segunda-feira, 2 de novembro de 2015

INDONÉSIA - LAKEY PEAK: ALTAS ONDAS, A SENHORA DO SONHO E A "MÁFIA" DOS MOTORISTAS

 Olá, colegas. Enquanto estou aqui esperando no desorganizado aeroporto de Bima  em Sumbawa para pegar um voo para Denpasar em Bali, e amanhã para Singapore,  resolvi escrever sobre a minha estada em Lakey Beach, mesclando com alguns assuntos de interesse econômico. Vejam, gosto de pensar que escrevo sobre viagens num estilo um pouco particular. Eu não gosto de artigos com muitos detalhes de quanto absolutamente tudo custa ou inúmeras fotos, por exemplo.  Não é isso que me agrada ou que me seduz  para viajar a algum lugar.  Na verdade eu nem gosto muito de ver fotos dos lugares que ainda não fui, creio que estraga o fator supresa, aquela sensação de "ohhhh, é assim esse lugar!".  Prefiro textos mais gerais, com impressões mais íntimas  e com histórias peculiares. Há um escritor brasileiro chamado Airton Ortiz que faz isso em alguns livros. O estilo de escrita dele é interessante. O único problema é que ele, em muitos casos, não retrata fielmente a realidade dos locais. Lembro de um livro dele, li alguns, onde ele fala sobre a travessia da fronteira pelo Mekong entre Tailândia e Laos como se fosse uma grande aventura exótica, quando na verdade tem mais mochileiros fazendo isso do que gente na praia num domingo de manhã de sol no Rio de Janeiro. Quando estive lá foi idêntico a qualquer fronteira, aliás não, pois a quantidade de estrangeiros era absurdamente alta, ao contrário de fronteiras terrestres que já estive como entre El Salvador e Honduras, onde eu era literalmente o único "gringo" . Porém,  em que pese esse pequeno detalhe, os livros do escrito supracitado são agradáveis de ler e recomendo.  Feitas as devidas digressões, vamos ao artigo em si.

Sunset em Lakey Beach. Ao fundo dois palanques que ficam bem em frente onde quebram as ondas de Lakey Peak. A maré variava muito mesmo. É bem interessante, pois isso não acontece muito no Brasil. No meu último dia lá a maré secou tanto que chegou a ter três metros de diferença em relação a maré cheia. 

   Nos últimos 9 dias fiquei num lugar chamado Lakey Beach na ilha de Sumbawa. A Indonésia possui mais de 17 mil ilhas. Há algumas enormes como Java , Sumatra, Papua e Borneo. Outras grandes como Bali, Lombok, Sumbawa, Maluku, Timor e milhares de outras ilhas pequenas e minúsculas. A Indonésia talvez seja, pela quantidade enorme de ilhas, o melhor lugar no mundo para se surfar. Há uma variedade absurda de ondas e muitas delas World Class Waves. Há esse tipo de onda no Brasil? Não. Apenas em lugares muito especiais no como Fernando de Noronha em alguns meses do ano, há ondas de nível internacional. Claro que há ondas muito boas em Florianópolis, litoral de São Paulo, do Rio de Janeiro, mas em nada se compara com a perfeição e constância de várias ondas da Indonésia. A razão? Corais. Sim, os fundos de corais podem tornar as ondas perfeitas, máquinas de produzir ondas. No Brasil, o fundo quase sempre é de areia. Bancos de areia, ao contrário de bancadas de Corais, são móveis. Logo, as ondas apenas em condições muito especiais quebram de forma muito boa, mas nunca com a qualidade de um reef (coral) break. O lado bom de um Beach Break (fundo de areia) é que se você erra um drop (ato do surfista subir na prancha quando está remando em direção da onda), há uma superfície, geralmente funda, bem fofa abaixo. Em ondas com fundo de coral, e há alguns lugares onde a bancada de coral é bem rasa, há simplesmente lâminas esperando por algum erro. Quem nunca se cortou num coral, ou nunca viu uma bancada de coral, não imagina, mas basta você encostar que você se corta. E como corais são entidades vivas, a possibilidade de pegar uma infecção, dependendo da profundidade do corte, é bem grande.  Logo, a perfeição vem com um custo, um risco. Será que posso fazer a comparação de risco x retorno das finanças? Poderia, aliás com a nossa imaginação e escrita nós podemos tudo, e isso é bom de ter um blog sem qualquer compromisso com o ganho monetário, até mesmo se escrevesse um livro não teria essa preocupação, posso escrever sobre o que quiser da forma que bem entender.  

