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sexta-feira, 19 de maio de 2017

CONSUMIR OU NÃO CONSUMIR, EIS A QUESTÃO



Olá, colegas. Sobre o que escrever? O colapso do governo atual? O circuit breaker da bolsa? Não, não estou com vontade de criar um texto mais aprofundado sobre estes temas.  Quero falar sobre um assunto muito mais fundamental, que está absolutamente relacionado com a nossa vida no dia a dia, com nossas aspirações financeiras, com nossos receios. Quase tudo se resume a isso hoje em dia, é claro que só posso estar falando de CONSUMO.



  O consumismo é a raiz dos nossos males modernos alguns dizem. Outros dizem que o consumo é a prova do nosso progresso enquanto espécie “vejam, como o consumo per capta aumentou nos últimos 300 anos, isso é sinal do progresso”.  Eu creio que essas duas visões estão erradas, e estas duas visões estão certas.  Ou seria melhor dizer que há pontos negativos e positivos em ambas as abordagens? Escolha você, prezado leitor, a forma de encarar a problemática que mais lhe agrade.



 Todos nós seres humanos somos consumidores. Nós temos que no mínimo consumir comida.  Tirando alguns povos remotos que relembram como vivíamos há 20 mil anos, também precisamos consumir produtos que nos protejam das intempéries da vida. Logo, o consumo é algo natural para seres humanos, e ousaria dizer até mesmo para outras espécies de vida. Se é algo ínsito da nossa vida enquanto sapiens, o consumo nos traz bem-estar e felicidade? É claro que traz.



 Você foi largado no meio da Sibéria no começo do outono. Não são temperaturas congelantes, mas é frio. Está sem roupa. Está com fome. Os seus pés doem por causa do frio e o contato com a terra gélida. Você está miserável, completamente infeliz. Você não tem capacidade de consumir nada, você está como veio ao mundo.  Quando tudo parece perdido, você observa uma casa. Na habitação, há uma sorridente família siberiana. Eles o convidam a entrar. Dão para você roupas quentes.   Você senta perto de uma lareira, e então sente um cheiro de comida sendo feita, sua saliva é produzida em grande quantidade. A comida, simples, estava deliciosa.  Uma cama, simples, está esperando por você.



 O seu estado de infelicidade total foi transformando num estágio de felicidade imensa, e isso só foi possível porque você consumiu coisas. Esse consumo só foi possível porque alguém colocou esforço e produziu esses bens. Portanto, pode-se dizer que o consumo trouxe bem-estar e felicidade. Pode-se afirmar também que para haver consumo é necessário que alguma prévia produção tenha existido.  Ora, se o consumo de coisas simples (no contexto de nós humanos no século 21) aumentou tanto o seu bem-estar, parece lógico supor que um consumo cada vez maior, e de coisas mais complexas, vai levar ao aumento de satisfação e bem-estar. ESSE É O PRESSUPOSTO BÁSICO DA NOSSA FORMA DE VIVER E PRODUZIR COISAS ATUALMENTE. Ele parece lógico.



  Você então pega um trem até Moscou. E de lá volta para a sua vida de classe média no Brasil. Olha então em sua volta, um belo apartamento. Um carro esteticamente muito bonito na garagem. Uma geladeira cheia de comida.  Você tem um padrão de consumo muitas vezes maior do que aquele  experimentado na cabana da Sibéria, mas você é pego várias vezes refletindo naquela noite na Rússia, e como você se sentia tão ou mais realizado do que se sente atualmente. Mas como? Um aumento grande da sua possibilidade de consumo não traduziu necessariamente num aumento do seu bem-estar.  BEM-VINDO AO SUPOSTO “PARADOXO” DA VIDA DOS DIAS ATUAIS PARA MUITOS SERES HUMANOS.


  Quem já não sentiu isso? Eu, por exemplo, já experimentei diversas vezes essa sensação. Estou com fome, frio, triste, até um pouco mal-humorado, e de repetente me vejo aquecido, comendo uma sopa com pão junto com pessoas alegres, e o meu “coração” se enche de alegria, sinto um bem-estar indescritível.  O meu patrimônio superou uma determinada faixa que muitos considerariam bastante dinheiro, e eu não sinto nada demais.  Mas como isso? Se um patrimônio maior me permite consumir muito mais?


  Alguns tentam explicar esse aparente paradoxo, pelo menos os blogs financeiros, saindo-se com  a ideia de que consumir mais não traz bem-estar necessariamente, e que pode eventualmente manter você num estado de pobreza, ou ao menos de não-liberdade.  “Não consumo em demasia, pois assim eu posso investir mais, e ser mais livre”, mas as pessoas ao defender isso não se dão conta de que não se está  explicando a aparente contradição entre aumento da possibilidade de consumo e manutenção ou às vezes decréscimo na sensação de bem-estar.


  E por que não? Porque às vezes a noção de equilíbrio não é muito bem entendida ou discutida em nossa sociedade hoje em dia.  Tente se recordar da suas aulas de ecologia na escola. Lembra-se da palavra Clímax? Vou aqui colocar uma pequena definição que está na Wikipedia:



"Este estágio é caracterizado por compreender espécies que são as melhores competidoras da comunidade local. Geralmente as espécies vegetais climáxicas (e.g. típicas do estagio Clímax) são de maior porte, além de mostrar alta eficiência entre produção e consumo de nutrientes. No estágio clímax, quando uma espécie é extinta, outra espécie típica de clímax a substitui, mantendo a ciclagem entre as comunidades de florestas e outros habites de topo na sucessão ecológica.


