quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O BRASIL ACABOU

O Brasil acabou. Porém, como um país chega ao seu fim? “Soul, aquele informe da Empiricus usou apenas táticas de marketing, é evidente que o Brasil não acabou e nem pode acabar”. É verdade. É banal, mas títulos chamativos, pasmem queridos leitores, chamam a atenção das pessoas. É difícil resistir. Está em nossos cérebros, e há muito tempo quem lida com neurociência, ou simplesmente trabalha com métodos de persuasão, sabe disso.

  Porém, apenas por um exercício teórico, como um país acaba? Lá pelo século XIV havia  no sudeste asiático um reino chamado Cham. Épicas batalhas aconteceram entre os Chams e os Khmers nos séculos XI e XII. O reino Cham localizava-se na parte do sul do atual Vietnã. Podem procurar no mapa, colegas, vocês não encontrarão nenhum país chamado Cham. Eu, entretanto, encontrei vários Chams na minha viagem, fiquei inclusive numa cidade chamada Kompang Cham no Camboja. Essa etnia foi trucidada no regime do Khmer Vermelho (mais a respeito no artigo  O Horror, O Horror). Hoje em dia, os Chams são um povo que perderam o seu país e nunca mais terão um. Pode-se dizer, apesar da concepção de país ser mais moderna e remontar há poucos séculos, que um país efetivamente acabou.

  Com certeza muitos outros exemplos existem na história de “países" (entre aspas, pois frise-se que isso é uma concepção moderna) que simplesmente acabaram. E o Brasil, pode  vir a acabar? Os Brasileiros terem um destino como os Chams tiveram parece quase impossível. Teríamos que imaginar um cenário de invasão e expulsão de 200 milhões de pessoas do território. Não há nenhum precedente na história moderna do mundo de algo dessa magnitude.

  O que poderia ser então? Uma piora absurda no nível de vida da população? É um cenário improvável, mas muito mais factível do que o deslocamento ou chacina de 200 milhões de seres humanos. Entretanto, pioras muito grandes do nível de vida da população geralmente estão associadas com guerras, principalmente quando um conflito se transforma  numa terrível guerra civil. Num ambiente de uma guerra civil, fica difícil não imaginar uma deterioração completa do nível de vida. Exemplos atuais? Somália, Síria, Líbia e Iraque. 

  Não vejo , num cenário realista, o Brasil entrando numa violenta guerra civil, até porque os  brasileiros são muito parecidos no jeito e na cultura. Geralmente, para um conflito social se transformar num conflito armado de grande envergadura, motivos religiosos e étnicos estão quase sempre associados. O Brasil, felizmente, não sofre disso. Aliás, essa é uma das coisas ótimas de nosso país, por  mais que muitas pessoas  não consigam observar aspectos positivos em nossa nação. Olhar mais o mundo e  a complexidade das diversas relações que nele se desenrolam é a única forma de formarmos uma visão mais sóbria do nosso próprio país.

   O que seria então “o fim do Brasil”? É a impossibilidade do governo pagar as suas dívidas? É uma inflação alta? Obviamente, isso em nada está relacionado com a existência ou não de nosso país.

  Sabem o que é mais provável de acontecer, prezados leitores, com o nosso país? As previsões demográficas estarem certas e o Brasil  chegar a 250 milhões de habitantes em 2040-45. Não, não haverá uma diáspora de brasileiros pelo mundo, muito provavelmente 99% dos brasileiros permanecerão no Brasil nas próximas décadas. Esses 50 milhões a mais de brasileiros gostarão de ter um lugar para morar. O litoral brasileiro ainda, como sempre foi,  atrairá a maior parte dos brasileiros. Como terrenos não costumam se multiplicar, a escassez de terrenos litorâneos em cidades estabelecidas será cada vez maior.

  Ao que tudo consta, esses 250 milhões de brasileiros ainda comerão. Logo, toda a cadeia produtiva ligada à alimentação desse contigente de pessoas muito provavelmente ainda existirá. É provável também que mulheres, assim como homens, tenham a intenção de casar e estabelecer uma nova vida num novo imóvel. Parece-me, portanto, que as pessoas ainda vão procurar imóveis para se estabelecer, seja para alugar, seja para comprar.


