sábado, 11 de outubro de 2014

OS CAMPOS DA MORTE

                Olá, colegas! A briga pelo segundo turno já começou e com ela a baixaria. Como é muito difícil manter conversas construtivas num clima tão polarizado, vou deixar nesse artigo o futuro eleitoral do nosso país de lado. Iria escrever sobre minhas experiências no Nepal, mas ontem de noite assisti a um filme muito bacana com tradução para o português de “Um herói do nosso Tempo”, mas  o título original é muito mais interessante “Va, vis  et deviens” (vá, viva e transforme-se).  A história é interessantíssima e o filme muito bem construído. Algumas partes do filme se passam num campo de refugiados no Sudão, e isso me fez lembrar de algumas experiências minhas em lugares que nunca deveriam ser esquecidos pelos seres humanos.

Belíssimo filme que vi e me inspirou a escrever o presente artigo.

                Quando escrevi o artigo http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/05/brasil-e-tao-ruim-assim.html, muitos comentários foram no sentido de que não poderíamos comparar o nosso país com países muito piores, que a nossa “obrigação” era sempre olhar para o andar de cima do mundo.  É uma postura com que concordo, pois realmente devemos mirar em povos que conseguiram alcançar um bom estágio de desenvolvimento humano e social para que possamos ter metas tangíveis de melhora. Por outro lado, discordo, pois me parece uma visão um pouco desumanizada sobre o sofrimento humano e não nos faz valorizar aspectos da nossa vida que parecem triviais e dados como certos para muitos, mas que não o são e a história possui diversos exemplos para nos mostrar.

                Atualmente, reclama-se, e com razão, dos altos índices de violência e criminalidade que assolam nosso país. Porém, alguém já imaginou sendo retirado de sua casa com toda a família, colocado num trem lotado (pense em algum transporte público numa capital brasileira em horário de pico) para fazer uma viagem às vezes de dias, sem comida e água, para chegar ao destino e poucas horas depois ser enviado para uma câmara de gás com centenas de outras pessoas? É possível visualizar mentalmente ou o absurdo da situação é tão grande que nós não conseguimos nem por um instante nos colocar nessa situação?

                Um dos motivos que não gosto de reclamar tanto, ou usar palavras como “absurdo” para algum problema trivial do cotidiano é pensar na situação descrita no parágrafo anterior. Se uma pessoa “roubar” uma vaga de estacionamento num shopping de outra pessoa é um “absurdo”, qual é a palavra que pode descrever o que aconteceu no parágrafo anterior? Não existe palavra e é por isso que foi inventada uma: Holocausto.  Há uma cena lindíssima do melhor filme de todos os tempos, ao menos em minha opinião, onde Oscar Schindler e Isaac Stern discutem sobre como as palavras teriam perdido o sentido para descrever a situação dos judeus nos primeiros anos da década de 40 e como talvez fosse necessária a criação de novas palavras.   Eu creio muito na força das palavras, e acho que palavras que denotem uma situação de extrema injustiça devem ser usadas para situações de extrema injustiça, não para qualquer problema trivial, sob pena de banalizarmos as palavras e talvez por meio desse processo a nossa própria atitude frente às situações.

                Este não é um artigo detalhado sobre história, mas sim apenas minhas percepções breves e talvez até rasas sobre minha experiência com alguns campos da morte.  Minha primeira viagem de “mochileiro” , como a maioria das pessoas, foi para a Europa. Eu já tinha ido para Europa diversas vezes quando adolescente jogar campeonatos mundiais de xadrez, mas essa era a primeira vez que eu viajava pelo velho mundo como adulto. Um dos destinos que eu fiz questão de conhecer, estava viajando com um amigo, era a cidade de Cracóvia no sul da Polônia.  A cidade em si é muito bonita, possui diversas atrações turísticas, entre elas uma famosa mina de sal. Porém, a minha principal vontade em ir para o sul da Polônia era conhecer o maior campo de concentração nazista da Europa: Auschwitz.