Comunidade clímax representa uma situação natural em que a comunidade permanece com um nível estável em freqüência de espécies (biodiversidade), onde a variabilidade dos recursos ambientais mantém-se pouco ociosa. Em clímax, a comunidade apresenta é apenas leves modificações, causadas por pequenos distúrbios, que não a descaracterizam e rapidamente normalizam sua eficiência funcional.


Ao se aproximar do clímax, uma comunidade demonstra uma tendência ao aumento na variedade de espécies, na complexidade funcional e alimentar das populações de plantas e animais."



Uma comunidade em clímax, do ponto de vista biológico, é aquela onde se atinge um grande grau de variabilidade de espécies  compatível com os recursos daquele ecossistema, onde quando há a extinção de uma espécie quase que imediatamente o seu nicho é ocupada por outra , onde a comunidade encontra-se num equilíbrio dinâmico, basicamente é quando ocorre a explosão de vida e de variedade de espécies.


Não preciso dizer que a humanidade está ajudando a produzir, do ponto de vista ecológico, um anticlímax, mas não vai ser esse o ponto pelo qual o artigo irá continuar. O que quero chamar é que a natureza chega a seu esplendor quando ela de alguma maneira consegue achar um ponto de equilíbrio entre uma gama quase inimaginável de espécies convivendo num mesmo ecossistema.  Não se chega num clímax quando há alguma espécie que simplesmente monopoliza quase todos os recursos existentes, isso se assemelha mais ao comportamento de um câncer. Não é de se estranhar, portanto,  que sistemas humanos equilibrados tendem a produzir resultados mais satisfatórios.  Não é estranho também ver pessoas infelizes com grandes desequilíbrios em suas vidas.


A questão do consumo em nossos dias, em minha opinião, está intimamente ligada com o desequilíbrio em nossas vidas. Se voltarmos ao exemplo da cabana na Sibéria, podemos concluir que muito provavelmente além do consumo, a presença de outros seres humanos acolhedores, fizeram você se sentir melhor.  Talvez naquele momento, consumo, empatia, relacionamento com outros indivíduos da mesma espécie, estivessem em equilíbrio, e isso trouxe uma sensação aguda de bem-estar. 


Talvez de volta ao seu belo apartamento e carro, outros elementos de sua vida não estejam equilibrados. Qual foi a última vez que você viu a sua mãe?  Há quanto tempo você não toca aquele violão encostado na parede, algo que te dava imenso prazer? Qual foi a última vez que alguém olhou nos seus olhos e perguntou sinceramente “como você está”? E a dor na coluna que incomoda você quando fica horas sentado? As perguntas podem continuar , mas acho que fica evidente os diversos desequilíbrios que podemos ter em nossa vida, independente da nossa capacidade de consumo.


É claro que nada do que estou falando é novo. A própria famosa pirâmide de Maslow de certa maneira trabalha esse conceito, apesar de fazer em níveis, não como uma forma de equilíbrio entre as diversas "necessidades". Entretanto, é incrível como a esmagadora maioria das pessoas em busca de um consumo maior está no processo desequilibrando ou atrofiando outras partes de suas próprias vidas. Ou pior, a humanidade na busca por um aumento maior de consumo, de coisas não necessárias para o nosso bem-estar, pode estar produzindo um imenso desequilíbrio no próprio ecossistema de que necessita para sobreviver.


Há tantas referências que esse artigo poderia citar, há tantos caminhos pelos quais poderia percorrer daqui, que isso poderia se transformar no capítulo de um livro. Porém, vou deixar o texto sucinto e me encaminhar para o seu final.


O consumo é fundamental para o bem-estar humano. O consumo está longe de ser o único ingrediente para uma vida satisfeita. Quando o consumo se torna não só o principal, mas quase que o único incentivo de um indivíduo, ou até mesmo de uma sociedade, parece-me evidente que há um grande desequilíbrio, há um anticlímax, com consequências danosas para o indivíduo e para o agrupamento humano. 


Muitos sentem isso, inclusive leitores desse espaço, que dizem dos meus textos “o que eu gosto é que você consegue perceber que há algo além da economia, finanças, etc, eu também sinto o mesmo”, é evidente que há, amigos leitores. 


Consumir é uma atividade humana. Não apenas o consumo de itens essências à nossa sobrevivência vai nos causar aumentos expressivos de bem-estar. A tecnologia humana cada vez mais complexa nos permite fazer coisas que seriam impensáveis há dezenas de anos, o que dirá há centenas de anos, como o fato de você poder ler esse texto produzido por alguém que não é famoso e não possui espaço numa mídia impressa, podemos refletir em milhares de outros exemplos. Porém, também é fato que a tecnologia de instrumento das pessoas pode passar a ser o senhor das mesmas, algo que vem ocorrendo com assustadora frequência, um tema interessante para outro artigo.


Agora, quando a busca por mais consumo se torna um fim em si mesmo (ou a busca pelo acúmulo de mais patrimônio), a razão quase que única de nossas existências, nos afastamos de uma vida equilibrada, e é quase certo que isso apenas nos trará insatisfação subjetiva imensa, e você não precisa ser um grande cientista social para perceber isso, basta olhar a sua volta.


