sábado, 23 de julho de 2016

NEWSPEAK, NEVE E A DISTORÇÃO DA REALIDADE

Olá, colegas! O que dizer depois de uns 40 dias sem escrever nada neste espaço? Havia alguns comentários a ser liberados, um deles de um outro blogueiro que atende pelo nome de FrugalSimples. Ele escreveu que estava preocupado com a minha segurança física,  já que estou viajando por alguns lugares “não-convencionais” e eu não dei nenhum sinal de vida durante essa ausência.  Primeiramente, agradeço de coração a mensagem do colega. Fiquei feliz em recebê-la. Em segundo lugar, sim, estou vivo, mais vivo do que nunca.

  Os últimos 10 dias fiquei quase que exclusivamente "into the wild”, sem banheiros, eletricidade, ducha e confortos com os quais estamos acostumados. Estou na Mongólia. Sempre me perguntam qual local dos que eu já visitei eu mais gostei, nunca soube responder, pois para mim todos eles são especiais de alguma maneira. Entretanto, acho que me apaixonei por esse país. Eu estava com receio de me decepcionar, pois a Mongólia era o local do planeta terra que eu mais desejava conhecer. Não havia nenhum outro lugar do mundo que me chamava mais atenção do que a Mongólia. As duas primeiras semanas nesse país foram, por incrível que possa parecer, muito acima de qualquer expectativa. Não tenho palavras. 

  Um dia, num lugar chamado Orkhon Valley, estava indo ao banheiro improvisado de madeira que se localizava a uns 200 metros do GER (tenda Mongol) onde estava hospedado, quando reparei que havia centenas de cabras na frente do  banheiro. Olhei mais ao lado, e vi dezenas de cavalos semi-selvagens correndo em direção a pequenos morros. Um pouco mais ao fundo havia dezenas de Yaks perambulando sossegadamente por planícies de um verde intenso. Havia centenas de flores silvestres espalhadas por todos os lugares, com várias colorações. Olhei para o rio transparente em que eu tinha acabado de tomar banho. Voltei meu olhar de novo para o banheiro e vi uma criança mongol brincando feliz com sua pequena bicicleta. Comecei a duvidar dos meus olhos. É real? Parece que estou em algum tipo de paraíso retratado em pinturas cristãs. Sim, é real, e por um momento uma sensação de calma e assombro pela beleza deste mundo percorreu todo o meu corpo. Sim, estou vivo e imerso por completo no presente momento. 

É real?

Sim, e muito mais bonito do que essas fotos representam. Apenas senti felicidade e assombro pela beleza do mundo, pela síntese de pequenos momentos, ao observar a realidade ao meu redor.

  Sim, estamos perdendo algo na correria do dia a dia das cidades. Algo fundamental para o nosso bem-estar humano. Porém, não é sobre isso que o texto de hoje irá se ater. Quem lê um livro mais de uma vez? Para muitos pode parecer perda de tempo. O meu pai, por exemplo, não gosta de ver um filme mais de uma vez. Eu, por outro lado, assisto, quando realmente gosto de um filme, muitas e muitas vezes. Livros foram apenas alguns poucos que li mais de uma vez. Um deles foi o magistral “O Processo” de Kafka. A última vez que li creio que deveria ter uns 25 anos. Acho que chegou a hora de reler mais uma vez agora com 36 anos (sim, mais um aniversário meu se passou enquanto viajava, e tenho uma história muito bonita sobre isso que ocorreu na cidade de Shanghai, mas deixo para outra oportunidade). Entretanto, o texto não é sobre as profundas e devastadoras ideias e “imagens" contidas em “O Processo”, mas sim sobre outro livro magistral que tive o prazer de reler enquanto estava viajando pela parte leste da China nesse mês que se passou: 1984.

  O livro é sensacional. Para além da crítica evidente ao regime ditatorial socialista da URSS, o livro é uma fonte muito profícua de muitas outras ideias e reflexões. Foi um verdadeiro prazer intelectual poder reler a história sobre Oceania, Big Brother e todos os demais elementos do drama contido no texto.  O livro em questão permite uma miríade de discussões, mas vou puxar apenas um assunto: Newspeak.