A cidade da Cracóvia no Sul da Polônia é muito bonita

                Eu não era guiado por uma curiosidade mórbida, pois isso é algo que ainda bem não possuo, mas sim porque a história do holocausto judeu me tocava e toca profundamente com algo que me faz humano. Como dito anteriormente, um dos filmes que mais gosto é “A Lista de Schindler”, é o único filme que fiz questão de comprar, eu já vi mais de 10 vezes, e todas vezes eu sempre me emociono. Como já vi o filme diversas vezes, eu pude observar a riqueza de detalhes das falas, da construção dos cenários, eu até mesmo sei de cor boa parte das falas do filme. Há tantas cenas doloridas para o espírito humano, há tantas cenas de engrandecimento deste mesmo espírito humano, há tanto simbolismo nas falas. Uma das últimas cenas do filme, quando a Alemanha se rende incondicionalmente e Schindler é obrigado a fugir, para mim é algo espetacular. Schindler recebe um anel dos judeus que trabalhavam em sua fábrica com os seguintes dizeres: “Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro”. Para mim essa é a frase mais bonita que eu já vi na vida. Ao ver os dizeres, mesmo depois de ter salvado 1100 seres humanos, Schindler se questiona por qual motivo ele não fez mais, por qual motivo ele manteve o carro, pois se ele vendesse poderia ter salvado mais 10 vidas, ao final ele olha para o seu broche de ouro do partido nazista e questiona-se por qual motivo o manteve, pois com aquele simples broche de ouro (e aqui o simbolismo de um broche representando o próprio nazismo) ele poderia ter salvado uma vida humana, ele poderia ter salvado o mundo inteiro. Após essa reflexão ele começa a chorar copiosamente sendo abraçado por dezenas de judeus, eu sempre me emociono quando vejo essa cena.

Uma das cenas mais belas do cinema em minha opinião. Em um momento de reflexão, Schindler se questiona  por qual motivo desperdiçou tanto dinheiro em festas, mulheres, e por que não salvou mais pessoas. Essa cena sempre fica na minha cabeça, pois sempre penso que nós não podemos obter a paz e a felicidade plena se há miséria humana ao nosso redor. Nós não encontraremos satisfação apenas no prazer e no consumo. O meu artigo sobre as finalidades do dinheiro tenta abordar essa temática. São apenas 3 minutos de cena, e eu recomendo para as pessoas que nunca viram o filme ou não se lembram da cena.

                Portanto, eu tinha uma vontade muito grande de conhecer Auschwitz. O campo de concentração fica a uma hora da Cracóvia e na verdade eram três campos. Dois campos eram para prisioneiros e um era para produção industrial. Diversas empresas importantes se aproveitaram de mão de obra escrava judia, uma delas a IG Farben (que na verdade era um conglomerado de empresas) era formada pela famosa e insuspeita Bayer.

O campo de Birkenau (Auschwitz II) era imenso

                Duas coisas me marcaram fortemente como primeiras impressões ao chegar ao local. A primeira foi a inscrição “Arbeit macht frei” na entrada do Campo I. A tradução é “O trabalho liberta”.  A segunda foi que o campo I é bonito. Tanto que depois que voltei ao Brasil e mostrei as fotos para a minha família, minha irmã olhou uma foto e falou “Nossa, que lugar bonito, onde é?”, eu respondi “Auschwitz”, ela ficou quieta. Depois disso, eu entendi perfeitamente porque o filme “A Lista de Schindler” é em preto e branco. As cores trazem vida e significado à  nossa existência humana. Até um dos lugares mais horríveis que o ser humano já criou era bonito pela presença de cores. Spielberg quis retirar qualquer traço de beleza que poderia existir na história, alguns anos depois de refletir sobre isso eu vi uma entrevista do diretor e foi exatamente essa a razão do filme não ter cor.

 O trabalho liberta. Os judeus que não eram assassinados logo na chegada do campo eram submetidos a jornadas de trabalho de muitas horas, sem comida e sem proteção contra o frio. Muitos sobreviviam apenas algumas semanas em condições tão precárias de vida.
A cor realmente dá vida e beleza a tudo na vida. Entrada do campo II - Birkenau - conhecido como os trilhos da morte. 

