terça-feira, 9 de setembro de 2014

FINANÇAS - CUSTO DE OPORTUNIDADE: O CONCEITO CENTRAL


Olá, colegas! Hoje escrevo sobre um tema que é central para as finanças, mas também o é para a vida humana. Falo do custo de oportunidade. Este é um conceito tão essencial que deveria ser ensinado desde cedo para as crianças. Ele é central em finanças, mas às vezes percebo como ele pode ser ignorado ou mal compreendido. Afinal o que é custo de oportunidade?

Imaginemos você leitor neste exato momento em que lê essa oração.  Sua atenção e o seu tempo estão dedicados para a leitura e compreensão do que estou escrevendo. Porém, se você não estivesse lendo esse artigo, talvez você pudesse estar lendo outra coisa, ou vendo um filme ou conversando com um amigo. A leitura deste presente artigo possui um custo de oportunidade, pois ao ler as palavras aqui escritas o leitor está abrindo mão de fazer alguma outra coisa. Absolutamente tudo em que fazemos na vida possui embutido algum custo de oportunidade. Se uma pessoa vai para a faculdade, há um custo de oportunidade nesse ato, seja de aspectos financeiros (valor de uma eventual mensalidade, gastos com transporte, material, etc) ou aspectos não-financeiros (como o tempo gasto assistindo as aulas em detrimento de outras atividades, apesar daqui também ter certo aspecto financeiro).

Esse conceito de custo de oportunidade nas nossas escolhas foi o que tentei trazer com o primeiro artigo sobre taxa segura de retirada de um portfólio para fins de independência financeira. Um maior conservadorismo possui um custo de oportunidade de mais anos trabalhando. Por isso, talvez seja bacana conhecer dados para saber se esse conservadorismo é necessário ou não. Veja, não há nenhum mal na escolha em si, desde que a pessoa saiba exatamente os custos envolvidos em ter uma postura mais conservadora ou mais agressiva, pois aí a pessoa pode realmente fazer escolhas conscientes sobre os rumos que gostaria de dar a sua vida.

O conceito de custo de oportunidade é vital em economia. Talvez seja o primeiro princípio a ser ensinado nos livros de introdução à economia.  Para nós investidores amadores, o conceito de custo de oportunidade também deveria ser de primeira grandeza. O que é custo de oportunidade para os investimentos? Entender o conceito e sua aplicação em finanças exige que se saiba sobre o valor do dinheiro no tempo. Como assim, Soul? Bom, o dinheiro possui valor no tempo, geralmente o dinheiro vale mais hoje do que valerá amanhã, e há dois motivos para esse fenômeno.

O primeiro é que as economias pós-fim padrão ouro (antes desse evento, a inflação era muito baixa), tirando algumas exceções, possuem um caráter inflacionário. Isso quer dizer que R$ 100,00 hoje valem mais do que R$ 100,00 daqui um ano, tendo em vista que o poder de compra será diminuído com o passar do tempo.  O outro motivo, e esse é aplicável desde sempre, é que o ser humano tende a dar mais prevalência ao consumo presente do que ao consumo futuro, mantidos todos os pressupostos inalterados. Isso é facilmente entendido pelo teste do Marshmallow aplicado em crianças e que já foi objeto de alguns artigos aqui na blogosfera (o último creio ser do colega U.B). O teste é colocar um Marshmallow na frente de uma criança e dizer a mesma que ela poderá ter mais um Marshmallow se conseguir segurar o impulso e não comer o quitute por um determinado período de tempo. O teste geralmente é mostrado para dizer que as crianças que conseguiram adiar o consumo presente tornaram se adultos mais confiantes, mais bem sucedidos, etc. Sim, esse é o resultado, e já foi repetido em diversos tipos outros de testes. Porém, o que esse resultado mostra com uma clareza ímpar (basta ver a cara das crianças que não comeram se retorcendo de vontade) é que nós damos muito mais valor ao consumo imediato. Precisamos ter algum incentivo para adiar o nosso consumo imediato, no caso das crianças foi um Marshmallow a mais (ou seja 100% de retorno), para os investidores o incentivo se dá o nome de remuneração do capital, é a promessa de que se não houver o consumo imediato dos R$100,00, a pessoa poderá ter mais dinheiro para consumir no futuro, por exemplo R$ 110,00. Estes R$10,00 são o Marshmallow a mais dos investidores, mas conhecemos mais comumente como juros.

Nós humanos temos uma tendência de querer sempre antecipar o consumo. Esse tema foi tratado magistralmente pelo livro "O Valor do Amanhã" do Eduardo Gianetti. Esse teste é apenas uma corroboração desse fato.

Logo, o dinheiro tem valor no tempo. O Marshmallow, ou juros, comumente aceito como remuneração mínima fundamental de um ambiente financeiro é a remuneração do ativo “livre” de risco.  Soul, por qual motivo as aspas no adjetivo livre (colocarei as aspas uma única vez no texto)? Colegas, não há nada livre de risco no mercado financeiro. Estados podem quebrar, empresas centenárias podem falir e imóveis podem simplesmente perder valor por uma grave depressão econômica (não acredita? Leia sobre o que está acontecendo com os imóveis na cidade de Detroit – primeira grande cidade americana a falir). Entretanto, no mercado financeiro há o conceito de ativo livre de risco, sendo considerado aquele ativo com menor possibilidade de não entregar o que foi prometido.

Geralmente, eu diria quase sempre, o ativo livre de risco é conceituado como um título governamental. O grande balizador dos mercados internacionais são os títulos de dívida do tesouro americano. O Marshmallow mínimo dos mercados internacionais é a remuneração oferecida pelos títulos do tesouro americano. É por causa disso que há um grande frenesi há mais de um ano sobre se e quando o FED (o Banco Central Americano) irá aumentar as FFR (federal fund rates – taxas de curto prazo).  Mesmo aqui é difícil dizer qual é o ativo livre de risco, pois os títulos de curto prazo do governo americano pagam rendimentos nominais perto de zero, enquanto títulos de maturação alta (superior a 10 anos) estão pagando juros de 2,5% aa. Geralmente, os entendidos usam as taxas dos títulos de maior duração como a taxa do ativo livre de risco, porém não seria errado considerar as taxas de curto prazo.