  Você, prezado leitor, já parou para pensar sobre a Neve? Talvez boa parte dos leitores desse blog  nem mesmo tenha visto pessoalmente neve na vida . Há diferentes tipos de neve? Há diferentes forma de expressar esse fenômeno? Para alguém que pouco conhece neve, muito provavelmente neve é tudo igual, e com apenas uma palavra (Neve) pode-se explicar o que esse fenômeno representa. Porém, os suecos possuem mais de 20 palavras para Neve, sendo que os esquimós tem um número ainda maior. Isso foi me dito por um francês com o qual viajei por 10 dias pela Mongólia, um formando em medicina que iria se especializar em neurologia.  Ao ouvir esse fato, creio que uma área do meu cérebro deve ter se acendido.

  A razão de povos como os suecos, ou os esquimós, terem tantas palavras para representar o que entendemos como neve, é que para eles a neve é algo presente no dia a dia, algo com o qual eles precisaram lidar por diversas gerações. Ou seja, eles possuem um conhecimento aprofundado sobre o que é neve e as diversas variações que ela pode ter. Por seu turno, um brasileiro tem um contato nulo ou pequeno com o fenômeno que entendemos como neve. Logo, um Brasileiro muito provavelmente é ignorante quando o assunto é neve. 

Quando o assunto é neve, parece evidente que enquanto brasileiros entendemos muito pouco se compararmos com o conhecimento dos suecos

  Na história do livro 1984, o governo totalitário tem o objetivo declarado de reformular a língua que os habitantes da Oceania (nome dado a um dos três super-estados que surgiram depois de uma grande guerra nuclear na década de 1950) falam. O inglês é o Oldspeak, a nova língua Newspeak é a língua que artificialmente aos poucos ia sendo construída. Há algo de muito interessante no processo, é que o objetivo principal do Newspeak é diminuir o número de palavras. Por qual motivo? Porque apenas com uma gama razoável de palavras podemos representar ideias mais complexas do mundo. Ideias estas que podem ser revolucionárias ou disruptivas de um determinado status quo. Ao simplificarem o idioma, o objetivo do Partido governante era simplesmente impedir que pensamentos críticos pudessem brotar na cabeça das pessoas, pois simplesmente não haveria palavras para expressar determinadas ideias. Se não há palavras, não há ideias.

Um livro genial

  O conhecimento dos Suecos sobre a neve pode ser traduzido na existência de muitas palavras para expressar este fenômeno natural. A Ignorância dos brasileiros sobre esse fenômeno pode ser traduzido na existência de poucas ou apenas uma palavra para expressar a ideia de neve. Ou seja, um maior conhecimento sobre a realidade se traduz em diversas formas distintas de representar esta mesma realidade. Um conhecimento limitado se traduz em poucas formas de representação dessa mesma realidade.

   Quando fiz a associação entre a ideia do Newspeak contida no livro 1984 e as diversas formas dos suecos expressarem o fenômeno neve, ficou mais nítido para mim o motivo de tantas pessoas recorrerem seguidamente a rótulos, ou a ideias gerais que claramente não conseguem apreender a complexidade de diversas temáticas.

  Vejamos por exemplo o Islamismo. É notório, pelo menos os textos brasileiros, que boa parte dos escritos não fazem a mínima noção da complexidade do mundo muçulmano. Para a esmagadora maioria das pessoas, como no caso brasileiro para neve, há apenas poucas palavras, ou seja poucas descrições da realidade, para descrever os adeptos da religião em comento. Entretanto, o mundo é muito mais complexo do que isso. Qualquer um com mínimo conhecimento sobre o tema, sabe que o Islamismo praticado na Arábia Saudita não tem qualquer relação com o Irã, por exemplo que por sua vez pouco se assemelha com o Islamismo praticado na Indonésia, país de maior população muçulmana. O desconhecimento é tão grande que se associa árabe com muçulmano, quando há cristãos-árabes e a maioria dos muçulmanos não são árabes. Numa abordagem generalista, superficial, o fenômeno islamismo pode ser representado em poucas ideias e palavras. Numa análise mais complexa, e muito mais condizente com a realidade, são necessárias muitas ideias e palavras para fielmente representar esse universo e toda a suas idiossincrasias.