Depois de cinco dias de viagem, chegamos a esse local remoto no meio da Mongólia. Ainda demoraria mais 10 dias até chegarmos ao extremo oeste do país. Não havia nem mesmo resquícios de qualquer estrada. Foram 12 horas passando por lugares incríveis, rios, pedras, nômades, até que paramos nesse lugar para acampar. Equilibrado me senti nesse momento, feliz e satisfeito com o macarrão simples, a tenda apertada e o visual sublime e único.





Agradeço todos os amigos que mandaram mensagens de e-mails, ou no blog mesmo, querendo participar do sorteio do livro. Pretendo fazer outros sorteios de livros, de finanças inclusive, e vou ter que bolar uma forma melhor de assim fazer. Nesse primeiro, a leitora Ana Paula levou, espero que goste dos livros do Sr. Saramago.




Um abraço a todos!

63 comentários:

  1. Muito bacana parabéns

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  2. Excelente, Soul!

    Alguns trechos lembram a série Black Mirror. Você é um conservador e nem sabe! rs

    Abraço.

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    1. Olá, colega. Se for conservador no sentido atribuído pelo conservador Roger Scruton ("O conservador é aquele que tem apreço pelas coisas que o define e tenta de alguma maneira manter aquilo que para ele é importante " - algo mais ou menos assim), tenho muitas facetas conservadoras sim. Porém, eu creio que a natureza possui um padrão emergente, e ainda por cima creio que Buda há 2500 anos "descobriu" a natureza impermanente de tudo, logo o conservadorismo em certa medida entra em contradição com esses conceitos.

      Um abraço!

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  3. Olá Soul

    Há muito acompanho os seus textos mas pouco comento, hoje no entanto bateu aquela vontade e cá estou rs.

    Primeiramente gostaria de dizer que o admiro e que a cada texto e foto que você publica consigo visualizar e sentir um pouco da energia que você transmite.

    Com relação ao texto eu acredito que penso da mesma maneira pois viver uma vida equilibrada em todos os sentidos é muito melhor. Muitos blogueiros que buscam a independência financeira abrem mão de boa parte do seu tempo e recursos via aporte para atingir tão mais rápido possível este objetivo para só então curtir o que a vida tem a oferecer.

    No entanto eu penso como Gandhi onde ele diz que " Não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho" neste pensamento refletindo eu chego a conclusão de que temos que aproveitar todo o caminho que a vida nos mostra dia a dia aproveitando as pequenas coisas que ela nos oferece seja um bom cochilo em uma tarde chuvosa, (para isso não precisamos morar em uma mansão), seja um belo passeio ao ar livre com quem gostamos ( Não precisamos estar em paris), ou saborear aquele rodizio de pizza (Nao precisamos estar na italia) e tantas outras coisas que estão a nossa mercê mas que muitas vezes teimamos em querer complicar.

    O nosso maior patrimônio é o nosso corpo, ele estando saudável com uma mente sã podemos aproveitar o que de bom a vida tem a oferecer. Eu também não consigo me imaginar longe da minha família e amigos vivendo em um apartamento de luxo nos EUA por exemplo pois não teria a mínima graça sem eles por perto.

    Acho que divaguei demais rs, emfim, consumir faz bem sim mas em dose moderada pois tudo o que é demais não faz bem. Ora pois não dizem que hoje vivemos uma vida muito mais confortável que um rei em séculos passados? Os avanços que a tecnologia trouxe são sem igual para o desenvolvimento da nossa sociedade mas são poucas, diria que são raríssimas as pessoas que conseguiram viver nos dias de hoje se tudo o que foi conquistado nos últimos 100 anos desaparecesse do dia para a noite.

    Grande abraço

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    1. Olá, Mestre. É sempre um prazer ver um comentário seu. Sempre que posso dou uma olhada no seu blog.

      Grato pela mensagem, principalmente pela fase de Ghandi que não conhecia. Achei lindíssima "Não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho", nossa que frase maravilhosa. Obrigado por enriquecer esse espaço.

      Meu amigo, tirar um cochilo numa tarde chuvosa é um daqueles prazeres da vida que temos que nos permitir de vez em quando. Pizza brasileira é a número um do mundo, eu adoro dizer isso para os italianos e Paris é realmente muito bonito, mas um passeio descontraído com que você gosta (filhos, amigos, parentes) pode trazer muito mais satisfação do que um jantar de luxo num restaurante três estrelas michelan.

      Sim, colega. Conhece um pouco do estoicismo? Creio que lá podemos encontrar muitas respostas, e muitas práticas para o mal que o excesso de conforto está fazendo em nossas vidas.

      Um abraço!

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  4. Ótimo texto Soul. Voltei a ler o seu blog e pelo jeito está melhor do que nunca. Um abraço!

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    1. Legal que tenha voltado a ler os meus textos, Igor, fico feliz.
      Um abraço!

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  5. Mais um excelente texto Soul!

    Já leu o livro Early Retirement Extreme, do Jacob Lund Fisker? Ele também tem umas idéias bem interessantes sobre consumismo (dentre outras). O site dele é http://earlyretirementextreme.com/ . Eu, inclusive, me identifico mais com o que ele escreve do que com o MMM.

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    1. Olá, colega. Belo nickname!
      Claro, o Jacob é uma lenda na internet já. O Blog dele começou em 2007-2008 se não me engano. Eu leio mais MMM, mas o Jacob realmente é um sujeito interessante. Se não me engano ele é físico, faixa preta de alguma arte marcial, um sujeito que deve ser interessante conversar algumas horas.
      Um abraço!