 Ou seja, a vida irá se desenvolver no país. Centenas de milhões de pessoas ainda terão sonhos, medos, desejos, etc. Logo, sobre essa perspectiva, o  Brasil não irá acabar nem do ponto de vista econômico.

  “Mas e a economia, e o governo, e o descontrole dos gastos da previdência como você escreveu no seu último artigo, Soul”, alguém pode estar pensando. Nietzche tem uma citação que é ótima.  Não lembro de cabeça, mas a ideia é  mais ou menos a seguinte “entre o ódio extremo e a felicidade extrema há centenas de estados emocionais no meio e geralmente a maioria dos seres humanos se encontram nesses estados intermediários”. Poucas pessoas conseguem perceber isso e se dar conta da profundidade dessa ideia.


  Você sempre está muito feliz, colega, ou muito irritado? Provavelmente, nem um, nem outro. Estamos quase sempre mornos. Entretanto, quando se trata de opiniões, previsões sobre o futuro, as pessoas são atraídas pelos extremos. Esse tema já foi abordado muitas vezes aqui no blog sobre as mais variadas perspectivas.  Alie-se a isso a visão de curto prazo, que é importante mas obviamente não a única, e pronto a receita para mentes atormentadas e desorientadas está pronta.

  As pessoas, em sua maioria, não guiam o debate, mas são guiadas por opiniões alheias. Quanto mais se consome  informação ou notícias, mas o pensamento independente e crítico vai se esvaindo. O gozado é que muitas pessoas acham o contrário. Elas realmente acreditam que a sua visão de mundo está melhorando com o consumo de notícias.  O que não percebem é que muitas vezes apenas se tornam auto-falantes involuntários de ideias alheias que talvez nem compreendam corretamente. Veja o caso do calote da dívida pública federal.

  No espaço de alguns dias, o tema veio à tona em vários artigos. Estou lendo um belo livro chamado  “The Tipping Point”, onde o autor tenta responder a intrigante questão de como certas ideias parecem “viralizar" e outras não, ou como alguns acontecimentos podem ter desdobramentos imprevisíveis.  É muito interessante. Estou na parte onde ele aborda a teoria do “Broken Windows” em matéria de crimes, e a ideia central é muito perspicaz. Assim, é interessante acompanhar como temas vão “viralizando" de semana em semana.

  De uma hora para a outra, percebeu-se que o Governo Federal pode não pagar a sua dívida, ou dar um calote branco via inflação (tema já tratado no blog no artigo reflexões sobre a taxa de juros reais e o mercado imobiliário argentino). Ninguém se pergunta num  mundo onde os juros reais são negativos em muitos países desenvolvidos, e muito baixos em países com renda per capta parecida com a nossa (a Tailândia , por exemplo, paga algo em torno de 2.5% aa em seus títulos de 10 anos), se um título do governo pagando inflação + 7,5% aa não é um indicativo de possibilidade de default. Leigos não pensarem assim é normal, especialistas é impressionante.

  Ora, como um país pode pagar juros reais tão grandes num mundo de juros reais muito baixos ou negativos e isso não ser um indicativo de uma probabilidade de calote? Ora, não faz sentido. Entretanto, o Brasil paga esses juros há muito tempo, apenas na última semana as pessoas se deram conta de que o Governo Federal pode vir a não pagar os seus compromissos?

   Interessante que muitos dos textos simplesmente “esquecem” as reservas internacionais e o conceito de dívida líquida. Muito debate se travou qual seria a métrica adequada, se a dívida bruta ou líquida para medir a solvência de uma nação. A Dívida Bruta em proporção do PIB parece ser o dado mais acurado para se mostrar a situação fiscal de um determinado país. Agora, ignorar o conceito de dívida líquida não faz sentido. Ora, um calote é a possibilidade de um governo não honrar os seus compromissos, depois de vendidos os seus ativos, assim como é o conceito de default em títulos privados. Se a situação de crescimento da dívida bruta assusta, se a dinâmica de gastos do governo parece de difícil resolução, isso não autoriza que simplesmente se esqueça que há quase 400 bilhões de dólares em reservas internacionais, se estamos pensando única e exclusivamente em calote da dívida. O Limite Prudencial de reservas aconselhado pelo próprio FMI é de seis meses de importações. O Brasil possui muito mais do que isso em reservas. Assim, não se faz política fiscal com reservas e seria um erro o governo usar reservas para fazer empréstimos, como alguns economistas do PT sugeriram, por exemplo. Agora, ignorar reservas para fins de default, não faz sentido.

