    Um dia preciso parar de viajar só pelo google maps.

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    1. na verdade quis dizer google street view, rs.

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    2. Grande UB!
      Valeu amigo! Não sei se eu sou bom em dicas de viagem, meu maior conselho é viaja, de forma independente de preferência. O mundo é um lugar muito complexo, diferente, bonito, feio, e presenciar tudo isso ao vivo é realmente uma experiência gratificante.
      Quanto aos FII, estou devagar, aportes regulares apenas nos últimos dois meses. Será que esse mar de notícias negativas não vai fazer nossos queridos FII caírem não? Na torcida aqui para comprar novamente HGLG a menos de 1.000,00, XPCM a menos de 80,00, SDIL a 80,00......

      Abraço!

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    3. Meu filho nasce daqui dois meses e devo ficar um tempo de molho, depois pretendo fazer viagens em que ele possa ir, vou deixar algumas viagens pra fazer só com a esposa quando ele já estiver achando que viajar com pais é pagar mico, kkk.

      Sobre os FIIs, já já volta a cair, vai guardando o dim dim aí na poupança, rs.

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    4. Pois é, vai ser papai né!
      Fico feliz por você, UB!
      Deve estar ansioso, não?
      Olha, eu acho que aproveitar os momentos com um filho deve ser algo transcendental que eu nem consigo entender. Ah, aproveita enquanto ele ainda pensar que você é o Warren Buffet mesmo, o ídolo dele! hehe

      Abraço!

      obs: esperamos, estou aguardando, os soldados estão todos na RF apenas esperando....

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  3. Fantástico Soul!! Acho que não tem quem não leia esse post e não fique com vontade de embarcar para algum país (ou para todos) da América Central!!
    Eu estou num dilema, terminarei o doutorado mês que vem (adiei um mês), mas terei que emendar direto o início do pós-doc pois existe certa pressa para implementarem a bolsa. Eu no momento, tenho grana, saúde, muita vontade, mas estou sem disponibilidade de tempo para viajar. Eu planejava viajar bastante depois de quatro anos ralando no doutorado, mas essa bolsa acabou sendo uma boa e má notícia. Boa pois é o encaminhamento da minha carreira acadêmica com uma boa oportunidade, mas ruim pois não me permitirá fazer as grandes viagens que eu estava planejando. Recusar a bolsa seria uma decisão que teria grandes chances de ser interpretado bem negativamento no meu network e diminuir minhas chances futuras. Não é fácil. Mas pelo menos tenho a viagem para a incrível Austrália para me consolar em julho. Não será a viagem de alguns meses que eu tanto ansiava mas o destino é o primeiro destino da minha lista de países que quero visitar.
    Seu posts estão excelentes Soul!! Você tem uma grande capacidade de prover conteúdo de qualidade!! Acho que um dia, poderia só viver disso se quisesse. Tu conhece os podcasts do Joe Rogan?? Se não, recomendo. São muito interessantes!!
    Grande abraço e um ótimo final de semana!!
    Green Future

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    1. Green,
      Precisamos achar o equilíbrio na nossa vida.
      Não precisamos ser o Sr. Frugal, mas também não precisamos ser o Sr. "Dono da Balada".
      Cada um deve encontrar o seu próprio equilíbrio. Quem sou eu para saber o que é melhor para uma pessoa. O que eu procuro estimular, a quem possa interessar, é sempre questionar os seguintes pontos: "Estou satisfeito?", "O que eu estou fazendo está me levando para onde eu gostaria de estar?", etc.
      Você é um cara que parece fazer isso, portanto só você poderá dizer o que fazer e quando fazer.
      O que digo que dinheiro é importante, bem como a nossa carreira. Entretanto, a nossa grande riqueza, principalmente enquanto somos jovens, é o tempo. Já já eu chego aos 40 anos, e parece ontem que eu tinha 12 anos.

      Há diversas maneiras de aproveitarmos a vida, viajar é apenas uma delas. Faça um bom trabalho, seja um bom ser humano, tenha muitos amigos bacanas, e sua vida já será bacana (claro, se adicionar uma viagem de uns 3-4 meses pela Austrália, Nova Zelândia e Polinésia Francesa dá uma melhorada! hehehe).

      Abraço!