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    2. Obrigado hehehe! O MMM tem muitas idéias interessantes também. Eu acho o Jacob menos comercial, vemos até pelo site de ambos a diferença. Agora conteúdo por conteúdo, eu gosto dos dois. Além das idéias sobre consumo, outro conceito muito legal é sobre ser um "renaissance man" (vs especialista). Grande abraço!

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  6. Soul, boa noite.
    (Parte I)
    Este tema é frequente nos meus pensamentos pois no médio prazo pretendo retirar-me desse sistema que foi desenhado no pós-guerra (produção em massa de itens de consumo com obsolescência programada) baseado na aquisição de itens de consumo via trabalho remunerado mês-a-mês.
    Por que me interessa tanto? Porque associada a aposentadoria precoce que começa se delinear no meu horizonte planejo uma vida simples/frugal, tema bem conhecido de todos que se interessam por outra vida possível, baseada mais em experiências do sentir do que em experiências do possuir.
    Então, minha contribuição hoje vem de um autor que enxerga o consumismo sob outro ponto de vista – que quase sempre nos passa desapercebido – pois quando pensamos em consumo, imediatamente imagens de carros, roupas, shoppings centers nos vêm à mente.
    Cerca de um ano atrás, conheci um livro do autor chileno Tomás Moulian de título “El consumo me consume” (desconheço se há edição em português). É um livro pequeno, de leitura rápida, mas com ideias que incomodam. Veja um extrato (em tradução livre minha):
    “consumir é uma operação cotidiana e imprescindível que está ligada à reprodução material mas também espiritual (cognitiva, emocional, sensorial) dos indivíduos. É um ato ordinário ligado ao desenvolvimento vital e é o objetivo desse intercâmbio incessante dos homens com a natureza que denominamos trabalho. Se é uma atividade tão imprescindível, por que está, frequentemente, submetida a um asqueroso escrutínio moral? A pergunta deve ser respondida antes de iniciar uma reflexão crítica sobre o consumo. Elaborar um discurso crítico sobre esta atividade de reprodução e expansão do indivíduo não deve ser reduzida a interpretá-la como desejo (ou seja, como um impulso que supera o uso necessário e instrumental), para, na sequência, classifica-lo como patologia ou desvio. Se é realizada essa operação de maneira simplista, não compreenderemos as dinâmicas sociais do consumo em sua complexa relação com a subjetividade do indivíduo, indivíduo este lançado a incerteza de viver nas sociedades neoliberais do capitalismo globalizado.”

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  7. (Parte II)
    Esse capítulo server de introdução para a ideia de que o ato de consumir vai além do clichê que estamos acostumados a reconhecer. O autor descreve seus próprios desejos e ações consumistas (e é este ponto que me identifico sobremaneira e que estou analisando como equilibra-lo na minha vida pós-IF). Segue mais um trecho traduzido:
    “Confesso ser um consumidor obsessivo e viciado. Não gosto dos shoppings, mais por princípios. Basicamente, não gosto pela sensação de claustrofóbica e artificialidade, não por desapego dos objetos. Se não me interessam as roupas, os automóveis, por outro lado, sou obcecado pelos livros, pela gastronomia e pelas viagens. Quando se trata de perseguir meus prazeres e desejos, minha relação com o gasto carece de planejamento e de princípios éticos. Se estou comendo no Flaubert ou no ‘Kilão’, não sinto remordimentos. Gastaria todo meu dinheiro, sem cálculos algum, nas livrarias e convidaria meus amigos e meus filhos a irem aos restaurantes mais sofisticados e beber esses vinhos que não encontramos nos supermercados. E iria amanhã mesmo à Madrid só pelo prazer de ver El jardin de las delicias en el Museo del Prado.
    O autor defende que o consumo é considerado unicamente desde o recorte da necessidade baseado em uma larga tradição analítica, inspirada nos princípios da moral cristã da austeridade. Mais do que isso, para ele, o autocontrole o controle de si mesmo é visto por certas éticas cristãs como um caminho indispensável da perfeição, realizado através da penitência e do ascetismo, formando assim, parte da matriz cultural do desapego e da crítica ao mundano – uma espécie de negação do gozo terreno em função de sua postergação para o gozo Verdadeiro.

    Diferente, estranho. O que o autor defende ao longo do livro é que o problema do consumo deve ser analisado desde três figuras ético-culturais: o asceta, o hedonista e o estoico.

    Desculpe o tamanho do texto. Achei importante pois nunca havia me considerado consumista até lê-lo; depois dessa leitura, me dei conta que, se eu não sou consumista de roupas, sapatos e bolsas, sou sim consumista de livros, filmes, ou seja, de bens culturais. É algo ruim?

