sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

OS DEBATES INEXISTENTES NO BRASIL

   Olá, colegas! Antes de mais nada, aviso que irei mudar o nome do blog, o endereço, bem como o formato do mesmo. Ontem e principalmente hoje (que fiquei de bobeira apenas pesquisando) mexi bastante no novo espaço. Não será tão bonito esteticamente como alguns outros blogs, mas espero que possa melhorar a visualização dos temas. Portanto, se você gosta de acompanhar esse espaço, espero que  o continue  fazendo o mesmo no outro blog.

    Qual país não tem os seus problemas? Poucos brasileiros, considerando a nossa população de 200 milhões de pessoas, têm o privilégio de conhecer outros países. Geralmente, quem viaja para o exterior conhece apenas países mais ricos e prósperos do que o Brasil.  Entretanto, mesmo os países desenvolvidos possuem os seus problemas. Com os EUA não poderia ser diferente. Porém, é inegável que é uma nação que possui inúmeras qualidades. Uma das que mais me chama atenção é que a sociedade americana é debatedora ao extremo. Não há assunto que não possa ser debatido.

  “E por qual motivo isso seria uma característica tão importante nos EUA? Não é o Capitalismo, o Empreendedorismo, Nacionalismo?” alguém pode estar pensando. Talvez sejam características importantes também do sucesso americano. Contudo, em qualquer agrupamento humano sempre haverá divergências entre os variados  seres humanos que o compõe. Imaginem num país com 300 milhões de habitantes e com grande diversidade étnica e cultural, os inescapáveis conflitos que não surgem no seio da comunidade. É inevitável o choque de opiniões e de ideias sobre como melhor organizar uma sociedade.

  Como conciliar visões diferentes de  mundo? No passado, assassinando e subjugando por completo grupos opositores. Na história mais moderna do Ocidente, por meio do debate democrático. A Democracia é a arena onde as diversas visões de mundo poderão se digladiar de forma civilizada. O debate, a racionalidade e a inteligência são fundamentais para que haja uma democracia saudável e forte.

  Eu não gosto de acompanhar muito vídeos ou textos que se tornam “moda" instantânea. Por qual motivo? Porque geralmente não passam disso mesmo "uma moda instantânea" que daqui poucos dias ninguém mais se lembra.  É por isso que existem livros, músicas, que são quase atemporais, ou os dramas shakesperianos não são atuais? Não é à toa que uma peça como Hamlet pode ter uma montagem moderna, com a trama se desenrolando como se fosse nos dias de hoje. 

    Porém, quando algo se torna viral e você conecta-se com a internet, geralmente você toma conhecimento da "novidade". A última moda, infelizmente não é sobre ondas gravitacionais, é uma carta escrita por um americano sobre o que há de errado com o Brasil. Aparentemente, também há um vídeo onde uma menina  interpreta a carta.

  Pobre de um país que uma carta medianamente escrita se torna um fenômeno instantâneo de sucesso. Pobre de um país onde as pessoas elogiam uma crítica ao comportamento de nacionais, das quais contudo eu compartilho em certa medida, e não fazem qualquer auto-reflexão sobre si próprias. O problema no Brasil sempre são os outros. Esse é uma papo tão furado, e que mostra uma completa falta de entendimento de lógica formal, que é impressionante como  muitos brasileiros realmente acreditam nisso. 