   É por isso que  minha jornada de auto-conhecimento financeiro teve valia. Meus investimentos puramente financeiros tiveram retornos fracos até agora, mas o processo de conhecimento terá impacto em toda a minha vida. Posso estar certo, posso estar errado ou posso estar redondamente enganado em minhas premissas, mas o fato é que serão premissas inteligíveis para  mim. Num mundo onde os acontecimentos são cada vez mais rápidos, onde  cada vez mais meios de comunicação tentam chamar a sua atenção com títulos chamativos, mas muitas vezes vazios, é imprescindível que você tenha a capacidade de fazer a sua própria reflexão.

  Sem isso,  numa semana é calote. Na outra semana, é a imprestabilidade dos Fundos Imobiliários e por via de consequência dos imóveis. No outro mês é o Dólar indo a R$7,00 em alguns meses. Na outra, é a recuperação do Bovespa. A chance de atingir os objetivos financeiros vai diminuindo, e o que é pior, a pessoa vai ficando estressada, preocupada, vendo a sua vida  se esvaindo sem perceber.  

  Creio que faz mais sentido se a pessoa se preparar para o futuro tendo essas premissas como mais prováveis: a) O Brasil irá existir daqui 35 anos; b) as pessoas ainda existirão, provavelmente 50 milhões de pessoas a  mais; c) Essas pessoas irão ainda casar, procurar locais para morar, alimentar-se e muito provavelmente procurar lazer (seja lá como for o lazer daqui 35 anos); d) é provável que empresas ainda vão fornecer os serviços e produtos demandados; e) governos costumam se alternar no poder; f) O Gap entre produtividade e renda per capta entre países muito produtivos e pouco produtivos tende a diminuir no longo prazo, não a aumentar, ainda mais num  mundo globalizado; g) Como a economia cresce por :Aumento Populacional + Aumento Produtividade, o que acha que vai acontecer em países com estabilidade ou declínio demográfico e alta produtividade em termos de crescimento? Com certeza não serão esses países que proporcionarão retornos reais razoáveis no longo prazo, e nem precisam, pois a vida já é boa nesses países, e eles devem focar cada vez mais em qualidade de vida da suas populações.

     
  Não concordam com as minhas premissas? Ótimo, esse é o caminho para evolução. Reflitam por si só, colegas. Essa é a nossa maior ferramenta para viver num mundo cada vez mais agitado como o nosso. Agora, se acredita em calote,  não compre títulos com duração longa do tesouro (NTN-B35, por exemplo). Se acha que o governo é um mal em si mesmo, e sustenta parasitas, não compre títulos do governo, pois você se transformará  num parasita. Se não acredita no índice oficial de inflação, não compre títulos indexados ao IPCA. Se acredita que os imóveis tendem a ter uma desvalorização crescente, não compre FII e Imóveis. Se acham que o câmbio real continuará a se desvalorizar (se não sabe nem ao menos o conceito de câmbio real, então está na hora de ler mais antes de achar o que pode acontecer com o dólar em relação ao real no médio prazo) continuamente, compre dólar ou alguma outra moeda forte. Se você não tem certeza  de nada disso, compre um pouco de cada e vá ler Doistoiéviski, Kafka, Shakespeare, Carl Sagan, Machado de Assis, Sobre Ciência, etc. O seu conhecimento de mundo  agradece.


Grande Abraço a todos!

obs: sim, o  título do texto foi chamativo, feito única e exclusivamente para chamar a sua atenção. Porém, espero que  com sua atenção, o texto possa ter sido de alguma  valia. 

39 comentários:

  1. Exatamente o que precisava ouvir, vlw

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  2. Até tu com clickbait, Soul?

    Bom post, abs!