    Anna Kellner

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    1. Olá, colega. Grato, irei procurar esse livro (já inclusive anotei aqui).
      Do próprio texto que escrevi: "Consumir é uma atividade humana. Não apenas o consumo de itens essências à nossa sobrevivência vai nos causar aumentos expressivos de bem-estar. A tecnologia humana cada vez mais complexa nos permite fazer coisas que seriam impensáveis há dezenas de anos, o que dirá há centenas de anos, como o fato de você poder ler esse texto produzido por alguém que não é famoso e não possui espaço numa mídia impressa, podemos refletir em milhares de outros exemplos. Porém, também é fato que a tecnologia de instrumento das pessoas pode passar a ser o senhor das mesmas, algo que vem ocorrendo com assustadora frequência, um tema interessante para outro artigo."
      Eu iria colocar o consumo de viagens, livros, cinemas, também, mas não sei porque o fiz.
      Não há nenhum problema em consumir, como o texto procurou enfatizar. O consumo, para além de itens essenciais, também pode nos trazer satisfação, como parece ser o ponto do autor citado.
      Agora, parece-me haver uma diferença de alguém que gosta de assistir filmes e ler livros e o faz de maneira obsessiva, com alguém que consome sapatos, roupas e carros de forma obsessiva. Não creio que nenhuma obsessão desse tipo seja saudável, pois realmente acredito no equilíbrio como forma de atingirmos graus maiores de satisfação. Posso gostar muito de ler livros, mas se eu apenas ler livros e não interagir com pessoas que gosto, provavelmente não serei satisfeito. Posso gostar muito de assistir filmes, mas se eu não tiver uma boa saúde e devotar tempo para a minha saúde, não serei satisfeito.
      Se nosso problema atual de consumo fosse com pessoas querendo ler mais livros e consumir mais itens de "bens culturais" ele seria bem menos problemático do que é hoje, em minha opinião.

      Um abraço

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  8. Essa história de consumismo é bem polêmica. Somos seres humanos e imperfeitos. O que é bom para um não é para outro. A classificação de consumo pode ser descrita como consumo básico para a sobrevivência e também como consumo supérfluo, quem faz a classificação? Você mesmo.

    O consumo é diferente de consumismo, uma coisa é momentâneo a a outra é contínua. Quando você compra lá seu iPhone 4, você compra para consumir mas quando você troca todo ano pelo 5, 6, 7, 8, ...1000, pode virar consumismo.

    Tem gente que já me disse que eu sou consumista por gostar de viajar e viajar muito. Um amigo croata me perguntou por quê eu estrago dinheiro com viagens se posso ver tudo pelo National Geographic e eu perguntei por quê ele gastava tanto dinheiro com cerveja e cigarro se ele poderia praticar esportes de graça e melhorar a saúde diminuindo a pança gigante que tinha.

    Enfim, vai da cabeça de cada um consumir o que te faz bem e saber onde buscar esse conforto. Já estive em situações bem difíceis, molhado onde só desejava estar em casa, na sala olhando a chuva cair através da janela e bem agasalhado e também já estive em Paris no dia 24 de dezembro somente desejando pegar o voo e estar com a família no interior da cidade sentado a uma mesa de madeira feita por nós mesmo.

    Abraço!

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    1. Olá, BPM!
      Eu concordo que há um grau de subjetivismo nisso tudo, mas apesar dessa ser uma resposta padrão em muitos lugares, eu creio que ela é um pouco contrastante com a realidade que nos cerca e com a sensação geral de mal-estar.
      Se há certo receio em afirmar que determinadas condutas causam bem-estar e outras nem tanto, sobre o manto do subjetivismo do indivíduo "o que é melhor para mim, pode não ser o melhor para você". Isso é apenas uma meia verdade.
      Se é verdade que você pode gostar de viajar e o seu amigo croata gostar de beber cerveja, também é verdade que a sua mãe adoraria estar contigo mais vezes, bem como a mão do croata adoraria estar com ele mais vezes (assumindo que ambas morem longe e ainda estejam vivas, que é o que espero).
      Se é verdade que posso gostar de filmes iranianos, e você de filmes americanos, também é verdade que ambos gostamos quando estamos realizando atividades com pessoas que admiramos ou gostamos.
      Se é verdade que algum item de consumo pode ser essencial para mim, mas supérfluo para você, também é verdade que há inúmeras pesquisas que mostram que há um teto relacionando renda (ou seja capacidade de consumo) com sensação subjetiva de bem-estar, ou seja, a partir de uma certa capacidade de consumo, aumentos nessa condição não se traduzem em aumentos no bem-estar subjetivo.

      No mais, concordo contigo no seu último parágrafo, e pode acreditar que fazer coisas com as próprias mãos traz uma sensação de bem-estar muito maior do que simplesmente consumir coisas feitas por outros.

      Abraço!

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  9. Soul, eu tenho uma excelente renda, um excelente patrimônio e muito medo do futuro. Isso me leva a um excesso de preocupação com dinheiro,o que me faz consumir somente aquilo que é necessário. Sou sempre criticado pelas pessoas a minha volta que dizem que eu deveria curtir mais a vida e não pensar tanto em dinheiro: "um dia você vai se arrepender". Minha luta hoje em dia é para encontrar um meio termo,entretanto acredito que 90% das minhas atitudes com relação a dinheiro estão corretas, só que ainda não consigo conter os meus exageros(kkk). Minha visão do mundo atual é que a maneira que as pessoas consomem hoje em dia as escraviza, pois faz com que elas tenham que trabalhar mais para satisfazer as necessidades infinitas de consumo.

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    1. Olá, colega. Então somos dois, talvez em graus diferentes. Eu realmente não tenho problema com gastos, mas sou conservador, e há bastante tempo pergunto se é suficiente, se mais um pouco não é melhor, etc.
      Venho melhorando bastante, e creio que aparentemente você também. Se 90% das suas decisões, no seu julgamento, estão corretas em relação ao dinheiro, foque nos 10% que talvez não estejam tão correto, que o seu bem-estar geral deve melhorar bastante.
      Abraço!

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  10. Olá Soul

    Obrigado por me lembrar da pirâmide de Maslow. Estava falando dela para meu primo, mas não lembrava do autor.