  Num artigo escrito há alguns meses, fiz uma homenagem ao grande Abujamra e demonstrei a ilogicidade de afirmar que o pior do Brasil é o  brasileiro, ser brasileiro e não se achar o pior do  Brasil aqui. Muitas pessoas ficam incomodadas com uma simples constatação lógica. “Não, eu sou diferente!”. Por qual motivo? “Ah, porque sim!”. É um diálogo que parece infantil.  Numa deturpação do bom senso e da inteligência alheia, muitas pessoas se dizem diferentes e especiais. Quando por ventura é apontado algum desvio de conduta que poderia ser imputado a uma típica forma padrão de “esperteza" brasileira, justificativas mil afloram. Assim, fazer corpo mole para ser demitido sem justa causa (apesar de na verdade ser por justa causa, mas é algo que um empregador não conseguirá provar na Justiça do Trabalho) para ter acesso a verbas trabalhistas, apenas para citar um exemplo mas poderiam ser muitos outros, é um procedimento correto, “pois é assim que a vida funciona na realidade, rapaz!”. Isso não transforma o praticante desse ato, e quem apoia tal conduta, num brasileiro padrão para se caracterizar como o pior do Brasil, não, por uma incrível suspensão da lógica e da ética, o ato passa a ser justificável. Porém, se um deputado confessa que dobrou-se a interesses  não-republicanos sobre o argumento "é assim que o congresso funciona na realidade, rapaz!", aí toda a ira ética aplicar-se-á em sua integralidade. De contradição em contradição vamos construindo nosso país e o nosso "senso" de civismo.

  Em relação ao meu texto citado, à época foi feito um artigo “resposta" em outro espaço da internet.  Algo, em minha opinião, muito salutar. Ora, um debate saudável de ideias talvez pudesse amadurecer alguns posicionamentos, pois  o meu artigo talvez pudesse ter furos. É para isso que serve o debate. O texto em questão não foi dos melhores. Possuía dois argumentos: um que na minha opinião fugia do ponto e outro que não tinha pé nem cabeça, pois tratava de ciência e ficava evidente que o autor do libelo não fazia a menor noção do que estava falando em relação à parte científica. 

  O que se seguiu não foi um debate de ideias. Eu sinto quando pessoas estão extremamente contrariadas. "Será que fiz algo errado?" "O que há de errado com a discussão de ideias antagônicas, se é assim que o mundo evolui?" foram pensamentos que vieram à minha mente. Aliás, esse meu jeito já me valeu "desafetos" em muitos espaços, inclusive na internet. Eu,  mesmo com pessoas ofensivas, não guardo mágoa de ninguém, na verdade esses fatos sempre me fazem refletir sobre mim  mesmo e no processo sou obrigado a evoluir. Entretanto, esse episódio me fez refletir se valia a pena discutir ideias em outros espaços que não fosse o meu (a não ser espaços onde eu sei que a troca de ideias é algo mais natural). Melhor ler os meus livros, focar no planejamento da minha viagem e nos próximos passos da minha vida, e responder eventuais questionamentos apenas em textos produzidos no meu espaço. 

  O fato objetivo é que a maioria das pessoas não está preparada para ter ideias contraditadas. Não porque não sejam capazes de ter boas ideias, não porque sejam ruins, mas simplesmente porque nunca foram acostumadas com isso. No Brasil, se criou uma imagem de que uma discussão de ideias é algo agressivo, é uma questão de respeito não discordar de ideias dos outros. Essa é a receita para o desastre enquanto nação. O despreparo, talvez por causa da inexistência do hábito de se contraditar idéias, é tão gritante que quando se precisa debater, muitas pessoas pensam que uma discussão é sinônimo de agressão.

  Vejam, prezados leitores, o jogo de xadrez fez me conviver com o debate constante de intelectos quando eu era criança e adolescente, inclusive diversas vezes tinha que apenas reconhecer que meu adversário foi melhor ou em alguns casos muito melhor (chamamos isso no xadrez de ser esmagado). Os meus pais  nunca cercearam discordâncias, mas ao contrário, evidentemente na medida do possível quando se está educando uma criança, estimulavam o espírito contestador. Na faculdade, tinha discussões homéricas com amigos. Sabe o que acontecia depois? Ríamos, falávamos sobre mulher ou íamos para o bar perto da faculdade já que eu estudava de noite. Grandes vínculos e amizades eu fiz nessa época, e o que mais gostava era a capacidade que tínhamos de ser amigos, discutir frivolidades, bem como discutir “grandes temas” para jovens de 20-21 anos que estavam começando a ter um pensamento mais crítico sobre a vida e o mundo. Não há um único amigo meu que não esteja, pelo menos do ponto de vista financeiro e profissional, muito bem encaminhado na vida.