                Os números não são precisos, mas se estimam que 1.5 milhões de seres humanos tenham perecido nos campos de Auschwitz. O dia que passei lá foi intenso, triste, reflexivo. Como esquecer a sensação de entrar numa câmera de gás ou num crematório de corpos? Como entender a perda de significado da vida frente a um acontecimento tão absurdo para a nossa mente bem nutrida e bem protegida de uma pessoa nascida na década de 80? Como explicar que os seres humanos não cumpriram a promessa feita depois do Holocausto: “NEVER AGAIN”. E isso me leva a um país desconhecido por muitos, e o seu genocídio ignorado por quase todos.

                Não irei escrever detalhadamente sobre o Camboja. Pretendo fazer isso num artigo específico, pois o Camboja para mim é um país com uma história fascinante com uma “lição de vida” para países, instituições e indivíduos de como o auge e o sucesso podem ser transitórios e como se pode mergulhar no caos absoluto, mesmo com um passado glorioso.

                O Camboja é um pequeno país localizado sudeste asiático. Dentre os séculos V a XIV foi o centro de um dos impérios mais poderosos que a humanidade já viu: O império Khmer. A grandiosidade desse império pode ainda ser vista nas ruínas do complexo de Angkor, uma das atrações turísticas mais fantásticas de todo o mundo. As construções maias da América Central ou dos povos pré-colombianos da América do Sul empalidecem frente à imponência de Angkor. Para se ter uma ideia, no século XII quando se estima que haveria 50 mil habitantes em Londres, havia 1 milhão de pessoas morando no complexo de Angkor. Londres chegaria a um milhão de habitantes apenas no começo do século XIX, ou seja, 700 anos depois.

Complexo de Angkor, com o seu maior tempo o Angkor Wat. Capital de um império poderoso, uma cidade que se estendia por dezenas de quilômetros quadrados.

                Não se sabe ao certo a razão para a queda do império Khmer, mas a explicação mais aceita pelos historiadores é que o império colapsou devido a uma grande crise nos seus recursos hídricos. Isso é apenas mais um exemplo histórico, há vários outros, de que sociedades podem colapsar devido à exaustão ou super-exploração dos recursos naturais básicos para a manutenção da vida. Por isso, eu simplesmente fico estarrecido com a pouca ênfase que se dá ao debate ambiental e ao nosso crescimento insustentável. Pior ainda, a politização do debate, como se os recursos naturais fossem infinitos.

                Com o declínio da civilização Khmer, o Camboja nos próximos 800 anos se transformaria num país pobre. Com o desenrolar da guerra do Vietnã (para um insight meu sobre esse país maravilhoso http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/07/vietna-guerra-americana_3.html), o Camboja foi arrastado para a guerra por causa de bombardeios ilegais feitos pelos EUA no país.  Estes bombardeios fortaleceram uma organização guerrilheira de orientação marxista (eu fico pensando o que o filósofo, economista e sociólogo alemão Karl Marx ia achar de ver o seu nome associado a um grupo armado agrícola) chamada Khmer Vermelho do infame líder  Pol Pot. Se não fossem os ataques americanos ao país, dificilmente o Khmer Vermelho teria apoio de parte da população e conseguiria tomar a capital do país Phnom Penh  em 1975.