Se formos para a escala que mais nos interessa, qual seja o nosso país, o ativo livre de risco é tido como os títulos de dívida do governo brasileiro. Há diversos tipos de título, com diferentes maturações e formas de remuneração, porém o que é aceito por aqui é que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) seria o melhor proxy para representar a remuneração do ativo livre de risco. Também não há problemas em considerar a SELIC, até porque se pode investir diretamente nela por um título como a LTF. Porém, SELIC e CDI apresentam remunerações muito semelhantes, e não é um grande problema escolher uma ou outra.

Ok, Soul, pode pensar algum amigo, entendo o conceito, mas estou começando a achar que o custo de oportunidade de estar lendo este seu artigo está ficando alto demais, qual é a relação dessa explicação toda com o começo do texto? Bom, recapitulemos. Tudo o que fazemos na vida apresenta um custo de oportunidade e em finanças não seria diferente, muito pelo contrário. O dinheiro, na maioria das vezes, tem decréscimo de valor no tempo. Tendo em vista este fato e a nossa tendência natural de queremos comer o Marshmallow imediatamente, é necessário ter um incentivo para que haja o adiamento do consumo e isso é chamado de juros. Em finanças, há o conceito de ativo livre de risco, a remuneração mínima que se pode obter no mercado, já que como teoricamente o risco é mínimo a remuneração também será mínima, dificilmente se consegue fugir da relação risco x retorno. No contexto internacional, essa remuneração mínima é a oferecida pelos títulos americanos, no caso brasileiro é a oferecida pelos títulos do governo brasileiro que pode ser concebida como o CDI ou a SELIC (no restante do texto usarei apenas o CDI para fins de clareza e simplificação).

Assim, para o caso brasileiro, a remuneração mínima que um investidor minimamente racional deve esperar receber por adiar o seu consumo é o valor do CDI. Qualquer outro investimento que um investidor for fazer em outro ativo que não seja de alguma maneira atrelado a um título público possuirá um custo de oportunidade representado pela remuneração do CDI. Lembre-se que o custo de oportunidade nada mais é do que uma troca que se faz por alguma coisa, o custo de não estar fazendo X, quando se está fazendo Y.

Como a remuneração do CDI é a remuneração existente para o menor risco possível assumido, só faz sentido em pensar no investimento em outros ativos quando o rendimento esperado seja superior ao CDI, o famoso expected returns, a área mais nebulosa das finanças. Reparem que falo em retornos esperados, não retornos certos. Um ativo pode ter um expected return maior do que  o ativo livre de risco, mas não entregar esse rendimento em determinado horizonte temporal. Por que isso ocorre? Porque o ativo é mais arriscado do que o ativo livre de risco, se não fosse mais arriscado, não teria sentido ele ter um retorno esperado maior, pois se estaria sendo mais remunerado por assumir um risco idêntico. O ponto não é que os outros ativos entreguem uma remuneração superior ao ativo livre de risco, mas sim que eles possuam retornos esperados que sejam superiores ao ativo livre de risco. Investir num ativo com um expected return abaixo do ativo livre de risco não faz sentido do ponto de vista financeiro . A Poupança se encaixa com perfeição nesse caso. A Poupança pode ter funções psicológicas ou fazer às vezes de uma reserva de emergência, mas analisando sobre a perspectiva risco x retorno, o investimento em poupança não possui muito fundamento.

Logo, o retorno potencial de um ativo deve ser necessariamente o seguinte: remuneração do ativo livre de risco + expectativa extra de retorno da classe de ativo escolhida. Não há como fugir dessa “fórmula”. Eu abordei alguns insights dessa “equação” quando escrevi sobre os três fatores de risco de Fama e French http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/acoes-os-tres-fatores-de-risco-de-fama.html. Não vou abordar a questão da “expectativa extra de remuneração da classe de ativo escolhida”, pois isso é assunto para muitos e muitos artigos, onde eu quero chegar é na relação entre o custo de oportunidade (remuneração do CDI no caso brasileiro) e a precificação dos ativos.

Muitas pessoas, e são muitas mesmo, costumam dizer que não há relação entre o Marshmallow mínimo de uma economia (a remuneração do ativo livre de risco) e a precificação dos ativos. Alguns dizem que é coisa de “sardinha” pensar assim, outros não conseguem observar a relação entre CDI e precificação de Fundos Imobiliários ou outros títulos mobiliários cotados em bolsa, por exemplo.  Com a devida vênia, eu creio que quem pensa assim está completamente equivocado.

Negar a influência da remuneração do ativo livre de risco na precificação dos ativos é simplesmente negar a existência de um conceito central para economia e finanças, e para vários outros aspectos da nossa vida, que é o custo de oportunidade.  Quando a remuneração do ativo livre de risco sobe, isso significa que o custo de oportunidade de se investir em outros ativos ficou maior. Se o CDI de 10,8% aa atuais passasse para 15% aa no começo de 2015, por exemplo, o custo de oportunidade de investir em outras classes de ativo aumentaria significativamente.  O que isso significa em termos práticos? As outras espécies de ativos devem se desvalorizar para compensar esse aumento no custo de oportunidade. O inverso também é verdadeiro, quando o custo de oportunidade diminui, os outros ativos podem valorizar de preço. Esta relação é apenas uma conseqüência lógica do conceito muito mais fundamental que é o custo de oportunidade. Não é por outro motivo que a década de 90 apenas um ativo reinou soberano no imaginário popular: a renda fixa com seus juros altíssimos. Talvez seja daí que veio toda a retórica ideológica contra o "rentismo". Com taxas de juros de 20% aa, o custo de oportunidade de se investir em outros ativos fica proibitivo. Minha família aprendeu a duras penas (nem foi tão duro assim, foi apenas um resultado financeiro não-ótimo) ao investir em imóveis com taxas de juros tão altas. Não quer dizer que outros ativos não possam valer a pena, apenas que o custo de se investir neles fica muito alto, fazendo com que apenas investimentos com resultados excepcionalmente bons compensem um custo tão alto.