  Uma sociedade,  mesmo os extratos mais privilegiados e com educação, que não está acostumada a debater, obviamente só pode produzir políticos medíocres e um debate político mais medíocre ainda. O que de objetivo, de agenda nacional, se discutiu no Brasil nos últimos anos? O que objetivamente a sociedade brasileira discutiu sobre temas nos últimos anos? Pouca coisa, ou talvez  nada, zero.

  Isso é bem diferente nos EUA. Se discute tudo por lá. É impressionante. Apenas para conseguir a nomeação de um dos partidos principais, os candidatos discutem  talvez umas 8-9 vezes. Imaginem 10 debates antes de ser apontado candidato do partido. Lá, os candidatos precisam dizer claramente o que pensam e porque pensam sobre uma miríade grande de assunto. 

  No Brasil, basta lembrar os debates eleitorais. Eu, inclusive, fiz a resenha do último deles no primeiro turno Debate Eleitoral - O Fiasco. O nível para chegar a sofrível deveria melhorar e muito. Não houve uma discussão séria sobre nenhum tema. Dilma acusava Aécio que iria subir os juros, e Aécio simplesmente se omitia de responder. Uma mentia, o outro se omitia. Quando se tocava no assunto previdência, nenhum candidato falava nada de objetivo, apenas jargões de valorizar as aposentadorias e nada sobre a bomba-relógio que espera as novas gerações. 

  A diferença para os debates americanos é brutal. O debate entre Hillary e Sanders do partido Democrata, por exemplo, foi muito bom. Não importa se não se concorda com nada do que eles estão falando, ao menos eles estão expondo as suas opiniões e as debatendo. No Brasil, quase todos os candidatos presidenciais não conseguiam nem mesmo falar a nossa língua de forma clara. Algo muito diferente nos EUA, onde os candidatos visivelmente são preparados.

  O  mais incrível é que lá se reconhece quando se vai mal num debate. Um dos candidatos à  nomeação republicana, não lembro qual, admitia que tinha ido muito mal no debate anterior e essa era uma das razões de sua derrota nas primárias de um Estado. Aqui no Brasil, admitir inferioridade num debate, ou mesmo numa ideia defendida, é quase tão ruim do que duvidar da “masculinidade" de um homem. Simplesmente não ocorre na esmagadora maioria dos casos.

  Por quê? O que há de tão especial com as nossas ideias? É o fato de terem sido proferidas pela gente? Às vezes nem é esse o caso, pois simplesmente defendemos ideias dos outros e nem nos damos conta disso.  Logo, um passo importante para nosso país, e nós mesmos enquanto sociedade, começar a melhorar é que possamos debater mais.

     Debater ideias não é ofender o outro, não é humilhar o outro, mas apenas reconhecer que num mundo cada vez mais complexo as pessoas vão pensar diferente da gente sobre diversos assuntos, mas que de certa medida consensos deverão ser formados e ideias ruins simplesmente devem ser descartadas para que possamos viver com certa harmonia em sociedade. É simples assim, colegas.

  Grande Abraço a todos!




6 comentários:

  1. Soul, você sabe que um dos principais motivos de não haver debates no Brasil é a proibição de se manifestar livremente o pensamento? Você sabia que nos Estados Unidos um individuo pode publicamente defender as ideias nazistas por exemplo, enquanto no Brasil ele seria preso por causa de algumas das muitas leis estúpidas deste país? Este é um exemplo extremo mas demonstra claramente o quanto o pensamento genuíno ou discordante do sistema é desencorajado e proíbido. O problema é muito mais complexo do que a simples "inaptidão" do brasileiro em discutir ideias.
    O que esperar do Estado brasileiro, um Estado oficilamente racista (vide cotas raciais), mas que diz praticar inclusão social? Por acaso houve algum debate sério em relação a essa aberração antes de ela ser implantada? O Estado brasileiro está a cada dia mais se tornando uma ditadura tácita, e de uma certa forma soa hipócrita essa crítica que você fez à ausência de debates, sendo você mesmo um funcionário graduado do Estado.

