REAL ESTATE INVESTMENT
TRUST – UMA ABORDAGEM SOBRE SUAS CARACTERÍSTICAS E SUA EVOLUÇÃO NAS ÚLTIMAS
DÉCADAS
Olá colegas! Nos próximos três posts vou falar exclusivamente sobre REIT (Real Estate Investment Trust). O que é
isso, Soulsurfer? É, basicamente, o Fundo de Investimento Imobiliário do
mercado americano. E por qual motivo é importante saber sobre REIT, alguém pode
perguntar. Bom, algum tempo atrás eu fiz esse comentário no Blog do Tetzner, e
algum tempo depois repeti o comentário no site do Bastter:
“a) O fato dos imóveis
corrigirem no longo prazo pelo índice inflacionário é baseado num estudo do
professor Shiller (sim o mesmo que algumas vezes fala que os preços dos imóveis
brasileiros estão em descompasso com a realidade). Há até mesmo um índice o
Case-Shiller Index que remonta desde a 1890. Se você observar o gráfico, a
exceção do final da segunda metade da década de 2000, o índice que começou em
100, e é ajustado pela inflação, ficou em 100 pela maior parte do período,
caindo abaixo de 100 principalmente entre as décadas de 20 e 40. Nas décadas de
50 até o começo da década de 2000, o Index permaneceu levemente acima de 100.
Por isso, criou-se o ensinamento, de que os imóveis tendem a seguir a inflação
no longuíssimo prazo;
b) As cotas imobiliárias nada mais são do que pedaços de imóveis. Sendo assim, o mesmo fenômeno era esperado de acontecer no mercado de REITs. Se olharmos o FTSE NAREIT EQUITY (uma espécie de IFIX) e compararmos com CPI (consume price index), o gráfico mostra que ambos se movimentam de maneira idêntica em períodos mais longos de tempo, e foi inclusive o que ocorreu nos últimos 50 anos. Isso pode ser indicativo do que venha a ocorrer com os FII
c) Por que o mercado americano? Primeiro, porque é o maior mercado do mundo, e é um mercado muito mais maduro do que o nosso. Sendo assim, pode ser que o Brasil em 50 anos percorra um caminho semelhante. Além do mais, infelizmente os dados no Brasil em relação a imóveis são precários, uma outra crítica do professor Shiller. Além do mais, o mercado de FII, principalmente a sua popularização, remonta há 10 anos. Um período muito pequeno. Não adianta pegar FII que subiu 300% no período e achar que isso possui alguma relevância estatística, porque não possui. Logo, é o que nos resta olhar para os EUA e tentar estimar o que possa ocorrer aqui;
d) Dito tudo isso, o acompanhamento da quota a inflação é uma expectativa, não é algo certo. Entretanto, é algo que tende a se concretizar em períodos longos de tempo, se as premissas que modelaram o mercado americano forem semelhantes às nossas premissas;
e) Portanto, aplicar em FII e esperar proteção inflacionária é uma aposta, e ela pode não se concretizar, ou se concretizar em períodos muito longos de tempo. Isso é um risco. Isso deve ser remunerado. Hoje pensamos alguma coisa, quem garante que daqui 10 anos não possamos precisas do dinheiro alocado em FII? Por isso, e por inúmeros outros motivos, concentração numa mesma espécie de ativo não possui muito sentido lógico, financeiro, e não tem muita evidência em nenhuma pesquisa acadêmica;
f) A assunção de que o fluxo de caixa sempre se manterá constante e será reajustado pela inflação é apenas uma expectativa, assim como a expectativa tratada nos itens “a” a “d”. Oscilações nos FII podem se dar na taxa de desconto e no fluxo de caixa. Se o fluxo de caixa fosse sempre positivo e para cima, é claro que as quotas tenderiam a crescer se levarmos em conta apenas a flutuação da taxa de desconto. Além do mais, investidores que possuem prazo de tempo muito longo (endowement funds – a Harvard e as faculdades de ponta possuem um – e até mesmo fundos de pensão) aplicariam parcelas substanciais em FII e REITs. Ora, se o fluxo de caixa só sobe, e se o horizonte é longuíssimo, seria algo como risk free, o que obviamente não acontece;
g) O problema com imóveis, em relação a ações, é que as ações possuem um potencial enorme de crescimento, que os imóveis obviamente não possuem. Sendo assim, compras de ações em topos são ruins, mas elas no longo prazo podem ser revertidas. Compras de imóveis no topo não, pois se a quota/imóvel tende a seguir a inflação e você comprou acima do preço ajustado pela inflação, o prejuízo é muito provável. Por isso, compras de quotas/imóveis muito valorizados têm uma tendência grande de serem deficitárias;