  Leandro Karnal é um historiador que vem se tornando muito popular por suas palestras. Eu o acho brilhante, um dos grandes pensadores do Brasil. O fato de uma pessoa como ele se tornar mais popular num país com obsessão por corpos e chuteiras como símbolos de sucesso algo muito salutar. Ele tem uma habilidade única de ser cortês e propor diversas reflexões desafiadoras para quem está disposto a questionar muitas ideias arraigadas. Ele fala sobre amor, inveja, ódio, violência, política, e uma grande gama de outros temas. A importância dele não é ser o oráculo da verdade, mas sim ser alguém que propõe uma verdadeira reflexão mais profunda sobre os diversos assuntos humanos. 

Karnal, um grande pensador brasileiro. 


  Ele recentemente deu uma entrevista para o programa roda-viva. Não consegui assistir até o final, pois a conexão de wi-fi falhou. Como vi pelo youtube, dei uma olhada de leve nos comentários. Barbaridade. Uma quantidade não desprezível de pessoas o classificou como “comunista" e com base nesse rótulo descartou qualquer ideia que ela possa ter sobre qualquer tema. Eu nunca consigo parar de me surpreender com tamanha irracionalidade humana. 

  Já abordei esse tema diversas vezes nesse espaço, mas creio que com a associação entre Newspeak e o fenômeno neve para os suecos talvez fique mais ilustrativo compreender o quão distorcida é essa forma de analisar o mundo. Se os suecos possuem mais de 20 palavras para expressar apenas um fenômeno  natural, há algum sentido de termos apenas poucas palavras (para algumas pessoas apenas duas: direita e esquerda) , ou seja uma forma limitada de análise da realidade, para expressarmos a complexidade das diversas interações humanas que vão desde descarte de lixo radioativo, passando por sustentabilidade dos nossos ecossistemas, alocação de recursos escassos entre os membros de uma sociedade (e por que não dizermos do mundo inteiro), e tantos outros temas? Para mim não faz o menor sentido, é como querer expressar toda a variedade de vida no planeta terra apenas com as palavras animal e vegetal.

  Essa forma de encarar o mundo nada mais é do que resultado direto do desconhecimento e ignorância da própria realidade.  Para podermos expressar melhor a realidade, para podemos compreender melhor o universo que nos cerca, precisamos de formas de externar as nossas ideias, e isso só é possível com conhecimento e reconhecimento da complexidade das relações humanas. Quer deixar um indivíduo ou sociedade na ignorância? Retire deles a possibilidade de expressarem de diversas formas a complexidade do mundo. 

  Grande abraço!

25 comentários:

  1. Soul, eu sei que a minha pergunta é um pouco fora de contexto com o assunto abordado. Pelo fato de você trabalhar na área jurídica, eu queria saber se uma pessoa que se formou numa boa universidade de direito como unb ou unesp, e dedicou-se ao curso a ponto de conseguir trabalhar num escritório referência na área. Esta pessoa num prazo de 8 a 10 anos conseguiria auferir ganhos similares de um auditor da receita federal ou delegado federal?
    Eu faço essa pergunta porque quanto alguém fala sobre o curso de direito, várias pessoas levantam a mão e dizem em alto e bom tom que esse curo só vale apena se o teu objetivo for seguir carreira pública, pois o máximo que você vai conseguir como advogado é um salário de 2k sem direito a vale refeição e vale transporte. Por isso eu lhe faço essa pergunta, pois você realmente deve trabalhar na área e com certeza vai apresentar um ponto de vista um pouco diferente do senso comum.

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    1. Olá, colega. Realmente, é um pouco fora mesmo:)
      O que posso dizer? No Brasil, alguns cargos públicos possuem um salário inicial bem alto. A diferença entre o salário de um juiz com dois anos de carreira e um com 25 anos não é tão acentuada. Isso não deixa de ser uma distorção.
      Obviamente, tal situação não se repete na iniciativa privada. A esmagadora maioria dos advogados, até porque há muitos e de qualidade técnica duvidosa, vão sempre ganhar menos do que o salário inicial dos cargos citados. Entretanto, o big money está na advocacia privada.
      Eu mesmo tenho alguns colegas, dois muito próximos a mim, que se encaixam na descrição feita por você e ganham muito mais do que os cargos citados. Se eles permanecerem mais uns 10 anos sendo profissionais competentes, ganharão acentuadamente mais. Agora, eles trabalham bastante e são muito bons tecnicamente. Um, inclusive, está indo fazer mestrado em NY.