    Sobre o texto, ele serve de resposta para pessoas que não entendem a razão de pessoas com muito dinheiro continuar a trabalhar. pessoas famosas se suicidarem (como Chris Cornell recentemente..)

    Um ponto que acho interessante, é que vejo poucas pessoas buscarem o equilíbrio. Preferem consumir determinada coisa em demasia em troca de um bem-estar "superficial".

    Abraço!

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    1. Olá, I.I.
      É verdade, colega. O trabalho, quando ele possui sentido, é uma forma muito grande de bem-estar, a nossa relação com o trabalho que está desequilibrada, não o trabalho em si.

      Um abraço!

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  11. Blz Soul,

    Duas barracas?
    Vc e sua mulher dormiam separados?
    Kkk

    Bom texto

    O campista

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    1. Olá, colega. Não, uma amiga brasileira estava viajando com a gente.
      Um abraço!

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  12. Consumir é a nossa sina, nosso motivo para existir. Mas há consumos e consumos, viajar é uma forma de consumo, fazer sexo é uma forma de consumo, no final das contas, tudo é consumo. Gosto deste texto...

    Embriagai-vos!

    Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

    Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

    E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

    - É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!

    Charles Baudelaire , Petits poémes en prose, 1869.

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    1. Olá, UB!
      a) Não acho que o ato sexual seja um consumo, aliás tratar o sexo como se fosse um consumo é que está nos levando a alguns problemas.
      b) Sobre a poesia de Baudelaire, http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2015/08/embriague-se-de-vida-uma-ode-nossa.html

      Um abraço!

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    2. Mas o sexo sempre foi objeto de consumo e continuará sendo, é um mercado que gira milhões, rs.

      Abraço!

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    3. Olá, Alexandre. Com certeza há um imenso dinheiro na exploração do sexo, sexualidade, etc. Agora o ato sexual eu não creio que seja um ato de consumo.
      Um abraço!

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  13. Olá Soul! Ótimo texto!

    No fim das contas, a gente percebe que o que nos traz felicidade é o equilíbrio. Porém, assim que o alcançamos, queremos subir um patamar. E geralmente é nesta subida de patamar que o desequilíbrio começa. A classe média é o maior exemplo disso. Uma etapa de transição, que pela essência deveria ser temporária, acaba se tornando objetivo de vida para muitas pessoas.

    É por este motivo que se observa o fenômeno de pessoas que pouco tem, mas com equilíbrio, e são mais felizes do que pessoas que muito tem, porém a muito custo e sacrifícios intermináveis.

    Interessante observar que, mesmo em um ecossistema que atingiu seu clímax, ainda existe conflito. Existe a relação presa/predador e existem parasitas. As melhores lições de bem estar e administração vêm da própria natureza!

    Um abraço!

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    1. Investidor Wannabe, grato colega.
      Só não existe conflito humano num cemitério ou numa ditadura totalitária (e mesmo assim sempre conflitos humanos não ditos se acumulam). Isso é outra lição importante, a existência de conflito humano não é algo ruim per si, é apenas algo normal em nossa existência. Logo, é muito mais fácil se aprendermos como lidar com os diversos conflitos da maneira mais equilibrada possível.

      Abraço!

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  14. Boa Soul,

    Seu blog é sempre um não correlacionado com o mercado ... acho que esse processo no mundo inteiro está aumentando principalmente por causa da exposição em redes sociais... sempre houve pessoas que gostaram de contar vantagem .. mas agora eu posso contar vantagem 24h por dia ...

    Penso que as pessoas se conhecem cada vez menos ..e vivem cada vez menos pra si mesmas ... sempre buscando aprovação ... eu penso que ..se nem Jesus agradou a todos .. quem sou eu ...

    Abs,

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    1. É verdade, Rodolfo.
      Escrever um blog sobre temas mais polêmicos me mostra claramente como é difícil agradar a todos, e como é ilusório basear a nossa satisfação nisso.
      Abs!

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  15. Caro Soul,

    passando aqui para lhe recomendar o filme: About Time (Questão de Tempo). O inicio do filme é bem bobo, mas a história vai melhorando a medida que o personagem vai amadurecendo. Bom para assistir com a esposa em uma tarde de marasmo.

    Att.
    Bob Lucas

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  16. Se eu enricasse um dia (extremamente impossível), eu queria ao menos conforto. Não status, mas conforto. Fácil para quem nunca passou dificuldade financeira largar tudo e dizer que menos é mais. Agora para quem já nasceu lascado e fracassado como eu dá até para sentir é inveja dessas pessoas.
    Mas cada um faz o que quiser de suas vidas e ninguém tem culpa da minha ser assim.

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    1. Olá, colega. O desconforto te faz mais forte. Se você já é acostumado ao desconforto, então talvez saberá aproveitar bem mais o conforto, que como a própria palavra diz é confortável.
      Não sinta-se assim não colega. Nunca podemos saber o que nos espera na vida, mas ao menos cabe a nós nos esforçarmos.
      Um abs!

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    2. Meu esforço é inútil considerando as condições de minha vida. Me pego pensando se já não passou da hora de eu me jogar na frente dos caminhões, pular da ponte ou colocar a corda no pescoço.
      Eu posso parecer novo mais minha revolta tem fundamento. A vida que eu levo e as coisas que passo são dignas do inferno. Nem estudar mais parece uma solução. Eu me sinto sufocado, com um fardo enorme nas costas. E eu sou tudo de ruim que existe: mal-amado, covarde, fraco, mentiroso, desleixado, apático, feio e um monte de coisas que nem vou citar. Agora por exemplo eu estou quase passando fome e não temos dinheiro para absolutamente nada. É melhor acabar com tudo isso antes que eu sofra mais ainda no futuro.