b) As cotas imobiliárias nada mais são do que pedaços de imóveis. Sendo assim, o mesmo fenômeno era esperado de acontecer no mercado de REITs. Se olharmos o FTSE NAREIT EQUITY (uma espécie de IFIX) e compararmos com CPI (consume price index), o gráfico mostra que ambos se movimentam de maneira idêntica em períodos mais longos de tempo, e foi inclusive o que ocorreu nos últimos 50 anos. Isso pode ser indicativo do que venha a ocorrer com os FII
c) Por que o mercado americano? Primeiro, porque é o maior mercado do mundo, e é um mercado muito mais maduro do que o nosso. Sendo assim, pode ser que o Brasil em 50 anos percorra um caminho semelhante. Além do mais, infelizmente os dados no Brasil em relação a imóveis são precários, uma outra crítica do professor Shiller. Além do mais, o mercado de FII, principalmente a sua popularização, remonta há 10 anos. Um período muito pequeno. Não adianta pegar FII que subiu 300% no período e achar que isso possui alguma relevância estatística, porque não possui. Logo, é o que nos resta olhar para os EUA e tentar estimar o que possa ocorrer aqui;
d) Dito tudo isso, o acompanhamento da quota a inflação é uma expectativa, não é algo certo. Entretanto, é algo que tende a se concretizar em períodos longos de tempo, se as premissas que modelaram o mercado americano forem semelhantes às nossas premissas;
e) Portanto, aplicar em FII e esperar proteção inflacionária é uma aposta, e ela pode não se concretizar, ou se concretizar em períodos muito longos de tempo. Isso é um risco. Isso deve ser remunerado. Hoje pensamos alguma coisa, quem garante que daqui 10 anos não possamos precisas do dinheiro alocado em FII? Por isso, e por inúmeros outros motivos, concentração numa mesma espécie de ativo não possui muito sentido lógico, financeiro, e não tem muita evidência em nenhuma pesquisa acadêmica;
f) A assunção de que o fluxo de caixa sempre se manterá constante e será reajustado pela inflação é apenas uma expectativa, assim como a expectativa tratada nos itens “a” a “d”. Oscilações nos FII podem se dar na taxa de desconto e no fluxo de caixa. Se o fluxo de caixa fosse sempre positivo e para cima, é claro que as quotas tenderiam a crescer se levarmos em conta apenas a flutuação da taxa de desconto. Além do mais, investidores que possuem prazo de tempo muito longo (endowement funds – a Harvard e as faculdades de ponta possuem um – e até mesmo fundos de pensão) aplicariam parcelas substanciais em FII e REITs. Ora, se o fluxo de caixa só sobe, e se o horizonte é longuíssimo, seria algo como risk free, o que obviamente não acontece;
g) O problema com imóveis, em relação a ações, é que as ações possuem um potencial enorme de crescimento, que os imóveis obviamente não possuem. Sendo assim, compras de ações em topos são ruins, mas elas no longo prazo podem ser revertidas. Compras de imóveis no topo não, pois se a quota/imóvel tende a seguir a inflação e você comprou acima do preço ajustado pela inflação, o prejuízo é muito provável. Por isso, compras de quotas/imóveis muito valorizados têm uma tendência grande de serem deficitárias;
Portanto, sim a quota tem uma expectativa de seguir a inflação
no longuíssimo prazo. Não, não é garantido que o fluxo de caixa seja crescente
(apesar de ser provável no médio-longo prazo), e não, comprar FII não é um bom
negócio a qualquer preço.
Abraço!”
Eu tenho que
admitir que quando fiz este comentário, eu tinha olhado muito superficialmente
para os dados do mercado americano. Portanto, resolvi que para ter mais certeza
e clareza um estudo aprofundado se fazia necessário. A regulação do mercado
americano sobre REITs serviu de base para quase toda legislação sobre o tema no
resto do mundo, e atualmente mais de 30 países possuem veículos financeiros
parecidos com os REITs. Além do mais, o mercado lá é antigo, já passou por
diversos ciclos imobiliários, a indústria passou por diversas fases de
aperfeiçoamento, o que sem dúvida aponta um norte para onde os Fundos
Imobiliários Brasileiros talvez possam ir no futuro, ainda mais que os FII são
relativamente novos no Brasil, e sua popularização é muito recente.