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    2. Muito obrigado pelas reflexões Soul, me deixaste pensando. Ultimamente não ando feliz com o meu limitado dia-a-dia. Mas acho que é normal, na reta final de uma etapa como um doutorado acho que não tem quem não fique estressado e um pouco inquieto. Pensando no que disse, acho que o descontentamento com a minha rotina atual que tem me feito pensar tanto nessas longas viagens, mas talvez o que eu mais devesse me esforçar era para deixar o meu dia-a-dia mais alegre.
      Meus melhores amigos estão morando em outros estados e atualmente não tenho nenhum grande amigo na minha convivência semanal. O relacionamento com a namorada está numa fase meio turbulenta e isso tem me tirado dos eixos também.
      Obrigado pelas palavras e pelas dicas, deixaste mais claro o caminho a ser perseguido!!
      Grande abraço meu amigo!!
      Green Future

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    3. Dae Green!
      Claro, com certeza. Devemos nos esforçar para que o nosso quotidiano seja melhor, independente se estamos satisfeitos ou não. Isso é estar desperto no presente, e não se deixar enganar na armadilha de viver o futuro.
      Períodos bons e ruins sempre vão existir na nossa vida, para obtermos muitas coisas significativas precisamos nos esforçar (quantos anos de estudo até você chegar a ser um doutor)?
      Se você realmente gosta do que faz, então tente levar com leveza e aproveite as chances.
      Se você não gosta, aí sim você pode perguntar para qual caminho a sua vida está indo e se você está gostando ou não.

      Obrigado pela indicação de podcast, vou dar uma olhada mais tarde.

      Abraço!

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  4. Que relato bacana.
    Já pensou em tornar isto uma segunda atividade ? Viajando, fotogradando e contando histórias sobre os lugares ?

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    1. Obrigado, colega!
      Hum, nunca na verdade. Já tem bastante gente boa fazendo isso.
      Eu nem sou de tirar muitas fotos, a senhorita Soulsurfer às vezes fica "fula" com isso.
      Obrigado pela visita, colega!

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  5. Soul tá na hora de vc usar finasterida véio

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    1. ahahahhaha
      Boa!
      Pô, isso foi há 4 anos, a situação piorou colega!
      Ah, fazer o que, aceitar a carequisse!
      Aliás, melhor ficar sem cabelo, do que o amigão lá de baixo decepcionar não é não? :)

      Abraço!

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  6. SoulSurfer Parabéns pelo brilhante relato. Você é possuidor de cultura, bagagem de vidae um dom de escrever que em poucos eu vi. Seu blog é de uma clareza e engrandecimento nos posts de finanças e de uma leveza ímpar nesses posts de passeios. Certamente teria muito sucesso escrevendo histórias romanciadas.

    Um abraço do seu amigo.

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    1. Obrigado pelas gentis palavras!
      Não se esqueça que você foi um dos idealizadores que eu tivesse o meu blog.
      Agradeço enormemente você por isso! Está sendo muito interessante. Escrever para o Blog "obrigou-me" a (re)estudar os FII, o que foi muito importante para mim. Recentemente, me fez mergulhar um pouco nos REITs, o que apenas fez a minha segurança na minha estratégia ficar mais firme.
      E agora ainda estou lembrando e documentando minhas viagens.
      Se eu não gostasse, com certeza não perderia precioso tempo bolando esses artigos.

      Valeu amigo!!

      obs: como eu gosto muito de geopolítica, eu já pensei em fazer jornalismo, e ser alguma espécie de correspondente internacional. Mas a ideia já passou.

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  7. Soul sem querer ser invasivo mas qual sua formação universitária?

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  8. Soul você que é bem viajado ao falar de el Salvador falou que lhe lembrava salvador na Bahia. Tive recente e péssima experiência na capital baiana. Lugar feio, sujo. A tal da cidade baixa eh uma favela do começo ao fim e ao estacionar na igreja do bomfim fui cercado por ambulantes e me senti coagido a cimprar e caro aquelas m. Que eles lá vendem. Não volto nunca mais.

    Mudando de assunto o chato do troll postou uma pergunta proce no blog do uo, mas nem responda porque é pra ti dar uma zuada.