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  17. Belo post, Soul.


    Parece que o consumismo e a inveja são algumas das causas da corrupção. O que vemos é uma relação de inveja que alimenta os atos ilícitos. Como exemplo, políticos invejam o poder e o dinheiro de grandes empresários, invejam seus iates, suas esposas bonitas e siliconadas, invejam suas mansões. A partir daí pedem dinheiro para comprar esses luxos, esses troféus valorizados por grande parte da sociedade.

    Vemos o caso do Aécio Neves, que foi muito pouco comentado pela blogosfera, ele já era rico, possuía imóveis caríssimos, qual seria a necessidade de pedir 2 milhões ? Por anos também vimos as bajulações do Sérgio Cabral em relação ao Eike Batista.


    A inveja parece mover o mundo.

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    1. Olá, colega. Pois é, talvez a inveja seja um dos instrumentos poderosos mesmo. Não creio ser único, e nem o mais importante, mas ele tem o seu peso (entendendo inveja como o desejo negativo em relação a outras pessoas, não como um desejo genuíno de melhorar tendo como base pessoas as quais se admira).
      Abs

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  18. Caro Soul, te parabenizo pelo ótimo artigo. Acho que podemos usar o equilíbrio também nas relações políticas, como vc já até se manifestou em artigo anterior quando falou que hoje em dia não deveria existir mais a dicotomia `direita-esquerda`.

    Abraços.

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    1. Olá, Antonio.
      Talvez. No caso da dicotomia direita x esquerda, eu apenas acho que ela não ajuda a resolver problemas concretos. Eu creio que temos problemas humanos e a soluções que fazem mais ou menos sentido, não precisamos colocar um rótulo nisso.
      Abs!

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  19. Soul,

    Como eu, parece que você gosta de Saramago, também. Logo, se algum dia for visitar Portugal, não deixe de colocar em seu planejamento, e primeiro passo, ler previamente o livro dele de nome "Viagem a Portugal". Creio que conseguirá planejar uma viagem bem mais enriquecedora.

    Abraço fraternal,

    Carlos M. Marques

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    1. Carlos! Como você está meu amigo? Saudades de você e seus comentários.
      Como você está, e sua família?
      Espero que esteja tudo bem, já se mudou para Portugal?
      Um grande abraço!

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  20. olá Soul.

    No que diz respeito a consumo. Eu por exemplo, tento consumir de uma maneira inteligente e equilibrada. No momento estou usando um celular top de linha. Ele é um decacore, 2k de tela, 64gb, 4gb ram e por aí vai. E paguei menos do que se paga por um motog que possue configuração mais modesta.

    Costumo fazer isso em tudo. Procuro produtos semelhantes e de qualidade por preço mais atrativo e justo.

    Abs.
    EQRP

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    1. Olá, EQRP!
      Eu procuro fazer o mesmo também. Cinema é em dia de promoção, sempre conseguimos achar restaurantes muito bons com preços razoáveis, etc, etc.
      Um abraço!

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  21. Olá Soul!

    Coincidentemente estou lendo Your Money or Your Life. A Vicki Robin trata justamente desse tema com maestria. Achar o ponto de equilíbrio à partir do qual "mais consumo" não se converte em "mais felicidade" é o pulo do gato. Suficiente é um termo que parece não ter vez em nossa sociedade cada vez mais consumista. Estamos a cada dia mais ricos e não necessariamente mais felizes. Ou até mesmo muito mais infelizes. E ao mesmo tempo consumimos recurso naturais num ritmo muito mais acelerado que o ritmo de renovação do planeta. Estou seguindo os passos do livro, mas devo te dizer que mudar o "mindset" não é fácil. O bombardeio publicitário é cada vez maior. Até as redes sociais viraram um meio publicitário imenso que vende a idéia de que a felicidade está intimamente associada à riqueza material. Viagens caras, destinos luxuosos, hotéis caros e por aí vai. Mudar o mindset, pelo menos para mim, significa manter vigilância constante e leitura de temas relacionados de tempos em tempos. Me sinto como um viciado em drogas pronto a cair novamente em desgraça por influência do meio. Mas fico muito feliz em ver minha evolução nos últimos anos.

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    1. Olá, Allan.
      Belo exemplo. Se você entender inglês suficientemente bem, recomendo essa entrevista da Vicki Robin: http://www.madfientist.com/vicki-robin-interview/

      Você irá perceber que a parte do your money or your life é apenas uma parcela de quem é a autora é.
      Isso eu tenho bem resolvido em mim. Não sinto nenhuma compulsão por hotéis caros, carros de luxo, etc.
      Pelo contrário, quando se viaja, a viagem se torna muito mais vazia quando a pessoa se isola num ambiente de um hotel de luxo. Prefiro muito mais dormir no chão junto com uma família iraniana, por exemplo. Para mim é uma experiência muito mais "luxuosa", e esse é o mind set que talvez faça tudo ser mais fácil, mais significativo e mais barato.

      A associação que você faz com a dependência do luxo e o sentimento de ser viciado em drogas, é o mesmo que o MMM faz nesse artigo http://www.mrmoneymustache.com/2013/08/29/luxury-is-just-another-weakness/

      Sugiro a leitura.