Obviamente, o
tema é muito vasto, e eu irei apenas introduzir algumas questões. O bom de olhar
para os REITs é que se possui muitos dados sobre retornos em longos períodos,
correlação com taxa de juros e índices acionários, liquidez, etc. Portanto, esse estudo, dividido em três partes, é um esforço pessoal
para tentar trazer alguma luz para os FII, numa perspectiva um pouco diferente
do que apenas descrever e comparar fundos uns com os outros. Todos os gráficos
foram retirados do site da NAREIT (uma instituição voltada para o estudo e
divulgação dos REITs). Espero que gostem.
TIPOS DE REITS
Há
basicamente dois tipos de REITs, os Equity Reits e os Mortage Reits. Os
primeiros nada mais são do que nossos FII de tijolos, onde a renda principal
advém de operações imobiliárias como alugueis, vendas com lucros, etc. Os
Mortage Reits seriam nossos fundos de papéis, são fundos que investem em papéis
relacionados ao financiamento do mercado imobiliário possuindo mortages
(hipotecas) como garantia de pagamento
das obrigações. Aqui não há grande
diferenciação em relação ao nosso mercado.
NÚMERO DE REITS E
VALOR DE MERCADO
Há
atualmente 178 REITs negociados em bolsa de valores, com valor de mercado de
aproximadamente 719 bilhões de dólares. Os Equity Reits representam
aproximadamente 90% do mercado contra 10% dos Mortage Reits. Aqui podemos já
fazer a primeira observação que o mercado de Reits possui uma exposição
razoavelmente pequena à dívida imobiliária, e a possíveis calotes nestes papeis
como ocorreu na grande crise de 2008.
Apenas para
compararmos o mercado brasileiro possui um pouco mais de 100 FII listados em bolsa. Logo, percebe-se que não há uma diferença muito
grande no número de REITs em relação de FII, mas o valor de mercado é abissal. Isso se deve ao fato da existência de REITs que possuem dezenas de bilhões de dólares de valor de mercado, algo impensável no
nosso mercado, onde há inúmeros fundos muito pequenos que são donos apenas de alguns
andares em um empreendimento. Essa é uma
diferença muito grande do mercado americano para o nosso. Lá, alguns REITs são
gigantescos, o que obviamente traz muito mais segurança ao investimento. Talvez
esse seja um caminho que o mercado brasileiro irá trilhar no médio prazo, a
consolidação de fundos imobiliários com valores de mercado cada vez maiores (no
Brasil apenas o BRCR, com seu 1 bilhão de dólares de valor de mercado não chegaria
perto da média dos Equity Reits que é de 4 bilhões de dólares).
EQUITY REITS
Como explicado
anteriormente, os Equity Reits são os nossos FII de tijolos. Quais seriam as
grandes diferenças para os fundos brasileiros. Primeiramente, observemos os
setores de atuação dos REITs:
De início, observa-se
que o setor de escritórios (OFFICE) não é o preponderante como no mercado
brasileiro. Aliás, os setores são razoavelmente bem divididos. O setor de saúde
(Health Care) é muito representativo, assemelhando-se em tamanho ao setor de
escritórios. Ora, aqui no Brasil possuímos apenas dois fundos (NSLU e HCRI)
ligados ao setor de saúde, sendo que muitas pessoas ainda olham para estes
fundos com muita desconfiança. Isso demonstra que o setor é pouco explorado no Brasil, o que pode mudar no futuro. Temos setores inexistentes entre
os FII brasileiros como self-storage, Timber (madeira) e Infrastructure. O setor de hotéis , que é razoavelmente
representado nos REITs, no Brasil é praticamente inexistente. Portanto,
observa-se que a distribuição entre setores nos Equity Reits é muito mais
equilibrada do que nos FII, o que pode demonstrar que esse talvez seja o futuro
de nossa indústria, um maior equilíbrio entre os setores, ao invés de uma
concentração muito grande em escritórios.