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    1. Opa, lembrei da Bahia apenas pelo nome da capital do país, não por uma comparação entre os lugares.
      Olha, eu também não gostei tanto assim de Salvador. Entretanto, a praia do forte mais ao norte é bem legal. Na Bahia eu gostei muito mesmo de Morro São Paulo (foi muito bacana minha experiência lá) e da Chapada Diamantina (muito legal também).

      Não tem problema colega, este é o lugar para debatermos ideias. Algumas provocações podem ser positivas, tanto que há um programa na cultura chamado "Provocações" que eu adoro.

      Abraço!

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    2. só entre nós, mas salvador é feio, sujo e cheio de espertinhos.

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    3. É, nossas grandes cidades possuem os seus problemas. Entretanto, podemos tentar aproveitar o que elas oferecem.

      Abraço!

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  9. Estava lendo e lembrando de um grande dia na minha humilde Ilha Grande-RJ e....hahahahha abri um sorrisão ao ser citado. Acho que você iria gostar de algumas coisas que escrevo sobre lugares e paisagens especiais. Sempre que eu conheço um lugar de extrema beleza, faço questão de escrever algo sobre. Nem que seja uma frase.
    Apesar de ter coisas impossíveis de traduzir em palavras.

    Tenho muita vontade de fazer uma viagem dessas pela América do Sul(só pra começar as viagens desse tipo), digo sempre que me falta tempo. Mas na verdade me falta companhia. Aproveito muito mais a viagem compartilhando a experiência com quem também gosta dessa sensação de liberdade e contemplação dessa beleza toda. Você fez essa excepcional viagem sozinho? O que te motiva? Algum conselho para eu "sair dessa" e ir sozinho mesmo?

    Cara, só de ver essas imagens...Que vontade de viajar e tirar fotos cerebrais dessas pinturas.

    Aaaah, essa última foto do Panamá...Apesar de não saber surfar, gosto muito desses paraísos.

    A cada post admiro mais seu conhecimento sobre o mundo. E eu sei quão trabalhoso, demorado e prazeroso isso é. Por isso tenho que citar aqui. Bem bacana, surfer. Tu é um grande cara!

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  10. Olá, Poeta!
    Suas palavras muito me lisonjeiam!
    Sim, muitas coisas não podem ser descritas em palavras, e achei ótima a sua fotografia "cerebral". Eu acho que as pessoas estão tão aceleradas, o acesso a câmeras digitais tão fácil, que hoje num lugar turístico as pessoas ficam alucinadas tirando um zilhão de fotos e deixam de aproveitar o momento de estar naquele lugar. Como falta equilíbrio, tirar foto é excelente, mas se tirar 100 fotos de um mesmo lugar toda vez, perde um pouco sentido da beleza e unicidade de uma foto.

    Olha, Poeta. Essa viagem em específico comecei com dois amigos, depois viajei sozinho, e ao longo do caminho fui conhecendo e encontrando pessoas e ora viajando sozinho, ora viajando com companhia. Não se preocupe, pois se você for viajar para América do Sul, o que mais você vai encontrar, se ficar em albergues, são pessoas querendo compartilhar os cenários de beleza. Ficamos com receio de dar o primeiro passo quando estamos sozinho. É um medo, apesar de graus menores de intensidade, igual a largar um emprego que não se gosta, um relacionamento que não deu certo, etc. Vou morrer de fome? Vou morrer sozinho e sem ficar com mais ninguém? Evidentemente não, mas o nosso cérebro fica com medo, e às vezes não tomamos certas atitudes. Veja, não digo que seja o seu caso, e nem que em alguma medida não possuo esses medos (claro que sim já que sou humano como qualquer outro). Entretanto, creio que devemos enfrentar esse medo, e deixar aquela sensação de frio na barriga existir mais em nossas vidas. Sempre quando tenho medo, mas deixo essa sensação de frio na barriga fazer parte da minha vida, os resultados sempre foram muito bons.
    Olha, minha motivação, difícil dizer. Eu gosto de ver o mundo, as pessoas, ouvir idiomas diferentes, observar como pessoas diferentes levam vidas diferentes, mas mesmo assim são muito parecidas comigo.
    É isso, amigo.

    Grande abraço!