Muitas pessoas que investem em um espécie de ativo como FII estão dispostas a aceitar que a não oscilação do valor de seu imóvel residencial é devido à falta de liquidez. O famoso livro “O Investidor Inteligente” inclusive tem uma passagem específica com esse exemplo. Sendo assim, a estabilidade de preço de um imóvel residencial é ilusória, e isso serve como um “consolo” para as variações às vezes abruptas de preços das quotas de fundos que na bem da verdade representam imóveis físicos. As pessoas costumam aceitar isso como um fato do mercado. Porém, algumas pessoas não conseguem ir para a conclusão lógica posterior de que todos os ativos variam de preço de acordo com a magnitude da mudança do custo de oportunidade no mercado financeiro.  Longe de ser um “movimento de manada”, “irracionalidade” do mercado, isso é apenas um fato da vida nos mercados financeiros.

Observem, colegas, que isso não quer dizer vender ou comprar um determinado ativo querendo fazer alguma espécie de timing. São dois assuntos diversos. Eu posso ter um apartamento, ser feliz nele, e mesmo que ele suba ou caia de preço por circunstâncias alheias a minha vontade, não ter motivos para querer me desfazer do imóvel. O mesmo acontece com Fundos Imobiliários, ações, títulos pré-fixados, negócios próprios, e qualquer outra espécie de ativo que alguém possa imaginar. Momentos de compra e venda de um determinado ativo estão relacionados com estratégia de alocação, objetivos financeiros de curto, médio e longo prazo, ou timing para as pessoas que acham ser possível conseguir retornos em excesso. Porém, um fato é certo, há determinadas taxas de juro que a própria atividade produtiva vai ficando inviável pelo alto custo de oportunidade. O nosso país ainda possui taxas altíssimas, e é por causa disso que temos empresas com dividendos de 7/8% ou FII com yields de 10/11%, isso é impensável em mercados mais desenvolvidos onde o custo de oportunidade é muito menor.

Entretanto, isso não muda o simples fato de que quando o custo de oportunidade aumenta todos os ativos se desvalorizam e quando o custo de oportunidade baixa todos os ativos se valorizam. Sendo assim, o custo de oportunidade é um conceito central em nossa vida. Continuo trabalhando num emprego chato porque me remunera bem? Sigo aquele sonho mesmo sabedor das chances de fracasso? Faço aquele mestrado? Como aquele hambúrguer com fritas e coca-cola? Todas essas questões podem ser pensadas pelo conceito de custo de oportunidade. Em finanças, o conceito é mais fundamental ainda. Entender corretamente o conceito com certeza ajuda a ter mais clareza do funcionamento do mercado, bem como de definir metas factíveis para alcançarmos nossos objetivos financeiros.

Um grande abraço a todos!



49 comentários:

  1. Excelente como sempre soul...
    Grande Abraço

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  2. Olá, colega. Se gosta de síntese pode ser. Apenas não acho que seja tão fácil valorar a priori como melhor uma alternativa em termos de custo de oportunidade em situações não-financeiras. O que é melhor segurança financeira ou felicidade no trabalho? Isso é o tipo de questão que envolve custo de oportunidade, mas também só pode ser respondido pelo indivíduo que vai tomar a decisão. Porém, em questões eminentemente financeiras faz sentido).

    Abraço!

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  3. Muito bom, soul!

    Particularmente sou mais fã das fórmulas matemáticas: são diretas e certeiras! Quem não quer "aceitar"... bom, nada podemos fazer, não é mesmo? hehe

    []s!

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    1. Olá, Márcio!
      Claro, eu também gosto. Porém, não sou tão familiarizado com matemática como você. Assim, eu gosto de escrever esses textos mais longos e com exemplos mais próximos do nosso dia a dia, pois é uma forma de tentar expressar o que eu fui aprendendo aos poucos. Talvez seja de valia para algumas pessoas, talvez não.

      É vero. Não devemos tentar convencer ninguém em nada, o que podemos fazer é tentar ser honestos do ponto de vista intelectual.

      Lá no Blog do dr.Money eu respondia a sua pergunta, mas caiu na moderação, coloco a resposta aqui:
      Olá, Márcio. Poder ele pode, basta aniquilar toda a sua população, como já aconteceu algumas vezes na história (apesar de não se poder falar em Estado propriamente dito na antiguidade).
      Porém, tirando eventos extremos como esse, eu não consigo imaginar a Argentina deixando de existir ou a Grécia, a não ser que algum outro Estado incorpore esse países, porém mesmo assim os habitantes daquela região não desapareceriam, o que me leva a crer que o problema permaneceria.
      Porém, talvez você tenha algo em mente que tenha escapado na minha argumentação.

      Abraço!

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    2. Marcio vc é fa de matematica e faz um post como aquele sobre IR

      Voce me decepcionou muito. Nunca vi coisa mais ridicula

      Soul, bom post. Parabens

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    3. Olá, colega.
      Grato.
      Vi o Post do Marcio agora. Eu também cometi um erro no artigo passado, faz parte, todos estão sujeitos a isso.

      Abraço.

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    4. soul não faz parte não, para quem se diz o bom, o ser supremo, conhecedor de tudo, não pode cometer um erro tão básico e grotesco

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    5. Anônimo transparecendo sua inveja. hahahaha! Relaxa! Ninguém é ser supremo aqui! Mas o Soul escreve melhor e é mais gentil que vc, anônimo invejoso!