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  3. Excelente texto Soul, e veio em boa hora ... Como citado, vivemos em estados intermediários, e passei de uma euforia, entusiasmo, alegria de estar poupando e ver o capital crescer, para um estado de desânimo pelo desaquecimento da economia e sobre o que estou fazendo com a minha vida, financeiramente falando, por mudanças ocorridas em meu trabalho.

    Acredito muito neste crescimento populacional e na necessidade básica de moradia: Independente da crise, pessoas precisam ter um teto, um abrigo, precisam se casar, querem comprar apartamentos, casas, ter filhos, ou seja, de alguma forma a economia tem que continuar andando, mesmo que agora em passos mais lentos.

    Grande abraço

    VDC – viverdeconstrucao.blogspot.com

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    1. Necessidade de moradia todos têm, mas não significa que todos ou a maioria irão comprar terrenos ou casas ou alugar. Vide o exemplo das favelas no RJ.

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    2. Olá, VC!
      Sim, eu creio que você está num bom caminho. Mais serenidade, foco naquilo que gosta de fazer e uma diversificação importante em alguns instrumentos financeiros.

      Anônimo,
      É verdade, mas é difícil imaginar que desses 50 milhões de novos brasileiros, não haverá um impacto grande na demanda por imóveis.

      Abs

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  4. Acho que quando alguém publica que o Brasil vai acabar, basicamente está querendo dizer que o Brasil vai virar uma Venezuela (e esse caminho parece inevitável enquanto o PT estiver no poder). Não sei você, mas entre viver numa situação análoga à da Venezuela e ir embora para os EUA para limpar vasos sanitários que seja, prefiro a segunda opção.

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  5. Excelente texto!
    Minha opinião:
    O Brasil não vai "Acabar", o rebaixamento da Nota não é o fim do mundo e eu não acredito em Calote no Tesouro Direto.

    O Pior cenário nesse caso é um "Calote indireto", onde o governo, para pagar a divida pública interna, irá imprimir mais dinheiro, tendo como consequência a inflação.

    Grande abraço
    P.J.
    http://pobrejapa.blogspot.com.br/

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    1. Compartilho da mesma opinião Japa, acho improvável um calote do Tesouro. Cheguei a conclusão que apesar de ser um assunto essencial, o controle da inflação não é uma das prioridades do governo atual.

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  6. Fala Soul,

    Realmente, o que você disse está certo, quanto mais você fizer algo chamativo mais as pessoas irão olhar, e farão daquilo que disse uma premissa, e ai a coisa desanda e cria-se vários furdunços.

    Decidi deixar a minha ignorância correr com relação a macro economia, e estou focando em criar dinheiro com o que estou trabalhando hoje. Quem sabe, quando tiver tempo para essas coisas, eu voltei a ler e analisar o que realmente acontece no mundo.

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    1. Olá, Estagiário.
      Uma bela estratégia, conforme comentei contigo em mensagem particular.
      Também creio que entendo pouco desse tema, como na esmagadora maioria dos outros temas. Entretanto, nem por isso não podemos fazer as nossas próprias reflexões e o que é mais importante não ser "contagiado" tão facilmente com informações ou notícias.

      Abraço!

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  7. Belo post. Lindo até. Sinto que vou atingir a IF nesta crise. Estou com Buffett, "compro ações quando os roedores estão indo na direção oposta". Não necessariamente ações... Abraço!

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    1. Olá, colega. Guarde os adjetivos de beleza para coisas belas:) Espero que fique mais próximo de sua IF.
      Abraço

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  8. Como sempre muito otimismo pouco conhecimento em economia.

    A evolução da dívida bruta depende de 4 fatores: o superávit primário, o custo da dívida, o crescimento econômico e a inflação. Para entender como estas quatro variáveis influencia a dívida bruta, vamos começar com a relação entre a dívida bruta de um ano em relação à divida bruta do ano anterior:

    DB(t+1) = DB(t)*(1+i(t+1)) – SP(t+1)

    Ou seja, a dívida bruta (DB) em um determinado ano é igual à dívida bruta do ano anterior atualizado pelo custo da dívida (i), menos o esforço de economia, que é o superávit primário (SP). Assim, por exemplo, se DB do ano anterior tiver sido de R$ 1 trilhão, o custo da dívida for de 15% ao ano, e SP for de R$ 10 bilhões, o DB do ano seguinte será de R$ 1 trilhão x (1+0,15) – R$ 1o bilhões = R$ 1,14 trilhões.