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  11. E eu, a alguns dias atrás, estava pensando num lugar bacana pra ir com a familia, com muita praia, sol e tranquilidade, e vc vem com esse post... Que beleza Soul..... sabe que compartilho muito desse interesse por "gente", como vivem, sua história..... esse interesse facilita bastante pra quem viaja sozinho, pois naturalmente você se aproximará dos nativos com um desejo genuino de aprendizagem..... parabéns pelo texto amigo

    Marley

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    1. Obrigado, Marley!
      Espero que encontre um belo destino para ir com a sua família. Na América Central, se tiver filhos pequenos recomendo Panamá e Costa Rica.

      Abraço!

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  12. Boa Soul!

    Ei deixa eu te perguntar, como que é a "crowd" nesses picos da américa central? Surfei dos 15 aos 19 da minha vida, mas ai fui me distanciando da praia, hoje moro em Brasília ai já viu. Minha 5'10 também já não aguenta mais o gordo aqui. Vendo seu relato me deus saudades de furar aquela onda de olhos abertos, de sentar no outside, aquele olhar franzido esperando a série, o drop, a vaca... E os tamanhos das ondas? Da pra um ex-surfista voltar a brincar? Até 1,5mt no máx máx máx acho que ainda encaro rsrsrs.

    Drink coke!

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    1. Olá Dono da Coca!
      Olha, varia de lugar para lugar, mas as épocas de ondas perfeitas sem ninguém estão acabando rapidamente (a não ser que você tenha um barco e fique viajando por conta própria pelo pacífico sul:).
      É isso amigo, se está com saudade, é hora de voltar. Quer coisa melhor? Você trabalha a sua mente, o seu corpo, e por que não dizer a sua "Alma".
      Claro que dá! Também não surfo mar muito maior não, 1 metro e meio é perfeito para se divertir.
      Pô, espero sinceramente que volte, vai ver o bem que vai te fazer.

      obs: e que conselho é esse beber coca? hehe

      Abraço!

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  13. É não tenho dúvida que irá me fazer bem, como vc disse tanto pro corpo quanto pra alma. Quem sabe nas próximas férias não programo uma ida a praia, sacar uns dividendos e comprar uma 6'4 pelo menos.

    Drink coke!

    ps. Quanto ao conselho, não precisa necessariamente ser coca, poder ser matte leão ou del valle que é tudo do papai aqui.

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    1. Uma 6´4 acho que ia ser banaca. Tem que ver o seu peso e a sua altura, se fosse você pegaria uma com bastante borda e bom volume, facilita na remada e para entrar nas ondas, já que está destreinado.

      Ah, trabalha com esses produtos? Entendi, vou de matte leão, não sou muito de refrigerante não.

      Abraço!

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  14. Soulsurfer, animal seus relatos! Escreve com prazer e com um fôlego de impressionar. Bom, se vc viu alguns dos meus relatos, eu escrevo menos, parte pelo estilo e também porque fiz os relatos durante a viagem, e ficava naquela corda bamba: curtir mais ou ficar mais no computer. E pior: tinha que trabalhar também! Então chegava uma hora que não queria mais ver computador com todo aquele mundo diferente lá fora hehe

    Vc curte também um pouco de filosofia de viagens. Não sei se reparou no meu blog que tem um menu "Filosofia" que escrevia durante a viagem da Ásia. São relatos curtos, mas com uns pensamentos que considero interessante.

    Novamente, parabéns pelo blog. Me inscrevi nos seus posts e vou aos poucos, vendo os anteriores. Grande abraço!

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    1. André, obrigado pela visita!
      Ainda não pude explorar o seu site, pois fiz uma operação e estava meio corrido por aqui.
      Já tinha reparado que você tinha ido para a Ásia, inclusive Filipinas (que é um país que pouco brasileiro vai, mas é lindíssimo, as praias mais lindas que já vi se encontram na ilha de Palawan).

      Claro, breves relatos durante as viagens são os mais recomendados.

      Obrigado pelo comentário!

      Abração!

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  15. No meu ver existem 5 coisas importantes em uma viagem (não na ordem de importância) : Conhecer as belezas naturais (sem houverem), a arquitetura, cultura, gastronomia do lugar e conversar com as pessoas. Na Nicarágua você teve um "plus": Conversou com um ex-guerrilheiro! Imagino que deve ter sido uma experiência diferente pois ele é uma pessoa que não se encaixa no padrão comum da população. D +!

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    1. Olá, Carlos!
      Essa viagem foi bem bacana, mas o mais importante foi que conheci minha companheira:)

      Abraço!

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