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    6. Não sei de onde tiram que eu me acho "o bom, o ser supremo, conhecedor de tudo"

      Mas vai entender.

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    7. Não liga, Márcio. Eu sempre achei que você é bom debatedor, é bem racional e disposto a discutir. Acho uma boa qualidade.
      Abraço!

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    8. Marcio, nao basta "ser", tenque "parecer". Voce pode ser muita coisa, ma o que parece é que é arrogante. Isso não sou só eu que estou falando, mas pelo visto muitas pessoas.

      Se voce nunca entender que voce é, sob a ótica das outras pessoas, o que você parece ser.

      Isso vem do seu comportamento. Se coce acha isso saudável, apenas aceite, mas não precisa negar, pois assim só esta reforçando a imagem que transparece

      Serio mesmo, pense nisso, o unico que tem a ganhar com seu aprendizado é voce mesmo

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    9. Soul, respondi lá tb, mas essa moderação tá demorando a liberar pelo visto:

      "Bom, eu aprendi em Direito Constitucional que um Estado precisa de três coisas:
      – Povo
      – Soberania
      – Território
      Corrija-me se estiver errado. Se for isso, meu comentário foi no sentido de que, se você acaba com um dos 3 pilares acima, você deixa de ter estado. Vc citou o povo, mas quando fiz o comentário pensei em soberania… e um estado que deixe de pagar suas dívidas e está se arriscando, e muito, a perder sua soberania…"

      []s!

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    10. Olá, Márcio!
      Pelo que eu me lembre essa é a definição clássica de Estado mesmo.
      Creio que o termo que está empregando a soberania é a mais sutil do que o usualmente atribuído a este termo.
      Talvez, o meu pai seria um deles, uma nação que está muito endividada há muito perdeu a soberania, mas não no contexto jurídico.
      Se formos analisar a soberania como a existência de um poder real, sem qualquer tipo de interferência externa, aí acho que muitos Estados de hoje em dia não poderiam ser considerados soberanos em minha opinião.

      Abraço!

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  4. Ô Sô,
    Legal este tema, e perturbador ao mesmo tempo, rs. Explico...
    Para pessoas, como eu, que têm a tendência a querer otimizar tudo na vida: tempo, dinheiro, etc. este tal custo de oportunidade é algo que lateja na cabeça o tempo todo, tipo: quando estava no meu blog agora pouco, fiz uma varedura rápida no meu blog roll para ver os posts mais recentes dos colegas. Como o tempo é curto já que estou em pleno expediente, rs, então pensei: ou abro de noite os blogs para ler os posts ou abro agora mesmo os posts mais chamativos. Temos aí o custo de oportunidade: o que eu ganho/perco em adiar ou abrir agora mesmo. Lógico que pensamos isto em frações de segundos e a decisão muitas vezes é emocional por ser tomada de forma subjetiva. Aí tudo bem, eu abro o blog do Sô e me deparo com um post gigante, rs, aí vem o custo de oportundiade novamente latejando: leio o post agora ou deixo para depois. Se eu parar para ler agora o que vou deixar de ganhar, o que vou perder, rs. O seja, é um tormento o tempo todo.
    Mas voltando para o lado econômico, talvez o custo de oportunidade mais negligenciado pelo cidadão comum, principalmente o brasileiro, seja a compra do automóvel. Ontem mesmo presenciei um bate papo entusiasmado entre pessoas em uma empresa da qual sou fornecedor. Lá o assunto era troca de carro. Pessoas falando: "já tá na hora de eu trocar meu carro, já deu dois anos de uso e começa a apresentar problemas. O outro: nossa, vou aquele novo lançamento da Honda, o carro é muito bonito. Um terceiro: tô querendo comprar um carro, pensei no corolla, mas é carro de tiozão, não quero parecer tiozão, rs." e o assunto só rendia...
    São pessoas com mesmo nível financeiro que o meu, talvez até menor, mas que colocam o automóvel como felicidade a ser atingida, como se ter um carro bonito na garagem, mesmo pagando 60 prestações, fosse a felicidade suprema.
    E onde está o problema nisto (na minha forma de ver quero deixar claro): o custo de oportunidade na sua forma mais irracional. Porque comprar um carro de 90.000, como alguns lá estavam planejando, se um carro de 45.000 atende perfeitamente. Não seria melhor utilizar os outros 45.000 de diferença para comprar alguns FIIs, por exemplo?
    Eu tenho por mim que um automóvel não pode representar mais que 5% do patrimônio do cidadão, acima disto já vira escoadouro de dinheiro. Sigo andando com meu corsinha wind ano 2001, já poderia ter feito um upgrade segundo meu critério de alocação, mas penso as ações que deixarei de comprar e fico triste, rs, mesmo porque foi um presente do meu pai e pretendo ficar com ele para sempre, sendo assim precisaria comprar um outro e não simplesmente trocar, aí o custo de oportunidade fala mais alto ainda, rs.
    Abraço

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  5. Olá, UB! O custo de oportunidade de ler o meu texto realmente foi alto, hehe.
    Porém, eu acho que ficou um bom texto.
    Eu creio que às vezes é melhor ler menos coisas, mas com mais qualidade (e não falo que o que eu escrevo é necessariamente de qualidade). Basta ver a perda de tempo que é ficar acompanhado "discussões" de política na internet.
    Aqui é um caso onde menos é mais.
    Uma coisa também é que para irmos mais fundos em vários assuntos precisamos nos concentrar e ler textos mais profundos. Ler Doistoieviski para quem não está acostumado pode ser muito sofrido, pois alguns livros são um verdadeiro tijolo como "Irmãos Karamazov". Porém, a leitura desse autor é algo único, ele para mim é um dos maiores escritores de todos os tempos, e "Irmãos Karamazov" é uma obra-prima. Há um custo de oportunidade aí, mas para mim valeu a pena.
    Sempre estamos, como bem notado por você, tomando decisões sobre custo de oportunidade de maneira consciente ou inconsciente.
    O que precisamos é não ficar ansioso com isso. Hoje, vejo como as pessoas estão ansiosas. Olham de 2 em 2 minutos para saber se tem mensagem no celular e isso pode destruir a sanidade bem como o bem-estar de qualquer um.
    Portanto, a melhor coisa é respirar, meditar levemente, e olhar essas seguidas escolhas com tranquilidade.