      Continue em frente em sua jornada, você verá que há muitas coisas positivas pelo caminho.

      Abraço!

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    2. Muito bacana a entrevista, Soul! Obrigado mesmo.

      Esse artigo do MMM eu havia lido há um tempo, mas é um tema que nunca envelhece e foi muito bom fazer uma nova leitura. Talvez daí venha essa associação no meu subconsciente, afinal muito dos pensamentos e idéias que temos vêem de leituras do passado.

      Boa observação sobre o verdadeiro "luxo" durante as viagens.

      Abraço!

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  22. Não sei se você conhece a citação, mas quando a li, lembrei-me de você e de seu post em que fazia referência ao Mujica e ao vídeo Human:
    É do Antônio Cândido:
    "“Acho que uma das coisas mais sinistras da história da civilização ocidental é o famoso dito atribuído a Benjamim Franklin: ‘tempo é dinheiro’. Isso é uma monstruosidade. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida. É esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo. Esse tempo pertence a meus afetos. É para amar a mulher que escolhi, para ser amado por ela. Para conviver com meus amigos, para ler Machado de Assis. Isso é o tempo. E justamente a luta pela instrução do trabalhador é a luta pela conquista do tempo como universo de realização própria. A luta pela justiça social começa por uma reivindicação do tempo: ‘eu quero aproveitar o meu tempo de forma que eu me humanize’. As bibliotecas, os livros, são uma grande necessidade de nossa vida humanizada"."

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    1. Olá, colegas.
      Reflexões interessantes nessa citação.
      A parte final que fala sobre justiça social relacionada a trabalhadores talvez seja um pouco desfocada em relação à primeira parte que poderia se aplicar a um Fenício antes de cristo a um executivo de Cingapura nos dias de hoje.
      Um abraço

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  23. Tocqueville, A Democracia na América:

    "Vejo uma multidão infinita de homens iguais e afins que se voltam sobre si mesmos sem descanso, procurando os prazeres pequenos e vulgares com que alimentam a alma. Cada um deles, retraído e solitário, é como um estranho para o destino de todos os demais: seus filhos e seus amigos particulares formam toda a espécie humana para ele; quanto a seus concidadãos, ele está ao lado deles, mas não os vê; ele os toca e não os sente; só existe em si mesmo e para si mesmo. Quanto mais o estado se colocar no lugar das associações, mais os indivíduos, perdendo a ideia de se associarem uns aos outros, precisarão de sua ajuda. A moralidade e a inteligência de um povo democrático estariam em perigo, tanto quanto seu negócio e sua indústria, se o governo tomasse o lugar das associações em toda parte. É só com a ação recíproca entre os homens que os sentimentos e as ideias se renovam, o coração se engrandece e a mente humana se desenvolve.

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  24. Soul, será que a perda do poder de consumo ajudou a aumentar as mortes dos americanos ?

    As chamadas"mortes por desespero", ao que tudo indica, têm motivação econômica.

    https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/economia/2017/04/18/mercado-de-trabalho-exigente-leva-desespero-a-jovens-nos-eua.htm

    http://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/25/opinion/1490464530_033332.html

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    1. Colega, se a ausência de níveis de consumo ocasionasse a morte por desespero, não haveria mais ninguém em países como República Democrática do Congo, Sudão, etc.
      Agora, a pressão social pode realmente ser enorme, e se a pessoa associa o seu sucesso enquanto ser humano única e exclusivamente ao seu sucesso enquanto pessoa capaz de consumir mais e mais, então realmente temos um grande problema de desequilíbrio.
      Abs

      obs: antes de postar o comentário li o artigo, mas não o estudo referendado no artigo. Não vi a relação direta, nem mesmo no artigo, entre perda do poder de consumo e aumento das mortes. O que os próprios estudiosos relataram é que a perda de empregos seria apenas uma das razões, mas não seria nem mesmo a mais profunda. A mais profunda tem relações com a emancipação feminina, a possibilidade de divórcio, a falta de encontrar um espaço na comunidade, entre outros.
      Sim, estou de acordo, e talvez esse seja um dos motivos das mortes entre hispânicos e negros ter ficado estável e diminuído um pouco, o senso de comunidade e esperança costumam ser bem maiores.

      Um abraço

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  25. Soul, você pode comentar sobre "aquecimento global"?

    Gelo desaparecerá do Ártico em 2014, diz Al Gore
    http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1415375-9356,00-GELO+DESAPARECERA+DO+ARTICO+EM+DIZ+AL+GORE.html

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    1. Olá, colega. Sobre o que especificamente você gostaria que eu comentasse? A declaração de Al Gore ou sobre o aquecimento global?
      Sobre AL GORE só perguntando diretamente para ele. Sobre o aquecimento global, sugiro a leitura do painel intergovernamental sobre mudanças climáticas da ONU.
      Abs

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    2. "No longo prazo, estaremos todos mortos." John Maynard Keynes

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  26. A sociedade de consumo favorece a depressão e outros problemas da atualidade. É um jogo em que poucos ganham.

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    1. Colega, toda sociedade precisa de consumo. Sendo assim, podemos dizer que toda sociedade é de consumo. Porém, há uma diferença entre perceber isso, e fomentar a ideia de que pelo consumo, e quase que unicamente por meio dele, iremos nos realizar enquanto seres humanos.
      Um abraço!

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  27. O problema não está no consumo em si. Se o mesmo fosse efetuado de forma planejada e consciente, não haveria um alto número de inadimplentes no Brasil.

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