Outro ponto de
relevante diferenciação entre os Equity Reits e os FII é o tamanho médio.
Enquanto os primeiros possuem tamanho médio de quatro bilhões de dólares, os
fundos brasileiros são muito menores em tamanho e extensão. Há Reits que
possuem literalmente imóveis em todo os EUA. Para se ter idéia do que isso
significa, os REITs são proprietários de 40.000 imóveis comerciais nos EUA, com
valor estimado de um trilhão de dólares, representando 15% do valor de todos os
imóveis comerciais dos EUA. Eu não possuo os dados relativos aos FII, mas com
certeza se chegar a 1% do valor comercial de todos os imóveis no Brasil já
seria muito. Assim, os REITs são grandes e muito importantes para a economia
dos EUA, algo que os FII ainda estão longe de atingir, mas pode ser um
indicativo de que a indústria de FII ainda possui muito espaço para crescer.
LIQUIDEZ
A liquidez dos
REITs é muito significativa e cresceu enormemente nos últimos 20 anos:
Com volumes
diários de 5 bilhões de dólares, os riscos advindos da iliquidez, o que ainda é
muito grande no mercado brasileiro apesar de ter melhorado nos últimos 3 anos,
são cada vez mais reduzidos em relação aos REITs. Logo, grandes investidores
desfazendo-se de posições não são tão impactantes no spread BID/ASK como ainda
é normal no Brasil.
PERFIL DOS
INVESTIDORES
Outro
aspecto interessante na comparação entre o mercado brasileiro e americano é a
diferença na constituição dos investidores proprietários dos REITs. Vejam o
gráfico abaixo:
Nos REITs, os
investidores pessoas físicas são uma pequena parcela, ao contrário dos fundos
de investimento imobiliário. Percebe-se também uma grande participação de fundos,
bem como de investidores institucionais. Com certeza, o fluxo de caixa mensal
apresentado pelos FII é uma boa forma de fundos de pensão, planos de
aposentadoria, etc, ter meios de fornecer um fluxo de renda para os
beneficiários. Parece que essa realidade foi entendida no mercado americano, o
que talvez venha a ocorrer no mercado brasileiro, principalmente se a tendência
de longo prazo de queda dos juros reais se confirmar nos próximos anos. Digno
de nota é a presença de ETFs possuindo mais de 10% de participação no mercado.
DIVIDENDOS
Em 2013 foram
pagos 34 bilhões de dólares em dividendos. O yield para todo o mercado foi de
4,16%, enquanto o yield apenas para os Equity Reits foi de 3,65%. Esse número
chama atenção. Os Mortage Reits com apenas 10% de valor de mercado foram
responsáveis por elevar 0,5% a média de dividendos de todo o mercado. Fui pesquisar o motivo, e descobri esse
interessante gráfico:
Colegas,
percebam a diferença de yield entre os Equity Reits e os Mortage Reits. No auge da crise, a média dos Mortage Reits
foi de 14% aa , sendo que atualmente a remuneração ainda é muito expressiva em
torno de 12% aa. Estou falando de
remuneração em dólar (ou seja com inflação atual em menos de 2%), com uma taxa
de longo prazo dos BONDs abaixo de 3%.
Eu, talvez por falta de conhecimento técnico, não consegui ainda
entender esses números.
O yield desses
títulos é muito alto, e não é apenas devido à crise de 2008, pois em períodos
anteriores os yields eram expressivos (tirando no momento pré-crise, onde os
yields caíram para 8%, mostrando realmente que houve um aumento no valor dos
REITs de papel, denotando uma “bolha” nos ativos). A diferença abissal em relação ao Brasil salta
aos olhos. Ora, os Equity Reits distribuem uma média de 3,65% de yield contra
12% dos Mortage Reits. Alguém aqui percebe essa diferença no Brasil? No nosso
mercado, há fundos de imóveis sólidos pagando yields um pouco menores ou às
vezes até idênticos aos fundos de papéis (Ex: RNGO, EDGA). Isso à primeira vista
não faz o menor sentido, pois os fundos de papeis “distribuem” a inflação e não
tem o condão de aumentar a distribuição de dividendos no médio prazo. Ora, se é
assim, por qual motivo os fundos de papéis quase não possuem nenhum spread em
relação aos fundos de imóveis como no já mercado consolidado dos EUA? Há quatro respostas: a) os títulos de papel não
pagam um spread adequado; b) os fundos de tijolos estão subprecificados ou c)
os dados do mercado americano não mostram nada em relação ao mercado brasileiro
(hipótese mais improvável na minha opinião) ou d) os fundos de papel americanos
são muito mais arriscados do que os fundos de papel brasileiros, e sempre o
foram assim, justificando um yield de 12% aa numa economia com juros de curto
prazo de 0% (o nosso está em 11% aa), juros de longo prazo de menos de 3% (os
nossos estão em quase 13% aa) e Equity Reits pagando 3,65% (os nossos estão
pagando 10% aa). Eu sinceramente não sei a resposta, mas me deixou ainda com
mais “desconfiança” dos fundos de papeis brasileiros.