    Sobre o carro, o custo de oportunidade é gigantesco.
    O meu carro representa muito pouco do meu patrimônio. É um carro confortável e estou contente com ele. Jamais investiria mais de 5% do meu patrimônio num carro na situação atual, a não ser que fosse para algo específico. Por exemplo, eu gostaria de fazer uma viagem da patagônia ao Alasca aí seria interessante ter um daqueles carros bons para viagem longa. Gastar dinheiro com carro para ficar no trânsito? Para chamar atenção? Ainda mais no Brasil onde o preço do carro é um assalto.

    Custo de oportunidade de um carro de 90.000,00.
    Premissas: compra à vista, taxa de desvalorização de 20% aa (o que é conservador) e 10% aa de remuneração num ativo seguro.

    Remuneração = 9.000,00
    Desvalorização - 18.000,00
    Seguro (5% - sendo conservador, pode ser mais de 10%, eu não tenho seguro) - 4.500,00
    Gasolina - 400 x 12 = 5.200,00
    IPVA = 1.800,00 (alíquota de 2%, há estados com alíquota bem maior)
    Manutenção (estimo 3% aa) = 2.700,00

    O custo deste carro no primeiro ano é de R$ 39.400,00 (se a pessoa gastasse R$ 110,00 de taxi todos os dias do ano gastaria a mesma coisa).

    Precisa dizer mais alguma coisa?

    Abraço!

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    1. Halfeld fez um estudo interessante, e a cada 2 anos e meio vc tem aproximadamente o custo de outro carro igual ao seu ....independente do valor...
      A sua conta corrobora perfeitamente com esse estudo...

      Vc explanou muito bem sobre o custo de oportunidade, é sempre interessante a pessoa calcular o custo de oportunidade futuro...

      No seu exemplo a pessoa gastou aproximadamente 90 k em dois anos e meio...
      Se ela estivesse com um carro de 40 K ela gastaria cerca de 40 K em dois anos e meio...Sobraria um montante de 50 K em comparação ao primeiro caso...

      Mas não é só 50 k é quase 1.000.000 em 35 anos com juros reais de 0.7%...

      Esse 1.000.000 é como um fantasma ele atormentará a vida de qualquer um que não tenha entendido a importância do seu post...hehehe

      Um dinheiro que poderia ser a aposentadoria de muitas famílias, mas elas preferiram torrar com carros...

      mas as pessoas não fazem esse tipo de cálculo.

      Grande Abraço

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    2. Exatamente, Pobre Catarrento.
      Se a pessoa pode ter um carro, é bacana. Carro te dá certa liberdade (apesar de achar que em algumas cidades, principalmente europeias, a necessidade de carro é pequena). Eu gosto muito da ideia de carro comunitário, você paga pelas horas que usa e deixa em pontos específicos. Precisa do carro, vai lá paga só as horas que precisa e devolve, muito mais barato e eficiente.

      Agora trocar de carro a cada dois anos, sendo de classe média realmente é torrar dinheiro.

      Abraço!

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  6. Grande Soul,

    Excelente texto como sempre.
    Se tem uma coisa que gosto nas suas postagens é que elas tem caráter mais "filosófico", isso ajuda a entender e compreender coisas mais matemáticas. Em suma, suas postagens são como um briefing para alguns assuntos mais matemáticos, mas isso logicamente não quer dizer que sejam simples ou que sejam superficiais, mas sim que eles fazem você entender a essência da coisa.

    Sobre o caso do marshmallow é algo interessante e muito explicativo para demonstrar o custo de oportunidade. Contudo, este experimento apenas elucida algo no ser humano que está em nosso DNA desde os primórdios, que é o "coma a janta de amanhã". Por que o experimento foi feito em crianças? Porque elas não possuem ainda o conceito de custo de oportunidade comentado na sua postagem, ou seja, elas tem mais instinto do que experiência. Estamos programados a provar de tudo o mais rápido possível, isso por conta da perpetuação da espécie, quando falamos de custo de oportunidade, "passar fome hoje para comer amanhã", vai não só além do que estamos programados a fazer, mas vai contra tudo isso.
    Por este motivo que quando conversamos com pessoas mais "pobres de educação (neste caso referindo-se a nível escolar)" é difícil fazer com que eles possam aceitar esta ideia de custo de oportunidade.
    Não sei se deu para entender o que disse, mas é praticamente isso ai :)

    Uta!

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    1. Olá, Estagiário! Como estão as coisas no Canadá?
      Obrigado, colega. Sim, eu tenho esse objetivo com os meus textos. Eu gosto de ler textos assim, então tento replicá-los.
      Por exemplo, eu gosto muito de ler sobre física. Mas, eu não entenderia patavinas se fosse uma leitura técnica. Porém, há livros para leigos que apesar de não possuírem muita matemática são muito bons, e hoje posso dizer que entendo um pouco de um ponto de vista leigo. Grato pelo elogio, fico feliz.