Corais a mostra com a maré baixa em Lakey Peak.  Estes não são tão afiados como em alguns outros lugares.


   Lakey Peak é uma onda muito famosa no mundo do surf. Evidentemente, é uma onda que quebra numa bancada de coral, e , dependendo da maré, pode ser muito rasa. Não é à toa que o lugar pode produzir ondas muito boas, e em alguns dias especiais ondas perfeitas. Assim, lá fui eu com a minha companheira em busca do meu retorno, sabedor dos riscos de surfar uma onda desse tipo. Há alguns meses surfei Cloudbreak em Fiji. Essa é um outro nível de onda. É o que os surfistas conhecem como Word Class Wave. Um dos lugares que se pode surfar as melhores ondas do mundo. Lugares assim a onda é pesada, a bancada é rasa e o surf para lá de desafiador. Não tive um bom desempenho lá, mas foi um grande aprendizado. Não estou brincando, quando as ondas quebram na bancada se ouve um barulho muito forte devido à força das ondas, algo que nem remotamente existe no Brasil.  Lakey Peak é uma onda muito boa mesmo, mas não é do nível de um lugar como Cloudbreak. Assim, fui mais confiante surfar essa onda. Além do mais, tinha ficado uns 8 dias em Lombok surfando, e estava me sentido mais à vontade com fundos de coral.


   Lakey Beach (Lakey Peak é uma das cinco ondas da região) é basicamente um lugar composto por uma calçada com pousadas e restaurantes de frente para a praia. Em poucos dias já é possível saber quase tudo que ocorre no lugar, os locais, bem como as pessoas que estão se hospedando. Como sempre morei em cidades relativamente grandes, nunca tive a sensação de morar num lugar onde todos conhecem todos (o bairro onde moro no Brasil possui em algum grau essa característica, o que é uma das razões de gostar tanto de morar lá). Foi interessante ver o desenrolar de vários dias num ritmo lento. Conseguimos um quarto bem de frente para o lugar onde as ondas quebram com uma varanda bem espaçosa e confortável. Foi apenas 10 dólares. O único problema é que às vezes faltava água, e o banho tinha que ser bem rápido numa ducha fora do quarto. Houve quedas frequentes de eletricidade, mas para quem está acostumado a viajar para lugares realmente pobres isso não é nenhuma novidade e apenas mostra como boa parte das pessoas que reclamam de suas vidas no Brasil não sabem quão privilegiadas são.

Foto da varanda do quarto

  Minha estada foi fenomenal. Senti-me muito bem no local, e o fator principal foi que peguei altas ondas. Na verdade, as melhores sessões de surfe da minha vida. Consegui mandar várias manobras, peguei ondas relativamente pesadas e foi muito bom mesmo. A Sra. Soulsurfer, parceira de sempre, não teve uma experiência tão extraordinária. Ela não surfa, e realmente sem surfar não há muita razão para se estar naquele local. Uma vez ela me acompanhou para um local parecido no norte do Peru no meio do deserto chamado Lobitos. O local é fenomenal, mas em certa medida "tedioso". Lá, ao menos, ela podia tomar banho de sol sem ser importunada, bem como tinha televisão com filmes. Em Lakey Peak não tinha nada disso, mas ao fim creio que foi uma experiência diferente para ela.

   Os dias se passaram numa rotina de surfe, café, às vezes surf depois , almoço, surfe e quase invariavelmente janta num restaurante chamado "The Wreck" que nada mais era do que um barco estilizado com cadeiras dentro. A comida era boa, o preço bem razoável e o atendimento muito bom. Como trabalhavam aquela gente. De manhã bem cedinho até altas horas da noite. Sempre sorrindo e sendo simpáticos, um grande exemplo. Com certeza quase absoluta eles trabalham muito mais em número de horas do que a esmagadora maioria de nós brasileiros de classe média. Havia um garoto muito bacana. Sempre sorrindo e bem educado. Os seus olhos de noite ficavam vidrados nos filmes de surfe que passavam, nos momentos quando ele não estava servindo comida ou retirando pratos. Ele tem apenas 10 anos, isso mesmo. Vi algumas vezes ele surfando, e o danado surfava muito bem para a idade. Um filho assim eu gostaria de ter, pois quando vejo muitas crianças no Brasil me dá uma grande vontade de não ter filhos. O nível de falta de respeito de crianças com adultos é algo que não consigo achar paralelo em nenhum lugar que visito no mundo, seja um país muito rico, ou uma região muito pobre. Creio que deve ser  apenas reflexo da completa falta de noção e agressividade dos brasileiros nas atividades mais triviais, ou como esperar uma criança educada de pais que xingam, destilam ódio por qualquer coisa e tratam outras pessoas diferentes com desrespeito? Enfim, as pessoas que lá trabalhavam são um exemplo de dedicação apesar de condições adversas. E aqui posso contar um pouco a "história" da senhora dos sonhos.