                A capital do país foi a primeira cidade que visitei no Camboja. É uma cidade pobre com inúmeros problemas de infra-estrutura, pelo menos quando visitei em 2009. Eu vejo sempre com muita alegria notícias sobre o desenvolvimento econômico do país, e talvez a situação cinco anos depois esteja melhor. Duas coisas me chamaram muita a atenção no meu primeiro dia no país. A primeira foi a quantidade imensa de veículos da ONU e de organizações internacionais na cidade (eu nunca tinha visto um carro da ONU pessoalmente) e isso se deve porque há cinco anos, não sei como está a situação agora, a ajuda internacional era essencial para manter serviços mínimos de atendimento à população. A segunda coisa, e isso me marcou muito, foi a quantidade de pessoas desfiguradas pedindo dinheiro, algo que eu apenas veria novamente dois anos depois em algumas cidades da Índia. Aquilo me chocou de uma maneira muito profunda, que eu não conseguia entender como eu podia ter uma vida tão boa e tantas pessoas uma vida tão miserável, vi pessoas sem dois braços, sem braços e pernas, desfiguradas no rosto, todas pedindo alguns centavos de dólar. Quando voltei ao pequeno hotel que estava hospedado, eu não me segurei e chorei. Eu mal sabia que a experiência mais tenebrosa da minha vida iria acontecer no dia seguinte.

                Quando o Khmer Vermelho tomou a capital do país em 1975, ele foi saudado pela população, os cambojanos não sabiam o destino negro que os aguardavam nos próximos anos, num dos piores acontecimentos da história da humanidade. O Khmer Vermelho possuía uma utopia de uma sociedade agrária perfeita e uma abominação ao conhecimento, pois era o conhecimento que estaria causando a degradação da sociedade cambojana.. Pouco tempo depois de assumir o controle, o Khmer Vermelho ordenou que todas as cidades fossem esvaziadas. Você não leu errado, todos os cambojanos que viviam em cidades foram obrigados a deixar os seus lares e irem morar em campos rurais de trabalho forçado. A primeira vez que vi fotos desse deslocamento humano de proporções gigantescas foi algo aterrador.

Abril de 1975, evacuação forçada de toda população de Phnom Penh. Muitos estavam sendo evacuados para a própria morte. É incrível pensar que há dezenas de milhões de descolados no planeta terra em pleno ano de 2014. Uma das maiores tragédias das guerras modernas são os imensos deslocamentos humanos que elas provocam.

                Opositores políticos, médicos, professores, empresários, todos começaram a ser perseguidos e assassinados. Muitos assassinatos ocorriam em “Kiling Fields” e é desses lugares que eu tirei o título desse artigo. O conhecimento foi banido, quem possuísse qualquer habilidade intelectual era assassinado, toda a população foi deslocada para trabalhos forçados em campos rurais e uma era negra para o antigo império Khmer, e também para toda a humanidade, começou.

                O assassinato de quase toda classe intelectual e o abandono das cidades levou o país ao colapso econômico, e uma grave crise de fome se instalou. O que se seguiu foram assassinatos em massa, inclusive de bebês, fome, inanição e morte. Não se sabe ao certo o número de pessoas mortas no período de terror de 4 anos, mas se estimam entre 2 e 3 milhões de pessoas numa população na década de 70 de algo em torno de 8 milhões. Imagine todas as pessoas que você conhece  e uma em cada quarto pessoas morrendo de inanição ou assassinada. Faça esse exercício numa grande avenida movimentada, foi exatamente isso o que ocorreu no Camboja sobre o olhar complacente do mundo, desrespeitando a promessa feita depois do Holocausto Judeu (houve também o holocausto cigano, mas esse é pouquíssimo comentado): NEVER AGAIN.

                Eu visitei um Kiling Field nos arredores de Phnom Pehn e foi uma experiência quase que surreal. Ao contrário de Auschwitz onde havia literalmente milhares de pessoas visitando os campos (com alguns comportamentos lamentáveis como falar alto, sorrir para fotos, etc), no campo da morte cambojano não havia ninguém. Eu andei pelo campo apenas escutando o som do vento nas árvores e ao final observando o monumento no centro do campo com milhares de caveiras humanas. Eu não consigo descrever o que senti, porém no mesmo dia eu iria visitar um lugar ainda mais sombrio: A Prisão S-21 Tolueng, hoje transformada no museu Tuol Sleng Genocide Museum.

Um lugar tão belo não parece que foi palco de assassinatos em massa. O monumento também muito bonito guarda milhares de crânios humanos no seu interior.