      Espero que a resposta possa ter ajudado em algo.

      Abraço!

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    2. Quanto em média os seus amigos advogados tiram por mês? Eles são donos do prórpio escritório ou trabalham como associados? E se eles continuarem por mais 10 anos, quanto eles tirariam?

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    3. Colega, não pergunto quanto eles ganham por ano. Num bom ano, é muito mais do que eu. Se eles continuarem sendo ótimos profissionais e no mesmo ritmo, ganharão muito dinheiro.
      Abs

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  2. Puts! Que baita post. Daqueles que nos faz parar para refletir.
    Essa divisão radical entre esquerda X direita é uma coisa que nunca comprei. Eu sou a favor da economia de mercado poor entender que o livre comércio foi quem tirou a humanidade da miséria, sou a favor do estado mínimo, mas que possua instituições fortes e que tenha programas sociais para ajudar os que estão em condição de miséria.
    Acho que cada ser humano deve ter liberdade para seguir ua religião e também fazer suas escolhas sexuais e ter sua própria definição de família.
    Eu não sou de esquerda por que não sou socialista, nem compro o discurso conservador/retrógrado da direita.

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    1. Olá, colega. Essa é a ideia mesmo. Eu em essência concordo com o cerne da sua argumentação, bem como os diversos exemplos práticos abordados na sua mensagem. Eu fico espantado que pessoas se dizem defensores de liberdades e se posicionam contra a união de pessoas do mesmo sexo. Ora, se 4 homens e 6 mulheres resolveram se unir por meio de um contrato de livre e espontânea vontade e chamar isso de família, o que outras pessoas tem a ver com isso? É evidente que relações de herança, filhos, etc, serão muito diferentes do que estamos acostumados, mas se posicionar a favor da liberdade não é defender esses arranjos que possam ser não-convencionais?
      Acho que o livre-mercado é uma boa forma de circulação de ideias, produtos e serviços. Apenas não concordo que ele seja o responsável pelo desenvolvimento humano. Acredito que a Ciência e o conhecimento são os principais drivers. Pode ter livre-comércio e milhares de empreendedores, se não houvesse gênios como Maxwell (eletromagnetismo), Planck e Einstein (criação do conceito de física quântica), Turing (computação), etc, etc, nós não teríamos as maravilhas tecnológicas de hoje. Sem livre-mercado talvez o processo produtivo seja muito menos eficiente, e teríamos dificuldade de ter iphones e ipads. Fair enough. Sem ciência, é impossível ter iphones e ipads.

      Abraço!

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  3. Muito bom o post. Inclusive, tem uma palestra do karnal sobre isso. Resumidamente, ele diz que, atribuindo rótulos de direita e esquerda a pessoa automaticamente já desconsidera qualquer argumento do outro lado, o que é errado. Como formar uma visão de mundo melhor se a gente tende a olhar apenas para coisas que parecem com a gente?

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  4. Bom que tenha retornado.
    Sua descoberta sobre a neve é um tema recorrente em cursos de linguística.
    Na mesma linha, aproveite suas viagens para perguntar a cada povo quantas cores tem o arco-íris. Vai se surpreender ao ouvir diferentes respostas. Tem povo que diz serem 5, outros 6, outros 7. Tem um, que não me recordo agora, que afirma haver apenas duas cores. Fisicamente, todos vemos a mesma coisa, mas a forma como a interpretamos culturalmente é diferente.
    Sobre a ignorância dos brasileiros sobre a neve, não é muito diferente da de um nativo da Groenlândia sobre árvores. Muitos vão morrer sem nunca ter visto uma na vida. Tente explicar para um deles a diferença entre uma sibipiruna e uma quaresmeira, entre uma sequoia e um resedá.