Os gringos iam todos para o The Wreck de noite. Um serviço bom, com um atendimento educado, sempre fará sucesso seja em Cingapura, na Avenida Paulista ou numa ilha pobre da Indonésia.


   Depois de alguns dias de hospedagem em Lakey Beach, nos habituamos a ouvir, entre as 10 e meia e 11 da manhã, a voz inconfundível de uma Senhora de certa idade gritando com toda força "Donuts, Donuts!" Ela sempre vinha carregando uma caixa de plástico cheia de doces. O que ela chamava de Donut, na verdade era o que nós brasileiros conhecemos como Sonho. Tinha diversos sabores, mas eu fiquei "viciado" no de coconut com chocolate. Era gostoso o doce da senhora? Sim! Era maravilhoso? Não, mas um doce desses depois de uma sessão de surfe , onde a fome está geralmente forte, num local sem quase nenhuma escolha de muitas comidas, era um verdadeiro achado. Não éramos apenas eu e minha companheira que achávamos isso, quase todos os estrangeiros do local abriam um sorriso e iam correndo comprar o Sonho da Senhora. 

                 
A foto não ficou aquela maravilha, mas fiz um malabarismo para tirar. Na verdade, tirei a foto com o nariz, já que tinha acabado de voltar do surfe, estava todo molhado e com uma fome muito grande

   Ela era extremamente afável e sorridente. Uma vez me viu de cueca no quarto, não se esqueçam que onde eu estava é uma região de maioria absoluta muçulmana, ela apenas sorriu e pediu desculpas, ou seja a Senhora tinha um grande jogo de cintura. Perguntei para a mesma um dia quantos doces em média ela vendia por dia (ela falava um Inglês Básico, o que é algo bem bacana, pois uma senhora daquela idade aprender uma outra língua não deve ser fácil) e ela me respondeu "em torno de 60". O Sonho dela custava 5.000 rúpias, algo como 0,3 U$, ou seja era bem barato. Eu então passei um tempo pensando na história econômica daquela senhora , em conceitos como capital acumulado, taxa de poupança, bem como algumas noções de como se fazer um negócio de sucesso.



   Partindo da premissa de que o número de 60 sonhos vendidos é correto, isso quer dizer que a Senhora tem uma receita de 300.000 rúpias. Não posso saber a margem do negócio, mas quero crer que seja pelo menos uns 100%. Assim, como ela não paga qualquer tipo de tributo, o seu retorno líquido seria de 150.000 rúpias, ou algo em torno de 10-11 dólares americanos. Sim amigos, um retorno de algo em torno de R$40,00, uma lembrança de como há pobreza nesse mundo. É pouco? Para padrões de Australianos, Europeus e Americanos uma miséria. Para nossos padrões um salário parecido com o nosso mínimo. Para a Indonésia é muito acima da média, talvez algo em torno de umas três vezes mais. O que isso mostra? É uma prova de que o esforço individual é importante.  O pequeno empreendedorismo, seja numa ilha pobre da Indonésia seja no Brasil, é vital para o enriquecimento dos indivíduos e de uma nação. Mostra que tratar bem o cliente (no caso da Senhora ser gentil e falar um pouco da língua universal dos gringos) é a melhor maneira de prosperar. Mostra que produzir um produto, ou serviço, de qualidade a preços razoáveis é uma boa estratégia de negócio em qualquer lugar do mundo.