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    1. Jonas,
      Eu não vejo nenhuma relação entre a defesa do nazismo e uma sociedade aberta ao debate.
      Se você acredita que defender o nazismo tenha alguma relação com pensamento "genuíno", sua opinião.
      As cotas sociais ou raciais é um ótimo exemplo de um tópico que deveria e poderia ser discutido abertamente. Alguns anos se passaram, e se poderia auferir objetivamente se houve ou não benefícios. Os EUA, e muitos outros países, também utilizaram cotas diferenciadoras em algum momento de sua história, e isso não os tornou Estados "Racistas". Cada país e seu povo devem procurar achar soluções, por meio de dados objetivos e debates de ideia, que melhor resolvam os seus problemas.
      A sua parte final de certa maneira cai como uma luva no exemplo do texto, pois no afã de discordar da ideia do texto (apesar de você estar concordando, pois reclama que não houve um debate suficiente na sociedade e no congresso sobre as cotas raciais) chama-me de hipócrita, pois o Estado brasileiro está se tornando ditatorial e eu de alguma forma eu teria associação nesse processo. O raciocínio é turvo, sem o menor sentido e parte para uma agressão gratuita. Até onde se sabe a liberdade de manifestação permanece preservada no Brasil. Há manifestações contrárias ao governo atual e não há qualquer impedimento para que isso não ocorra. Se há algo de positivo nessa crise toda no Brasil, é que que certos ganhos institucionais parecem estar realmente se consolidando no Brasil.

      Colega, menos argumentos histéricos e mais racionalidade.

      Abs

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  2. Pra mim a previdência é igual uma piramide, todo mundo sabe que vai dar merda , só não sabe quando ! Abraços!

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  3. Como o cara disse acima, a questão não é o mérito do nazismo mas sim a liberdade de expressar o as suas ideias. No Brasil isso não existe. Vá na rua defender a tese de que o holocausto não existiu pra ver o que acontece com você. E eu concordo sim, o governo instituiu o racismo oficialmente, afinal discriminar um ser humano pela cor da pele é o quê?

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    1. Não, a questão é o mérito do Nazismo, sim. Bom, você diz que no Brasil não existe, mas : a) a pessoal pode dizer que o Estado é ditatorial, b) que é "racista", c) não acontece absolutamente nada com a pessoa que defende essas ideias, d) as pessoas podem expressar opinião de forma anônima (em qualquer país onde há controle de internet, pode ter certeza que muito dificilmente existiria isso).
      Logo, aponte-me onde a sua liberdade de expressar o que pensa está sendo tolhida, colega.

      Pode ser que sim, então você terá que dizer que os EUA e muitos outros países que tentam e tentaram cotas diferenciadoras são racistas. Não faz sentido para mim, se faz para você...

      O que faz sentido é analisar se o estabelecimento de cotas sociais ou raciais está tendo algum impacto objetivo favorável ou não. Isso pode ser mensurado e é o que deveria ocorrer mais em debates: dados objetivos.

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  4. Soul, "Pode ser que sim, então você terá que dizer que os EUA e muitos outros países que tentam e tentaram cotas diferenciadoras são racistas"(..) Ué, e você ainda duvida do racismo que existe nos EUA? Lá tem bairro só de negro, vez ou outra aparece no jornal
    confusões entre brancos e negros etc
    Bom, em relação às cotas raciais não entendo como racismo, muito embora, existem, no meu conceito, outras formas de se atacar o problema.

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