      Não só entendi, como você foi perfeito no seu comentário. Não tenho a menor dúvida que a nossa ânsia de consumir hoje e não amanhã vem da nossa evolução enquanto espécie. Eu adoro biologia evolutiva, uma das áreas que mais gosto de ler. Você tem toda razão do motivo do teste ser aplicado em Crianças, o nosso primo genético mais próximo (Chimpanzé, existe também os Bonobos, mas poucas pessoas conhecem essa espécie de primata) possui, segundo os cientistas, um nível de atividade cerebral semelhante a crianças humanas, logo a explicação que você deu sobre o experimento ser feito em crianças é a mais pura verdade.
      Não creio que seja uma questão de educação formal, pois muitas pessoas com alto nível formal de educação também não conseguem compreender bem esse conceito. Agora se você disser que uma pessoa que luta para sobreviver, realmente não tem sentido dizer para a pessoa adiar o consumo presente e ela realmente não iria entender tão bem, até porque premida por necessidades.

      Abraço!

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  7. Parabéns Soul, mais um excelente post!!
    O custo de oportunidade de investir no mercado brasileiro era algo que eu não tinha clareza quando comecei a investir em ações há uns 6 anos atrás. O Dividendos fez um post muito interessante que pondera volatilidade x retorno para o nosso mercado. Realmente se torna uma tarefa muito mais desafiadora para as empresas brasileiras conseguir atrair investidores tendo que crescer no mínimo acima do CDI para valer a pena no médio, longo prazo (sob um ponto de vista fundamentalista). Isso até poderia ajudar explicar pq temos uma parcela tão ínfima da nossa população investindo em bolsa de valores. Mas sabemos que não é esse o caso, e sim ignorância em termos de investimentos, pois uma parcela muito maior da população investe em poupança, que como mencionaste no post não faz sentido para quem sabe o que está fazendo (a não ser como reserva de emergência).
    Sendo otimista, num cenário onde alocássemos nossos recursos agora alem renda fixa a altas taxas fixas de juros por longos prazos, e o nosso futuro governo fizesse um grande trabalho na esfera econômica, e reduzisse bastante a inflação, já estaríamos muito bem.
    Grande abraço meu amigo!!
    Green Future

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    1. Olá, Green!
      Valeu amigo!
      Olha, se o custo de oportunidade cair drasticamente daqui 20 anos, isso quer dizer que os ativos irão se valorizar muito. Assim, quem estiver investindo nesse período irá se beneficiar enormemente.
      Aliás, foi o que aconteceu com investidores em RF nos EUA na década de 90.
      A década de 80 foi dura para os EUA com inflação que chegou a 13-14% aa. Os títulos, que são completamente sensível a expectativa de inflação, chegaram a pagar 15-16% (ou talvez até mais).
      Porém, na década de 90 a inflação cedeu muito, e quem comprou títulos a 15-16% teve ganhos fenomenais.

      Abração!

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  8. Excelente post, como sempre! Explicou como ninguem algo que muita gente tenta explicar e não consegue.

    Parabens.

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    1. Também concordo. Esse seu tratado sobre custo de oportunidade superou em clareza e compreensão aquelas resenhas confusas da wikipedia.

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    2. Deixou o dimarcinho no chinelo. Ele sempre tentou explicar mas nunca dá pra entender nada do que ele escreve

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  9. Tb aprendi muito.

    []s

    Dimarcinho

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  10. Quais fiis está comprando? Procuro bons fiis de logística para diversificar....

    PODERIA atualizar aquele seu post de análise de f

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    1. Olá, colega. Se tem um setor bom é de logísticas. Muito boas oportunidades.
      Sigo comprando em ritmo lendo os FII que possuo em carteira.

      Abraço!

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  11. OLÁ SOUL,
    Vc não nos brindará com sua carteira de ações e FIIS?E qual tem sido su estratégia atual em relação as ações? abs Léo

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    1. Olá, Leo. Minha carteira de FII já disponibilizei aqui, mudou pouca coisa, apenas alguns ajustes.
      Minha carteira de ação não possui nenhum atrativo e tenho pouca exposição ao mercado acionário.

      Abraço.

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  12. Troquei a soneca de domingo pós almoço para fazer a leitura, li o post inteiro sem cair no sono, parabéns pelo conteúdo!
    Eu me questiono bastante quando começo a me aprofundar nos assuntos financeiros, pois quando comecei a investir minha ideia era ser o mais simples possível, para manter o foco nos assuntos relacionados ao meu trabalho e nos meus hobbies, minimizando assim o custo de oportunidade em relação as outras atividades que eu julgava mais importantes... O interessante é que as premissas mudam, no meu caso os assuntos sobre o mercado financeiro que deveriam ser otimizados por não se enquadrarem no meu roll de atividades prazerosas estão se tornando um hobbie também e estou aqui trocando a clássica soneca de domingo pela leitura do seu excelente post. Parabéns novamente!
    Surfista Calhorda

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    1. Olá, Surfista.
      Opa, a siesta de domingo é importante hein:)
      Grato pelas palavras.
      Se você está gostando de estudar o mercado financeiro, economia (como eu), bacana, não há nenhum problema em devotar mais tempo para essa atividade.
      Porém, é sempre preciso ter em mente que para a esmagadora maioria dos investidores, será sempre melhor focar em suas atividades principais, pois é de lá que virá a possibilidade de fazer aportes cada vez maiores.
      Ir evoluindo os conhecimentos não é contraditório com manter uma estratégia simples.
      Mais uma vez grato, e espero que cada vez mais os seus objetivos fiquem mais claros e mais perto de serem alcançados.

      Abraço!

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  13. Ótimo assunto Soul... Parabens!

    Um trecho muito me chamou a atenção:

    "Porém, algumas pessoas não conseguem ir para a conclusão lógica posterior de que todos os ativos variam de preço de acordo com a magnitude da mudança do custo de oportunidade no mercado financeiro. "

    Entendi que, no fim das contas, as demais classes de ativos dependem implicitamente da politica de juros vigente, de acordo com a correlação com o CDI. Será então que, se eu olhar uma base historica, como por exemplo a flutuação dos preços dos imóveis, e compara-la com o CDI no mesmo periodo, eu consigo de forma confiavel saber pra onde vão os preços conforme a politica de juros do governo?