    Agora, o que importa é a razão dívida/PIB. Então, dividindo tudo pelo PIB(t+1), temos:

    DB(t+1)/PIB(t+1) = DB(t)/PIB(t+1) * (1+i(t+1)) – SP(t+1)/PIB(t+1)

    Para compatibilizar o DB(t) com o PIB(t+1), vamos deduzir o PIB(t+1) em função do PIB(t);

    PIB(t+1) = PIB(t)*(1+gn(t+1)), sendo gn o crescimento nominal do PIB.

    No entanto, estamos mais acostumados a trabalhar com o crescimento real do PIB. Assim, temos:

    PIB(t+1) = PIB(t)*(1+g(t+1))*(1+π(t+1)), sendo g o crescimento real e π a inflação do ano t+1. Juntando tudo em uma única equação, temos:

    DB(t+1)/PIB(t+1) = {DB(t)/PIB(t)*[1/(1+g(t+1))*(1+π(t+1))]} * (1+i(t+1)) – SP(t+1)/PIB(t+1)

    Por esta equação, podemos observar que a relação dívida bruta/PIB depende de quatro fatores:

    crescimento real da economia (g): quanto maior o g, menor a relação dívida/PIB
    inflação (π): quanto maior a inflação, menor a relação dívida/PIB
    custo da dívida (i): quanto maior a taxa de juros, maior a relação dívida/PIB
    superávit primário (SP/PIB): quanto maior o SP, menor a relação dívida/PIB

    Vejamos um exemplo concreto. A razão dívida pública/PIB fechou 2015 em 66,2%. Digamos que, nos próximos 3 anos, a economia cresce, em média, -1% ao ano, a inflação seja de 7% ao ano, o custo da dívida seja de 13% ao ano e o superávit primário acumulado seja de zero. A relação dívida bruta/PIB terminaria 2018 em:

    DB(2018)/PIB(2018) = {66,2%*[1/((1-0,01)^3*(1+0,07)^3)]} * (1+0,13)^3 – 0 = 80,4%

    Ou seja, se essas premissas se confirmarem, a relação dívida bruta/PIB chegará a 80,4%.

    Para diminuir o ritmo de crescimento da relação dívida bruta/PIB, o governo pode, teoricamente, atuar sobre estas quatro variáveis: aumentar o crescimento, aumentar a inflação, diminuir o custo da dívida e/ou aumentar o superávit primário. Teoricamente. Na prática, apenas dois estão realmente nas mãos do governo no curto prazo: inflação e superávit primário. O governo pode controlar a inflação através da política monetária e o superávit primário através da política fiscal. É difícil, é complicado, mas é possível.

    Os outros dois fatores, crescimento econômico e nível das taxas de juros, não estão nas mãos do governo, pelo menos não por meio de políticas de curto prazo. Há uma ilusão disseminada de que o governo consegue, por meio de vontade política, aumentar o ritmo de crescimento econômico e baixar as taxas de juros. O que aconteceu no Brasil a partir de 2012 já deveria ter sido suficiente para dissipar esta ilusão. O governo despejou bilhões de reais em incentivos fiscais na economia através de vários canais, e derrubou a Selic “na marra”. Colheu disfunções na economia por todos os lados, o que nos levou ao nó górdio onde nos encontramos hoje.

    Crescimento econômico e taxa de juros funcionam como a “genética” de um país. Não é possível fazer com que uma pessoa que nasceu para ter 1,65m de altura tenha 1,75m. É a genética. O governo consegue, sim, mudar a “genética”, aumentando o crescimento potencial da economia e baixando a taxa de juros de equilíbrio da economia, se patrocinar ajustes estruturais que diminuam o famigerado “custo Brasil”. Mas não consegue mudar a “genética” através do uso de “anabolizantes”, que têm efeito apenas de curto prazo, quando têm.