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    1. Olá, colega. Exatamente. É pelo fato de termos mais contatos com árvores e diversidade de flora, que talvez nós tenhamos mais palavras e artifícios linguísticos para descrever essa parcela da realidade. O fato é que com o conhecimento vem a complexidade do mundo, e com a complexidade vem as diferentes formas de se descrever o mundo.

      Abraço e grato pela contribuição!

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  5. Complementando, fiz uma busca sobre o povo que "enxerga" apenas duas cores do arco-íris e encontrei não apenas a resposta, como outros exemplos, inclusive o da neve.
    http://www.aldobizzocchi.com.br/artigo2.asp

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    1. Olá, colega. Obrigado pelo texto. O li agora e o achei interessante. Ele aborda a questão de uma forma um pouco diferente, mas é bem bacana. Destaco esses dois parágrafos, um com total pertinência com o meu texto, e o outro porque estou de total acordo:

      O que ocorre é que cada língua reflete uma particular visão de mundo, própria de cada cultura. O que para um brasileiro é apenas gelo recebe, entre os esquimós, mais de dez nomes diferentes conforme a consistência e a espessura. Numa região em que conhecer os diversos tipos de gelo pode significar a diferença entre a vida e a morte, é perfeitamente compreensível que a análise lingüística da água solidificada seja muito mais detalhada do que num país tropical como o nosso.

      "Essa diferente análise da natureza feita por cada língua é chamada pelos lingüistas de recorte cultural. Desse modo, brasileiros e esquimós “recortam” a água solidificada de maneiras diferentes, assim como diferentes povos “recortam” o arco-íris de formas diferentes. O lingüista francês Émile Benveniste usou uma bela figura para explicar o recorte cultural: para ele, a natureza é como a superfície da água de um lago, acima da qual se estende uma rede de pesca num dia de sol. A rede não é mergulhada na água, mas apenas mantida acima dela a uma certa altura, por isso não a recorta realmente, apenas projeta sua sombra sobre a superfície da água. Ora, o que as línguas fazem é exatamente projetar sobre a realidade à nossa volta a “sombra” de uma rede semântica que divide hipoteticamente essa realidade em conceitos distintos. Por essa razão, aprender uma outra língua nos ajuda a abrir nossa visão, a ver a realidade com outros olhos e, conseqüentemente, a nos tornarmos menos etnocêntricos e mais capazes de perceber a beleza que existe em culturas muito diversas da nossa. Em outras palavras, aprender novas línguas nos faz menos arrogantes em relação a outros povos, mais tolerantes com as diferenças e mais solidários."

      Abraço!

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  6. Olá Soul, pensei que tivesse morrido. Uma morte trágica talvez.

    Embora me sinta contrariado, admito que concordo com você em relação à ideia de que uma diminuição no espectro do vocabulário esta associada à uma diminuição do horizonte intelectual do indivíduo (e da sociedade como um todo).
    Infelizmente, sou obrigado a ter contato esporádico com estudantes do ensino médio da rede pública e posso afirmar que a cada ano que passa o nível intelectual dos alunos declina na mesma proporção da sua capacidade de se expressar verbalmente e por escrito. Parecm muitas vezes macacos gesticulando e grunhindo para tentar dizer alguma coisa simples. E a realidade que eles criam à sua volta é igualmente simplista e miserável.

    E quem é o principal beneficiado com o declínio intelectual da sociedade no curto prazo? Como no livro 1984, o Governo. No caso, o governo do Bostil*, com sua elite política e intelectual quase que igualmente castrada e fechada numa bolha de ignorância e egocêntrismo.


    *abro um parêntese para cair no erro geral e utilizar um vocabulário simplista para descerver um país complexamente disfuncional.

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    1. Olá, colega. Nossa, que pensamento mais macabro hein? Isso não faz bem para o coração não:)
      Fico feliz que tenha concordado com a ideia central do texto.
      Um abraço

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  7. Ola Soul,

    Gostei muito do texto e fiquei viajando nas fotos.

    Realmente voce sumiu das postagens, mas eu pensei que estava em locais se, acesso a internet.