   Absorto por esses pensamentos, comecei a desenhar uma história para a vida daquela Senhora. Provavelmente, de uma origem extremamente humilde com muitos filhos. Por meio da sua resiliência e inovação (servir doces para surfistas estrangeiros), ela muito provavelmente está melhorando de vida e deixará a vida dos seus descendentes melhor. Como? Se a média de rendimento de um trabalhador na Indonésia é algo em torno de 50.000 rúpias, quer dizer que a Senhora está três vezes melhor do que a média. Se ela tiver uma taxa de poupança de 50%, já que possui rendimentos três vezes maiores do que a maioria das pessoas, ela conseguiria economizar algo em torno de 2.225.000 rúpias, ou algo em torno de U$ 150,00 por mês. Em um ano ela poderia ter economizado quase U$ 2.000,00. Pouco para a maioria dos colegas blogueiros e leitores, uma fortuna para uma pessoa pobre em Sumbawa. Se o negócio dela continuar do mesmo jeito, em alguns anos talvez ela possa comprar uma terra e começar a fazer uma pousada para surfistas estrangeiros.  Se isso tudo acontecer, quer dizer que os seus netos muito provavelmente terão oportunidades maiores de acesso à saúde e à educação e poderão ser muito mais competitivos numa época de grande interconectividade internacional. Isso nada mais é do que um exemplo "real" (apesar da minha história ser uma construção mental) do poder de acumulação de geração para geração e como isso geralmente é um processo lento que envolve muito trabalho, abdicação, e quiçá sofrimento, das primeiras gerações. No meu artigo sobre herança procurei destacar isso. Nós herdamos um mundo muito mais confortável e fácil das gerações passadas às custas de muito trabalho e às vezes sofrimento. O simples fato de você ter energia elétrica constante e fornecimento de água, apesar dos problemas atuais de São Paulo, ininterrupto, são indicativos de que você possui muito mais do que muitos humanos no planeta terra e de inúmeras outras gerações passadas.

Jogo de cintura, sorridente e um produto, para os padrões do local, muito bom para atender as necessidades do mercado local. Pedi para tirar uma foto dela e ela não me mandou um Hang Loose e sentou na varanda do quarto?  A "Tia do Sonho" ficará na minha lembrança por um bom tempo


   Depois de nove dias, era hora de dizer adeus para este lugar tão único. Mal sabia que iria ter uma experiência bem ruim. Já tinha lido e sido alertado sobre a existência de uma “Máfia do Táxi”, sobre o serviço entre Lakey Beach e o aeroporto de Bima localizado a 100km de distância. O preço fixo é 800.000 rúpias para a viagem e teoricamente quatro pessoas podem ir num carro. Conheci diversas pessoas interessantes enquanto surfava, uma delas uma Australiana que morava na Suíça. Ela era assessora financeira numa grande empresa de petróleo , mas resolvei largar o emprego, pois não aguentava mais trabalhar para o “demônio” (segundo palavras dela própria). Estava numa viagem de dois meses, e quando retornasse para Suíça disse-me que gostaria de morar nas montanhas, ter um jardim, trabalhar com energias limpas e ajudar o marido em trabalhos de fotografia. Como iríamos pegar o mesmo voo para Bali no mesmo dia, combinei com a mesma de racharmos um Táxi. Entretanto, há um "acordo" entre vários motoristas do lugar de que não se pode levar turistas de diferentes hotéis no mesmo carro.  O “Boss" (como eles chamam os gerentes de cada pousada) tinha me alertado de que iria haver problemas. Nesse meio tempo conheci um Israelense que dizia para os locais que era Brasileiro, pois tinha medo de sofrer algum tipo de represália por causa do seu país de origem. Rapaz bem bacana, ótimo surfista  e estudante de economia na Universidade da Califórnia em San Diego (lembro a primeira vez que vi a UCSD,  localizada num morro de frente para a praia no completamente upscale bairro de La Jolla, pensei comigo mesmo que eu deveria voltar para os bancos universitários naquela universidade sensacional).  Ele iria embora no mesmo voo também, e melhor cenário impossível, pois seríamos quatro no carro e sairia 200.000 rúpias por pessoa.