    Marley

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    1. Olá Marley!
      Olha, seria algo bem interessante de se fazer, Marley. Ontem mesmo lendo um livro do Shiller chamado "Irrational Exuberance" eu vi um gráfico mais ou menos com essa sua ideia.
      Não podemos saber de forma "confiável" para onde vão os preços dos ativos. No mercado imobiliário, por exemplo, o custo de oportunidade pode aumentar, mas por algum motivo outras variáveis exercerem influência na precificação como escassez de terras numa determinada cidade, incentivos governamentais, etc.
      Porém, quando se aumenta o custo de oportunidade do dinheiro, fica mais difícil conseguir realizar projetos com margens de lucro significativas. Sendo assim, a tendência é que os ativos flutuem de preço conforme o custo de oportunidade do dinheiro vai subindo ou descendo, porém cada classe de ativo possui ainda outras condicionantes, bem como cada país possui características próprias.
      A resposta foi um pouco genérica, porque acho que não dá para responder de outro jeito. Concretamente, se você pegar essa subida de preços dos imóveis, está relacionado a uma miríade de fatores, mas entre eles a diminuição dos juros.

      Abraço!

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    2. Valeu SoulSurfer!

      Concordo contigo e já imaginava que muitos outros fatores exercem força em cada classe de ativo, mas pra mim foi muito esclarecedor entender o papel dos juros em tudo isso.

      Obrigado.
      Marley

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  14. Soul,

    Nas primeiras horas da madrugada de hoje fiz 2 comments no post anterior (FII - UMA DESVANTAGEM: O IMPOSTO INFLACIONÁRIO) que depois retirei. Eu tentei responder, na minha visão, uma questão que você colocou 1 ou 2 vezes em resposta aos comments. Como a minha resposta estava correlacionada com este post, removi meus comments no outro. Foi por isso. Mas vamos lá.

    Você dizia que não sabia o porque da diferença de cap rate entre FII e do aluguel de um imóvel residencial. Veja, a minha assertiva pode não ser verdadeira mas gostaria de que você refletisse e comentasse. Conheci muita gente ao longo de minha vida, e mais recentemente, que apesar de tere um bom nível de informação, sempre aplicaram em imóveis. Aliás, 100 % da disponibilidade de capital. O caso mais recente, de um conhecido meu, tinha pavor de ter seu recurso confiscado pelo governo. E isto antes do plano Collor! (será que ele profetizou? rsrs). Imagine depois! Ele continua, hoje em dia, aplicando tudo em imóveis. E sabe o que ele faz quando aparece uma oportunidade de venda? Ele guarda o dinheiro "em baixo do colchão"! (não literal). Enfim... não deixa o dinheiro no banco. Deixe um pouco no apto dele, e outros lugares (diminuir o risco) que não me disse.

    Como casos do tipo acima são muito corriqueiros pelo fato de não termos uma economia estável, creio eu, existe este tipo de comportamento. A minha conclusão é de que o sujeito tem aí um custo que ele, intuitivamente, aceita carregar. E mais... as pessoas que investem em imóvel, pelo menos ainda nos dias de hoje, crêem que esses imóveis sempre irão valorizar acima da inflação ao longo do tempo.

    Não sei se consegui explicar-me direito...

    Abraço!

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    1. Olá, Carlos.
      Sim foi bem inteligível o que você disse.
      Talvez seja essa a explicação. Como FII é um mercado recente no Brasil e ainda muito pequeno (o mercado de REITs é gigantesco nos EUA), muitas pessoas nem sabem que existe FII.
      Além do mais, o preço de imóveis, como não tem liquidez, não fica mudando de preço a toda hora, ao contrário de FII, o que pode afastar muitas pessoas.
      Por isso, talvez exista pouca demanda por FII, o que faz com que os yields sejam mais altos.
      Melhor para nós que investimos em FII:)

      Abraço!

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  15. Soul,

    Mais uma coisa, segue abaixo um vídeo que corrobora a sua visão que o ser humano não é somente motivado por "incentivos monetários". É muito revelador: Envolve um estudo feito pelo M.I.T. e outras universidades americanas. E pelo Federal Reserve Bank. Vale a pena ver porque além de esclarecedor é divertido e inovador na forma de explicar (pode ser que você conheça o emissor do vídeo: RSA).

    http://tinyurl.com/mve4azn

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    1. Carlos, muito obrigado pelo vídeo.
      O Vídeo é sensacional! Eu já conhecia algumas dessas pesquisas por um livro que li chamado "Positivamente Irracional".
      Muito bom mesmo! Não conhecia o RSA, vi que há vários vídeos, vou tirar um tempo para vê-los.

      Sobre o vídeo em si, é basicamente isso que penso. Quando vejo os diálogos e as discussões aqui no Brasil ou na internet: socialista x capitalismo/ direta x esquerda, etc, etc e ninguém fala sobre o que o vídeo aponta: motivação, objetivo, desejo de se tornar melhor numa atividade e autonomia, que são para mim essenciais para termos uma vida e uma sociedade melhores.

      Abraço!

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  16. Boa tarde, Soul! Relendo esse seu excelente texto, me surgiram algumas dúvidas e até reflexões:
    1) Com CDI a 14%, o custo de oportunidade de se investir em ações ou Fiis de tijolos é receber um DY menor, mas como os ativos estão desvalorizados, com o objetivo de que eles se valorizem lá na frente, quando as taxas de juros baixarem?
    2) Ou o investidor deve pensar unicamente o custo de oportunidade do "agora" e investir no ativo que está pagando o maior DY naquele momento, uma vez que o futuro é incerto?