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    1. Colega, não sei qual foi o seu objetivo com esse comentário. Primeiramente, quando se cita textualmente uma fonte usa-se aspas e se diz exatamente de onde está se tirando as informações. No seu caso, você fez um control c, control v, do último texto do Blog do Dr. Money. Nesse aspecto, sua mensagem foi muito mal.
      Em segundo lugar, o texto copiado por você aborda de forma muito bacana as variáveis que influenciam a dívida bruta de um país. Tal tema foi abordado nesse blog no segundo artigo linkado do texto.
      Por fim, no texto há expressamente menção ao fato da dívida bruta estar pressionada no país e que reformas precisam ser feitas (o penúltimo artigo desse site fala inclusive sobre o problema da previdência), porém faz a ressalva que falar em calote e não abordar a dívida líquida não faz sentido. O artigo copiado por você sem citar a fonte do Dr.Money toca muito rapidamente no tema, o que é um erro em minha opinião se o foco do artigo é falar num possível calote.

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    2. O artigo aborda exatamente equação fundamental contida em qualquer manual moderno de macroeconomia brasileiro, portanto não precisaria citar muitas fontes já que todas apenas diferem de como se fará tal ajuste.
      Ortodoxia via superavit,Heterodoxia via expansão&inflação monetária.
      Fato de acreditar em uma corrente ou outra não altera variável matemática por de trás da equação, seria como querer alterar a lei da gravidade apenas por ideologia política.
      Temos de ser honesto argumentar com conhecimento de causa, implicitamente vemos em seu texto certo desdém por analistas, então resolvi plotar equação que DR money usou em seu recente artigo.
      Pois exatamente este pessoal que tu diz ser alarmista, vem alertando já faz alguns anos sobre tal equação!
      O que difere da tal casa de analise empiricus seria que um calote não implica em fim do mundo.
      Muito pelo contrario, já convivemos com tal variável nos anos 80.
      Apenas há estruturação da dívida pública ou na pior das hipóteses FMI entra para fazer rolagem da dívida " moratória seria ultima opção da lista.












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    3. Não, colega. Citar ipsis litteris uma fonte sem estar o texto com aspas e sem mencionar quem disse, tem outro nome, e não é dos mais agradáveis.
      Heterodoxia, Ortodoxia? Tenta forçar um assunto que tem pouca relação com o texto. Parece a analogia de Twain de que "para um homem que possui apenas um martelo todos os problemas se parecerão com pregos".
      Em nenhum momento do texto, aliás pelo contrário, foi dito que a trajetória da dívida pública é confortável, foi apenas dito que para se falar em calote deve necessariamente se falar dos ativos, ou quando se executa alguém não se vende os ativos? Sua peroração simplesmente ignora esse fato para tentar introduzir um tema estranho.
      Ora, se há anos vem se avisando, isso apenas corresponde as taxas de juros expressas nos títulos, de que sim há possibilidade de default. O texto em nenhum momento defendeu a ideia de o default não é uma possibilidade tangível, basta interpretar o que foi dito. O que o texto diz é que de uma hora para outra abundaram textos sobre calote, como se este risco já não estivesse presente nas próprias taxas de juros. No final, você concorda com o artigo, mas se utiliza de um expediente para lá de reprovável de usar um texto alheio e não fazer menção a esse fato

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  9. Excelente
    Cara, timing perfeito. Ontem eu estava refletindo sobre os piores cenários. Ótimos argumentos. Gostei também da reflexão sobre consumo de notícias e pensamento crítico.
    Abraço
    Eduardo

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  10. Ótimo texto, direto e sensato.
    Vivemos em um mundo onde há muita informação e muita ansiedade. Combinação perigosa e que tende a criar momentos de euforia e momentos de angústia. Cabe ao bom investidor se afastar do calor do momento e analisar a situação sem se envolver, para tomar suas decisões da forma mais racional possível e poder tirar proveito das crises.

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    1. Olá, Tarik! Bom revê-lo por aqui.
      É verdade. Aplica-se a investimentos, mas de forma geral a vida também. Quanto mais temos pensamentos claros, mas fácil fica abstrairmos o que faz ou não sentido para a nossa vida.
      Abraço!

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  11. soul, qual a margem de solvência do brasil ?