   Quando estava me preparando para desocupar o quarto, apareceu um motorista dizendo que não seria possível eu dividir o carro com hóspedes de outro lugar. Eu falei que isso não era problema meu, e os motoristas que se entendessem. Ao chegar no carro que iria nos levar, a Australiana e o Israelense “Brasileiro" estavam esperando e a celeuma implantada. Vários homens dizendo que não era possível e que teríamos que ir em dois carros. Argumentei que isso era um absurdo e não fazia sentido ter dois carros para quatro pessoas. A discussão ficou um pouco mais quente, até o momento que um local levantou a voz para a Australiana, e falando palavras como “fucking" soltou essa pérola: “Vocês surfam aqui de graça, não precisamos de vocês, vocês se aproveitam da gente”. Em momentos como esse, onde se está  um lugar remoto e não se pode saber as consequências, a melhor coisa é ficar calmo. Respondi calmamente que ele estava redondamente enganado, que aquele lugar só existia por causa dos turistas, que nós trazíamos dinheiro para a população local (citei o exemplo da Senhora do Sonho) e aquele tipo de comportamento só iria fazer com que pessoas desistissem de ir ou de voltar. Um outro motorista me interrompeu e disse de maneira irônica que não acreditava naquilo, pois ali é um lugar de onda muito boa e sempre terá gente vindo. O local mais exaltado então falou que era 1.200.000 rúpias para irmos para o aeroporto ou senão não iríamos e não teria nenhum carro disponível para nos levar. 

  Meu desejo mais emotivo e irracional era mandar todos aqueles caras para um lugar não muito agradável e tentar arranjar um meio alternativo de chegar ao aeroporto. Entretanto, vai saber o que aconteceria. Além do mais, seria quase impossível chegar no aeroporto de Bima a tempo e eu já tinha diversos outros transportes marcados. Respirei fundo, e refleti comigo mesmo: “ Realmente, esses senhores proporcionaram para mim uma ótima oportunidade para exercer o auto-controle. Não vou estragar as minhas memórias tão boas desse local por essas pessoas".

   Falei para os dois que, apesar da truculência e insensatez dos locais, deveríamos pagar, não ia sair muito a mais para cada pessoa e era melhor mantermos as boas lembranças do local. E assim ficou decidido. Fiquei brabo na hora, mas logo depois passou. Uma vez vi uma entrevista de um padre na rede viva que achei fantástica. Foi há muito tempo. Ele trabalha com adolescentes problemáticos, envolvidos em crimes, drogas, etc. O entrevistador perguntou "Por qual motivo o Sr. trabalha com jovens tão difíceis?" O Padre respondeu "Porque ninguém mais quer. É fácil trabalhar com jovens dóceis sem problemas, quem não quer? Mas, o que acontece com os jovens mais difíceis? Simplesmente os abandonamos?".  A ideia por trás dessa resposta é linda e muitas pessoas como esse Padre fazem um trabalho espetacular em muitos lugares diferentes do mundo. 

   Assim, é fácil conviver com pessoas gentis e educadas, mas também temos que aprender a lidar com pessoas mais rudes e não tão educadas. Esse mesmo blog há algumas semanas teve um exemplo disso, e o episódio me fez refletir bastante. Assim, não fiz muitos julgamentos dos motoristas e segui em frente.

   Também tenho que confessar que lembrei da belíssima mensagem deixada pelo colega "O Idiota" sobre a reação de Buda ao levar um tapa na cara de um homem irritado. Na verdade, talvez tenha sido uma das mais belas histórias que já li, e toda vez penso nela. Afinal, aquela raiva daquele local talvez quisesse expressar alguma coisa, uma insatisfação, uma frustração.

   Entretanto, assim como o exemplo da Senhora do Sonho é muito instrutivo do que ocorre quando há liberdade para pequenos empreendimentos sem quase nenhuma regulação do Estado, o exemplo dos motoristas é um exemplo claro também do que ocorre quando as atividades correm à margem do Estado, ou quando este é muito fraco numa região. É evidente que haveria taxistas que fariam mais barato do que eles cobraram. É claro que a concorrência melhora os serviços e reduz o preço para os consumidores, mas não se pode negar que sem um Estado Democrático de Direito pode haver intimidação, abusos e agressões entre os mais variados atores econômicos. Ouvi histórias de facas sendo mostradas por motoristas, agressões verbais, etc. O próprio "Boss" da minha pousada estava apreensivo. Assim, é lógico que há coerção de um núcleo mais duro de motoristas sobre outros. Ora, isso dificilmente iria ocorrer na Suíça, por exemplo,  pois lá garantias e direitos humanos mínimos são respeitados, e tudo isso depende de regulação Estatal.  Não há nada, seja em exemplos históricos ou até mesmo em puras reflexões mentais, que comprove que atores econômicos mais fortes, sem um rede protetiva de direitos humanos, não iriam abusar de atores mais fracos, o que impossibilitaria uma genuína livre concorrência.