Soulsurfer,
3,65% de dividendo? Só isso? Sim, a tendência, como mostrada no gráfico abaixo,
é de queda dos yields no longo prazo, sendo que boa parte dos retornos dos
REITs são derivados de apreciação do capital, não dos dividendos.
Como a própria
figura mostra, a média de yield desde 1972 foi de 8,09%, entretanto esse número
vem caindo desde o ano 2000, como se pode observar no gráfico. Esta alta média
de yield não é mais compatível com a realidade do mercado, e foi influenciada
pelos altos yields dos finais da década de 70 e 80 (muito provavelmente
influenciado pela inflação que nessa época foi de dois dígitos nos EUA, sendo
que os EUA tiveram taxas de juros de dois dígitos também nessa época, algo
inédito e que nunca mais se repetiria).
O gráfico abaixo é muito
interessante, pois demonstra a capacidade de crescimento real do fluxo de caixa
dos REITs no longo prazo:
O CPI (consume
price index) é um índice inflacionário comumente utilizado para medir o poder
de compra em dólar nos EUA. O gráfico mostra claramente que o crescimento dos
dividendos foi em quase todos os anos (exceto em 2009 por razões conhecidas)
superior ao índice inflacionário. O que isso quer dizer Soulsurfer? Imagine que você tenha 2 milhões de reais em
FII, com uma renda de R$ 200.000,00 por ano. Você espera que daqui 10 anos, a
sua renda seja superior nominalmente a
R$ 200.000,00, para que possa manter o mesmo poder de compra de 10 anos
atrás. Se os dividendos, os alugueis dos FII, crescerem acima da inflação no médio
prazo, daqui a 10 anos o seu rendimento nominal não só será maior, como o seu
pode de compra terá aumentado, sem a necessidade de reinvestimento da renda
para que isso ocorra. Isso, colegas, é o
melhor dos mundos para quem quer fluxo de caixa, um crescimento real do mesmo
sem a necessidade de reinvestimento. Se
este for feito, o crescimento do fluxo de caixa será ainda mais extraordinário.
Esse dado foi muito revelador para mim.
Soulsurfer, os
FII poderão ter esse comportamento no médio/longo prazo? Olha, geralmente os
REITs são fundos enormes que realizam gestão ativa. Eu creio que é muito
difícil se conseguir crescimento real do fluxo em fundos onde a gestão é completamente passiva, como a
maioria dos fundos brasileiros. Por isso, fundos que tentam criar valor para os
quotistas com uma gestão mais ativa são essenciais na composição de uma
carteira balanceada de FII.
Não estou
totalmente convencido ainda, Soulsurfer. Bom, veja esse outro gráfico abaixo
então:
Faço questão de colocar
o texto original:
“For investors with a longer time
horizon to retirement, dividends can be reinvested to generate future returns, while in
later years they can provide a steady income stream to help meet expenses in
retirement. As the chart above shows, an original $10,000 investment in the
FTSE NAREIT All Equity REITs Index at the beginning of 1994 would have grown to
$69,094 by the end of 2013 if dividends had been reinvested. If dividends had
been taken as income, the original $10,000 investment would have paid out
$16,699 in dividends and delivered another $13,351 in growth, for a total value
of $30,090.”