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    1. Reformule a questão, pois não compreendi corretamente. Solvência para pagar dívida em dólar, dívida em real?

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  12. 1º O Brasil não deve "acabar", mas a maior parte da população brasileira não tem folga financeira, não tem gordura pra queimar, isso faz com que as crises sejam superadas com maior lentidão.
    Boa parte da população tem dívidas, entre os endividados há aqueles que estão em situação similar a insolvência, por isso deve demorar um pouco a reaquecer o consumo de modo geral.
    O consumo de modo geral ocorre baseado no endividamento.

    2º Num post anterior você citou a Nova Zelândia como um possível ou provável melhor país do mundo no seu ponto de vista.
    O que você levou em consideração para chegar a essa conclusão?

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    1. Olá, colega. É verdade, mas isso não é exclusividade dos brasileiros. Tirando povos que costumeiramente poupam muito (como japoneses e alemães, mas não só), boa parte da população humana está endividada. Aliás, só há criação de dinheiro por meio de criação de dívidas num sistema de reservas fracionárias.
      Entretanto, creio que quando a situação do país ficar mais clara, é provável que investimentos voltem, e é o que o Brasil tanto precisa.

      Irei escrever sobre a NZ, e lá poderei delinear melhor os meus motivos particulares para chegar nessa conclusão.

      Abraço!

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  13. nao sei se estou calmo com a situacao devido minha ignorancia em economia ou devido ao fato de sempre ler que nas crises é que se faz dinheiro... quanto ao livro ele é excelente li ele quando assisti a uma emtrevista do dono da companhia aérea azul citou esse livro. abraco

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    1. Olá, Soldado. Estou gostando muito do livro. Creio que vou ler outros do autor que são até mais conhecidos.
      Abraço!

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  14. Parabéns pelo post!Acredito que não podemos ser bitolados.Poderemos fazer leituras diversas e tentar filtrar o de melhor,e a partir daí tirar nossas próprias conclusões.Agora a maneira como a mídia aborda determinados temas,é cruel.Por exemplo,exacerbam a questão da crise, não só que o Brasil vai acabar,mas que devemos colocar uma corda no pescoço.No outro dia cita um exemplo de um setor que está dando certo e tal.Assim a gente enlouquece(risos).Nada na vida é garantido...Resistir e refletir sempre!

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    1. Olá, Acionista25.
      Grato, colega. Sim, os meios de informação fazem isso mesmo. Colocam informações contraditórias e criam angústia em muitas pessoas.
      O melhor a fazer é ler boas fontes, bons livros, desligar-se um pouco de noticiários e sempre fazer auto-reflexões sobre o que ser quer, o que se está fazendo para atingir os objetivos e se realmente o que se quer é algo que vai trazer bem-estar.

      Abraço!

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  15. sobrevivemos aos anos 80... vamos sobreviver de novo .. rs

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  16. Excelente, Soul!!

    Acompanho os marketeiros vendedores de relatório, e ver todo mundo desesperado por causa dos constantes "avisos" deles me incomoda muito. Por sorte, você, como sempre conseguiu, esclarecer a situação de forma simples e direta.

    Achei engraçado, recentemente, quando eles comentaram que a "Virada de mão" (que estão esperando até hoje) não é incompatível com o calote, pq as empresas ajustam os preços pela inflação. Só esqueceram de avisar que os salários não serão, e eu duvido que se a cerveja aumentar 300%, a Ambev vai continuar com o mesmo nível de receita, lucro e crescimento. Tirado um ou outro caso excepcional (remédios, luz, etc), é óbvio que o consumo ia despencar, e a bovespa ia sentir. Mas, para manter a banca de oráculo da internet, jogam isso para debaixo do tapete.

    Que a bovespa vai subir, não tenho dúvidas. Afinal, é o movimento natural. Uma hora ou outra isso vai acontecer. A economia vai se recuperar, mudar, ou sei lá. Agora, vender isso como "A visão" é complicado.

    Pior é ver este monte de zumbi, defendendo com unhas e dentes, porque querem acreditar, num viés de confirmação absurdo. Não interessam as evidências contra, lógica, fatos...

    Um abraço!!