                Quando escrevi sobre a incompreensão dos direitos humanos (http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/08/reflexao-incompreensao-sobre-os.html), algumas pessoas, talvez premidas ou impactadas por algum ato de violência contra si ou familiares, não entenderam a importância fundamental  dos direitos humanos. A prisão S-21 foi um dos lugares sombrios onde a existência de qualquer direito humano foi negada. Uma escola na capital do Camboja foi transformada numa prisão para prisioneiros políticos. As torturas que lá aconteciam eram terríveis. Ao visitar o museu, se deixou as salas de aula ( que tinham sido transformadas em salas de tortura pelo Khmer Vermelho), do jeito que haviam sido encontradas com o fim do regime assassino de Pol Pot.  Além disso, havia uma foto gigante de como os corpos de cada uma das celas foram encontrados, e as imagens até hoje de vez em quando voltam à minha mente. Foram algumas horas onde as minhas noções do que é certo ou errado, justo ou injusto, ficaram tão sem sentido, tão pequenas e mesquinhas, que eu apenas sucumbi às diversas imagens do museu.
Uma sala de aula transformada numa sala de tortura na infame prisão S21 em Phnom Pehn. Aqui não havia direitos humanos, não havia dignidade, não havia nada, apenas um grande vazio e uma grande feriada aberta na humanidade. Esse foi o lugar que mais me chocou em toda a minha vida pela crueza de como tudo está exposto. 

                Eu disse que não ia escrever muito  sobre a história do Camboja, mas acabei falando um pouco.  O Khmer Vermelho foi retirado do poder pelo Vietnã. O Vietnã libertou os cambojanos do terror do Angka, como a instituição era conhecida, em 1979 . Até hoje nunca li ou ouvi alguém da comunidade internacional agradecendo o Vietnã por isso (como fazem com os EUA na libertação de parte da Europa dos nazistas, por exemplo), pelo contrário até 1991 o Khmer Vermelho tinha assento na ONU, bem como o Vietnã era visto como uma potência agressora.

                Eu quando estava no país comprei e li um livro muito triste, mas um Best Seller no país, chamado “First They Killed My Father” que é um relato de uma adolescente sobre tudo o que aconteceu no Camboja nesses quatro anos trágicos sob sua perspectiva.  Como muito provavelmente ninguém irá ler esse livro, eu recomendo o filme “Gritos do Silêncio”  que retrata também o que aconteceu com esse país durante o período do Khmer Vermelho.
Um relato pungente e emocionante da história de uma adolescente nos tempos sombrios do Camboja entre 1975-1979.

Um grande filme sobre a história recente do Camboja. Ganhou três Oscar em 1984 se não me engano. No Brasil, o título foi traduzido para "Os Gritos do Silêncio". Recomendo.

                Apesar do horror passado pelos cambojanos, da pobreza do país, eu vi um povo sorridente, trabalhador e extremamente simpático. Para mim o povo cambojano é uma das inspirações para sorrir quando estou triste ou para me acalmar quando algum “problema” me tira do sério.

                Infelizmente, a promessa NEVER AGAIN já foi quebrada várias vezes como no genocídio Tutsi de 1994 em Ruanda, como no genocídio atual do Sudão e infelizmente também no Sudão do Sul, como está acontecendo na República Democrática do Congo ou como está acontecendo na Síria e nas regiões dominadas pelo ISIS.  Enquanto nós humanos permitirmos que violações de direitos humanos dessa magnitude ocorram contra populações inteiras, nunca poderemos ser realmente felizes enquanto espécie, e para mim nem mesmo em nível individual.

                Essas foram as minhas experiências nos campos da morte. A experiência em Auschwitz foi intensa, mas a estada no Camboja foi muito forte. Eu me questionei várias vezes sobre meus valores, minha vida, minha noções do que é certo e errado e sobre a injustiça da distribuição de riqueza enquanto estava lá. Hoje posso ver que me ajudou muito a ser uma pessoa mais calma, a tentar respeitar mais outros seres humanos e a colocar em perspectiva os meus "problemas" e ver que eles não são tão problemáticos assim.