    Abraco

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    1. Olá, VC!
      Se você ver as fotos que minha companheira está tirando desse local, especialmente agora que compramos uma baita câmera, é de cair o queixo.
      Valeu, amigo!
      Abraço

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  8. Prezado Pensamentos,

    Mais um excelente artigo, com conteúdo de altíssimo nível! Obrigado por compartilhar conhecimento de qualidade.

    Abç e boas viagens!

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    1. Olá, Guilherme!
      Vindo de você é um grande elogio. Saiba que a recíproca é verdadeira. Você é um dos blogueiros mais antigos, e a qualidade do seu blog continua alta apesar de tantos anos (5 ou 6 anos?). Está na hora de você presentear as pessoas com um livro próprio.
      Abraço!

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  9. Fala, Soul, tava sumido, cara. Apareça sempre.

    Já sobre um estudo de psicologia que afirmava serem mais saudáveis mentalmente as pessoas que conviviam com pouca tecnologia e tinham mconais contato com a natureza. O verde nos faz bem, a falta de um trânsito assassino nos deixa menos estressados.

    Morar numa grande cidade faz a pessoa adoecer por excesso de medo e de stress.

    Um grande abraço,

    Carioca

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    1. Olá, Carioca.
      Gosto de alguns confortos da tecnologia. A internet, por exemplo, é uma ferramenta extraordinária se bem utilizada. Com ela, posso assistir uma aula de economia de Harvard ou de Física no MIT. Posso ler sobre algum lugar desolado do mundo que alguém já tenha ido. Porém, ela pode ser uma fonte de desatenção, stress e perda de tempo. Tudo depende do seu uso.
      No mais, concordo que uma vida em mais contato com a "natureza" (coloco entre aspas, pois para mim o ser humano também é natureza), é mais agradável.

      Abraço

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  10. Eu comecei lendo a Revolução dos Bichos, depois li o 1984 e para finalizar li o Admirável Mundo Novo. Acredito que já é tempo de reler os dois últimos. Parabéns pelo trabalho executado no blog, tenho indicado a algumas pessoas próximas a leitura dos seus posts e como conseqüência o bate papo com as pessoas que passaram a ler o seu blog tem sido muito mais prazeroso. Se o objetivo é provocar nos leitores uma sede mais intensa por conhecimento, posso te garantir que já consegui evidenciar casos reais.

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    1. Olá, SC!
      Poxa, fico feliz que posso ter tido algum impacto positivo na vida de alguém. Obrigado pela mensagem!
      Está aí outro livro memorável: admirável mundo novo. As várias reflexões desse livro são ótimas e bem atuais. Não te parece um pouco com o mundo atual a forma como muita gente encara o sexo e os relacionamentos amorosos com a forma retratada no livro? Um bom livro para se reler.

      Abraço!

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    2. SS mil desculpas por não ter respondido, tive um período offline, mas foi por bons motivos.
      Eu gostaria de discordar de você e ter argumentos para negar a sua afirmação que 'muita gente' encara o sexo e os relacionamentos da forma retratada no livro. Acho que esse comportamento ainda não atinge a maioria, mas realmente é fácil perceber muita gente com o mote 'ninguém pertence a ninguém'.
      O comportamento não é tão duradouro como no livro, ainda não temos mulheres e homens sexagenários com aparência de adolescentes, pelo menos eu acho que não temos, então o envelhecimento acaba diminuindo a oferta de sexo casual e consequentemente empurra as pessoas a observar outras qualidades em detrimento da aparência. Pelo andar da carruagem vai ficar bem difícil encontrar virgens, alimentadas com leite de cabra dos alpes suíços para casar kkk.
      Um assunto que poderia popular algumas horas de conversa...
      Agora vou tirar o atraso e ler os seus novos posts.

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  11. Comentário off, nesse tempo que andava sumido apareceu na academia que fretento uma pessoa muito parecida com você no aspecto físico. Até fiquei imaginando o que o soul estaria fazendo por aqui.

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  12. Soul, adoro os seus posts. Você sempre traz algo de novo para mim. Dessa vez, foi a Mongólia e o Leandro Karnal. Grande abraço.

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