Tradução:
“Para investidores com um horizonte de tempo longo para a
aposentadoria, dividendos podem ser reinvestidos para gerar futuros retornos,
enquanto em anos vindouros eles podem fornecer um fluxo de renda firme para
auxiliar nas despesas da aposentadoria. Como o gráfico acima mostra, um
investimento original de $ 10,000 na FTSE NAREIT All Equity REITs Index no
começo de 1994 teria crescido para $ 69,094 no final de 2013 se dividendos
tivessem sido reinvestidos. Se dividendos fossem retirados como renda, o investimento original de $10,000 teria pago $
16,699 em dividendos e entregue $ 13,351 em crescimento, para um valor total de
$30.090”
O texto é
auto-explicativo. Como os dividendos cresceram de forma real, um investimento
de X, retornou 1,6X apenas em dividendos, o que é um número espetacular. Se os
dividendos tivessem sido reinvestidos, o retorno seria ainda mais fantástico, e
o fluxo de caixa proporcionado seria ainda maior. E você ainda acha pouco os
10/11% que os FII estão pagando atualmente? É basicamente o triplo do que os
Equity Reits pagam em média nos EUA.
Portanto,
reinvestimento e crescimento real do fluxo de caixa são uma combinação
extremamente poderosa em períodos longos de tempo, e a comprovação está no
gráfico acima.
TAXAÇÃO DE
DIVIDENDOS
Ficou
assustado com a possibilidade de taxação de dividendos dos FII se os nossos
gastos continuarem subindo em relação ao PIB? Olhe a tabela abaixo então:
Top Dividend Tax Rate in 2012 and 2013
|
- REITs
|
||
Capital gain dividends
|
Qualified Dividends
|
Other Dividends
|
|
2012
|
15%
|
15%
|
35%
|
2013
|
23.8%
|
23.8%
|
43.4%
|
Não
vou adentrar em pormenores sobre a taxação nos EUA, até porque eu não pesquisei
a fundo esse tema. Entretanto, os dividendos pagos pelos REITs são taxados em
alíquotas que variam de 23.8% a 43.4%. Não, você não entendeu errado.
Dependendo do seu nível de renda (eu acho que é de U$ 400.000), os dividendos
dos REITs são taxados em quase 45%. Portanto, o yield médio atual dos Equity
Reits é de 3,65% e eles serão taxados no mínimo em 23.8%, e você ainda
reclamando dos baixos retornos dos FII e esperando que os retornos cheguem a
15/16% para se posicionar? Fica evidente que nós investidores brasileiros
estamos numa posição privilegiada, seja de retorno, seja de tratamento
tributário. Logo, se viesse uma taxação de 15% dos rendimentos dos FII, não
seria o fim do mundo, mas com certeza teria o seu impacto. Sobre o assunto
sugiro ler o post http://pensamentosfinanceiros.blogspot.com.br/2014/04/fii-vamos-de-all-in.html
Que PUTA de artigo. Parabéns!
ResponderExcluirSério, nunca li nada tão bom, tão completo e tão claro ao mesmo tempo sobre REITs e sua relação com os nossos FIIs.
Queria aproveitar sua sapiência e dedicação aos estudos para checar uma opinião junto a você. Suponha você que eu tenha as minhas convicções e decida apostar nelas.
Nas minhas convicções há algo me dizendo que o final de 2014 vai ser de pura maquiagem dos índices e manutenção da taxa SELIC nesses patamares ou pouquíssimo acima disso, para tentativa de reeleição do partido que detem hoje o poder. PORÉM, vejo nas minhas convicções um cenário tenebroso em 2015, quando então assuma quem assumir deverá arrumar a casa. Teremos nessa minha visão inflação em franca elevação, gastos públicos desenfreados, um cenário internacional não muito bom, etc. Como aqui no Brasil só se sabe concertar a inflação com elevação da taxa de juros, subiremos os mesmos novamente, e assim será em 2015, segundo o que acredito.
Dito esse hipotético cenário Macro, pergunto : A mim foi oferecido uma LCI sem liquidez a não ser na data de vencimento (abril 2016) pagando 100% do CDI.
Se penso que o apocalipse acima descrito ocorrerá, acha que é uma interessante opção de RF?
Eddie
Eddie, obrigado pelo elogio!