                É isso amigo, um grande abraço a todos!
                

28 comentários:

  1. Eu tenho parentes que serviram nas missões de paz da O.N.U no Camboja Sinai e Angola .
    Cara , eles contavam cada história de arrepiar os cabelos do cú , tanto que muitos tiveram problemas mentais quando voltaram .
    Meu pai serviu na missão de paz em Angola na época do genocídio , também quando voltou ele nunca mais foi o mesmo .
    Tudo isso aconteceu quando eu era criança e adolescente , guerra deve ser uma coisa muito medonha e agradeço a deus por ter nascido deste lado do emisfério .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Empreendedor.
      Pois é. Interessante você ter familiares que serviram em missões de paz. Porém, uma pena que alguns deles sofreram alguns problemas depois que retornaram. Eu imagino que deve ser algo pesado mesmo, porém essas missões são tão necessárias para levar um mínimo de paz e dignidade para alguns lugares assolados por algum conflito.
      Valeu, amigo.

      Abraço!

      Excluir
    2. 55 mil homicidios por ano no brasil por crimes + 50 mil no transito nenhuma guerra em curso mata tanto assim no mundo.

      Excluir
  2. Fala Soulsurfer, tudo bom?

    Concordo quando diz que teve um dia intenso e triste ao visitar Auschwitz, sei bem o que é isso.

    Trabalhei algumas vezes na Alemanha a serviço da nossa empresa, e numa dessas empreitadas marcamos de conhecer o campo de Dachau.
    Estávamos no verão, e os dias longos de sol aliado a uma rara folga proporcionava uma viagem um pouco mais longa.
    Observando nossos planos, um colega alemão ficou surpreso com a nossa escolha, com tantas opções poderíamos aproveitar melhor nossa folga, visitar aquele lugar seria a pior escolha e prontamente se recusou a nos acompanhar.
    Achamos aquilo um exagero, abastecemos o carro, conseguimos um mapa e partimos pela autobahn até encontrarmos com o famoso Arbeit Match Frei.

    Resumo: não tinha nada de exagero, foi pouco agradável aquela visita, pesadíssima, aquele ambiente sinistro nos colocou pra baixo de tal forma que voltamos todos cabisbaixos, quase sem trocarmos nenhuma palavra, foi algo bem impactante mas válido pela experiencia de vida que proporciona, até hoje me pego refletindo sobre isso.

    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Operador!
      Tudo certo comigo:) Espero que contigo também.
      Se eu não me engano, quando os americanos libertaram Dachau (Auschwitz foi libertado pelos Russos. Aliás, uma vez conheci um casal de senhores alemães e foi muito interessante a conversa que tive com eles. A senhora vivia na parte onde os Russos chegaram primeiro, e o Senhor na parte onde os Americanos chegaram primeiro, e as diferenças de recordações entre os dois são imensas, pois o tratamento dos russos e americanos foram bem diferentes), eles obrigaram a todos os habitantes da cidade mais próxima a visitar os campos. As fotos dos cidadãos alemães visitando esses campos é algo muito inusitado.
      Ninguém quer ficar cabisbaixo, ninguém quer se sentir mal com alguma coisa, porém infelizmente a nossa vida é assim, a história humana é assim. Diversos acontecimentos tristes ocorreram, e o conhecimento e a reflexão sobre eles são importantes formas de refletirmos sobre o mundo e sobre a nossa própria existência.

      Abraço colega!

      Excluir
  3. Fala soul. Já foi na Libéria ou Serra Leoa ou Guiné?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não, ainda não.
      A Libéria tem uma história interessante. Foi um país projetado para receber ex-escravos das colônias americanas. Infelizmente, não deu certo. Boa parte do filme "Sr. Das Armas" passa na Libéria.
      Serra Leoa já li um livro muito interessante sobre uma criança-soldado que teve que lutar com a RUF (um grupo rebelde que chegou a capturar a capital Freetown - O filme "Diamante de Sangue" fala um pouco sobre o tema).
      Guiné não conheço nenhuma informação.
      Infelizmente, todos esses países estão sofrendo surto de ebola, e deve ter sido por isso a sua pergunta.