Não ia deixar um acontecimento como o narrado estragar as minhas experiências fantásticas na onda de Lakey Peak.

De jeito nenhum!

   De volta a Bali encontramos o casal de amigos que vivem no sul da Espanha que fizemos em Lombok. Tivemos uma noite bem agradável, comendo um sushi delicioso e relativamente barato. Na outra manhã rumamos para Cingapura. Nesse país-cidade fantástico, foi a minha segunda vez lá, tive inúmeras ideias sobre vários artigos (o artigo está sendo terminando no aeroporto de Batam - Indonésia. Peguei um ferry essa manhã de Singapore para Batam). Confesso que não fiquei tão surpreendido como a minha primeira em visita no ano de 2011. Talvez, porque nesses últimos quatro anos eu mudei enquanto pessoa, principalmente no que toca à uma boa vida.  (Re)Visitei alguns lugares turísticos, mas o que mais gostei foi de ter ido ao cinema depois de tantos meses. Vi um filme sensacional, gostei muito mesmo, chamado "The Martian".

"The Martian", que filme incrível. Irei escrever um artigo apenas sobre ele.



É isso colegas. Estou esperando meu voo para Padang, pois amanhã vou para Mentawai. Dizem que é a disnelândia do surfe, pela quantidade de ondas World Class uma do lado da outra. O local é remoto e não possui cobertura de celular.  Ficarei duas semanas lá e espero ter uma experiência sensacional, quem sabe, vamos ver o que essas duas semanas me reservam.

Ah, um dos diversos livros do Ortiz. Valem a pena ler, pois é difícil achar livros sobre viagens escritos por brasileiros,  mas tenham em mente que há diversos exageros em algumas partes


  Grande abraço a todos!



6 comentários:

  1. Na próxima chama um Uber... hehehehhee

    Bom texto... conseguiu abordar bastante coisa diferente e fazer links interessantes.

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  2. Valeu, colega. Pois é, um Uber seria uma boa:)
    Acho que um Uber lá, só sairíamos inteiros se fosse dirigido por um policial hehe
    Abraço

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  3. Descobri seu blog há cerca de 1 ano e sempre deixo para comentar depois sobre seus posts, o que acaba não ocorrendo.... Então já deixo aqui registrado que gosto bastante desse seus posts que não são estritamente financeiros. E, claro, também gosto quando você faz análises mais extensas como do post "SOBRE LIBERDADE, TRIBUTOS E OUTRAS QUESTÕES" e as financeiras como "FINANÇAS - QUANTO VALE O SEU IMÓVEL?".

    Pelo que já li um pouco sobre o que você expõe sobre sua vida pessoal/profissional e sobre seu linguajar mais técnico, você era algum agente político de uma carreira jurídica, certo? Bacana ver alguém desse mundo surfando tais ondas (literal e metaforicamente hehehe).

    Abraços!

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    1. Olá, R.
      Grato amigo, fico feliz pelas suas palavras.
      Sim, trabalhava numa carreira de Estado jurídica.
      Abraço

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  4. fala soul
    tanto a comentar do teu post
    realmente seus artigos são mt inspiradores, de verdade. É uma injeção de motivação diária.

    Com relação aos filhos, acho que você não deve se basear pelo que acontece aqui no brasil quando diz que pensa em não ter filhos por ver como as crianças estão hoje. acredito que com sua filosofia e de sua esposa que devem ser parecidas, a educação dada por vocês terá importancia muito grande no modo com que eles vão se comportar diante de vocês e do mundo e não como as outras crianças birrentas hehe

    o filme de marte é ao mesmo tempo engraçado e muito bom. curti demais. o proximo da minha lista é o Everest que entra em cartaz esse mes aqui no brasil

    Um frote abç e sucesso

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    1. Olá, Ahchaves.
      Claro, penso em ter filhos e me esforçaria para dar uma boa educação. É que fico um pouco assustado quando vejo crianças brasileiras e o comportamento leniente de muitos pais.

      Eu vi metade do filme Everest no surf camp em Mentawai e foi muito bacana, imagina ver numa sala de cinema.

      Grande abraço!

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