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    1. Soul,

      Pode apagar o comentário repetido de 11:03. Como não apareceu a confirmação eu acabei reenviando.

      Um abraço!

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    2. I.Casado, grato pelo comentário.
      É verdade, relatórios como esses são mais impactantes. Dizer que um retorno real de 4-5%aa durante um período de acumulação de 30 anos não é muito “vendável”. Entretanto, sabe-se que essa é a forma mais simples, eficiente e anti-stress de se encarar o mercado financeiro quando se é um pequeno investidor.
      Num caso de deterioração completa do Brasil, algo que acho improvável, nada sairá incólume. Agora, quem tem capital acumulado sofrerá muito menos do que a maioria das pessoas que não possui capital acumulado e depende única e exclusivamente de sua força de trabalho.
      Abração!

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  17. Acabar realmente não vai , mas ficar na merda é fod@. Eu mesmo, estou cursando engenharia mecânica no 5 período de uma federal, infelizmente pensar que voce pode sair da faculdade e não ter premissa nenhuma de arrumar um emprego bem remunerado na sua área é no mínimo deprimente. Abraços!

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  18. Olá, colega. É verdade. Um rapaz que conheci quando estava viajando no Japão me disse que estava indo tentar a vida na Escócia (creio que fez engenharia de computação). Uma pena que jovens inteligentes queiram sair do país para ter uma vida melhor. É um desejo legítimo, porém triste ver jovens qualificados emigrando do país.
    Abraço

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  19. Belo artigo Soul! Essa Empiricus é composta por um bando de agitadores. Gostei da menção ao nobre Carl Sagan, eu li todos os livros dele. Sou mt fã dele. Soul, faz um tempão que vc postou sua carteira de FII, eu dei uma olhada nela e tínhamos vários em comum, vc poderia dizer se retirou algum ativo dela ou incluiu um novo? A minha está com 33 ativos, mas ainda não comecei a comprar. Tenho duas perguntas: O que vc acha de comprar o FIXX11? E o XPOM11 vc conhece? Não é um fii, mas gostei do que li. Abraço!

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    1. Olá, colega. Grato!
      Carl Sagan foi um ser humano iluminado:)
      Cara, vou fazer um artigo a respeito. Porém, não fiz nenhuma mudança. Entretanto, tenho mais claro o quero com FII e minha carteira. Vou retirar uns fundos e colocar outros. Recentemente, comprei BBRC que foi uma nova aquisição.
      Eu lembro de ter estudado, mas não me recordo mais detalhes sobre esses dois ativos indicados.

      Grande abraço!

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  20. Dúvida aqui.

    Inflação e valorização de moeda estrangeira estão diretamente ligados? Ex: Se a inflação desse ano for de 20% o dolar pode se manter a R$ 4?

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    1. Olá, colega. Sim, estão. Quanto maior a inflação de um país, mais desvalorizado é o seu câmbio. Basta ver o que acontece com a Venezuela onde há um câmbio controlado. Quando estive no país em 2011, o câmbio negro pagava 8 bolívares furtes por dólar. Tomei um susto ao ver o gráfico que a cotação atual está em 1000 bolívares por dólar. Logo, a inflação está intimamente ligada com o câmbio.
      Entretanto, em moedas mais estáveis, como o real ainda o é, a relação não é necessariamente automática e muitos outros fatores entram em conta para explicar o câmbio no curto prazo.

      Se partimos do pressuposto de que o plano de estabilização fez praticamente uma "dolarização" do Brasil com o uso da URV, é lícito comparar a inflação nos EUA e no Brasil no período e chegar a um câmbio onde reflita a desvalorização de cada uma dessas moedas. Atualmente, esse valor deve ser da ordem de 1 dólar para cada 3,20-3,30 real. Sendo assim, e isso muitas pessoas não refletem a respeito, se houver um sinalização mais clara para onde o país vai, se o câmbio cair uns 15-20%, mesmo com inflação no Brasil, ele apenas estaria voltando para o valor que leva em conta a desvalorização das moedas no período de 1994 a 2016.
      Agora, o movimento em sentido contrário também é possível: O Brasil perde a mão, a inflação aumenta demasiadamente e a nossa moeda se desvaloriza ainda mais.
      Abraço

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