      Abraço.

      Excluir
  4. Muito interessante o post Soul!!
    Seu blog é excelente!!
    Grande abraço
    Green Future

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu Green! Tá sumido rapaz...
      Como estão as coisas?
      Abraço!

      Excluir
    2. Fala Soul,
      Te mandei um e-mail.
      Grande abraço!!
      Green Future

      Excluir
  5. Soul, seu relato lembra muitas de minhas experiências. Eu morei um ano na Alemanha e também conheci os campos de concentração. Nessa minha última viagem à Ásia, passei mais de uma semana no Camboja também. Concordo com seu relato, não vou ser repetitivo. Gostaria apenas de acrescentar de que é muito interessante procurar entender como na Alemanha um povo, entre os mais avançados do mundo, pode se submeter a tais desmandos e provocar tal genocídio. E no caso do Camboja, fazendo um paralelo, como confiar em salvadores da pátria podem levar você à escravidão.

    É muito nisso que se baseiam meus textos: todo poder é perverso. Não podemos confiar em algo que nos apresenta como uma redenção. Precisamos agir de forma a diminuir o poder do Estado e abominar ideias salvadoras. Genocídios ocorrem por ideais.

    Abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, André.
      A Filósofa Hanna Arendt se debruçou sobre esse tema e escreveu o muito conhecido "A Banalização do Mal". Eu nunca li nenhum livro dela, assim não posso comentar, mas ela tenta entender o que levou o povo alemão a no mínimo ser conivente com o que estava acontecendo.
      Entretanto, mais impressionante que o caso alemão, é o caso ruandês de 1994. Não sei se você está familiarizado com o que ocorreu lá, mas a coisa foi ainda mais inexplicada. Vizinhos que se davam bem, de uma hora para outra começaram a ser matar (os Hutus perseguindo os Tusti). 800 mil pessoas foram mortas em apenas três meses, a maioria delas a golpes de facão. O incrível é que isso ocorreu em 1994.
      Há filmes conhecidos sobre o episódio como "Hotel Ruanda", mas eu recomendo um filme-documentário sobre a omissão da ONU chamado "Shake hands with the Devil".
      Há um livro que li sobre o assunto que é extremamente pungente "GOSTARÍAMOS DE INFORMÁ-LO DE QUE AMANHÃ SEREMOS MORTOS COM NOSSAS FAMÍLIAS" de um jornalista chamado Philip Gourevitch. São relatos sobre o genocídio ruandês.

      Sobre o papel do Estado e sua possível relação com genocídios, eu não saberia opinar de bate pronto. Mas não me parece que isso seja um problema estatal, mas sim humano.

      Valeu pelo comentário, André!

      Abraço!

      Excluir
    2. Já li algo sobre o genocídio em Ruanda sim, Soul, mas nada muito pormenorizado. Obrigado pelas referências.

      Sim, é algo humano, mas o que é o Estado? São humanos ornados e vangloriados pelo poder e "tentados" a praticar as ações que entendem como "para o bem comum". Esse é o perigo.

      Abraço!

      Excluir
    3. Olá, André.
      Claro, qualquer instituição humana em última análise será feita por humanos. O meu questionamento é que talvez exista algo no ser humano que seja independente das instituições.
      Dizem alguns antropólogos que a história da humanidade começou com um genocídio, pois os homo sapiens sapiens (nós) teríamos exterminado outra espécie humanóide: Os Neardenthals.
      Sendo assim, colocar esses surtos de destruição que às vezes acontecem com os humanos na instituição do Estado não sei se seria correto.
      Porém, você está correto que a busca do poder pelo poder, ou ideologias do tipo "os fins justificam os meios" realmente podem desandar para situações sinistras.

      Abraço!