ExcluirSobre sua pergunta, vou responder em tópicos:
a) Olha, eu fiquei preocupado hoje que o governo queira discutir a composição do índice de inflação logo nesse momento. Eu acho que eles não seriam tão "burros" de fazer isso. Espero que não seja verdade, se for é um pouco assustador do que pode vir em 2015;
b) A tendência da SELIC creio que seja essa também. Porém, o governo admite que pode estourar a meta. Esse cenário não estava nos planos do BC no final de 2013 no último relatório de inflação.
c) Eu acredito que a conta da inflação vai ficar apenas para a política monetária no curto/médio prazo. A grande dúvida para mim, é se a Dilma for reeleita, será mesmo que algumas reformas serão feitas? Não vamos nos esquecer que ela é durona, é difícil, ainda mais sendo presidente, reconhecer que estava errada. Isso ninguém pode responder, nem o Buffet, nem o Obama, nem o gestor do fundo verde, se o Brasil vai realmente optar por algumas reformas ou não.
d) O finanças inteligentes fala sobre isso com muito mais competência e conhecimento técnico do que eu. Eu concordo com o diagnóstico dele. O mundo tende a crescer mais em 2015, isso vai aos poucos começar a fazer com que a inflação volte nos EUA e na Europa. Isso coloca pressão na nossa inflação, pois se estamos com inflação elevada quando o mundo está com inflação anormalmente baixa, como será que vai ser quando a inflação voltar para patamares históricos no resto do mundo?
e) Simplesmente não dá para saber o efeito do fim total do Quantitative Easing, que deve acabar no final desse ano, e muito menos se os EUA vão aumentar os juros em 2015 ou em 2016, ou se vão aumentar os juros. O que isso pode ocasionar na mudança de fluxo de capital no mundo, eu acho que só pessoas com muita experiência e com muita estrutura técnica podem saber.
f) Sendo assim, eu acho difícil num ambiente como esses, um cenário para queda na SELIC, pelo contrário, a probabilidade maior é de subida em 2015, qual a intensidade, vai depender de tantos fatores, que é difícil até mesmo os analistas, falo dos bons, chegarem num consenso;
Neste cenário, a melhor aplicação seria em títulos pós-fixados ou pré com duração curta. Se você conseguiu uma LCI com 100% do CDI com maturação para daqui dois anos, me parece uma escolha bem razoável. Após o vencimento, você com calma pode analisar o que aconteceu pós-2015 e se posicionar com mais segurança.
Como essa LCI está pagando 100%, presumo que é de um banco pequeno, sendo assim, não aplique mais de R$ 200.000,00 (conte com um rendimento de uns 22%, que no final chegará a quase R$250.000,00 do FGC).
Abraço!
SoulSurfer que texto incrível. Comecei por este que é o primeiro, mas certamente vou devorar os próximos.
ResponderExcluirInteressante porque faço minhas as palavras do Edie acima, sobre o seu texto e sobre o que pode ocorrer no país com esta política economica maluca. Inclusive é interessante porque também estou estudando entrada em uma LCI com similares características, mas em volume menor. Na verdade penso em 20K de entrada, para o próximo mês. Meu único senão é um prazo longo de 24 meses, ficaria mais confortável com um prazo máximo de 18 meses, mas...
De qualquer forma estou bem inclinado a isso. Assim me cerco mais, com minha atual carteira de ações e FIIs, uma debenture recente e uma LCI. Diversifico para ficar menos exposto e mais seguro.
Obrigado, amigo (você já é da casa!).
ExcluirSim, um prazo de 18 meses seria melhor, mas pelo menos o título vai ser pós, sem qualquer risco.
Eu me posicionaria em títulos parecidos, mas como disse algumas vezes, preciso de liquidez imediata.
Tenho nada mais do que oito possibilidades de negócio para analisar em duas semanas (análise jurídica, financeira e mercadológica).
Abraço!
Excelente post Soul!!
ResponderExcluirAcho que falo em nome de outros leitores também, obrigado por dividir gratuitamente conosco seus ótimos estudos e os seus conhecimentos sobre estes assuntos. Tem agregado muito à blogosfera e certamente a elevará a outro nível!
Grande abraço
Green Future
Obrigado, green!
ExcluirFico feliz com suas palavras. O conhecimento, ou pelo menos boa parte dele, deve ser compartilhado. Aliás, a vida é melhor quando compartilhada.
Abraço!
Boa Soul!! Concordo contigo!!
ExcluirGreen
Parabéns pelo post, excelente!
ResponderExcluirComo faz para o americano investir em FII aqui? Tem como vender cotas diretamente lá? Tem como criar um FII Offshore?
Obrigado.