    Ex: Quando a Selic estava em 14,25%, muitos investidores só investirem em RF, de maneira que as ações estavam bastante desvalorizadas, porém as ações não estavam pagando mais de 14,25% de Yield. Entretanto, agora com selic a 7%, muitas ações se valorizaram, de maneira que, quem investiu em ações naquela época, ganhou muito mais que os 14% de outrora.
    O que vc acha?

    Abs.

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    1. Olá, Leonardo. Fico feliz que tenha relido um texto de mais de três anos.
      1) Leonardo, esse seu exercício é plenamente possível. Se você realmente acredita que a taxa básica irá recurar de um determinado patamar, que é o seu exemplo, é uma consequência natural que haja uma valorização nos demais ativos. Você pode até mesmo trazer os fluxos de caixa do futuro e descontar usando diversas taxas de desconto em diversos períodos. Por exemplo: Fluxo 1 - Taxa de desconto 2, Fluxo 2-Taxa de desconto2. A conta é mais complicada, há mais premissas envolvidas, mas não vejo porque não possa ser feito.

      2) O custo de oportunidade mostra o seu custo de investimento no "agora". O futuro tende a ser incerto. Poderia daqui discorrer para diversas direções: regressão à média, gestão passiva versus ativa, habilidades ou não de alcançar retornos superiores, buy and hold, etc.
      Porém, como dito no "1", se o investidor tem um horizonte de longo prazo, e como juros de 14,25% no mundo atual é uma exceção, um investidor pode muito bem acreditar que estará comprando ativos com potencial de valorização quando e se o custo de oportunidade for reduzido a metade (como aconteceu no Brasil recentemente).

      Se o investidor teve o timing quase perfeito de se posicionar em 2015-final de 2016 nos ativos citados por você, sim, é possível que ele tenha tido retornos maiores do que um CDI. Se ele se posicionou em 2013-2014 (quando a SELIC não mostrava, mas a curva futura de juros, que é o que realmente importa, já mostrava juros de 13-14%, provavelmente ele teve retornos parecidos ou inferiores ao CDI.
      Market timing é algo muito difícil de ser feito.

      obs: É melhor você usar o conceito de EY, e não de DY se quer fazer essas comparações. O DY não é um bom parâmetro (não que o EY seja, eu por exemplo prefiro o EY10), pois ele é dependente do payout que um determinado ativo possui, e às vezes, sem se fazer ajustes, compara-se maças com bananas.

      Um abraço!

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  17. Obrigado pela resposta, Soul.
    Normalmente, o investidor pensa apenas no curto prazo, e acha que crises são eternas. O mega investidor Luis Barsi, à época de Selic a 14,25%, estava comprando Taesa a 17, 18 reais, por exemplo, pois vislumbrava que o momento difícil do Brasil (e do ramo energético) iria passar. Hoje, certamente está com um excelente retorno, tanto em Yield, quanto em alguma valorização.
    Sobre o indicador que vc mencionou, eu não conheço. Procurei no Google sobre ele, mas não encontrei. Poderia indicar algum material sobre ou explicá-lo? Grande abraço.

    Obs: estava relendo também seu texto sobre Fii de papel e reaprendi bastante também.

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    1. Opa, Leonardo.
      Veja, estamos falando de coisas parecidas, mas não idênticas.
      O autor Peter L. Bernstein, um dos grandes doutrinadores de finanças nos EUA e autor de diversos livros clássicos na área, tem uma frase que diz mais ou menos o seguinte: "todo investidor novo em fase de acumulação deve torcer por um profundo e prolongado bear market".
      Se não ocorrer nada de catastrófico no país ou região, mercados tendem a se recuperar, taxa de juros tendem a cair, e ativos a se valorizar.
      Se você está na fase de acumulação, ótimo, menos dinheiro se compra mais participação acionária, ou em imóveis, ou em yield atrativos de renda fixa.
      Se você está na fase de desacumulação não é tão simples.
      Porém, a taxa de retorno é apenas uma fotografia do momento. Ela não significa que ficará naquele patamar para todo o sempre, ou que não possa subir ou descer.
      O ponto é que com uma SELIC a 14.25% você tem um custo de oportunidade enorme para investir em outros ativos.

      Qual, o EY? Pegue o P/L (P/E em inglês) e inverta para L/P, também conhecido como EY.
      Logo, uma ação com P/L de 10, possui um EY de 10%.
      Uma ação comprada com P/L de 4 possui um EY de 25%. E uma comprada com P/L de 40 possui um EY de 2,5%.
      O EY10, nada mais é do que o CAPE10 (Cyclically adjusted price-to-earnings ratio). O que é isso? É pegar os lucros dos últimos 10 anos e ajustar pela inflação. Geralmente se faz isso para pegar um ciclo econômico inteiro. Inverta o CAPE10, e você tem o EY10. Pode pegar o earnings yield do mercado como um todo S$P500 por exemplo. Com um CAPE de 33, isso dá um EY10 de apenas 3%.

      O frugal tem um texto interessante sobre CAPE (não sobre EY, mas basta você inverter), pesquisa que você acha. Eu também escrevi sobre CAPE E EY10, porém não me lembro o nome do artigo.

      Grato pelo comentário e pelas perguntas.
      Abraço!

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  18. Ah, sim, eu já conhecia essa indicador, Soul, só não me atentei ao termo em inglês. Eu gosto dele também, mas uso mais o FCLY (O FCL Capex/Preço da Ação), pois elimina as rubricas sem efeito caixa da DRE e mostra o quanto aquela empresa poderia pagar em dividendos se utilizasse toda sua geração de caixa.
    Pesquisarei sobre o CAPE, me interessei. Abraços e obrigado pela atenção.

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    1. É uma boa métrica também, muitos bons gestores preferem métricas relacionadas à geração de caixa da empresa, e não ao lucro propriamente dito.
      O problema é encontrar essas métricas não apenas para empresas, mas para setores e países inteiros (que é a forma que pretendo investir no exterior).
      Um abraço

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