      Excluir
  6. conheci dois ex combatentes portugas de angola e me contaram que os pretos terroristas de la estupravam homem e mulher, depois degolavam e enfiavam paus nos cu pra sair no pescoço.

    eles tinham que matar esses caras sempre que encontrassem algum pois caso contrario, os caras os matariam e fariam essas coisas com eles tambem...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, colega.
      O nível de violência dos conflitos africanos é uma coisa assustadora mesmo.

      Excluir
    2. Os portugas eram imperialistas, não eram exatamente uns santos.... Guerras sempre foram uma desgraça.

      Excluir
  7. Pelo amor de Deus Soul,

    Faz um post feliz, pois os últimos foram só desgraça.... Até a radiação cósmica de fundo teve uma injustiça no prêmio Nobel.... Já que é pra falar de finanças e capitalismo, cita Singapura, kkkk.

    Abração,

    Canella

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dae Afegão!
      Pô, o da radiação cósmica de fundo foi o artigo que eu mais gostei de fazer nesses meses de blog:)
      Escrevi em umas 2/3horas e foi bem bacana.

      Vou falar sobre esse fantástico país num próximo artigo então hehe

      Abraço!

      Excluir
  8. Fala, Soul,

    Post muito bom. Alguns países pobres sofrem por não ter instituições fortes.


    No lado dos países ricos acontecem coisas diferentes. Vc já leu algo Zygmunt Bauman, sociólogo polones?? A humanidade se evoluir muito acaba, pois as mulheres pobres param de ter filhos, vide Canadá, Japão, Coréia do Sul, Europa...


    Os governos não se interessam muito em educar as pessoas. Pois os políticos perdem muito dinheiro.


    Abraços,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, colega.
      Conheço sim. Já li um livro dele chamado "medo líquido".
      Faz tempo e eu não me lembro muito bem para ser sincero.

      Abraço!

      Excluir
  9. Mais um post bacana, Soul. Muitos reclamam do Brasil mas desconhecem outras realidades.


    Mudando de assunto, parece que o Medina vai levar o caneco. Quem diria ver um brasileiro campeão do WCT?!


    Qual teu email?

    Abraços,

    Carioca.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Carioca.
      É verdade, e o Medina tem apenas 22 anos, caramba, muita coisa ainda pela frente.
      Mande para pensamentosfinanceiros@gmail.com

      Abraço!

      Excluir
  10. Estimado Soul,

    A - Muito bacana este post! Parabéns! Por acaso você assistiu "Indochina" com Catherine Deneuve?

    B - Um pouco de divagação e que volta e meia passa-me pela mente... Você já, ao escolher um candidato a um cargo político, escolher um que tivesse em seu currículo os seguintes atributos?:

    1 - Conhecido pelo menos 3 monumentos de lembrança dos genocídios ocorridos no século XX.
    2 - Feito uma trilha solitária como a PCT (pelo menos 3 meses de trilha).
    Se você conhecer algum candidato que tenha os atributos acima, me fale. Vai pesar muito em uma escolha que eu vier a fazer no futuro.

    Abraço fraterno,

    Carlos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Carlos!
      Já assisti sim, mas não me lembro muito para ser sincero.
      Não sei o que é PCT? É uma trilha de longa duração?

      Hum, são temas que não muito do agrado ou do interesse de boa parte da população, infelizmente. Um candidato desses não teria muito apelo popular.

      Um grande abraço!

      Excluir
    2. Soul,

      Sim! É uma trilhazinha de 4.260 km. :-)

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Pacific_Crest_Trail

      Tomei conhecimento desta trilha ao ler o livro "Livre - A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço - Strayed, Cheryl". Ela andou por essa trilha por uma extensão de uns 1.700 km. O livro virou filme aonde Reese Whiterspoon vai viver o papel da Cheryl Strayed. O filme tem estréia programada para 05 de Dezembro deste ano.

      Abraço fraterno,

      Carlos

      Excluir
  11. Fantástica postagem!
    História, cultura e, principalmente, muitos temas existenciais para refletir.

    ResponderExcluir